«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 27 de agosto de 2017

População rejeita e desaprova autoridades

Onda de rejeição alcança até ministros do Supremo

Daniel Bramatti e Gilberto Amendola

Repúdio ao Executivo e Legislativo chega ao Judiciário,
revela pesquisa Ipsos; apenas Moro e Joaquim Barbosa
mantêm índice elevado, apesar de queda de aprovação
GILMAR MENDES - Ministro do Supremo Tribunal Federal e Presidente do Supremo Tribunal Eleitoral

A onda de rejeição a políticos e autoridades públicas já não se limita ao governo e ao Congresso e chegou com força ao Poder Judiciário e ao Ministério Público. Pesquisa Ipsos mostra que, entre julho e agosto, houve aumento significativo da desaprovação a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Até o juiz Sérgio Moro enfrenta desgaste: apesar de seu desempenho ainda ser majoritariamente aprovado pela população, sua taxa de rejeição está no nível mais alto em dois anos.

A pesquisa avaliou a opinião dos brasileiros sobre 26 autoridades de distintas esferas de poder, além de uma celebridade televisiva, o apresentador de TV Luciano Huck. Quase todos estão no vermelho, ou seja, são mais desaprovados do que aprovados. As exceções são Huck, Moro e o ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa. Os dois últimos são responsáveis pelos julgamentos dos dois maiores escândalos de corrupção do País: mensalão e Operação Lava Jato.

Para Danilo Cersosimo, um dos responsáveis pela pesquisa, o aumento do descontentamento com o Judiciário pode estar relacionado “à percepção de que a Lava Jato não trará os resultados esperados pelos brasileiros”. Outros levantamentos do Ipsos mostram que o apoio à operação continua alto, mas vem caindo a expectativa de que a força-tarefa responsável por apurar desvios e corrupção na Petrobrás provoque efeitos concretos e mude o País. “Há uma percepção de que a sangria foi estancada, de que a Lava Jato foi enfraquecida”, disse Cersosimo.

Na lista de avaliados pelo Ipsos estão três dos 11 atuais integrantes do Supremo: Cármen Lúcia, a presidente; Edson Fachin, relator dos casos relacionados à Lava Jato; e Gilmar Mendes, principal interlocutor do presidente Michel Temer no Tribunal. Os três enfrentam deterioração da imagem.

Além de Moro e Fachin, há na lista outros dois nomes relacionados à Lava Jato: o do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da operação em Curitiba. Eles também sofrem desgastes.
EDSON FACHIN - Ministro do Supremo Tribunal Federal e Relator da Lava Jato

Líder

No STF, a pior situação é a de Gilmar: no último mês, sua taxa de desaprovação subiu de 58% para 67%. Desde abril, o aumento foi ainda maior: 24 pontos porcentuais.

O descontentamento com Gilmar cresceu ao mesmo tempo em que ele ficou mais conhecido: até maio, mais da metade da população (53%) não sabia dele o suficiente para opinar. Agora, esse índice caiu para 30%. Já a taxa de aprovação se manteve praticamente estável, oscilando em torno de 3%. A avaliação crítica é maior nas faixas mais escolarizadas: chega a 80% entre os brasileiros com curso superior, e é de 50% entre os sem instrução.

Nos últimos meses, Gilmar, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se notabilizou por constantes e duras críticas ao que classifica como abusos na atuação do Ministério Público Federal em grandes investigações no País, incluindo a Lava Jato. O ministro protagonizou embates com o procurador-geral da República e chegou a chamar Janot de “desqualificado”.

Na pesquisa Ipsos, o chefe do Ministério Público Federal – que vai deixar o cargo em breve – teve seu desempenho reprovado por 52% dos entrevistados. A avaliação favorável ficou em 22%.
CÁRMEN LÚCIA - Presidente do Supremo Tribunal Federal

Evolução

Cármen Lúcia teve aumento de 11 pontos porcentuais em sua taxa de desaprovação entre julho e agosto, de 36% para 47%. Já sua aprovação está em 31% – queda de cinco pontos porcentuais em um mês e de 20 pontos desde janeiro. A avaliação favorável de Fachin caiu, em um mês, de 45% para 38%, enquanto a desfavorável subiu de 41% para 51%.

Conhecido por sua atuação no julgamento de acusados no escândalo da Lava Jato, Moro, titular da 13.ª Vara Federal de Curitiba, tem seu desempenho aprovado por mais da metade da população (55%). Sua taxa de desaprovação, porém, subiu nove pontos porcentuais no último mês, de 28% para 37% – o ponto mais alto na série histórica do Ipsos, que teve início em agosto de 2015.
Clique sobre a imagem para ampliá-la e ler melhor

Lava Jato afeta avaliação, afirmam especialistas

Gilberto Amendola

Julgamento de políticos, defesa de interesses próprios e relação
com opinião pública influem em resultado de pesquisa
MARIA DO SOCORRO BRAGA - Cientista Política da UFSCAR

A pesquisa Ipsos mostrou que o desgaste não é mais exclusividade dos Poderes Executivo e Legislativo. Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) também já são vistos com desconfiança por parte da população. Para a cientista política Maria do Socorro Braga, a avaliação negativa de nomes como Gilmar Mendes, Cármen Lúcia e Edson Fachin é resultado da Operação Lava Jato.

