«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 30 de julho de 2016

18º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

Evangelho: Lucas 12,13-21

Naquele tempo:
13 Alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.»
14 Jesus respondeu: «Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?».
15 E disse-lhes: «Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens.»
16 E contou-lhes uma parábola: «A terra de um homem rico deu uma grande colheita.
17 Ele pensava consigo mesmo: “O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita”.
18 Então resolveu: “Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens.
19 Então poderei dizer a mim mesmo:
– Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!”
20 Mas Deus lhe disse: “Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?”.
21 Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus.»

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
Tela em óleo: "Parábola do Rico Insensato" (1627) - autor:
Rembrant Harmenszoon van Rijn (1606-1669) - exposta na Gemäldegalerie, em Berlim, Alemanha

DESMASCARAR A INSENSATEZ

O protagonista da pequena parábola do «rico insensato» é um proprietário como aqueles que Jesus conheceu na Galileia. Homens poderosos que exploravam sem piedade os camponeses, pensando somente em aumentar o seu bem-estar. O povo temia-os e invejava-os: sem dúvida eram os mais afortunados. Para Jesus, são os mais insensatos.

Surpreendido por uma colheita que ultrapassa suas expectativas, o rico proprietário se vê obrigado a refletir: «O que farei?». Fala consigo mesmo. Em seu horizonte não aparece ninguém mais. Não parece ter esposa, filhos, amigos nem vizinhos. Não pensa nos camponeses que trabalham suas terras. Somente preocupa-lhe o seu bem-estar e sua riqueza: minha colheita, meus celeiros, meus bens, minha vida...

O rico não se dá conta de que vive fechado em si mesmo, prisioneiro de uma lógica que o desumaniza, esvaziando-o de toda dignidade. Somente vive para acumular, armazenar e aumentar o seu bem-estar material: «Construirei celeiros maiores, neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: – Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!».

De repente, de maneira inesperada, Jesus faz intervir o próprio Deus. Seu grito interrompe os sonhos e ilusões do rico: «Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?». Esta é a sentença de Deus: a vida deste rico é um fracasso e uma loucura.

Amplia seus celeiros, mas você não sabe alargar o horizonte de sua vida. Aumenta a sua riqueza, porém diminui e empobrece a sua vida. Acumula bens, mas não conhece a amizade, o amor generoso, a alegria nem a solidariedade. Não sabe dar nem compartilhar, somente agarrar. O que há de humano nesta vida?

A crise econômica que estamos sofrendo, é uma «crise de ambição»: os países ricos, os grandes bancos, os poderosos da terra... desejamos viver acima de nossas possibilidades, sonhando em acumular bem-estar sem algum limite e esquecendo-nos, cada vez mais, daqueles que se afundam na pobreza e na fome. Porém, imediatamente, a nossa segurança despencou.

Esta crise não é uma a mais. É um «sinal dos tempos» que devemos ler à luz do Evangelho. Não é difícil escutar a voz de Deus no fundo de nossas consciências: «Basta de tanta insensatez e tanta falta cruel de solidariedade». Nunca superamos nossas crises econômicas sem lutar por uma mudança profunda de nosso estilo de vida: temos de viver de maneira mais austera; temos de compartilhar mais o nosso bem-estar!

LOUCOS

Uma das características mais chamativas na pregação de Jesus é, talvez, a lucidez com que soube desmascarar todo o poder alienante e desumanizador que se pode encerrar nas riquezas.

A visão de Jesus não é a de um moralista que se preocupa de saber como adquirimos nossos bens e como os usamos. O risco de quem vive desfrutando de suas riquezas é esquecer sua condição de filho de um Deus Pai e de irmão de todos os homens.

Por isso, o grito de alerta de Jesus: «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro». Não pode um homem ser fiel a um Deus Pai, que busca a justiça, a solidariedade e a fraternidade de todos os homens e, ao mesmo tempo, viver dependente de seus bens e riquezas.

O dinheiro pode dar poder, fama, prestígio, segurança, bem-estar..., porém, na medida em que escraviza a pessoa, fecha-a a Deus Pai, lhe faz esquecer sua condição de homem e irmão, e leva-a a romper a solidariedade com os outros. Deus não pode reinar na vida de uma homem dominado pela dinheiro.

A raiz profunda está em que as riquezas despertam em nós a necessidade insaciável de ter sempre mais. E, então, cresce na pessoa a necessidade de acumular, capitalizar e possuir sempre mais e mais.

Jesus considera como verdadeira loucura, insensatez e alienação a vida daqueles proprietários da Palestina, obcecados por armazenar suas colheitas em celeiros cada vez maiores. É uma verdadeira idiotice consagrar todas as energias, a imaginação, o tempo e os melhores esforços para adquirir e conservar nossas próprias riquezas.

Quando, ao final da vida, Deus se aproxima do rico para recolher a sua vida, revela-se que ele a desperdiçou. Sua vida carece de conteúdo e valor. «Louco... Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus».

Um dia, o pensamento cristão descobrirá com uma clareza que, talvez hoje nos é muito vaga, a profunda contradição que existe entre o espírito que anima o capitalismo e o espírito que anima o projeto de vida intencionado e querido por Jesus. E esta contradição não se resolve nem com a profissão de fé de quem vive com espírito capitalista nem com toda a beneficência que possam fazer com seus ganhos.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – J. A. Pagola – Ciclo C (Homilías) – Internet: clique aqui.

As respostas aos demônios que nos perseguem

Entrevista com Zygmunt Bauman*
Sociólogo e filósofo polonês

Davide Casati
Jornal “Corriere della Sera” – Milão (Itália)
25-07-2016

Vivemos uma época marcada pelo medo e pela incerteza.
«E não devemos nos iludir: os demônios que nos perseguem não vão evaporar porque sua origem tem a ver com os mesmos elementos constitutivos da nossa sociedade e das nossas vidas.» 
ZYGMUNT BAUMAN

Eis a entrevista.

