«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Qual caminho para o catolicismo???

Nesta época secular livro mostra
um caminho para o catolicismo

Michael Sean Winters
National Catholic Reporter
09-08-2017

Igreja, fé, futuro: o que enfrentamos, o que podemos fazer
Pe. LOUIS J. CAMELI

Alguns bispos não param de reclamar sobre a onda de secularismo que está envolvendo os alicerces da Igreja e erodindo a fé católica. Alguns católicos progressistas culpam a própria Igreja pela situação e se recusam a acreditar que ela tenha inimigos reais. Algumas dioceses estão envolvidas no doloroso processo de reorganização das paróquias, enquanto outras não dão conta da construção novas igrejas e até escolas. Há um coro alto e bem financiado contra o Papa Francisco, mas quem frequenta a Igreja ouve sua mensagem e o ama ainda mais por isso.

Como classificar todas essas forças aparentemente centrífugas? Como avaliar a situação da Igreja neste meio cultural e as opções de evangelização? Como canalizar os vários e variados impulsos do Espírito Santo em direção ao renascimento da fé católica?

Essas são grandes questões, e o Pe. Louis Cameli, da Arquidiocese de Chicago, não promete fornecer todas as respostas em seu novo livro Church, Faith, Future: What We Face, What We Can Do (Igreja, fé, futuro: o que enfrentamos, o que podemos fazer, sem versão em português). O que ele consegue, em um volume relativamente pequeno de 104 páginas, é dar um enquadramento claro e bastante persuasivo, bem como uma primeira tentativa de fornecer um GPS eclesiástico que mostre a direção a seguir. Não é uma conquista pequena, e o livro deve chegar às mãos de todo responsável pelo planejamento pastoral, talvez até como objeto de reflexão em alguma convenção presbiteral ou congresso leigo.

Ele começa com uma revisão da literatura para responder a questão “O que podemos esperar?”, a partir de A Era Secular, de Charles Taylor. Faz dez anos que esse livro foi lançado. Naquela época, todo mundo concluiu que Taylor tinha feito um ótimo trabalho. Acho que seria melhor dizer que fez em partes. Atualmente, vivemos uma era secular, mas suspeito que havia mais secularismo em outras épocas do que geralmente admitimos. Considerando Chartres, o grande monumento à Era da Fé, acho que alguns pedreiros que construíram essa obra-prima estavam apenas precisando de um emprego e que algumas pessoas que iam até lá para adorar após sua construção eram mais supersticiosas do que religiosas. Pelo menos Taylor esboçou o secularismo como algo que se desenvolveu ao longo dos séculos, e não quando Barack Obama fez o juramento. Ainda assim, fiquei preocupado por ter começado por Taylor.

Minha preocupação estava deslocada. Cameli ressalta que, mesmo nas “terríveis reviravoltas” da secularização, como no século XX, nada disso “levou a Igreja a condenar o processo. Na verdade, seu ensino autoritário apoia as formas boas e saudáveis de secularização”. A opção por não estabelecer fronteiras rígidas, e ainda menos de separar o joio do trigo precipitadamente, é uma razão fundamental para que sua mente seja tão fértil. Muitos comentaristas clericais estão imersos na escuridão e na desgraça, mas não Cameli. Duas páginas depois de discutir a secularização, ele escreve:

«Muitos de nossos contemporâneos imaginam - e isso provavelmente também se aplica a uma parcela considerável de fiéis - que a Igreja é um reservatório, um lugar de espera e uma instituição essencialmente conservadora».
«Imaginam que a Igreja permanece exclusivamente focada na manutenção de doutrinas, tradições e práticas, e não em mudar o mundo. Essa visão, no entanto, representa uma distorção básica da identidade dos fiéis e da Igreja. Se ela se mantiver fiel a si mesma e caminhar em direção ao futuro, será um agente e instrumento de mudança». Sem a «Opção Bento».

Cameli volta-se ao trabalho de James Davison Hunter sobre como a cultura muda e como a religião e a modernidade interagem. Entre outras coisas, Cameli considera relevante seu argumento de que o ressentimento demonstrado por muitos cristãos diante da cultura secular dominante resulta em “uma incapacidade de oferecer alternativas construtivas e criativas ao que a cultura dominante atual oferece”. No entanto, quero saber mais sobre a afirmação de Hunter de que os cristãos têm razão em dizer que a cultura dominante é muitas vezes “incompatível com a moral e a espiritualidade cristã tradicional”. Se por “moralidade cristã tradicional” ele se refere apenas a proibições sexuais, como muitas vezes é o caso, a crítica cultural cristã é um beco sem saída e não muito cristão. A comercialização de tudo dessa cultura merece ser observado, se assim quisermos. Eu gostaria que Cameli tivesse parado e pensado se realmente o senso mais amplo da incompatibilidade cultural era o cerne da questão.

