«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Martini e Ratzinger: um encontro sobre o futuro da Igreja


Aldo Maria Valli
Jornal "Europa"
30.05.2012

Papa Bento XVI e Card. Carlo Maria Martini
Entre as tantas pessoas que, entre sexta-feira e domingo, apertarão a mão do papa por ocasião da sua visita a Milão para o Encontro Mundial das Famílias, haverá também um idoso doente, que se move com dificuldade, auxiliando-se com uma bengala e que fala com um fio de voz. Seu nome é Carlo Maria Martini*.


O encontro está agendado para sábado à tarde, no palácio arquiepiscopal de Milão, onde Martini viveu por 22 anos, de 1980 a 2002. Foi o próprio Martini que pediu para ver Bento XVI.


E esse é o seu segundo pedido desde que está aposentado. Ele já o havia feito nas semanas precedentes à mudança de guarda entre Tettamanzi e Scola na cátedra de Santo Ambrósio, quando ainda não era certo que o novo arcebispo seria o patriarca de Veneza.


Daquela vez, disse-se que Martini queria discutir com Bento XVI acerca do perfil do sucessor de Tettamanzi, mas não foi assim.


Martini pediu uma audiência porque queria expressar as suas preocupações acerca do estado de saúde da Igreja. E se, agora, pela segunda vez, o arcebispo emérito de Milão voltou a bater na porta do papa, o motivo não mudou.


Ninguém poderia imaginar que o encontro entre Martini e o papa em Milão ocorreria enquanto uma tempestade sem precedentes enfurecia os sacros palácios vaticanos, e o mordomo de sua santidade se encontra na prisão sob a acusação de ter roubado documentos do apartamento papal. Mas a circunstância torna o encontro ainda mais rico de significado.


Martini, como já fez nas colunas do Corriere della Sera [jornal de Milão, Itália], expressará a Bento XVI solidariedade e estima, enquanto o sucessor de Pedro é submetido a uma prova tão dolorosa, mas também lhe pedirá para não ter medo de proceder com decisão no tratamento. "Que a Igreja perca o dinheiro – escreveu Martini – mas que não perca a si mesma. Porque o que aconteceu pode nos aproximar do Evangelho e ensinar a Igreja a não apontar para os tesouros da terra".


O encontro ocorrerá de forma privada, sem o contorno das câmeras.


E será só um parêntese entre os muitos compromissos de Bento XVI durante os três dias ambrosianos. Mas é difícil não atribuir ao face a face entre esses dois homens de 85 anos um quê de dramático.


Ratzinger e Martini interpretaram e continuam interpretando dois modos diferentes de amar a Igreja e agora ambos se encontram, na última parte de sua vida, à cabeceira dessa esposa doente e ultrajada, atingida na sua dignidade, não apenas por quem expõe em praça pública os seus segredos mais indecorosos, mas também, e antes ainda, por quem a transformou no terreno de cultivo de negocismo e carreirismo.


Joseph Ratzinger e Carlo Maria Martini, o teólogo bávaro e o jesuíta turinense, o professor de Tübingen e o reitor da Gregoriana, se olharão nos olhos e se perguntarão o que fazer. As suas esperanças eram fortes há meio século, quando o jovem Ratzinger, como principal colaborador do arcebispo de Munique, fazia parte do Concílio, entusiasmando-se com os temas da reforma eclesial, e o jovem Martini observava o desenrolar desse acontecimento histórico esperando que o conhecimento e a análise das sagradas escrituras pudessem finalmente ser valorizadas na Igreja Católica.


Na Quinta-Feira Santa, Bento XVI pediu aos padres a fidelidade à doutrina e disse que a desobediência não é um caminho. Ele disse isso respondendo explicitamente aos padres austríacos e de outros países europeus que optaram por dizer não a Roma sobre questões como o celibato dos presbíteros e a consagração ministerial das mulheres. Esses padres, assim como certos "corvos" vaticanos, também resolveram violar as leis da Igreja, de modo a introduzir um elemento de debate e a obrigar Roma a acertar as contas com a realidade. É verdade, a desobediência não é um caminho. Mas também é verdade que a obediência sozinha não basta, especialmente quando a esposa dá tantos sinais de desorientação.


Quais palavras terão o sucessor de Pedro e o de Ambrósio? E quanto pesará sobre eles a triste carta endereçada pelo Pe. Julián Carrón, líder do Comunhão e Libertação, para recomendar Scola ao papa? Nessa carta, roubada pelo "corvo" e revelada pelo livro de Nuzzi [Sua Santità - Le Carte Segrete di Benedetto XVI], Carrón destrói com uma verdadeira cacetada a obra de Martini e de Tettamanzi em Milão. Conhecemos a carta através de uma via equivocada, mas, agora que a conhecemos, não podemos fingir que ela nunca existiu.


Tradução de Moisés Sbardelotto.


* Para maiores informações sobre o Cardeal Martini, acesse: (em italianohttp://it.wikipedia.org/wiki/Carlo_Maria_Martini e (em portuguêshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Carlo_Maria_Martini.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - 31 de maio de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/510043-martini-e-ratzinger-um-encontro-sobre-o-futuro-da-igreja

Sobre ternos, enigmas e erotismo [É vergonhoso!]


Roberto Pompeu de Toledo

Márcio Thomaz Bastos - ex-ministro da Justiça
Os ternos, primeiro. Ninguém os ostenta tão finos, em toda a República, como o advogado e ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. Numa terra em que a regra é o guarda-roupa mambembe, e para a maioria o valor da roupa não vai além da comezinha função de cobrir a nudez, o ex-ministro é uma destacada exceção. Imagine-se um salão de Brasília, de São Paulo ou do Rio, em que os presentes estivessem com o rosto coberto. Só pelo impecável corte do terno, e ainda pelo colarinho, ou pelo rigoroso nó da gravata, seria fácil adivinhar: ─ “Ah. esse só pode ser o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos!”. O apuro no vestir tem sua correspondência nos modos do ex-ministro: cordial, articulado, fleumático.


Pois todo esse acervo de cuidado e elegância no momento mobiliza-se em favor do bicheiro Carlos Cachoeira [e também, do banqueiro José Roberto Salgado no processo do mensalão]. 


Fica bem, para Márcio Thomaz Bastos, atender tal cliente? Fica mal? Fica bem, para o país, ter um antigo ministro da Justiça sentado ao lado da figura central do maior escândalo do ano, a zelar, na CPI, para que o pupilo se mantivesse calado? Ficaria bem, para um ex-ministro da Justiça na Itália, ter um chefe mafioso como cliente? A justificativa-padrão é que todo réu tem direito a um advogado. Sem dúvida, mas este advogado? 


Resta a suspeita de malversação de terno, de colarinho, de nós na gravata, de bons modos, de sabença jurídica e mesmo, quem sabe, da dignidade da República.


O enigma, agora. Já que deputados e senadores não se mostram dispostos a debruçar-se sobre as falcatruas atribuídas a Carlos Cachoeira, poderiam inquiri-lo sobre sua infância, os sonhos de adolescente, os amores. A essas questões talvez ele respondesse, e isso ajudaria na decifração do enorme, crucial enigma que nos põe esse personagem: afinal, o que queria ele? Aonde queria chegar? Carlos Cachoeira, segundo o apurado até agora, herdou um ponto do bicho do pai, que por sua vez o tinha recebido do campeão do jogo do bicho carioca, o falecido Castor de Andrade.


