«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

DICAS PRECIOSAS DO PAPA

A espiritualidade do clero diocesano
e a tríplice relação do padre com
 o bispo, o presbitério e o povo de Deus,
segundo o Papa Francisco

Sala de Imprensa da Santa Sé
24-11-2018

«O bispo deve conhecê-los assim como vocês são:
cada um tem a própria personalidade, o próprio modo de sentir,
o próprio modo de pensar, as próprias virtudes, os próprios defeitos...
O bispo é pai: é pai que ajuda a crescer, é pai que prepara para a missão.»
PAPA FRANCISCO
Dirige sua palavra aos seminaristas da Diocese de Agrigento (Itália)
Vaticano, Sala do Consistório do Palácio Apostólico

Às 11h30 da manhã desse sábado, 24 de novembro, na Sala do Consistório do Palácio Apostólico, o Santo Padre Francisco recebeu em audiência os seminaristas da Diocese de Agrigento, na Itália.

Depois de entregar aos presentes o discurso preparado para a ocasião [clique http://www.ihu.unisinos.br/584965 para ler este discurso], o papa se dirigiu de improviso aos participantes do encontro.

Publicamos abaixo o discurso feito de improviso pelo Santo Padre:

Há um discurso preparado, com o ícone dos discípulos de Emaús, que vocês podem ler em casa, tranquilos, e meditar em paz. Eu o entrego ao reitor. Vou me sentir mais à vontade falando um pouco espontaneamente.

Naquele discurso, a última palavra era a “missão”. Gostei daquilo que o reitor disse sobre o horizonte da Albânia. Porque a missão, é verdade, é algo que o Espírito nos impulsiona a sair, sair, sempre sair. Mas, se não há o horizonte apostólico, existe o perigo de errar e sair não para levar uma mensagem, mas para “passear”, isto é, sair mal. Em vez de fazer um caminho de força, sair de si mesmos, é fazer um labirinto, onde nunca se consegue encontrar uma estrada, ou a errar de estrada!

“Como posso ter certeza de que a minha saída apostólica é aquela que o Senhor quer, aquela que Deus quer de mim, seja na formação, seja depois?” Tem o bispo! O bispo é aquele que, em nome de Deus, diz: “Esta é a estrada”. Você pode ir ao encontro do bispo e dizer: “Eu sinto isto”, e ele vai discernir se é isso ou não. Mas, no fim das contas, quem dá a missão é o bispo.

Por que eu digo isso? Não se pode viver o sacerdócio sem uma missão. O bispo não dá apenas um encargo: “Ocupem-se desta paróquia”, como o chefe de um banco dá encargos aos empregados. Não, o bispo dá uma missão: “Santifica aquelas pessoas, leva Cristo àquelas pessoas. É outro nível.
PAPA FRANCISCO e o reitor do Seminário da Diocese de Agrigento (Itália)

Por isso, é importante o diálogo com o bispo: era aqui que eu queria chegar, ao diálogo com o bispo.

O bispo deve conhecê-los assim vocês são: cada um tem a própria personalidade, o próprio modo de sentir, o próprio modo de pensar, as próprias virtudes, os próprios defeitos... O bispo é pai: é pai que ajuda a crescer, é pai que prepara para a missão. E, quanto mais o bispo conhece o padre, menor será o perigo de errar na missão que ele dará.

Não se pode ser um bom padre sem um diálogo filial com o bispo. Isso é algo inegociável, como alguns gostam de dizer. “Não, eu sou um empregado da Igreja.” Você errou. Aqui tem um bispo, não tem uma assembleia em que se negocia o posto. Tem um pai que faz a unidade: foi assim que Jesus quis as coisas. Um pai que faz a unidade.

É bonito quando Paulo escreve a Tito, que ele deixou em Creta para “organizar” as coisas. E diz as virtudes dos presbíteros, do bispo e dos leigos, também dos diáconos. Mas deixa o bispo para organizar: organizar no Espírito, que não equivale a organizar no organograma. A Igreja não é um organograma. É verdade que, às vezes, usamos um organograma para sermos mais funcionais, mas a Igreja vai além do organograma, é outra coisa: é a vida, a vida “organizada” no Espírito Santo.

E quem está no lugar do pai? O bispo. Ele não é o patrão da empresa, o bispo, não. Não é o patrão. Ele não é quem manda: “Aqui mando eu”, alguns obedecem, outros fingem obedecer, e outros não fazem nada... Não, o bispo é o pai, é fecundo, é quem gera a missão. Essa palavra, missão, que eu quis tomar, é carregada, carregada da vontade de Jesus, é carregada do Espírito Santo.

Por isso, eu recomendo, desde o seminário, aprendam a ver no bispo o pai que foi colocado lá para ajudá-los a crescer, para seguir em frente e para acompanhá-los nos momentos do apostolado de vocês: nos momentos bonitos, nos momentos feios, mas acompanhá-los sempre; nos momentos de sucesso, nos momentos das derrotas que vocês sempre terão na vida, todos... Essa é uma coisa muito, muito importante.

Outra coisa, a do barro do oleiro. Gostei de tomar Jeremias. Ele diz: quando o vaso não está bom, o oleiro o refaz. Enquanto está se fazendo o vaso e há algo que não funciona, há tempo para retomar tudo e recomeçar. Mas uma vez cozido...

Por favor, deixem-se formar. Não são caprichos aquilo que os formadores pedem. Se vocês não concordam, falem a respeito. Mas sejam homens, não crianças. Homens, corajosos, e digam ao reitor: “Eu não concordo com isto, não o entendo”. Isso é importante, dizer o que você sente.

Assim, pode-se formar a sua personalidade, para ser verdadeiramente um vaso cheio de graça. Mas, se você está calado e não dialoga, não diz as suas dificuldades, não conta as suas ansiedades apostólicas e tudo o que quiser, um homem calado, uma vez “cozido”, não pode ser mudado. E toda a vida é assim. É verdade que, às vezes, não é agradável que o oleiro intervenha de modo decisivo, mas é pelo bem de vocês. Deixem-se formar, deixem-se formar. Antes do “cozimento”, porque, assim, vocês serão bons.

E, depois, outras duas coisas. Qual é a espiritualidade do clero diocesano? Como dizia aquele padre aos religiosos: “Eu tenho a espiritualidade da congregação religiosa que São Pedro fundou”. A espiritualidade do clero diocesano, qual é? É a diocesanidade.
PAPA FRANCISCO ouve a saudação do reitor do Seminário de Agrigento (Itália)

A diocesanidade tem três direcionamentos, três relações.

1ª) A primeira é a relação com o bispo, mas eu já falei bastante sobre isso. A primeira relação: não se pode ser um bom padre diocesano sem a relação com o bispo.