“Eles são avaliados por atitudes e decisões tomadas nesse âmbito ou envolvendo personagens que estão sendo julgados pela operação. A opinião pública está muito sensível a esses desdobramentos”, disse. “Toda e qualquer impressão de impunidade recai sobre os ministros”, afirmou a cientista política e professora da Universidade Federal de São Paulo - Campus de São Carlos (UFSCAR).

A sensação da opinião pública, segundo a pesquisadora, é de que os ministros do Supremo atuariam de forma corporativista, decidindo questões do próprio interesse, como o aumento de vencimentos do Judiciário.
MARCO ANTÔNIO TEIXEIRA - Cientista Político da PUC-SP

Comparação

O também cientista político Marco Antônio Teixeira, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), disse que os ministros mal avaliados também sofrem com uma possível comparação com o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, juiz de primeira instância.

“Joaquim Barbosa e Sérgio Moro encarnaram de alguma forma um certo ativismo político que agradou à opinião pública”, afirmou. “A sociedade deseja um Supremo que se oponha à classe política, mas Cármen Lúcia e Fachin têm posicionamentos mais moderados. Já Gilmar Mendes demonstra outro lado, aquele em que o Supremo está muito próximo de alguns grupos políticos”, disse Teixeira.
CLÁUDIO COUTO - Cientista Político da FGV

Cláudio Couto, da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirmou que a “boa avaliação alcançada pelo STF no passado estava mais relacionada à espetacularização dos julgamentos transmitidos pela televisão do que por qualquer atração autêntica pelas figuras”. “Nesse ambiente do espetáculo, é natural que juízes como Joaquim Barbosa e Sérgio Moro apareçam travestidos de ‘juízes justiceiros’.”

Já para o professor de Direito Constitucional Oscar Vilhena, também da FGV, é preciso cautela ao avaliar a performance de ministros e juízes na pesquisa. “A qualidade de um juiz não pode ser mensurada pela popularidade nem pela impopularidade. Às vezes, aplicar a lei é impopular. Não se pode avaliá-los pela mesma régua da política.”

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – domingo, 27 de agosto de 2017 – Pág. A4 – Internet: clique aqui e aqui.

sábado, 26 de agosto de 2017

21º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Homilia

Evangelho: Mateus 16,13-20

Naquele tempo:
13 Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou a seus discípulos: «Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?».
14 Eles responderam: «Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas.»
15 Então Jesus lhes perguntou: ,E vós, quem dizeis que eu sou?».
16 Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo.»
17 Respondendo, Jesus lhe disse: «Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu.
18 Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la.
19 Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus;
tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus.»
20 Jesus, então, ordenou aos discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Messias.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

QUE MISTÉRIO CRISTO TRAZ CONSIGO?

«E vós, quem dizeis que eu sou. Cada um deve responder a essa pergunta. Não basta continuar repetindo fórmulas e tópicos sobre Jesus. É necessário um esforço para intuir, cada vez melhor, que mistério se encerra neste homem no qual, nós que acreditamos, descobrimos como em nenhum outro lugar, o rosto vivo de Deus.

Assinalarei alguns aspectos que destacam hoje os pesquisadores e especialistas sobre Jesus.

Jesus foi um profeta que comunicou às pessoas uma experiência única e original de Deus, sem desfigurá-la com os medos, ambições e fantasmas que as religiões costumam projetar sobre a divindade.

Para Jesus, Deus é amor compassivo. A compaixão é a maneira de ser de Deus, sua primeira reação diante do ser humano e diante da criação inteira. Por isso, Jesus fala, atua, vive e morre movido pela compaixão.

Jesus somente viveu para implantar no mundo aquilo que ele chamava de «o Reino de Deus». Foi seu grande sonho. A paixão que animou sua vida inteira. Queria ver realizado entre os homens o projeto de Deus: uma vida mais digna e feliz para todos, agora e para sempre.

Jesus não se dedicou a organizar uma religião mais perfeita, desenvolvendo uma teologia mais precisa sobre Deus ou uma liturgia mais digna. O que lhe preocupou de verdade, foi a felicidade das pessoas. Por isso, entregou-se a eliminar o sofrimento e a lutar contra tudo o que prejudica ou permite a humilhação das pessoas.

Jesus amou os mais pobres e indefesos da sociedade. Muitos outros fizeram isso também antes e depois dele. O mais surpreendente é que, acima dos pobres, Jesus não amou nada mais que a eles, nem sequer a religião, a lei ou as tradições mais veneráveis.

