«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

PRIMEIRO TIME [É revoltante!!!]



EDITORIAIS

Renan Calheiros, João Alberto e Romero Jucá
estrelas de ponta do PMDB sarneyzista, 
tomam conta do Conselho de Ética do Senado 


"Quem vai mandar alguma coisa para um conselho que tem pessoas amigas do presidente da Casa?" A pergunta do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) exprime o mal-estar da opinião pública diante da composição do novo Conselho de Ética do Senado.

Dos 15 titulares indicados pelos partidos para integrar o órgão, que tem a função de zelar pela observância da ética e do decoro parlamentares, pelo menos oito respondem a inquéritos ou processos no STF (Supremo Tribunal Federal). Mais constrangedoras do que essa circunstância, porém, são as evidências de que o primeiro time de José Sarney (PMDB-AP) se apropriou do conselho.

Afilhado político do presidente da Casa, o senador João Alberto (PMDB-MA) irá presidir o órgão. Gim Argello (PTB-DF) seria o vice-presidente, mas desistiu. Em dezembro, havia deixado a comissão de Orçamento, da qual era relator, depois de descoberta a destinação de R$ 3 milhões em emendas de sua cota a entidades fantasmas.

Além deles, Romero Jucá (PMDB-RR), Valdir Raupp (PMDB-RO) e Renan Calheiros (PMDB-AL) estão entre os novos guardiões da ética no Senado. Calheiros, em 2007, respondeu a cinco representações por quebra de decoro no conselho, convertidas depois em dois processos de cassação, dos quais foi absolvido pelo plenário.

Em 2010, o próprio Sarney enfrentou 11 processos no conselho. Safou-se de todos sem haver refutado os fortes indícios de que o Senado, sob sua responsabilidade, esteve entregue ao descontrole moral e administrativo.

Para além das artes desta ou daquela figura notória da política brasileira, importa ressaltar o papel decisivo do governo Lula no respaldo a esse tipo de conduta.

Calheiros se beneficiou, sobretudo, do compadrio e do espírito corporativo dos colegas, mas Sarney deve sua sobrevivência política à intervenção de Lula. Foi o então presidente quem desarmou gestões por sua cassação. O consórcio do governo petista com o "centrão" redivivo que o apoia está na base de fenômenos como esse conselho de farsa ética.

Nem sempre o órgão funcionou como biombo decorativo. Luiz Estevão foi cassado em 2000. No ano seguinte, para evitar a cassação, Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho e José Roberto Arruda renunciaram a seus mandatos. Era um sinal da fragilização da base do tucano Fernando Henrique Cardoso no final do mandato.

Hoje não é o caso. Dilma Rousseff tem maioria folgada no Senado, e o conselho evidencia a complacência ética dos senadores.

É uma coincidência sintomática que o PT deva aprovar no sábado o retorno ao partido de Delúbio Soares, tesoureiro do mensalão. Não tem nada a ver com o Senado, mas a lógica perversa é a mesma.

Fonte: Folha de S. Paulo - Opinião - Quinta-feira, 28 de abril de 2011 - Pg. A2 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2804201101.htm

Na pista do remendo [É duro admitir isso!]


JANIO DE FREITAS 

Arranjo agora esboçado pelo governo para problema dos aeroportos evidencia grave erro de fazer a Copa

A CADA REFERÊNCIA séria às obrigações para realização da Copa em 2014, mais se comprova que esse compromisso foi buscado pelo Brasil em ocasião imprópria, para data prejudicial e por motivos alheios ao mais conveniente para o país. O presente impulso de crescimento econômico e redução da injustiça social deveria receber todos os bilhões e centavos exigidos pela Copa que não perderia, muito ao contrário, por esperar uns anos mais.

O arranjo agora esboçado pelo governo federal para o problema dos aeroportos iguala solução para já e problema para depois, como mais evidência do grave erro de fazer a Copa. Destinar alguns bilhões aos aeroportos ao tempo em que é aplicado um programa de contenção de gastos federais, por força das circunstâncias, seria tão incabível quanto aguardar por disponibilidade financeira para as obras. Faltam 37 meses para a Copa.

Vem o remendo da falsa salvação. Em lugar de projetos, concorrências e obras com os olhares postos no que se espera do futuro de longo prazo, apenas são admissíveis projetos de realização menos demorada, com os balangandãs da enganação habitual. E, para efetivá-los, a entrega por concessão às empresas que assumam custo e realização das obras, do que já existe (feito com dinheiro público) e do que venha a somar-se.

O tão citado problema dos aeroportos e sua concessão referem-se, a rigor, à precariedade das estações de passageiros, os chamados terminais. Da exploração deles - as taxas pagas por passageiros, o aluguel e o uso de lojas, áreas e serviços pagos pelas empresas aéreas - os concessionários recuperarão os investimentos nas obras e farão o lucro. Uma fórmula que conduz logo à regra capitalista de que, quanto mais estritos os investimentos, mais rápidos o seu retorno e a entrada nos lucros. Um prenúncio, pois.

Aeroportos de médios a grandes são considerados negócios de alta lucratividade. Graças às receitas dos terminais. Faturamento que, destinado às concessionárias, segundo a fórmula esboçada, deixa ao governo os custos das obras já necessárias nas áreas de operações das aeronaves, em vários aeroportos, e os de sua manutenção e possíveis melhoramentos em todos. Gastos a serem cobertos com verbas públicas, ano a ano. Tal como esboçada, convenhamos, a fórmula é para um lado só.

Uma vantagem para o governo, porém, não lhe pode ser negada: a esperteza, voluntária ou não. O governo deixa de ser responsável e cobrado pelas obras e prováveis atrasos, além de outros desagrados a que não hão de faltar os alegados custos das reformas e os períodos das concessões (no Brasil, concessões deveriam ser fixadas em número de vidas ou gerações, não de anos: são até bens de heranças).

LIMITE
A propósito das duas notas sobre a transferência de verbas da nova Secretaria Especial da Saúde dos Indígenas (Sesai) para a velha Funasa, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, informa que a operação ficará limitada a contratos que não podem ser repassados de uma à outra entidade ou só o seriam com muitos inconvenientes a superar.

Fonte: Folha de S. Paulo - Poder - Quinta-feira, 28 de abril de 2011 - Pg. A6 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2804201105.htm

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Conta de luz no Brasil é mais cara que em países ricos


Sílvio Guedes Crespo

A energia elétrica fornecida para residências no Brasil é mais cara do que em diversos países ricos, como Estados Unidos, França, Suíça, Reino Unido, Japão e Itália, segundo um levantamento feito pelo professor de economia Alcides Leite* (foto), especialmente para o Radar Econômico.


Porém, ainda é mais barata que na Alemanha e na Áustria.

Enquanto no Brasil o quiilowatt-hora (kWh) custa US$ 0,254, nos EUA o preço é de US$ 0,133.

Tomando como exemplo uma família que consome mensalmente 300 kWh, o gasto anual com a conta de luz fica em US$ 914,40 no Brasil e US$ 478,80 nos EUA. Na Alemanha, onde a energia é a mais cara entre os 17 países analisados, o custo anual seria de mais de US$ 1.000.

Compare os preços médios da energia elétrica residencial, sempre em dólares, por kilowatt-hora, incluindo tributos, e também o gasto anual de uma casa hipotética onde se consomem 300 kWh todo mês:

País          Preço em kWh          Gasto anual de uma família 
                                                                 que consome 300 kWh por mês
Alemanha           0,308                       1.108,80
Áustria                 0,255                               918
Brasil                  0,254                            914,4
Itália                     0,252                            907,2
Japão                   0,246                            885,6
Irlanda                  0,236                            849,6
Holanda                0,216                            777,6
Portugal                0,201                            723,6
Inglaterra              0,200                               720
Turquia               0,183                            658,8
Suíça                   0,182                            655,2
Polônia                 0,182                            655,2
Noruega               0,155                               558
Grécia                 0,150                               540
França                 0,148                            532,8
Estados Unidos   0,133                            478,8
México                 0,082                            295,2

Fontes: 
Brasil = Aneel.
Demais países = Agência Internacional de Energia.
OBS: preços de dezembro de 2010.

O economista Paulo Rabello de Castro** analisa a pesquisa:

“Carga tributária incidente sobre energia elétrica é uma das maiores do mundo. No Brasil, o preço médio da energia elétrica residencial gira em torno de US$ 0,25 / kWh. É um dos mais elevados do mundo. Isto porque, a carga tributária (tributos e encargos) incidente sobre o setor elétrico nacional representa 45% do valor da tarifa paga pelo consumidor residencial. Segundo a OCDE, trata-se da quinta maior carga tributária, atrás apenas da vigente em países do Norte da Europa.

Quando se compara o preço do serviço entre diversos países, observa-se que em apenas dois, a tarifa é mais alta que a brasileira: Áustria e Alemanha.

A tarifa brasileira é superior a da francesa, onde a matriz energética é muito cara, por ser de natureza essencialmente nuclear. No Brasil, paga-se quase 70% a mais do que na França. Em relação aos EUA, a diferença é ainda maior. O preço da energia elétrica brasileira é o dobro da norte-americana, o maior consumidor per capita desse serviço no mundo.

Desta forma, são penalizadas principalmente as classes de menor renda, cujo dispêndio com serviços essenciais e alimentação representa parcela majoritária de seus gastos correntes.

A indústria, no entanto, é o setor da economia mais prejudicado pelo alto custo energético. Segmentos eletrointensivos, como os de alumínio, papel e celulose, petroquímicos e siderúrgicos, vêem parte de sua competitividade ser comprometida. Alguns não exportam o volume que desejariam, ao mesmo tempo em que enfrentam crescente concorrência com produtos importados.

