«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O que mais se buscou na internet em 2011

Google

Os top 10 de 2011 em termos de busca no principal site com este objetivo no mundo, ou seja, o Google

É uma informação interessante por revelar aquilo que mais tem ocupado as mentes das pessoas pelo mundo afora.
Vejamos:
1. REBECCA BLACK: fez sucesso na Internet com o lançamento do hit pop de 2011, “Friday”. O videoclipe levou a garota de 13 anos ao status de celebridade depois de se tornar viral, tendo cerca de 167 milhões de exibições no YouTube. As pesquisas por Rebecca Black e pesquisas relacionadas como Rebecca Black Friday foram de >10,000% entre 2010 e 2011, tornando a jovem cantora pop a pesquisa número um em crescimento no Google em 2011. A cantora chegou ao topo de pesquisas no dia 20 de março de 2011, duas semanas após o lançamento de “Friday”. Seguiu-se uma sensação na mídia internacional. Qual era o tamanho de Rebecca Black? Pode ser uma surpresa, mas as pesquisas relacionadas à cantora adolescente superaram até mesmo as pesquisas pelo ícone pop, Lady Gaga, de 6 a 20 de março de 2011.


2. GOOGLE +: em junho de 2011, o Google entrou nas redes sociais com o lançamento do Google+. Nas três semanas subsequentes ao lançamento, o Google+ acumulou uma base de usuários de mais de 10 milhões de pessoas. A rede social conquistou o segundo lugar na lista de pesquisas com maior crescimento do Google depois do Google+. Pesquisas relacionadas como Google Mais dispararam em >10.000%. As pesquisas por Google+ chegaram ao topo na semana do dia 10 de julho de 2011, quase duas semanas após seu lançamento e novamente em 20 de setembro de 2011, com o anúncio da abertura das inscrições. Quanto interesse o Google+ despertou? De 3 a 17 de julho Google+ e palavras-chave relacionadas, Google Mais e Google +, obtiveram mais acessos que a palavra-chave Esportes. O Google+ se tornou um sucesso no sul da Ásia, e pessoas como o Dalai Lama e o astro de Bollywood Shah Rukh Khan criaram contas.

3. RYAN DUNN: conhecido por suas façanhas atrevidas nos programas de TV “Jackass” e “Viva La Bam”, Ryan Dunn perdeu a vida em um acidente de carro em 20 de junho de 2011, com 34 anos. O volume de pesquisas por Ryan Dunn aumentou >10.000% em 2011, colocando-o em terceiro lugar no crescimento de pesquisas no Google. Durante a semana do dia 19 de junho de 2011, Ryan Dunn recebem bastante atenção do Google. Na terça-feira após sua morte, seu colega em “Viva La Bam”, Bam Margera, visitou o local do acidente e chorou pela perda do amigo. Na semana de seu falecimento, as pesquisas por Ryan Dunn praticamente alcançaram o número de pesquisas pela palavra-chave clima. Alguns canais americanos de notícias chegaram a questionar se a morte do astro não tinha sido a peça mais bem pregada de “Jackass”. De especulações a respeito de dirigir embriagado até um funeral emocionado, Ryan Dunn foi um grande tópico de 2011. Chocados por sua morte, os fãs de Ryan Dunn utilizaram as redes sociais para expressar sua dor e compartilhar lembranças da celebridade rebelde.

4. CASEY ANTHONY: a jovem mãe Casey Anthony foi acusada de homicídio qualificado quando o corpo de sua filha Caylee de dois anos foi encontrado em uma área arborizada perto da casa delas em Orlando, Flórida. O júri a declarou inocente em 5 de julho de 2011. As pesquisas por Casey Anthony e pesquisas relacionadas como Caso Casey Anthony cresceram em 2.680% de 2010 a 2011, colocando-a no quarto lugar no crescimento de pesquisas no Google. As pesquisas por Casey Anthony subiram durante a semana do dia 3 de julho de 2011, depois que o júri declarou a mãe de 22 anos inocente e o público começou a se fixar em sua vida após o julgamento. Quão famosa ficou Casey Anthony? Comparando picos, as pesquisas pela mãe de 22 anos, que sequer testemunhou durante o julgamento de 6 semanas, foram 2,5 vezes maiores que a libertação de Amanda Knox, altamente divulgada. Casey Anthony foi destaque em locais que ninguém esperaria. Noticiários porto-riquenhos anunciaram que Casey Anthony planejava mudar-se para San Juan depois que fosse absolvida.Casey Anthony foi manchete durante e após um julgamento de seis semanas. Dos atrasos no julgamento às revelações do namorado sobre o romance de ambos, os meios de comunicação observaram cada um de seus movimentos. 

5. BATTLEFIELD 3: o aguardado lançamento do jogo de tiro em primeira pessoa da EA, Battlefield 3, vendeu 5 milhões de cópias na primeira semana. As pesquisas por Battlefield 3 e pesquisas relacionadas BF3 pularam para 1.773% entre 2010 e 2011, colocando o jogo de ação no quinto lugar no crescimento de pesquisas no Google em 2011. O jogo cresceu em popularidade na semana do dia 23 de outubro de 2011, quando foi lançado nos Estados Unidos e no Reino Unido. Comparando picos, as pesquisas por Battlefield 3 foram maiores que as pesquisas pelo jogo recorde de vendas Call of Duty: Modern Warfare 3. Battlefield 3 foi controvérsia em vários cantos do mundo. Na Noruega, onde a série anterior de Battlefield recebeu pontuações baixas nas críticas, os produtores retiveram cópias das críticas para canais de jogos. Da emoção com o lançamento Beta aos recursos únicos no modo multiplayer, especialistas em tecnologia e jogos não conseguiram parar de falar em Battlefield 3.

6. iPhone 5: Consumidores e analistas esperavam o lançamento do mais novo smartphone da Apple muitos meses antes de sua chegada. Os recursos anunciados incluíam tela maior, vidro de borda a borda, câmera de 8 megapixels e controles de voz extensíveis. Muitos acreditavam que o telefone se chamaria iPhone 5. As pesquisas por iPhone 5 aumentaram em 1.658% entre 2010 e 2011, colocando o famoso smartphone no sexto lugar no crescimento de pesquisas no Google. A euforia em torno do iPhone 5 chegou ao ponto mais alto de pesquisa na semana do dia 25 de setembro de 2011, uma semana depois que a Apple revelou o iPhone 4s em uma coletiva de imprensa em sua sede em Cupertino, Califórnia. Quanta expectativa houve em torno do iPhone 5? Ao longo do ano, as pesquisas pelo telefone inexistente superaram aquelas pelo dispositivo que foi efetivamente lançado, o iPhone 4s. O fato de terem sido excluídos do lançamento original não impediu que usuários em Cingapura pesquisassem e especulassem sobre o comentado telefone. 