2º) A relação no presbitério. Amizade entre vocês. É verdade que não se pode ser amigo íntimo de todos, porque não somos iguais, mas bons irmãos, sim, que se querem bem. E qual é o sinal de que, em um presbitério, há irmandade, há fraternidade? Qual é o sinal? Quando não há fofocas. A fofoca, a bisbilhotice é a peste do presbitério. Se você tem algo contra ele, diga-o na cara. Diga-o de homem para homem. Mas não falem pelas costas: isso não é coisa de homem! Eu não digo de homem espiritual, não, não é de homem, simplesmente.

Quando não há bisbilhotice em um presbitério, quando essa porta está fechada, o que acontece? Bem, tem um pouco de barulho, nas reuniões se dizem as coisas na cara, “eu não concordo!”, se levanta a voz um pouco... Mas como irmãos! Em casa, nós, irmãos, brigávamos assim. Mas na verdade.

E, depois, cuidar dos irmãos, querer-se bem. “Sim, Padre, mas o senhor sabe, aquele lá não gosta de mim...” Mas eu também tenho muitos que não gostam de mim, e eu não gosto de algum outro, isso é uma coisa natural da vida, mas o nível da nossa consagração nos leva a outra coisa, a sermos harmônicos, em harmonia. Essa é uma graça que vocês devem pedir ao Espírito Santo.

Aquela frase de São Basílio – que alguns dizem que não era de São Basílio – no Tratado sobre o Espírito Santo: “Ipse harmonia est”, Ele é a harmonia. Parece um pouco estranho, o Espírito Santo, porque, com os carismas – porque todos vocês são diferentes –, ele faz, digamos assim, como que uma desordem: todos diferentes. Mas depois ele tem o poder de fazer daquela desordem uma ordem mais rica, com muitos carismas diferentes que não anulam a personalidade de cada um. O Espírito Santo é aquele que faz a unidade: a unidade no presbitério.

A relação com o bispo, a relação entre vocês. Sinal negativo: a fofoca. Nada de fofoca. Sinal positivo: dizer-se as coisas claramente, discutir, até mesmo se irritar, mas isso é saudável, isso é coisa de homens. A fofoca é de covardes.

A relação com o bispo, a relação entre vocês, e...
3º) A relação com o povo de Deus. Nós somos chamados pelo Senhor para servir ao Senhor no povo de Deus. Ou, melhor, fomos tirados do povo de Deus! Isso ajuda muito! A memória, aquela de Amós, quando diz: “Tu és profeta...”. Eu? Qual profeta? Eu fui tirado de trás do rebanho, era pastor...

Cada um de nós foi tirado do povo de Deus, foi escolhido, e não devemos esquecer de onde viemos. Porque, muitas vezes, quando esquecemos isso, caímos no clericalismo e esquecemos o povo do qual viemos. Por favor, não se esqueçam da mãe, do pai, da avó, do avô, do vilarejo, da pobreza, das dificuldades das famílias: não se esqueçam deles! O Senhor tirou vocês de lá, do povo de Deus. Porque, com isso, com essa memória, vocês saberão falar ao povo de Deus, como servir ao povo de Deus. O sacerdote que vem do povo e não se esquece de que foi tirado do povo, da comunidade cristã, ao serviço do povo.

“Mas não, eu me esqueci, agora me sinto um pouco superior a todos...” O clericalismo, caríssimos, é a nossa perversão mais feia. O Senhor os quer pastores, pastores de povo, não clérigos de Estado.

Essa é a espiritualidade [do padre diocesano]: a relação com o bispo, a relação entre vocês e o contato, a relação com o povo de Deus na memória – de onde eu venho – e no serviço – para onde vou. E como se faz para crescer nisso? Com a vida espiritual.

Vocês têm um pai espiritual: abram o coração ao pai espiritual. E ele lhes ensinará como rezar, a oração; como amar Nossa Senhora.... Não se esqueçam disso, porque Ela está sempre perto da vocação de cada um de vocês. A conversa com o pai espiritual. Que não é um inspetor da consciência. É alguém que, em nome do bispo, os ajuda a crescer. A vida espiritual.

Obrigado pela visita. Esqueci-me de lhes trazer um livreto que queria lhes dar, mas vou enviá-lo ao bispo, para cada um de vocês. E rezem por mim, eu rezarei por vocês. Não se esqueçam disto: a espiritualidade do clero diocesano. Coragem!

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 27 de novembro de 2018 – Internet: clique aqui.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

UMA AFRONTA À EDUCAÇÃO

ESCOLA SEM PARTIDO

Opiniões de quem entende

1. Visão à direita

Luiz Felipe Pondé
Escritor e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”.
É doutor em filosofia pela USP

Lei é como elefante numa loja de cristais
no que diz respeito a costumes e afetos

Não sou simpático à lei da Escola sem Partido. Sou professor há 22 anos. Ela pode virar um belo sistema randômico de censura. Pais de alunos são imprevisíveis.

Um dia posso estar falando de darwinismo e um pai evangélico considerar que estou pregando ateísmo. Um dia posso estar dizendo que a espécie humana reproduziu e sobreviveu porque a maioria dela é heterossexual e algum aluno filho de um casal gay pode me acusar de homofobia.

Você duvida? Se sim é porque anda alienado da realidade ridícula que o mundo está vivendo. As mídias sociais tornaram o ressentimento uma categoria política de ação. Os ressentidos perderam a vergonha na cara.

Não gosto de leis, não confio em juízes, promotores ou procuradores.

O Ministério Público com frequência nos considera cidadãos hipossuficientes e decide processar você por descrever a relação entre peso e massa na lei da gravidade numa aula —e essa lei não respeitaria as sensibilidades de pessoas vulneráveis psicologicamente devido ao maior peso delas.

Minha oposição à lei da Escola sem Partido não é porque eu não saiba que grande parte dos professores prega marxismo e similares em sala de aula. Prega sim. E a universidade não é um espaço de debate livre de ideias. Isso é um fetiche, para não dizer diretamente que é uma mentira deslavada.

A universidade é um espaço de truculência na gestão, na sala de aula, nos colegiados, no movimento estudantil.

Lobbies ideológicos ou não dilaceram as universidades quase as levando à inércia produtiva —principalmente nas “humanas”.

Quem discordar da cartilha de esquerda é “fascista”. Minha oposição à Escola sem Partido é porque ela é uma lei.

Sei. Ficou confuso? Vou repetir: minha oposição à Escola sem Partido é porque ela é uma lei. Com ela, aumentaríamos o mercado para advogados e a justificativa pra mais gasto com o Poder Judiciário.

Quem a defende parece não entender que lei em matéria de costumes é como um elefante em loja de cristais. Outra área em que lei é como um elefante em loja de cristais é no
campo dos afetos.