Outro problema é que a elevada participação da energia elétrica no custo total de produção, tanto nesses, como em outros setores, afugenta novos investimentos. Nesse ambiente, não se pode desprezar o risco de que muitas empresas sejam estimuladas a instalar suas plantas em outros países, onde a tarifa de energia elétrica seja mais barata que a nossa.”

—–

* Alcides Leite, que fez o levantamento de preços de energia elétrica, é professor de economia na Trevisan Escola de Negócios e inspetor-analista concursado do Banco Central. Autor de “Brasil: A trajetória de um país forte”.

** Paulo Rabello de Castro, autor do comentário acima, é coordenador do Movimento Brasil Eficiente (MBE), que reúne mais de 80 entidades empresariais em defesa da simplificação fiscal e maior eficiência nos gastos públicos. Recentemente, lançou campanha pela subscrição de abaixo-assinado, no site www.brasileficiente.org.br, que pretende recolher 1 milhão de assinaturas para transformar em projeto de lei suas propostas.

Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Radar Econômico - 27 de abril de 2011 - 06h00 - Internet: http://blogs.estadao.com.br/radar-economico/2011/04/27/conta-de-luz-no-brasil-e-mais-cara-que-em-paises-ricos/

Iniciação à leitura [Pais e educadores leiam!]


ROSELY SAYÃO *

"Criar o hábito da leitura" já perdeu o sentido. Queremos que as crianças leiam por prazer ou por costume?


CRIANÇA PODE adorar livros e histórias, desde que os adultos não atrapalhem. E como temos atrapalhado o que poderia ser uma verdadeira paixão pelos livros!

Ler é bom, precisamos formar leitores, a vida sem a literatura não teria graça, temos de incentivar o hábito da leitura nas crianças e nos jovens etc. Afirmações como essas brotam da boca de pais e de professores assim, sem mais nem menos.

Temos gosto em pegar frases e repeti-las muito, até que elas percam seu sentido, não é verdade? Assim aconteceu com essas e outras afirmações que tratam da importância da leitura na vida dos mais novos: tanto fizemos que conseguimos esvaziar o que elas dizem.

Primeiramente quero falar dessa expressão horrorosa: "Criar o hábito da leitura". Ah! Vamos aproveitar e lembrar outra semelhante: "Criar hábito de estudo".

Nós queremos que as crianças tenham prazer com livros e histórias ou queremos que adquiram um hábito?
Leitura, tanto quanto estudo, não deve ser tratada assim. Um hábito se instala e pouco - quase nada - acrescenta à vida de uma pessoa.

Já o amor, o prazer, o gosto verdadeiro pela leitura ou pelo estudo são capazes de mudar a nossa vida. Ler e estudar devem ser uma escolha, uma vontade, uma busca por algo que não se tem.

O bebê já pode ser introduzido ao mundo dos livros e da leitura. Pais e professores podem começar contando histórias e oferecendo livros para que ele manuseie, explore, se entretenha com esse objeto. E não precisa ser livro de plástico, que produza som ou coisa semelhante. Livro de verdade mesmo, de papel, com figuras bonitas e letras, encanta o bebê.

O escritor Ilan Brenman, apaixonado pela literatura, afirma que um requisito importante para iniciar as crianças no universo da leitura é a beleza do livro. Sim: uma capa bonita já chama a atenção da criança, tanto quanto as ilustrações. Aliás, muitos livros sem palavras são lidos pelas crianças com a maior atenção.

Ainda falando de bebês e crianças muito pequenas: o papel do livro, suas diferentes texturas, odores e cores também já são alvo da curiosidade delas e objeto de pesquisa concentrada.

E o que dizer de livros de histórias que crianças já conhecem e adoram - "Peter Pan" e "Alice no País das Maravilhas", por exemplo- com adaptação em "pop-up"? Imperdíveis, já que encantam crianças e adultos.

Não devemos menosprezar as crianças quando o assunto é história: elas não gostam apenas daquelas que foram escritas para as crianças. Toda a literatura, principalmente a clássica, pode ser oferecida, sem censura.

Tornar a leitura um ato obrigatório é uma dessas manias que nós adotamos com as crianças que prejudicam a descoberta que elas poderiam fazer do prazer da leitura. Tudo bem: isso pode ser feito como tarefa escolar, mas depois, bem depois de oferecer a elas a oportunidade de ler por gosto e não por obrigação, no fim do ensino fundamental, por exemplo.

Finalmente: a literatura não deve servir para moralizar a vida dos mais novos.
Nada de contar histórias que só servem para tentar "ensinar" a criança a ter bons modos, escovar os dentes etc. A educação moral e para a higiene, por exemplo, deve usar outros recursos.

Que tal um programa com seu filho? Visitar uma biblioteca ou uma livraria para procurar um livro bonito e gostoso de ler e de ouvir?

Certamente você e seus filhos irão aprender muito sobre a vida e sobre vocês mesmos nesse programa. E boa viagem!

* ROSELY SAYÃO [foto acima] é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha).

Fonte: Folha de S. Paulo - Equilíbrio - Terça-feira, 26 de abril de 2011 - Pg. 8 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2604201110.htm

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A Magia de Ler

Joyce Trindade

Tecnologia digital, ebooks, ipad, iphone, etc. Apesar da multiplicidade de ferramentas tecnológicas para a leitura hoje em dia, o tradicional livro ainda se apresenta como das mais eficazes formas de incentivo à leitura para os jovens. Principalmente, quando adotado da maneira certa.

Um dos locais mais propícios para a prática da leitura, a sala de aula, muitas vezes, pode gerar aversão a livros, principalmente quando são apresentados de forma impositiva. Quando, porém, se resolve fazer do local palco para as palavras e as histórias, o resultado é positivo. Diversas atividades são possíveis para formar uma nova geração de leitores. Ou melhor, de prazerosos leitores.

Implementado pela Secretaria Municipal de Educação de Niterói, em 2010, o projeto "Magia de Ler" transformou a atividade de leitura, que acontecia em horários determinados durante a semana escolar, em uma propostas de ensino, constantemente presente na vida dos alunos e dos professores.

Com o "Magia de Ler", as aulas de leitura, que antes eram ministradas por um professor específico, passaram a ser realizadas por todos os docentes. Além disso, cada estudante da rede municipal (da alfabetização até o 2º ciclo do ensino fundamental) recebe no início do ano uma maleta com cinco livros de autores renomados. Com os exemplares dos educadores e os que ficam na sala de aula, as turmas realizam diversas atividades como rodas de leitura, observação da imagem, roda de conversa, entre outras.

Após, praticamente um ano de implementação do projeto, os resultados refletem a mudança de relação dos estudantes - e dos próprios docentes - com a leitura literária. A sensação de prazer com o novo hábito passou de 16% dos educadores para 33%. O número de livros lidos pelos docentes também aumentou. Enquanto no início de 2010, 74% deles liam três ou mais livros, esse índice passou para 80%.

A literatura infantil tornou-se o tipo de leitura mais realizada em sala de aula. O gênero que antes estava presente em somente 9% das atividades, agora aparece em 28%. As rodas de leitura, que antes eram realizadas em somente 13% casos, passaram a ser a atividade mais promovida com os estudantes (31%). Com isso, os alunos a participação também foi ampliada.

"Quanto mais se lê, mais se quer ler"

A coordenadora do Projeto Magia de Ler, Nádia Enne, afirma que o projeto foi criado, pois a secretaria entendeu que todo professor deveria ser um professor de leitura. "O livro antigamente era, e hoje, em muitos casos ainda é, colocado como 'extraclasse'. O livro não pode ser extraclasse, tem que estar na classe, em sala de aula. O melhor divulgador do livro e da leitura é o professor", explica.

Um círculo virtuoso. Assim se pode definir a leitura. Ao serem atingidos pelos encantos dos livros, os professores transmitem o gosto pela leitura aos alunos, em um contagioso processo - realmente educativo -, no qual educadores e estudantes se sentem valorizados e úteis. Nas escolas municipais de Niterói, o incentivo à leitura fez com que 50% dos docentes se sentissem totalmente satisfeitos com a forma como têm contribuído para a formação dos alunos.

Para Nádia Enne, os benefícios do projeto são muitos: "grande parte das crianças da rede pública não possui livros em casa. Com o projeto, esses alunos passam a montar um acervo de livros em casa, que a cada ano aumenta. Só o fato de ver a felicidade das crianças ao levar sua maleta de livros para casa já bastaria para ser um projeto de excelência", declara.

Para a coordenadora do "Magia de Ler", fazer com que os estudantes tenham prazer na leitura, como estão adquirindo, é algo que vale qualquer esforço. O projeto também atende pessoas com necessidades especiais e um dos diversos exemplos de como a ação tem melhorado a vida dos estudantes é o caso de um menino com síndrome de down. "Ele era uma criança muito retraída mas, com o projeto, já participou até de um recital. O avanço dele está sendo impressionante."

Os participantes do projeto também misturam leitura e tecnologia. As turmas realizam, durante o ano, diversos encontros de bate papo online com autores trabalhados em sala de aula. "Unir leitura e tecnologia é muito bom para os jovens, para eles perceberem que ter contato com leitura não é algo chato e antiquado. Se apaixonar por livros é muito fácil. Quanto mais se lê, mais se quer ler", afirma a professora Nádia Enne.

Escolas utilizam diferentes métodos para aproximar seus alunos dos livros

Muitas escolas já perceberam a importância de promover programas de incentivo à leitura para seus alunos, dentro de sala de aula. Os métodos variam. Podem ser rodas de leitura, livros produzidos por alunos, troca-troca de obras literárias, adaptações para teatro e cinema, entre outros.