Quem é este homem que, além de viver somente para a felicidade dos outros, atreveu-se a sugerir que Deus se parece com ele, pois somente quer e busca uma vida mais digna e feliz para todos?
Que mistério se encerra nele?

Para intuir algo sobre isso, nada melhor que seguir seus passos.

Quem segue a Jesus, aproxima-se sempre mais de seu mistério. Encontra-se com um homem movido somente pelo AMOR, sintoniza-se com ele, começa a entender a vida a partir de outra perspectiva e pergunta-se que mistério há neste ser humano que não vive para si mesmo, mas para os outros. Surpreende-se perante sua LIBERDADE inaudita, busca segui-lo em seu «caminho de VERDADE» e se pergunta onde está a origem última dessa segurança misteriosa que o leva a colocar a lei, o culto e a religião a serviço do ser humano.

O que mais nos aproxima do mistério de Cristo não é confessar rotineiramente as grandes fórmulas cristológicas, mas buscar segui-lo dia a dia, abrindo-nos ao seu Espírito e sintonizando-nos com seu estilo de viver.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – J. A. Pagola – Ciclo A (Homilías) – Internet: clique aqui.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

PALAVRAS NECESSÁRIAS PARA OS TEMPOS DE HOJE

«Os cristãos são pessoas de primavera e não de outono,
de esperança e não de tristeza»

Iacopo Scaramuzzi
Vatican Insider
23-08-2017

“A esperança cristã baseia-se na fé em Deus que sempre cria novidades
na vida dos seres humanos, na história e no cosmos.
Nosso Deus é o Deus das novidades, porque é o Deus das surpresas.”
PAPA FRANCISCO

“Eu cumprimentei alguém de Barcelona: quantas notícias tristes vêm dali... Eu cumprimentei uma pessoa do Congo: quantas notícias tristes vêm de lá, para citar apenas dois de vocês que estão aqui. Procurem pensar nos rostos das crianças atemorizadas pela guerra, no choro das mães, nos sonhos estraçalhados de muitos jovens, nos refugiados que enfrentam viagens terríveis e são explorados tantas vezes...”.

Durante a Audiência Geral desta quarta-feira, 23 de agosto, o Papa, que depois da catequese rezou também pelos mortos, feridos, familiares e pelos que perderam as casas no terremoto que sacudiu a ilha de Isquia, na Itália, convidou os fiéis para lerem, “não de maneira abstrata, mas após terem lido uma notícia de nossos dias”, a passagem da Bíblia em que Deus afirma: “Eu faço novas todas as coisas” (Ap 21,5). Porque “a grande visão da esperança cristã” baseia-se em que “nós temos um Pai que sabe chorar, que chora conosco”, “um Pai que nos espera para nos consolar, porque conhece os nossos sofrimentos e preparou para nós um futuro diferente”, um “Deus das novidades e das surpresas”. E o cristão, disse Francisco, “é uma pessoa mais de primavera, que espera o fruto, que espera a flor, que espera o sol”, do que uma pessoa “de outono”, que olha para baixo, “como os porcos”, sempre “amargurado, com a cara de pimenta em vinagre”.

“A esperança cristã baseia-se na fé em Deus que sempre cria novidades na vida dos seres humanos, na história e no cosmos. Nosso Deus é o Deus das novidades, porque é o Deus das surpresas”, explicou o Papa na continuação de seu ciclo de catequese dedicado à esperança cristã. “Não é cristão caminhar cabisbaixo, como fazem os porcos, sem levantar os olhos para o horizonte”.
Audiência Papal na Sala Paulo VI - Vaticano

“Eu faço novas todas as coisas”

“Procurem meditar – propôs o Papa aos fiéis que se encontravam na Aula Paulo VI – esta passagem da Sagrada Escritura não de uma maneira abstrata, mas após terem lido uma notícia de nossos dias, após terem visto o telejornal ou a primeira página dos jornais onde há tantas tragédias, onde aparecem notícias tristes com as quais todos corremos o risco de nos acostumar. Eu cumprimentei alguém de Barcelona: quantas notícias tristes vêm dali... Eu cumprimentei uma pessoa do Congo: quantas notícias tristes vêm de lá, para citar apenas dois de vocês que estão aqui”.

“Procurem pensar – prosseguiu o Papa – nos rostos das crianças atemorizadas pela guerra, no choro das mães, nos sonhos estraçalhados de muitos jovens, nos refugiados que enfrentam viagens terríveis e são explorados tantas vezes... A vida, infelizmente, também é isso. Às vezes, se poderia dizer que é sobretudo isso. Pode ser. Mas – prosseguiu – há um Pai que chora lágrimas de infinita piedade por seus filhos. Nós temos um Pai que sabe chorar, que chora conosco. Um Pai que nos espera para nos consolar, porque conhece os nossos sofrimentos e preparou para nós um futuro diferente. Esta é a grande visão da esperança cristã, que se dilata sobre todos os dias da nossa existência, e que quer nos erguer”.