Meu argumento, ao contrário do que podem pensar inteligentinhos de direita e de esquerda, é profundamente conservador, no sentido que o conceito tem na filosofia britânica a partir do século 19 — o conceito sem a palavra surge no final do 18 com Edmund Burke (1729-1797), a palavra surge na França nos primeiros anos do século 19, segundo o historiador das ideias Russel Kirk (1918-1994).

No sentido filosófico, e não no debate empobrecidos das militâncias, ser conservador é ser cético em matéria de invenções políticas, econômicas, sociais ou jurídicas.

Um temperamento conservador, como diria Michael Oakeshott (1901-1990), filósofo conservador britânico fundamental para o assunto, desconfia da fúria “racionalista” de se inventar, por exemplo, leis que interfiram sobre hábitos e costumes (estes, sim, pérolas para um cético em política).

Aliás, pouco se sabe entre nós sobre o que é, no sentido erudito e conceitual, ser conservador. Qual a razão de não sabermos? Pergunte aos professores e coordenadores de escolas e universidades. A bibliografia escolhida por eles é, na imensa maioria das vezes, uma pregação em si.

Alunos de escola, de graduação e pós-graduação, constantemente, são boicotados em sua intenção de conhecer outros títulos que não seja a cartilha com Marx e seus avatares.
Luiz Felipe Pondé
Autor deste artigo

A lei da Escola sem Partido é uma solução ruim para um problema real. A crítica a ela, sem reconhecer que sua motivação é justificada, presta um enorme desserviço ao debate.

Com isso não quero dizer que professores marxistas de história mentindo pura e simplesmente ou restringindo o acesso a múltiplas “narrativas” (como é chique falar agora) sejam a principal questão no Brasil de hoje em dia.

Existem muitas outras, como economia, corrupção, violência urbana, e outras mais. Mas, a formação educacional ideologicamente enviesada, por exemplo, faz muita gente “educada” abraçar movimentos como o Lula Livre, achando lindo.

A educação piorou muito depois que os professores resolveram pregar em sala de aula em vez de ensinar rios e capitais dos estados e países. Simples assim. Mas aumentar o mercado jurídico no país é um engano grave. Já somos presas demais do crescente lobby jurídico para não ver isso.

Fonte: Folha de S. Paulo – Ilustrada / Colunista – Segunda-feira, 26 de novembro de 2018 – Pág. C6 – Internet: clique aqui.

2. Visão à esquerda

Tresloucada exposição de crenças

Antonio Prata
Escritor e roteirista, autor de “Nu, de Botas”

A cartilha do futuro ministro da Educação
não é só reacionária, é delirante

Em 7 de novembro, o filósofo Ricardo Vélez Rodríguez, futuro ministro da Educação, publicou num blog o texto “Um roteiro para o MEC” [tenha acesso a este texto, clicando aqui], expondo os rumos que pretendia dar à pasta, caso fosse convocado. Ali, afirma que o ministério é hoje uma instituição “destinada a desmontar os valores tradicionais da nossa sociedade, no que tange à preservação da vida, da família, da religião, da cidadania, em soma (sic), do patriotismo”, reclama de “uma doutrinação de índole cientificista” (o que seria este cientificismo? Ensinar sobre seleção natural? Aquecimento global?), fala de “invenções deletérias” como “educação de gênero”, cita o PT, Marx, Gramsci (duas vezes), mas não usa uma única vez as palavras “alfabetização”, “português”, “matemática” ou “escola”. “Professor” ele escreveu duas vezes: para falar do “professor e amigo Olavo de Carvalho” e do “professor e intelectual” Vélez Rodríguez.

A escolha do colombiano explicita o que já ficou sugerido no veto a Mozart Ramos, membro do Instituto Ayrton Senna (aos olhos da bancada evangélica, praticamente a VAR-Palmares): a função do MEC no governo Bolsonaro não será ensinar a ler, a escrever, a fazer contas, a compreender a origem da vida, das ideias e das instituições, mas lutar pelo desmonte de um inexistente complô esquerdista cujo objetivo é destruir a família, a pátria, Deus. Fico na dúvida se eles realmente acreditam nesse complô ou se é só uma desculpa pra empurrar goela abaixo das crianças a cartilha do pensamento único da extrema direita cristã.

Afinal, a cartilha não é só reacionária, é delirante. Vélez Rodríguez afirma no texto citado que os governos petistas promoveram “uma tresloucada oposição de raças”. O futuro ministro realmente acha que até a chegada de Lula ao poder os brancos e os negros viviam em pé de igualdade no Brasil?

Segundo a Pnad 2017, negros ganham em média R$ 1.570, contra R$ 2.824 dos brancos. Negros representam 54% da população, mas são 75% entre os 10% mais pobres (Pnad 2015). Entre o 1% mais rico, há só 17,8% de negros. 9,9% de negros e pardos são analfabetos, mais que o dobro do número de brancos, 4,2%. Para cada branco vítima de homicídio há dois negros. (Os dados acima não saíram do jornal Causa Operária, mas da revista Exame).

Da mesma forma como acredita que a “oposição de raças” nasce com a reação dos negros à injustiça (obra, pelo que entendi, da “ameaçadora hegemonia vermelha”), a extrema direita cristã também parece crer que o desejo é inculcado nos jovens pelas aulas de educação sexual: se não falarmos sobre sexo, todos permanecerão virgens até o casamento —heterossexual, claro. É justamente o contrário: é com informação que se combate gravidez precoce, DSTs [doenças sexualmente transmissíveis], homofobia, machismo. Educação sexual não tem nada a ver com distribuição de mamadeiras com bico de pênis em creches, como pregava uma das inúmeras fake news que ajudaram a eleger Bolsonaro — “através de meios singelos de comunicação como o Smartphone e a Internet”, segundo o ministro, dando aí uma nada singela ressignificação à palavra “singelo”.
Antonio Prata
Autor deste artigo

A Escola sem Partido defendida pelo futuro ministro e pelo presidente eleito afirma querer impedir a doutrinação nas salas de aula. Basta ler “Um roteiro para o MEC”, contudo, para compreendermos que o principal objetivo do MEC no novo governo será justamente a doutrinação. Política. Religiosa. Cultural. Minha esperança está na solidez de nossas instituições: no sólido descalabro da educação pública, que mal é capaz de alfabetizar os alunos, que dirá doutrinar uma geração.

Fonte: Folha de S. Paulo – Cotidiano – Domingo, 25 de novembro de 2018 – Pág. B3 – Internet: clique aqui.

3. Visões mais ao centro

Foco no que importa

Renata Cafardo
Repórter especial do jornal O Estado de S. Paulo e fundadora da
Associação de Jornalistas de Educação (JEDUCA)

Maioria sabe que crianças não aprendem e que professores
não têm formação adequada
RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ
Futuro Ministro da Educação no governo de Jair Bolsonaro

A educação pública brasileira tem problemas que – felizmente – estão claros para a maioria das pessoas. Não é preciso ser especialista na área para saber que:
* as crianças não aprendem,
* que os professores não são formados da maneira adequada,
* que os adolescentes cada vez mais se desinteressam pela escola.
Digo felizmente porque só com o diagnóstico podemos buscar a cura.

