«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O papiro que fala da “esposa” de Jesus

Andrea Tornielli
Vatican Insider
19-09-2012
Dra. Karen King - apresenta o fragmento de papiro sobre a "mulher" de Jesus
Um fragmento de papiro, escrito no dialeto copta saídico típico do baixo Egito e que até agora era desconhecido, abriu novamente o debate sobre a possibilidade de que Jesus tivesse sido casado. A professora Karen King, da Harvard Divinity School, durante um congresso em Roma apresentou o papiro no qual se pode ler: “E Jesus lhes disse: ‘minha esposa...”. Trata-se da primeira e única documentação em que se fala de uma “esposa” de Jesus e a notícia foi difundida pelo The New York Times.

Em seu estudo, que será publicado em janeiro de 2013 na revista teológica de Harvard, a historiadora King afirma prudentemente que não pode dar um veredicto definitivo; tudo leva a pensar que o fragmento é autêntico. Diferentes especialistas excluem até mesmo a possibilidade de se tratar de um texto acrescentado a um fragmento de papiro antigo. O fragmento é pequeno, mede 4 por 8 centímetros e é possível ler apenas alguns fragmentos de frases.

A professora King afirmou: “Este papiro não prova, obviamente, que Jesus foi casado, mas destaca que a questão de seu eventual matrimônio e de sua sexualidade foi discutida em debates quentes”. Deduz-se das características da grafia que o papiro foi escrito durante a segunda metade do século IV. Por essa razão, é possível pensar em uma relação entre este texto e outros contemporâneos, conhecidos também como o Evangelho de Tomé ou de Maria Madalena. Textos que, além disso, nasceram em um ambiente gnóstico.


Ludovico Antonio Muratori (1672-1750)
Como se sabe, a Igreja reconhece como autênticos apenas os Evangelhos “canônicos”: são aqueles que se atribuem aos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João. Estes textos podem ser datados como do primeiro século: no caso dos de Mateus e João trata-se de dois apóstolos, ao passo que Marcos e Lucas eram seguidores dos apóstolos Pedro e Paulo. Embora geralmente se pense que o reconhecimento dos Evangelhos canônicos e o consequente rechaço dos outros, definidos como “apócrifos”, se deve a uma imposição das autoridades eclesiásticas, a realidade é bem diferente. Os Evangelhos canônicos eram, de fato, os mais difundidos desde o início nas comunidades cristãs, que reconheciam sua origem apostólica e, por conseguinte, um vínculo com as testemunhas oculares da vida de Jesus. Os Evangelhos canônicos, pois, já eram o que são muito antes de serem definidos como tais. Um fragmento descoberto na Biblioteca Vaticana por Ludovico Muratori indica que desde a Roma do ano 157 se lia e se venerava esses mesmos quatro Evangelhos.

A palavra “apócrifo”, usada para indicar os Evangelhos não reconhecidos pela Igreja, é grega e significa “oculto”: durante o século II circulavam alguns escritos que se difundiam nos círculos gnósticos cristãos e que eram definidos dessa forma. São textos mais tardios, mediante os quais se tratou de reconstruir algumas partes da biografia do Nazareno ou de interpretar seu pensamento. Geralmente, enquanto os textos canônicos são diretos, contam o essencial, são pouco indulgentes com o milagrismo, os apócrifos estão cheios de elementos milagrosos e sensacionalistas. E em alguns casos, inclusive, são a expressão das tendências do movimento filosófico-religioso do gnosticismo, que acreditava na dualidade radical, em uma diferença abismal entre Deus e a realidade material.

O maior especialista italiano nestes textos, Luigi Moraldi, escreveu: “Os Evangelhos gnósticos são meditações sobre Jesus, sobre sua mensagem, sobre as reações que suscita em cada crente, sobretudo se for intelectual... Não são compêndios de dados biográficos sobre Jesus. Pressupõem nos leitores um conhecimento preciso tanto do anúncio cristão como dos primeiros desenvolvimentos e dos primeiros aprofundamentos”. O fragmento apenas apresentado teve sua origem em um ambiente copta, como outros textos gnósticos.
Papiro em dialeto copta saídico encontrado no baixo Egito
Por que a Igreja defende que Jesus nunca se casou? Os Evangelhos canônicos apresentam o Nazareno como celibatário. Embora tivesse escolhido personagens femininas em sua pregação e em suas parábolas, e embora tivesse um grupo de mulheres que o seguiam constantemente, nenhuma das mulheres citadas nos Evangelhos canônicos é apresentada como sua esposa. De qualquer maneira, os autores dos Evangelhos canônicos não descrevem a condição do celibato como superior em relação ao matrimônio. Pedro estava casado (o Evangelho fala da cura de sua sogra), assim como outros dos primeiros discípulos. Se Jesus tivesse estado casado, afirmam muitos biblistas e especialistas, os Evangelhos, simplesmente, o teriam escrito.