“Deus não quis nossas vidas equivocadas, obrigando-se a si mesmo e a nós a duras noites de angústia”, continuou Francisco. “Ele nos criou porque nos quer ver felizes” e “nós acreditamos e sabemos que a morte e o ódio não são as últimas palavras pronunciadas sobre a parábola da existência humana”.

Ser cristãos, disse Francisco, “implica numa nova perspectiva: um olhar cheio de esperança. Alguns acreditam que a vida resume todas as suas felicidades à juventude e ao passado, e que viver é um lento decair. Outros mais consideram que nossas alegrias são apenas esporádicas e passageiras, e que na vida humana está inscrita o sem sentido. Esses que, diante de tantas calamidades, dizem que a vida não tem sentido”.

“Mas nós cristãos – continuou Francisco – não acreditamos nisso. Acreditamos, ao contrário, que no horizonte do homem há um sol que ilumina eternamente. Acreditamos que os nossos dias mais belos ainda estão por vir. Somos mais pessoas de primavera do que de outono. Eu gostaria de perguntar, e cada um responde em seu coração: sou um homem, uma mulher, uma criança de primavera ou de outono? A minha alma está na primavera ou no outono? Não nos meçamos em nostalgias, arrependimentos e queixas: sabemos que Deus nos quer herdeiros de uma promessa e incansáveis cultivadores de sonhos. Sou uma pessoa de primavera, que espera o fruto, a flor, o sol, ou uma pessoa de outono, que está sempre cabisbaixa, amargurada, como já disse outras vezes: com cara de pimenta em vinagre”. O cristão sabe que o Reino de Deus “está crescendo como um grande campo de trigo, embora haja no seu meio a cizânia, problemas, fofocas, guerras, doenças... mas o trigo cresce. E, no final, o mal será eliminado”.

O futuro, concluiu o Papa, “não nos pertence” e na hora da morte, em que após a morte estaremos com o Senhor, “será bonito descobrir nesse instante que não perdemos nada, nenhum sorriso e nenhuma lágrima. Por mais longa que tenha sido a nossa vida, nos parecerá ter vivido em um sopro. E que a Criação não parou no sexto dia do Gênesis, mas que continuou, incansável, porque Deus sempre se preocupou conosco. Até o dia em que tudo se cumprir, na manhã em que se extinguirem as lágrimas, no mesmo instante em que Deus pronunciar sua última palavra de bênção: “Eu faço  novas todas as coisas”. Sim, nosso Pai é o Deus das novidades e das surpresas. E nesse dia nós estaremos verdadeiramente felizes, e choraremos? Sim, mas de alegria”.

Depois da catequese, o Papa recordou e externou sua proximidade a “todos os que sofrem por causa do terremoto que, na segunda-feira à noite, sacudiu a ilha de Isquia. Rezemos pelos mortos, pelos feridos, pelos respectivos familiares e pelas pessoas que perderam suas casas”. Entre os fiéis presentes, Francisco deu a bênção à Polônia, recordando que no sábado e no domingo, no santuário nacional em Jasna Gora, celebra-se a solenidade de Nossa Senhora de Czestochowa e o terceiro centenário da coroação de sua milagrosa estátua. Também saudou um grupo de estudantes universitários espanhóis que cantaram um canto coral: “Eu pensava que na Universidade de Salamanca só ensinavam a estudar nos livros, mas cantam bem, parabéns!”

Traduzido do italiano por André Langer. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 24 de agosto de 2017 – Internet: clique aqui.

domingo, 20 de agosto de 2017

Solenidade da Assunção de Nossa Senhora – Ano A – Homilia

Evangelho: Lucas 1,39-56

39 Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia.
40 Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel.
41 Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
42 Com um grande grito, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!.
43 Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?
44 Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre.
45 Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu».
46 Maria disse: «A minha alma engrandece o Senhor,
47 e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador,
48 pois, ele viu a pequenez de sua serva, eis que agora as gerações hão de chamar-me de bendita.
49 O Poderoso fez por mim maravilhas e Santo é o seu nome!
50 Seu amor, de geração em geração, chega a todos que o respeitam.
51 Demonstrou o poder de seu braço, dispersou os orgulhosos.
52 Derrubou os poderosos de seus tronos e os humildes exaltou.
53 De bens saciou os famintos despediu, sem nada, os ricos.
54 Acolheu Israel, seu servidor, fiel ao seu amor,
55 como havia prometido aos nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre».
56 Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.

MARIA É SINAL DE UMA NOVA HUMANIDADE

O Evangelho nos apresenta o cântico de Maria (Magnificat), o qual descreve o programa que Deus tinha começado a realizar desde o começo, que ele prosseguiu em Maria e que cumpre agora na Igreja, para todos os tempos. Pela Visitação que teve lugar na Judeia, Maria levava Jesus pelos caminhos da terra. Pela Assunção, é Jesus que leva a sua mãe pelos caminhos celestes, para o templo eterno, para uma Visitação definitiva. Nesta festa, com Maria, proclamamos a obra grandiosa de Deus, que chama a humanidade a se juntar a ele pelo caminho da ressurreição.

