«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 29 de setembro de 2012

26º Domingo do Tempo Comum - Ano "B" - Homilia


Evangelho: Marcos 9,38-43.45.47-48

Naquele tempo, 
38 João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue”. 
39 Jesus disse: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. 
40 Quem não é contra nós é a nosso favor. 
41 Em verdade eu vos digo: quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. 
42 E, se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. 
43 Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. 
45 Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na Vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. 
47 Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, 
48 ‘onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga’”. 

José Antonio Pagola

NINGUÉM TEM A EXCLUSIVIDADE DE JESUS

A cena é surpreendente. Os discípulos se aproximam de Jesus com um problema. Desta vez, o porta-voz do grupo não é Pedro, mas João, um dos dois irmãos que estão buscando os primeiros lugares [no grupo de Jesus]. Agora pretende que o grupo de discípulos tenha a exclusividade de Jesus e o monopólio de sua ação libertadora.

Eles estão preocupados. Um exorcista, não integrado ao grupo, está expulsando demônios em nome de Jesus. Os discípulos não se alegram com o fato de que pessoas fiquem curadas e possam iniciar uma vida mais humana. Somente pensam no prestígio de seu próprio grupo. Por isso, trataram de cortar pela raiz a sua atuação. Esta é sua única razão: "não é dos nossos".

Os discípulos dão por suposto que, para atuar em nome de Jesus e com sua força curadora, é necessário ser membro de seu grupo. Ninguém pode apelar a Jesus e trabalhar por um mundo mais humano sem tomar parte da Igreja. É, realmente, assim? O que pensa Jesus?

As suas primeiras palavras são enfáticas: "Não o proibais". O Nome de Jesus e sua força humanizadora são mais importantes que o pequeno grupo de seus discípulos. É bom que a salvação que Jesus traz se estenda mais além da Igreja estabelecida e ajude as pessoas a viverem de maneira mais humana. Ninguém há de ver nisso uma concorrência desleal.

Jesus rompe toda tentação sectária em seus seguidores. Não constituiu seu grupo para controlar sua salvação messiânica. Não é rabino de uma escola fechada, mas Profeta de uma salvação aberta a todos. Sua Igreja há de apoiar seu Nome onde ele é invocado para fazer o bem.

Jesus não quer que, entre os seus seguidores, se fale dos que são "nossos" e dos  que não são, os de "dentro" e os de "fora", os que podem atuar em seu nome e os que não podem fazê-lo. Seu modo de ver as coisas é diferente: "Quem não é contra nós é a nosso favor".

Na sociedade moderna há muitos homens e mulheres que trabalham por um mundo mais justo e humano sem pertencer à Igreja.

A NOSSO FAVOR

Com frequência, não superamos uma mentalidade de casta privilegiada que nos impede apreciar todo o bem que se realiza em âmbitos distantes da fé.
Quase inconscientemente, tendemos a pensar que nós somos os únicos portadores da verdade, e que o Espírito de Deus só atua através de nós.

Uma falsa interpretação da mensagem de Jesus nos conduziu, às vezes, a identificar o reino de Deus com a Igreja. Segundo essa concepção, o reino de Deus se realiza dentro da Igreja, e cresceria e se estenderia na medida em que cresce e se estende a Igreja.

E, sem dúvida, não é assim. O reino de Deus se estende para além da instituição eclesial. Não cresce somente entre os cristãos, mas entre todos os homens de boa vontade que fazem crescer no mundo a fraternidade.
De acordo com Jesus, todo aquele que "expulsa demônios em seu nome" está evangelizando. Todo homem, grupo ou partido capaz de "expulsar demônios" de nossa sociedade e de colaborar na construção de um mundo melhor, está, de alguma maneira, abrindo caminho ao reino de Deus. 

É fácil que para nós, também, como aos discípulos, pareça-nos que não são dos nossos, porque não entram em nossas igrejas nem assistem aos nossos cultos. Sem dúvida, segundo Jesus, "Quem não é contra nós é a nosso favor".
Todos aqueles que, de algum modo, lutam pela causa do homem, estão conosco. "Secretamente, talvez, porém na realidade, não há um só combate pela justiça - por mais equivocado que seja seu fundamento político - que não esteja silenciosamente em relação com o reino de Deus, ainda que os cristãos não o queiram saber. Ali, onde se luta pelos humilhados, os esmagados, os fracos, os abandonados, onde se combate junto com Deus pelo seu reino, saiba-se ou não, ele o sabe".

Os cristãos deveriam valorizar, com alegria, todos os êxitos humanos grandes ou pequenos, e todos os triunfos  da justiça que se alcançam no campo político, econômico ou social, por efêmeros que nos possam parecer. 
Os políticos que lutam por uma sociedade mais justa, os jornalistas que se arriscam por defender a verdade e a liberdade, os trabalhadores que conseguem uma maior solidariedade, os educadores que se desdobram para educar para a responsabilidade; ainda que não pareçam sempre ser dos nossos, "estão a nosso favor" se esforçam por um mundo mais humano.

ESCÂNDALOS

Só se fala hoje do pecado de escândalo. Tradicionalmente, se via o "escândalo", sobretudo, na corrupção dos costumes, nas modas provocantes, nos espetáculos atrevidos ou tudo aquilo que turbava os hábitos sociais no campo do sexo.

Hoje, nos habituamos de tal modo à deterioração social, que o que "escandaliza" e ofende não é o estado da sociedade, mas as palavras daqueles que, como o Papa, denunciam a deterioração dos valores morais, o incremento do consumismo, o hedonismo, a permissividade sexual, a baixa da natalidade ou o aborto.

Primeiramente, é conveniente que recordemos que "escândalo", em seu sentido mais amplo e profundo, é tudo aquilo que conduz os outros a atuar à margem da própria consciência. Escandalizar não é tanto causar constrangimento ou confusão, quanto incitar a uma vida imoral. Neste sentido, ninguém pode negar que vivemos numa sociedade "escandalosa" na qual se estimula, inclusive, atuações pouco humanas.

A desigualdade econômica e social entre aqueles que vivem instalados na segurança e seu posto de trabalho bem retribuído e os que estão sendo deixados de fora de toda fonte digna de subsistência é hoje escandalosa porque está levando ao individualismo cego, à insolidariedade e à marginalização dos mais fracos.

Por outro lado, amplos setores do povo começam a "escandalizar-se" porque constatam que o nobre exercício da política se vai deteriorando de modo lamentável. Estratégias pouco transparentes, confrontos mesquinhos e negócios escusos, à margem do bem comum, estão levando a não poucos cidadãos ao desalento, à inibição e à desconfiança nas instituições públicas.

Além disso, a agressividade insana, as desqualificações destrutivas e a violência verbal entre os políticos são um "escândalo" para um  povo que necessita, urgentemente, de modelos públicos de diálogo construtivo, solidariedade e colaboração no bem comum.

