«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

DICAS PRECIOSAS DO PAPA

A espiritualidade do clero diocesano
e a tríplice relação do padre com
 o bispo, o presbitério e o povo de Deus,
segundo o Papa Francisco

Sala de Imprensa da Santa Sé
24-11-2018

«O bispo deve conhecê-los assim como vocês são:
cada um tem a própria personalidade, o próprio modo de sentir,
o próprio modo de pensar, as próprias virtudes, os próprios defeitos...
O bispo é pai: é pai que ajuda a crescer, é pai que prepara para a missão.»
PAPA FRANCISCO
Dirige sua palavra aos seminaristas da Diocese de Agrigento (Itália)
Vaticano, Sala do Consistório do Palácio Apostólico

Às 11h30 da manhã desse sábado, 24 de novembro, na Sala do Consistório do Palácio Apostólico, o Santo Padre Francisco recebeu em audiência os seminaristas da Diocese de Agrigento, na Itália.

Depois de entregar aos presentes o discurso preparado para a ocasião [clique http://www.ihu.unisinos.br/584965 para ler este discurso], o papa se dirigiu de improviso aos participantes do encontro.

Publicamos abaixo o discurso feito de improviso pelo Santo Padre:

Há um discurso preparado, com o ícone dos discípulos de Emaús, que vocês podem ler em casa, tranquilos, e meditar em paz. Eu o entrego ao reitor. Vou me sentir mais à vontade falando um pouco espontaneamente.

Naquele discurso, a última palavra era a “missão”. Gostei daquilo que o reitor disse sobre o horizonte da Albânia. Porque a missão, é verdade, é algo que o Espírito nos impulsiona a sair, sair, sempre sair. Mas, se não há o horizonte apostólico, existe o perigo de errar e sair não para levar uma mensagem, mas para “passear”, isto é, sair mal. Em vez de fazer um caminho de força, sair de si mesmos, é fazer um labirinto, onde nunca se consegue encontrar uma estrada, ou a errar de estrada!

“Como posso ter certeza de que a minha saída apostólica é aquela que o Senhor quer, aquela que Deus quer de mim, seja na formação, seja depois?” Tem o bispo! O bispo é aquele que, em nome de Deus, diz: “Esta é a estrada”. Você pode ir ao encontro do bispo e dizer: “Eu sinto isto”, e ele vai discernir se é isso ou não. Mas, no fim das contas, quem dá a missão é o bispo.

Por que eu digo isso? Não se pode viver o sacerdócio sem uma missão. O bispo não dá apenas um encargo: “Ocupem-se desta paróquia”, como o chefe de um banco dá encargos aos empregados. Não, o bispo dá uma missão: “Santifica aquelas pessoas, leva Cristo àquelas pessoas. É outro nível.
PAPA FRANCISCO e o reitor do Seminário da Diocese de Agrigento (Itália)

Por isso, é importante o diálogo com o bispo: era aqui que eu queria chegar, ao diálogo com o bispo.

O bispo deve conhecê-los assim vocês são: cada um tem a própria personalidade, o próprio modo de sentir, o próprio modo de pensar, as próprias virtudes, os próprios defeitos... O bispo é pai: é pai que ajuda a crescer, é pai que prepara para a missão. E, quanto mais o bispo conhece o padre, menor será o perigo de errar na missão que ele dará.

Não se pode ser um bom padre sem um diálogo filial com o bispo. Isso é algo inegociável, como alguns gostam de dizer. “Não, eu sou um empregado da Igreja.” Você errou. Aqui tem um bispo, não tem uma assembleia em que se negocia o posto. Tem um pai que faz a unidade: foi assim que Jesus quis as coisas. Um pai que faz a unidade.

É bonito quando Paulo escreve a Tito, que ele deixou em Creta para “organizar” as coisas. E diz as virtudes dos presbíteros, do bispo e dos leigos, também dos diáconos. Mas deixa o bispo para organizar: organizar no Espírito, que não equivale a organizar no organograma. A Igreja não é um organograma. É verdade que, às vezes, usamos um organograma para sermos mais funcionais, mas a Igreja vai além do organograma, é outra coisa: é a vida, a vida “organizada” no Espírito Santo.

E quem está no lugar do pai? O bispo. Ele não é o patrão da empresa, o bispo, não. Não é o patrão. Ele não é quem manda: “Aqui mando eu”, alguns obedecem, outros fingem obedecer, e outros não fazem nada... Não, o bispo é o pai, é fecundo, é quem gera a missão. Essa palavra, missão, que eu quis tomar, é carregada, carregada da vontade de Jesus, é carregada do Espírito Santo.

Por isso, eu recomendo, desde o seminário, aprendam a ver no bispo o pai que foi colocado lá para ajudá-los a crescer, para seguir em frente e para acompanhá-los nos momentos do apostolado de vocês: nos momentos bonitos, nos momentos feios, mas acompanhá-los sempre; nos momentos de sucesso, nos momentos das derrotas que vocês sempre terão na vida, todos... Essa é uma coisa muito, muito importante.

Outra coisa, a do barro do oleiro. Gostei de tomar Jeremias. Ele diz: quando o vaso não está bom, o oleiro o refaz. Enquanto está se fazendo o vaso e há algo que não funciona, há tempo para retomar tudo e recomeçar. Mas uma vez cozido...

Por favor, deixem-se formar. Não são caprichos aquilo que os formadores pedem. Se vocês não concordam, falem a respeito. Mas sejam homens, não crianças. Homens, corajosos, e digam ao reitor: “Eu não concordo com isto, não o entendo”. Isso é importante, dizer o que você sente.