Pois bem. A ambição de um bicheiro, normalmente, não vai além de comandar uma escola de samba. Carlos Cachoeira mirou mais alto. Duplicou os negócios ilegais com os legais. Estabeleceu-se na indústria farmacêutica e, ao que tudo indica, na empreita de obras públicas. Ao longo do caminho, embrenhou-se entre os políticos. O bicheiro tradicional também recruta políticos, mas não mais do que para proteger suas atividades de contraventor. Cachoeira queria mais. A rede de políticos a seu serviço sugere um aparato de infiltração nas estruturas do estado. As vantagens econômicas daí decorrentes são evidentes. As portas se abrem para negócios em que o estado é o grande comprador, como a indústria farmacêutica e a empreita.


Mas isso ainda não é tudo. Talvez até seja o de menos. As gravações da Polícia Federal indicam um gosto extremado por essa substância menos palpável, que é o poder. Cachoeira vinha bem nesse quesito. O governador de Goiás, num telefonema, chama-o de “liderança”. O senador Demóstenes Torres, em muitos, trata-o de “professor”. Nas conversas, os políticos soam como empregados, ou como reverentes vassalos. Mas Cachoeira ainda não estava satisfeito. Numa das gravações, trata com um assessor da compra de um partido político. Há muitos à venda no país, e ele só não fechou negócio porque considerou o preço alto. Sobra a questão: por que quereria um partido político? Essa questão se desdobra em outra: aonde pretendia chegar? E esta em outra ainda: aonde chegaria, caso seu caminho não fosse cortado pelas investigações? Uma aposta razoável é que acabaria imperador do Brasil.
Gov. Sérgio Cabral (RJ) e Dep. Fed. Cândido Vaccarezza (PT)


O erotismo, por fim. A mensagem do “não se preocupe, você é nosso e nós somos teu” enviada pelo ex-líder do governo Cândido Vaccarezza ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do PMDB, foi muito comentada por dois motivos. Primeiro, por desnudar o toma lá dá cá pelo qual um partido não deixará o outro em apuros, na CPI do Cachoeira, desde que o outro não deixe o um. Segundo, pelo claudicante português com que o deputado acabou largando o pobre “teu” ao desamparo de um singular. Faltou chamar atenção para a carga erótica da mensagem. Não é senão num estado em que se adivinham a entrega e o desejo que alguém se joga ao outro dizendo-o “nosso”, e declarando-se “teu”. Presidencialismo dito de coalizão é isso. Os casamentos que lhe são inerentes, para ser casamentos de verdade, só se abandonando ao regaço da sensualidade.


Fonte: Revista VEJA - Edição 2271 - Ano 45 - nº 22 - 30 de maio de 2012 - Pg. 138 - Internet: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/sobre-ternos-enigmas-e-erotismo-por-roberto-pompeu-de-toledo/

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Pedagogia é o curso de graduação a distância mais procurado do Brasil

 UOL - São Paulo

O curso de pedagogia é o que tem mais estudantes em graduações a distância no Brasil. Ao todo, são mais de 273 mil matrículas, segundo o Censo da Educação Superior de 2010, realizado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

Ao todo, há cerca de 930 mil matrículas em EAD (Educação a Distância), o que significa que, a cada cem alunos de graduações a distância, 30 são de pedagogia. Administração é o segundo curso em número de graduandos nessa modalidade de ensino, com mais de 128 mil matrículas.

A rede privada é responsável pela oferta de 80,5% das matrículas em cursos superiores a distância e, em alguns casos, como marketing ou tecnologia da informação, detém 100% dos estudantes.

AS 10 GRADUAÇÕES A DISTÂNCIA MAIS PROCURADAS NO PAÍS

Fonte: MEC/INEP/DEED

Site reúne aulas gratuitas de universidades de todo o mundo


VAGNER DE ALENCAR 
COM A COLABORAÇÃO DE: LEONARDO ELOI

Tábata Amaral
No Brasil, Tábata Amaral, uma estudante de 18 anos, foi destaque recentemente na mídia após ser aprovada em cinco universidades americanas, entre elas Harvard, uma das mais bem conceituadas do mundo. Ainda que frequentar aulas presenciais nestas instituições de ensino seja um privilégio para poucos, quem não teve a mesma sorte ou empenho de Tábata conta agora com um portal brasileiro que reúne aulas das maiores universidades do mundo, em um só local e com legendas em português.


No ar há dois meses, o portal Veduca [http://www.veduca.com.br/já abriga 4.700 vídeo-aulas, grande parte traduzida para o português, com conteúdos de Stanford, MIT (Massachusetts Institute of Technology), NYU (New York University), Columbia, Michigan, Harvard, UCLA (Universidade da California, Los Angeles), Yale, Princeton, Berkeley e a australiana, UNSW, (University of New South Wales).


Outra novidade oferecida é a correlação entre notícias atuais e as vídeo-aulas. No portal, é possível ler matérias de importantes jornais e, em seguida, assistir aulas sobre o mesmo tema, que possam esclarecer e contextualizar a informação. Além disso, um campo de busca ajuda o usuário a achar temas específicos. Ao digitar, por exemplo, “Freud”, o portal remete a todas as vídeo-aulas que falam sobre o psicanalista, no momento exato em que ele é citado.


A ideia é que, até o final de 2012, mais da metade das vídeo-aulas esteja traduzida ao português e que, em 2013, todos elas sejam legendadas. O portal conta com a ajuda de voluntários, que fazem a legendagem dos vídeos de forma colaborativa, por meio de uma ferramenta disponível no site. As legendas são revisadas por especialista antes de serem publicadas.


Carlos Souza - VEDUCA
Embora o Youtube disponha de canais voltados à educação, como o Youtube Education [http://www.youtube.com/education], “todas as palestras e cursos são soltos e sem tradução para o português, o que dificulta o acesso”, explica o engenheiro Carlos Souza, um dos fundadores do Veduca.  Segundo ele, “a educação mundial está sofrendo uma revolução.” Embora haja a facilidade de encontrar qualquer tema na internet, a enorme quantidade de conteúdos e, boa parte em inglês, faz com que esse seja um campo inexplorado pelos brasileiros. “Por conta da língua, a grande massa é incapaz de compreender esses conteúdos, pois apenas 2% dos brasileiros falam inglês”.


Potencial


Segundo um estudo realizado pelo CETIC.br (Centro de Estudos sobre Tecnologias da Informação e da Comunicação), o Brasil tem hoje 80 milhões de acessos mensais à internet, 66% dos quais buscam educação e treinamento.
Nos Estados Unidos, o MIT (Massachusetts Institute of Technology) foi o pioneiro em disponibilizar aulas on-line, em 2002, o que deu início ao Open Course [http://ocw.mit.edu/index.htm], um movimento que oferece conteúdos e materiais didáticos de graça pela internet.


O Veduca tem a ambição de incentivar universidades brasileiras a aderirem ao Open Course. “A Unicamp e USP estão no páreo. Mas é preciso criar a discussão de um modelo de negócio que nos permita custear os gastos, que não são baratos”, diz o fundador. A expectativa é que, para o segundo semestre, sejam realizados pilotos em algumas universidades.


Lia Pierson, professora de Psicologia Jurídica da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, conheceu o portal  por meio das redes sociais. Para ela, o Veduca é uma oportunidade de acesso amplo ao conhecimento. “Tenho recomendado o site aos meus alunos e divulgado o Veduca nas redes sociais. Acredito que o acesso livre e gratuito às diversas aulas e cursos deve ser um exemplo a ser seguido pelas universidades brasileiras.  A divulgação de aulas estruturadas, com a chancela de instituições de ensino e critérios acadêmicos na escolha é o exemplo que devemos pensar em seguir.”