Professor Bauman, diante da corrente de ataques desses dias, a Europa se vê fazendo as contas com um abismo de medo e de insegurança. Que respostas podem preenchê-lo?

Zygmunt Bauman: As raízes da insegurança são muito profundas. Elas afundam no nosso modo de vida, são marcadas pelo enfraquecimento dos laços interpessoais, pelo desmoronamento das comunidades, pela substituição da solidariedade humana pela concorrência sem limites, pela tendência de confiar nas mãos dos indivíduos a resolução de problemas de relevância mais ampla, social. O medo gerado por essa situação de insegurança, em um mundo sujeito aos caprichos de poderes econômicos desregulados e sem controles políticos, aumenta, s e difunde para todos os aspectos das nossas vidas. E esse medo busca um objetivo para se concentrar. Um objetivo concreto, visível e ao alcance das mãos.

Um objetivo que muitos identificam no fluxo de refugiados e migrantes.

Zygmunt Bauman: Muitos deles vêm de uma situação em que estavam orgulhosos com a sua posição na sociedade, com o seu trabalho, com a sua educação. Porém, agora, são refugiados, perderam tudo. No momento da sua chegada, entram em contato com a parte mais precária das nossas sociedades, que vê neles a realização dos seus pesadelos mais profundos.

Diante desse desafio, multiplicam-se os chamados, por parte de algumas forças políticas, à construção de novos muros. Trata-se de uma resposta sensata?

Zygmunt Bauman: Eu acho que se devem estudar, memorizar e aplicar as análises que o Papa Francisco, no seu discurso de agradecimento pelo Prêmio Carlos Magno, dedicou aos perigos mortais do "aparecimento de novos muros na Europa". Muros erguidos – paradoxalmente e de má fé – com a intenção e a esperança de se proteger da agitação de um mundo repleto de riscos, armadilhas e ameaças. O pontífice observa, com profunda preocupação, que, se os pais fundadores da Europa, "mensageiros de paz e profetas do futuro", nos inspiraram a "criar pontes e derrubar muros", a família de nações que eles promoveram parece ultimamente "cada vez menos à vontade na casa comum. O desejo novo e exaltante de criar unidade parece desaparecer; nós, herdeiros desse sonho, somos tentados a nos deter apenas nos nossos interesses egoístas e a criar barreiras".

Nos seus estudos, o senhor indicou como valores fundadores das nossas sociedades a LIBERDADE e a SEGURANÇA: depois de uma época em que, para fazer crescer a primeira, renunciamos progressivamente à segunda, agora, o pêndulo está invertendo o seu curso. Que reflexos políticos decorrem daí?

Zygmunt Bauman: Diante de nós, temos desafios de uma complexidade que parece insuportável. E, assim, aumenta o desejo de reduzir essa complexidade com medidas simples, instantâneas. Isso faz crescer o fascínio de "homens fortes", que prometem – de modo irresponsável, enganoso, bombástico – encontrar aquelas medidas, resolver a complexidade. "Deixem comigo, confiem em mim", dizem, "e eu vou resolver as coisas". Em troca, pedem uma obediência incondicional.

Parece aquilo que está sendo proposto pelo candidato à presidência dos Estados Unidos Donald Trump, cujas posições sobre segurança e imigração foram recentemente indicadas pelo presidente húngaro Viktor Orban como modelos para a Europa...

Zygmunt Bauman: O que estamos assistindo é uma tendência preocupante: reivindicações de tipo social, como a integração e a acolhida, são indicadas como problemas a serem confiados aos órgãos de polícia e de segurança. Isso significa que o estado de saúde do espírito fundador da União Europeia não está com boa saúde, porque a característica decisiva da inspiração na base da União Europeia era a visão de uma Europa em que as medidas militares e de segurança se tornariam – gradual mas constantemente – supérfluas.
REFUGIADO DO AFEGANISTÃO CARREGA SEU FILHINHO
enquanto caminha entre cercas na divisa da Grécia com a Macedônia

O Islã é indicado por algumas forças políticas – por exemplo, a alemã Pegida** – como uma fé intrinsecamente violenta, incompatível com os valores ocidentais. O que o senhor pensa a respeito?

Zygmunt Bauman: Absolutamente é preciso evitar o erro, perigoso, de tirar conclusões de longo prazo a partir das fixações de alguns. É claro, como disse o grandíssimo sociólogo alemão Ulrich Beck, no fundo da nossa atual confusão, está o fato de que já estamos vivendo uma situação "cosmopolita" – que nos verá destinados a coabitar de modo permanente com culturas, modos de vida e fés diferentes – sem ter desenvolvido completamente as capacidades de compreender as suas lógicas e os seus requisitos: ou seja, sem ter uma "consciência cosmopolita". E é verdade que preencher a lacuna entre a realidade em que vivemos e a nossa capacidade de compreendê-la não é um objetivo que se alcança rapidamente. O choque está apenas começando.

Então, estamos destinados a viver em sociedades nas quais o sentimento dominante será o do medo?

Zygmunt Bauman: Trata-se de uma perspectiva sombria e perturbadora, mas cuidado: o destino de sociedades dominadas pelo medo, de fato, não está predeterminado, nem é inevitável. As promessas dos demagogos pegam, mas também têm, por sorte, uma vida curta. Uma vez que novos muros sejam erguidos e mais forças armadas sejam postas em campo nos aeroportos e nos espaços públicos; uma vez que àqueles que pedem asilo de guerras e destruições essa medida seja rejeitada, e que mais migrantes sejam repatriados, ficará evidente que tudo isso é irrelevante para resolver as causas reais da incerteza. Os demônios que nos perseguem – o medo de perder o nosso lugar na sociedade, a fragilidade dos marcos que alcançamos – não vão evaporar nem desaparecer. Naquele ponto, poderemos acordar e desenvolver anticorpos contra as sereias de falastrões e populistas que tentam ganhar capital político com o medo, desviando-nos do caminho. O temor é que, antes que esses anticorpos sejam desenvolvidos, muitos verão suas próprias vidas sendo desperdiçadas.