7. ADELE: ela agitou a indústria da música com o lançamento de seu segundo álbum “21”, que vendeu 208.000 cópias no Reino Unido na primeira semana e estreou em primeiro lugar na parada de álbuns do Reino Unido, mantendo-se assim por 16 semanas consecutivas. O álbum trouxe reconhecimento internacional e colocou a artista de 22 anos na lista de recordes de vendas. As pesquisas por Adele cresceram em 1.588% entre 2010 e 2011, colocando a cantora no sétimo lugar no crescimento de pesquisas no Google. As pesquisas por Adele dispararam na semana do dia 28 de agosto de 2011, quando a cantora britânica cantou acompanhada por um piano a balada Someone Like Youno MTV Video Music Awards. Qual foi a popularidade de Adele? As pesquisas pela cantora popular ultrapassaram as pesquisas relacionadas à estrela pop Rihanna, de 29 de agosto a 9 de setembro de 2011. Adele tem um público verdadeiramente global, mas, surpreendentemente, nunca se apresentou nos três países em que é mais popular. Da cirurgia na garganta à apresentação no VMA, toda a mídia internacional de entretenimento estava com os olhos em Adele.

8. TEPCO: o governo japonês ordenou a evacuação de milhares de residentes nas áreas próximas à Usina I de Fukushima 東京 電力 (TEPCO) após o terremoto de 2011 que trouxe danos graves a vários reatores nucleares. As pesquisas por 東京 電力 (TEPCO) subiram em 1.470%, colocando a usina elétrica na oitava posição no crescimento de pesquisas no Google em 2011. A empresa de serviços públicos chegou ao pico de pesquisas na semana de 13 de março de 2011, dois dias depois que o terremoto de 9.0 pontos atingiu o Japão e esforços de ajuda e suporte internacional chegaram de diversas partes do mundo. Quão significativa foi a crise nuclear do Japão? As pesquisas por 東京 電力 foram 35% maiores que a palavra-chave pizza durante a semana de 13 de março de 2011. As pesquisas por 東京 電力 (TEPCO) aumentaram tão rápido e em volume tão grande que a palavra-chave entrou em nossa lista de ascensões mais rápidas, apesar de o idioma japonês representar apenas 4,7% do total de usuários da Internet. Muito apoio internacional seguiu-se ao terremoto de 9.0 de magnitude que acionou o desastre nuclear da Usina I de Fukushima, 東京 電力. 

9. STEVE JOBS: inspirou milhares de pessoas em todo o mundo com sua paixão e criatividade. O visionário tecnológico, juntamente com o cofundador Steve Wozniak, revolucionou o modo como as pessoas vivem e trabalham com a ajuda de computadores Mac, iPods, iPhones e iPads. As pesquisas por Steve Jobs aumentaram 982% em 2011, colocando o gênio criativo na nona posição no crescimento de pesquisas no Google. As pesquisas por Steve Jobs chegaram ao topo na semana do dia 2 de outubro de 2011, ao fim de uma dura batalha contra o câncer que resultou em sua morte, em casa, aos 56 anos. Qual foi a importância de Steve Jobs? O interesse das pessoas no cofundador da Apple excedeu sua fascinação pelo presidente americano Barack Obama durante todo o ano de 2011. Steve Jobs foi um dos líderes empresariais sobre quem mais se comentou em 2011. Você sabia que uma famosa carta de amor escrita por Jobs para sua esposa foi traduzida centenas de vezes por falantes nativos chineses em busca da tradução perfeita? Da resignação emocional, passando pela apresentação do iPad 2 e culminando na onda de tributos após sua morte, Steve Jobs foi destaque em todo o mundo. 

10. iPad2: conquistou o mundo quando 500.000 tablets da segunda geração foram vendidos na semana de estreia. Encarados como uma alternativa mais leve e elegante a seu antecessor, o iPad 2 foi vendido em praticamente todos os canais na primeira semana. As pesquisas por iPad 2 aumentaram 939% entre 2010 e 2011, colocando o tablet na décima posição no crescimento de pesquisas no Google. As pesquisas por iPad 2 chegaram ao topo na semana do dia 27 de fevereiro de 2011, duas semanas antes da Apple começar as vendas do dispositivo na web e no varejo. Quão popular foi o iPad 2? Durante seu pico, mais pessoas pesquisaram a respeito do dispositivo que pela palavra-chave iPhone. O iPad 2 foi item badalado em lojas de varejo ao redor do mundo. Você sabia que um adolescente chinês vendeu o rim direito para comprar um iPad 2? Da edição limitada de iPads dourados ao lançamento dos novos e comentados aplicativos, não houve falta de cobertura ao novo e badalado item tecnológico da Apple.

Fonte: GOOGLE Zeitgeist 2011 - Internet: http://www.googlezeitgeist.com/pt-BR/

2011: QUEM PAGA A CONTA?

Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales - SP
O ano de 2011 se retira de cena. Parece com pressa de passar adiante a tocha da história. Quer se ver livre de compromissos, que ele deixa como herança para os anos que vêm pela frente, com a carga pesada que preanunciam. 

De fato, o ano de 2011 pareceu mais destinado a anotar compromissos na agenda, do que a cumpri-los. 
Basta ver alguns deles, agendados para o Brasil.  

De imediato, no mês de junho de 2012, a “Rio+20”, o novo encontro das Nações Unidas sobres os desafios ambientais, na sequência da “Eco 92”, de vinte anos atrás. 

Para 2013, desta vez em julho, o encontro mundial da juventude, no Rio de Janeiro, evento que já cunhou a imagem de uma juventude que quer retomar o seu protagonismo, resgatando valores que nunca perdem sua importância.

Depois, 2014 será o ano da Copa do Mundo, que para nós é simplesmente a de futebol. Ela foi imaginada como uma espécie de convite geral a todos os países do mundo para virem, e verem, como está o nosso Brasil. O que iremos mostrar, e o que ficará escondido?

Para o Rio de Janeiro, a ladainha de eventos continua, com o compromisso de acolher ainda os jogos olímpicos [2016]. 

Tudo somado, quantos compromissos colocados na conta de outros anos, enquanto o 2011 se despede. Ele também se deparou com diversos eventos, mas a grande maioria deles, ainda inconclusos, aguardando um desfecho definitivo. Para conferir, basta recordar alguns.

O ocidente insuflou tanto a guerra civil na Líbia, até conseguir que Kadafi fosse morto. E agora, a que serviu derramar tanto sangue? Quais eram os interesses de tantas partes envolvidas? 

As populações árabes surpreenderam com suas manifestações massivas, clamando por mudanças, sacudindo arcaísmos, postulando abertura para valores da modernidade. E o que resultou de prático até agora?

Bin Laden foi morto, numa cena de descarada vingança, que nos entristece como raça humana. Será que serviu alguma coisa para diminuir o ódio que fomenta radicalismos cegos e impiedosos?

O Papa declarou abertamente sua decepção com a crise de fé que atinge especialmente o continente europeu, onde o cristianismo plasmou a primeira civilização com sua marca registrada. Será que estamos acertando as providências para estancar esta hemorragia que ameaça debilitar ainda mais a “cultura cristã”? 