Os cristãos deveriam, também, recordar-se da grave advertência de Jesus que nos coloca em estado de atenção diante do escândalo que pode conduzir à perda da fé. Essas palavras tão duras de Jesus: "... se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço", não se referem à "corrupção de menores", mas às incoerências, infidelidades e contradições com a quais podemos fazer que as pessoas simples percam a fé.

Escândalo vem do grego "skandalon" que significa "a pedra" com a qual se pode tropeçar. Escandaliza todo aquele que, com sua atuação, obstaculiza ou torna mais difícil a vida digna e humana dos outros.

Tradução de: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - 26 de setembro de 2012 - 08h42 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

VÍCIOS DA DEMOCRACIA [Imperdível - leia!]

Sylvia Miguel


Eleições podem estar funcionando como um incentivo à corrupção e à reafirmação dos grupos dominantes no poder, afirma cientista político

Indiferente do Estado ou cidade, as notícias sobre as eleições municipais deste ano mostram gastos de campanha aumentando exponencialmente. Foi assim também em 2010, quando se elegeram o presidente da República, governadores e vices, deputados e senadores. Se naquele ano o total angariado de doações de empresas e pessoas físicas alcançou a cifra de R$ 3,2 bilhões, há analistas apontando a soma de R$ 5,5 bilhões para as atuais campanhas municipais. “Trata-se de valores não declarados, oriundos de caixa 2 e que foram esquentados por doadores laranjas”, afirma o cientista político Carlos Joel Carvalho de Formiga Xavier, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA) e pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas (Nupps) da USP.

Há quem afirme que muitos realizam negócios privados durante as eleições, o que provavelmente explica a insistente candidatura de alguns nomes, independentemente do cargo em disputa. O que os números indicam é que a fórmula mágica para eleger políticos pode estar no valor gasto no pleito eleitoral, dado que as maiores cifras quase sempre correspondem às campanhas vitoriosas.

Diante de mecanismos políticos viciados, o voto e as eleições democráticas, em vez de promover a democracia, podem estar funcionando como um incentivo à corrupção e à reafirmação dos grupos dominantes no poder, diz Formiga.

Uma enquete feita com internautas do portal UOL mostra que o principal problema local apontado por eleitores é a corrupção. O levantamento é informal e não tem valor de amostragem científica, mas pode dar alguma medida do sentimento do eleitorado, especialmente num momento em que se julga o escândalo do mensalão. Mas, mesmo com a indignação revelada pela população, existe certa cumplicidade e tolerância dos cidadãos com a corrupção, opina Formiga.

“Há uma cesta de prioridades na hora do voto. A pessoa vota no candidato que prometeu uma ponte perto da sua casa ou que prometeu resolver problemas da economia, ou por alinhamento ideológico, ou, ainda, por ética na política. Se o eleitor não prioriza a ética, vai votar no candidato mesmo sabendo que ele é ou pode ser corrupto”, afirma Formiga.

Autor da dissertação de mestrado “A corrupção política e o caixa 2 de campanha no Brasil”, apresentada em 2011 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Formiga diz que, além de campanhas exorbitantes que perpetuam grupos no poder e da tolerância do eleitorado à corrupção, há um terceiro fator que alimenta o ciclo. “As instâncias que deveriam controlar e fiscalizar as contas de campanha, como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), não conseguem coibir o uso do caixa 2 nas eleições”, afirma.

A percepção das pessoas é que todos os políticos são iguais e, portanto, não enxergam alternativas viáveis: tanto faz um como outro, afirma o professor. “Mas é preciso encontrar vias para punir os corruptos. Para isso, o eleitor deve conhecer os fatos de corrupção, não ser tolerante com a corrupção e fazer um voto ético”, diz Formiga.

“O caixa 2 desfavorece a democracia porque distorce os resultados das eleições e acaba perpetuando o corrupto no poder. Fica cada vez mais difícil ao candidato se eleger de forma honesta. E o político acabará representante de um grupo e não da população”, afirma o professor.
Manifestantes lavam a Bandeira do Brasil durante a Marcha contra a Corrupção, em Brasília  - ano de 2011
(Marcello Casal/ABr)
Cultura – “Não acredito que a corrupção no Brasil seja algo cultural, nem irremediável. O grande problema é a impunidade”, diz Formiga.
Ao contrário, o professor Humberto Dantas, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da USP, acredita que a corrupção “está no DNA do brasileiro”. Mas poderia ser combatida a partir de instituições fortes. “Infelizmente temos uma Justiça que não pune; ao contrário, é o poder mais corrupto do Brasil. E a urna não vai resolver o problema da corrupção”, afirma Dantas.

A legitimidade do Judiciário como instância imparcial e honesta na resolução de conflitos tem sido questionada desde o início da década de 1980, mostra o relatório do primeiro trimestre de 2012 do Índice de Confiança na Justiça Brasileira – ICJBrasil. Realizado com base em amostra representativa da população, o indicador é produzido sistematicamente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

No segundo trimestre de 2010, o ICJBrasil mostrou o ranking de confiança nacional nas instituições. Partidos políticos, Câmaras de Vereadores e de Deputados, Senado, Assembleia Legislativa, empresários e Prefeituras alcançaram os piores índices de confiança. Forças Armadas, Igreja Católica e Polícia Federal lideram o índice de confiança do brasileiro.

Para Dantas, além da participação da sociedade civil organizada, a educação deveria cumprir seu papel social na formação de cidadãos conscientes. “O cidadão não conhece seus direitos e o pior é que a escola não está conseguindo cumprir seu papel social, entre eles o de formar cidadãos. Sociologia e filosofia ainda são penduricalhos no ensino médio. Começo inclusive a ter dúvidas se o cidadão mais escolarizado, no Brasil, é também mais politizado. Em pleno século 21, ainda discordamos da forma de educar cidadãos”, afirma o professor da Fipe.
Dr. Humberto Dantas - cientista político

Educação – A limitada escolaridade da população brasileira é largamente aceita como o principal obstáculo à democracia no País. Porém, a espetacular expansão do acesso ao ensino fundamental, médio e superior das últimas décadas não produziu o cidadão de comportamento político superior conforme era esperado por aquela parcela relevante do pensamento nacional. Na verdade, entre o final dos anos 1980 e meados da década de 2000, os retornos políticos da escolarização brasileira foram decrescentes, afirma Rogerio Schlegel, em sua tese de doutorado defendida em 2010 no Departamento de Ciência Política da FFLCH.

Por meio de surveys [trad.: pesquisas] nacionais realizadas em 1989, 1993, 2002 e 2006, Schlegel observou dimensões de participação, do apoio aos princípios democráticos e da confiança em instituições democráticas. Entre outras questões, o estudo conclui que um universitário em 1993 tinha uma chance 3,6 vezes maior de ser muito interessado em política em relação a alguém com o ensino fundamental incompleto. Em 2006, essa probabilidade caiu para 1,6, afirma Schlegel.