Mas, nos últimos meses, o debate político colocou holofotes em um nova doença para a educação: a ideologização. Não que ela não existisse, mas seria equivalente a uma dor nas costas em um paciente com câncer. E que médico colocaria todos seus esforços para curar apenas essa dor?

Na semana passada, a comunidade educacional respirou aliviada por poucas horas quando surgiram notícias de que o presidente eleito Jair Bolsonaro havia escolhido o educador Mozart Neves para o Ministério da Educação. A satisfação não vinha apenas do fato de ele ser um dos nomes mais respeitados da área atualmente, afeito ao diálogo, de perfil moderado, com experiência em cargos públicos, na academia e no terceiro setor. Imaginava-se que, enfim, o novo governo iria passar a discutir as reais questões da educação.

Mozart e outros tantos especialistas sabem que é preciso:
* alfabetizar todas as crianças até os 8 anos,
* reformular currículos ultrapassados,
* criar uma nova carreira do professor,
* investir na primeira infância e
* modernizar o ensino médio.
E estudaram as formas de fazer isso, conhecem as evidências do que funciona e não funciona no Brasil e lá fora.

Mas a bancada evangélica do Congresso conseguiu voltar o foco para o que é menos importante. Cobrou que o novo ministro tivesse “afinidade ideológica”.

O presidente eleito, que tinha gostado da conversa com Viviane Senna em que ela sugeriu políticas com impacto na aprendizagem, foi lembrado do que havia repetido durante a campanha eleitoral. Escola sem partido, doutrinação, inocência das crianças voltaram a ser as grandes questões da educação.

E o ministro finalmente anunciado pelo Twitter foi o filósofo conservador Ricardo Vélez Rodríguez. Em sua primeira declaração ao País depois de indicado, por meio de uma carta, disse “não à instrumentalização da educação com finalidade político-partidária”. Poderia ter dito “não” a deixar gerações terminarem a escola sem compreender o que leem.

Mesmo pregando que a educação não é lugar de política, o futuro ministro gastou boa parte da carta para exaltar a vitória de Bolsonaro [E isso não é fazer política???!!!]. Disse que o eleito explicitou o “desejo de ver consolidada uma nova forma de fazer política, longe das velhas práticas clientelistas e da tradicional negociação de cargos por benefícios pessoais”.
Renata Cafardo
Autora deste artigo

A única dica sobre futuras políticas educacionais foram descrições não muito claras do papel das cidades. “O sistema educacional deve olhar mais para as pessoas ali onde elas residem: nos municípios”, escreveu. É o que pede a Constituição: escolas de ensino infantil e fundamental são responsabilidade das prefeituras.

Por estarem mais próximas dos cidadãos, as administrações municipais entenderiam melhor as necessidades da educação local e teriam mais facilidade em fazer mudanças. Mas, muitas vezes, faltam dinheiro e profissionais preparados para políticas de qualidade. Seria preciso entender melhor como ele pretende resolver o problema.

A carta ainda termina com o slogan que marcou a eleição: Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Vamos torcer para que Rodríguez esteja apenas agradecido pela honrada função que recebeu do presidente e tenha querido deixar clara sua lealdade. Mas que, acima de qualquer coisa, ele esteja preocupado mesmo em garantir que as crianças aprendam.

Fonte: O Estado de S. Paulo – .Edu – Domingo, 25 de novembro de 2018 – Pág. A17 – Internet: clique aqui.

O desafio da educação e as
fixações de Bolsonaro

Rolf Kuntz
Jornalista

Não haverá crescimento sem educação, nem educação se valerem
os critérios do presidente
MOZART NEVES RAMOS
Primeira escolha de Jair Bolsonaro para Ministro da Educação, mas rejeitado devido ao veto
da bancada evangélica no Congresso Nacional

Com 38 milhões de analfabetos funcionais, escassa oferta de mão de obra qualificada, professores mal pagos e desprestigiados, baixo investimento em tecnologia e estudantes muito mal classificados em testes internacionais, o Brasil jamais sairá da mediocridade sem uma bem planejada e bem executada reforma educacional.

Mas o presidente eleito, Jair Bolsonaro, mostra-se preocupado com a tal doutrinação política nas escolas e com a discussão de questões de gênero em salas de aula.

Sua equipe talvez tenha algum plano para tirar do atoleiro a educação brasileira, mas, se esse for o caso, as propostas estão sendo cuidadosamente escondidas. Ele jamais tratou do assunto seriamente, nem durante a campanha eleitoral nem depois da vitória. Tem falado, ocasionalmente, sobre a importância de cuidar do ensino de algumas disciplinas, como Física, Química, Matemática e Português, mas nunca foi além disso, com as ideias travadas, aparentemente, por fixações ideológicas e morais – ou mesmo religiosas. Se essas fixações definem seus critérios para a política educacional, os brasileiros preocupados com o futuro do País – e de seus descendentes – têm motivos muito sérios para ficar bem mais inquietos, talvez apavorados.

Essas fixações, por enquanto, parecem dominar as ideias do presidente eleito sobre como cuidar do ensino. Ele havia prometido formar o Ministério com base em critérios técnicos. Esse padrão pode ter sido observado na seleção de alguns nomes para a área econômica, um processo conduzido pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes. Mas o critério foi renegado de forma indisfarçável na escolha do ministro da Educação. Neste caso, em todos os momentos o padrão ideológico e religioso prevaleceu de forma ostensiva.

Não se trata, aqui, de simplesmente discutir ou criticar os caminhos seguidos no preenchimento de postos importantes. A questão central é outra, e obviamente muito mais importante.

Se a escolha de um ministro é sujeita a um filtro ideológico, moral e até religioso,
a política desenvolvida em sua área será isenta de condições da mesma natureza?

O nome do professor Mozart Neves, ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco, ex-secretário da Educação do governo pernambucano e diretor do Instituto Ayrton Senna, uma referência em questões educacionais, foi descartado rapidamente pelo presidente eleito por pressão da bancada evangélica. Os elogios de especialistas ao professor foram ignorados ou menosprezados.

O segundo nome em exame, o do procurador federal Guilherme Schelb, foi aplaudido pelos evangélicos. Seus predicados, logo conhecidos: ser favorável ao projeto de lei da Escola sem Partido e contrário à “ideologia de gênero nas escolas”. A escolha pegou muito mal fora dos grupos mais chegados à teocracia. O presidente eleito recuou.

O terceiro nome, o do professor Ricardo Vélez Rodríguez, vinculado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, favorável ao projeto Escola sem Partido e ideologicamente contrário ao “modelo atual de educação”, foi anunciado na quinta-feira como escolhido. O presidente eleito cuidou de divulgar a escolha.