O Anglo-Americano, por exemplo, desenvolve, desde a educação infantil, o projeto "Ler e criar". Nele, os estudantes escolhem um livro, leem, levantam dados, realizam pesquisas e interpretam as ideias. Depois, vão até turmas de alunos mais novos para contar aquela história, sob o seu ponto de vista. Além disso, também fazem a mesma coisa para jovens de comunidades carentes, como aconteceu em 2010.

Outra escola que desenvolve atividades pedagógicas voltadas para estimular o lado leitor dos seus alunos é o Colégio Logosófico. Lá, os estudantes participam de rodas de leitura, discussões de textos, apresentações de trabalhos e adaptações de textos literários para o teatro.

"Colocamos trabalhos de leitura e produção textual o tempo inteiro. Ano passado, inclusive, lançamos dois livros com poemas produzidos pelos próprios alunos. O legal é que o livro não foi resultado de uma atividade específica, mas de uma série de ações que nos levaram para esse caminho", explicou o professor de Língua Portuguesa da escola, Tiago Cavalcante.

Além disso, o professor falou sobre o programa Sociedade dos Poetas Vivos. A ideia surgiu, em 2009, depois de passar o filme "Sociedade dos Poetas Mortos" para seus alunos. Inicialmente, era apenas para desenvolver uma produção de poesia, mas os estudantes gostaram tanto, que foi preciso criar um tempo extra, fora do horário de aula normal, apenas para quem quisesse participar. Apesar das atividades terem parado por um tempo, este ano foram retomadas, mas, agora, dentro de sala.

"Separamos um tempo de Língua Portuguesa por semana para fazer um café literário. Cada um leva o que quiser. Fazemos trabalhos com vídeos, música, eles levam violão, poemas que escreveram e muitas outras coisas. Criamos, inclusive, um blog. É um espaço onde eles se sentem livres. Eles leem por prazer e não por obrigação", comentou.

Uma maneira de facilitar o acesso dos estudantes a um grande leque de possibilidades de leitura é o sistema de troca-troca de livros. O método já é utilizado pelo Colégio La Salle Abel há mais de 20 anos. Por ser realizada sem qualquer custo para os participantes, gera economia no orçamento familiar, além de contribuir com meio ambiente, por conta da reutilização do material didático. (Thiago Lopes)

Fonte: FOLHA DIRIGIDA - 26/04/2011 - Internet: http://www.folhadirigida.com.br/script/FdgDestaqueTemplate.asp?pStrLink=7,83,0,248660&IndSeguro=0&lIntErro=

Produção de lixo por morador cresce 9% no Estado de SP


EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO 


Pesquisa a ser divulgada hoje mostra que cada habitante foi responsável por 1,382 kg diário de resíduos em 2010

Estudo de associação de empresas de limpeza pública aponta que a reciclagem "estagnou" em cidades do Sudeste 


Apesar do apelo das campanhas para a reciclagem, a produção de lixo pelos paulistas cresce a cada ano.

A pesquisa anual da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), que será divulgada oficialmente hoje, mostra que a geração de resíduos por habitante do Estado subiu 9% em 2010.
Estimativas utilizadas no estudo indicam que, no mesmo período, a população paulista cresceu 1%.

O número preocupa, segundo a própria associação, porque, caso continue a subir, não haverá infraestrutura adequada para acondicionar todos esses dejetos.

De acordo com a pesquisa, cada habitante do Estado gerou 1,265 kg de lixo por dia em 2009, ante 1,382 kg no ano passado.

Como o estudo considera apenas números oficiais, o lixo clandestino- que fica nas ruas, praças ou terrenos baldios e não é coletado- não entra na contabilidade.

Outra revelação é a estagnação da coleta seletiva de resíduos sólidos no Sudeste. Enquanto em 2009 havia a prática da reciclagem em 1.313 municípios- dos 1.668 da região-, em 2010, 1.326 cidades declararam ter alguma iniciativa de reciclagem.

O problema não é só o aumento da geração de lixo, mas onde colocar as toneladas a mais produzidas.
Tanto em 2009 quanto em 2010, os lixões ficaram com 24% do total de lixo coletado em SP. Em termos absolutos, isso equivale, respectivamente, a 11.800 toneladas/ dia e a 13.008 toneladas/dia. O resto está sendo acondicionado em aterros regulares.

Fonte: Folha de S. Paulo - Cotidiano - Terça-feira, 26 de abril de 2011 - Pg. C6 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2604201117.htm

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MAIS RESÍDUOS 
"PUXADINHO" ELEVA QUANTIA DE ENTULHO 

A quantidade de entulho gerada pelos moradores dos Estados da região Sudeste subiu 10% de 2009 para 2010, segundo as estimativas da Abrelpe. A chamada indústria do "puxadinho", impulsionada por causa da economia aquecida, explica esse aumento, mostra a pesquisa.

Fonte: FOLHA.COM - 26/04/2011 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2604201118.htm

Google oferece tradução automática do latim


O Google introduziu o latim no seu cardápio de idiomas com tradução automática. É a primeira língua de sem falantes a constar no Google Translate.

A notícia é da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação - ALC -, 26-04-2011.

Sem falantes em termos. O latim é língua oficial do Vaticano, onde está localizado o único caixa eletrônico do mundo com instruções em latim. O papa Bento XVI, diz matéria de Mariana Hilgert e Luiz Costa Pereira Junior publicada na revista Língua Portuguesa de março, promulgou documento retomando o uso do latim nas missas, se fiéis o reivindicarem.

Em 1970, o papa Paulo VI criou a Fundação Latina do Vaticano, que editou um dicionário moderno do latim. São dois volumes, com 15 mil verbetes, algumas adaptações de termos usados atualmente, uma vez que muitas descobertas não existiam em idos tempos.

Assim, o turista que se deslocar do Brasil a Roma irá de “velivolum”, ou seja, de avião. Na capital italiana, no deslocamento do aeroporto ao hotel, ele poderá enfrentar engarrafamento, ou “fluxus interclusio”. E não adianta usar a “sonorum autocineti index” (buzina), porque ninguém cederá o lugar numa hora dessas.

No hotel, o viajante poderá usar a “machina linteorum lavatoria” para lavar suas roupas, e mandar um mail usando o “instrumentum computatorium”. E se quiser assistir TV a cabo, recorrerá ao “teleorasis cum transmissione per restem tenacem”.

Se, faminto, o turista quiser saborear batata frita num quiosque do Vaticano, ele pedirá “globulus solaniamus”. E, ao passear pelas ruas da cidade eterna e se deparar com uma pichação, ficará  certamente indignado por causa daquela “figura graphio exarata”.

Ainda em Roma, poderá assistir a uma partida de “pediludium” entre Inter e Milan, ou, se preferir outro entretenimento, escutar um “astrictum sonorumque orbem” de Andrea Bocelli no “instrumentum computatorium”.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 27/04/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=42696

terça-feira, 26 de abril de 2011

Para Frei Betto, sociedade deve resgatar utopia, imaginário e desejo


João Peres

O escritor e pensador Frei Betto defendeu em palestra na terça-feira (19/04/11), na capital paulista, que a sociedade precisa resgatar os mais básicos valores humanos para livrar-se das amarras do atual sistema.

Em uma conferência organizada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Instituto de Tecnologia Social, SESC São Paulo e editora Boitempo, Betto pediu que se resgatem o imaginário, o desejo e a utopia, atributos condensados, na visão dele, pelo guerrilheiro argentino Ernesto “Che” Guevara, um dos ícones da Revolução Cubana. Ele entende que o sistema capitalista levou ao sufocamento desses anseios.

O imaginário, pondera o frade dominicano, é uma peça fundamental da existência humana na medida em que leva à fantasia e à criatividade. “A sociedade neoliberal sabe que o imaginário tem grande capacidade de subversão. Já que não pode impedir nossa fantasia, escolhe o que a gente vai sonhar.”

Ele pensa que a televisão exerce um papel fundamental na sociedade do entretenimento, sequestrando desde a infância a capacidade de sonhar, impedindo inclusive a contestação das regras atuais, que levam à exclusão de dois terços da população mundial em relação a direitos básicos, como alimentação, saúde e educação. O autor de “A mosca azul” entende que nas escolas e na recuperação do papel educativo dos pais está outro passo importante, revertendo a formação de consumistas por parte da TV, que acaba também por sufocar a existência de culturas diferentes em prol da supressão da consciência crítica.

Para Frei Betto, vive-se o começo de uma nova era na qual está em definição se o paradigma será o mercado ou a solidariedade. “No momento que estamos vivendo, a força do mercado é assombrosa. É o produto que porto que me agrega valor”, afirma o pensador, para quem o fim da repressão ao desejo pode ser fundamental para reverter o caminho, passando a rumar em direção a uma sociedade marcada pela solidariedade.

Ele acrescenta que está em contestação a ideia da era da modernidade de que a razão é capaz de dar resposta a tudo, uma vez que essa razão não foi capaz de resolver os problemas mais básicos. “O sistema capitalista não admite a possibilidade de vivermos igualmente.”

A respeito da utopia, Frei Betto acredita que se trata do ponto fundamental a ser resgatado entre os jovens. Ele pondera que a questão das drogas, tão debatida atualmente, não encontrará saída enquanto não se recuperar possibilidade de mudanças. “Só se droga quem está desesperadamente em busca de um sonho”, analisa. “Como o sistema sabe que a utopia é altamente subversiva, decide propagar que a história acabou.”