Portanto, em 1993, “a educação mostrou diferenciar o cidadão nesse item, pois, enquanto um em cada dois universitários disse ter muito interesse em política, apenas uma em cada cinco pessoas com ensino fundamental relatou a mesma atitude”, traz o autor, em artigo publicado na revista E-legis (http://elegisbr.com/cefor/index.php/e-legis), da Câmara dos Deputados.

O pesquisador atribui esses resultados à: 

  • qualidade deteriorada da educação
  • que se traduz em baixa capacitação cognitiva do estudante e menor capacidade crítica
  • Também considera os conteúdos curriculares falhos em estimular a educação para a cidadania
  • Mas há também a própria banalização dos títulos escolares. “Em 1950, um diploma de médico ou engenheiro conferia aos formados um lugar especial na sociedade, o que não ocorre atualmente, porque ter um título hoje é mais comum”, afirma.

Schlegel cita estudos conduzidos na Inglaterra e Estados Unidos mostrando ainda outro dado importante para formar cidadãos atuantes. “A gestão participativa na escola tem se mostrado fundamental na formação de cidadãos atentos à vida política. Ou seja, mais do que disciplinas, a vida política se aprende participando desde a escola”, afirma.
"Caras pintadas" - jovens em protestos políticos na época do Presidente Collor
“A escola não resolve tudo e não pode ser vista como panaceia para todos os problemas. Mas ela pode contribuir para a formação cidadã. Acredito que será menos o cidadão atomizado e mais os grupos de interesse, como sindicatos, associações e ONGs, que poderão exercer um papel importante na fiscalização contra a corrupção”, afirma Schlegel.

Desde 2009, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) calcula e publica indicadores de resultados sociais da educação, o que inclui o aumento do interesse por política. Os resultados descobertos nessa frente de exploração no Brasil evidenciam a necessidade de “monitorar de forma sistemática os resultados não econômicos da escolarização”, segundo Schlegel.

Instituições – O governo federal propôs e vem implementando nos últimos 15 anos um modelo de organização de Estado em rede, de forma a usar órgãos públicos não estatais para fomentar e implementar políticas públicas, visando ao pluralismo institucional. “Mas o aparato de controle do Estado não tem instrumentos para fiscalizar todas essas organizações. Portanto, a transparência e o controle social são fundamentais para coibir a corrupção”, afirma o professor Fernando de Souza Coelho, coordenador do curso de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

Se o Tribunal de Contas da União (TCU) não possui instrumentos nem especialistas capazes de avaliar esses organismos, cabe à sociedade civil organizada a competência de exercer o controle social das organizações públicas. “O controle externo tem limites. Como o TCU poderia avaliar 645 municípios do Estado de São Paulo e todos os seus processos? Daí o papel fundamental da sociedade civil organizada”, afirma Coelho.

Segundo o professor da EACH, o grande debate em gestão de políticas públicas diz respeito às formas de como migrar de um sistema de avaliação de processos – e isso inclui legalidade – e partir para a avaliação de resultados. Tomando como exemplo o Sistema Único de Saúde (SUS), o número de atendimentos nem sempre é sinal de resolutividade, diz.

Grande parte dos indicadores medem processos, ou seja, a eficiência a partir dos insumos e produtos que geram. Mas, para saber a efetividade dos serviços, seriam necessários indicadores de desempenho, mostrando o real impacto dos serviços no público-alvo, afirma. “Sem isso, podem estar gerando indicadores simplesmente para bater metas, sem que isso se traduza em benefício algum”, exemplifica Coelho.

Segundo o professor, a tríade da gestão pública se baseia em: 

  • transparência
  • acesso às informações
  • controle social
“Associações, ONGs e sindicatos possuem um papel real na melhoria da gestão e no combate à corrupção”, afirma.

Fonte: Jornal da USP - Online/Ano XVII - Nº 974 - De 24 a 30 de setembro de 2012 - Internet: http://espaber.uspnet.usp.br/jorusp/?p=25020

Nota da CNBB sobre as Eleições 2012

Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Em uma coletiva de Imprensa, ontem (27 de setembro), a Presidência da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) apresentou uma mensagem sobre as eleições municipais e realizou o lançamento da Campanha Missionária 2012, organizada pelas Pontifícias Obras Missionárias (POM), cujo tema é “Brasil missionário partilha a tua fé”.

Participaram da coletiva o Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis, presidente da CNBB; Dom José Belisário da Silva, vice-presidente; Dom Leonardo Steiner, secretário geral da Conferência; como também Dom Sérgio Braschi, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial; e Pe. Camilo Pauletti, presidente das Pontifícias Obras Missionárias.

Publicamos a seguir a nota na íntegra:

Eleições Municipais 2012 – Voto consciente e limpo

O Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília de 25 a 27 de setembro, considerando as eleições municipais do próximo mês de outubro, vem reforçar a importância desse momento para o fortalecimento da democracia brasileira. Estas eleições têm característica própria por desencadear um processo de maior participação em que os candidatos são mais próximos dos eleitores e também por debater questões que atingem de forma direta o cotidiano da vida do povo.

A Igreja louva e aprecia o trabalho de quantos se dedicam ao bem da nação e tomam sobre si o peso de tal cargo, em serviço de todas as pessoas (cf. GS 75). Saudamos, portanto, os candidatos e candidatas que, nesta ótica, apresentam seu nome para concorrer a um cargo eleitoral. Nascido da consciência e do desejo de servir com vistas à construção do bem comum, este gesto corrobora o verdadeiro sentido da atividade política.

Estimulamos os eleitores/as, inclusive os que não têm a obrigação de votar, a comparecerem às urnas no dia das eleições para aí depositar seu voto limpo. O voto, mais que um direito, é um dever do cidadão e expressa sua corresponsabilidade na construção de uma sociedade justa e igualitária. Todos os cidadãos se lembrem do direito e simultaneamente do dever que têm de fazer uso do seu voto livre em vista da promoção do bem comum (cf. GS 75).

A lei que combate a compra de votos (9840/1999) e a lei da Ficha Limpa (135/2010), ambas nascidas da mobilização popular, são instrumentos que têm mostrado sua eficácia na tarefa de impedir os corruptos de ocuparem cargos públicos. A esses instrumentos deve associar-se a consciência de cada eleitor tanto na hora de votar, escolhendo bem seu candidato, quanto na aplicação destas leis, denunciando candidatos, partidos, militantes cuja prática se enquadre no que elas prescrevem.

A vigilância por eleições limpas e transparentes é tarefa de todos, porém, têm especial responsabilidade instituições como a Justiça Eleitoral, nos níveis Federal, Estadual e Municipal, bem como o Ministério Público. Destas instâncias espera-se a plena aplicação das leis que combatem a corrupção eleitoral, fruto do anseio popular. O resgate da ética na política e o fim da corrupção eleitoral merecem nossa permanente atenção.