Maria, assunta aos céus, glorificada por Deus, é o sinal que nos é dado, assim como outrora João, na ilha de Patmos, viu uma mulher vestida de sol. Ela é o sinal da humanidade transformada em Cristo, sem violência e sem ódio, garantia de que a energia da ressurreição de Cristo se espalha e se derrama sobre toda a humanidade, mostrando que aquilo que o apóstolo Paulo nos disse na segunda leitura está em pleno andamento: todos em Cristo ressuscitarão.

Assim, a festa da Assunção de Maria, mais do que um acontecimento especial em uma pessoa, diz respeito à vocação de toda a humanidade.

O diálogo das duas mulheres no Evangelho, Isabel e Maria, é o reconhecimento desta mesma humanidade – pobre e frágil humanidade – a este mistério. É a humanidade se engajando nesta energia de salvação e transformação que atinge a todos, desde os nossos ouvidos às nossas entranhas, e nos faz cantar as maravilhas e ações de Deus. No seu cântico, continuando os cantares de outras mulheres, como Miriam, Judite e Ana... Maria exulta de alegria porque a salvação tornou-se mais próxima do que nunca e porque essa salvação se manifestou por meio dela, mulher pobre, humilde serva do Senhor.

Portanto, celebrar a festa da Assunção é reassumir o compromisso com a causa da vida no mundo, cultivando sempre a afeição e a ternura, de modo que cresçam com a luta o homem novo e a nova mulher. Maria é sinal da nova humanidade que começa nas relações, no cotidiano de nossas convivências.

Desse modo, a celebração deste domingo, torna-se a maneira de nos inserirmos no plano da salvação, proclamarmos a fé e cantarmos a alegre ação de graças ao Deus que olhou para a humildade de seus servos e servas.

Fonte: GUIMARÃES, Marcelo; CARPANEDO, Penha. Dia do Senhor:  guia para as celebrações das comunidades. Volume 3: Tempo Comum – Ano A. São Paulo: Paulinas, Apostolado Litúrgico, 2001, páginas 322-323.

sábado, 12 de agosto de 2017

19º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Homilia

Evangelho: Mateus 14,22-33


Depois da multiplicação dos pães,
22 Jesus mandou que os discípulos entrassem na barca e seguissem, à sua frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despediria as multidões.
23 Depois de despedi-las, Jesus subiu ao monte, para orar a sós. A noite chegou, e Jesus continuava ali, sozinho.
24 A barca, porém, já longe da terra, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário.
25 Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar.
26 Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram apavorados, e disseram: «É um fantasma». E gritaram de medo.
27 Jesus, porém, logo lhes disse: «Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!».
28 Então Pedro lhe disse: «Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.»
29 E Jesus respondeu: «Vem!». Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus.
30 Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e começando a afundar, gritou: «Senhor, salva-me!».
31 Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: «Homem fraco na fé, por que duvidaste?».
32 Assim que subiram no barco, o vento se acalmou.
33 Os que estavam no barco, prostraram-se diante dele, dizendo: «Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!».

ADROALDO PALAORO
Jesuíta

ASSUMIR NOSSAS TORMENTAS

Poderíamos começar nossa reflexão sobre o Evangelho, indicado para a liturgia deste domingo, com estas inquietantes perguntas:
* “Que farias tu se não tivesses medo?
* Que faríamos nós, seguidores e seguidoras de Jesus, se não fôssemos afetados pelo medo?”

Chegamos à pós-modernidade com uma enorme carga de medo; somos atormentados o tempo todo pelo medo; um medo sem nome, um fantasma sem rosto, escuro como uma sombra e rápido como uma tempestade; medo cruel que afeta os corajosos e agride os ousados. Não existe depósito de munição mais potencialmente explosivo do que os estoques de medo guardados nas escuras profundezas do ser humano. Há um verdadeiro pânico permanente envolvendo grupos, pessoas e instituições.

Podemos afirmar que o centro dos evangelhos de Marcos e Mateus é uma espécie de relato de navegações e tormentas. Essa recordação de Jesus que acompanha seus amigos no barco e que “acalma” sua vida tormentosa (tormenta de dentro ou de fora?) está no fundo da tradição cristã.

O medo, a angústia, a insegurança, o espanto dos apóstolos, o não saber quê fazer na tormenta, é parte de nossa condição humana. Isso não nos faz menos pessoas, mas nos faz mais próximos, se somos simples e humildes.

