PALAVRAS NECESSÁRIAS PARA OS TEMPOS DE HOJE
«Os cristãos são pessoas de primavera e não de outono,
de esperança e não de tristeza»
Iacopo
Scaramuzzi
Vatican
Insider
23-08-2017
“A esperança cristã baseia-se na fé em Deus que sempre
cria novidades
na vida dos seres humanos, na história e no cosmos.
Nosso Deus é o Deus das novidades, porque é o Deus das
surpresas.”
PAPA FRANCISCO |
“Eu
cumprimentei alguém de Barcelona:
quantas notícias tristes vêm dali... Eu cumprimentei uma pessoa do Congo: quantas notícias tristes vêm de
lá, para citar apenas dois de vocês que estão aqui. Procurem pensar nos rostos das crianças atemorizadas pela guerra, no
choro das mães, nos sonhos estraçalhados de muitos jovens, nos refugiados que
enfrentam viagens terríveis e são explorados tantas vezes...”.
Durante
a Audiência Geral desta
quarta-feira, 23 de agosto, o Papa, que depois da catequese rezou também pelos
mortos, feridos, familiares e pelos que perderam as casas no terremoto que
sacudiu a ilha de Isquia, na Itália,
convidou os fiéis para lerem, “não de maneira abstrata, mas após terem lido uma
notícia de nossos dias”, a passagem da Bíblia em que Deus afirma: “Eu faço novas todas as coisas” (Ap
21,5). Porque “a grande visão da esperança cristã” baseia-se em que “nós temos um Pai que sabe chorar, que
chora conosco”, “um Pai que nos espera para nos consolar, porque conhece os
nossos sofrimentos e preparou para nós um futuro diferente”, um “Deus das
novidades e das surpresas”. E o cristão, disse Francisco, “é uma pessoa mais de
primavera, que espera o fruto, que espera a flor, que espera o sol”, do que uma
pessoa “de outono”, que olha para baixo, “como os porcos”, sempre “amargurado,
com a cara de pimenta em vinagre”.
“A esperança cristã
baseia-se na fé em Deus que sempre cria novidades na vida dos seres humanos, na
história e no cosmos. Nosso Deus é o Deus das novidades, porque é o Deus das
surpresas”,
explicou o Papa na continuação de seu ciclo de catequese dedicado à esperança
cristã. “Não é cristão caminhar
cabisbaixo, como fazem os porcos, sem levantar os olhos para o horizonte”.
Audiência Papal na Sala Paulo VI - Vaticano |
“Eu
faço novas todas as coisas”
“Procurem
meditar – propôs o Papa aos fiéis que se encontravam na Aula Paulo VI – esta
passagem da Sagrada Escritura não de uma maneira abstrata, mas após terem lido
uma notícia de nossos dias, após terem visto o telejornal ou a primeira página
dos jornais onde há tantas tragédias, onde aparecem notícias tristes com as
quais todos corremos o risco de nos acostumar. Eu cumprimentei alguém de
Barcelona: quantas notícias tristes vêm dali... Eu cumprimentei uma pessoa do
Congo: quantas notícias tristes vêm de lá, para citar apenas dois de vocês que
estão aqui”.
“Procurem
pensar – prosseguiu o Papa – nos rostos das crianças atemorizadas pela guerra,
no choro das mães, nos sonhos estraçalhados de muitos jovens, nos refugiados
que enfrentam viagens terríveis e são explorados tantas vezes... A vida,
infelizmente, também é isso. Às vezes, se poderia dizer que é sobretudo isso.
Pode ser. Mas – prosseguiu – há um Pai que chora lágrimas de infinita piedade
por seus filhos. Nós temos um Pai que
sabe chorar, que chora conosco. Um Pai que nos espera para nos consolar,
porque conhece os nossos sofrimentos e preparou para nós um futuro diferente.
Esta é a grande visão da esperança cristã, que se dilata sobre todos os dias da
nossa existência, e que quer nos erguer”.
“Deus
não quis nossas vidas equivocadas, obrigando-se a si mesmo e a nós a duras
noites de angústia”, continuou Francisco. “Ele
nos criou porque nos quer ver felizes” e “nós acreditamos e sabemos que a morte e o ódio não são as últimas
palavras pronunciadas sobre a parábola da existência humana”.
Ser cristãos, disse
Francisco, “implica numa nova perspectiva: um olhar cheio de esperança. Alguns acreditam que a
vida resume todas as suas felicidades à juventude e ao passado, e que viver é
um lento decair. Outros mais consideram que nossas alegrias são apenas
esporádicas e passageiras, e que na vida humana está inscrita o sem sentido.
Esses que, diante de tantas calamidades, dizem que a vida não tem sentido”.
“Mas
nós cristãos – continuou Francisco – não acreditamos nisso. Acreditamos, ao
contrário, que no horizonte do homem há um sol que ilumina eternamente.
Acreditamos que os nossos dias mais belos ainda estão por vir. Somos mais pessoas de primavera do que de
outono. Eu gostaria de perguntar, e cada um responde em seu coração: sou um
homem, uma mulher, uma criança de primavera ou de outono? A minha alma está na primavera ou no outono? Não nos meçamos em
nostalgias, arrependimentos e queixas: sabemos
que Deus nos quer herdeiros de uma promessa e incansáveis cultivadores de
sonhos. Sou uma pessoa de primavera, que espera o fruto, a flor, o sol, ou
uma pessoa de outono, que está sempre cabisbaixa, amargurada, como já disse
outras vezes: com cara de pimenta em vinagre”. O cristão sabe que o Reino de
Deus “está crescendo como um grande campo de trigo, embora haja no seu meio a
cizânia, problemas, fofocas, guerras, doenças... mas o trigo cresce. E, no final, o mal será eliminado”.
O
futuro, concluiu o Papa, “não nos pertence” e na hora da morte, em que após a
morte estaremos com o Senhor, “será bonito descobrir nesse instante que não
perdemos nada, nenhum sorriso e nenhuma lágrima. Por mais longa que tenha sido
a nossa vida, nos parecerá ter vivido em um sopro. E que a Criação não parou no sexto dia do Gênesis, mas que continuou,
incansável, porque Deus sempre se preocupou conosco. Até o dia em que tudo
se cumprir, na manhã em que se extinguirem as lágrimas, no mesmo instante em
que Deus pronunciar sua última palavra de bênção: “Eu faço novas todas as coisas”.
Sim, nosso Pai é o Deus das novidades e das surpresas. E nesse dia nós
estaremos verdadeiramente felizes, e choraremos? Sim, mas de alegria”.
Depois
da catequese, o Papa recordou e externou sua proximidade a “todos os que sofrem
por causa do terremoto que, na segunda-feira à noite, sacudiu a ilha de Isquia.
Rezemos pelos mortos, pelos feridos, pelos respectivos familiares e pelas
pessoas que perderam suas casas”. Entre os fiéis presentes, Francisco deu a
bênção à Polônia, recordando que no sábado e no domingo, no santuário nacional
em Jasna Gora, celebra-se a solenidade de Nossa Senhora de Czestochowa e o
terceiro centenário da coroação de sua milagrosa estátua. Também saudou um
grupo de estudantes universitários espanhóis que cantaram um canto coral: “Eu
pensava que na Universidade de Salamanca só ensinavam a estudar nos livros, mas
cantam bem, parabéns!”
Traduzido do italiano por André Langer. Acesse a versão original
deste artigo, clicando aqui.
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