Fonte: Rede Brasil Atual - 20/04/2011 - Citado pelo Blog "Boitempo Editorial" - Internet: http://boitempoeditorial.com.br/publicacoes_imprensa.php?isbn=978-85-7559-147-5&veiculo=Rede%20Brasil%20Atual

segunda-feira, 25 de abril de 2011

''Apagão'' de combustíveis provoca rombo de US$ 18 bilhões na balança


Raquel Landim

Com o aumento da frota em circulação, consumo de derivados de petróleo supera a produção local e impulsiona as importações

Com a disparada do preço do etanol, que subiu mais de 30% nos postos de combustível desde o início do ano, os motoristas migraram em massa para a gasolina, provocando escassez do produto. Faltou combustível em alguns postos do interior de São Paulo e a Petrobrás e os usineiros chegaram a importar gasolina e etanol.

A situação é resultado da queda da produção de etanol, provocada pela entressafra da cana e pela alta do preço do açúcar, mas reflete também um problema estrutural do País. Com o aumento da frota de veículos e o crescimento da economia, e sem investimentos compatíveis na produção de gasolina, diesel e etanol, o País começa a viver um "apagão" de combustíveis.

O consumo de derivados de petróleo (gasolina, diesel e nafta) ultrapassou a produção local, impulsionando as importações, que ficam cada vez mais caras com o aumento do preço do petróleo lá fora. Em geral, a Petrobrás prioriza a produção de gasolina localmente e concentra as importações em diesel e nafta.

A situação vai provocar um déficit de US$ 18 bilhões na balança de derivados de petróleo este ano, conforme projeção da RC Consultores. Em 2010, as importações de derivados ultrapassaram as exportações em US$ 13 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento. Em 2000, o rombo era de US$ 3,2 bilhões.

Diferente do "apagão" de energia elétrica, que interrompe a produção nas fábricas e deixa as cidades às escuras, a falta de combustível é sanada com importações, desde que a situação não seja muito grave. "A população pode não perceber, mas vivemos um estrangulamento do setor de combustíveis, um apagão", disse Adriano Pires, diretor executivo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

O problema é que a situação aumenta a vulnerabilidade externa do País. Em 2010, o superávit comercial chegou a US$ 20,3 bilhões, mas poderia ter sido 64% maior não fosse o rombo dos combustíveis. O resultado da balança ameniza o déficit em conta corrente (resultado das transações externas do País, incluindo remessas de lucros e viagens internacionais), que deve atingir US$ 61,5 bilhões este ano.

Em 2010, pela primeira vez desde 2000, o País comprou mais derivados do que petróleo bruto. Foram adquiridos 27,38 milhões de metros cúbicos de derivados ante 19,66 milhões de óleo bruto, conforme a Agência Nacional de Petróleo (ANP). "Ficamos mais dependentes da importação de derivados, que têm valor agregado mais alto", disse José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Descompasso
Uma das principais armas do governo para tirar o País da crise global foi estimular a venda de automóveis com incentivos fiscais. Em 2010, foram licenciados 3,52 milhões de veículos, mais que o dobro dos 1,49 milhão de 2000. A frota atual é de 32,5 milhões de carros, ônibus e caminhões.

Esse crescimento, porém, não foi acompanhado pelo aumento na produção de combustíveis. No ano passado, o País consumiu 117,9 milhões de metros cúbicos de derivados de petróleo, 11% a mais do que produziu. Até então, a oferta se equiparava ou superava a demanda. "Não temos refinarias suficientes para atender ao crescimento da economia", disse Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. A Petrobrás tem quatro em construção, mas a produção de derivados só deve crescer em 2013.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Economia & Negócios - Domingo, 24 de abril de 2011 - Pg. B1 - Internet: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110424/not_imp709992,0.php

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Falta de coordenação e expectativas frustradas

Ildo Sauer *

A atual crise e polêmica relativa aos combustíveis guarda semelhança com a de 20 anos atrás. Contém elementos novos vinculados a expectativas geradas no âmbito dos anúncios governamentais, desacompanhados das ações e instrumentos necessários para viabilizá-las. Em 1989-91 três fatores vinculados à ausência de coordenação do governo confluíram para produzir um fiasco que vitimou os brasileiros e destruiu por anos a confiança nos veículos a etanol. Para atenuar o impacto dos choques do petróleo da década de 1970, o governo criou o Proálcool, revitalizando a mistura obrigatória de etanol à gasolina, em vigor desde os anos de 1930. A indústria automobilística desenvolveu o carro exclusivamente à etanol que, com os incentivos, dominou a cena. Dois fatores produziram a crise: expansão insuficiente na capacidade interna de produção de etanol e a conjuntura internacional de demanda por açúcar, com preços compensadores. Parte da cana virou açúcar ao invés do etanol para os carros dos brasileiros que confiaram no governo.

Atualmente repetem-se a falta de coordenação e planejamento e a geração de expectativas falsas. A opção flex foi criada, sacrificando o desempenho e piorando as emissões, para permitir o recurso à gasolina quando os preços ou a disponibilidade de etanol não fossem adequados. Mas os incentivos e anúncios públicos passavam a mensagem de que o etanol estaria sempre disponível e seria vantajoso e que o Brasil daria um exemplo ambiental ao mundo com o etanol renovável.

Temerariamente, diziam que produção de etanol não prejudicaria nem o preço nem o volume de alimentos. Os anúncios não foram acompanhados de ações para coordenar o crescimento da frota com a produção de etanol. A saída da crise de 2008 foi ancorada nas vendas de automóveis flex, ao invés de patrocinar também o transporte público de qualidade. A frota cresceu exponencialmente. A demanda por açúcar no mercado global aumentou, e parte da produção de cana, mesmo inferior a necessária, virou açúcar e também etanol para exportação.

O etanol vale cerca de 70% da gasolina. A gasolina no exterior acompanha o petróleo. Embora a Lei de Política Energética, criada por FHC [Fernando Henrique Cardoso - ex-presidente] e mantida até agora determine que os preços aqui sejam internacionalizados, na prática o governo não permite que a Petrobrás cumpra a lei, mantendo a gasolina cerca de 20% abaixo do valor, por temor dos impactos sobre a recalcitrante inflação. Isto incentiva ainda mais a exportação do etanol, além do açúcar.

Durante anos a Petrobrás teve de buscar formas de desovar, externamente, o excesso de gasolina criado para dar lugar ao etanol. Agora é compelida a importar gasolina. Ao rigor da lei vigente, prejudica seus acionistas, dos quais o maior é o povo brasileiro, e impede a atuação da concorrência. Não se trata de defender a Lei de Política Energética, mas de lembrar que leis devem ser cumpridas ou mudadas, e que o arbítrio do governo não pode suplantá-las. O imbróglio atual decorre da atitude de surfar as ondas favoráveis e da incapacidade de formular políticas coerentes para enfrentar as situações previsíveis e de criar os mecanismos institucionais transparentes e a coragem para implementá-las.

* É PROFESSOR TITULAR DE ENERGIA DO IEE-USP E FOI DIRETOR DA PETROBRÁS (2003-2007).

Fonte: O Estado de S. Paulo - Economia & Negócios - Domingo, 24 de abril de 2011 - Pg. B4 - Internet:  http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110424/not_imp710010,0.php

A imortalidade é possível?


GILBERTO DIMENSTEIN

Ratinhos da juventude ajudam a explicar a lista das atividades profissionais mais promissoras do futuro


A POSSIBILIDADE DE descoberta da fonte da juventude é levada a sério num projeto desenvolvido num laboratório da faculdade de medicina de Harvard, onde se conseguiu deter o processo de envelhecimento em ratos. Se funcionaria entre humanos não se sabe, mas as pesquisas serviram para estimular a hipótese de que teoricamente a imortalidade não é uma maluquice.

A pergunta que alguns dos cientistas fazem é baseada na ideia: as pessoas morrem porque ficam doentes, mas e se nunca ficassem doentes? Enquanto a imortalidade não chega, os ratinhos rejuvenescidos trazem a esperança - e, aí sim, concreta - de que se possa enfrentar melhor uma série de problemas como demência, derrames ou infartos. Para cada parte do corpo atingido, haveria supostamente um jeito de, com novos remédios, torná-lo novo.

Os ratinhos da juventude ajudam a explicar a lista das dez mais promissoras atividades profissionais do futuro, elaborada pelo governo americano, a partir das projeções de mercado de trabalho.

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Em primeiro lugar da lista está o engenheiro biomédico, que é capaz de lidar com diferentes ramos da medicina e engenharia unindo conhecimentos de biologia, química, física, genética, ciência da computação, robótica. Pode-se fazer uma perna mecânica movida pelo cérebro. Ou remédios inteligentes capazes de enfrentar tumores, preservando as "células saudáveis".

Na semana passada, duas notícias tiveram repercussão: um "nariz eletrônico" capaz de detectar pelo hálito vários tipos de câncer e uma perna mecânica capaz de responder ao movimento do corpo.

Tudo isso significa um desmonte no jeito que se transmite o conhecimento, provocado em parte pelo mercado de trabalho. "Em nenhum lugar se ensina a ser cientista de mídias sociais para entender como as pessoas interagem nas redes digitais, que é hoje um negócio bilionário", diz Paulo Blikstein, engenheiro que dirige em Stanford um laboratório que une ciência da computação e pedagogia para descobrir formas mais eficientes de aprender.

Um cientista de mídias sociais pode estudar, por exemplo, em biologia como os micróbios se comportam, seguindo padrões semelhantes aos produzidos pelo fluxo de informação. Pode também conhecer melhor a atitude humana a partir das novas descobertas sobre o átomo. "As disciplinas estão derretendo", acredita Blikstein.