O futuro ministro pode ter alguma ideia útil e relevante sobre política educacional, mas também se absteve, pelo menos até sexta-feira, de comunicá-la ao público. Segundo ele, o modelo atual está destinado a “desmontar os valores tradicionais da sociedade no que tange à preservação da vida, da família, da religião, da cidadania, em suma, do patriotismo”.

Se isso resume as preocupações do futuro ministro, a educação nacional continuará um desastre. Talvez ele tenha ideias mais compatíveis com a importância econômica e social de seu próximo posto, mas nada informou sobre isso.

Qualquer candidato a cuidar da educação brasileira deveria estar preparado para enfrentar pelo menos as seguintes questões:
1) Por que os alunos brasileiros vão tão mal no Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes?
2) Como melhorar os níveis fundamental e médio do ensino brasileiro, obviamente em condições muito más?
3) Como adaptar o ensino às condições impostas (sim, impostas) pela chamada revolução 4.0?
5) Como preparar professores para formar alunos capazes de atuar com sucesso na economia do século 21?
6) Que experiências bem-sucedidas no exterior poderiam proporcionar elementos a um programa de modernização educacional?

Esses são apenas alguns tópicos de importância evidente para o a política brasileira.

Em vez de cuidar desses temas, políticos parlamentares da bancada do atraso, com apoio do presidente eleito e de seu futuro ministro da Educação, cuidam do repulsivo projeto de lei da Escola sem Partido.

Rolf Kuntz
Autor deste artigo
Se aprovado, esse projeto nada fará pelo avanço do País, mas permitirá a implantação de um controle policialesco de professores e de escolas. Qualquer aluno vagabundo encontrará uma brecha para denunciar um professor por uma frase, uma atitude, uma proposta de discussão ou pela recomendação de uma leitura. Será o império da boçalidade, em padrões típicos do autoritarismo mais troglodita.

Quanto ao tratamento da questão de gênero, apenas uma observação. Discussões desse tema podem ser simplesmente uma forma de argumentar a respeito de direitos individuais e de padrões de relacionamento social. Não se distinguem, quanto a esse aspecto, de debates sobre liberdade religiosa ou sobre outros tópicos de direito constitucional e de organização política. Mas o presidente eleito e seus companheiros tendem a reduzir o debate sobre gênero a conversas impróprias sobre sexualidade. [Quanta ignorância!!!]

Mais que estranha, essa é uma fixação assustadora quando se trata de política educacional. Basta pensar num aspecto da educação, sua importância como fator produtivo, para ver com horror o nível das preocupações do futuro presidente e de seus aliados. Chamar de medieval esse nível de pensamento é ofender a memória de figuras como São Tomás, Roger Bacon e Guilherme de Ockham.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto / Opinião – Domingo, 25 de novembro de 2018 – Pág. A2 – Internet: clique aqui.

sábado, 24 de novembro de 2018

34º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

Solenidade de N. S. Jesus Cristo, Rei no Universo

Evangelho: João 18,33b-37

Naquele tempo:
33b Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: «Tu és o rei dos judeus?»
34 Jesus respondeu: «Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim?»
35 Pilatos falou: «Por acaso, sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?».
36 Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui».
37 Pilatos disse a Jesus: «Então tu és rei?»
Jesus respondeu: «Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
Biblista e teólogo espanhol

O DECISIVO

O juízo contra Jesus teve lugar, provavelmente, no palácio em que residia Pilatos, quando dirigia-se a Jerusalém. Ali se encontram, em uma manhã de abril do ano 30, um rei indefeso chamado Jesus e o representante do poderoso sistema imperial de Roma.

O Evangelho Segundo João relata o diálogo entre ambos. Na realidade, mais que um interrogatório, parece um discurso de Jesus para esclarecer alguns temas que interessam muito ao evangelista. Em um determinado momento, Jesus faz uma solene proclamação: «Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz» (Jo 18,37).

Esta afirmação recolhe uma característica básica que define a trajetória profética de Jesus: sua vontade de viver na VERDADE de Deus. Jesus não somente diz a verdade, mas busca a verdade e somente a verdade de um Deus que deseja um mundo mais humano para todos os seus filhos.

Por isso, Jesus fala com autoridade, porém sem falsos autoritarismos. Fala com sinceridade, porém sem dogmatismos. Não fala como os fanáticos, que tratam de impor sua verdade. Tampouco, como os funcionários, que a defendem por obrigação, mesmo que não creiam nela. Não se sente, jamais, guardião da verdade, mas testemunha.

 Jesus não converte a verdade de Deus em propaganda. Não a utiliza em proveito próprio, mas em defesa dos pobres. Não tolera a mentira ou o encobrimento das injustiças. Não suporta as manipulações. Jesus converte-se, assim, na «voz dos sem voz, e voz contra os que têm demasiada voz» (Jon Sobrino).

Esta voz é mais necessária do que nunca, nesta sociedade envolvida em uma grave crise econômica. A ocultação da verdade é um dos mais firmes pressupostos da atuação dos poderes financeiros e da gestão política submetida às suas exigências. Querem nos fazer viver a crise na mentira.

Faz-se todo o possível para ocultar a responsabilidade dos principais causadores da crise e ignora-se, de maneira perversa, o sofrimento das vítimas mais fracas e indefesas. É urgente humanizar a crise colocando no centro de atenção a verdade dos que sofrem e a atenção prioritária à sua situação cada vez mais grave.

Essa é a primeira verdade exigível a todos, se não quisermos ser desumanos. O primeiro dado prévio aos demais. Não podemos acostumar-nos à exclusão social e à desesperança em que estão caindo os mais fracos. Aqueles que seguem Jesus devem escutar a voz deles e sair instintivamente em defesa dos últimos. Quem é da VERDADE escuta sua voz.

JOSÉ MARÍA CASTILLO
Teólogo espanhol

JESUS CRISTO, REI?

No último domingo do ano litúrgico, a Igreja celebra a festividade de Jesus Cristo Rei no Universo. Uma festividade de alto conteúdo teológico, porém que ainda não chegou a tornar-se uma festa popular, nem parece que tenha especial significação para a espiritualidade da grande maioria dos cristãos. É que o título de «rei», aplicado a Jesus, defronta-se com duas dificuldades:
1ª) A secular «mundanização».
2ª) O exagerado «misticismo».

O título de rei é um título secular, mundano que, ademais, está associado, na mentalidade de muita gente, às antigas monarquias absolutas. Por isso, aplicar a Jesus o título de «rei» tem o perigo de evocar o poder político que teve a religião de Israel e o poder temporal que, desde o imperador Constantino, a Igreja exerceu com tanta frequência. Um poder, ademais, que hoje pretende seguir exercendo, baseando-se no argumento segundo o qual a religião é a referência última nos assuntos relacionados com o comportamento ético (Bento XVI).