Quando lemos com um pouco mais de atenção os capítulos centrais do Evangelho de Mateus passamos a ter convicção de que Jesus está continuamente “passando para outra margem” e convidando seus discípulos a fazerem o mesmo. Poderíamos dizer que o seguimento implica permanente travessia de uma margem à outra. Isto nos move a pensar que esta passagem não é geográfica; nesse deslocamento há algo mais profundo, ao menos um convite à não instalação. Nenhuma margem pode se converter em lugar de “parada”, todas são lugares de passagem.

Mateus realça que Jesus “forçou” os seus discípulos a entrarem na barca. Isto indica que não queriam ir embora e foi necessário obrigá-los a se retirarem dali. Por quê? Sem dúvida, porque ao verem a oportunidade de que o Mestre se convertesse em rei, não queriam perder a ocasião de ter algo de poder, de vaidade, de prestígio. Compreende-se, assim, o mandato de Jesus a passar para a “outra margem”, a deixar de lado as solicitações do ter, do poder... para buscar o caminho do despojamento e da partilha.

A atualidade do relato é patente: quando os discípulos de Jesus não se contentam em ser o que são, mas buscam poder e prestígio, “faz-se noite”, não avançam, a tormenta se amplia, veem em Jesus um fantasma que lhes dá medo, Pedro se afunda...

Seguir Jesus implica estar continuamente passando para a outra margem; passar para o outro diferente, não permanecer fechado em si mesmo. “Passar para o outro” como condição necessária para “passar para Deus”. Aquele que se instala, se perde, envolve-se na tormenta. É preciso buscar sempre novos espaços e novos horizontes. E toda travessia implica “correr riscos”.

Há momentos em que daríamos tudo por uma chance de pedir a Deus para não corrermos riscos. Mas o risco é necessário. É importante poder enfrentar as dificuldades, o desconhecido e o incerto.

As experiências obscuras, as tribulações, as tempestades... são inerentes à fé cristã; estão presentes em todas as pessoas. Mas isso deve nos permitir renovar constantemente uma confiança e uma união com o Senhor na realidade mais cotidiana.

Percebemos que algumas pessoas fazem opção pelo porto seguro das falsas certezas e seguranças, mas outros preferem correr o risco do “mar agitado” e são capazes de construir o novo. As tempestades, o vento contrário, a escuridão da noite... “agitam a alma dentro de nós”.

Mas como enfrentar as turbulências que são frequentes no nosso processo de amadurecimento?

A sensibilidade, a criatividade, o espírito de iniciativa são nossos maiores aliados.
Para desenvolver ao máximo nossas potencialidades, temos de enfrentar dilemas, encruzilhadas, perplexidades e responsabilidades. Isto nos faz mergulhar na vida, desenvolver nossas forças, ativar e despertar outras possibilidades escondidas no chão de nossa vida.

Na tradição inaciana “formar-se é provar-se”. Só aquele que é posto à prova em sua fé e em suas convicções, se forma, cresce e amadurece.

Com certeza, muitos de nós já tivemos a experiência de que, quando fomos capazes de superar nossos medos e tomar decisões audazes diante de um futuro incerto, então se despertaram, no nosso eu mais profundo, outros recursos e capacidades que ignorávamos ter; no final, nossa vida se viu enriquecida de uma maneira tal que jamais poderíamos imaginar.

Do meio dos ventos contrários e do mar agitado brota um forte apelo: “Não tenhais medo”. Um apelo com força libertadora; é a força da voz de Alguém cuja presença alavanca o PASSO PARA A TRAVESSIA: o passo da mudança, o passo da audácia de sonhar de novo, o passo para vislumbrar a outra margem...

Com o Senhor Jesus no barco de nossa vida, vamos além, fazemos a travessia... Ele é ao mesmo tempo: mestre, timoneiro, mastro, vela, horizonte, esperança, ar, mar, adorável presença... Salvador...

Os conflitos mais profundos do nosso coração são pacificados com o atrevimento da coragem, com a força da fé, com a imaginação solta, com a criatividade livre e desimpedida...

Por isso, é preciso rastrear, identificar, compreender e desterrar os medos de nossos corações.

É urgente substituir a cultura do medo pela cultura da coragem. A coragem desbloqueia energias, impulsiona decisões, levanta projetos, reacende a criatividade e o gosto por viver.

Sem a superação cotidiana desse medo, nossa missão estará comprometida; perderá sua força inovadora, garantida pela novidade do Projeto de Deus. O compromisso com o Reino requer de todos uma forte dose de coragem e uma alma ágil, animada e vivificada pelo sabor da aventura e da novidade.

Esperança & dúvida, temor & coragem, criatividade & rotina, andam juntas.

Tornamo-nos corajosos quando tomamos a decisão de arriscar.

Vencido o medo, nós nos tornaremos autênticos(as), criativos(as) e audazes seguidores(as) de Jesus.