O senhor defendeu que as possibilidades de hospitalidade não são ilimitadas, mas também não o é a capacidade humana de suportar o sofrimento e a rejeição. Diálogo, integração e empatia, porém, requerem tempos longos...

Zygmunt Bauman: Vou lhe responder citando o Papa Francisco mais uma vez: "Sonho com uma Europa em que ser migrante não é crime, que promove e protege os direitos de todos, sem esquecer os deveres para com todos. O que te aconteceu, Europa, principal lugar dos direitos humanos, democracia, liberdade, terra natal de homens e mulheres que arriscaram e perderam a própria vida pela dignidade dos próprios irmãos?". Essas perguntas são dirigidas a todos nós; a nós que, como seres humanos, somos moldados pela história que ajudamos a moldar, conscientemente ou não. Cabe a nós encontrar respostas a essas perguntas e a expressá-las em atos e palavras. O maior obstáculo para encontrar essas respostas é a nossa lentidão para procurá-las.

* ZYGMUNT BAUMAN (nasceu em Poznań, no dia 19 de novembro de 1925) é um sociólogo polonês. Serviu na Segunda Guerra Mundial pelo exército da União Soviética e conheceu sua esposa, Janine Bauman, nos acampamentos de refugiados polacos. Nos anos 1940 e ‘50 foi militante entusiasmado do Partido Comunista Polaco, até se desligar da organização devido ao fracasso da experiência socialistas no leste europeu. Graduou-se em sociologia na URSS e, por seu status de combatente, conseguiu ascender socialmente: saiu da condição modesta que seus pais lhe propiciaram durante a juventude e tornou-se professor universitário. Iniciou sua carreira na Universidade de Varsóvia, de onde foi afastado em 1968, após ter vários livros e artigos censurados. Emigrou então da Polônia, por motivo de perseguições antissemitas, e na Grã-Bretanha tornou-se professor titular da Universidade de Leeds (1971 em diante). Recebeu os prêmios Amalfi (1989, por sua obra Modernidade e Holocausto) e Adorno (1998, pelo conjunto de sua obra). É professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia. Para saber mais e conhecer quais obras desse renomado filósofo e sociólogo estão traduzidas no Brasil, clique aqui.
** PEGIDA, sigla para Patriotische Europäer gegen die Islamisierung des Abendlandes (em alemão) ou Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente (em português), é uma organização que se opõe à imigração de muçulmanos na Alemanha, com base na cidade de Dresden. Desde 20 de outubro de 2014, o PEGIDA organiza demonstrações públicas contra o governo alemão e aquilo que considera ser a islamização do Ocidente. Fonte: Wikipédia.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 29 de julho de 2016 – Internet: clique aqui.

Papa na Polônia: uma presença que deixa marcas

“Onde está Deus, quando inocentes morrem por causa da violência, do terrorismo, das guerras?”

Andrea Tornielli
Vatican Insider
29-07-2016

«O Senhor quer fazer de vocês uma resposta concreta às necessidades
e aos sofrimentos da humanidade»,
afirmou Papa Francisco durante a Via Sacra da Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia, na Polônia
PAPA FRANCISCO
dirige a palavra aos jovens presentes à Via Sacra da Jornada Mundial da Juventude
Parque Błonia - Cracóvia - Polônia (18h00 - hora local)
Sexta-feira, 29 de julho de 2016

“Onde está Deus?
Onde está Deus, se no mundo existe o mal, se há pessoas famintas, sedentas, sem abrigo, deslocadas, refugiadas?
Onde está Deus, quando morrem pessoas inocentes por causa da violência, do terrorismo, das guerras?
Onde está Deus, quando doenças cruéis rompem laços de vida e de afeto?
Ou quando as crianças são exploradas, humilhadas, e sofrem – também elas – por causa de graves patologias?”

A meditação do Papa Francisco ao final da Via Sacra na explanada do Parque Blonia (Cracóvia – Polônia) começa com uma série de perguntas “para as quais não há resposta humana”.

Bergoglio reuniu-se com os jovens que há cerca de três horas esperavam por ele, escutando testemunhos, assistindo a filmes, entre cantos e orações. A Via Sacra – Via da Misericórdia – prevê a exibição de vídeos ao vivo de outras partes do mundo. Em cada estação, a cruz é levada por um grupo diferente de jovens que pertencem a diferentes associações do mundo.

Em sua intervenção, o Papa Francisco, após um dia de contato com a memória dolorosa do passado e com os sofrimentos dos mais pequeninos, explicou que diante da falta de resposta para a dor inocente “só podemos olhar para Jesus e perguntar a Ele. E a resposta de Jesus é esta: ‘Deus está neles’, Jesus está neles, sofre neles, profundamente identificado com cada um”. 
JOVENS CARREGAM A CRUZ
durante a Via Sacra da 31ª Jornada Mundial da Juventude

O próprio Jesus “escolheu identificar-se com estes irmãos e irmãs que sofrem por causa da dor e da angústia, aceitando percorrer a via dolorosa que leva ao calvário”.

Abraçando o madeiro da cruz, Jesus abraça a nudez e a fome, a sede e a solidão, a dor e a morte dos homens e mulheres de todos os tempos. Nesta noite, Jesus – e nós com ele – abraça com amor especial os nossos irmãos sírios, que fugiram da guerra. Saudamo-los e acolhemo-los com fraterno afeto e simpatia”.

Em seguida, o Papa recordou as 14 obras de misericórdia:
* dar de comer a quem tem fome,
* dar de beber a quem tem sede,
* vestir os nus,
* dar pousada aos peregrinos,
* visitar os enfermos;
* visitar os presos;
* enterrar os mortos;
* dar bons conselhos,
* ensinar os ignorantes,
* corrigir os que erram,
* consolar os tristes,
* perdoar as injúrias,
* suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo,
* rezar a Deus por vivos e defuntos.