Fixar os limites e competências da religião nesta ordem de coisas é um dos assuntos mais prementes do momento em que vivemos. Em todo caso, se aceitarmos que o específico do Evangelho não é «o religioso», mas «o laical», o que tem que fazer a Igreja é educar e formar bons «cidadãos». Porque os bons cidadãos são e serão sempre os bons «cristãos».

O exagerado misticismo pode-se dar naquelas pessoas que, quando pensam em Jesus Cristo Rei, o veem pregado na cruz. O qual responde ao título que Pilatos mandou colocar sobre a cabeça do Crucificado. Porém, o perigo pode estar naqueles que associam a cruz somente ao sofrimento e não à luta contra o sofrimento.

Jesus morreu crucificado, não porque Deus quer o sofrimento, mas porque não o deseja. Jesus morreu para fazer o bem e aliviar a dor do mundo. Isso, levado até as últimas consequências, é o que levou Jesus à cruz. E é assim que Jesus Cristo é Rei: sendo bom com todos e fazendo o bem a todos.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fontes: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – J. A. Pagola – Ciclo B (Homilías) – Internet: clique aqui; José María Castillo. La religión de Jesús: comentario al Evangelio diario – Ciclo B (2017-2018). Bilbao: Desclée De Brouwer, 2017, páginas 410-411.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Não seja ingênuo, alguém lhe segue!

Máquinas digitais: hora de desconectar?

Entrevista com Douglas Rushkoff
Professor de Teoria dos Meios e Economia Digital da Universidade do Estado de Nova York. Um dos grandes teóricos do mundo digital.

Juan Iñigo Ibánez

Redes sociais mobilizam nosso lado réptil-primitivo, 
para que troquemos a política pelo consumo.
DOUGLAS RUSHKOFF

“Para o Facebook somos o produto, não o cliente”, repete o teórico da mídia estadunidense Douglas Rushkoff desde 2011. Embora o episódio Cambridge Analytica e o comparecimento de Mark Zuckerberg perante o Senado norte-americano tenham abalado a opinião pública, o que realmente chamou a atenção deste escritor e documentarista de 57 anos foi “como as pessoas ficaram surpresas”. “O plano de negócios do Facebook – assegura ele, falando do subúrbio novaiorquinho de Hastings-on-Hudson, onde reside – sempre foi extrair dados da atividade das pessoas, para vendê-los em seguida”.

As críticas do professor de Teoria dos Meios e Economia Digital da Universidade do Estado de Nova York à empresa de Mark Zuckerberg podem ser estendidas também à maioria das grandes companhias fundadas em tempos de economia digital. Em seu último livro, Throwing Rocks at the Google Bus: How Growth Became the Enemy of Prosperity [Atirando pedras no ônibus do Google: como o crescimento converteu-se no inimigo da prosperidade], editado pela Penguin Books nos Estados Unidos, o teórico de meios argumenta que empresas como Amazon, Netflix ou iTunes acabando utilizando a rede – que a seu ver prometia ser mais uma ferramenta de utilidade pública que uma plataforma comercial – para reviver as piores práticas do capitalismo industrial — agora, porém, “funcionando com esteroides digitais”.

Pioneiro e entusiasta da cibercultura, participante do movimento Occupy Wall Street e ativista da democracia de código aberto, Rushkoff é doutor em Novos Meios e Cultura Digital pela Universidade de Utrecht (Holanda).

Em 2013, o MIT – Massachusetts Institute of Tecnology, o incluiu – junto com Niall Ferguson e Steven Pinkerentre os dez intelectuais mais influentes do mundo. Considerado por muitos o mais fiel herdeiro das ideias de Marshall McLuhan e Neil Postman, é o responsável por cunhar termos como “nativos digitais”, “meios virais” e “moeda social”.

Eis a entrevista.
Tradução do título da obra:
"Atirando pedras no ônibus do Google:
como o crescimento converteu-se no inimigo da prosperidade"

Como se explica o mea-culpa realizado por Mark Zuckerberg perante o Senado norte-americano, ao assumir a falta de maior responsabilidade sobre o modelo de negócios do Facebook?

Douglas Rushkoff: Os jovens desenvolvedores abandonam a escola para iniciar suas empresas, com pouco ou nenhum conhecimento dos impactos políticos e sociais dos produtos que querem construir. Zuckerberg afirmou que não tinha ideia de que sua plataforma afetaria nossa sociedade e nossas eleições da maneira como fizeram. Se ele conhecesse algo sobre a economia política dos meios, não seria tão ignorante. Mas o Facebook é dirigido por alguém que só se formou na escola secundária.

No ano passado, o Facebook revelou os países que mais usaram sua nova modalidade de “interações” e o México se encontrava em primeiro lugar, em nível mundial. Como se relacionam as “interações” e as “curtidas” com o uso que a empresa poderia estar fazendo de nossos dados?

Rushkoff: Facebook usa a “aprendizagem automática” para determinar o que funciona e o que não funciona com você. Quanto mais informação tenham sobre você, maior a precisão com que poderão prever e manipular seu comportamento. Os botões de interação são como um dispositivo de votação instantâneo. São como um “grupo focal” mecânico. Estão fazendo as perguntas que lhe faria um psicólogo que tentasse hipnotizá-la.

No início de 2014 ficamos sabendo que o Facebook havia comprado a patente para desenvolver as lentes de realidade virtual Oculus VR. Em 2016, a empresa lançou seu primeiro protótipo. Qual sua opinião sobre uma empresa acusada de negociar com os dados dos usuários excursionar pelo campo da realidade virtual?

Rushkoff: O Facebook quase perdeu a plataforma de telefones inteligentes. Chegaram aos telefones muito tarde, e muitos temiam que a companhia não os alcançasse. Ao comprar a Oculus Rift, asseguram-se de que, se a realidade virtual converter-se num grande negócio (embora eu creia que isso não ocorrerá), então estarão participando da corrida.

Mas eles ainda não sabem o que fazer com isso. Talvez jogos. O que é certo é que criarão um entorno muito mais controlado para manipular as pessoas, e poderão observar muitas dessas decisões insignificantes que tomamos costumeiramente. Obterão muita informação sobre nossas formas de movimentar-nos através desses entornos.

Que tipos de medida os governos devem tomar para controlar o que empresas como o Facebook poderiam fazer, através da realidade virtual, com nossos dados? Ainda dá tempo de regular isso?

Rushkoff: A Europa é melhor nisso do que a América do Norte. Nos Estados Unidos acredita-se que impedir uma corporação de fazer algo é como dizer a Deus que se cale. O mercado é a sabedoria do universo, que se expressa nos assuntos humanos. Controlar uma empresa é considerado uma afronta à natureza.