O político deve cumprir seu mandato, no Executivo ou no Legislativo, para todos, independente das opções ideológicas, partidárias ou qualquer outra legítima opção que cada eleitor possa fazer. Incentivamos a sociedade organizada e cada eleitor em particular, passadas as eleições, a acompanharem a gestão dos eleitos, mantendo o controle social sobre seus mandatos e cobrando deles o cumprimento das propostas apresentadas durante a campanha. Quanto mais se intensifica a participação popular na gestão pública, tanto mais se assegura a construção de uma sociedade democrática.

As eleições são uma festa da democracia que nasce da paixão política. O recurso à violência, que marca a campanha eleitoral em muitos municípios, é inadmissível: candidatos são adversários, não inimigos. A divisão, alimentada pelo ódio e pela vingança, contradiz o principio evangélico do amor ao próximo e do perdão, fere a dignidade humana e desrespeita as normas básicas da sadia convivência civil, que deve orientar toda militância política. Do contrário, como buscar o bem comum, princípio definidor da política?

A Deus elevemos nossas preces a fim de que as eleições reanimem a esperança do povo brasileiro  e que, candidatos e eleitores, juntos, sonhem um país melhor, humano e fraterno, com justiça social.

Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, abençoe nossa Pátria!

Brasília, 27 de setembro de 2012.

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB

Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís
Vice-presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB

Fonte: ZENIT.ORG - 28/09/2012 - Internet: http://www.zenit.org/article-31413?l=portuguese

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

"A escola é o lugar que atrasa o século 21"


Conhecendo tendências atuais em educação...

PORVIR

DAVID ALBURY
Não importa muito como ela seja chamada: educação 3.0, educação para o século 21, educação para a vida. Mas a verdade é que muitos educadores já perceberam que os sistemas educacionais precisarão se adaptar se quiserem formar alunos capazes de lidar com a quantidade de informação hoje acessível, hábeis em administrar problemas cada vez mais complexos e prontos para serem atuantes em um mercado que exige habilidades que não ensinadas nos livros. Cientes desse descompasso entre o que a escola oferece e o que o mundo exige, um grupo de especialistas decidiu formar o Gelp (Global Education Leaders’ Program) para discutir problemas reais de sistemas educacionais espalhados pelo mundo e suas possíveis soluções.

“Não há uma resposta única nem um só modelo a ser seguido”, diz David Albury, diretor de design e desenvolvimento do Gelp. O britânico, que foi conselheiro do primeiro-ministro para assuntos estratégicos entre 2002 e 2005, vem conversando com alunos e educadores e conhecendo modelos em todo o mundo. Diante do que tem visto, Albury encontra três tendências importantes para a educação do século 21: 

  • personalização
  • aprendizado baseado em projetos
  • avaliação por performance.

Escola sueca Kunskapsskolan
[1] A personalização, explica ele, não quer dizer necessariamente a adoção de plataformas educacionais on-line, mas a configuração do aprendizado para necessidades de cada aluno. “A tecnologia é parte essencial nesse processo, mas não é o processo”, afirma ele. Como exemplo de escola que desenvolve um ensino personalizado, Albury cita a escola sueca Kunskapsskolan, em que os alunos desenvolvem, com a ajuda de tutores, seus planos individuais de estudo adequado às suas paixões e afinidades, com metas claras, que podem ser acompanhadas ao longo do ano.

[2] O aprendizado baseado em projetos, afirma Albury, tem sido uma escolha que escolas ou grupos de escolas têm feito para desenvolver habilidades nos alunos de maneira menos “compartimentalizada”. Nessa abordagem, os alunos precisam desenvolver um projeto e, durante o processo, aprendem conceitos das mais diversas disciplinas, trabalham em equipe, tomam decisão. Apesar de ser uma tendência, diz o britânico, ele não conhece nenhum sistema público de ensino que use o formato em todas as suas escolas. “Não precisa ser adotado em sistemas inteiros. Isso pode acontecer de forma piloto”, afirma. “Não podemos esperar que os sistemas já comecem perfeitos. Leva tempo para acertar, as pessoas cometem erros.”

[3] Já sobre as avaliações por performance, afirma ele, surgem na tentativa de medir e reconhecer habilidades que os testes de múltipla escolha não conseguem. “Como é que eu avalio se um aluno é criativo? Ou se ele é bom em resolver problemas da vida real?”, pergunta Albury. Essa questão, que tem afligido líderes educacionais de todo o mundo, não está respondida, mas há algumas tentativas, diz o inglês, de usar colegas, família e comunidade na construção de novas formas de avaliar.

Outra realidade que tem se tornado cada vez mais clara é que processos educativos muito ricos têm ocorrido fora da escola. Albury conta que esteve em uma reunião com alunos canadenses de 13 anos. Um deles lhe disse: “Quando eu venho para a escola, eu sinto que eu estou sendo desempoderado. Fora da escola, eu tenho acesso a várias fontes de informação. Na escola, eu tenho um professor, um livro, talvez um computador”. Um colega dele concluiu: “A escola é o lugar que atrasa o século 21”.

Trazer a educação que ocorre fora da escola para dentro é um desafio a mais para os professores, que precisam remoldar a forma como lidam com o ofício. “É também uma questão de identidade dos professores.” Para tanto, a participação das universidades é fundamental. Nesse quesito, diz o especialista, a demografia do Brasil é mais favorável do que a de países europeus, onde há poucos professores se formando e muitos estão em atividade há muitos anos. “Mais difícil do que aprender é desaprender”, afirma Albury.

Equipe brasileira

Formado há quatro anos, o Gelp começou com quatro membros: Ontário (Canadá), Nova York (EUA), Vitória (Austrália) e Inglaterra. No ano passado, o Brasil passou a fazer parte do Gelp, que hoje já tem 13 membros, entre cidades, estados e países. Entre os representantes brasileiros estão a Secretaria Municipal do Rio e as estaduais de São Paulo, Goiás e Pernambuco. Os participantes se encontram duas vezes por ano e, virtualmente, compõem uma rede com atividades ao longo do ano. Em novembro, o Rio de Janeiro será anfitrião do segundo encontro de 2012.

Fonte: Sítio PORVIR - O Futuro se aprende - 25/09/2012 - Internet: http://porvir.org/porpensar/a-escola-e-lugar-atrasa-seculo-21/20120925

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Populistas e messiânicos: inimigos íntimos da civilização ocidental


Entrevista com Tzvetan Todorov

Fabio Gambaro
La Repubblica (Roma, Itália)
13-09-2012

O estudioso franco-búlgaro fala sobre seu último livro acerca dos problemas e os perigos internos das democracias contemporâneas
"O problema é quando se buscam soluções simples para problemas complexos vendendo milagres. O outro risco é querer impor o próprio modelo distorcendo a ideia de progresso".
Tzvetan Todorov
"Povo, liberdade e progresso são fundamentos da democracia, mas que, quando alimentam o populismo, o ultraliberalismo e o messianismo, podem se tornar uma ameaça para a própria democracia". Esse é o grito de alerta lançado por Tzvetan Todorov em seu novo livro,  Os Inimigos Íntimos da Democracia (Companhia das Letras, 2012): alternando perspectiva histórica e reflexão teórica, analisa minuciosamente os desvios e as contradições que correm o risco de minar por dentro o funcionamento do nosso sistema político.

