Dominação evangélica para o Brasil
Evento em São Paulo escancara plano
Zé
Barbosa Junior
Teólogo, escritor, pós-graduado em Ciências Políticas e pastor da Comunidade de Jesus em Campina Grande - PB
Evento mostra
de forma inequívoca o projeto evangélico de tomada do poder em nosso país
aliado à extrema direita
“Esse silêncio todo me atordoa / Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento / Ver emergir o monstro da lagoa
Pai, afasta de mim esse cálice!”
(Chico Buarque / Gilberto Gil)
ZÉ BARBOSA JUNIOR |
Embora o evento se apresente como um fórum para promover valores cristãos, há de forma inequívoca a promoção da chamada “teologia do domínio”, que defende a subordinação das esferas pública e privada aos preceitos religiosos.
A “teologia do domínio” é uma doutrina
que prega a necessidade de os cristãos assumirem o controle sobre todas as
áreas da sociedade, incluindo governo, educação e cultura, para implementar
uma nação sob “princípios bíblicos”.
Especialistas alertam que essa ideologia ameaça diretamente a
laicidade do Estado e a diversidade religiosa, fundamentais em uma sociedade
democrática.
A adoção dessa teologia por líderes religiosos e políticos no Brasil tem gerado debates sobre os riscos de uma agenda que busca impor valores religiosos específicos a toda a população.
O evento se apresenta como um “congresso para discussão sobre o papel da família, a essência da educação e o significado da liberdade, tudo sob a perspectiva cristã”. E traz, dentro de suas propostas, “um ambiente dinâmico e inspirador, rodeado por pensadores inovadores e líderes visionários”. Este ano o congresso se reúne sob o tema “Unir propósitos e avançar o Reino”.
A “marca” LEGADO CRISTÃO é um esforço de vários movimentos, atores da sociedade civil, empresas, ministérios que realizam desde o ano de 2024 um congresso anual, mas mantém seminários que acontecem durantes todos os meses em diversos lugares do país, com um único objetivo: disseminar o projeto de “recolocar o Cristianismo nos debates da nossa sociedade para contornar o status quo das ideias hegemônicas desse mundo” a partir de uma tríade que resume todas as ações do “legado”: Família, Educação e Liberdade.
COMPROMISSOS DO “LEGADO”:
Logo na página oficial de divulgação do
Congresso na internet, os organizadores não fazem a mínima questão de esconder
os “compromissos” que serão selados no evento, e apresentam uma série de
pontos a serem defendidos e divulgados como essenciais na trajetória e no
“legado cristão” que o encontro espera deixar. Analisemos apenas alguns
deles (são 15 no total). DELTAN DALLAGNOL
1) Apoiar a candidatura política
de cristãos
Leia-se aqui apoiar candidaturas fundamentalistas que defendam pautas moralistas e antiestatais (uma das pautas do Congresso é o “autogoverno”). Duas das principais preleções do evento serão realizadas pelo vereador Gilberto Nascimento, de São Paulo, e a deputada estadual em Santa Catarina Ana Campagnolo, ambos conhecidos pela virulência na defesa de pautas da extrema direita. No 1º Congresso, realizado em 2024, uma das principais falas (que inclusive é exposta na página de divulgação do 2º) foi do ex-procurador e ex-deputado federal Deltan Dallagnol. Dallagnol teve o mandato cassado por uma “fraude” contra a Lei da Ficha Limpa ao pedir exoneração do Ministério Público Federal (MPF) 11 meses antes das eleições, enquanto enfrentava processos internos que poderiam levar à sua demissão — e, em consequência, à sua inelegibilidade.
2) Incentivar jovens a ingressar em cursos-chaves
para ocupar posições de influência
A tática de ocupar os espaços, explícita na “teologia do domínio”, é incentivada principalmente para a juventude e aqui ocorre uma das muitas aparentes incoerências do movimento, mas que se justifica pelo “produto final” que é a doutrinação massiva da população brasileira: apesar de defensores ferrenhos do homeschooling (falaremos sobre isso mais tarde), há um incentivo para que jovens estudem e se formem como professores nas áreas conhecidas como de “humanas”, principalmente história e geografia (geografia mais analítica) a fim de reverterem os “ensinos comunistas e errôneos”, tanto como nas ciências biológicas, cujo objetivo é contrapor o “ensino ateu” que vai de encontro ao criacionismo “bíblico”. Além, principalmente, do curso de Direito, que é um dos principais alvos do “legado cristão”.