O problema com a regulação é que as empresas que supostamente estão reguladas são com frequência as que terminam escrevendo as regras. E as escrevem de modo a garantir seus próprios monopólios. Creio que o mais fácil é converter as plataformas tecnológicas mais gigantescas – as que todos usam – em bens públicos.

Em seu último livro, Throwing Rocks at the Google Bus, você afirma que a Amazon proporciona o exemplo mais claro de como – contrariamente ao sonho da economia colaborativa que muitos imaginaram ser possível no início da internet – os velhos valores corporativos foram amplificados graças à rede. Que tipos de prática as grandes empresas surgidas em tempos de economia digital, como a Amazon, executaram?

Rushkoff: Elas destroem as empresas com que trabalham. Exploram seus trabalhadores, conhecidos como os “turcos mecânicos” da Amazon. Pagam uma ninharia para que façam o trabalho com os computadores, inclusive porque não têm como denunciar, se quem os contrata decide não pagar. Exercem o controle do monopsônio [também chamado “monopólio do comprador”] para pagar menos e exigir mais. Não ajudam as pequenas empresas a intercambiar valor entre elas.

Convertem-se na única plataforma e aproveitam seu monopólio para expulsar as pequenas empresas do negócio. É uma má estratégia a longo prazo, porque se ninguém tem dinheiro, não podem gastá-lo na Amazon.

Como a Amazon afetou a indústria do livro?

Rushkoff: O que a Amazon fez de mais notável foi prejudicar editores e autores. Pagam por livro menos que as livrarias normais. Preferem perder dinheiro com a venda de livros para que as outras livrarias se arruínem. É um conceito difícil de entender: venderão livros abaixo do custo com o objetivo de fazer com que outras livrarias fechem. Não lhes importa o ganho de seus livros. Querem ser um monopólio. E assim, quando forem os livreiros mais importantes do mundo, poderão finalmente impor suas condições aos editores. Podem estabelecer preços, controlar a distribuição e cortar da lista de livros os que não estejam de acordo com eles. É muito assustador, na verdade. O plano, a longo prazo, é que todos os autores trabalhem diretamente para a Amazon. É o que já propõem, de fato, a alguns escritores.

Você mencionou numa entrevista anterior que empresas como a Uber estão realmente usando seus motoristas como “pesquisadores de desenvolvimento”, e assim preparam o terreno para o negócio real: treinar o algoritmo para as viagens que os veículos automatizados farão no futuro…

Rushkoff: Ao longo da história da humanidade, e certamente desde a era industrial, as novas tecnologias fazem com que certas habilidades humanas tornem-se obsoletas. Então, as pessoas procuram outro trabalho. Agora mesmo está ocorrendo em múltiplos setores: alimentos, medicamentos, educação, transportes, recursos, energia e inclusive entretenimento e arte.

O importante a ser lembrado, ao analisar esses problemas, é enxergar o que as empresas de fato pretendem ao excluir o trabalho humano. É realmente mais barato? É melhor? Não. Simplesmente elimina os humanos da equação. A longo prazo, a consequência disso é que não sobrarão seres humanos para comprar os bens e serviços.

Em 1988, Isaac Asimov previu, numa entrevista à BBC, que graças aos computadores, em poucos anos, cada pessoa seria capaz de aprender em seu próprio ritmo, de forma autodidata e durante toda a vida. Você crê que, em certa medida, isso se cumpriu?

Rushkoff: Sim e não. A rede oferece enormes possibilidades educativas, desde a Wikipédia até o aprendizado à distância. Mas elas certamente não representam a cultura em rede dominante hoje em dia. E em muitos casos está sendo utilizada para minar o impacto mais subversivo e verdadeiramente humano da educação. Uma aula ou uma biblioteca digital online oferece uma grande oportunidade a quem não as teve antes, mas também prescinde do fator humano: o intercâmbio vivo de ideias e valores. Um bibliotecário humano é muito mais que uma base de dados.

Todos tinham os mesmos pensamentos otimistas sobre a televisão logo que ela apareceu. Ia ser a grande educadora. Supunha-se que em particular a televisão a cabo desencadearia uma nova revolução na educação. Contudo, nada disso aconteceu. Nenhuma mídia promoverá valores por si mesma. Ela só pode expressar os valores daqueles que a estão desenvolvendo. Neste momento, esses são os valores dos especuladores, razão pela qual as soluções educativas que vemos se desenvolvendo são as que têm modelos de negócios ampliáveis.

Há alguns dias, o [jornal] New York Times voltou a publicar um artigo sobre a tendência, entre os executivos do Google, de inscrever seus filhos em escolas Waldorf*. Parece que ali aprendem a tecer, interagem com a natureza, mas sobretudo não é permitido que se exponham a monitores e são proibidos de usar gadgets. O que isso revela a você?

Rushkoff: Escrevi sobre isso há anos, quando as pessoas sequer acreditavam que fosse verdade. Para mim, significa que são hipócritas. Como os executivos de televisão e publicidade dos anos 1980, que não deixavam seus filhos ver televisão. É porque sabem que esses meios foram intencionalmente desenhados para frustrar a cognição, fazer com que as pessoas tenham medo, sejam burras e sintam-se sós e desesperadas. Isso não é teoria da conspiração. Os designers de interfaces das principais empresas tecnológicas do Vale do Silício estudam “captologia” em Stanford. Leem livros sobre o funcionamento das máquinas caça níqueis de Las Vegas para desenhar algoritmos que viciem.

As tecnologias digitais estão desenhadas especificamente para viciar, criar comportamentos obsessivos e fazer com que as pessoas prefiram as experiências digitais às reais. Os que fazem esse trabalho sabem que é muito ruim e insano, e com razão querem proteger suas famílias dos possíveis danos.
Waldorf School na Filadélfia - Estados Unidos:
primazia do aprendizado individualizado, mesmo que em grupo, contato com a natureza, com as artes,
os animais... Tudo, exceto, coisas tecnológicas!!!

Algumas pessoas apontam a simplicidade moralista, a agressividade e a irritação diante de opiniões contrárias que as pessoas demonstram na internet. Há alguma relação entre a forma como essas plataformas foram configuradas e a ascensão online, nos últimos anos, de grupos como ultra-direita [alt-right] nos Estados Unidos?

Rushkoff: Essas plataformas foram concebidas para provocar respostas simplistas, impulsivas e primitivas — sub-reptícias. Estas são menos reflexivas que as reações dos mamíferos, e muito menos que as das comunidades de humanos.

Nossas emoções e condutas mais humanas provêm de uma parte do cérebro chamada neocórtex. É a parte que as plataformas digitais tratam de evitar a todo custo. A captologia é a ciência de driblar o neocórtex e chegar diretamente no tronco do encéfalo. Essa é a parte que diz “matar ou morrer”. Se essa é a parte do cérebro que está ativa online, ela fomentará esse tipo de comportamento primitivo.
Tradução do título da obra:
"Choque de presente: quando tudo acontece agora"

Você incluiu os efeitos das tecnologias digitais no conceito de “choque de presente”. Como se poderia vincular essa ideia à nossa propensão a crer em fake news e pós-verdade?