Fonte: Portal PORVIR - 26/05/2012 - Internet: http://porvir.org/porcriar/site-reune-aulas-gratuitas-de-universidades-mundiais/20120426

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Cardeal está entre os que vazaram documentos secretos do Vaticano


Paolo Gabriele - ex-mordomo do Papa Bento XVI

Um cardeal figura entre as pessoas que vazaram documentos secretos da Santa Sé e teria sido o responsável por manipular Paolo Gabriele, o mordomo do Papa Bento XVI detido na quarta-feira, que seria apenas um executor, indicou nesta segunda-feira a imprensa italiana.


"Um cardeal guiou o 'corvo' (a pessoa que vazou os documentos)", era a manchete do jornal romano Il Messaggero, enquanto o jornal milanês Corriere della Sera afirmou que havia "um cardeal entre os informantes anônimos".


A guarda do Vaticano prendeu Gabriele e encontrou documentos confidenciais em sua casa, aproximadamente um mês depois da criação de uma comissão de investigação para esclarecer as indiscrições que desde janeiro afetam o pequeno Estado.


Um livro publicado há oito dias na Itália contém um número sem precedentes de documentos confidenciais sobre numerosos debates internos do Vaticano, como a situação fiscal da Igreja ou os escândalos de pedofilia dentro do movimento dos Legionários de Cristo.
Estes documentos revelam as disputas e rancores que existem entre diversos cardeais e autoridades, que acusam uns aos outros e depois recorrem ao Papa para dirimir os conflitos.


Um dos informantes anônimos, interrogado pelo periódico La Repubblica, considera que a pessoa que organizou os vazamentos "atua em favor do Papa". "O objetivo dos autores anônimos é revelar a corrupção que exise na Igreja nos últimos anos", segundo esta fonte.
"Os verdadeiros cérebros são os cardeais. E depois há monsenhores, secretários e peixes menores", acrescentou.


Entre os infiltrados, "estão os que se opõem ao cardeal secretário de Estado Tarcisio Bertone, os que pensam que Bento XVI é muito fraco para dirigir a Igreja, e os que acham que é o momento oportuno para se destacar", disse a mesma fonte anônima.


Ettore Gotti Tedeschi
Segundo esta pessoa, citada pelo Repubblica, o Papa sentiu muito a destituição na quinta-feira do presidente do banco do Vaticano IOR, Ettore Gotti Tedeschi, a quem apreciava muito, até o ponto de começar a chorar, passando a reagir com raiva, dizendo que "a verdade virá à tona".
Gotti Tedeschi foi destituído por sua gestão, mas também, segundo fontes vaticanas, porque havia divulgado fora do Santa Sé alguns documentos relativos ao banco.
Segundo os especialistas italianos em assuntos vaticanos citados pela imprensa, o mordomo Paolo Gabriele, um homem que sempre se mostrou muito apegado ao Papa, não parece ser capaz de organizar sozinho o vazamento coordenado de documentos, batizado de "Vatileaks".


Fonte: Portal TERRA.COM.BR - 28 de maio de 2012 • 09h56 • atualizado às 10h47 - Internet: http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5798837-EI8142,00-Cardeal+esta+entre+os+que+vazaram+documentos+secretos+do+Vaticano.html

sábado, 26 de maio de 2012

Plataforma criada por ex-aluno do ITA libera 700 vídeos de matemática


Portal Porvir

Voltadas para alunos dos ensinos fundamental e médio, aulas são divididas por temas

Salman Khan
Primeiro, Salman Khan revolucionou o ensino com suas aulas no Youtube. Depois, o MIT [Massachusetts Institute of Technology] se uniu ao seu ex-aluno ilustre para também produzir vídeos educativos curtos voltados para melhorar a educação básica dos EUA. Agora, é a vez Brasil aderir ao movimento de olho na melhoria do ensino. A startup QMágico lança nesta sexta-feira, 18, na Feira Educar Educador, sua plataforma com 700 vídeos de matemática gratuitos, que têm entre 7 e 12 minutos de duração, endereçados a alunos dos ensinos fundamental e médio.


O site  http://www.qmagico.com.br/institucional/home.htm foi idealizado pelo cearense Thiago Feijão, 22, aluno de engenharia mecânica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). A ideia nasceu, conta o jovem, quando ele dava aulas para população de baixa renda em três ONGs, duas delas criadas por ele mesmo, em São José dos Campos. "Quando eu entrei no ITA, em 2008, eu decidi trabalhar com educação para fazer com que outras pessoas pudessem ter a oportunidade que eu tive", diz Feijão, que ficava incomodado por não conseguir atender nem de longe a todos os estudantes que queriam assistir às aulas que as organizações ofereciam.


Thiago Feijão - ITA
"Eu me perguntava: como eu faço uma coisa que seja escalável e sustentável financeiramente? Como replicar o que a gente faz aqui [ONGs] para o Brasil inteiro? Aí surgiu o QMágico", diz. O click veio em um sábado, em março do ano passado, e já na quinta-feira seguinte, ele e alguns colegas disponibilizaram uma primeira versão, bem simples, para as ONGs. "Vimos que os professores gostavam e que os alunos gostavam, então resolvemos expandir."


De março para cá a plataforma foi sendo aperfeiçoada e, a partir de hoje, os vídeos de matemática ficarão disponíveis para os alunos. Pelo site, será possível assistir a vídeos escolhendo por série, do primeiro ano do ensino fundamental ao pré-vestibular, ou por tema - geometria, álgebra, funções e análises combinatórias, por exemplo. As imagens mostram sempre uma lousa ou um caderno sendo preenchido com conteúdo enquanto uma voz ao fundo dá explicações. Também estão disponíveis exercícios e testes sobre os temas oferecidos.


Os donos das vozes são, na maioria das vezes, estudantes das melhores universidades do país que receberam bolsa para ensinar determinado assunto a crianças e jovens ou professores das ONGs lideradas por Feijão. "Nós convidamos para fazer os vídeos e ensinamos o padrão. Temos um cronograma de desenvolvimento e já oferecemos toda a matemática de ensino básico bem estruturada, então o professor consegue encaixar os vídeos no currículo", afirma o estudante, que prepara a oferta de vídeos de língua portuguesa e física.


A sustentabilidade financeira do QMágico ocorre por meio da oferta de outros dois tipos de serviço, que são vendidos para escolas, redes de ensino e governos. O primeiro é uma plataforma de aprendizagem virtual, em que as instituições de ensino podem inserir seus conteúdos, propor atividades on-line, fazer avaliações de alunos, além de acompanhar o desenvolvimento dos alunos e professores de maneira individualizada.


O segundo serviço é um pacote de treinamento para professores e instituições com orientações para o uso das tecnologias em sala de aula - a adaptação ao blended learning, essa utilização casada de atividades virtuais e reais que tanto preocupa educadores mundo afora. Segundo Feijão, um dos métodos que o QMágico aplica nesses treinamentos é conhecido por rotation lab, quando a turma é dividida em três grupos, ficando os alunos do primeiro terço mexendo no computador, os do segundo fazendo exercícios e os do terceiro com o professor, que já viu o que os alunos fizeram no ambiente on-line e dá explicações específicas e tira dúvidas.