“Somos chamados a servir Jesus crucificado em cada pessoa marginalizada, a tocar a sua carne bendita em quem é excluído, tem fome, tem sede, está nu, preso, doente, desempregado, é perseguido, refugiado, migrante. Naquela carne bendita, encontramos o nosso Deus; naquela carne bendita, tocamos o Senhor. O próprio Jesus no-lo disse, ao explicar o ‘protocolo’ com base no qual seremos julgados: sempre que fizermos isto a um dos nossos irmãos mais pequeninos, fazemo-lo a Ele”. “A credibilidade dos cristãos é posta em jogo no acolhimento da pessoa marginalizada que está ferida no corpo, e no acolhimento do pecador que está ferido na alma. Não nas ideias: aí”.
PAPA FRANCISCO
discursa diante de milhares de jovens reunidos no parque Błonia, em Cracóvia, para a Via Sacra

“O caminho da Cruz não é sadomasoquista, o caminho da Cruz é o único que vence o pecado, o mal e a morte”, é o “caminho da esperança, e eu gostaria que vocês fossem semeadores de esperança”, convidou o Papa.

Hoje, afirmou Francisco, “a humanidade necessita de homens e mulheres, particularmente jovens como vocês, que não queiram viver a sua existência ‘pela metade’, jovens dispostos a entregar suas vidas para servir generosamente os irmãos mais pobres e fracos”. Percorrendo a via da cruz, do compromisso pessoal e “do sacrifício de vocês mesmos”.

“Queridos jovens – concluiu Bergoglio –, naquela Sexta-Feira Santa, muitos discípulos voltaram tristes para suas casas, outros preferiram ir para a casa da aldeia a fim de esquecer a cruz. Pergunto-vos: nesta noite, como vocês querem voltar às suas casas, aos seus locais de alojamento? Nesta noite, como querem voltar a encontrar-se com vocês mesmos? O mundo olha para nós, cabe a cada um de vocês responder ao desafio desta pergunta”.

Traduzido do italiano por André Langer. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Papa se torna convidado incômodo na Polônia

Christoph Strack
Deutsche Welle
29-07-2016

A fama de católicos devotos dos poloneses se aplica em especial a seu governo nacional-conservador. Mas, ao contrariar expectativas em sua visita, Francisco estraga a festa.
Papa acompanhado do Presidente polonês Andrzej Duda e esposa Agata Kornhauser-Duda,
por ocasião de sua chegada ao país na quarta-feira, dia 27 de julho de 2016

A coisa poderia ter sido tão boa: o papa, o sucessor do apóstolo Pedro, de visita a Cracóvia por cinco dias. Centenas de milhares de jovens entusiasmados, os olhos de todo o mundo pregados na cidade no sul da Polônia. E ele está acomodado nos melhores aposentos da cidade, em Wawel, o antigo castelo real, a apenas alguns passos da sepultura do novo "santo" da nação, o ex-presidente Lech Kaczynski, morto em 2010 num acidente aéreo.

Mas aí Francisco vem e simplesmente sai falando. Ele deixa bem claro que não está de acordo com os rumos da política polonesa, diz o que gostaria que fosse diferente. Aí é que a festa começa de verdade. O discurso do líder da Igreja Católica aqui não pôde ser tão arrasador como sua crítica à União Europeia em 2014, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo; como ao receber o Prêmio Carlos Magno há pouco menos de três meses, no Vaticano. Mas ela foi suficientemente direta.

Não se trata apenas do curso restritivo do governo nacional-conservador no tocante ao acolhimento de refugiados. Já na homenagem ao país anfitrião soou uma nota de crítica. Francisco evocou (em palavras, aliás, que em parte poderiam ser de seu grande antecessor polonês, João Paulo II) o "sonho de um novo humanismo europeu", da cultura comum de toda a Europa, norteada pelo cristianismo.

O sumo pontífice falou de uma "consciência de identidade sem qualquer prepotência"; exortou à "abertura para a renovação"; alertou para a "unidade, também em meio a diferenças de opinião". Ele louvou a reconciliação teuto-polonesa, iniciada pelas Igrejas; lembrou, ao seguramente devoto auditório, que Deus "transforma dificuldades em chances e cria novas situações onde parecia ser impossível".

E então se referiu expressamente à migração: é necessária "a disposição de acolher aqueles que fogem da guerra e da fome; a solidariedade perante os que foram privados de seus direitos fundamentais". Resumindo: cabe "fazer o que seja possível para minorar o sofrimento".
PAPA FRANCISCO
discursa às autoridades polonesas e ao corpo diplomático reunidos no Castelo de Wawel, em Cracóvia, Polônia
Quarta-feira, 27 de julho de 2016

Governo polonês posiciona-se contra acolhida aos refugiados

A bela congregação festiva em Wawel: a primeira-ministra Beata Szydlo, que apenas horas antes criticara veementemente a chanceler federal alemã, Angela Merkel, por sua política para os refugiados. Cujo ministro do Interior, Mariusz Błaszczak, anunciara, antes das palavras do papa, que França e Alemanha ilustravam o fracasso do multiculturalismo: que o homem de Roma dissesse o que quisesse, a Polônia permaneceria em seu curso político.

Szydlo e Błaszczak se esforçaram para manter uma cara boa. E, aliás, também os bispos do país, muitos dos quais vivenciaram o comunismo ainda como padres e que agora se mostram tão satisfeitos com tanto conservadorismo, também nacionalista. [O Evangelho deveria vir primeiro e à frente de todo nacionalismo!]
 
BEATA SZYDLO
Primeira-Ministra da Polônia em choque com a chanceler
Angela Merkel que é a favor de acolher os refugiados na Europa
Francisco apelou às consciências deles todos – às dos bispos, ainda uma segunda vez, a portas fechadas. O "papa de longe" lembrou à Europa e à Polônia de valores fundamentais, da mensagem cristã inscrita no continente. Certamente ele não espera que a liderança polonesa repita o que Merkel fez, ignorando as regras europeias numa situação percebida como emergencial.