Quem for medroso e tímido volte para trás (Juízes 7,3)

PARA MEDITAR NA ORAÇÃO:

Para fazer a «travessia da vida» será necessário descobrir:
* Quantos fantasmas há em sua vida que o paralisam, o impedem de avançar, o travam na hora de tomar decisões?
* Quantos fantasmas o impedem crescer, assumir os desafios, ser criativo?
* Numa dimensão mais ampla, quantos fantasmas há na Igreja que não a deixam rejuvenescer-se, que a impedem viver um processo de contínua mudança, que a fazem suspeitar de tudo, que a fazem surda aos chamados de Deus no meio das tormentas da atualidade?

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 11 de agosto de 2017 – Internet: clique aqui.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Qual caminho para o catolicismo???

Nesta época secular livro mostra
um caminho para o catolicismo

Michael Sean Winters
National Catholic Reporter
09-08-2017

Igreja, fé, futuro: o que enfrentamos, o que podemos fazer
Pe. LOUIS J. CAMELI

Alguns bispos não param de reclamar sobre a onda de secularismo que está envolvendo os alicerces da Igreja e erodindo a fé católica. Alguns católicos progressistas culpam a própria Igreja pela situação e se recusam a acreditar que ela tenha inimigos reais. Algumas dioceses estão envolvidas no doloroso processo de reorganização das paróquias, enquanto outras não dão conta da construção novas igrejas e até escolas. Há um coro alto e bem financiado contra o Papa Francisco, mas quem frequenta a Igreja ouve sua mensagem e o ama ainda mais por isso.

Como classificar todas essas forças aparentemente centrífugas? Como avaliar a situação da Igreja neste meio cultural e as opções de evangelização? Como canalizar os vários e variados impulsos do Espírito Santo em direção ao renascimento da fé católica?

Essas são grandes questões, e o Pe. Louis Cameli, da Arquidiocese de Chicago, não promete fornecer todas as respostas em seu novo livro Church, Faith, Future: What We Face, What We Can Do (Igreja, fé, futuro: o que enfrentamos, o que podemos fazer, sem versão em português). O que ele consegue, em um volume relativamente pequeno de 104 páginas, é dar um enquadramento claro e bastante persuasivo, bem como uma primeira tentativa de fornecer um GPS eclesiástico que mostre a direção a seguir. Não é uma conquista pequena, e o livro deve chegar às mãos de todo responsável pelo planejamento pastoral, talvez até como objeto de reflexão em alguma convenção presbiteral ou congresso leigo.

Ele começa com uma revisão da literatura para responder a questão “O que podemos esperar?”, a partir de A Era Secular, de Charles Taylor. Faz dez anos que esse livro foi lançado. Naquela época, todo mundo concluiu que Taylor tinha feito um ótimo trabalho. Acho que seria melhor dizer que fez em partes. Atualmente, vivemos uma era secular, mas suspeito que havia mais secularismo em outras épocas do que geralmente admitimos. Considerando Chartres, o grande monumento à Era da Fé, acho que alguns pedreiros que construíram essa obra-prima estavam apenas precisando de um emprego e que algumas pessoas que iam até lá para adorar após sua construção eram mais supersticiosas do que religiosas. Pelo menos Taylor esboçou o secularismo como algo que se desenvolveu ao longo dos séculos, e não quando Barack Obama fez o juramento. Ainda assim, fiquei preocupado por ter começado por Taylor.

Minha preocupação estava deslocada. Cameli ressalta que, mesmo nas “terríveis reviravoltas” da secularização, como no século XX, nada disso “levou a Igreja a condenar o processo. Na verdade, seu ensino autoritário apoia as formas boas e saudáveis de secularização”. A opção por não estabelecer fronteiras rígidas, e ainda menos de separar o joio do trigo precipitadamente, é uma razão fundamental para que sua mente seja tão fértil. Muitos comentaristas clericais estão imersos na escuridão e na desgraça, mas não Cameli. Duas páginas depois de discutir a secularização, ele escreve:

«Muitos de nossos contemporâneos imaginam - e isso provavelmente também se aplica a uma parcela considerável de fiéis - que a Igreja é um reservatório, um lugar de espera e uma instituição essencialmente conservadora».
«Imaginam que a Igreja permanece exclusivamente focada na manutenção de doutrinas, tradições e práticas, e não em mudar o mundo. Essa visão, no entanto, representa uma distorção básica da identidade dos fiéis e da Igreja. Se ela se mantiver fiel a si mesma e caminhar em direção ao futuro, será um agente e instrumento de mudança». Sem a «Opção Bento».

Cameli volta-se ao trabalho de James Davison Hunter sobre como a cultura muda e como a religião e a modernidade interagem. Entre outras coisas, Cameli considera relevante seu argumento de que o ressentimento demonstrado por muitos cristãos diante da cultura secular dominante resulta em “uma incapacidade de oferecer alternativas construtivas e criativas ao que a cultura dominante atual oferece”. No entanto, quero saber mais sobre a afirmação de Hunter de que os cristãos têm razão em dizer que a cultura dominante é muitas vezes “incompatível com a moral e a espiritualidade cristã tradicional”. Se por “moralidade cristã tradicional” ele se refere apenas a proibições sexuais, como muitas vezes é o caso, a crítica cultural cristã é um beco sem saída e não muito cristão. A comercialização de tudo dessa cultura merece ser observado, se assim quisermos. Eu gostaria que Cameli tivesse parado e pensado se realmente o senso mais amplo da incompatibilidade cultural era o cerne da questão.