Um jornal eletrônico chamado News.me sabe o que você mais gosta de ler, sugerindo artigos, links e comentários. Mesmo que o computador esteja desligado, o News.me seleciona artigos para serem lidos mais tarde. Se você estiver lendo esta coluna, por exemplo, conforme seu perfil, textos complementares vão aparecendo. Além disso, o que é lido é compartilhado com seus amigos em tempo real, o que acaba interferindo na notícia. Isso significa que as Redações do futuro vão estar povoadas de engenheiros, orientados por cientistas em mídias sociais. Será que as faculdades de jornalismo estão preparadas?

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Ver o mundo a partir de Stanford é enxergar na primeira fila a revolução das mídias sociais e o nascimento de novas carreiras. Em seus dormitórios se inventaram empresas como Google e Yahoo. Aquela universidade foi uma das alavancas do Vale do Silício, na Califórnia, onde germinaram empresas como Apple, Intel, Twitter ou Facebook.

Como o mundo acadêmico não consegue acompanhar o ritmo, as empresas se transformam em centros de treinamento. Daí a universidade criada pelo Google. Quanto mais sofisticada a empresa, mas ela gasta em treinamento e pesquisa, formando suas próprias escolas.

Um dos diferenciais de Stanford foi apressar o derretimento das disciplinas, apostando em centros de pesquisa no campus que unificassem os mais diversos profissionais. Assim, é possível ter numa mesma sala aquele que desenvolve um software para o Twitter e o biólogo que analisa a propagação de micróbios.

O modelo se dissemina por todos os lados. Com o objetivo de encontrar a cura do câncer, o MIT [Massachusetts Institute of Technology - Cambridge, Estado de Massachusetts, EUA] se ligou a Harvard e criou um centro de pesquisa onde trabalham todas as possíveis profissões. Estão no mesmo prédio bioinformáticos, biofísicos, bioquímicos, físicos, matemáticos, engenheiros especialistas em computação, nanotecnólogos. "É como se estivéssemos voltando à Renascença", compara o neurocientista Miguel Nicolelis, que ganhou renome mundial ao desenvolver próteses comandadas pelo cérebro.

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Em nenhum lugar se vê isso tão claramente como na saúde. Na lista das dez profissões mais promissoras, 60% delas são funções ligadas a ela. Esse cruzamento de saberes faz qualquer coisa - até a imortalidade - parecer possível.

PS- E pensar que tanta gente acredita que se pode medir um aluno por suas notas em português e matemática. Aprofundei as informações no catracalivre.com.br.

Fonte: Folha de S. Paulo - Cotidiano - Domingo, 24 de abril de 2011 - Pg. C10 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2404201122.htm

Papa: O homem não é um produto casual da evolução


O homem não é um produto casual da evolução, mas do Amor criador e redentor de Deus, que dá sentido à vida, explicou Bento XVI na Vigília Pascal [foto acima].

Ao presidir a “mãe de todas as vigílias” e batizar seis catecúmenos – da Suíça, Albânia, Peru, Rússia, Singapura e China – o pontífice quis responder na homilia às perguntas de todo homem e mulher sobre a origem e destino de sua existência.

“Se o homem fosse apenas um tal produto casual da evolução num lugar marginal qualquer do universo, então a sua vida seria sem sentido ou mesmo um azar da natureza”, afirmou.

“Mas não! No início, está a Razão, a Razão criadora, divina. E, dado que é Razão, ela criou também a liberdade; e, uma vez que se pode fazer uso indevido da liberdade, existe também o que é contrário à criação.”

“Mas, apesar desta contradição, a criação como tal permanece boa, a vida permanece boa, porque na sua origem está a Razão boa, o amor criador de Deus. Por isso, o mundo pode ser salvo”, disse, explicando a mensagem de esperança deixada pela paixão, morte e ressurreição de Cristo.

“Por isso podemos e devemos colocar-nos da parte da razão, da liberdade e do amor, da parte de Deus que nos ama de tal maneira que Ele sofreu por nós, para que, da sua morte, pudesse surgir uma vida nova, definitiva, restaurada.”

A celebração começou no átrio da Basílica de São Pedro, com o rito da bênção do fogo e a preparação do Círio pascal, presente da Comunidade Neocatecumenal de Roma.

Na basílica, a passagem da escuridão à luz simbolizou a chegada da Luz, que é Cristo, no mundo tenebroso do pecado, da solidão e da morte, segundo explicou Dom Guido Marini, mestre das celebrações litúrgicas pontifícias. O serviço litúrgico foi realizado por religiosos dos Legionários de Cristo.

Fonte: ZENIT - Dia 24 de abril de 2011 - Internet: http://www.zenit.org/article-27815?l=portuguese

Ministro: com mais educação, Brasil já teria dobro da renda


Gustavo Casadio
Direto de Comandatuba 

O ministro da Educação, Fernando Haddad [foto acima], afirmou neste sábado, durante o 10º Fórum Empresarial, que o Brasil possui uma "dívida educacional", por ter investido menos do que deveria durante o século XX. De acordo com o ministro, a média de investimento do País em educação no século passado foi de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Haddad afirmou que se essa média tivesse sido de 6% do PIB desde os anos 1930, a renda per capita dos brasileiros hoje seria ao menos o dobro do que é (US$ 8,1 mil, em 2009).

Haddad disse que se a taxa de 6% desde 1930 fosse aplicada, a população brasileira hoje seria de cerca de 100 milhões de habitantes, e não os atuais 198 milhões atuais. "O Brasil tem que reconhecer que não priorizou a educação no século XX", afirmou o ministro.

Respondendo a questões de empresários da plateia, que reclamaram da necessidade de formação de mais engenheiros, Haddad disse que o Brasil triplicou o número de profissonais formados em cursos superiores desde 1999 (320 mil por ano) até 2009 (950 mil ao ano).

O ministro ainda afirmou que o Brasil avançou em relação a investimento em educação e hoje a taxa de aplicação em relação ao PIB é de cerca de 5%. "Mas ainda é insuficiente, porque temos uma dívida educacional elevada e uma renda per capita baixa". Haddad disse que a meta do Brasil é alcançar os níveis de deseempenho de educação dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da qual fazem parte nações como Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França e Japão.

A explanação do ministro aconteceu durante o Fórum Empresarial, que acontece em Comandatuba, na Bahia, até domingo.

Fonte: TERRA - Notícias - Dia 23 de abril de 2011 - 12h46 - Internet: http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI5091012-EI8266,00.html 

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Fórum Empresarial prioriza papel da Educação

Políticos e empresários criticaram fraco investimento na formação de profissionais no Brasil

O sistema educacional brasileiro foi tema de destaque no 10º Fórum Empresarial de Comandatuba, ocorrido entre 21 e 24 de Abril na Bahia. Empresários criticaram a formação de profissionais no Brasil, que seria em qualidade e número insuficientes para atender à demanda. A esse respeito, o ministro da Educação Fernando Haddad afirmou: “O Brasil tem que reconhecer que não priorizou a educação no século XX” [veja matéria acima].

O empresário Jorge Gerdau, nomeado coordenador da Câmara de Gestão e Planejamento do governo Dilma durante o Fórum Empresarial, afirmou que o déficit de profissionais é mais acentuado entre os engenheiros. Ele explicou que a maioria das empresas brasileiras não possuem condições financeiras de capacitar mão de obra. “Por isso, precisamos ter trabalhadores que cheguem às empresas com boa formação”, concluiu.

Entre as medidas para melhorar a qualidade do sistema educacional do país, os participantes do Fórum destacaram a necessidade de se criar mais vagas em universidades e investir na formação de professores.

Haddad organiza atualmente a Frente Parlamentar da Educação na Câmara dos Deputados, a ser presidida pelo deputado Alex Canziani (PTB-PR) com o apoio de mais de 350 deputados. A Frente, cuja solenidade de instalação ocorrerá na próxima quarta-feira, 27 de Abril, tem como objetivo fiscalizar a política governamental de forma a fazer da Educação uma prioridade na agenda brasileira.

sábado, 23 de abril de 2011

Filme manda Papa para o divã. E o Vaticano aprova


Um Papa deprimido que não se considera à altura da missão que lhe foi dada busca um psicanalista. E o encontra: é nada menos do que o célebre Nanni Moretti (foto acima) um dos diretores mais importantes do cinema europeu e grande personagem crítico da "esquerda" italiana.

A reportagem é de Julio Algañaraz, publicada no jornal Clarín [Buenos Aires, Argentina], 25-11-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Também como ator, Nanni ouvirá as angústias do Pontífice na ficção do filme que irá começar a ser filmado e que irá se chamar "Habemus Papam", a fórmula que um cardeal proclama da sacada da Basílica de São Pedro quando anuncia, com a multidão reunida na praça, que um novo pontífice foi eleito.

A surpresa é que a cúpula da Cúria Romana não é hostil ao projeto de Nanni, considerado detentor de um caráter difícil.

No sábado [em novembro de 2009], viu-se Moretti na Capela Sistina diante do Papa verdadeiro, Bento XVI, que o havia convidado, junto com 260 artistas italianos. O Papa lhes dirigiu um discurso de grande envergadura intelectual sobre a fé, a cultura e o gênio artístico. O superinteligente e aberto Dom Gianfranco Ravasi, promovido a "ministro" da Cultura do Papa e, portanto, iminente cardeal, entregou uma medalha do pontificado a um sorridente Moretti. Foi o artista com o qual ele mais conversou. "Nos últimos tempos, vimos-nos várias vezes: ele me deu o roteiro do filme para ler", disse o arcebispo. "A sua ideia é interessante, porque não se detém na questão do poder, mas busca uma visão psicológica", revelou.