Mas o papa Francisco formulou expectativas – expectativas que valem para qualquer nação da Europa, diante do novo debate após os hediondos atentados. Extremamente significativo foi o Vaticano ter esclarecido previamente – numa iniciativa inusual, antes de uma viagem desse gênero – que o papa e os bispos da Polônia estavam de pleno acordo na questão dos refugiados. Só que os bispos seguramente ainda não estavam sabendo disso, poder-se-ia imaginar...
MARIUSZ BLASZCZAK
Ministro do Interior da Polônia, radicalmente contrário à acolhida
de refugiados por parte de seu país

Manipulação da notícia pelo governo polonês

Um detalhe demonstra quão necessárias as palavras do pontífice foram para esta Polônia de 2016. O novo governo do Partido da Lei e Justiça (PiS) forçou a emissora estatal à conformidade. O discurso do papa é o lead no site da televisão estatal na internet. E lá se dizia que Francisco teria frisado que a Polônia, esse país de emigrantes, deveria "facilitar o retorno" de seus próprios emigrados. Só mais tarde mudou-se a manchete para aquilo que jornalistas de todo o mundo noticiaram, quase literalmente: "Papa pede que Polônia acolha refugiados".

Dá para imaginar como foi acirrada a disputa na emissora, ainda antes do discurso papal. Pois também sobre outros detalhes do programa da visita o veículo espalhou boatos: consta que a liderança em Varsóvia teria desejado que Francisco visitasse o túmulo de Lech Kaczynski – cujo local de sepultamento, ao lado dos reis da Polônia, é antes inusitado. São apenas alguns degraus até as sepulturas de muitos grandes poloneses, ter-se-ia argumentado.

Não, respondeu Roma, aos degraus altos... é o que disseram os boatos. Vai-se construir então uma escada rolante para ele, teria reagido alguém no mais alto escalão do país. Não, continuou sendo a resposta, e o papa não foi até o túmulo de Kaczynski. Mas talvez alguém tenha reparado a disposição com que o religioso subiu os degraus da estreita escada no Wawel para se encontrar com o presidente Andrzej Duda.

Os próximos dias do papa Francisco na Polônia ainda podem trazer muitas surpresas.

A versão original, em alemão, deste artigo, é acessível aqui.

Fontes: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sábado, 30 de julho de 2016 – Internet: clique aqui; e aqui.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

“Queridos jovens, finalmente nos encontramos!” - Papa Francisco

Papa Francisco tem o seu primeiro grande encontro
com os jovens da Jornada Mundial

Redação
PAPA FRANCISCO
chegando em seu papamóvel ao Parque Blonia, em Cracóvia (Polônia) para o seu primeiro
encontro com os participantes da 31ª Jornada Mundial da Juventude.
Quinta-feira, 28 de julho de 2016

 O primeiro grande momento de encontro do Papa com os jovens em Cracóvia aconteceu durante a Festa de Acolhida, no Parque Blonia, no final da tarde da quinta-feira, (28/07).

A Rádio Vaticano acompanhou a reação dos jovens que presenciaram este momento histórico das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ’s).

"Bem emocionante, principalmente a apresentação dos continentes. Até agora foi o melhor momento", disse Jaqueline Gomes da Silva.

"Essa mensagem que a misericórdia tem um rosto jovem é muito bonita, que é a face de Deus", Eliseu da Conceição.

Osvaldo José Davide, de Maputo: "Esta oportunidade é ímpar, então procuramos participar espiritualmente".

Ana da Conceição Timóteo: "Pela primeira vez participo da JMJ. É uma emoção muito grande, sempre tivemos o sonho de ver o Papa e estar com os jovens do mundo inteiro".

Leia e reflita sobre as palavras que Papa Francisco dirigiu aos jovens nesse seu primeiro encontro com eles. Aquilo que está entre colchetes, no texto abaixo, são respostas dos jovens ao papa. Eis o texto integral de seu discurso:


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À POLÔNIA
POR OCASIÃO DA 31ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
(27-31 DE JULHO DE 2016)

ENCONTRO DE BOAS-VINDAS COM OS PARTICIPANTES NA JMJ
DISCURSO DO SANTO PADRE
Cracóvia, Esplanada de Błonia
Quinta-feira, 28 de julho de 2016

 Queridos jovens, boa tarde!

Finalmente encontramo-nos…! Obrigado por esta calorosa recepção! Agradeço ao Cardeal Dziwisz, aos bispos, aos sacerdotes, aos religiosos, aos seminaristas e leigos e a todos aqueles que vos acompanham. Obrigado a quantos tornaram possível a nossa presença aqui, hoje, que «desceram em campo» para que pudéssemos celebrar a fé. Hoje nós, todos juntos, estamos a celebrar a fé.

Nesta sua terra natal, quero agradecer especialmente a São João Paulo II [grande aplauso] – com força; com mais força – que sonhou e deu impulso a estes encontros. Do céu, ele nos acompanha vendo tantos jovens pertencentes a povos, culturas, línguas tão diferentes animados por um único motivo: celebrar Jesus que está vivo no meio de nós. Compreendestes? Celebrar Jesus que está vivo no meio de nós. E dizer que está vivo é querer renovar o nosso desejo de O seguir, o nosso desejo de viver com paixão o seguimento de Jesus. E qual ocasião melhor para renovar a amizade com Jesus do que ao reforçar a amizade entre vós? Qual modo melhor para reforçar a nossa amizade com Jesus do que partilhá-la com os outros? Qual maneira melhor para viver a alegria do Evangelho do que querer «contagiar», com a Boa Nova, a tantas situações dolorosas e difíceis?
PAPA FRANCISCO
durante seu encontro com os jovens, recebe a mochila com o kit da Jornada Mundial da Juventude

E Jesus é Aquele que nos convocou para esta trigésima primeira Jornada Mundial da Juventude; é Ele que nos diz: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5,7). Felizes são aqueles que sabem perdoar, que sabem ter um coração compassivo, que sabem dar o melhor aos outros; o melhor… Não o que sobra, mas o melhor.