O estudioso francês de origem búlgara parte da constatação de que, hoje, a democracia não corre mais o risco de ser posta novamente em discussão pelos seus tradicionais inimigos externos, a saber, o fascismo ou o comunismo. "Mesmo que depois do 11 de setembro haja quem tente transformar o Islã em um inimigo global de democracia, na realidade, para os sistemas democráticos, as ameaças externas não são mais um perigo real", explica Todorov. 

"Hoje, os verdadeiros perigos provêm de dentro da própria democracia, daqueles que eu chamei de 'inimigos íntimos', formas de perversão ou de distorção de alguns dos seus princípios básicos. O populismo, o ultraliberalismo ou o messianismo não são o contrário do que a democracia aspira, mas sim o resultado da desmedida de alguns elementos – povo, liberdade e progresso – que a constituem. Tal desmedida se tornou possível porque, especialmente no século XX, desapareceram as limitações recíprocas às quais esses elementos estavam submetidos".

Eis a entrevista.

Na forma clássica da democracia liberal, interesses coletivos e interesses individuais sempre devem se equilibrar?

Tzvetan Todorov: O liberalismo clássico, de Locke a Montesquieu, proclamou a liberdade dos indivíduos, mas sem nunca imaginá-la como uma liberdade ilimitada. Como lembrava Burke, a liberdade no espaço público sempre se torna um poder. Para os pensadores do liberalismo, todo poder sem limites é um perigo. Quem tem um poder tenta expandi-lo, e a tentação da tirania é inerente ao comportamento humano. Por conseguinte, para o bom funcionamento do Estado, os poderes devem ser limitados e contrabalançados reciprocamente. Só assim evita-se o risco de despotismo.

Esse equilíbrio seria o coração da democracia?

Tzvetan Todorov: Exatamente. A democracia não é caracterizada pelo domínio de um único princípio, mas sim pelo equilíbrio entre diversos princípios. Quando isso falta, corre-se o risco de desvios inquietantes. O caso mais evidente é o do ultraliberalismo, fruto de uma exasperação desmedida do justo princípio da liberdade.

A liberdade deve ser limitada?

Tzvetan Todorov: Desde sempre, as pessoas apresentam reivindicações de liberdade individual, mas também de pertencimento coletivo. Mas bem comum e bem individual nem sempre vão na mesma direção. A democracia, graças à sua natureza mista, se esforça para preservar ambos. No passado, as chamadas democracias populares – que eu conheci quando jovem na Bulgária –, em nome do interesse coletivo, não deixavam nenhuma liberdade para o indivíduo. Hoje, as democracias correm o risco contrário, ou seja, a tirania do indivíduo que, em nome de uma liberdade absoluta e desmedida, submete toda a vida social ao domínio de uma econômica regulada exclusivamente pelas leis do mercado. Nessa perspectiva, postula-se a ausência de todo controle da sociedade e da política sobre as forças individuais da economia. E às vezes se chega até ao neoliberalismo de Estado, que é uma monstruosa combinação em que a função do Estado se torna a de desmantelar o próprio Estado e de impedir qualquer controle da sociedade sobre as atividades dos indivíduos.

O primado do indivíduo recusa-se a levar em consideração o interesse coletivo?

Tzvetan Todorov: Sim, mas mesmo quando a sociedade tenta se ocupar do bem comum, a mundialização da economia muitas vezes elimina qualquer possibilidade de intervenção sua. Isso pode ser visto hoje na França, onde Hollande sofre para concretizar as promessas eleitorais, descobrindo que tem um margem de manobra muito limitada. Diante do poder da economia, o poder político se encontra impotente. E as democracias correm o risco de se transformar em oligarquias dirigidas pelos poucos que controlam o poder econômico.

O messianismo é o risco que a democracia corre quando, considerando-se superior, acha que deve intervir para impor aos outros seus próprio princípios. É isso?

Tzvetan Todorov: O messianismo político é uma forma de arrogância que se apossou das pessoas no tempo do Iluminismo, distorcendo a exigência do progresso. O colonialismo, com a sua pretensão de impor aos povos selvagens uma civilização considerada superior, nascia a partir dessa perspectiva. Mesmo a sociedade ideal do comunismo era uma espécie de messianismo. Hoje estamos em uma nova fase, caracterizada por guerras que pretendem levar o bem a outros povos. É uma atitude messiânica que lembra o período colonial. Como naquela época, acreditamos ingenuamente na superioridade da democracia, a ponto de considerarmos justo e legítimo impô-la também aos outros através de guerras assimétricas, cujas vítimas são sobretudo as populações civis. Tudo isso não faz nada mais do que enfraquecer a democracia.

Outro inimigo "íntimo" da democracia é o populismo...

Tzvetan Todorov: O populismo não se manifesta somente através da xenofobia e do racismo. De fato, ele está presente todas as vezes em que se pretende encontrar soluções simples para problemas complexos, propondo receitas milagrosas para a atenção distraída de quem não tem o tempo de aprofundar. O populismo pode ser tanto de direita quanto de esquerda, mas sempre propõe soluções imediatas que não levam em conta as consequências a longo prazo. O populismo prefere as simplificações e as generalizações, explora o medo e a insegurança, apela o povo, gerando um curto-circuito nas instituições. Mas a democracia não é uma assembleia permanente nem uma pesquisa contínua.

Certos comportamentos dos políticos não aprofundam o fosso que os separa da sociedade?

Tzvetan Todorov: Sempre foi assim, que o homem de poder não tem a mesma vida do homem comum. Ele esquece as críticas passadas para aproveitar a posição conquistada. Soma-se a isso o problema da "despersonalização" do poder. No passado, as formas de poder eram mais facilmente identificáveis, e assim era possível se voltar contra um adversário visível. Com a mundialização, o poder econômico se tornou um poder difuso, esquivo, impessoal. Não sabemos mais como agir, contra quem se revoltar. Sentimo-nos impotentes. O que explica uma certa desilusão com relação à democracia.

O senhor a compartilha?

Tzvetan Todorov: Estou convencido de que a democracia ainda tem a possibilidade de intervir ao menos em parte na realidade. Os partidos e seus programas não são todos iguais, e com o voto é possível determinar algumas escolhas coletivas no plano da economia e da sociedade.

Os cidadãos muitas vezes têm a impressão de contar mais através das iniciativas de base do que através dos rituais da democracia. O que o senhor pensa a respeito?

Tzvetan Todorov: A democracia talvez perdeu uma parte do seu poder de atração, mas através dos seus mecanismos ela ainda confere muito poder, mesmo que os resultados sejam menos visíveis do que no passado. Embora enfraquecido, o poder do Estado continua sendo importante. É um poder que deve ser exercido votando, controlando. A democracia não se esgota em uma única forma de participação. O sufrágio universal certamente é um princípio fundamental, mas é apenas um elemento entre muitos outros. É por isso que a multiplicação dos níveis de envolvimento na vida pública é um sinal da vitalidade da democracia.