Para saber mais, acesse: 


Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Notícias/Educação - 18 de maio de 2012 - 15h27 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,plataforma-criada-por-ex-aluno-do-ita-libera-700-videos-de-matematica,874746,0.htm - Acesso em: 26/05/2012 - às 10h14

sexta-feira, 25 de maio de 2012

ORAÇÃO DE UM HOMEM MEDÍOCRE

José Antonio Pagola


Senhor, hoje celebramos esse grande presente que Tu fazes a todos e a cada um dos seres humanos e que é o teu próprio Espírito. Hoje é PENTECOSTES.


Por que sinto, nesta manhã, com força tão especial o meu vazio interior e a mediocridade de meu coração? Minhas horas, meus dias, minha vida está cheia de tudo, menos de Ti. Tomado pelas ocupações, trabalhos e impressões, vivo disperso e vazio, esquecido, quase sempre, de tua proximidade. Meu interior está habitado pelo barulho e agitação de cada dia. Minha pobre alma é como "um imenso armazém" onde se vai colocando de tudo. Tudo tem lugar dentro de mim, menos Tu.


E agora, essa experiência que se repete uma vez ou outra. Chega um momento em que esse ruído interior e essa agitação me parecem mais doces e confortáveis que o silêncio sossegado junto a Ti.


Deus de minha vida, tem misericórdia de mim. Tu sabes que quando fujo da oração e do silêncio, não desejo fugir de Ti. Fujo de mim mesmo, de meu vazio e superficialidade.


Onde eu poderia refugiar-me com minha rotina, minhas ambiguidades e meu pecado? Quem poderia entender, ao mesmo tempo, minha mediocridade interior e meu desejo de Deus?


Deus de minha alegria, eu sei que Tu me entendes. Sempre foste e serás o melhor que eu tenho. Tu és o Deus dos pecadores. Mesmo dos pecadores comuns, ordinários e medíocres como eu. Senhor, não há um caminho em meio à rotina, que me possa levar até Ti? Não há alguma brecha no meio do barulho e da agitação, onde eu possa Te encontrar?


Tu és "o eterno mistério de minha vida". Atrai-me como ninguém, desde o profundo de meu ser. Porém, repetidamente, me afasto de Ti, silenciosamente, para coisas e pessoas que me parecem mais acolhedoras que teu silêncio.


Penetra em mim com a força consoladora de teu Espírito. Tu tens poder para atuar nessa profundidade minha, a qual me escapa quase por completo. Renova meu coração cansado.


Desperta em mim o desejo. Dá-me forças para começar sempre de novo; alento para esperar contra toda esperança; confiança em minhas derrotas; consolo nas tristezas.


Deus de minha salvação, sacode minha indiferença. Purifica-me de tanto egoísmo. Preenche meu vazio. Ensina-me teus caminhos. Tu conheces minha fraqueza e inconstância. Não Te posso prometer grandes coisas. Eu viverei de teu perdão e misericórdia. Minha oração de Pentecostes é, hoje, humilde como a do salmista: 


"Teu Espírito que é bom, me guie por terra plana" (Sl 142,10).


Tradução de: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.


Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - 22/05/2012 - 09h12 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

FESTA DE PENTECOSTES - Homilia

Evangelho: João 20,19-23

José Antonio Pagola



RECEBEI O ESPÍRITO SANTO

Pouco a pouco, vamos aprendendo a viver sem interioridade. Já não necessitamos estar em contato com o melhor que existe dentro de nós. Basta-nos conviver entretidos. Contentamo-nos com funcionar sem alma e alimentar-nos só de pão. Não queremos nos expor a buscar a verdade. Vem, Espírito Santo, liberta-nos do vazio interior.


Já sabemos viver sem raízes e sem metas. É-nos suficiente deixar-nos programar do exterior. Movemo-nos e nos agitamos sem cessar, porém não sabemos o que queremos nem para onde vamos. Estamos cada vez melhor informados, porém nos sentimos mais perdidos que nunca. Vem, Espírito Santo, liberta-nos da desorientação.


Quase não nos interessam as grandes questões da existência. Não nos preocupa ficarmos sem luz para enfrentarmos a vida. Tornamo-nos mais céticos, porém mais frágeis e inseguros. Queremos ser inteligentes e lúcidos. Por que não encontramos sossego e paz? Por que nos visita tanto a tristeza? Vem, Espírito Santo, liberta-nos da escuridão interior.


Queremos viver mais, viver melhor, viver mais tempo, porém, viver o quê? Queremos nos sentir bem, nos sentir melhor, porém, sentir o quê? Buscamos desfrutar intensamente a vida, tirar o máximo proveito, mas nos contentamos somente em passar bem. Fazemos o que queremos. Quase não existem proibições e terra proibida. Por que queremos algo diferente? Vem, Espírito Santo, ensina-nos a viver.


Queremos ser livres e independentes, mas nos encontramos cada vez mais sozinhos. Necessitamos viver e nos fechamos em nosso pequeno mundo, às vezes tão chato. Necessitamos nos sentir queridos e não sabemos criar contatos vivos e amistosos. Ao sexo chamamos "amor" e ao prazer "felicidade", porém quem saciará nossa sede? Vem, Espírito Santo, ensina-nos a amar.


Em nossa vida já não há lugar para Deus. Sua presença ficou reprimida e atrofiada dentro de nós. Cheios de ruídos por dentro, já não podemos escutar sua voz. Distraídos por mil desejos e sensações, não conseguimos perceber a sua proximidade. Sabemos falar com todos menos com Deus. Aprendemos a viver de costas para o Mistério. Vem, Espírito Santo, ensina-nos a crer.


Crentes ou não crentes, pouco crentes e maus crentes, assim todos peregrinamos muitas vezes pela vida. Na festa cristã do Espírito Santo, Jesus nos diz a todos aquilo que disse, um dia, a seus discípulos exalando sobre eles seu alento: "Recebei o Espírito Santo". Esse Espírito que sustenta nossas pobres vidas e dá alento a nossa débil fé pode penetrar em nós por caminhos que somente ele conhece.


O ESPÍRITO DE JESUS


Entre os cristãos se fala de "espiritualidade" com acentos muito diferentes. Aos presbíteros pede-se para viverem uma espiritualidade sacerdotal, aos casados uma espiritualidade matrimonial.
Segundo as diferentes tradições, os religiosos se esforçam em viver sua própria espiritualidade beneditina, franciscana ou carmelita. Porém, quais são as características de uma espiritualidade primeira e básica de um seguidor de Jesus?


A primeira, seguramente, é compreender Jesus como alguém vivo e próximo. Sentir seu Espírito sustentando e animando nossa vida, captar nessa experiência a proximidade absoluta de Deus e fazer dessa proximidade algo central em nossa maneira de viver a fé. 


Segunda, compreender Jesus como libertador. Não é uma maneira de falar. É uma experiência essencial. Sentir Jesus como alguém que nos liberta no mais profundo do coração. Alguém que nos dá força interior para mudar, e nos diz uma vez ou outra: "Tua fé te está salvando"


Compreender Jesus como alguém que nos faz bem. É um autêntico presente encontrar-se com ele. Não é a mesma coisa fazer a viagem da vida com Jesus ou sem ele. Com Jesus, a vida é uma carga exigente, mas também leve. Esta é, talvez, a experiência mais genuína do Espírito de Jesus em nós.


Compreender Jesus como alguém que nos ensina a viver numa direção nova. É o fundamental. Aprender a organizar a própria vida, não em torno ou a favor de si mesmo, do próprio grupo ou da própria Igreja, mas em favor dos que sofrem distantes ou próximos de nós. O mais decisivo não é a própria santidade, mas uma vida mais digna para todos. Jesus a chamava de "reino de Deus".