3) Buscar uma relevância social e dentro
do poder público local, regional e até mesmo nacional
Aqui se apresenta mais uma das aparentes incoerências, mas que se trata de uma estratégia muito bem elaborada: ocupar os espaços de poder público para enfraquecer o próprio poder público. Em diversos documentos e falas nas redes sociais e nos eventos, os promotores do “legado cristão” defendem um Estado mínimo e o “autogoverno”, principalmente no que se refere à educação e à cultura (o que favorece o domínio da manipulação e doutrinação para as quais são treinados incansavelmente). Os proponentes do evento são, em sua maioria, inimigos das políticas públicas, principalmente as que buscam o acolhimento e dignidade das minorias de “diversidade” (principalmente comunidade LGBTQIAPN+).
4) Fortalecer alianças nacionais e
internacionais que defendam as liberdades individuais
Em postagem na página do Instagram do evento, uma das principais líderes do movimento no Brasil apresenta de forma efusiva uma matéria publicada recentemente, onde se apresenta um Fundo Cristão formado nos Estados Unidos que gerencia um montante de 20 BILHÕES de dólares, que tem como principal objetivo lutar contra políticas progressistas e da diversidade. Essa já é uma ideia em desenvolvimento no Brasil, a tirar pelos patrocinadores do evento, que é “gratuito”, ou seja, já existe um forte investimento de empresas, empresários, políticos e organizações para a disseminação e fortalecimento dessas ideias fundamentalistas e de dominação evangélica conservadora da política nacional. Estamos em um momento muito delicado.
5) Envolver-se na divulgação do que é educação
domiciliar, sua defesa como direito humano natural tanto no âmbito
estadual como nacional
Essa é uma das principais bandeiras do
movimento, abraçada pelos principais organizadores: o chamado homeschooling.
Nos últimos anos, o homeschooling – ou educação domiciliar – tem
ganhado popularidade em diversos países, incluindo o Brasil. A proposta é
educar os filhos em casa, sem a necessidade de frequentar uma escola
tradicional, “personalizando” o ensino e “protegendo” as crianças de
“influências externas.”
Um dos principais riscos do homeschooling é o isolamento
social das crianças.
A escola não é apenas um espaço de aprendizado acadêmico, mas também de interação e convivência com outras pessoas, fundamentais para a formação de cidadãos participativos e tolerantes. É nesse ambiente que os alunos desenvolvem habilidades sociais cruciais, como trabalho em equipe, resolução de conflitos e empatia. É sempre bom lembrar o que qualquer estudioso de movimentos sectários e separatistas sabe: uma das principais ferramentas de dominação, manipulação e doutrinação, principalmente de jovens é o isolamento. Isolando-o do convívio social e da diversidade humana, cria-se fanáticos fundamentalistas capazes de quaisquer coisas para defenderem suas “causas”.
6) Engajar comunidades locais de fé na
formação integral do indivíduo, tanto como pessoa, quanto como cidadão. Em
cada comunidade, um centro de formação
Preste bem atenção nisso: “em cada
comunidade, um centro de formação”. O objetivo é fazer com que cada
“comunidade local de fé” (igreja) se transforme num “centro de formação”.
Mas para formar o quê? Exatamente a multiplicação de:
* defensores desse modelo de Estado
mínimo,
* precursores de um neoliberalismo
extremo
* carregado de fundamentalismo religioso que fará os neopentecostais (e seu projeto de poder) parecerem crianças indefesas perto de um sistema muito mais complexo e entranhado na sociedade.
7) Fomentar o legado cristão cultural nas
mídias sociais demonstrando os resultados de sua aplicação ao longo do
tempo
Já estamos experimentando um pouco
desse “legado cristão cultural” exatamente nas ações de Elon Musk e Mark Zuckerberg em retirar
de suas plataformas e mídias sociais o sistema de checagem de fatos. É a “pós-verdade”
levada ao extremo. Valerá a “verdade” do grupo que detiver o poder. A
prosperarem as ideias, ideais e projetos do “legado cristão” (aqui as aspas são
necessárias, pois o Cristo nunca pregou um projeto de poder),...
... é bom que nos preparemos para a total ausência do
contraditório, do debate político e a instauração de uma espécie de teocracia
bem piorada dos sistemas já conhecidos.
QUEM FAZ A CABEÇA DESSA GENTE?