Mas, sobretudo no ano 2011 irrompeu de novo, com virulência multiplicada, a crise que se abate sobre a Europa, que já causou estragos em todo o “primeiro mundo”, e que mostra ser muito mais profunda do que uma simples crise econômica. Na verdade, ela é uma crise de civilização, de um sistema que está mostrando seu esgotamento.  Repensar um novo projeto de civilização não é tarefa simples, nem de um ano só. 

Provavelmente, as mudanças mais significativas e mais profundas só serão tomadas sob forte pressão dos fatos, como é de praxe acontecer na história. 

Mas de uma coisa não podemos duvidar: a crise vai bater à porta do Brasil. Por enquanto, ainda temos algumas receitas tradicionais, que neutralizam os seus sintomas. Não vai demorar muito para nos depararmos com suas causas mais profundas e estruturais. 

Aí fica a pergunta, nada indiscreta: quem vai pagar a conta das mudanças a serem feitas? Certamente não dá para fazer como em outros tempos: capitalizar os lucros e socializar os prejuízos! 

No acerto das contas, o primeiro critério é a justa proporcionalidade. Em todo o caso, é bom começar o novo ano com o alerta bem ligado!

Fonte: Diocese de Jales - Artigos do Bispo - 29/12/2011 - Internet: http://www.diocesedejales.org.br/portal/content.php?catid=25&notid=1576

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Matrimônio - Expectativas extravagantes

JOÃO PEREIRA COUTINHO *

O casal não conhece limites em seus desejos contraditórios. 
Reclama de paixão e de razão

Casamentos combinados? Nada contra. Mas existem combinações e combinações. Conhecer a noiva ainda no berço não é a ideia perfeita de romantismo. Casar com ela durante a infância também não.


Mas confesso inveja pelos indígenas de Tikopia, uma pequena ilha do Pacífico, onde as combinações matrimoniais impostas pela tribo admitem um período de conhecimento e, digamos, "experimentação". Se as coisas não resultarem, nenhum drama: é hora de tentar uma nova combinação.


É nessas alturas que uma pessoa pensa nas desvantagens de viver no Ocidente pós-moderno, onde estamos por nossa conta e risco na busca da princesa encantada. E tanto esforço, e tanta despesa, e tanta angústia para quê?


Vivesse eu em Tikopia e poderia estar tranquilamente em casa, lendo e escrevendo, enquanto a tribo procurava fêmea compatível para mim. Quando a encontrasse, era só bater na minha porta e eu receberia a noiva do mês para o respectivo período de conhecimento e "experimentação". Haverá coisa mais civilizada?


Paul Hollander não se pronuncia. Mas o seu "Extravagant Expectations" [foto da capa - ao lado], onde conheci os tikopianos, é um dos meus livros de 2011. Hollander, como estudioso dos regimes totalitários do século 20, dispensa apresentações.


Só que, dessa vez, o sociólogo americano resolveu fazer uma pausa nas suas trincheiras para investigar como amam os americanos. O que procuram eles na cara metade. E por qual motivo se desiludem tão rapidamente com o parceiro.


Essas perguntas exigiram "trabalho de campo": Hollander mergulhou nos classificados pessoais de relacionamento; consultou sites de encontros na internet; e leu a bibliografia popular e a acadêmica sobre o assunto.

Conclusão: a crise das relações modernas está, como o título indica, nas "expectativas extravagantes" que os americanos - e, desconfio, os ocidentais em geral - transportam para o matrimônio.

Na conjugalidade, o casal não conhece limites em seus desejos contraditórios. Reclama doses homéricas de paixão e de razão; de aventura permanente mas também de segurança permanente; de estabilidade emocional e de excitação emocional; de beleza física e de intelecto apurado.


Haverá relação que aguente o peso dessas expectativas?


Dificilmente. Mas o interesse do livro de Paul Hollander está sobretudo na explicação genética das "expectativas extravagantes". Que, obviamente, seriam incompreensíveis para nossos antepassados.


E seriam incompreensíveis porque a dimensão "romântica" do casamento é recente na história do Ocidente: tradicionalmente, as relações entre homens e mulheres eram tuteladas por "agentes intermediários", a começar pela família, que proviam e promoviam essas relações. Os "sentimentos" das partes envolvidas não eram os argumentos mais preponderantes.


O romantismo próprio da modernidade acabaria por enterrar esse mundo, atribuindo ao indivíduo (e ao "sentimento") a construção do seu destino "autêntico".


E, claro, acabou também por determinar o recuo da família, da tradição e mesmo da religião. Não apenas como "agentes intermediários"; mas também como fontes válidas de conhecimento ou consolação.


O problema, escreve Hollander, é que esse recuo não significou o fim das carências -espirituais, éticas, intelectuais- que continuam a pulsar na natureza humana. E que são agora transplantadas pelo indivíduo socialmente isolado para dentro da sua privacidade.


Hoje, os ocidentais desejam que as relações íntimas possam suprir todas as exigências que anteriormente estavam repartidas por várias esferas da sociedade.


Azar: o casamento não comporta essas exigências múltiplas e contraditórias. 


A pessoa com quem casamos não consegue reunir as qualidades perfeitas de amante, amigo, confessor, professor, guia turístico, estátua grega e terapeuta. No Ocidente pós-moderno, a taxa de divórcio não para de subir. Brasil incluso. 


Um cínico diria que o fenômeno tem explicação simples: as pessoas divorciam-se porque podem.


Mas é possível oferecer uma explicação alternativa: as pessoas divorciam-se porque casam. E não há casamento que resista quando se exige dele tudo e o seu contrário.


* João Pereira Coutinho [foto no alto] nasceu em Portugal, na cidade do Porto, em 1976. Formado em História, na variante de História da Arte, é também doutorado em Ciência Política pela Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, onde ensina como professor convidado. Foi colunista dos semanários portugueses “O Independente” (1998-2003) e "Expresso" (2004-2009). Atualmente, é colunista do "Correio da Manhã", o maior diário português, e comentador do programa televisivo "A Torto e a Direito", no canal TVI-24. É ainda entrevistador da revista "GQ". Publicou, em Portugal, a novela "Jaime e Outros Bichos" (1997) e o volume de crônicas "Vida Independente" (2003). O seu último livro de crônicas, "Avenida Paulista", onde reuniu seus artigos para a Folha de S. Paulo, foi publicado no Brasil pela Record. Na Folha, assina coluna na Ilustrada às terças-feiras e, quinzenalmente, às segundas-feiras, na Folha On Line.


Fonte: Folha de S. Paulo - Ilustrada - Terça-feira, 27 de dezembro de 2011 - Pg. E10 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/17014-expectativas-extravagantes.shtml

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O PLANETA ABERTO [Fundamental!]