Do Espírito de Jesus vão nascendo em nós algumas atitudes básicas: uma sensibilidade para os que sofrem, uma busca prática da justiça nas coisas grandes e nas pequenas, uma vontade sincera de paz para todos, uma capacidade cada vez maior de fazer o bem gratuitamente, uma esperança última para todo o bem que hoje nos parece inalcançável. 


Acolher o Espírito Santo é viver com a alegria e o dinamismo interior de Jesus.


Tradução: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.


Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - 22/05/2012 - 09h12 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Arroz e feijão perdem espaço na mesa do brasileiro


MÁRCIA DE CHIARA 

Consumo de carnes e pratos prontos cresce junto com o aumento da renda; a participação dos grãos na despesa cai de 11% para 7%

O desemprego historicamente baixo, com marido, mulher e filhos trabalhando fora, mudou a rotina das famílias e também o prato típico: o feijão com arroz. Cada vez mais os brasileiros estão comendo menos grãos nas refeições feitas em casa e optando por carnes e pratos prontos.


Nos últimos três anos, a participação do arroz com feijão no gasto com alimentação dentro de casa caiu 4 pontos porcentuais. Em 2008, a fatia do arroz com feijão na despesa com comida no domicílio era 11% e, no ano passado, recuou para 7%, revela a pesquisa HolisticView da Kantar Worldpanel. Para mapear o consumo de alimentos dentro de casa, semanalmente são visitados 8,2 mil domicílios no País, localizados em cidades com mais de 10 mil habitantes.


Também no ano passado, de 15 grupos de despesas com alimentos no domicílio pesquisados, houve queda de 5% no desembolso com grãos em relação ao ano anterior, mesmo com deflação no arroz (-5,08%) e no feijão carioca (-2,74%) em 2011, segundo o índice oficial de inflação (IPCA), calculado pelo IBGE.


Com a queda nos preços, a tendência seria de aumento do consumo desses itens. "Mas, em 2011, foi a primeira vez em três anos que houve queda nos gastos com arroz e feijão em relação ao ano anterior", observa a gerente de marketing da Kantar Worldpanel, Patrícia Menezes.


A pesquisa mostra que o recuo na participação do gasto com grãos na alimentação no domicílio entre 2008 e 2011 foi generaliza, porém mais abrupta nas Regiões Centro-Oeste, Sul, Leste (Minas Gerais e Espírito Santo) e interior do Rio de Janeiro.
A contrapartida da queda na fatia do gasto com arroz e feijão na alimentação dentro de casa foi o aumento da participação de carnes, pratos prontos e panificados no mesmo período. Entre 2008 e 2011, o desembolso com proteína animal (carnes, ovos, aves e peixes) passou de 25% para 28%; nos pratos, a fatia no gasto subiu de 2% foi para 3%; nos pães e bolos, evoluiu de 9% para 10%. Também houve aumento nos desembolsos com esses produtos em todas as regiões do País, mas o destaque foi para o Centro-Oeste, Leste e interior do Rio de Janeiro.


Na opinião de Patrícia, a mudança na composição do prato do brasileiro reflete a melhor situação econômica do País, com ganhos de renda, maior empregabilidade e avanço da participação da mulher no mercado de trabalho.


Já o economista da Faculdade de Economia e Administração da USP, Heron do Carmo, que por mais de 20 anos coordenou o Índice de Preços ao Consumidor da Fipe e acompanhou as mudanças de hábitos de consumo do paulistano da hiperinflação à estabilidade, diz que o fator fundamental para a mudança na alimentação dentro de casa é situação de pleno emprego e o aumento no número de mulheres trabalhando fora.


Isso reduziu o tempo para o preparo das refeições dentro de casa, especialmente os mais demorados, como arroz e feijão. "Essa mudança não reflete simplesmente o aumento da renda, mas o desemprego mínimo", pondera o economista.


Além disso, ele observa que houve, no período, o aumento da formalização do emprego, que significa maior uso de vale-refeição, redução no tamanho das famílias e envelhecimento da população, que contribuíram para essas mudanças.


Carmo ressalta que a leitura dos dados não permitem deduzir que a população está comendo menos arroz e feijão de forma geral, mas sim dentro de casa.


Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Economia&Negócios - 20 de maio de 2012 - 03h07 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,arroz-e-feijao-perdem-espaco-na-mesa-do-brasileiro-,875358,0.htm
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Comida pronta não substitui a convivência

Família também aumentou as idas a restaurante

O empresário Marcos Oliveira dos Santos e sua mulher, Maria Beatriz, fazem um esforço quase "ideológico" para manter a família reunida à mesa na hora das refeições. "Fomos educados com as nossas mães cozinhando diariamente arroz e feijão", conta.


Até agora, o casal, que tem três filhos, Guilherme, de 10 anos, e os gêmeos Fernando e Francisco, de 8 anos, conseguiu manter esse hábito, porém o cardápio das refeições mudou. O arroz e o feijão, que até quatro anos atrás eram preparados diariamente, tiveram a frequência reduzida a duas ou três vezes na semana. No lugar do trivial brasileiro, entraram os pratos semiprontos, as batatas congeladas, os sucos de caixinha.


"Viramos montadores de pratos", compara o empresário, fazendo referência ao aumento do consumo de batatas descascadas e congeladas prontas para fritar, bifes comprados já temperados, suco de fruta que basta abrir o lacre da caixinha para ser consumido, lanches prontos e verduras para salada já lavadas. "Mesmo tendo comida prática em casa, a família continua reunida em torno da mesa."


A falta de tempo da mulher, também empresária, para se dedicar às tarefas domésticas é apontada por Santos como a principal razão para a alteração do cardápio das refeições da família. Mas ele acrescenta que os filhos também pedem para comer fora de casa.


Santos conta que a família aumentou a frequência da ida a restaurantes. "Antes só comíamos fora nos fins de semana. Agora são três a quatro dias por semana", diz o empresário, ressaltando que as crianças cresceram e começaram a pedir para comer fora. Com isso, o peso do gasto com alimentação em restaurante foi multiplicado por dez. Três anos atrás era 3% das despesas, e hoje subiu para 30%.


Enquanto as famílias estão reduzindo o consumo de grãos, como arroz e feijão, que dão trabalho para ser preparados em casa, Santos nota que o brasileiro continua comendo esse prato tradicional nos restaurantes de empresas. Ele faz essa observação com conhecimento de causa porque a sua empresa é especializada em administrar restaurantes corporativos.


"Meu cliente come arroz, feijão todos os dias, peixe e frango uma vez por semana, carne , frutas e verduras e têm uma dieta equilibrada", conta Santos, que não notou queda no consumo de arroz e feijão. "A cada refeição, uma pessoa consome 200 gramas de arroz e entre 80 e 100 gramas de feijão. Essas quantidades vêm sendo mantidas", diz ele.


Mais uma vez, o empresário aponta a falta de tempo para o preparo como o principal fator para a redução de consumo de grãos. "Quando o prato é oferecido pronto no restaurante não há queda." / MÁRCIA DE CHIARA


Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Economia&Negócios - 20 de maio de 2012 - 03h07 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,comida-pronta-nao-substitui-a-convivencia-,875366,0.htm

Em 10 anos, brasileiro vai gastar 55% mais


Adriana Meyge
Valor Econômico
21.05.2012
O Brasil é o quarto país que mais vai contribuir para o crescimento do consumo global entre 2010 e 2020, de acordo com o estudo "Riqueza e Gastos dos Consumidores", elaborado pela consultoria americana A.T. Kearney a partir de dados da Euromonitor. A estimativa é que em 2020 a população mundial desembolse US$ 40 trilhões em produtos e serviços. O valor representa um acréscimo de gastos de US$ 12 trilhões em uma década, o dobro do verificado entre 2000 e 2010.