Um dos elementos principais para analisarmos os objetivos e processos que esse evento traz à tona é a simples observância de alguns de seus principais palestrantes/pregadores. Principalmente atrelados aos temas que trarão como projeto de pensamento e execução. Como foi dito anteriormente, no 1º Congresso, em 2024 um dos principais oradores foi Deltan Dallagnol. Em eventos diversos da “rede legado cristão” (o Congresso Internacional é apenas o principal evento – outros em “menor escala” acontecem por todo o Brasil e em todo tempo) temos como pensadores Damares Alves a Aaron Pierce (não, não é o ator), executivo da Christian Halls Brasil, uma espécie de difusora de treinamentos em parceria com escolas em todo o Brasil (já atuam em 17 estados). Quais serão então os/as palestrantes do “Legado Cristão 2025”. Vejamos apenas alguns nomes e seus respectivos temas de abordagem:
Irene Squillaci – “O legado cristão e seus
inimigos no mundo”
Pastora boliviana, advogada, conferencista, assessora política e empresarial, autora de “Vencendo a Batalha Eleitoral” e “Destronando o Estado” – este último livro é, segundo a editora: “para quem deseja compreender como o Estado na América Latina e no mundo destrói a economia das famílias por meio de suas políticas públicas. O livro aborda as 3 mentiras do socialismo que enriquecem o Estado enquanto empobrecem as famílias. Com base nos princípios do governo bíblico, encontraremos os princípios aplicados às políticas públicas para enriquecer e libertar as famílias.”
Ana Campagnolo – “Acusações contra o
cristianismo (desfazendo falácias e revelando a verdade)”
Deputada estadual por Santa Catarina. Se apresenta como mulher antifeminista e dispensa maiores apresentações. É conhecida por defender desde 2018 tanto Jair Bolsonaro quanto o “Escola sem Partido”. Segundo matéria da Revista Fórum, “curiosamente, mesmo como defensora aguerrida da ideia de que nenhum professor pode falar nada e se manifestar em algum sentido ideologicamente nas escolas brasileiras, ela ia dar aula usando uma camiseta com o rosto e o nome do então presidente Jair Bolsonaro (PL), e tirava foto com a indumentária e alunos dentro da sala de aula.”
Guilherme Schelb – “Construindo um sistema
protegido e protetor do legado cristão”
Procurador da República, chegou a ser cogitado por Bolsonaro para ser ministro da Educação. Defende abertamente bandeiras comuns a Bolsonaro e à bancada evangélica, como a proibição de que escolas discutam temas como gênero e sexualidade, um dos eixos do Escola sem Partido. Em 2018, Schelb divulgou em sua página no Facebook, a palestra “Marxismo Cultural: risco iminente as igrejas cristãs”.
Dois “workshops” também chamam a atenção:
Lidiane Castilho - NCFCA: Leve esta ferramenta
de defesa da verdade para os seus jovens
Segundo o próprio site: “A NCFCA é uma
liga de debates e discursos que treina pessoas, famílias e jovens para
debaterem usando ferramentas da educação clássica, desenvolvendo sua retórica
através de debates e discursos. O objetivo é que eles possam persuadir com
suas ideias, sempre fundamentadas em princípios cristãos”.
“Ajudamos adolescentes a aprender
habilidades de comunicação do mundo real que os equipam para a vida. Os
alunos que se envolvem conosco se tornam palestrantes equilibrados,
pesquisadores curiosos e defensores resilientes de uma cosmovisão bíblica.
Eles constroem sabedoria e caráter a partir de feedback construtivo e
desenvolvem as habilidades de pensamento crítico necessárias para entender e
falar em nossa cultura com compaixão e integridade”.
É isso mesmo: a NCFCA é uma formadora de debatedores e oradores/as voltada especialmente para treinamento/formação de ADOLESCENTES para DEFENDEREM PUBLICAMENTE a cosmovisão “bíblica”.
Gilberto Celetti - APEC: Instituto Bíblico
Infantil- um modelo de treinamento apologético para crianças
Não! Você não leu errado. Este workshop
tem como objetivo treinamento “apologético” (defesa da fé) para CRIANÇAS.
E a APEC busca parceria para inserção em escolas públicas/privadas através de
professores/professoras treinadas para utilizar materiais da própria editora em
suas aulas, “ensinando” às crianças princípios “bíblicos”.