"Pelo que eu li, não é uma provocação, mas claro que será preciso ver o filme. Não é uma polêmica sobre o suposto poder do novo Papa. A crise pessoal nasce do esplendor, da grandeza do dever que lhe deram. Tanto é assim que, no final, o Papa pede que rezem por ele". Depois, Dom Ravasi fez um anúncio importante. Pela primeira vez, a Igreja estará presente na Bienal de Veneza a partir do ano que vem, com seu próprio pavilhão.

Sabe-se pouco sobre o filme "Habemus papam". Há poucos dias, volantes foram distribuídos no centro de Roma pedindo idosos entre 65 e 85 anos de idade, de todas as nacionalidades. Latino-americanos, asiáticos, africanos: deles, sairão os cardeais eleitores reunidos na Capela Sistina no Conclave, que elege o novo Papa. Não se sabe quem será o eleito para interpretar o Pontífice. Talvez, ele sairá do grupo dos cardeais, talvez não. Também buscam-se pessoas para que representem os fiéis. Pessoas mais jovens.

Nanni Moretti ganhou vários festivais com seus melhores filmes. Alguns acreditam que se "Habemus Papam" terminar a tempo, terá assegurado o Festival de Cannes ou o de Veneza.

Nanni é um homem de esquerda, mas muito crítico com a esquerda italiana. E acusa: "Uma classe política que permitiu o que acontece (com Berlusconi) não é séria. E não é sério um país que permite tudo isso".

Segundo a revista Familia Cristiana, o autor de "Querido Diario" sabe equilibrar "sua veia polêmica e irônica com a verdade dos sentimentos". Talvez o Vaticano espera que essa fórmula expressa o gênio de Moretti em "Habemus Papam".

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - Dia 26/11/2009 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=27846

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Vaticanista sugere a Bento XVI assistir ao filme "Habemus Papam"


Bento XVI deveria ver Habemus Papam, o filme "genial" de Nanni Moretti sobre um papa confrontado à depressão, após ter sido eleito, estima Marco Politi, vaticanista do jornal italiano Il Fatto.

A entrevista é da AFP, 14-04-2011.

Eis a entrevista.

Qual é sua opinião sobre o filme de Nanni Moretti?

É um filme genial. É uma pesquisa sobre o sentido do poder, da solidão, sobre a necessidade de afeição. Um grande filme com um Michel Piccoli soberbo. O sedutor, que conhecíamos durante tantas décadas, está irreconhecível; mas deixa entrever sua capacidade de interpretar, o trabalho de ator e a sede de vida que marcaram Michel Piccoli, tanto como sedutor quanto, agora, como papa.

Quais são os elementos interessantes do filme sobre a Igreja contemporânea?

Acho interessante que o elemento feminino apareça de forma recorrente no filme. Ao mesmo tempo, Moretti se faz intérprete de uma busca da sociedade que pede uma Igreja capaz de amor e de compreensão e que esteja em contato com todos. Por causa disso, então, acho que o secretário do papa deveria levar para ele o videocassete e fazê-lo ver, porque é estimulante.

Como o filme será acolhido no Vaticano segundo o senhor?

Este filme exprime um grande respeito pela Igreja. Diria mesmo que, no fundo, é fruto dos 27 anos de pontificado de João Paulo II, que conseguiu tornar de novo a Igreja interessante para milhões de pessoas, inclusive para os não crentes. "Interessante" significa também poder discutir, debater. A Igreja não ficou mais à margem, mas foi levada ao centro da cena.

Por sua vez, Bento XVI, que é tão diferente de João Paulo II, alimenta interrogações sobre o que deve ser a Igreja no mundo contemporâneo. Acho que Moretti, enquanto artista, teve a intuição de fazer compreender a qual ponto a responsabilidade de um papa é grande, assim como o peso de um pontificado para os ombros de um único homem.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - Dia 20/04/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=42588

sexta-feira, 22 de abril de 2011

PÁSCOA - ASSUMIR DEUS!


Queridos amigos & amigas,

Celebrações são a recordação de algo importante,
são a lembrança,
o testemunho,
a atualização,
o apelo para não se esquecer!

A Páscoa, que se aproxima, quer nos recordar 
o grande mistério de um Deus que assume a carne humana,
para valorizar-nos tais como somos!

Assume a nossa fraqueza,
para nos tornar mais fortes!

Assume a nossa linguagem,
para tornar possível o dom do entendimento e compreensão 
entre os seres humanos!

Assume as nossas dores, angústias, fracassos, sonhos e esperanças,
para demonstrar o quanto é solidário com cada um de seus filhos!

Assume nossas alegrias, nossas vitórias e nossos sucessos,
para nos dizer que Deus é Amor, é Paz, é Alegria!

Assume nossas crenças, nossa fé e devoções,
para nos fazer sentir a Sua Presença!

Assume a nossa morte,
para nos dar a verdadeira Vida!

Páscoa é assumirmos
Deus em nós!

Páscoa é crer
na Vida,
apesar
da
morte!



Uma feliz e abençoada Páscoa a você 
e todos os seus!

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O duelo entre a vida e a morte [Não deixe de ler!]


Leonardo Boff

Num dos mais belos hinos da liturgia cristã da Páscoa, que nos vem do século XIII, se canta que "a vida e a morte travaram um duelo; o Senhor da vida foi morto mas eis que agora reina vivo". É o sentido cristão da Páscoa: a inversão dos termos do embate. O que parecia derrota era, na verdade, uma estratégia para vencer o vencedor, quer dizer a morte. Por isso, a grama não cresceu sobre a sepultura de Jesus. Ressuscitado, garantiu a supremacia da vida.

A mensagem vem do campo religioso que se inscreve no humano mais profundo, mas seu significado não se restringe a ele. Ganha uma relevância universal, especialmente, nos dias atuais, em que se trava física e realmente um duelo entre a vida e a morte. Esse duelo se realiza em todas as frentes e tem como campo de batalha o planeta inteiro, envolvendo toda a comunidade de vida e toda a humanidade.

Isso ocorre porque, tardiamente, nos estamos dando conta de que o estilo de vida que escolhemos nos últimos séculos, implica uma verdadeira guerra total contra a Terra. No afã de buscar riqueza, aumentar o consumo indiscriminado (63% do PIB norte-americano é constituído pelo consumo que se transformou numa real cultura consumista) estão sendo pilhados todos os recursos e serviços possíveis da Mãe Terra.

Nos últimos tempos, cresceu a consciência coletiva de que se está travando um verdadeiro duelo entre os mecanismo naturais da vida e os mecanismos artificiais de morte deslanchados por nosso sistema de habitar, produzir, consumir e tratar os dejetos. As primeiras vítimas desta guerra total são os próprios seres humanos. Grande parte vive com insuficiência de meios de vida, favelizada e superexplorada em sua força de trabalho.

O que de sofrimento, frustração e humilhação ai se esconde é inenarrável. Vivemos tempos de nova barbárie, denunciada por vários pensadores mundiais, como recentemente por Tsvetan Todorov em seu livro O medo dos bárbaros (2008). Estas realidades que realmente contam porque nos fazem humanos ou cruéis, não entram nos cálculos dos lucros de nenhuma empresa e não são considerados pelo PIB dos países, à exceção do Butão que estabeleceu o Indice de Felicidade Interna de seu povo. As outras vítimas são todos os ecossistemas, a biodiversidade e o planeta Terra como um todo.

Recentemente, o prêmio Nobel em economia, Paul Krugmann, revelava que 400 famílias norte-americanas detinham sozinhas mais renda que 46% da população trabalhadora estadunidense. Esta riqueza não cai do céu. É feita através de estratégias de acumulação que incluem trapaças, superespeculação financeira e roubo puro e simples do fruto do trabalho de milhões.

Para o sistema vigente e devemos dizê-lo com todas as letras, a acumulação ilimitada de ganhos é tida como inteligência, a rapinagem de recursos públicos e naturais como destreza, a fraude como habilidade, a corrupção como sagacidade e a exploração desenfreada como sabedoria gerencial. É o triunfo da morte. Será que nesse duelo ela levará a melhor?

O que podemos dizer com toda a certeza que nessa guerra não temos nenhuma chance de ganhar da Terra. Ela existiu sem nós e pode continuar sem nós. Nós sim precisamos dela. O sistema dentro do qual vivemos é de uma espantosa irracionalidade, própria de seres realmente dementes.

Analistas da pegada ecológica global da Terra, devido à conjunção das muitas crises existentes, nos advertem que poderemos conhecer, para tempos não muito distantes, tragédias ecológico-humanitárias de extrema gravidade.

É neste contexto sombrio que cabe atualizar e escutar a mensagem da Páscoa. Possivelmente não escaparemos de uma dolorosa sexta-feira santa. Mas depois virá a ressurreição. A Terra e a Humanidade ainda viverão.

Fonte: CEBI - Centro de Estudos Bíblicos - 21/04/2011 - Internet: http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=8&noticiaId=1928

terça-feira, 19 de abril de 2011

AONDE VAI A NOVA CLASSE MÉDIA


Ivan Marsiglia

Quem conquistará os votos dos 20 milhões de brasileiros que subiram de patamar nos últimos anos?

A bola estava no ar, faltava cortar. Foi o que fez o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, num artigo para a revista Interesse Nacional que ganhou o noticiário e inverteu o jogo no debate político brasileiro. O ponto: o sociólogo e presidente de honra do PSDB tenta entender qual será o papel político da chamada “nova classe média”, cuja ascensão há muito vem sendo discutida pelos economistas. Como vão se comportar eleitoralmente os cerca de 20 milhões de pessoas que deixaram a base da pirâmide social do País para chegar à classe C, impulsionados pelo crescimento econômico e os programas sociais da era Lula? O que os partidos, em especial a oposição liderada pelos tucanos, deverão fazer para conquistar corações e mentes acostumados ao novo padrão de consumo adquirido com o aumento da renda e do crédito?