Segundo a pesquisa, o Brasil deve responder por 5% dessa injeção de consumo. Isso significa que o brasileiro vai gastar US$ 1,7 bilhão em 2020, tirando do bolso US$ 591,4 milhões ou 55% a mais do que dez anos antes. Nesse período, a categoria de gastos que mais vai crescer é a de comunicações (internet, telefonia, etc), com alta de 70%, seguida por educação, serviços médicos e transportes. Por outro lado, o consumidor não vai aumentar tanto os desembolsos com vestuário e calçados, cujo crescimento está estimado em apenas 25%.


Não é por acaso que tais tipos de despesas são os que mais devem crescer no Brasil. O estudo identificou quatro grupos de consumidores no mundo (básico, emergente, em ascensão e estabelecido), e o Brasil foi classificado como um país de consumidores emergentes. Nesse grupo, os alimentos e outros produtos básicos ainda impulsionam boa parte dos gastos, mas, conforme a renda aumenta, o mesmo ocorre com as despesas com produtos de cuidados pessoais, serviços de comunicação e educação.


"Os gastos com educação vão crescer muito mais que alguns produtos no Brasil nos próximos anos. O desenvolvimento das classes D e E passa pela educação, e a população brasileira sabe disso", diz Pietro Gandolfi, diretor de prática de bens de consumo e varejo da A.T. Kearney no Brasil.


Como comparação, nos Estados Unidos - classificado como país de consumidores estabelecidos e de luxo, orientados para serviços - os gastos com comunicações também devem liderar o crescimento, avançando 59%, mas as despesas com educação devem aumentar apenas 35% no período (contra 62% no Brasil).


O incremento de US$ 12 trilhões no consumo global até 2020 será impulsionado pelos gastos dos americanos, que responderão por 25% desse valor, seguidos pelos chineses (19%) e indianos (8%).


"Apesar do momento de crise que o mundo está passando, principalmente na Europa, a perspectiva de crescimento de consumo ainda é muito positiva", afirma Carlos Higo, gerente sênior de prática de bens de consumo e varejo da A.T. Kearney no Brasil. "O papel dos presidentes das companhias será desenvolver estratégias para capturar essa oportunidade de crescimento em outros países fora da Europa", conclui Gandolfi.


Em relação ao padrão de gastos, os brasileiros se classificam como "gastadores equilibrados", "aqueles que gastam cerca da mesma quantia com itens básicos (alimentos e roupas) e com itens não essenciais". Também pertencem a esse grupo China, Equador, Israel, África do Sul, Coreia do Sul e Taiwan, entre outros países. A Índia deve entrar no grupo em 2017. Os indianos eram considerados consumidores básicos em 2010, e se enquadravam no perfil de "baixa renda e diligente", no qual os maiores gastos são com comida.


O estudo da A.T. Kearney foi feito a partir de uma análise estatística e econômica de 70 categorias de consumo em 86 países, para um período de 30 anos (1990 - 2020) e observando mais de 3 mil variáveis socioeconômicas. Todos os dados para o levantamento foram obtidos pela consultoria Euromonitor.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Segunda-feira, 21 de maio de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/509696-em-10-anos-brasileiro-vai-gastar-55-mais

sábado, 19 de maio de 2012

Linhas de força de um gênio


UBIRATAN BRASIL

A chegada às livrarias da Ficção Completa de Bruno Schulz (1892-1942), em tradução direta do polonês, renova o interesse por sua obra, que discute a preservação da ordem do mundo

Henryk Siewierski - Professor da UnB
Mago que sabia transformar tudo em poesia, o polonês Bruno Schulz deixou uma obra curta mas intensa o suficiente para provocar a sensação de deslocamento e de falta de chão. As observações são de Henryk Siewierski, professor do Departamento de Teoria Literária da Universidade de Brasília, mestre em filologia polonesa e doutor pela Universidade de Cracóvia, responsável pela tradução de Ficção Completa, volume lançado pela Cosac Naify no qual estão reunidos Lojas de Canela e Sanatório Sob o Signo da Clepsidra, livros de contos editados pela Imago nos anos 1980, além de quatro textos curtos inéditos no Brasil. 


Escritor absolutamente original, além de inspirado desenhista, Schulz consegue vencer, na visão de Siewierski, a comparação com Kafka, autor de quem se distancia pela exuberante prosa poética, que contrasta com o estilo menos ousado do ficcionista checo. Fiel à investigação da palavra, Schulz construiu uma obra nutrida por um triângulo de culturas, a polonesa, a judaica e a alemã, com as quais conviveu intimamente até ser morto por um oficial nazista, em 1942. Sobre a difícil, mas fascinante, tarefa de traduzir direto do polonês o conjunto de escrito, Siewierski conversou com o Sabático


A ficção de Schulz é muito comparada à de Kafka, como se observa em muitos ensaios. Você considera justa essa comparação? Como distingui-los?
Siewierski: Essas comparações resultam mais da vontade de situar Bruno Schulz num determinado contexto histórico e geográfico do que de uma análise da sua ficção. Porque apesar de certas convergências temáticas, são os universos e estilos artísticos bem diferentes. A exuberância poética da ficção de Schulz e seu riquíssimo imaginário divergem do estilo protocolar da prosa kafkiana. Se procurarmos as convergências, elas podem ser encontradas sim, mas no plano que aproxima os escritores cujas obras têm caráter universal, pela intensidade com que enfrentam o mistério da vida humana e sua inserção no drama da história. No seu posfácio à primeira tradução do Processo em polonês, o próprio Schulz sinaliza em que poderia consistir o parentesco entre os dois, quando fala que as obras de Kafka são uma realidade autônoma que, além das alusões místicas e religiosas, tem a sua própria vida poética, polissêmica, impenetrável, que nenhuma interpretação pode esgotar.


Existe algum aspecto da ficção de Schulz que você acredita não ser suficientemente enfatizado?
Siewierski: A obra de Schulz é muito estudada, principalmente na Polônia, mas não só. Por exemplo, um dos mais significativos livros sobre ela foi publicado na Suécia, On the Margins of Reality - The Paradoxes of Representation in Bruno Schulz’s Fiction, de Krzysztof Stala. Seria difícil apontar um aspecto da sua prosa que até agora não tivesse despertado o interesse da crítica. A cada dois anos é organizado em Drohobycz, cidade de Schulz, hoje na Ucrânia, um festival e um congresso que reúne os tradutores e estudiosos da sua obra do mundo inteiro. Tive a oportunidade de participar dos dois últimos e observar como é amplo o leque temático e problemático dos estudos schulzianos. Para o congresso deste ano, que ocorrerá em setembro, os organizadores propuseram como tema o pensamento crítico e teórico de Schulz, sua “filosofia da literatura”, considerando este aspecto da sua obra ainda pouco estudado. A “teoria” ou “filosofia” da literatura, embora por ele mesmo nunca sistematizada, pode ser reconstruída, principalmente a partir da sua obra ficcional. Existem também outras fontes como seus ensaios críticos e cartas, sem esquecer dos desenhos que se correspondem com a prosa. Já foi apontada a familiaridade da sua concepção da literatura com a tradição do realismo mágico e/ou maravilhoso. Mas ela talvez merecesse ainda um olhar mais preciso. 