Tradução do italiano por Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Segunda-feira, 24 de setembro de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/513870-populistas-e-messianicos-inimigos-intimos-da-civilizacao-ocidental-entrevista-com-tzvetan-todorov

Eleições Municipais 2012 - IMPORTANTE!


Frei Gilvander Luís Moreira 

Dia 7 de outubro de 2012 haverá o 1º turno de eleições municipais no Brasil.
Cientes de que devemos dedicar as nossas energias no fortalecimento da Política de empoderamento da luta dos pobres, precisamos também, durante o processo eleitoral - momento decisivo - contribuir para que os melhores, senão, os menos piores, candidatos sejam eleitos. Considerando que o marketing político e a propaganda ensurdecedora criam uma cortina de fumaça sobre a realidade cegando muita gente, vamos tecer algumas reflexões, abaixo, com o intuito de ajudar a discernir em quem devemos votar e para quê.

É hora de pensar e votar consciente, pois voto não tem preço, tem conseqüências! "Somos seres políticos", já dizia Aristóteles. Ingenuidade dizer: "Sou apolítico. Não gosto de política. Sou neutro." Todos nós fazemos Política o tempo todo. Política é como respiração. Sem respiração, morremos.
Política refere-se ao exercício de alguma forma de poder, como nos ensina Bertold Brecht em "O Analfabeto Político". A política, como vocação, é a mais nobre das atividades; como profissão, a mais vil

  • Urge resgatar a história do candidato. "Diga-me com quem andas...". 
  • Quem o financia? Fujam das candidaturas ricas, as que têm as maiores campanhas.
  • Fujam dos candidatos que pagam cabos eleitorais. Esses fazem política como negócio. Investem na campanha para lucrar depois com as benesses que ganharão do poder público. 
  • Importante observar quais as ações do(a) candidato(a) no passado e no presente
  • Urge olhar as ações dos partidos também
  • O(a) candidato(a) é candidato(a) porque quis ou aceitou se candidatar por insistência do povo organizado? Se o candidato(a) tem sede de poder, se teve a iniciativa de se candidatar, fuja dele(a)

Na sociedade neoliberal os interesses privados são "camuflados em princípios políticos, porque os investimentos privados dependem de uma proteção governamental." É injusto votar em quem governa para a classe dominante, beneficiando uma minoria, e pisando na maioria do povo, nos pobres. 

É imprescindível não apenas votar, mas acompanhar, de forma coletiva, as ações governamentais e os mandatos eletivos
São relevantes: 

  • as iniciativas populares
  • os referendos
  • os plebiscitos
  • a participação popular 
  • e a solicitação de audiências públicas para o debate de temas relevantes
  • Enfim, exercer também a democracia direta.

Próximo à maior festa judaico-cristã, a Páscoa, impulsionado por uma ira santa, Jesus chegou ao Templo de Jerusalém, lugar considerado o mais sagrado. Furioso, Jesus "fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e bois, destinados aos sacrifícios. Derramou pelo chão as moedas dos cambistas e virou suas mesas. Aos que vendiam pombas (eram os que diretamente negociavam com os mais pobres porque os pobres só conseguiam comprar pombos e não bois), ordenou: 'Tirem estas coisas daqui e não façam da casa do meu Pai uma casa de negócio." 

Como lobos em pele de cordeiros, há muitos "vendilhões do templo", em campanha, para comprar votos para depois de eleitos continuarem o processo de prostituição e idolatria reinante na sociedade, nas cidades, nos municípios. Assim como Jesus, movidos por uma ira santa, devemos impedir que esses falsários sejam eleitos

"Nunca se esqueça de que apenas os peixes mortos nadam a favor da  correnteza", alerta Malcolm Muggeridge. 

Enfim, votar em quem está comprometido, de fato, com a luta de libertação dos pobres. Eleger pessoas que de fato representem a luta do povo oprimido.

Belo Horizonte, MG, 24 de setembro de 2012.

Fonte: Sítio de Gilvander Moreira, Frei Carmelita - Segunda-feira, 24 de setembro de 2012 - 16h38 - Internet: http://www.gilvander.org.br/artigos/203-eleicoes-votar-em-quem-e-para-que

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Brasil, um país de solteiros


Pollyane Lima e Silva e Cecília Ritto

Pesquisa por Amostra de Domicílios (Pnad) mostra que 48,1% da população se declara solteira. Entre 2009 e 2011, 800 mil pessoas passaram a morar sozinhas
Rodolfo Fiorderize mudou de cidade a trabalho e foi morar sozinho (foto: Marcos Michael)
No Brasil, o time dos que se declaram solteiros supera o dos casados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011 do IBGE. A nova versão do estudo, realizado a cada dois anos, foi apresentada na manhã desta sexta-feira, e indica que há 48,1% de brasileiras e brasileiros solteiros na população com 15 anos de idade ou mais. Informaram ser casados 39,9% dos entrevistados. Se considerados os que se declararam divorciados/separados ou viúvos, o índice de pessoas fora de um relacionamento formal chega a 60,1%.

O dado indica principalmente um enfraquecimento da formalização de relacionamentos conjugais. Entre os solteiros podem estar, por exemplo, casais que têm relação estável, morando ou não no mesmo domicílio. Pela primeira vez, a Pnad buscou identificar, de forma independente, o estado civil declarado e a existência ou não de união estável. Dos 57,1% (85,5 milhões de pessoas) que vivem em união, 37,2% estão em um casamento civil e/ou religioso, e 19,8% apenas em união consensual. Deste último grupo, 76,6% se declaram solteiros, apesar de viverem com um parceiro.

Disseram não ter vida conjugal em 2011 42,9% da população, ou 64,3 milhões de pessoas a partir dos 15 anos.
A tendência de redução de relações formais é detectada simultaneamente ao crescimento dos lares com apenas um morador – detectada nos últimos anos nos Estados Unidos e na Europa. Do levantamento anterior, realizado em 2009, para o atual, 800.000 pessoas passaram a viver sozinhas em uma residência, totalizando 7,8 milhões de moradores individuais. Entre os domicílios, esse grupo foi o que apresentou o acréscimo mais acentuado. O movimento ajudou a rebaixar a densidade domiciliar total de país, que passou de 3,3 para 3,2 moradores por domicílio, em média. Regionalmente, o Centro-Oeste apresentou o maior porcentual de casas com apenas um morador, 13,8%, liderança que em 2009 pertencia ao Sudeste, com 13,1%.

