«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 9 de setembro de 2012

Relações entre política e igreja voltam à tona com eleições municipais


Eduardo Maretti
Rede Brasil Atual
06-09-2012

Entre o direito ao credo e a violação do conceito de um Estado laico, caso do brasileiro, uma linha tênue que muitas vezes é rompida em prol de interesses pessoais

Na campanha eleitoral de 2012 em São Paulo, o candidato líder nas pesquisas de intenção de voto até o momento, Celso Russomanno (PRB), é conhecido por sua estreita ligação com o todo poderoso bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus

Em busca de votos, José Serra e Valdemiro Santiago, fundador e líder da Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD), celebraram um acordo, executado pelo prefeito Gilberto Kassab, suspendendo um projeto urbano (o prolongamento de uma rua em Santo Amaro, zona sul de São Paulo) para não atrapalhar a construção de um templo. Para tanto, o prefeito enviou um projeto de lei que a Câmara Municipal aprovou em primeira votação. O segundo turno, marcado para quarta passada, foi adiado pelo Legislativo municipal após forte pressão em torno do tema. 

José Serra com bíblia em culto evangélico
A interferência da religião na política, como mostram esses e outros exemplos, envolve todas as vertentes ideológicas, da direita à esquerda. Em sua campanha para vereador, o petista Arselino Tatto espalha panfletos pela cidade identificando-se como “um candidato cristão católico”. Em 2010, bispos financiaram a impressão de panfletos contra a candidatura de Dilma Rousseff (PT) por conta de uma falsa polêmica em torno do aborto. 

Ao inaugurar qualquer sessão na Câmara Municipal de São Paulo, o presidente da Mesa Diretora declara solenemente: “Está aberta a sessão com a proteção de Deus”. Em âmbito federal, a religiosidade tem impedido a discussão de temas cruciais pelo próprio Congresso Nacional, caso do Projeto de Lei 122/06 – que criminaliza a homofobia.

A situação é preocupante, considerando que o artigo 5º da Constituição brasileira é claro ao estabelecer que “todos são iguais perante a lei” e, no inciso VIII, determinar expressamente: “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”.

Arselino Tatto - candidato a vereador
O jornalista e sociólogo Venício A. de Lima entende que é preciso fazer uma reflexão. “É verdade que, no Brasil, o Estado é laico desde nossa primeira Constituição. Por outro lado, não se pode negar ou ignorar que a religião faz parte da vida das pessoas. As pessoas são religiosas, têm crenças.” Para ele, as coisas se complicam quando se mistura a religião com as coisas públicas. "O serviço público deve ser prestado a qualquer pessoa da mesma maneira, independentemente de sua crença", analisa Lima. “Agora, quando temos um Conselho de Comunicação no Congresso Nacional presidido por um bispo da Igreja Católica, aí temos um problema. Assim como há problema com TVs que são concessões públicas e são sublocadas por essa ou aquela doutrina. Ou se contemplam todas ou nenhuma”, defende o sociólogo. 

Entretanto, Lima considera que o uso de determinada religião em uma campanha eleitoral, com um candidato se dizendo adepto ou chamando os fiéis a votar nele, é problema do próprio candidato. “Cada um faz a chamada que achar melhor. Se sou adepto de um credo, é claro que quero que os fiéis votem em mim”, diz. “Mas é importante dizer: se ele for eleito, no exercício do mandato, não pode fazer distinção entre esta ou aquela crença”, acrescenta.