Queridos jovens, nestes dias, a Polônia, esta nobre terra, veste-se de festa; nestes dias, a Polônia quer ser o rosto sempre jovem da Misericórdia. A partir desta terra, convosco e unidos também a muitos jovens que, vendo-se impossibilitados de estar aqui hoje, nos acompanham através dos vários meios de comunicação, todos juntos faremos desta Jornada uma verdadeira festa jubilar, neste Jubileu da Misericórdia.

Nos meus anos de bispo, aprendi uma coisa (aprendi muitas; mas uma quero dizer-vo-la agora): não há nada mais belo do que contemplar os anseios, o empenho, a paixão e a energia com que muitos jovens abraçam a vida. Como é belo isto! E donde vem esta beleza? Quando Jesus toca o coração dum jovem, duma jovem, estes são capazes de ações verdadeiramente grandiosas. É estimulante ouvi-los partilhar os seus sonhos, as suas questões e o seu desejo de opor-se a quantos dizem que as coisas não podem mudar. A estes, chamo-lhes «quietistas», imobilistas: «Nada pode mudar». Não é verdade; os jovens possuem a força de se lhes opor. Mas, talvez alguns não estejam muito seguros disto! Eu pergunto-vos; vós respondeis: As coisas podem mudar? [Sim!] Não se ouve… [Sim!] Agora, sim! É um dom do céu poder ver muitos de vós que, com as vossas questões, procurais fazer com que as coisas sejam diferentes. É bonito e conforta-me o coração ver-vos assim exuberantes. Hoje a Igreja olha-vos – diria mais: hoje o mundo olha-vos – e quer aprender de vós, para renovar a sua confiança na Misericórdia do Pai que tem o rosto sempre jovem e não cessa de nos convidar para fazer parte do seu Reino, que é um Reino de alegria, sempre é um Reino de felicidade, é um Reino que sempre nos faz progredir, é um Reino capaz de nos dar a força para mudar as coisas. Já me esqueci [da vossa reposta]; faço-vos a pergunta outra vez: As coisas podem mudar? [Sim!] Está bem.
PAPA FRANCISCO FAZ SEU DISCURSO AOS JOVENS
Parque Blonia - Cracóvia - Polônia

Conhecendo a paixão que pondes na missão, ouso repetir: a misericórdia tem sempre o rosto jovem. Porque um coração misericordioso tem a coragem de deixar a comodidade; um coração misericordioso sabe ir ao encontro dos outros, consegue abraçar a todos. Um coração misericordioso sabe ser um refúgio para quem nunca teve uma casa ou perdeu-a, sabe criar um ambiente de casa e de família para quem teve de emigrar, é capaz de ternura e compaixão. Um coração misericordioso sabe partilhar o pão com quem tem fome, um coração misericordioso abre-se para receber o refugiado e o migrante. Dizer misericórdia juntamente convosco é dizer oportunidade, é dizer amanhã, é dizer compromisso, é dizer confiança, é dizer abertura, hospitalidade, compaixão, é dizer sonhos. Mas vós… sois capazes de sonhar? [Sim!] Pois bem! Quando o coração está aberto e é capaz de sonhar, há lugar para a misericórdia, há lugar para acarinhar os que sofrem, há lugar para aproximar-se daqueles que não têm paz no coração, carecem do necessário para viver, ou falta-lhes a coisa mais bela: a fé. Misericórdia. Digamos, juntos, esta palavra: misericórdia. Todos! [misericórdia] Outra vez! [misericórdia] Outra vez, de modo que o mundo ouça [misericórdia].

Quero também confessar-vos outra coisa que aprendi nestes anos. Não quero ofender ninguém, mas entristece-me encontrar jovens que parecem «aposentados» antes do tempo. Isto deixa-me triste: jovens que parecem ter–se aposentado aos 23, 24, 25 anos... Isto entristece-me. Preocupa-me ver jovens que desistiram antes do jogo; que «se renderam» sem ter começado a jogar. Entristece-me ver jovens que caminham com a cara triste, como se a sua vida não tivesse valor. São jovens essencialmente chateados... e chatos, que chateiam os outros, e isto deixa-me triste. É duro, e ao mesmo tempo interpela-nos, ver jovens que deixam a vida à procura da «vertigem», ou daquela sensação de se sentir vivos por vias obscuras que depois acabam por «pagar»... e pagar caro. Pensai em tantos jovens que conheceis e que escolheram esta estrada. Dá que pensar quando vês jovens que perdem os anos belos da sua vida e as suas energias correndo atrás de vendedores de falsas ilusões – existem! – (na minha terra natal, diríamos «vendedores de fumaça»), que vos roubam o melhor de vós mesmos. E isto entristece-me. Tenho a certeza de que hoje, entre vós, não há nenhum desses, mas quero dizer-vos: há jovens aposentados, jovens que desistem antes do jogo, há jovens que se adentram na vertigem com as falsas ilusões e… acabam em nada.

Por isso, queridos amigos, estamos aqui reunidos para nos ajudarmos uns aos outros, porque não queremos deixar que nos roubem o melhor de nós mesmos, não queremos permitir que nos roubem as energias, que nos roubem a alegria, que nos roubem os sonhos com falsas ilusões.
MILHÕES DE JOVENS COMPARECERAM AO PARQUE BLONIA
para o primeiro encontro do Papa Francisco com eles nessa 31ª JMJ

Queridos amigos, pergunto-vos: Para a vossa vida quereis aquela «vertigem» alienante, ou quereis a força que vos faça sentir vivos e realizados? Vertigem alienante ou força da graça? Que quereis: vertigem alienante ou força que dá plenitude? Que quereis? [Força que dá plenitude] Não se ouve bem! [Força que dá plenitude] Para se sentir realizados, para ter uma vida renovada, há uma resposta, há uma reposta que não está à venda, há uma resposta que não se compra, uma resposta que não é uma coisa, que não é um objeto; é uma pessoa, chama-se Jesus Cristo. Pergunto-vos: Jesus Cristo, pode-se comprar? [Não!] Jesus Cristo está à venda nas lojas? [Não!] Jesus Cristo é uma dádiva, é uma prenda do Pai, a dádiva do nosso Pai. Quem é Jesus Cristo? Todos! Jesus Cristo é uma dádiva! Todos! [É uma dádiva!]. É a prenda do Pai.