Lúcia Guimarães *

Quem exerce mais poder sobre a vida privada dos americanos?
Um juiz da Suprema Corte ou Mark Zuckerberg? Acertou quem respondeu o sardento e esquisitão fundador do Facebook. E colocou em sua companhia empresas como Google e Microsoft. O diagóstico do presente Orwelliano é feito por Jeffrey Rosen , professor de Direito da Universidade de Georgetown, editor de temas júridicos da revista New Republic e um dos mais respeitados analistas de assuntos constitucionais nos Estados Unidos.


Não se trata de uma conspiração de corporações contra a Constituição americana, um documento cuja influência internacional, nos últimos dois séculos, é difícil subestimar. O problema, explica Rosen, é que os desafios da tecnologia digital dificilmente podem ser vencidos à luz do texto original, de 1787, ou das emendas existentes, especialmente as que guiam a jurisprudência no direito de cada um à livre expressão e à privacidade.


Jeffrey Rosen acaba de editar, com Benjamin Wittes, o livro Constitution 3.0 Freedom and Technological Change  (Constituição 3.0, Liberdade e Mudança Tecnológica - foto da capa ao lado), um volume que reúne colaboradores de peso com o Tim Wu, autor de The Master Switch e Lawrence Lessig  o co-fundador do Creative Commons .


Cada colaborador imaginou o ano de 2025 e desenvolveu cenários de um dilema constitucional. Os temas discutidos envolvem o futuro da vigilância eletrônica, a seleção genética, a neurolei (como scans do cérebro  podem alterar a responsabilidade penal de criminosos).


O capítulo escrito por Rosen [foto abaixo], Os que Decidem: Facebook, Google, e o Futuro da Privacidade e da Livre Expressão, envolve tecnologias já disponíveis.


O editor imagina o Planeta Aberto. Em 2025, o Facebook decide colocar online o streaming de todas as câmeras de vigilância pública e privada, além de arquivar todo o conteúdo de vídeo gravado pelas câmeras. Em qualquer parte do planeta, um internauta pode selecionar uma cena de rua e fazer um close-up num pedestre. E pode começar a seguir pessoa eletronicamente depois de identificá-la com o software de reconhecimento facial disponível, desde junho passado, no Facebook, onde 800 milhões de membros são registrados sob seu nome real. Pode observar a pessoa saindo de casa , chegando ao escritório, fazendo compras. 


Dá para entender porque Eric Schmidt, o CEO do Google, classificou o uso  da tecnologia de reconhecimento facial de “creepy(repugnante). Mas isso foi em maio. No começo de dezembro, o Google lançou sua versão do software, Find My Face, na sua nova rede social.


Esta invasão flagrante da privacidade de um cidadão no ainda fictício Planeta Aberto viola a Constituição americana? No momento, não. A Suprema Corte já chegou perto de afirmar que ninguém pode esperar privacidade no espaço público. O problema é que a definição de público e privado é analógica. No século 18, quando foram ratificadas  a Primeira Emenda, sobre liberdade de expressão, e a Quarta Emenda, sobre a inviolabilidade da pessoa, casa, papéis e propriedades  -  elas se destinavam a proteger os cidadãos dos excessos do governo e não de Mark Zuckerberg [foto abaixo] e Eric Schmidt.


O Planeta Aberto, diz Rosen, é como o GPS em esteróides. Em novembro, a Suprema Corte começou a ouvir os argumentos de um caso sobre uso de GPS para perseguir um acusado de tráfico de drogas que o editor considera potencialmente “o mais importante da década.” Agentes do FBI plantaram um aparelho de GPS no carro de Antoine Jones e registraram não só as suas entregas como chegaram ao seu depósito de narcóticos. Um tribunal de apelações anulou a condenação de Jones, alegando que seus direitos sob a Quarta Emenda haviam sido violados. O juiz concluiu que todo cidadão tem o direito de esperar que cada minuto de seu dia não seja monitorado durante semanas a fio


Quantos, entre as centenas de milhões de usuários no planeta, refletem sobre as consequências do GPS  embutidos nos smart phones que carregam no bolso?
O fato, diz Jeffrey Rosen, é que nós hoje temos menos direito à privacidade do que nossos antepassados do século 18. “Eles, ao menos, podiam trancar seus papeis numa gaveta,” diz.


Quando se depara com um dilema em que a tecnologia desafia os direitos constitucionais, Rosen recomenda aplicar um teste do século 19. “O que faria Brandeis?” Seu herói e bússola é Louis Brandeis, o primeiro judeu americano a ocupar a Suprema Corte e co-autor, com Samuel Warren, de O Direito à Privacidade, em 1890, o mais importante texto sobre o tema.  Em 1928, a Suprema Corte encontrou seu primeiro desafio tecnológico aos direitos individuais, no caso de um comerciante que vendia bebidas em plena Lei Seca. O telefone do acusado havia sido grampeado, através da linha interceptada na rua. Mas, numa opinião dissidente, Brandeis escreveu que a tecnologia do grampo revelava muito mais sobre a privacidade do comerciante do que uma simples revista física de sua casa. E previu, sem saber, a era cibernética, dizendo que o governo, no futuro, poderia investigar um cidadão e seus documentos sem pisar  na sua casa.


Mas Jeffrey Rosen acha que proteção da privacidade sob assalto virá de juízes e legisladores tanto quanto dos próprios habitantes do planeta digital e de novas tecnologias. Afinal, o Facebook é a terceira aglomeração do mundo em população, só perde para a Índia e a China. Ao contrário do que argumenta Mark Zuckerberg, o apóstolo da hipertransparência, Rosen não acredita que o cidadão informado está preparado para abrir mão de seus direitos em troca de confortos de consumo.


Rosen faz uma defesa apaixonada da privacidade: “Ela impede que sejamos julgados fora de contexto.” Em um livro anterior, The Unwanted Gaze (O Olhar Indesejado), Rosen argumenta que uma sociedade só é livre quando reconhece que as pessoas se comportam de maneira diferente em público e certos tipos de informação privada só podem ser compreendidos num contexto de intimidade. 


Se toleramos a exposição constante, não pode haver intimidade. E, sem intimidade, ele conclui, não temos autonomia para desafiar expectativas sociais, apenas para nos conformar com elas.


* Lúcia Guimarães é colunista do Caderno 2, colaboradora dos suplementos Aliás e Sabático e colunista da Rádio Estadão ESPN, todos do grupo do jornal O Estado de S. Paulo. Vive em Nova York desde 1985.


Fonte: O Estado de S. Paulo - Suplemento ALIÁS - Domingo, 25 de dezembro de 2011 - Pg. J10 - Internet: http://blogs.estadao.com.br/lucia-guimaraes/era-digital-direitos-analogicos/

Retrospectiva 2011: Literatura

Os livros mais vendidos durante o ano

[O nível não foi lá essas coisas!]

Milhares de livros foram lançados em 2011 no Brasil. Dentre os novos títulos e outros tantos a que se somaram nas prateleiras das bibliotecas e livrarias (esta última responsável por cerca de 40% da comercialização de livros em 2010, segundo a ABL), uma variedade de assuntos marcou o top 10 dos best-sellers de 2011.