Em outubro de 2010, no auge da campanha eleitoral, o então candidato tucano à presidência, José Serra, atual postulante à prefeitura de São Paulo, disse em discurso para pastores da igreja Assembleia de Deus que se fosse presidente vetaria o PL 122/06 para garantir aos religiosos “o direito de pregar contra práticas homossexuais aos seus fiéis”.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Sexta-feira, 7 de setembro de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/513291-relacoes-entre-politica-e-igreja-voltam-a-tona-com-eleicoes-municipais-
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Com a presença de candidato, pastores pedem voto para Russomanno em culto

Felipe Frazão
Pastor Marcos Galdino, Celso Russomano, Luiz Flávio D’Urso e Renato Galdino, em culto no templo da Assembleia de Deus Ministério Santo Amaro (Foto: Marcelo Mora/G1)
Pastores da Assembleia de Deus Ministério em Santo Amaro pediram voto na noite de ontem para o candidato do PRB à Prefeitura, Celso Russomanno, durante um culto na igreja da zona sul paulistana. Até o número de Russomanno, que estava presente, foi citado. A legislação proíbe campanha dentro de templos religiosos - considerados bens públicos. A multa varia de R$ 2 mil a R$ 8 mil.

Conforme o Estado revelou ontem, a Assembleia de Deus Ministério em Santo Amaro estabeleceu uma meta a seus 500 pastores: cada um deve conseguir ao menos cem votos para Russomanno. A meta foi lembrada durante culto de ontem, uma comemoração do aniversário de 57 anos do presidente da igreja, pastor Marcos Galdino. O Ministério da Assembleia de Deus planeja distribuir 1,2 milhão de cartas em prol do candidato do PRB.

"Leve esse nome, Celso Russomanno, para mais 100 pessoas, para que possa assumir essa grande cidade de São Paulo. Me dê esse presente. Vamos apostar em mudança", disse Marcos Galdino. Ele também pediu que os fiéis dessem dez abraços em pessoas que estavam ao lado - enfatizando o número do candidato.

Convidado, o candidato subiu ao altar da Assembleia de Deus por volta das 20h30 ao lado de seu vice, Luiz Flávio D'Urso (PTB), do coordenador de campanha, deputado estadual Campos Machado (PTB) e do vereador e bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Atílio Francisco (PRB). Com pouco tempo no horário eleitoral de TV, Russomanno tem contado com o apoio de obreiros da Universal para conseguir votos nas ruas.

Russomanno e D'Urso tiveram a palavra. Pediram a bênção de Deus para suas famílias. "Nos últimos dias a gente tem sofrido muita pancada, talvez porque estamos bem nas pesquisas", disse Russomanno. "Queria pedir que nos uníssemos em oração para abençoar as nossas intenções, que são sinceras, reais, verdadeiras e poder dar o melhor de nós para uma causa maior", afirmou D'Urso.

Quando os convidados políticos desceram do altar, o pastor José Geraldo Eugênio afirmou: "O dia 7 de outubro está chegando, nas urnas então, vamos estar votando em nossos candidatos. Para prefeito, é o doutor Celso Russomanno, número 10. Amém, graças a Deus".

A cerimônia religiosa foi conduzida pelo filho do presidente do Ministério Santo Amaro, Renato Galdino. Ele aproveitou a ocasião para anunciar que estava saindo do PSDB e se filiando ao PRB de Russomanno. "A bíblia nos diz que quando o justo governa o povo se alegra. Nós estamos aqui alegres, porque sabemos que futuramente teremos pessoas sérias para apoiar as igrejas no Brasil e aqui em São Paulo. E quero desde já apresentar a vocês, meus irmãos, nosso amigo Celso Russomanno e o doutor D'Urso", disse. "Entendemos que Deus quer curar essa cidade. Estou me filiando ao PRB com a única visão de curar a cidade."

Ao pé do ouvido, o pastor recém-filiado despediu-se de Russomanno chamando-o de "chefe".

Questionados sobre o pedido de votos dentro da igreja, Russomanno, formado em Direito, e e D'Urso, presidente licenciado da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP), preferiram o silêncio. "Não tenho nada a declarar", repetiu inúmeras vezes Russomanno. "O apoio é extremamente importante. Todas as igrejas são bem-vindas nessa campanha. Todas. Estou muito feliz com o apoio de todas."

"Não vou falar nada. Não partiu da gente", emendou D'Urso.

Particular

Em nome do Ministério em Santo Amaro, o pastor Renato Galdino disse entender que a igreja é um bem particular e não recebe ajuda de governo. Por isso, na interpretação dele, não houve qualquer infração à lei.