Bruno Schulz (1892-1942) - escritor polonês
O que o senhor diria do senso de humor de Schulz que não é imediatamente evidente, mas que está presente em sua prosa?
Siewierski: Sim, o senso de humor é sem dúvida um dos traços característicos da prosa de Schulz. O humor faz com que a prosa ganhe uma boa dose de poesia. Não foi Edmond Jabès que disse “o humor é poesia, o cômico é prosa”? Vejamos, por exemplo, o conto O Segundo Outono, em que é apresentada uma teoria climatológica do Pai, segundo a qual, o outono tardio, que se prolonga até ao inverno, é o resultado da contaminação do clima pela arte barroca, acumulada nos museus da região. Não deixa de ser uma tentativa de aproximação entre a ciência e a poesia, mas ao mesmo tempo sentimos aqui um piscar de olho do narrador a dizer que este casamento não pode ser tomado muito a sério. Schulz foi um observador atento da ciência contemporânea, e percebia como os físicos e os filósofos do novo século iam aos poucos desmanchar a visão coesa e familiar do universo, situando o homem numa realidade fragmentada e caótica. Mesmo sabendo que não há retorno ao passado, ele procurava, assim como os neognósticos do século 20, reconstruir, unir o que foi desintegrado pela ciência, unir de novo numa estrutura mítica, universal, homens, coisas e signos. Porém, seria difícil considerar Schulz mais um representante da gnose contemporânea, justamente pelo seu distanciamento da seriedade dessas ambições holísticas e pelo caráter não confessional de suas ideias. A sua opção pelo sentido e contra o absurdo parece ter a ver com a convicção de que para salvar o sentido da sua vida, o homem tem que se desprender da seriedade paralisante e mortífera das teorias, e com um senso de humor - que é a poesia -, com uma boa dose de ternura, tentar religar as partes separadas do seu universo. O humor de Schulz tem várias faces, coexiste com o patético e o burlesco, leva ao limite da paródia, é lírico, mas também interage com a ironia tão presente na sua obra. Numa carta ao colega Stanislaw Witkiewicz, ele diz que nos seus livros reina “um clima próprio dos bastidores, atrás da cena, onde os atores, tirando os seus trajes, morrem de rir ao pensarem no patético dos seus papéis”. 


Quais são os perigos e as armadilhas da tradução de sua obra em português? Qual o risco de perda de um tradutor?
Siewierski: Mais do que as armadilhas semânticas que aparecem, porque elas sempre aparecem na tradução literária devido às diferenças culturais e linguísticas, neste caso específico foi preciso ficar especialmente atento ao ritmo. Os períodos sintáticos longos compostos de orações subordinadas, ramificadas, emaranhadas mantêm-se unidos não só pelos recursos da sintaxe, mas também pelo ritmo, pela musicalidade, e perdê-los seria perder a alma dessa prosa. Outro perigo pode vir da ousadia e da originalidade das construções metafóricas. Elas podem parecer muito estranhas para o leitor da tradução, parecer até um tropeço do tradutor e, ele, pode sucumbir à tentação de domesticar o que é estranho. Mas a graça da tradução não seria justamente levar o leitor a outras regiões do imaginário, mesmo as que cheirassem heresia, fazer com que ele esteja surpreendido assim como é surpreendido o leitor do original? Porém, quando a questão não é só surpreender, mas também encantar, como o faz o original, não há como recorrer aos métodos ou roteiros preestabelecidos, tem que entrar em jogo a intuição e aquilo que é chamado a arte de tradução. Os perigos não faltam, por isso também a dívida que o tradutor tem com os revisores, os verdadeiros parceiros de tradução. 


O que seria mais duradouro e convincente da ficção de Schulz?
Siewierski: O mundo desta ficção, bem ancorado na tradição da mitologia e da cultura, se apresenta ao leitor como uma variante própria e inconfundível desta herança. Ela resulta de uma transfiguração dos modelos e poéticas existentes num processo de criação de uma mitologia pessoal, bastante divertida, poeticamente exuberante, repleta de humor e de ironia, mas em que está em jogo a preservação do sentido do mundo diante dos processos de sua desintegração. É o que talvez torne esta ficção duradoura e se não convincente, pelo menos sedutora. 


É possível explicar o motivo de Schulz escrever em polonês e não em iídiche?
Siewierski: Sim, é possível, mas se ele escrevesse em iídiche, também não seria difícil explicar o motivo. Na cidade de Lvov, próxima a Drohobycz, havia um meio literário judaico muito dinâmico que antes da 2.ª Guerra produziu muitas obras em iídiche. Por exemplo, a escritora Debora Vogel, amiga de Schulz, escrevia em polonês e em iídiche, e até em hebraico. Havia também escritores judeus que escreviam só em polonês. Schulz participava desse meio, identificava-se com ele, publicava alguns dos seus textos nas revistas judaicas. Ele nasceu e até os 16 anos viveu no império austro-húngaro, numa cidade pequena, mas cosmopolita. A irradiação de Viena fazia com que ele fosse bem familiarizado com a literatura da língua alemã. Falava tão bem alemão como polonês. Mas a identificação com a língua polonesa deve ter sido mais forte, não só porque em sua casa paterna se falava essa língua, mas contavam também a iniciação na sua literatura e cultura e, depois, as intensas relações com o meio literário polonês. Escrever em polonês não o impedia de lembrar e parafrasear o que na tradição judaica era mais significativo e mais universal, como o culto do Livro, como a autoridade do Pai. O trabalho do artista era uma tarefa messiânica que dava continuidade ao Livro. A última obra de Schulz, que se perdeu na guerra e até hoje não foi encontrada, tinha o título de O Messias.


Título: Ficção Completa
Autor: Bruno Schulz
Tradução: Henryk Siewierski
Editora: Cosac Naify
Páginas: 416
Preço: R$ 89,00


Fonte: O Estado de S. Paulo - Sabático - Sábado, 19 de maio de 2012 - Pgs. S4 e S5 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,linhas-de-forca-de-um-genio,874825,0.htm
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Retorno ao sentido mítico

LUIS SÉRGIO KRAUSZ *

A gramática particular de Schulz é uma montagem de fragmentos de histórias eternas

Luis Sérgio Krausz - professor da USP
A publicação da obra completa de ficção de Bruno Schulz, que consiste das coletâneas de contos (que também podem ser lidas como romances) Sanatório sob o Signo da Clepsidra e Lojas de Canela, além de quatro contos avulsos, é um acontecimento da maior importância no cenário literário brasileiro. Venerado por escritores como Philip Roth, J.M. Coetzee, Cynthia Ozick e David Grossmann, que a ele dedicaram ensaios e reflexões, Schulz é um dos poucos nomes incontornáveis da literatura do século 20, ao lado de Franz Kafka, James Joyce e Marcel Proust. Mas sua estatura só foi reconhecida fora da Polônia postumamente. Para o pesar de todos que gostam de literatura, seu maior romance, intitulado O Messias, no qual trabalhava quando foi confinado pelos nazistas no gueto de sua cidade natal, Drohobycz (então Polônia, hoje Ucrânia), perdeu-se sob os escombros da 2.ª Guerra Mundial. 


Sobreviveram, ainda, uns poucos ensaios, cartas e resenhas - que continuam inéditos em português.
No gueto de Drohobycz, Schulz foi protegido por um oficial alemão, para quem pintava afrescos - pintou, inclusive, um grande painel que decorava o clube da SS. E um rival desse oficial o matou, na rua, como ato de vingança. Seu prematuro desaparecimento representa, portanto, uma dupla tragédia: para além da vida humana que se perdeu da forma mais estúpida, o tiro disparado por este oficial também cravou uma lacuna profunda na literatura universal.