No site da APEC, são apresentadas
algumas “justificativas” desse trabalho:
“Poderíamos
alistar algumas justificativas para isto: As crianças são naturalmente
predispostas ao ensino e na fase escolar elas todas estão prontas para
aprender. A influência dos professores, especialmente nos primeiros 4 anos
de estudo, é notória. A ausência de orientação religiosa por parte de seus
pais é bem marcante e a aula bíblica na escola acaba sendo a única ocasião
para a criança ouvir verdades preciosas que poderão marcar e influenciar toda a
sua vida. O número de crianças (e de famílias, indiretamente) que podemos
atingir com a mensagem de salvação é bem grande, o professor evangélico pode
alcançar, na escola pública, muito mais do que toda a sua igreja na Escola
Dominical. Outro fator favorável é que, entrando na sala de aula, já
encontramos tudo favorável: as crianças sentadas, as carteiras apropriadas, o
quadro de giz etc., oferecendo ao professor um ambiente próprio para o ensino.”
APEC são as iniciais de Aliança Pró- Evangelização das Crianças.
A TEOLOGIA DO DOMÍNIO E OS PERIGOS PARA A DEMOCRACIA NO BRASIL
Nos últimos anos, a teologia do domínio tem ganhado espaço em setores religiosos e políticos no Brasil, trazendo sérios riscos à democracia. Essa vertente teológica, originada no meio evangélico, prega que os cristãos têm a missão de governar todas as esferas da sociedade – incluindo política, educação, mídia e economia – para estabelecer os valores cristãos como padrão universal. Embora defensores afirmem que o movimento busca “moralizar” a sociedade, a execução dessa teologia ameaça o princípio do Estado laico e pode retirar os direitos de minorias religiosas e sociais.
No Brasil, a crescente presença de
líderes religiosos em cargos públicos tem sido acompanhada de pautas que
promovem interesses específicos em detrimento do pluralismo. Projetos de
lei que buscam restringir direitos reprodutivos, influenciar currículos
escolares com visões religiosas e limitar direitos LGBTQIA+ são exemplos
citados como reflexos dessa teologia.
Além disso, a fusão entre religião e política pode polarizar ainda
mais a sociedade, enfraquecendo o diálogo entre diferentes grupos.
RESISTÊNCIA À “TEOLOGIA DA DOMINAÇÃO”
A resistência a essa influência tem
surgido de diferentes setores, incluindo organizações da sociedade civil,
acadêmicos e lideranças religiosas que defendem a separação entre Igreja e
Estado. Segundo estes, é fundamental reforçar a educação cívica e a
conscientização sobre os valores democráticos para impedir que visões
teocráticas comprometam os direitos fundamentais de todos os cidadãos. Para
muitos, o desafio está em equilibrar a liberdade religiosa com a necessidade
de preservar um Estado laico e inclusivo, garantindo que nenhum grupo
imponha suas crenças sobre toda a sociedade. JOÃO CEZAR DE CASTRO ROCHA - historiador e professor de literatura comparada na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj)
Leia a segunda parte da reportagem que
desvenda toda trama do evento “Legado Cristão” que acontece neste final de
semana no Memorial da América Latina em São Paulo
Como foi dito na primeira parte desta reportagem, o que parece um simples evento religioso pode esconder muito mais do que se imagina. É o caso do “2º Congresso Internacional Legado Cristão” que acontece nos dias 17 e 18 de janeiro (próximas sexta e sábado) no Memorial da América Latina, na Barra Funda, bairro da capital paulista. Em pauta, temas como família, educação e liberdade sob uma perspectiva cristã.
Embora o evento se apresente como um fórum para promover valores cristãos, há de forma inequívoca a promoção da chamada “teologia do domínio”, que defende a subordinação das esferas pública e privada aos preceitos religiosos.
Legado Cristão 2025: Conheça os Apoiadores e Financiadores do Movimento
O Legado Cristão 2025 é uma iniciativa que visa fortalecer os valores fundamentalistas na educação brasileira, promovendo uma formação acadêmica baseada em “princípios bíblicos e morais”. A ideia tem mobilizado diferentes grupos e figuras-chave, com o apoio de organizações estratégicas e indivíduos influentes. Nesta segunda parte da nossa reportagem, vamos explorar quem são os principais atores (financiadores e apoiadores) por trás dessa causa.