Ele faz referência ao livro American Grace, de Robert Putnam e David Campbell, e ao trabalho do sociólogo de Notre Dame, Christian Smith, sobre jovens adultos católicos. Considerando os quatro livros, Cameli chega à conclusão que, no futuro previsível, a cultura estadunidense deve ser dominada pelo secularismo que vemos hoje e que a Igreja Católica terá um futuro de declínio. Eu posso discordar um pouco do uso desses textos, mas é revigorante ver alguém reconhecer a realidade e não permitir que ela o faça cair em amargura, futilidade ou queixas maniqueístas contra o secularismo.

O capítulo seguinte levanta e investiga detalhadamente uma questão que já usei de forma casual e retórica: nós, cristãos, não deveríamos esperar o inesperado? Desde os judeus famintos e errantes no deserto, reclamando que queriam voltar para o Egito, até os discípulos no caminho ao Emaús, as Escrituras estão cheias de pessoas cuja falta de fé foi logo contrariada pela intervenção de Deus.

Se os derrotistas de hoje tivessem vivido na França durante a era napoleônica, certamente teriam castigado o Papa Pio VII por não ser mais incisivo. Talvez pensassem que a Igreja estava definitivamente morrendo, mas não teriam previsto o florescimento da espiritualidade que aconteceu na França no século XIX. Outro exemplo: ao falar do poderoso e humanamente surpreendente efeito de Santa Teresa de Lisieux, Cameli afirma: “Ela também transformou o legado jansenista que herdou, com sua ênfase na observância da lei, em um foco singular sobre o primado do amor, o amor de Deus e o amor ao próximo”. Precisamos de sua poderosa intercessão agora, como naquela época, mas quem teria pensado que a frágil criatura, cuja vida terrena não poderia ter sido mais obscura, teria um efeito tão profundo em tantas pessoas no mundo inteiro?

Cameli tem a prudência intelectual e espiritual de perceber que é possível que vejamos “uma Igreja inesperadamente robusta pelas razões erradas”.

Ele faz uma pergunta óbvia e desafiadora: o que podemos fazer ao contemplarmos o provável declínio eclesial? Ele inclui uma avaliação importante do “nós”, observando que a Igreja, em todos os momentos, é uma organização, uma comunidade e um movimento. Como bem observa, podemos não fazer nada ou nos tornar uma “Igreja menor e mais comprometida”. Porém, argumenta contra ambas as opções, usando imagens bíblicas para explicar suas fraquezas. Essas mesmas imagens são usadas para defender o esforço de recuperar o dinamismo da Palavra, evangelizando e se deixando evangelizar. É o centro da argumentação em direção ao futuro. Não quero entregar o jogo: os leitores precisam comprar o livro. Só vou deixar com água na boca com um exemplo de sua análise profunda:

«A maioria das pessoas, dentro ou fora da Igreja, enxerga-a como uma comunidade ou instituição que traz algo para o mundo - uma mensagem, um modo de vida, um conjunto de rituais. A dinâmica evangelizadora reformula essa perspectiva. Como Igreja, não vamos ao mundo somente para dar algo, mas, com o mundo, recebemos algo: a palavra de vida. [...] O apelo [do papa Paulo VI] ao diálogo e à reciprocidade com o mundo só faz sentido se entendermos a Igreja e o mundo não como duas forças opostas, mas, em última análise, duas realidades unidas pela palavra geradora de vida de Deus

Essas importantes ideias teológicas aparecem lado a lado com histórias comuns sobre a vida paroquial. Esta combinação resulta em recomendações para os próximos anos da Igreja que não vão nem tanto ao céu nem tanto à terra. Além disso, o livro é acessível ao leitor leigo que deseja saber o papel que pode desempenhar para trazer nova vida à Igreja.

E termina com um posfácio do cardeal Blase Cupich, com uma palestra aos seus sacerdotes ao fazer a arquidiocese se comprometer com a sempre inquietante tarefa de se reorganizar. No texto, fica fácil ver a influência de Cameli, que é delegado da formação de cardeais. Mesmo os bispos que não estão em reestruturação devem conhecer o livro, assim como pastores de todos os tipos. Em última análise, o futuro da Igreja e da humanidade está nas mãos de Deus, mas, como já disse Lionel Trilling, temos a obrigação moral de ser inteligentes. Este livro, repleto de fé, é definitivamente inteligente.

Traduzido do inglês por Luísa Flores Somavilla. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 11 de agosto de 2017 – Internet: clique aqui.

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