A prosa luminosa de Schulz partilha do poder inefável das antigas fórmulas encantatórias: as palavras, em sua obra de um lirismo absoluto, tornam-se signos de realidades esquecidas, numa poética de alta voltagem, concebida por alguém que partilhava de crenças cuja origem está nas antigas cosmogonias do Oriente Médio - como as cosmogonias bíblica e do antigo Egito - segundo as quais o mundo surgiu a partir da pronúncia de palavras.


Num breve ensaio intitulado A Mitificação da Realidade, Schulz postula que o ofício do escritor é reconduzir as palavras de volta ao seu sentido original, mítico. “A vida da palavra consiste no fato de que ela se espicha, em busca de milhares de associações, assim como o corpo esquartejado de uma serpente lendária cujos pedaços buscam um pelo outro, no escuro”, escreveu este autor de narrativas construídas a partir de pontas e de pedaços de mitos díspares, que criou uma bizarra mitologia do bricabraque, de um grande mercado de pulgas em que elementos das tradições bíblica, clássica, cristã e cabalística se confundem com episódios da vida cotidiana para desvelar realidades surpreendentes.


A mitologia particular de Schulz, então, é uma assemblage de fragmentos de histórias eternas - ou de pedaços de estátuas de deuses. Sua estética barroca, de demolição e de reagrupamento, lhe assegura o caráter sempre moderno, calcado na efemeridade dos significados, na desconstrução de todas as certezas e no movimento constante do princípio poético, representado entre uma forma e outra. O dinamismo inerente a cada palavra, que Schulz liberta, restituindo seu fulgor e vitalidade originais, transforma a leitura de suas obras num retorno ao intangível e ao misterioso, banidos do mundo numa época de amesquinhamento da consciência - que ele denomina nossa “era da pequenez” e à qual contrapõe a perdida “época da genialidade”.


Bruno Schulz - escritor
Schulz nasceu há 120 anos, a 12 de julho de 1892, e sua Drohobycz natal era então uma cidade da Galícia, província do Império Austro-húngaro. Foi estudante universitário em Viena e filho de uma geração que acreditava na integração dos judeus no ecúmeno da monarquia habsburga - e que por isso mesmo rompera os laços com a tradição judaica. Forçado a abandonar os estudos de arquitetura por causa da 1.ª Guerra Mundial, tornou-se professor de desenho num colégio da cidade natal. Sua obra pictórica, hoje também bastante divulgada, retrata um universo sinistro cuja origem remonta ao imaginário de Goya.


Mesmo depois do desmembramento do império, em 1918, e da incorporação de Drohobycz à recém-criada república da Polônia, a cidade e boa parte de sua comunidade judaica continuaram como lugares cercados pela efígie do imperador Francisco José I. O império permaneceria na memória de sua família como signo de uma ordem inflexível, portadora de segurança, que foi rapidamente destruída no período entreguerras, tanto pelo desaparecimento das instituições monárquicas quanto pela descoberta de petróleo naquela região, que resultou num boom e colocou em xeque formas consagradas de vida e de sociabilidade. O crepúsculo da velha ordem coincidiu com a falência do comércio de seu pai, incapaz em adaptar-se às novas regras do jogo, precipitou a família na pobreza e levou o pai à loucura. Entrava em cena uma nova classe social, cegada por um projeto econômico tacanho e as consequências disso foram a vulgarização, a reificação e a banalização das relações sociais, bem como a transformação dos rituais solenes da velha classe mercantil num sistema de mero trânsito de mercadorias.


O desaparecimento do caráter na ordem social e sua substituição pelos simulacros vazios delineiam a perturbadora realidade subjacente às narrativas de Schulz onde, não por acaso, os manequins, as aves empalhadas e as figuras de cera são presenças constantes enquanto o pai que definha constela a impossibilidade do retorno das coisas à origem de suas existências. Os expedientes manipulativos que substituíram a dignidade das antigas instituições são por ele contrapostos aos restos de um universo desaparecido, onde cada atividade humana tinha um significado cósmico, isto é, em que cada trabalho era também um “estado”, uma atividade misteriosa, reservada a iniciados e, como tal, um ritual de comunhão com o invisível.


Bruno Schulz - escritor polonês
Na estética expressionista de Schulz, a dilatação do tempo e a dissecação dos mínimos gestos são recursos narrativos frequentes. Em suas mãos, um instante transforma-se em metáfora de uma estação inteira. É o que ocorre, por exemplo, no conto Outono, uma meditação sobre os presságios que pairam no ar quando a falência do verão já se torna irreversível, uma memória da era em que a vida transcorria em harmonia com as épocas do ano, e uma constatação da impossibilidade de se capturar o tempo. Em República dos Sonhos, outro dos contos inéditos no Brasil, Schulz contempla o território metafísico que é a fonte de sua poética - um universo cravado às margens do mundo, que é também uma terra prometida e uma cidade celestial, a partir da qual se relativizam todos os termos da realidade. O Cometa, que recorda a passagem do cometa de Halley, em 1910, se volta com ironia mordaz (como Lojas de Canela) sobre o universo da casa paterna, perpassado pelos encantos de uma civilização que não parece ter contradições com a natureza rebelde, mas que está prestes a sucumbir à era dos milagres da tecnologia e ao barateamento dos valores, quando “o condutor elétrico passa a abrir caminho ao coração das mulheres”. A Pátria, de estrutura bem mais tradicional do que as outras narrativas conhecidas de Schulz, tematiza o exílio dos egressos de mundos em extinção e antevê a náusea do assim chamado “mundo desenvolvido”: o protagonista, que subitamente ascende dos porões da nave social para as altas esferas, respira, até enjoar-se, a atmosfera sobrecarregada da prosperidade.


Assim, as diferenças entre a vida sob o signo do mito e a vida profana, sob o signo da moeda, estão no cerne das narrativas de Schulz. É sobre essas disparidades que ele constrói um dos episódios mais queridos de Lojas de Canela, ao comparar a mal-afamada Rua dos Crocodilos, com seus gestos vazios, seu caráter ambíguo e suas fachadas que são caricaturas de si mesmas, aos remanescentes do comércio secreto de um outro tempo. Já as províncias distantes, presas ao imobilismo da sociedade de raiz medieval, descritas em tom nostálgico em O Sanatório sob o Signo da Clepsidra, são signos de uma existência que espelha uma ordem superior, determinada pela experiência do sagrado e por hierarquias imutáveis.


A criação poética de Schulz, assim, é também um ritual de recolha dos escombros gerados pela marcha da história, e um retorno ao mito como forma de reparar aquilo que a humanidade arruinou com o sonho do progresso e a obsessão pelo futuro. Ao preservar o legado de um cosmo intocado pelas forças que acirraram a condição de alienação da humanidade, ele criou antídotos para a malaise de seu tempo - talvez também a do nosso tempo.

* LUIS S. KRAUSZ É PROFESSOR DE LITERATURA HEBRAICA E JUDAICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO E AUTOR DE RITUAIS CREPUSCULARES: JOSEPH ROTH E A NOSTALGIA AUSTRO-JUDIACA (EDUSP) E DESTERRO: MEMÓRIAS EM RUÍNAS (TORDESILHAS), ENTRE OUTROS TÍTULOS.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Sabático - Sábado, 19 de maio de 2012 - Pg. S5 - Internet:  http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,retorno-ao-sentido-mitico,874831,0.htm