25º Domingo do Tempo Comum - Ano "B" - Homilia


Evangelho: Marcos 9,30-37

Naquele tempo, 
30 Jesus e seus discípulos atravessavam a Galileia. Ele não queria que ninguém soubesse disso, 
31 pois estava ensinando a seus discípulos. E dizia-lhes: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará. 
32 Os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar. 
33 Eles chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: “O que discutíeis pelo caminho?”
34 Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior. 
35 Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!”
36 Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles e, abraçando-a, disse: 
37 “Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”. 

José Antonio Pagola
POR QUE O ESQUECEMOS?

A caminho para Jerusalém, Jesus continua instruindo os seus discípulos sobre o final que o espera. Insiste, mais uma vez, que será entregue aos homens e estes o matarão, porém Deus o ressuscitará. Marcos diz que "não compreendiam e tinham medo de perguntar". Por essas palavras, percebe-se a pobreza dos cristãos de todos os tempos. Não compreendemos Jesus e nos dá medo aprofundar em sua mensagem.

Ao chegar em Cafarnaum, Jesus lhes pergunta: “O que discutíeis pelo caminho?”. Os discípulos se calam. Estão envergonhados. Marcos nos diz que, pelo caminho, haviam discutido sobre quem era o mais importante. Certamente, é vergonhoso ver o Crucificado acompanhado de perto por um grupo de discípulos cheios de estúpidas ambições. O que discutimos, hoje, na Igreja, enquanto dizemos seguir Jesus?

Uma vez em casa, Jesus se dispõe a ensinar-lhes. Eles necessitam disso! Estas são as suas primeiras palavras: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!”. No grupo que segue Jesus, aquele que quiser se sobressair e ser mais que os demais, deverá se colocar por último, atrás de todos; assim poderá ver o que necessitam e poderá servir a todos.

A verdadeira grandeza consiste em servir. Para Jesus, o primeiro não é quem ocupa um cargo de importância, mas quem vive servindo aos demais. Os primeiros na Igreja não são os líderes (a hierarquia), mas essas pessoas simples que vivem ajudando a quem encontram pelo caminho. Não podemos esquecer disso.

Para Jesus, sua Igreja deveria ser um espaço onde todos pensam nos demais. Uma comunidade onde estamos atentos a quem possa necessitar de nós. Não é um sonho de Jesus. Para ele, isso é tão importante que lhes oferecerá um exemplo prático.
Antes de mais nada, aproxima uma criança e a coloca no meio de todos para que fixem nela sua atenção. No centro da Igreja apostólica deve estar sempre essa criança, símbolo das pessoas fracas e desvalidas, aqueles que necessitam de apoio, defesa e acolhida. Não podem estar fora, junto à porta. Devem ocupar o centro de nossa atenção.

Em seguida, Jesus abraça a criança. Quer que os discípulos se recordem dele sempre assim. Identificado com os fracos. Enquanto isso, lhes diz: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”.
O ensinamento de Jesus é claro: o caminho para acolher Deus é acolher o seu Filho presente nos pequenos, nos indefesos, nos pobres e desvalidos. Por que será que, tantas vezes, esquecemos disso?
SOBRE O QUE NÓS DISCUTIMOS?

Segundo o relato de Marcos, por três vezes Jesus insiste, a caminho de Jerusalém, no destino que o aguarda. Sua entrega ao projeto de Deus não terminará no êxito triunfal que imaginam seus discípulos. Ao final haverá "ressurreição", porém, ainda que pareça incrível, Jesus "será crucificado". Seus seguidores devem sabê-lo.

Os discípulos não entendem isso. Dá-lhes medo até perguntar sobre isso a Jesus. Eles continuam pensando que Jesus lhes trará glória, poder e prestígio. Não pensam em outra coisa. Ao chegar em sua casa de Cafarnaum, Jesus lhes faz uma só pergunta: “O que discutíeis pelo caminho?”, sobre o que falaram atrás dele, nessa conversa da qual Jesus esteve ausente?

Os discípulos guardam silêncio. Dá-lhes vergonha dizer-lhe a verdade. Enquanto Jesus lhes fala de entrega e fidelidade, eles estão pensando em quem será o mais importante. Não creem na igualdade e na fraternidade que Jesus busca. Na realidade, o que lhes move é a ambição e a vaidade: ser superiores aos demais.

De costas para Jesus e sem que seu Espírito esteja muito presente, não continuamos discutindo coisas parecidas?: 

  • a Igreja tem de renunciar a privilégios multisseculares ou deve buscar "poder social"?; 
  • a quais congregações e movimentos deve-se dar importância e quais se deve deixar de lado?; 
  • que teólogos merecem a honra de ser considerados "ortodoxos" e quais haverão de ser silenciados como marginais?; 
  • somente os homens deverão ter acesso ao sacerdócio ou também as mulheres?

Diante do silêncio de seus discípulos, Jesus se senta e os chama. Tem grande interesse em ser escutado. Aquilo que irá dizer não deve ser esquecido: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!”. Em seu movimento, não se deve olhar tanto aos que ocupam os primeiros lugares e têm nome, títulos e honras. Importantes são os que, sem pensar muito em seu nome, prestígio ou tranquilidade pessoal, se dedicam sem ambições e com total liberdade a servir, colaborar e contribuir para o projeto de Jesus

Não podemos nos esquecer que: o importante não é ficar bem, mas fazer o bem.

Tradução de: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - 19 de setembro de 2012 - 13h15 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

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