O aumento de domicílios de apenas um morador aproxima o país de uma tendência global em nações desenvolvidas. A estatísticas oficiais do Reino Unido de 2011 indicam que, entre os britânicos, 7,7 milhões de pessoas que moram sozinhas - o que representa 29% do total de domicílios. Já nos Estados Unidos, um em cada quatro americanos moram sozinhos atualmente - e em Nova York esse é o tamanho de metade dos domicílios.
Alguns fatores convergem para o crescimento do número de brasileiros que optam ou são levados a morar sozinhos. O administrador paulista Rodolfo Fiorderize, de 23 anos, foi motivado pelo desafio do trabalho e a vontade de ter o próprio espaço. Em julho de 2011, ele pisou no Rio de Janeiro pela primeira vez, para permanecer por tempo indeterminado. Foi transferido de cidade para participar da fundação da equipe de governança corporativa de uma grande construtora. A mudança antecipou a vontade de morar sozinho que alimentava desde os 15 anos.

Os altos preços da zona sul carioca o empurraram para um apartamento de cerca de 30 metros quadrados, quarto e sala, no bairro do Flamengo, perto de onde trabalha. No espaço exíguo, a geladeira fica ao lado da máquina de lavar na sala, que é separada do quarto só por um biombo. “Precisei de muita criatividade”, conta ele, sobre a divisão do espaço. “A gente passa a controlar a higiene da casa, a exposição das coisas, a decidir se terá produto de limpeza e comida. É um benefício maior do que a liberdade. As pessoas tendem a falar de liberdade. Mas acho que a vantagem é mudar a visão de vida”, destaca Rodolfo.

O arquiteto carioca Antônio Gomes, de 27 anos, foi atrás de mais privacidade ao deixar a casa onde morava com os pais, o irmão, a avó e o cachorro para viver em um quarto e sala no bairro de Botafogo. “Tenho um horário diferente das pessoas ‘normais’. Gosto de ficar acordado trabalhando nos meus projetos de madrugada e de dormir na parte da manhã. É difícil conciliar isso quando se tem cinco pessoas morando em um mesmo apartamento”, diz. “E eu gosto que as coisas estejam arrumadas do meu jeito, que a geladeira tenha as coisas que eu escolhi, e de poder convidar quem eu quiser, a qualquer hora, sem medo de incomodar ninguém”.
Antônio Gomes: "Gosto que as coisas estejam arrumadas do meu jeito"
Imóveis - Antônio e Rodolfo seguem um padrão que vem sendo observado e captado por empresas de todo o mundo, pois integram um grupo de consumidores em expansão. O primeiro a sentir a necessidade de se adaptar foi o mercado imobiliário – termômetro mais imediato. Na cidade de São Paulo, esse perfil da população fez aumentar a proporção de apartamentos com menos dormitórios. Segundo o presidente do Sindicato de Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Claudio Bernardes, a venda de apartamentos de um quarto, com cerca de 40 metros quadrados, deu um salto de 2007 para 2011, passando de 1,4% para 17% do total de unidades lançadas. “As pessoas estão saindo antes de casa e se casando depois”, analisa Bernardes.

O produto acaba mudando quando a pessoa decide morar sozinha. Ela privilegia prédios que ofereçam facilidades, como:

  • uma academia de ginástica, 
  • um espaço gourmet no térreo para receber pessoas, 
  • uma lavanderia para suprir a falta de espaço no apartamento. 
  • Também procuram empreendimentos com centrais de serviços como o das camareiras e das faxineiras. 
São pessoas que trabalham o dia todo e precisam dessa infraestrutura”, explica Bernardes. Esse tipo de comprador - ou de quem aluga o apartamento - está principalmente na faixa dos 25 a 30 anos.

No Rio, o panorama é diferente por causa de uma lei municipal, de 1981, que proíbe a construção de apartamentos menores do que 50 metros quadrados. “Não há lançamento de quarto e sala, loft, kitnet há muitos anos. A área mínima estipulada na cidade já é grande para apenas um quarto”, afirma o vice-presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio (Ademi-RJ), Paulo Fabbriani. Portanto, enquanto em São Paulo o crescimento do número de solteiros morando sozinhos é bem atendido por novos empreendimentos, no Rio, para se manter na zona sul, o luxo tem de se deixado de lado. “São poucas unidades de um quarto em uma região altamente valorizada. Se lançar um quarto e sala hoje, no Rio ou em qualquer lugar, vai vender tudo em dois minutos.”

Eletrodomésticos – As configurações de conforto e decoração também se adaptam para um país com mais residências individuais. Entre as Pnads de 2009 e 2011, os bens duráveis que apresentaram percentual mais elevado de crescimento foram o microcomputador com acesso à internet (39,6%), seguido de microcomputador (29,5%) e celular (26,7%). Outro item com elevação expressiva – 20,3% no período – foi a máquina de lavar roupa, eletrodoméstico indispensável para um solteiro que vive sozinho e não quer perder tempo (nem tem jeito) lavando suas peças à mão.

A Whirlpool Latin America, dona das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid, procura se antecipar a esses movimentos demográficos. Pessoas que moram sozinhas, em apartamentos cada vez menores, muitas vezes com a cozinha integrada à sala, adicionam uma nova exigência aos produtos: design. “Os espaços pequenos antes eram mais fragmentados. A tendência agora é ficar cada vez mais aberto, no estilo loft. O design desse aparelho pode compor a decoração”, explica Mario Fioretti, gerente-geral de Design e Inovação da empresa.

“O padrão do ‘single’ é aquele que saiu de casa, extremamente urbano. Muitos deixaram o interior e foram para a capital paulista, têm boa renda, considerando o estágio da vida em que estão, e exigem conforto e praticidade”, descreve Fioretti. A linha Brastemp retrô, por exemplo, foi pensada para os apartamentos nos quais os eletrodomésticos fazem parte da decoração. Outro ponto importante para atender essa demanda é pensar que, apesar de morarem em locais pequenos, essas pessoas têm o costume de receber amigos. “São sozinhos só na nomenclatura. É um pessoal que se reúne constantemente, para fazer festa, assistir a jogos. O refrigerador, por exemplo, tem de atender o hábito de vida, não só a pessoa”, esclarece, ressaltando que o solteiro não é, necessariamente, solitário.

Fonte: VEJA.COM - 21/09/2012 - 10h33 - Internet: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/pnad-2011-brasil-um-pais-de-solteiros

País tem 3,5 milhões de crianças e adolescentes fora da escola, diz IBGE


Do G1, em São Paulo

Metade deste índice é composta por jovens de 15 a 17 anos. 
Apesar de alto, número mostra queda em relação à pesquisa anterior.

O Brasil tem mais de 3,5 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos fora da escola. Destes, metade corresponde a jovens de 15 a 17 anos. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011, divulgada nesta sexta-feira (21), e mostram uma queda em relação à pesquisa anterior, de 2009, quando foram registrados 3,7 milhões de crianças e adolescentes fora da escola.