Rushkoff: Minha ideia de “choque de presente” se referia à ênfase que as tecnologias digitais aplicam ao momento presente. Mas não ao presente real, e sim a uma instantaneidade e avalanche de dados e escolhas que fazem com que pareça que temos de estar alertas o tempo inteiro. É muito desorientador. Isso nos leva a desejar algo familiar. Qualquer coisa com uma forma familiar, seja ou não verdadeira. Odiamos o caos. Preferiríamos que uma pessoa malvada governasse o mundo a que ninguém o governasse. Isso é mais familiar e seguro.

No ano passado, veio a público a notícia de que o governo mexicano estava usando o software Pegasus para espionar jornalistas através de seus telefones celulares. Que potencial têm esses aparatos para intrometer-se em nossa privacidade?

Rushkoff: Nossos dispositivos têm capacidade de conseguir acesso total a nossas vidas. Tudo. E não somente às coisas que você sabe sobre si mesmo, que tipo de sexo gosta, como se masturba, que drogas usa, mas também às coisas que não sabe sobre si. Essa é a parte mais perigosa. Podem usar macrodados (Big Data)** para saber o que provavelmente fará no futuro. Eles sabem, antes de você, se ficará doente, se se divorciará, se mudará de sexo… qualquer coisa.

A única coisa que impede as empresas de explorar essa capacidade é o medo da lei ou seu sentido ético. Mas até o momento não as vejo preocupadas com nenhum desses aspectos.

Frequentemente nos chegam notícias de novos protótipos robóticos que fazem piruetas e se movem com incrível agilidade por terrenos acidentados. Qual é, na sua opinião, a característica humana que os robôs nunca poderão adquirir ou imitar?

Rushkoff: É precisamente esse o tema de dois dos meus livros, de modo que talvez possa responder um pouco mais brevemente. Que significa ser humano? Podemos ver isso da perspectiva da consciência, da inteligência, da biologia, da espiritualidade, da arte ou do amor? Em que diferem os humanos dos animais em cada um desses aspectos, como diferem dos computadores? Como você pode ver, é um grande conjunto de problemas.

Penso haver uma diferença entre informática e pensamento. Creio que os computadores podem resolver muitos dos problemas que um cérebro humano pode resolver, mas não creio que sejam conscientes de que estão resolvendo os problemas, do mesmo modo que uma pá não sabe que está cavando. Então, quando decidimos substituir a humanidade por computadores, temos que perguntar: por que se incomodar, se as máquinas nem sabem que estão lá?

No início dos anos 1990, em São Francisco, você foi testemunha de como surgiu a cultura rave, junto com o otimismo tecno e a espiritualidade psicodélica. A promessa parecia ser de que a tecnologia e os valores do humanismo se uniriam, numa simbiose promissora. Como crê que poderíamos voltar ao ethos original desse renascimento digital, sem que ele implique um retiro perpétuo nas montanhas ou o ingresso numa espécie de idade pré-digital?

O mais provável é que façamos isso por necessidade. Simplesmente seremos pobres demais para participar desta sociedade industrial digital. Precisaremos de casa e comida, e para isso teremos de voltar a aprender os conceitos básicos. Isso nos fará trabalhar com nossas mãos e com as outras pessoas. Aprenderemos a trabalhar juntos. Olharmo-nos nos olhos, tomar decisões juntos e colaborar.

A outra possibilidade é que a geração que cresce agora simplesmente compreenda que os humanos estão à beira da extinção, e que a sobrevivência requer desconectar-se dessas máquinas, acabar com a escravidão adotada para fabricá-las e romper com o controle mental que nos liga a elas.

Que papel teriam os artistas e os humanistas nesse renascimento digital?

Rushkoff: Os artistas rompem mitos. Ao admitir que o que fazem é artifício, revelam o artifício à sua volta. Seu papel sempre foi explorar o significado de nossa existência: romper as ilusões que se colocam no caminho, sejam elas o medo, o mercado, a dominação ou as leis. A arte pode ajudar a nos demonstrar que os humanos são especiais, inexplicáveis e dignos de existir. Que há neste mundo algo além do valor utilitário. Que o mundo é mais complexo do que aquilo que nossos cálculos algum dia resolverão. Penso que os humanistas são os que tentam convencer-nos de que nossa arte realmente possui essa capacidade. Essa arte verdadeira é mais que entretenimento ou cuidados paliativos. Essa arte é o caminho a seguir.

Traduzido do inglês por Inês Castilho.

N O T A S

* A Pedagogia Waldorf é uma abordagem pedagógica baseada na filosofia da educação do filósofo austríaco Rudolf Steiner, fundador da antroposofia. A pedagogia procura integrar de maneira holística o desenvolvimento físico, espiritual, intelectual e artístico dos alunos. O objetivo é desenvolver indivíduos livres, integrados, socialmente competentes e moralmente responsáveis. As escolas e professores possuem grande autonomia para determinar o currículo, metodologia e governança. Existem atualmente mais de 1092 Escolas Waldorf no mundo e cerca de 1857 jardins de infância, localizados em mais de 64 países [inclusive no Brasil], sendo assim um dos maiores movimentos educacionais independentes do mundo (Fonte: Wikipédia].

** Big Data: em tecnologia da informação, o termo Big Data refere-se a um grande conjunto de dados gerados e armazenados, e que os aplicativos de processamento de dados tradicionais ainda não conseguem lidar em um tempo tolerável. Seu surgimento está relacionado com o aumento exponencial da quantidade de dados gerados a cada minuto no mundo. O Big Data representou uma nova era na sociedade moderna, onde os dados se tornaram cada vez mais valiosos, mudando a forma como a economia e a ciência observam os processos e extraem valor desse caos de dados. Personal Data: dados pessoais, facilmente relacionados ao conceito da Internet das coisas, são dados obtidos através de aparelhos de uso pessoal ou coletivo, tais como smartphones, geladeiras, televisões, carros, etc. Esse tipo de dado mostra as preferências pessoais de um determinado indivíduo através do estudo de padrões, por meio do uso do Personal Data é possível desenvolver metodologias personalizadas de interação com o cliente, de maneira a tornar a relação com o produto menos mecanizada e robotizada. Social Data: dados coletados de redes sociais ou ambientes de interação entre usuários, geralmente demográficos e comportamentais, ou seja, ditam um padrão de um determinado grupo com as mesmas característica. O Social Data é muito utilizado na análise de campanhas de marketing, de maneira a oferecer um serviço ou produto mais personalizado de acordo com diferentes segmentos (Fonte: Wikipédia).

Fonte: Outras Palavras – Quarta-feira, 29 de agosto de 2018 – Internet: clique aqui.