"Pastor da igreja é pessoa física pode dar a opinião dele fora e dentro da igreja. A igreja é mantida com recursos próprios. Quando entrar R$ 1 do governo aqui, aí a gente não vai poder falar. Simplesmente não há crime eleitoral. Se tivesse dinheiro da Prefeitura aqui, aí seria crime eleitoral, porque teríamos usado a máquina pública. Essa é a brecha da lei", defendeu Renato Galdino - a igreja foi multada pela Prefeitura em agosto em R$ 10 mil por infringir a Lei Cidade Limpa.

Dr. Augusto Aras - jurista e advogado
O artigo 37 da Lei Eleitoral diz que templos são bens o públicos - "aqueles a que a população em geral tem acesso, ainda que de propriedade privada" - portanto não podem abrigar campanhas.

Professor de direito eleitoral da UnB, o advogado Augusto Aras afirmou que a prática é ilícita e que, se somada a outros fatos, pode culminar em abuso de poder. "O fato é ilícito eleitoral. Porque é proibida qualquer tipo de propaganda eleitoral, mesmo se ela acontecer em espaços privados. O espaço é público pelo seu acesso, que é livre", disse.

Duas outras alas da Assembleia de Deus apoiam outros candidatos nas eleições paulistanas. O Ministério do Belém, o maior do País, apoia José Serra (PSDB). O Ministério do Brás apoia Gabriel Chalita (PMDB).

COLABOROU RICARDO CHAPOLA.

Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Política - 08/09/2012 - 03h05 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,com-a-presenca-de-candidato-pastores--pedem-voto-para-russomanno-em-culto-,927561,0.htm
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Universal libera campanha de candidato em porta de templos

FERNANDO GALLO

Militantes e membros do PRB que disputam vaga de vereador vão distribuir folhetos de Russomanno aos fiéis da igreja

Marcos Pereira - Presidente do PRB
O coordenador da campanha de Celso Russomanno (PRB), Marcos Pereira, admitiu ontem pela primeira vez que a Igreja Universal do Reino de Deus apoia o candidato. Segundo ele, militantes que trabalham nas campanhas do PRB para vereador, além dos próprios candidatos à Câmara, distribuirão seus folhetos junto com os de Russomanno na porta dos templos da Universal.

"A igreja apoia (Russomanno) como apoia outros candidatos, permitindo que distribua o panfleto na porta", afirmou Pereira ao Estado. "O vereador vai dar o folhetinho dele com a imagem do Celso. É só isso", completou,

Embora a campanha de Russomanno tente desvinculá-lo da Universal, não apenas os coordenadores da candidatura são ligados à igreja, como todos os principais líderes do PRB são bispos ou pastores licenciados.

Sete dos nove deputados do partido na Câmara são da Universal, bem como o único senador da legenda, bispo Eduardo Lopes (PRB-RJ). O ministro da Pesca, bispo Marcelo Crivella, além de integrante da Universal, é sobrinho de Edir Macedo.

Em São Paulo, os dois deputados do PRB na Assembleia Legislativa - Gilmaci Santos e Sebastião Santos - são pastores da igreja. O único vereador que a legenda atualmente tem na Câmara Municipal, Atílio Francisco, é bispo.

Também são da igreja todos os principais membros da Executiva Nacional do partido, como o presidente do Conselho Político, deputado Antonio Bulhões, que apresentava o programa Fala que Eu Te Escuto na TV Record.

Outros candidatos têm tentado obter apoios dos evangélicos e católicos. José Serra (PSDB) já foi abençoado na Igreja Mundial, participou de show da igreja Renascer e esteve em missa celebrada pelo padre católico Marcelo Rossi, que ontem recebeu o peemedebista Gabriel Chalita.

Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Política - 07/09/2012 - 03h04 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,universal-libera-campanha-de-candidato-em-porta-de-templos-,927108,0.htm
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Usos e abusos das igrejas em época de eleição

Rudá Ricci
Rudá Ricci - sociólogo
A Folha de São Paulo tem uma linha editorial peculiar em ano eleitoral. Assim que um candidato aparece à frente nas pesquisas de intenção de voto, começa a listar todas mazelas do infeliz. A sequência, não a notícia, é que é peculiar porque dá sensação de independência jornalística, assim como destila uma espécie de ceticismo (tipicamente liberal) a respeito da política. Há quem diga que não é exatamente assim com todos candidatos. Meu objetivo, contudo, não é avaliar os vínculos políticos da Folha. Minha questão é que Russomanno virou a bola da vez.

A Folha vem se dedicando a indicar o uso das igrejas evangélicas pelo candidato do partido evangélico. Haddad pegou a onda e sugeriu o risco do fundamentalismo religioso em um país que já se definiu pelo Estado laico.

Haddad não está desprovido de razão, mas entra num terreno pantanoso, além de se aproximar da falta de jogo de cintura do Marechal Lott, quando candidato a Presidente da República, que em encontro com evangélicos se declarava católico, assim como em encontro com sindicalistas dizia que acabaria com a farra das greves. Uma certa incontinência verbal que desconcertava os assessores diretos.

O problema é que desconsiderar a religiosidade brasileira em termos de organização social e política é o primeiro passo para abandonar o Paraíso. Este tema, inclusive, é caro à esquerda e já foi analisado por Gramsci, quando da identificação da construção da utopia socialista na Itália.

Os brasileiros são místicos. Muitas vezes, cultivam uma religiosidade instrumental e se aproximam da auto-ajuda, mas não há como desconhecer o caldo de cultura que a fusão da religiosidade portuguesa com a mitologia africana e indígena sedimentou na alma dos moradores desta terra. A religiosidade brasileira está mais para "Queijos e Vermes", que absorve causos, fragmentos teológicos, sentimentos e desejos, mitos e rituais, aproximando festa de veneração. Jesus, para muitos brasileiros, está mais para o menino na manjedoura, que merece afago e proteção, que para Cristo crucificado. Mesmo quando a imagem é o da crucificação, ainda assim desperta sentimento maternal. A velha intimidade que embala a religiosidade brasileira.

Não se trata, neste caso, de colocar em risco o Estado laico. Ao menos, no que tange a religiosidade brasileira que não vincula poder com sua fé. São as igrejas, e não todas, que fazem tal articulação.

Ora, que a Folha tente vender jornal para seus leitores (o Datafolha revela, de tempos em tempos, o que pensam seus leitores) é até compreensível. Mas que os candidatos explorem este tema, procurando atingir a subida de Russomanno, me parece miopia. Porque o correto seria dialogar com o espírito maternal, de compaixão, que envolve a religiosidade tupiniquim. Obviamente que em tempos de ascensão do consumo de massas, há exploração do sucesso pessoal por vários líderes religiosos. Mas aí, a questão não é exatamente de oposição às igrejas ou à religiosidade, mas de diálogo com as motivações da fé. Em outras palavras, trata-se (mais uma vez, Gramsci) de construção de um discurso hegemônico.

Enfim, continuo achando Haddad muito acadêmico, um certo academicismo europeu. Na Europa, o cristianismo (me ensinava um bispo amigo) é marcada pelo sofrimento, pelo temor à Deus, pelo ar taciturno. No Brasil, o cristianismo popular é solar, místico, marcado pela ressurreição (o renascer diário dos brasileiros, para quem o Paraíso é destinado aos pobres).

Se é fato que alguns líderes religiosos se aproximam em muito do esboço de um Estado fundamentalista (que seria o fim da liberdade religiosa), este discurso é estranho à religiosidade brasileira. Neste caso, Folha e Haddad, mesmo não querendo, fazem o jogo daquilo que combatem.

Fonte: "De esquerda em esquerda" - Blog - 09/09/2012 - 08h12 - Internet: http://rudaricci.blogspot.com.br/



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