No topo da lista, Ágape, de Padre Marcelo Rossi, ficou à frente do segundo colocado do ranking por milhares de cópias. Foram cerca de 500 mil, contra 98 mil de A Cabana, de William P. Young [foto ao lado], de acordo com o site especializado Publish News.


Os que vêm em seguida são, na ordem de classificação: 

  • Querido John, de Nicholas Sparks
  • A Guerra dos Tronos, de George R. R. Martin,  
  • Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch
  • mais um de Nicholas Sparks, Diário de Uma Paixão
  • Steve Jobs, de Walter Isaacson,  
  • o ganhador do Jabuti 1822, de Laurentino Gomes
  • Água para Elefantes, de Sara Gruen
  • e o clássico O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry.

Uma curiosidade: três desses livros inspiraram filmes e um deles uma série de tevê, Game of Thrones, no ar no Brasil pelo canal pago HBO.


Fonte: ESTADÃO.COM - 22/12/2011 - 21h00 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,retrospectiva-2011-literatura,813501,0.htm

Nas mãos do pastor

KENNETH SERBIN *

Sob a reclusa liderança de Bento XVI, a maior organização religiosa do mundo se afasta do diálogo com a modernidade

Enquanto os sinais de descontentamento das ruas dominavam boa parte das manchetes em 2011, a maior organização religiosa do mundo parecia definhar.


Quase sete anos de papado de Bento XVI e a Igreja Católica Romana, com quase 1,2 bilhão de fiéis e mais de 400 mil padres, continua lutando com profundas dificuldades internas.


A liderança de Bento XVI tem sido fraca. Seria difícil rivalizar com o papa viajante João Paulo II (morto em abril de 2005), com seu carisma, imensa popularidade e papel crucial que teve nos acontecimentos mundiais, incluindo o colapso do comunismo. Mas Bento XVI, que prefere temas intelectuais a assuntos pastorais e administrativos, pouco fez para criar uma marca ou oferecer nova inspiração para os católicos. Sua visita em 2007 ao Brasil ilustrou como é mínima a atração que ele exerce sobre as massas.


O papa completará 85 anos em abril de 2012, mas em 2011 já mostrou sinais de estar afrouxando o passo. O Vaticano precisou instalar uma plataforma rolante para poupá-lo da fadiga que sente ao caminhar apenas cem metros para chegar ao principal altar da  Basilica de São Pedro.Um artigo recente referiu-se a ele como “o papa de meio período”.


Bento XVI [foto ao lado] admitiu que a renúncia é uma medida legítima a ser adotada por um papa incapacitado, embora ainda não tenha dado a entender que optará por essa alternativa. Independentemente disso, em 2012 devem surgir especulações sobre sua saúde e nos bastidores a campanha para a sucessão provavelmente vai esquentar.


O mal-estar parece ter permeado a Igreja, talvez como ocorreu nos anos 50, quando os católicos de todo o mundo sentiram a necessidade de uma renovação espiritual e institucional, mas depararam com uma resistência tenaz da hierarquia. Esse mal-estar acabou levando à convocação do Concílio Vaticano II (1962–1965), que reescreveu a constituição da Igreja e implementou a mais abrangente reforma nos 2 mil anos de história da instituição.


Como perito em teologia no Vaticano II, o então padre Joseph Ratzinger participou da elaboração dessas reformas, embora tenha rejeitado as correntes mais radicais que se desenvolveram nos anos 60 e 70, incluindo a simpatia pelo marxismo. Como se sabe, durante o papado de João Paulo II ele conduziu um ataque contra a teologia da libertação e impôs 11 meses de silêncio a seu ex-aluno e um dos líderes desse movimento, o frei Leonardo Boff.


O ano de 2012 marca o 50º aniversário do início do Concílio Vaticano II, e contudo a Igreja ainda se debate para assimilar grande parte do espírito e letra das suas reformas. As tensões entre tradição e modernidade (agora, a pós-modernidade) continuam a governar a Igreja. João Paulo II fez o pêndulo oscilar para o passado e Bento XVI tem reforçado essa tendência – às vezes adotando mesmo práticas anteriores ao Vaticano II, tais como o retorno da missa em latim para os fiéis ultratradicionalistas.


Ao centrar o foco em tais assuntos, a Igreja se afastou de temas importantes abordados no Concílio Vaticano II: o diálogo com a modernidade e o compromisso com as realidades políticas e sociais do presente.


Como resultado, a Igreja hoje parece presa ao passado e não chegou a um acordo no tocante a questões monumentais. Suas 740 mil religiosas superam significativamente o número de padres, mas as mulheres não têm, basicamente, nenhum poder no Vaticano ou em outras áreas da hierarquia. A ideia da ordenação das mulheres continua sendo tabu, como também a de padres casados, duas mudanças que poderiam aliviar a escassez crônica e mundial de padres.


A Igreja também não chegou a reconhecer o fato de que, embora proíba que gays sejam ordenados padres, uma grande proporção do clero na verdade é constituída por gays, que formaram a própria subcultura dentro da instituição. Não existem estudos estatísticos no Brasil, mas nos Estados Unidos estima-se que o número de padres gays chegue a 50% do clero.


Em vez de resolver tais assuntos à luz das tendências modernas, à medida que 2012 se aproximava, a Igreja continuou se afundando nos escândalos de abusos sexuais cometidos por padres. Uma década se passou desde o primeiro grande escândalo revelado pela mídia. A hierarquia acobertou tais abusos por pelo menos 70 anos, talvez ainda mais. No mais recente capítulo dessa sórdida história, as tensões aumentaram entre o governo irlandês e o Vaticano por causa do acobertamento desses abusos.


Embora os padres não tenham cometido mais abusos do que homens em outras profissões, o escândalo transformou-se num desastre de relações públicas para o Vaticano.


Para muitas pessoas dentro da Igreja, um Concílio Vaticano III deveria ser convocado para consolidar as reformas preconizadas no Vaticano II e resolver outros problemas abrasadores enfrentados pelo catolicismo. À medida que as manobras pelo controle do Vaticano avançarem em 2012, qualquer sugestão no sentido de uma perspectiva mais liberal pode provocar apelos se não de um novo concílio, pelo menos no sentido de um debate mais sério sobre esses assuntos.


Em 2012, os católicos vão marchar nas ruas em apoio a tais mudanças. Mas, se elas não se verificarem e a liderança continuar titubeante, eles provavelmente continuarão caminhando silenciosamente, permanecendo católicos de nome, mas cada vez menos envolvidos com a Igreja.

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO.

* KENNETH SERBIN [foto acima] - CHEFE DO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE DE SAN DIEGO, AUTOR DE PADRES, CELIBATO E CONFLITO SOCIAL: UMA HISTÓRIA DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL (COMPANHIA DAS LETRAS).