No artigo, que incendiou as torcidas de lado a lado, o ex-presidente afirma que “enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os ‘movimentos sociais’ ou o ‘povão’, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos”. E, no mês em que a presidente Dilma Rousseff completa cem dias de mandato, com seu estilo “gerencial” caindo no gosto das camadas médias e instruídas do País, FHC faz um alerta aos seus pares: “Estas, a despeito dos êxitos econômicos e da publicidade desbragada do governo anterior, mantiveram certa reserva diante de Lula. Essa reserva pode diminuir com relação ao governo atual se ele, seja por que razão for, comportar-se de maneira distinta do governo anterior”.

Estratégia? Resignação? O senador tucano Aécio Neves, potencial candidato à sucessão de Dilma, disse se considerar “mais otimista” que FHC na reconquista do “povão” – que, lembra, cerrou fileiras com o PSDB no Plano Real. Outros aliados, como o presidente do PPS, Roberto Freire, consideraram “equivocada” a proposição do ex-presidente. O PT, por sua vez, na voz sempre pronta do ex-presidente Lula, aproveitou para fustigar o suposto DNA elitista dos tucanos: “Já tivemos políticos que preferiam cheiro de cavalo ao do povo. Agora tem um presidente que diz que é preciso esquecer o povão”.

Para decifrar a inclinação política dos novos emergentes, o Aliás escalou dois especialistas: o sociólogo Jessé de Souza, autor de Os Batalhadores Brasileiros – Nova Classe Média ou Nova Classe Trabalhadora? (UFMG, 2010), e o cientista político Bolívar Lamounier, que lançou, em parceria com Amaury de Souza, A Classe Média Brasileira – Ambições, Valores e Projetos de Sociedade (Elsevier, 2009). A seguir, algumas de suas conclusões.

A aprovação de Dilma em setores de classe média aumentou. E FHC chama a atenção para a disputa pelo voto da ‘nova classe média’. Todos estão de olho nos emergentes?

Jessé de Souza: Os emergentes são a maior novidade econômica, social e política do Brasil na última década. Essa classe crescente é a grande novidade do “Brasil bem-sucedido” dos últimos anos, mas ainda é pouco conhecida. De um lado existe muito preconceito em relação a ela, como em geral aos setores populares no Brasil. De outro, também não cabe a percepção triunfalista que a cerca no debate público. Quando se chamam os emergentes de “nova classe média”, está se querendo dizer que no País as classes médias e não os pobres passam a formar o grosso da população. Isso está longe da verdade. Os “batalhadores”, como os chamo, se assemelham muito mais a uma classe trabalhadora precarizada, típica do pós-fordismo. Uma classe sem direitos e garantias sociais, que trabalha de 10 a 14 horas por dia, estuda à noite e faz bicos nos fins de semana.

Bolívar Lamounier: A avaliação positiva dos primeiros cem dias da presidente Dilma parece-me refletir dois fatos que nada têm a ver com a “nova classe média”. Acho que é um justo crédito de confiança, pois o governo está apenas começando. As medidas mais interessantes da presidente ocorreram no plano externo, no qual vêm sinalizando o abandono do nefasto posicionamento do governo Lula. No interno, não houve medidas significativas. Por outro lado, trata-se de uma sensação de alívio pelo fim do “estilo Lula”. Nos últimos dois anos Lula desandou a falar de todos os assuntos concebíveis, sem nenhum critério de oportunidade ou conveniência. Quanto ao ex-presidente Fernando Henrique, o que fez foi sugerir caminhos para o revigoramento das oposições, de modo geral, e do PSDB, em particular. E o fez com muito acerto. Antes que sua sugestão seja tragada num sorvedouro de equívocos, lembremos que o termo “nova classe média” vem sendo empregado para designar um agregado social correspondente a mais de 40% da população, compreendido entre R$ 1.200 e R$ 4.800 de renda familiar mensal. Não estranharei se alguém se referir à metade dessa camada como “classe trabalhadora” ou até “proletariado”. Como diz Shakespeare, a rose by any other name smells as sweet.

O que aconteceu nos últimos anos com a pirâmide social brasileira?

Bolívar: No último quarto de século, a exemplo do que ocorreu em praticamente todos os países emergentes, houve um intenso processo de mobilidade social vertical. Não só a mobilidade individual que constitui um campo tradicional de estudo dos sociólogos, mas mobilidade também estrutural, de toda uma camada, em decorrência de processos econômicos poderosos, como a abertura das economias, uma fase de vigoroso crescimento da economia mundial e, no caso brasileiro, o controle da inflação e a consequente expansão do crédito. Em vez dos integrantes da classe média tradicional, que apenas almejavam reproduzir o status dos pais, num universo mais ou menos estático, os da “nova” classe média têm a ambição de “subir na vida”, viver melhor, consumir mais e, portanto, aprender e se qualificar a fim de gerar a renda consentânea com essa forma de viver. É pois de estratificação e mobilidade que falamos. Mesmo mobilidade é misleading, pois não se trata de mobilidade individual. O que há é uma grande estrutura mudando, e isso num mundo que vem passando por mudanças acentuadas há várias décadas.

Jessé: O crescimento econômico brasileiro beneficiou tanto os setores superiores e privilegiados quanto os populares. Mas o crescimento mais dinâmico veio da “parte de baixo” da sociedade brasileira, o que mostra o efeito positivo para todos – inclusive para os setores privilegiados que ganham e muito com o novo quadro econômico – de políticas simples como o Bolsa Família e o microcrédito. O desafio para a transformação efetiva da “pirâmide” em “losango”, onde as camadas médias, pelo menos quanto à renda, são maiores que as de baixo e as de cima, implica manter aumentos reais do salário mínimo e aprofundar a política social. Existe um “núcleo duro” da “ralé” – nome provocativo para denunciar o abandono de uma classe que nem sequer é notícia fora das páginas policiais – que precisa de muito mais que estímulos econômicos tópicos e passageiros para ser incluída no mercado competitivo.

O conceito de classe média não é consensual nas ciências sociais. Que características aproximam e distanciam essa nova camada da definição clássica de classe média?

Jessé: Não é apenas o conceito de classe média, o próprio conceito de classe social é percebido superficialmente no debate público. Isso porque uma adequada compreensão do processo de formação das classes permite a crítica do princípio social mais importante para a legitimação de todo tipo de privilégio injusto das sociedades modernas: o princípio da meritocracia. O privilégio injusto nessas sociedades é travestido como justo porque ele é percebido como fruto do “desempenho individual extraordinário”. Uma correta percepção dos “emergentes”, no entanto, exige que percebamos o “tipo humano”, com dramas, tragédias, sonhos e capacidades singulares, específico dessa classe. Não basta quantificar sua renda. É necessário comparar essa nova classe tanto com as classes médias “verdadeiras” quanto com os desclassificados sociais, que chamo de “ralé” para denunciar seu abandono. Os “emergentes” ou “batalhadores” não possuem nenhum dos privilégios de nascimento da classe média verdadeira. Mais especialmente o tempo livre que permite a apropriação do conhecimento útil e valorizado chamado por Pierre Bourdieu de “capital cultural”, que caracteriza a classe média verdadeira. Se a apropriação privilegiada de “capital econômico” marca as classes altas, é a apropriação privilegiada de “capital cultural” que marca as classes médias modernas.

Bolívar: A pergunta suscita a clássica discussão entre as sociologias marxista e weberiana. No marxismo, o conceito de classe tem dois componentes principais. De um lado, certa homogeneidade de condições, e portanto coesão, consciência de si, capacidade de agir coletivamente. Do outro, uma posição comum na estrutura de produção. Especificamente em relação às camadas médias – ou à “pequena burguesia”, como os marxistas as designavam, torcendo o nariz –, fazia-se também uma profecia: a de que elas estariam condenadas a definhar, ensanduichadas entre a burguesia e o proletariado. Já a sociologia weberiana concebe as classes como agregados sociais que raramente chegam a se tornar conscientes e a agir de maneira unitária no campo político. Os membros de uma classe se definem em função de recursos como a educação, o conhecimento especializado, disponibilidades patrimoniais, etc – valorizáveis nos diferentes “mercados sociais”. A ótica weberiana pensa em camadas sociais que não encolhem, ao contrário, se expandem à medida em que o capitalismo avança.

Em diferentes momentos da história, as classes médias assumiram posições progressistas ou retrógradas. Como essa nova classe emergente poderá se portar politicamente?

Jessé: Os “batalhadores” não são uma classe homogênea. Nem sequer se percebem como classe. Estamos adentrando um terreno novo que ainda exige estudo e reflexão. O que pude perceber em minha pesquisa são resultados díspares e heterogêneos. Ainda que a ideologia do “mérito individual” tenha convencido, por razões compreensíveis, parcelas ponderáveis dessa classe, o que a aproxima das classes médias “verdadeiras”, a maioria dos batalhadores se mostrou sensível e favorável aos programas sociais de distribuição de renda – com uma sensibilidade social maior que nas classes do privilégio. A direção política que a classe emergente vai tomar é, portanto, uma luta em aberto. Ela tanto pode ser colonizada pelas classes dominantes economicamente dinâmicas, politicamente conservadoras e socialmente irresponsáveis que caracterizam a sociedade brasileira, como se transformar num protagonista novo, uma “luz no fim do túnel” que sirva de inspiração e exemplo para o exército de abandonados sociais no Brasil. De qualquer modo sua função de fiel da balança tanto da economia quanto da política brasileira no futuro próximo parece certo.