FINANCIADORES:
1) Strategicos Group
O principal patrocinador do evento é
uma empresa especializada em gestão fiscal e compliance, consultoria,
auditoria e recuperação de crédito tributário, com sede em Barueri – SP.
Em sua página do Facebook, a
consultoria faz um chamado ao evento, dizendo que “estar com pessoas que
defendem os mesmos valores reafirma o nosso maior propósito: resgatar esses
valores para fazer o que realmente importa”.
É interessante perceber que a ideia de “resgatar valores” está presente em diversas chamadas do evento e aparece numa das palestras principais, cujo tema é “preservando a família e a sociedade – estratégias para recolocar os fundamentos cristãos”.
2) ASPEN
Uma das patrocinadoras é a Aspen
Internacional Ltda, “empresa” da qual se tem quase nenhuma informação. Nas
redes se apresenta com atuação no Brasil, Estados Unidos e Canadá, em parceria
com famílias, igrejas, escolas, empresas, universidades, seminários e outras
organizações cristãs. Seu propósito é claro: glorificar a Deus com
comunidades educadoras que florescem com autogovernança. Seu site oficial
só contém a logo da “empresa”.
Em seu CNPJ, aparece como atividade econômica principal “Comércio varejista de livros” e tem como endereço o mesmo de uma outra apoiadora do evento, a Christian Halls Brasil, inclusive tendo um dos sócios aparecendo nas duas empresas. O endereço remete a uma casa/chácara em Atibaia.
A Aspen também se apresenta como oferecedora de soluções e recursos através de marcas como @classicalconversationsbrasil, @classicalpress, @christianhallsbrasil e @ncfca.brasil. Falaremos sobre cada marca dessas, todas ligadas ao treinamento de adolescentes/jovens para o fundamentalismo religioso, além de técnicas de oratória, debates e defesa do homeschooling no Brasil. Aliás, o endereço de e-mail apresentado pela Aspen para o registro do CNPJ tem como domínio homeschool.com.br – página que não existe, mas deve ter o domínio comprado pelos sócios da ASPEN / Christian Halls Brasil.
3) Editora Cristã Evangélica
A Editora Cristã Evangélica talvez seja, das patrocinadoras do evento, a mais antiga e conhecida. Na verdade seu CNPJ remete à Igreja Cristã Evangélica do Brasil e é de uma Organização Religiosa, que tem como “atividade econômica principal” organizações religiosas e filosóficas, ou seja, sem fins lucrativos e com capital social constante no cartão de CNPJ de R$ 0,00.
APOIADORES / ORGANIZADORES
1) SIMEDUC – Homeschooling, Autodidatismo
e Alta Cultura
O SIMEDUC (Simpósio Online de Educação
Domiciliar) é outro pilar importante no apoio ao Legado Cristão 2025. O evento
anual congrega educadores, pastores e lideranças de todo o Brasil e do exterior
para debater os desafios e oportunidades da educação cristã na
contemporaneidade. Além de fomentar o diálogo, o SIMEDUC também oferece
workshops e palestras com especialistas internacionais.
Em 2017, o SIMEDUC expandiu seus
horizontes para outras áreas de conhecimento: Educação Integral, Direito
& Organização, Educação Clássica, Empreendedorismo e Pós-Homeschool.
Interessante destacar que em 2021, o
SIMEDUC abordou o tema “Momschooling: O Chamado”, colocando em evidência
o papel vital DA MÃE na educação domiciliar, se aprofundando na VOCAÇÃO
MATERNA, celebrando a coragem das mulheres que, apesar das dificuldades e
desafios diários, escolheram se tornar as GUARDIÃS DO LAR.
Segundo o próprio site, o SIMEDUC não é
apenas um evento anual. Ele se consolidou como uma plataforma viva,
conectando pais, educadores e especialistas, promovendo a troca de
conhecimentos e experiências que fortalecem a educação domiciliar no
Brasil, atingindo mais de 8.000 famílias com mais de 600 horas de conteúdo
defendendo suas áreas.
Curiosamente, apesar de se apresentar como um “evento anual”, o SIMEDUC é uma empresa registrada que tem como atividade principal ATIVIDADES DE INTERMEDIAÇÃO E AGENCIAMENTO DE SERVIÇOS E NEGÓCIOS EM GERAL, EXCETO IMOBILIÁRIOS tendo como endereço um apartamento num condomínio de classe média alta em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro.