Fonte: O Estado de S. Paulo - Suplemento ALIÁS - Domingo, 25 de dezembro de 2011 - Pg. J8 - Internet: http://sergyovitro.blogspot.com/2011/12/nas-maos-do-pastor-kenneth-serbin.html

Ninguém é de ninguém [Grande alerta!]

CARLOS GUILHERME MOTA *

Apaga-se da história do Brasil a complexidade dos estamentos sociais, substituídos agora pela classe B, pela classe C, etc.

O problema mais grave do Brasil nesta última quadra solicita discussão atualizada a propósito dos valores que deveriam reger um país que se pensa em ascensão. Que os índices positivos não nos iludam neste final do primeiro ano do governo Dilma, pois em amplas camadas da população a capacidade de leitura e escrita, de organização do pensamento e de raciocínio matemático minimamente articulado ainda nos remetem à Idade da Pedra Lascada. Um mal-estar da (in)civilização ronda o País, com a sociedade civil em frangalhos se distanciando cada vez mais das utopias democratizantes dos anos 80 e 90.


Muitos pensam candidamente, como o ministro Guido Mantega, que é na economia e nas finanças que reside nosso calcanhar de aquiles. Ora, no Brasil, salvo em poucos momentos excepcionais de sua história, as elites sempre evitaram atacar frontalmente o principal problema que corrói nossa sociedade, que é o da educação. E quem diz educação se refere aos valores básicos da cidadania, que deveriam ser cultivados com total empenho não apenas pelo Estado – como ocorreu nos anos 50 do século passado –, mas também por famílias conscientes da enormidade do abismo que as aguarda e a seus despreparados rebentos, em curto prazo. Famílias mais modestas parecem dar maior atenção a esse problema do que as elites satisfeitas com a colonialidade neosenzaleira de nosso mores nacional.


Que fazer então? Uma ação mobilizadora do Estado, bem planejada, firme e duradoura, centrada nas escolas, ao longo do tempo e acima dos partidos de ocasião, com o objetivo definido de plasmar uma nova sociedade civil deveras democrática, preparada para enfrentar os graves desafios da atualidade, eis o que deve ser feito por quem tenha visão de estadista. 


Pois o que se está vendo é o naufrágio da nação nesta sociedade do espetáculo e da cultura do marketing, gerando a “carência de resistência mental”, de que falava Karl Mannheim em Diagnóstico de Nosso Tempo (já no exílio em 1939), carência tanto mais grave em uma sociedade de massas despreparada como a nossa.


Habituadas à “miséria farta”, a que se referia Anísio Teixeira, nossas elites – servindo-se dos tentáculos do “neo” sindicalismo populista e adotando tipos vários de expedientes protelatórios – souberam aliciar lideranças das classes dominadas (trabalhadores e lumpem proletários), nelas introjetando os valores do velho coronelismo dos donos do poder, agora em sua versão pósmoderna repaginada. Um exemplo? 


Não por acaso, nesse sistema ideológico dominante e desmobilizador, simplesmente fizeram desaparecer da cena nacional as classes sociais tradicionais (burguesia, proletariado, etc.), cujas histórias aprendemos nos antigos e bons cursos colegiais. Ou seja, foram desidratadas as classes fundamentais e seus projetos, eclipsados nesse sistema obtuso de classificação social adotado por marqueteiros, “analistas” e oportunistas da hora. 


Apagou-se da história do Brasil toda a complexidade e dinamismos das classes e estamentos sociais, substituídos agora pela classe B, a classe C, etc. Solidamente instalado o capitalismo selvagem, nessa manobra ideológica apaga-se até mesmo a possibilidade de crítica à ganância desassombrada de uma abstrata classe A. (Nessa visão de mundo, a classe C ascendeu para a classe B, mercê da bolha que explica o consumismo dos últimos anos, que logo poderá explodir, aprofundando ainda mais a cultura da inadimplência, da violência e do banditismo em seus variados matizes.)


O problema nacional reside justamente na dita classe A, no aglomerado de burguesias dominantes que, em confortável maioria, assumem em nosso país um caráter decididamente predatório, como denunciou há alguns anos o urbanista Candido Malta Campos, ao fazer a distinção entre burguesia positiva e burguesia predatória


Afinal, não se equacionou em tempo hábil a questão urbana (que inclui o problema dos transportes de massa), a questão da Previdência, a questão universitária para a formação de quadros (inclusive de docentes para o segundo grau), a questão da alimentação, da habitação e do saneamento básico, e assim por diante.


Nesse quadro, como falar em valores quando a deseducação começa em casa e o consumismo passa a fazer parte do ethos coletivo das elites, que deveriam servir de referência para o conjunto social? Em geral, miram-se elas em outros países naquilo que há de superficial e moderno, desconhecendo porém o que fazem aquelas elites garantidoras de alto nível em políticas públicas, em suas universidades, em seus teatros e museus educativos, em suas escolas.


 No que diz respeito à universidade como geradora de valores e crítica para a renovação democrática, nossos liberais falharam, com o ex-ministro Paulo Renato à frente. Mas a esquerda faz apenas o que sabe fazer: pouco, talvez por falta de leitura. Nem mesmo ao sociólogo e deputado Florestan Fernandes [foto ao lado] deu-se maior atenção quando alertava ele, há 20 anos: 


“Muitos colocam o combate à fome e à penúria em primeiro lugar. Contudo, a educação e a consciência social clara são os principais substratos dos pobres na luta de classes. Uma população trabalhadora menos rústica não seria reduzida à condição de substituta e sucessora da população escrava e liberta por tanto tempo se dispusesse de melhor nível educacional e cultural”.


A revalorização do trabalho na esfera pública deve voltar à ordem do dia para que se reverta a grave desidentificação dos servidores – professores e intelectuais, inclusive – com o serviço público, tanto no Estado como na iniciativa privada, que também oferece serviço à coletividade. A hora é de requalificarmos nossos professores para a longa batalha que se anuncia e retomarmos a discussão sobre o papel da universidade, tão silenciosa em face da enormidade dos problemas nacionais.


* CARLOS GUILHERME MOTA - HISTORIADOR, PROFESSOR TITULAR DA USP E DO MACKENZIE, E AUTOR DE EDUCAÇÃO, CONTRAIDEOLOGIA E CULTURA (ED. GLOBO).


Fonte: O Estado de S. Paulo - Suplemento ALIÁS - Domingo, 25 de dezembro de 2011 - Pg. J5 - Internet: http://sergyovitro.blogspot.com/2011/12/ninguem-e-de-ninguem-carlos-guilherme.html

As rebeliões do efêmero

Olgária Chain Feres Matos *

A ideologia dominante é a do novo-rico, que conhece o preço de todas as coisas, mas desconhece o seu valor

O movimento pela descriminalização do uso da maconha, a luta contra a corrupção, a dos estudantes na USP pela retirada da Polícia Militar do câmpus universitário, dos homossexuais contra a homofobia no Brasil, correspondem à tendência neoliberal global de ocupação do espaço público - mas em um país que não responde pela qualidade da formação educacional que garantiria o fortalecimento da “vida intelectual” e do debate político. Que se pense, em particular, no movimento pela liberação da maconha, que não desenvolve reflexões sobre o sentido da disseminação de narcotizantes na sociedade de massa e do consumo, a questão da cultura do excesso, cuja exemplaridade são as festas rave e a música techno. Nos anos 80, Salvador Dalí, com todo seu surrealismo, interpelado sobre o uso de drogas, respondeu que se deveria consumi-las no máximo cinco vezes durante toda a vida. Ser Baudelaire ou Michaud, Omar Khayyam ou Benjamin não é dado a muitos.