Jesus Cristo é aquele que sabe dar verdadeira paixão à vida, Jesus Cristo é aquele que leva a não nos contentarmos com pouco e leva a dar o melhor de nós mesmos; é Jesus Cristo que nos interpela, convida e ajuda a erguer-nos sempre que nos damos por vencidos. É Jesus Cristo que nos impele a levantar o olhar e sonhar a altitude. Mas poderá alguém dizer-me: «Padre, é tão difícil sonhar a altitude, é tão difícil subir, subir sempre. Padre, eu sou fraco, caio; bem me esforço, mas muitas vezes escorrego». Os habitantes dos Alpes, quando sobem as montanhas, entoam uma canção muito linda que diz: «Na arte de subir, importante não é o não cair, mas não ficar caído». Se tu és fraco, se tu cais, ergue um pouco o olhar para o alto… há a mão estendida de Jesus, que te diz: «Levanta-te, vem comigo». «E se me acontece de novo?» Faz o mesmo. Uma vez Pedro perguntou ao Senhor: «Senhor, quantas vezes?» – «Setenta vezes sete». A mão de Jesus está sempre estendida para nos levantar, quando caímos. Compreendestes? [Sim!]
PAPA FRANCISCO
saúda os jovens presentes no Parque Blonia, em Cracóvia (Polônia)

No Evangelho, ouvimos narrar que Jesus, indo a caminho de Jerusalém, se deteve numa casa – a casa de Marta, Maria e Lázaro – que O acolhe. Passando por lá, entra em casa para estar com eles; as duas mulheres acolhem Aquele que sabem ser capaz de comover-Se. Por vezes as inúmeras ocupações fazem-nos ser como Marta: ativos, distraídos, sempre a correr daqui para ali... mas há vezes também que somos como Maria: à vista duma bela paisagem, ou dum vídeo que um amigo nos envia ao telemóvel, paramos a refletir, a escutar. Nestes dias da JMJ, Jesus quer entrar na nossa casa: na tua casa, na minha casa, no coração de cada um de nós; Jesus dar-Se-á conta das nossas preocupações, da nossa pressa, como fez com Marta... e esperará que O escutemos como Maria: que, no meio de todas as tarefas, tenhamos a coragem de nos confiarmos a Ele. Que sejam dias para Jesus, dedicados a ouvi-Lo, a recebê-Lo nas pessoas com quem partilho a casa, a rua, o grupo, a escola.

E quem acolhe Jesus, aprende a amar como Jesus. Então pergunta-nos se queremos uma vida plena. E, em nome d’Ele, pergunto-vos: Queres tu, quereis vós uma vida plena? Começa desde agora a deixar-te mover à compaixão! Porque a felicidade germina e desabrocha na misericórdia. Esta é a sua resposta, este é o seu convite, o seu desafio, a sua aventura: a misericórdia. A misericórdia tem sempre um rosto jovem; como o de Maria de Betânia, sentada aos pés de Jesus como discípula, que gosta de escutar, porque sabe que ali está a paz. Como o rosto de Maria de Nazaré, de tal modo lançada com o seu «sim» na aventura da misericórdia, que será chamada bem-aventurada por todas as gerações, chamada por todos nós «a Mãe da Misericórdia». Invoquemo-La, todos juntos: Maria, Mãe da Misericórdia. Todos: Maria, Mãe da Misericórdia.

Agora, todos juntos, peçamos ao Senhor – cada um, em silêncio, repita no seu coração –: Senhor, lançai-nos na aventura da misericórdia! Lançai-nos na aventura de construir pontes e derrubar muros (sejam cercas ou arame farpado); lançai-nos na aventura de socorrer o pobre, quem se sente sozinho e abandonado, quem já não encontra sentido para a sua vida. Lançai-nos no acompanhamento daqueles que não Vos conhecem, dizendo-lhes com calma e tanto respeito o vosso Nome, o porquê da minha fé. Impele-nos, como a Maria de Betânia, para a escuta daqueles que não compreendemos, daqueles que vêm de outras culturas, outros povos, mesmo daqueles que tememos porque julgamos que nos podem fazer mal. Fazei que voltemos o nosso olhar, como Maria de Nazaré para Isabel, que voltemos os olhos para os nossos idosos, os nossos avós, a fim de aprender com a sua sabedoria. Pergunto-vos: Falais com os vossos avós? [Sim!] Continuai a fazê-lo! Procurai os vossos avós; eles possuem a sabedoria da vida e dir-vos-ão coisas que enternecerão o vosso coração.

Eis-nos aqui, Senhor! Enviai-nos a partilhar o vosso Amor Misericordioso. Queremos acolher-Vos nesta Jornada Mundial da Juventude, queremos afirmar que a vida é plena quando é vivida a partir da misericórdia; e que esta é a parte melhor, é a parte mais ditosa, é a parte que nunca nos será tirada.

Amém.

Fontes: Rádio Vaticano – Papa Francisco / Viagens – Quinta-feira, 28 de julho de 2016 – 21h04 – Internet: clique aqui; A Santa Sé – Francisco – Discursos – 2016 – Quinta-feira, 28 de julho de 2016 – Internet: clique aqui.

Que vergonha: quem deve, teme!

Lula apela à ONU para fugir de Moro

Jamil Chade
Correspondente em Genebra (Suíça)
Carla Araújo

O ex-presidente espera criar um constrangimento internacional
para evitar uma eventual prisão 
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Quer constranger a Justiça brasileira, especialmente, o juiz Sérgio Moro, a não prendê-lo
e tratá-lo de modo privilegiado!