Ele faz referência ao livro American Grace, de Robert Putnam e David Campbell, e ao trabalho do sociólogo de Notre Dame, Christian Smith, sobre jovens adultos católicos. Considerando os quatro livros, Cameli chega à conclusão que, no futuro previsível, a cultura estadunidense deve ser dominada pelo secularismo que vemos hoje e que a Igreja Católica terá um futuro de declínio. Eu posso discordar um pouco do uso desses textos, mas é revigorante ver alguém reconhecer a realidade e não permitir que ela o faça cair em amargura, futilidade ou queixas maniqueístas contra o secularismo.

O capítulo seguinte levanta e investiga detalhadamente uma questão que já usei de forma casual e retórica: nós, cristãos, não deveríamos esperar o inesperado? Desde os judeus famintos e errantes no deserto, reclamando que queriam voltar para o Egito, até os discípulos no caminho ao Emaús, as Escrituras estão cheias de pessoas cuja falta de fé foi logo contrariada pela intervenção de Deus.

Se os derrotistas de hoje tivessem vivido na França durante a era napoleônica, certamente teriam castigado o Papa Pio VII por não ser mais incisivo. Talvez pensassem que a Igreja estava definitivamente morrendo, mas não teriam previsto o florescimento da espiritualidade que aconteceu na França no século XIX. Outro exemplo: ao falar do poderoso e humanamente surpreendente efeito de Santa Teresa de Lisieux, Cameli afirma: “Ela também transformou o legado jansenista que herdou, com sua ênfase na observância da lei, em um foco singular sobre o primado do amor, o amor de Deus e o amor ao próximo”. Precisamos de sua poderosa intercessão agora, como naquela época, mas quem teria pensado que a frágil criatura, cuja vida terrena não poderia ter sido mais obscura, teria um efeito tão profundo em tantas pessoas no mundo inteiro?

Cameli tem a prudência intelectual e espiritual de perceber que é possível que vejamos “uma Igreja inesperadamente robusta pelas razões erradas”.

Ele faz uma pergunta óbvia e desafiadora: o que podemos fazer ao contemplarmos o provável declínio eclesial? Ele inclui uma avaliação importante do “nós”, observando que a Igreja, em todos os momentos, é uma organização, uma comunidade e um movimento. Como bem observa, podemos não fazer nada ou nos tornar uma “Igreja menor e mais comprometida”. Porém, argumenta contra ambas as opções, usando imagens bíblicas para explicar suas fraquezas. Essas mesmas imagens são usadas para defender o esforço de recuperar o dinamismo da Palavra, evangelizando e se deixando evangelizar. É o centro da argumentação em direção ao futuro. Não quero entregar o jogo: os leitores precisam comprar o livro. Só vou deixar com água na boca com um exemplo de sua análise profunda:

«A maioria das pessoas, dentro ou fora da Igreja, enxerga-a como uma comunidade ou instituição que traz algo para o mundo - uma mensagem, um modo de vida, um conjunto de rituais. A dinâmica evangelizadora reformula essa perspectiva. Como Igreja, não vamos ao mundo somente para dar algo, mas, com o mundo, recebemos algo: a palavra de vida. [...] O apelo [do papa Paulo VI] ao diálogo e à reciprocidade com o mundo só faz sentido se entendermos a Igreja e o mundo não como duas forças opostas, mas, em última análise, duas realidades unidas pela palavra geradora de vida de Deus

Essas importantes ideias teológicas aparecem lado a lado com histórias comuns sobre a vida paroquial. Esta combinação resulta em recomendações para os próximos anos da Igreja que não vão nem tanto ao céu nem tanto à terra. Além disso, o livro é acessível ao leitor leigo que deseja saber o papel que pode desempenhar para trazer nova vida à Igreja.

E termina com um posfácio do cardeal Blase Cupich, com uma palestra aos seus sacerdotes ao fazer a arquidiocese se comprometer com a sempre inquietante tarefa de se reorganizar. No texto, fica fácil ver a influência de Cameli, que é delegado da formação de cardeais. Mesmo os bispos que não estão em reestruturação devem conhecer o livro, assim como pastores de todos os tipos. Em última análise, o futuro da Igreja e da humanidade está nas mãos de Deus, mas, como já disse Lionel Trilling, temos a obrigação moral de ser inteligentes. Este livro, repleto de fé, é definitivamente inteligente.

Traduzido do inglês por Luísa Flores Somavilla. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 11 de agosto de 2017 – Internet: clique aqui.