Já as mobilizações estudantis no Chile, ao contrário das contestações no Brasil, têm sido contra a flexibilização dos currículos escolares e a redução da carga horária nas disciplinas humanistas e formadoras, como literatura, línguas estrangeiras, história, etc., a fim de barrar a desigualdade no acesso aos bens culturais e a proliferação dos privilégios educacionais. 


O que manifesta a consciência de que a educação não é um serviço do qual se é consumidor, cliente, porque ela não é uma mercadoria.


Já o movimento dos homossexuais, mais politizado porque em luta contra preconceitos de que decorrem sofrimentos, não se interroga sobre a tendência pós-moderna a indiferenciações do que é por natureza assimétrico, no que diz respeito àquelas que existem entre as gerações, entre pais e filhos, professores e alunos, masculino e feminino, isto é, o mal-estar identitário no mundo contemporâneo. Quanto ao movimento pela “transparência”, tem a força da indignação, mas não questiona a corrosão do sistema parlamentar, consequência, hoje, da falência da escolaridade e da ética que a ela se vinculava quando a educação, ao menos em seus princípios fundadores, humanistas e republicanos, propunha, primordialmente, formar as crianças para fazer delas adultos mais felizes e melhores.


Auspiciada pelo dinheiro como valor hegemônico, a ideologia dominante é a do novo-rico, que conhece o preço das coisas, mas desconhece seu valor. 


Se, em seu primeiro espírito, o capitalismo se baseou na parcimônia e no não contraimento de dívidas e no segundo valorizou o mérito e o trabalho como “dignificante” do homem, seu estágio atual é “sem espírito”, entronizando o dinheiro como supremo valor, dinheiro que, na aceleração do tempo, induz à pressa, os indivíduos perdendo o gosto do pensamento, nada desejando aprofundar.


O próprio amálgama de diversos delitos entendidos como corrupção (favorecimentos ilícitos, informações privilegiadas, tráfico de influência, gratificações indevidas, desvio de verbas públicas, suborno, omissões por interesses próprios ou partidários, formação de cartéis), malgrado pontos em comum, atesta sua fraca conceituação. E porque é mais fácil “derrubar o tirano do que as causas da tirania”, a vigilância cidadã fica sujeita à demagogia, quando a opinião pública é direcionada por interesses dissimulados, a defesa do bem público transgredindo seus limites e invadindo a esfera privada e a da intimidade. Tais movimentos, quanto mais conceitualmente confusos, mais vulneráveis à apropriação oportunista.


Além disso, as mobilizações contemporâneas se fazem com as novas tecnologias de informação, nas quais tudo se passa “aqui e agora”. Essa temporalidade é a do efêmero, mas em sentido pós-moderno, uma vez que ele se reduz ao episódico, compensado pela visibilidade promovida pelas mídias. Sua lógica é a do espetáculo que não se vincula a qualquer fundamentação teórica, adquirindo a forma do “evento”. No passado, a vida se organizava no tempo longo e nos laços duradouros, cuja “metafísica” subjacente dizia respeito à percepção da impermanência de tudo, da lei do efêmero, da vanidade das coisas e da grandeza do instante. 


As manifestações públicas e ocasionais contemporâneas se constituem no âmbito de um vazio ideológico e no quadro do anti-intelectualismo do mundo moderno, o que se expressa na pseudoparticipação popular e em governos que se fazem através das mídias, pela televisão e pela propaganda.


Com reivindicações particulares voltadas para si mesmas, esses movimentos não se vinculam uns aos outros, resultando em particularismos. Há algum tempo, as manifestações públicas repercutiam em toda a sociedade, chamada assim a delas participar, ativamente ou por consentimento, ao que correspondia a lei entendida como universal, pelo reconhecimento das diferenças das demandas sociais, unificadas, justamente, na lei universalizadora. 


As mobilizações contemporâneas têm seguidores que se reúnem em comunidades virtuais com sua solidariedade pós-moderna, sem valores comuns admirados e compartilhados por todos.


Walter Benjamin caracterizou a modernidade capitalista como “pobreza da experiência” e “experiência da pobreza”, mas nela identificou o novo. Pois essa pobreza “leva a começar do começo, a retomar as coisas desde o princípio, a dar um jeito com pouco, a construir com o pouco que se tem”.


Recorde-se que o movimento que paralisou a França em 1968, de que decorreram desde o movimento de emancipação feminina até a própria democratização das esquerdas autoritárias e de seus partidos centralizadores - encontrando-se na base até mesmo da queda do Muro de Berlim -, teve seu início com estudantes que reivindicavam o direito de visita a suas colegas e namoradas em seus quartos de estudantes.


Razão pela qual os recentes movimentos no Brasil podem constituir o “princípio esperança” do aprimoramento da vida política e do bem-viver em nosso cotidiano.

* PROFESSORA TITULAR DE FILOSOFIA DA USP E AUTORA, ENTRE OUTROS, DE BENJAMINIANAS: CULTURA CAPITALISTA E FETICHISMO CONTEMPORÂNEO (UNESP).

Fonte: O Estado de S. Paulo - Suplemento ALIÁS - Domingo, 25 de dezembro de 2011 - Pg. J5 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,as-rebelioes-do-efemero-,814980,0.htm

A política como lugar [Interessante análise!]

Saskia Sassen *

Ocupar significa enfrentar a lógica antidemocrática do poder, redefinindo o papel do cidadão na "rua global"

Ocupar não é o mesmo que demonstrar. Muitos dos protestos do ano passado - Praça Tahrir [foto abaixo], os indignados, Ocupe Wall Street (OWS) e outros - deixam nítido o fato de que ocupar significa estabelecer um novo território. Transformar o que era visto meramente como um espaço num território. Nesse processo, ocupar também cria um pouco de história.


Território é um vetor estratégico em todos esses tão diversos processos de ocupação. No sentido em que estou usando o termo, território é uma condição complexa na qual se insere a lógica do poder e da reivindicação, algo que implica muito trabalho para criar e não pode ser reduzido apenas à factibilidade elementar do espaço ou da terra. Assim, ocupar é um processo que reelabora, mesmo temporariamente, a frequentemente antidemocrática lógica do poder incrustada no território. E com frequência também redefine o papel dos cidadãos, na maior parte debilitados e fatigados depois de décadas de injustiças e desigualdades crescentes.