2) FAEDUSP - Famílias Educadoras do
Estado de São Paulo
A FAEDUSP se apresenta em seu próprio
site como “uma pessoa jurídica de direito privado constituída na forma de
associação civil sem fins lucrativos, que nasceu com o propósito primordial
de lutar e garantir o direito à educação domiciliar das famílias educadoras do
estado de São Paulo. Buscamos estratégias para divulgação, conscientização
e consolidação da educação domiciliar no Estado de São Paulo, atuando junto ao
poder público, sociedade civil e meios de comunicação”.
O que mais chama a atenção, no entanto, é que ao entrar na página da associação o post principal apresenta a seguinte pergunta: “Você já conhece o PNE 2024-2034?” seguido de uma apresentação escandalosamente mentirosa, repleta de fake news com a única intenção de causar terror psicológico e político nas famílias que acessam. Veja, por exemplo algumas das coisas que são ditas:
“ENTENDA O QUE
ACONTECERÁ SE ELE (PNE 2024-2034) FOR APROVADO NO CONGRESSO NACIONAL:
(Publicação da FAEDUSP)
Será
proibido:
as escolas
confessionais;
as escolas
cívico-militares;
o homeschooling;
avaliações dos
estudantes/ meritocracia;
menções
positivas ao agronegócio;
a liberdade de
escolha dos pais;
a autonomia dos
estados, municípios e diretores de escolas.
Serão
obrigados:
Serem
matriculados na escola a partir de zero anos de idade;
Serão afastados
da educação das famílias e passarão o dia inteiro sendo doutrinados pelo poder
público;
serão
submetidos à pauta de gênero desde tenra idade e durante toda a sua vida
acadêmica, permeando todas as disciplinas;
Os professores
receberão intensa capacitação para ensiná-los que a orientação sexual é fruto
de uma construção social e não mais da genética;
Serão
estimulados à iniciação precoce da sexualidade;
A uma escola
sem nenhum critério de qualidade acadêmica (avaliações, exames etc.).”
Estas e outras coisas são as pautas “de luta” da FAEDUSP.
3) Vereador Gilberto Nascimento
Está no 3º mandato como vereador na
cidade de São Paulo, pelo PL (partido de Bolsonaro). Na esfera política, o
vereador Gilberto Nascimento tem se destacado como um dos maiores defensores do
Legado Cristão 2025. Ele utiliza sua influência na Câmara Municipal para
propor projetos que incentivem a inclusão de princípios cristãos no currículo
escolar e defende iniciativas que promovam a liberdade de educação religiosa.
Em maio de 2024, a Câmara Municipal de São Paulo realizou o 1° Fórum de Líderes pelo Legado Cristão. O evento promovido pelo vereador Gilberto Nascimento Junior (PL), reuniu líderes que defendem, desenvolvem e buscam preservar o valor histórico, social e cultural do cristianismo na sociedade. Na ocasião, foram apresentadas práticas, novas ideias e discutidas formas de expandi-las, além de registrar os compromissos firmados no Congresso Legado Cristão.
Ameaça ao Estado Laico
O fundamentalismo religioso no
Brasil representa um grave perigo para a preservação do Estado laico,
princípio essencial para garantir a convivência democrática e a igualdade de
direitos entre todos os cidadãos, independentemente de crença ou ausência dela.
Quando grupos religiosos procuram impor seus valores e dogmas na
formulação de políticas públicas, corre-se o risco de marginalizar minorias
e limitar liberdades individuais.
Esse cenário pode levar a
retrocessos em questões como:
* direitos das mulheres,
* comunidade LGBTQIA+, e
* educação sexual, prejudicando o avanço
social e o respeito à diversidade.
Além disso, a mistura entre religião
e política compromete a imparcialidade do Estado, tornando-o um instrumento
de interesses específicos ao invés de um espaço que atenda a todas as pessoas
de forma igualitária.
A consolidação de um Estado laico é crucial para proteger a liberdade religiosa de todos, inclusive dos próprios grupos religiosos, ao impedir que uma única visão de mundo domine a sociedade. Manter o equilíbrio entre religião e política é essencial para preservar a pluralidade e garantir os direitos fundamentais da população brasileira.
Fonte: Revista Fórum – Brasil / Teologia do Domínio – Quarta-feira, 15 de janeiro de 2025 ─ Internet: clique aqui / Quinta-feira, 16 de janeiro de 2025 – Internet: clique aqui (Acesso em: 16/01/2025).
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