Assim, pode-se formar a sua personalidade, para ser verdadeiramente um vaso cheio de graça. Mas, se você está calado e não dialoga, não diz as suas dificuldades, não conta as suas ansiedades apostólicas e tudo o que quiser, um homem calado, uma vez “cozido”, não pode ser mudado. E toda a vida é assim. É verdade que, às vezes, não é agradável que o oleiro intervenha de modo decisivo, mas é pelo bem de vocês. Deixem-se formar, deixem-se formar. Antes do “cozimento”, porque, assim, vocês serão bons.

E, depois, outras duas coisas. Qual é a espiritualidade do clero diocesano? Como dizia aquele padre aos religiosos: “Eu tenho a espiritualidade da congregação religiosa que São Pedro fundou”. A espiritualidade do clero diocesano, qual é? É a diocesanidade.
PAPA FRANCISCO ouve a saudação do reitor do Seminário de Agrigento (Itália)

A diocesanidade tem três direcionamentos, três relações.

1ª) A primeira é a relação com o bispo, mas eu já falei bastante sobre isso. A primeira relação: não se pode ser um bom padre diocesano sem a relação com o bispo.

2º) A relação no presbitério. Amizade entre vocês. É verdade que não se pode ser amigo íntimo de todos, porque não somos iguais, mas bons irmãos, sim, que se querem bem. E qual é o sinal de que, em um presbitério, há irmandade, há fraternidade? Qual é o sinal? Quando não há fofocas. A fofoca, a bisbilhotice é a peste do presbitério. Se você tem algo contra ele, diga-o na cara. Diga-o de homem para homem. Mas não falem pelas costas: isso não é coisa de homem! Eu não digo de homem espiritual, não, não é de homem, simplesmente.

Quando não há bisbilhotice em um presbitério, quando essa porta está fechada, o que acontece? Bem, tem um pouco de barulho, nas reuniões se dizem as coisas na cara, “eu não concordo!”, se levanta a voz um pouco... Mas como irmãos! Em casa, nós, irmãos, brigávamos assim. Mas na verdade.

E, depois, cuidar dos irmãos, querer-se bem. “Sim, Padre, mas o senhor sabe, aquele lá não gosta de mim...” Mas eu também tenho muitos que não gostam de mim, e eu não gosto de algum outro, isso é uma coisa natural da vida, mas o nível da nossa consagração nos leva a outra coisa, a sermos harmônicos, em harmonia. Essa é uma graça que vocês devem pedir ao Espírito Santo.

Aquela frase de São Basílio – que alguns dizem que não era de São Basílio – no Tratado sobre o Espírito Santo: “Ipse harmonia est”, Ele é a harmonia. Parece um pouco estranho, o Espírito Santo, porque, com os carismas – porque todos vocês são diferentes –, ele faz, digamos assim, como que uma desordem: todos diferentes. Mas depois ele tem o poder de fazer daquela desordem uma ordem mais rica, com muitos carismas diferentes que não anulam a personalidade de cada um. O Espírito Santo é aquele que faz a unidade: a unidade no presbitério.

A relação com o bispo, a relação entre vocês. Sinal negativo: a fofoca. Nada de fofoca. Sinal positivo: dizer-se as coisas claramente, discutir, até mesmo se irritar, mas isso é saudável, isso é coisa de homens. A fofoca é de covardes.

A relação com o bispo, a relação entre vocês, e...
3º) A relação com o povo de Deus. Nós somos chamados pelo Senhor para servir ao Senhor no povo de Deus. Ou, melhor, fomos tirados do povo de Deus! Isso ajuda muito! A memória, aquela de Amós, quando diz: “Tu és profeta...”. Eu? Qual profeta? Eu fui tirado de trás do rebanho, era pastor...

Cada um de nós foi tirado do povo de Deus, foi escolhido, e não devemos esquecer de onde viemos. Porque, muitas vezes, quando esquecemos isso, caímos no clericalismo e esquecemos o povo do qual viemos. Por favor, não se esqueçam da mãe, do pai, da avó, do avô, do vilarejo, da pobreza, das dificuldades das famílias: não se esqueçam deles! O Senhor tirou vocês de lá, do povo de Deus. Porque, com isso, com essa memória, vocês saberão falar ao povo de Deus, como servir ao povo de Deus. O sacerdote que vem do povo e não se esquece de que foi tirado do povo, da comunidade cristã, ao serviço do povo.

“Mas não, eu me esqueci, agora me sinto um pouco superior a todos...” O clericalismo, caríssimos, é a nossa perversão mais feia. O Senhor os quer pastores, pastores de povo, não clérigos de Estado.

Essa é a espiritualidade [do padre diocesano]: a relação com o bispo, a relação entre vocês e o contato, a relação com o povo de Deus na memória – de onde eu venho – e no serviço – para onde vou. E como se faz para crescer nisso? Com a vida espiritual.

Vocês têm um pai espiritual: abram o coração ao pai espiritual. E ele lhes ensinará como rezar, a oração; como amar Nossa Senhora.... Não se esqueçam disso, porque Ela está sempre perto da vocação de cada um de vocês. A conversa com o pai espiritual. Que não é um inspetor da consciência. É alguém que, em nome do bispo, os ajuda a crescer. A vida espiritual.

Obrigado pela visita. Esqueci-me de lhes trazer um livreto que queria lhes dar, mas vou enviá-lo ao bispo, para cada um de vocês. E rezem por mim, eu rezarei por vocês. Não se esqueçam disto: a espiritualidade do clero diocesano. Coragem!

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 27 de novembro de 2018 – Internet: clique aqui.

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