Na verdade, as ocupações têm revelado até que ponto a realidade do território vai além de seu significado predominante em todo o século 20: o do território de soberania nacional. Dependendo da região do mundo, durante um século ou mais a complexa categoria que é o território ficou restrita a um único significado: território de soberania nacional.


O movimento Ocupe Wall Street entrou num dos territórios estratégicos das finanças globais e, durante dois meses de trabalho duro e muita deliberação coletiva, estabeleceu um novo território - físico e conceitual - com sua própria lógica de organismo e representação descentralizados. O movimento Ocupe Oakland se inseriu num território estratégico do comércio global em novembro, quando temporariamente fechou o porto da cidade, o quarto maior dos Estados Unidos. 


A maneira como a Praça Tahrir foi usada durante a revolução egípcia - o trabalho de erigir um acampamento e mantê-lo habitável e pacífico durante vários meses - da mesma maneira transformou a praça num outro tipo de território. Los Indignados, na Espanha, não realizaram apenas manifestações: eles estabeleceram um acampamento com múltiplas funções [foto ao lado]. 
Os estudantes que ocuparam a Universidade de Porto Rico um ano atrás durante dois meses, cercados pelo Exército, criaram algo parecido a uma sociedade e economia alternativas, cuidando do seu próprio sustento, ensinando várias habilidades um ao outro.


Essas e tantas outras ocupações exigiram trabalho e estratégia. Diria que é um movimento social multilocalizado, criado a partir do cruzamento de um modo político global e das especificidades e história locais. Cada um desses lugares tem a própria genealogia de ações, histórico de violência e libertação e geografia do poder. Mas nesta atual era global algumas condições estruturais estão presentes em mais e mais países: em todos eles observamos o crescimento das desigualdades e a expulsão das jovens gerações da classe média de um projeto de vida de classe média.


No seu início, a criação do território nacional envolveu conquistar autonomia de uma potência dominante - como ocorreu com os Estados Unidos no princípio e também no caso dos movimentos de independência na África e muitas outras lutas em todo o mundo. Esses foram momentos importantes, quando a lógica do poder e da outorga de poder coincidiram numa tentativa de se criar sistemas políticos e socioeconômicos mais igualitários. Como resultado, surgiram governos de certa maneira receptivos às demandas das classes médias emergentes.
Com mais frequência, contudo, essas primeiras lutas para criar território próprio foram frustradas por elites que se apoderaram abusivamente do poder, deixando os cidadãos empobrecidos e sem nenhum direito de representação. Essa decadência não seria apenas interna, contudo. Estabelecer o próprio território também pode levar à colonização dos antigos habitantes do lugar ou, no decorrer do tempo, significou entrar furtivamente no território de outros. O que nos leva de volta às contradições do território nacional: alguns Estados-nação foram criados no rastro de vastas geografias imperiais de exploração e dominação. Num sentido importante, contudo, territórios colonizados são constituídos por meio de uma lógica distinta daquela do território feito nação, que é impulsionado, pelo menos no início, pela lógica da autodeterminação. 


Hoje, era em que vemos a decadência do Estado liberal, a lógica do poder não coexiste com a lógica da outorga de poder - ela coexiste com o empobrecimento crescente da classe média e a perda dos direitos do cidadão.


A decadência do “projeto nacional” em parte decorre da emergência de vetores territoriais diferentes. Observamos a ascensão de novos agrupamentos de uma miscelânea de território, autoridade e direitos outrora firmemente assentados nas estruturas nacionais. O espaço operacional das empresas globais é um agrupamento de uma miscelânea de múltiplos territórios nacionais. Assim também é a rede das cidades globais. Esses agrupamentos emergentes na maior parte atravessam o binário do “nacional versus global”. Os movimentos “Ocupe” também são agrupamentos emergentes de uma miscelânea de vários territórios nacionais (e globais). Sua reivindicação do espaço público é uma resposta às deficiências cada vez mais palpáveis da lógica do Estado-nação.


Esses movimentos lançaram um processo emergente que considero como da “rua global”, um lugar para se criar o social. Esse modo de formação do público é bem diferente da tradição europeia do espaço público, que é o lugar para implementar práticas que já se tornaram um ritual. 


O movimento “rua global” liberta o território, como categoria e como capacidade; ele transforma a rua num espaço para reformular o social e o político por aqueles que não têm acesso aos instrumentos de poder estabelecidos dentro dos limites do território de soberania nacional. 


É por isso que os acampamentos no Cairo, Nova York e em todos os outros locais são um elemento crucial em meio às mudanças mais profundas que estão desestabilizando a territorialização nacional da vida política e social. E é por isso que as tentativas para fazer acampamentos na Síria e no Bahrein são importantes, mesmo se fracassarem.


O espaço mais amplo permitindo essa ocupação em múltiplos lugares é a rede das cidades globais em todo o mundo, cujo número vem aumentando, em parte como resultado das necessidades territoriais maiores do capital global e das finanças globais. E aqui reside uma interessante dialética entre o crescimento das cidades globais e o crescimento dos movimentos de ocupação


A cidade surge como um espaço em que os impotentes podem fazer história; não é o único espaço, mas é um espaço crucial. Seja no Egito, nos Estados Unidos ou qualquer outro lugar, é importante que o objetivo dos ocupantes não seja o de arrebatar o poder. 


Inversamente, eles estiveram e estão engajados em trabalhar para a cidadania, expor as falhas e os erros da política e da sociedade. No meu livro Territory, Authority, Rights (Território, Autoridade, Direitos - 2006), abordei essa questão de como os impotentes podem fazer história e, se o conseguirem, como poderão fazer isso sem se tornar necessariamente pessoas com o poder nas mãos. Isso nos mostra que a impotência não é simplesmente uma condição absoluta que pode ser nivelada para se tornar ausência de poder. 


O fato de as pessoas se tornarem presentes e, importante, se tornarem visíveis umas para as outras, pode alterar a natureza da sua impotência. Com base em certas condições, a impotência pode se tornar algo complexo, e com isso quero dizer que ela pode conter a possibilidade de criar o político, o cívico, ou a história.


A violência com que várias dessas ocupações pacíficas têm sido confrontadas pela polícia e pelos soldados do Exército é indicação de quão ameaçadora é a ocupação. E o quão difícil e desordenado tem sido neutralizar o projeto dos ocupantes nos mostra que o Estado tem que trabalhar para restaurar o território no seu antigo formato e se reinserir na lógica mais antiga.


Saskia Sassen [foto acima] é socióloga da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos, autora, entre outros, de Sociologia da Globalização (editora Artmed, Brasil). 


TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO. 
ESTE TEXTO É PARTE DE UM ENSAIO DA AUTORA PARA A REVISTA ARTFORUM.


Fonte: O Estado de S. Paulo - Suplemento ALIÁS - Domingo, 25 de dezembro de 2011 - Pg. J3 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,a-politica-como-lugar-,814979,0.htm