O estudo investiga dados sobre população, migração, educação, emprego, família, domicílios e rendimento. Foram ouvidas 358.919 pessoas em 146.207 domicílios. Segundo o IBGE, a população residente em 2011 no país era de 195,2 milhões.
De acordo com a pesquisa, o país tinha em 2011 um total de 45,5 milhões pessoas de 4 a 17 anos, idade correspondente aos ciclos da pré-escola, ensino fundamental e ensino médio. Destas, 42 milhões estavam na escola, e 3,5 milhões estavam fora.
O percentual de jovens de 15 a 17 anos frequentando a escola em 2011 foi de 83,7% da população nesta faixa etária. Dos 10,5 milhões de jovens desta idade, 8,8 milhões estão na escola. Isso indica que o restante (16,3%), correspondente a 1,7 milhão de jovens desta idade, estão fora da escola. O número representa a metade do total de brasileiros de 4 a 17 anos fora da escola, que é de 3,5 milhões.

Na comparação com a pesquisa anterior, de 2009, houve uma queda no número de jovens de 15 a 17 anos na escola. Em 2009, a taxa de escolarização da população desta faixa etária foi de 85,2%, ou seja, 8,8 milhões de jovens estudando e 1,5 milhão fora da escola.
a taxa de escolarização das crianças de 6 a 14 anos de idade foi de 98,2% em 2011, um aumento de 0,6 ponto percentual em relação a 2009.

Na faixa etária de 4 e 5 anos, correspondente à pré-escola, o país tem 77,4% das crianças inseridas. Já na faixa etária de 6 a 14 anos, que correponde às idades do ciclo de ensino fundamental, a taxa é de 98,2%. A queda na faixa etária de 15 a 17 anos (83,7%) mostra já uma evasão dos jovens na idade esperada para os estudantes cursarem o ensino médio. O índice cai bruscamente na faixa etária seguinte, 18 a 24 anos (28,9%), que é a idade esperada para o jovem estar na faculdade.

Fonte: Portal G1 - Vestibular e Educação - 21/09/2012 - 10h02 - Atualizado em 21/09/2012 - 14h39 - Internet: http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2012/09/pais-tem-35-milhoes-de-criancas-e-adolescentes-fora-da-escola-diz-ibge.html
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IBGE: 83,2% dos universitários cursam faculdades privadas

CIRILO JUNIOR

As universidades particulares respondem pela maior parte das matrículas no ensino superior, mas perderam espaço, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atualmente, 83,2% dos estudantes do 3º grau estão inseridos em faculdades do setor privado. Em 2009, essa participação chegava a 86,7%, o que mostra que a rede pública ganhou espaço nesse segmento. Ao todo, 6,6 milhões de pessoas compunham o ensino superior em 2011.

Nos ensino fundamental e médio, a rede pública segue com amplo domínio. Na rede básica, os alunos matriculados em escolas comandadas pelos governos seguem respondendo por 87% do total de estudantes, mesmo patamar registrado em 2009.

Já no ensino médio, a rede pública ganhou participação. Se em 2009 era responsável pela instrução de 86,4% dos alunos, a mais recente avaliação do IBGE verificou que as escolas públicas matriculam 87,2% do total de estudantes que cursam da 5ª a 9ª séries.
Já no nível do maternal e jardim de infância, estavam situados 83,5% de um total de 4 milhões de alunos matriculados.

Ao todo, havia 53,8 milhões de estudantes em 2011, dos quais 78,4% eram responsabilidade da rede pública. Nas regiões Norte e Nordeste, essa proporção ultrapassou os 80%, enquanto as regiões Sudeste e Centro-Oeste tiveram participação de 75%.

Fonte: Portal TERRA - Educação - 21 de setembro de 2012 • 10h01 - Internet: http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI6168491-EI8266,00-IBGE+dos+universitarios+cursam+faculdades+privadas.html
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Crítica oportuna...

Dados da Pnad não representam a realidade da educação, diz especialista

Agência Brasil

PRISCILA CRUZ - Movimento Todos pela Educação
Apesar dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011, divulgada na última sexta-feira (21) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontarem pequenos avanços na área de educação, a melhoria é muito lenta para o patamar de qualidade em que o Brasil se encontra.

A opinião é da diretora-executiva do Movimento Todos pela Educação (MTE), Priscila Cruz, advogada que atua na defesa da educação de qualidade há 10 anos. Segundo ela, o critério usado pelo IBGE para definir analfabetismo não leva em conta o nível de proficiência dos alunos em leitura e escrita.
"Alfabetização é muito mais do que escolarização. 
O IBGE olha os jovens e adultos com mais de 15 anos, aqueles que têm quatro anos ou mais de escolaridade já é considerado alfabetizado. Mas como a gente tem uma qualidade de educação muito ruim no Brasil, o que acontece é que tem muita criança de 11, 12 anos, jovem que está no ensino médio com 15, 17 anos, que ainda é analfabeto. Infelizmente isso ainda é uma realidade no nosso país", explica Priscila.

Ela disse que uma das metas do MTE é que toda criança esteja plenamente alfabetizada aos 8 anos de idade, o que não ocorre atualmente. "A Prova ABC (uma parceria da ONG Todos pela Educação com o Instituto Paulo Montenegro, a Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) mostrou que, das crianças de 8 anos no Brasil, só metade é plenamente alfabetizada. É um dado bem diferente do IBGE. É diferente fazer a prova e testar ou perguntar quantos anos de estudo tem e ela ser considerada alfabetizada".

Priscila admite que houve avanços. Porém, eles ocorrem muito devagar. "A gente vem melhorando só que num ritmo muito lento. Se a gente tivesse num patamar mais alto, melhorar lentamente não seria tão ruim. A gente está num patamar muito baixo e melhorando muito lentamente, vai demorar muito pra gente conseguir garantir o direito de todos os alunos a ter educação de qualidade".

A diretora da ONG aponta que, apesar de 98,2% da população de 6 a 14 anos, correspondente ao ensino fundamental, estarem na escola, se for levado em conta desde a educação infantil até o ensino médio, o Brasil tem 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola. A situação é pior entre os adolescentes de 15 a 17 anos, que deveriam estar no ensino médio. Nessa faixa etária, a taxa de escolarização caiu de 85,2% em 2009 para 83,7% em 2011.

"O ensino médio vive uma crise de identidade: esses alunos não vêem sentido nesse ensino médio, acabam evadindo, saem antes do tempo de se formarem e a gente está perdendo esses jovens. São jovens que, na sociedade atual, século 21, sociedade do conhecimento, não concluíram nem o ensino médio, é ter aí um extermínio de jovens", alerta Priscila.

A diretora-executiva do Movimento Todos pela Educação lembra que existem experiências de outros países e também dentro do Brasil que apontam caminhos a serem seguidos para melhorar o desempenho dos alunos: 

  • "Acho que tem de investir em professor: eles são muito mais formados para serem teóricos da educação. 
  • Tem que ter um maior número de escolas em tempo integral
  • tem que ter avaliações que realmente ajudem os gestores a formularem suas políticas e incorporar a avaliação como ferramenta para avançar".

Fonte: Portal TERRA - Educação - 23 de setembro de 2012 • 16h42 • atualizado às 17h28 - Internet: http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI6174630-EI8266,00-Dados+da+Pnad+nao+representam+a+realidade+da+educacao+diz+especialista.html