Bolívar: Descartemos, desde logo, a ideia de um comportamento rigorosamente unitário, afinal estamos falando de um agregado com mais de 40% da população. Segundo, descartemos o determinismo que ainda assombra o imaginário de alguns sociólogos. Se as novas classes médias necessariamente devessem se comportar de um jeito ou de outro, o ponto de vista expresso por FHC não faria sentido. De duas, uma: elas seriam inacessíveis ao apelo da oposição ou já a estariam apoiando. Nem uma coisa nem outra. Trata-se de um terreno contestado, como tudo na vida política. Depende da agenda política. Basta lembrar que elas contribuíram maciçamente para a vitória de FHC em 1994 e 1998 e para as de Lula em 2002 e 2006.

Observadores do Congresso notam a presença cada vez maior de sindicalistas na representação parlamentar. Que consequências isso traz à estrutura social brasileira?

Bolívar: De fato, esse é um fenômeno apontado por diversos observadores, como Leôncio Martins Rodrigues. É um processo perfeitamente normal, que acontece em todas as democracias capitalistas avançadas. Quer isso dizer que tais lideranças vão exercer seus mandatos de uma maneira estreitamente fiel aos trabalhadores de menor renda, ou consentânea com interesses legítimos da sociedade como um todo? Aqui, vamos devagar com o andor. Lembremos, para começo de conversa, que os sindicatos brasileiros continuam em geral gostosamente acomodados na estrutura corporativista implantada ao tempo da ditadura Vargas. Lembremos também a profecia de Robert Michels no clássico Os Partidos Políticos, de 1908. O autor previu que mesmo nos partidos socialistas a tendência seria a de os sindicalistas se incrustarem na alta burocracia, formando uma espécie de “nova classe”. No Brasil, não faltam sinais disso. Como bem lembrou FHC, o governo Lula “aparelhou” a máquina do Estado e cooptou as principais centrais sindicais.

Jessé: Dentro de certas circunstâncias excepcionais o Congresso e especialmente o Executivo no Brasil podem mudar a realidade social e política. Em condições normais, no entanto, a política de “verdade”, que estipula quem ganha e quem perde na competição social, é realizada fora dos órgãos representativos. O Estado não é o único centro da vida política, ainda que seja o “teatro” para o qual todas as luzes apontam. No novo tipo de capitalismo financeiro hoje hegemônico, por exemplo, boa parte da política é transformada em “questão técnica” e aplicada como necessidade econômica. A tentativa, aliás muito bem-sucedida, de se vincular a determinação da taxa de juros entre nós unicamente ao combate à inflação serve para travestir o interesse particular de financistas. Nesse sentido, ganhar a esfera pública e a mídia significa selecionar os assuntos que se tornam pauta política e ridicularizar opiniões contrárias. Um poder maior que o de qualquer bancada no Congresso. A demonização do Estado como ineficiente, politiqueiro e corrupto – como se o mercado fosse o oposto disso – serve, do mesmo modo, para transformar as esferas sociais, como a educação e a saúde, que deveriam independer da sorte ou do azar da classe de nascimento e ser acessível a todos, em esferas de lucro privado.

No artigo, FHC diz que ‘enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os movimentos sociais ou o povão, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos’. É uma avaliação que faz sentido?

Bolívar: Eu assino embaixo, e uma de minhas razões está no que acabo de dizer: o governo Lula praticamente transformou os sindicatos e o petismo em apêndices do Estado, ou seja, numa máquina que se vale dos recursos do Estado para manter um quase monopólio político sobre a classe trabalhadora tradicional e a massa pobre.

Jessé: É uma avaliação brilhante, ainda que seja preconceituosa e mostre o perverso “racismo de classe” que perpassa as classes do privilégio no Brasil, as quais FHC representa tão bem. Ela é brilhante, posto que pragmática e óbvia, procurando concentrar esforços e focar sua mensagem para uma clientela em relação à qual um partido liberal como o PSDB tem boas condições de convencer. É a mensagem do “mérito” percebido como esforço individual, que já critiquei e vê como preguiçoso e burro – as massas “pouco informadas”, no eufemismo de FHC – todo aquele que sofre humilhações e experimenta não reconhecimento e invisibilidade social desde que nascem. Na Europa os partidos conservadores manipulam o ódio aos imigrantes. Entre nós se manipula o “racismo de classe” contra os pobres, percebidos como sanguessugas de uma ordem social que, na verdade, os produz e reproduz como párias sem chance na competição social por recursos escassos.

Aécio relativizou a estratégia de FHC se dizendo ‘mais otimista’ na capacidade de o PSDB atrair o eleitor de baixa renda. Já o presidente do PPS, Roberto Freire, considerou o artigo ‘equivocado’...

Bolívar: No que toca ao senador Aécio Neves, fico contente em saber que ele está relativamente otimista. Tomara que esteja certo. Quanto à reação do Roberto Freire, um líder político por quem tenho imenso respeito, não há muito que eu possa acrescentar ao que já falei. A meu juízo, a análise de FHC não é equivocada.

Jessé: A avaliação de FHC é muito mais honesta, sincera e inteligente. É a mesma estratégia do Partido Liberal alemão, por exemplo, que passou de partido nanico a partido formador da coalizão de governo usando o mesmo tipo de discurso e se dirigindo ao mesmo tipo de público que FHC agora preconiza e defende. Em um país sem história de lutas sociais que tenha logrado institucionalizar com sucesso princípios como responsabilidade social e republicanismo, como o nosso, esse tipo de discurso tem amplas condições de sucesso.

A nova presidente tem sido criticada no que diz respeito ao combate à inflação. Mesmo assim, há alguns dias, na contramão dos que pedem um aperto maior nos juros, ela reafirmou que deseja reduzi-los ao longo do mandato. Sinaliza na direção da nova classe?

Jessé: Sem dúvida. Essa classe prosperou em grande medida graças ao crédito farto e facilitado tanto para seus pequenos negócios quanto para seu consumo pessoal. A luta política – a qual se traveste mais do que nunca em “questão técnica” de racionalidade econômica dado que os interesses mais particulares nunca podem se mostrar pelo seu nome verdadeiro – opõe o setor rentista que vive de juros, que é a fração dominante no novo tipo de capitalismo hegemônico aqui e no mundo todo, e a esmagadora maioria da população, que tem interesse por juros não escorchantes.

Bolívar: Bem, não sou expert no pensamento econômico da presidente. Ela por certo não ignora o tamanho da pressão inflacionária que está se formando. Volto ao que dizia no início de nossa conversa. A gestão dela começou bem avaliada mais em função de expectativas que de medidas efetivas. Ela pode demorar a tomar as medidas necessárias por não levar a inflação tão a sério como seria desejável, ou por não se sentir com força política suficiente, ou por querer cortejar a “nova classe média”.

O estilo gerencial de Dilma agrada mais aos emergentes? Quando FHC chama a atenção para o risco de a presidente "envolver parte das classes médias" manifesta o temor de que o lulo-petismo conquiste hegemonia política em todas as camadas do eleitorado?

Bolívar: No que se refere a uma aceitação potencialmente maior de Dilma que de Lula, eu concordo. É um risco? Claro que é. Não existe política sem riscos. O que há é sempre um terreno em disputa.

Jessé: Acho difícil que o PSDB perca sua hegemonia nesses setores. A gestação das ideias que opõem mercado a Estado como uma oposição da virtude em relação ao vício tem larga tradição e prestígio entre nós. Também na esfera pública a hegemonia dessas ideias é praticamente absoluta. Tanto que existe grande afinidade entre setores do PT e do PSDB na política econômica. É preciso compreender a política em sentido mais alargado que o campo dos políticos profissionais para compreender quem e quais visões de mundo detêm hegemonia numa sociedade.

A ascensão da ‘nova classe média’ é menos visível em termos educacionais. Terão os emergentes condições para pensar os problemas do País e avançar na construção de uma sociedade mais democrática e justa?

Jessé: Por trás da afirmação de FHC acerca das classes “pouco informadas” está o preconceito comum de que apenas quem tem acesso à cultura livresca pode ter uma concepção adequada e crítica do mundo. Nada mais longe da verdade. A maior parte dos livros, científicos ou não, reproduz uma percepção afirmativa e acrítica do mundo e produzem mero re-conhecimento e não efetivo conhecimento. Os pobres não são tolos e identificam muito bem seu interesse real. Claro que tempo de leitura e educação aprofundada são importantes, coisas a que os “batalhadores” têm bem menos acesso do que a classe média privilegiada. Mas essa não é a única variável importante. Para uma melhor educação política de um povo, o fator que mais pode contribuir é o acesso a uma esfera pública plural, onde toda a gama de opiniões divergentes tenha o direito de expressão livre.

Bolívar: Essa é uma pergunta relevante, pois há muita gente batendo o bumbo do grande avanço social e quase ninguém discutindo a sustentabilidade desse processo. Consumir é ótimo, mas cada família tem de gerar renda para financiar seu consumo. No mundo atual, a educação é um ponto crítico, e não preciso comentar a situação catastrófica da educação brasileira. Lula cantou aos quatro ventos o fato de ter criado 13 novas universidades. Formidável, mas a melhor universidade do País ocupa o 234º lugar no ranking mundial.

Fonte: O Estado de S. Paulo - ALIÁS - Domingo, 17 de abril de 2011 - Pgs. J4 e J5 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,aonde-vai-a-nova-classe-media,707181,0.htm