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encaminhou, nesta quinta-feira, 28 de julho, ao Comitê de Direitos Humanos da ONU uma denúncia contra o Estado brasileiro para tentar barrar ações que considera como “abuso de poder” do juiz Sérgio Moro e dos procuradores da Operação Lava Jato. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do ex-presidente.

Ao acionar o órgão internacional, o ex-presidente espera criar um constrangimento internacional para evitar uma eventual prisão. Nesta quinta-feira, um processo detalhado do seu caso foi entregue à entidade por advogados.

Quem avaliará o caso é o Comitê de Direitos Humanos, com base na Convenção Internacional de Direitos Políticos. A Convenção não tem como punir o Brasil e nem impedir uma prisão. Ela pode apenas fazer recomendações e eventualmente indicar se um juiz é parcial, sem qualquer implicação legal imediata. Mas uma avaliação da entidade poderia pesar e criar pressão a favor ou contra o ex-presidente. [Por isso, o que Lula deseja é politizar o seu processo na Justiça! Como se ele não estivesse sendo investigado por crimes, mas por posições políticas! É de doer, hein?!]

Até o final da tarde desta quinta-feira, a secretaria do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU informou ao jornal O Estado de S. Paulo que não havia recebido o processo. Mas isso significaria somente que os documentos não tinham sido ainda registrados oficialmente e que estariam tramitando pela burocracia. Fontes que trabalham no escritório indicaram que, de fato, um processo havia sido enviado e estava sendo tratado, mas não poderiam revelar detalhes.

Nas últimas semanas, advogados tiveram reuniões com diferentes departamentos dentro da ONU para explicar o caso e desenhar a petição. Porém, para que seja considerado, o caso terá de provar que Lula esgotou todos os recursos domesticamente para evitar uma eventual prisão. Os advogados também terão de provar que o Judiciário brasileiro não tem a imparcialidade necessária. [Isso é uma vergonha para o nosso país! Ou seja, um ex-presidente afirmando que a Justiça do Brasil não funciona! Mas, justo agora, que “peixes graúdos” têm ido para a cadeia e estão descontando penas e pagando pesadas multas por aquilo que roubaram dos cofres públicos???]
GEOFFREY ROBERTSON
Advogado famoso (e caro!) contratado por Lula para representá-lo no Comitê de Direitos Humanos da ONU
Quem está pagando tudo isso? - Como é bom não ter problemas com a falta de dinheiro!

PRAZOS

Uma vez aceito, ele será levado aos membros do Comitê de Direitos Humanos da ONU que então decidirão se aceitam o caso ou não. Segundo a assessoria de imprensa da ONU, para que tomem uma posição, porém, o processo pode levar meses ou até dois anos. O Itamaraty tem três meses para responder.

Aos membros da ONU, os advogados indicaram que vão pedir pressa e que o caso seja avaliado em quatro meses. Mesmo se forem atendidos, o poder do Comitê se limitará a fazer sugestões.

Para levar o trabalho adiante, Lula contratou um dos advogados mais populares hoje na Europa: Geoffrey Robertson. Entre seus clientes estavam Salman Rushdie e Julian Assange. O foco da acusação é o juiz Sérgio Moro e o processo tenta mostrar como o ex-presidente estaria sendo alvo de um caso político e “arbitrário”.
[ . . . ]

Juízes repudiam denuncia de Lula
contra Moro na ONU

Mateus Coutinho, Julia Affonso e Fausto Macedo

Para a entidade, a Corte Internacional não deve ser utilizada para constranger o andamento de quaisquer investigações em curso no País e, principalmente, aquelas que têm como prioridade o combate à corrupção 
SÉRGIO MORO
Jamais um juiz federal foi tão temido e, ao mesmo tempo, atacado e caluniado como ele!
Afinal de contas, caçar e prender criminosos ricos e poderosos dá nisso!

A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) manifestou nesta quinta-feira, 28 de julho, seu repúdio à petição encaminhada pelo ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) na qual denuncia o juiz Sérgio Moro e os procuradores da República que atuam na Operação Lava Jato por “falta de imparcialidade” e “abuso de poder.”

Para a entidade, a Corte Internacional não deve ser utilizada para constranger o andamento de quaisquer investigações em curso no País e, principalmente, aquelas que têm como prioridade o combate à corrupção. A AMB diz ver com “perplexidade” as “tentativas de paralisar o trabalho da Justiça brasileira”.

O Brasil possui órgãos constituídos de controle interno e externo para acompanhar o trabalho desempenhado pela magistratura. É inadmissível a utilização de quaisquer outros meios, que não os legais e constitucionalmente estabelecidos, para tentar inibir o trabalho de  agentes públicos no desempenho de suas funções”, diz a nota.

Para a entidade, o juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato é exemplo da intimidação aos magistrados de todo o País e “tem sido alvo recorrente de grande pressão” por sua atuação na operação.

No texto, a associação ainda reitera as críticas ao Projeto de Lei do Senado (PLS) que altera os crimes de abuso de autoridade. “Nas entrelinhas, o projeto prevê uma série de penalidades para tentar paralisar juízes e juízas, além de procuradores e policias, por desempenharem o seu ofício como determina a legislação”, diz a entidade lembrando que, caso estivesse em vigor, a lei inviabilizaria uma operação como a Lava Jato.

“O País e toda a sociedade precisam estar atentos aos ataques contra o Poder Judiciário, para que tal absurdo não avance no Congresso Nacional, com o único objetivo de favorecer investigados e envolvidos em grandes casos de corrupção”, segue a nota da AMB.

Por fim, a entidade aponta a importância de um “Judiciário forte e independente” e diz que qualquer movimento contrário “será um retrocesso contra a transparência e a resposta que o povo brasileiro espera no combate à corrupção”.

Fontes: ESTADÃO.COM.BR – Política – Quinta-feira, 28 de julho de 2016 – 15h44 – Internet: clique aqui; ESTADÃO.COM.BR – Blog do Fausto Macedo – Política – Sexta-feira, 29 de julho de 2016 – 08h26 – Internet: clique aqui.