Uma das objeções que se ouve contra o celibato de Jesus tem a ver com o fato de que os mestres religiosos do mundo judaico se casavam. Mas nem sequer há 2000 anos eram raras as exceções à regra do matrimônio, como indica, por exemplo, a comunidade dos essênios, que vivia em Qumrã e era formada por celibatários.

Tradução do Cepat.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Sexta-feira, 21 de setembro de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/513771-o-papiro-que-fala-da-esposa-de-jesus
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Para Vaticano, papiro "não muda nada"

JOSÉ MARIA MAYRINK

Fragmento que diz que Jesus Cristo era casado gerou ceticismo na Igreja e novas hipóteses

Dra. Karen King mostra o papiro encontrado
O Vaticano demonstrou ceticismo a respeito da possibilidade de Jesus Cristo ter sido casado, hipótese levantada mais uma vez após ser revelado anteontem em Roma um fragmento aparentemente autêntico de papiro do século 4.º no qual Jesus menciona a frase "minha mulher".

"Não se sabe de onde veio esse pedacinho de pergaminho", disse ontem o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi. "Mas isso não muda em absoluto a posição da Igreja, que se baseia em uma imensa tradição, muito clara e unânime. Não muda nada a visão de Cristo e dos evangelhos. Esse acontecimento não tem influência alguma sobre a doutrina católica", reiterou.

O fragmento em questão foi revelado pela historiadora Karen King, da Universidade Harvard, que o recebeu em dezembro de um colecionador americano que permanece no anonimato. Após meses de análise e consultas a especialistas em papiros e no idioma copta - surgido no Egito antigo -, acredita-se que o documento seja genuíno. Mas, como lembra Karen, não se trata de uma prova de que Jesus teria sido casado.

Dúvida 
Mesmo assim, há quem duvide da autenticidade do papiro, como Giovanni Maria Vian, também historiador e diretor do jornal do Vaticano, o Osservatore Romano. "Na tradição da Igreja não se conhece nenhuma menção a uma mulher de Jesus", disse. Para ele, pode ser um fragmento de um evangelho apócrifo de inspiração gnóstica.

Maria Madalena - pintura de El Greco
Mesma opinião tem o franciscano frei Jacir de Freitas Faria, autor de seis livros sobre os evangelhos apócrifos e professor de Exegese Bíblica e Hermenêutica de Textos Antigos, no Instituto Santo Tomás de Aquino, em Belo Horizonte. "Parece que estamos diante de um texto gnóstico cristão, na linha de documentos anteriores gnósticos, corrente de pensamento que acreditava na salvação pelo conhecimento", afirma frei Jacir.

Para ele, pode ser um pedaço perdido do evangelho apócrifo de Maria Madalena, do ano 150, do qual faltam seis páginas. Documentos mais antigos, também de origem egípcia e escritos em língua copta, já apresentavam Maria Madalena como companheira de Jesus. O apócrifo Perguntas de Maria admite que Madalena era amante, parceira sexual ou esposa carnal de Jesus.

"A Maria Madalena desses textos, mulher que exerceu forte liderança entre os apóstolos, sendo a discípula amada de Jesus, não é a prostituta com quem foi identificada, no século 6.º, por São Gregório Magno", lembra frei Jacir.

Mas a própria Karen King afirmou ontem que, se Jesus foi mesmo casado, dificilmente teria sido com Maria Madalena. Isso porque as mulheres daquele tempo eram quase sempre identificadas por sua relação com um homem, enquanto Maria é sempre identificada pela sua aldeia natal, Magdala.

Debate
Para o teólogo brasileiro, saber se Cristo se casou continua sendo questão aberta e controversa por suas implicações. "A descoberta desse papiro mantém em pauta o celibato do clero e a liderança apostólica da mulher, que foi proibida de ensinar, exorcizar, batizar, distribuir a eucaristia na Igreja e receber a ordenação sacerdotal."

Admitindo-se que Jesus tenha sido casado e tido filho, outra questão embaraçosa se apresenta. Se Cristo era ao mesmo tempo Deus e homem, seu filho também não teria de ter natureza divina e humana? Frei Jacir diz que sim e imagina a confusão que essa questão provocaria, "pois seria como se tudo estivesse começando de novo". 

Assista ao vídeo da Euronews sobre este assunto, acessando:

Fonte: ESTADÃO.COM.BR - 20 de setembro de 2012 - 03h08 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,para-vaticano-papiro-nao--muda-nada-,933146,0.htm

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