«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Levantes em nome de um mesmo Deus


Gilles Lapouge

O escritor francês André Malraux profetizou, há 30 anos, que o século 21 seria um "século religioso". Ele estava certo. A cada dia que passa, as matanças enlutam o mundo e, muitas vezes, nos damos conta de que, por trás das bandeiras políticas ou dos pretextos econômicos, encontramos o mesmo ator, Deus, ou antes, as efígies deletérias que vergonhosamente nos são apresentadas como representações de Deus.

O último episódio dessa triste época ocorreu no Paquistão, país muçulmano, onde recentemente tumultos ensanguentaram algumas cidades, como Mazar-i-Sharif e Kandahar, com um saldo de 20 mortos e centenas de feridos. Qual é o motivo?
Teremos de procurá-lo do outro lado do mundo, nos Estados Unidos, na Flórida, onde o pastor Terry Jones, que dirige a igreja Dove World, com apenas 30 seguidores, teve a ideia, cultivada há anos, de queimar em público o Alcorão, livro sagrado da religião islâmica.

Ele mostrou sua perseverança. Há alguns meses, preparou o que podemos chamar, em memória das piores páginas da Idade Média e do tempo das bruxarias, de seu "auto de fé". A prefeitura de Gainesville, da qual depende o pastor Jones, na realidade proibiu fogueiras na frente da igreja.

Jones refletiu e, finalmente, encontrou a solução: "o auto de fé" seria cometido no interior da igreja. O Alcorão resiste às chamas, mas precisou de dez minutos para se reduzir a cinzas.

Como resposta imediata, outros "autos de fé" acenderam-se do outro lado do mundo, no Paquistão muçulmano. Só que lá não foi papel que queimou, e sim corpos humanos. Em Mazar-i-Sharif, foi atacada a missão local da ONU: 20 mortos. No dia seguinte, em Kandahar, novamente foram atacados locais da ONU: três mortos, além de outros assassinatos, aqui e ali.

O pastor Terry Jones deve estar satisfeito: pôde constatar que suas ideias já não passam despercebidas. Ele se acalmará agora? De jeito nenhum. Começou a angariar dinheiro para ir mais longe em seu apostolado e organizar o julgamento público do Profeta Maomé.

No Paquistão, a cruzada antimuçulmana do pastor Terry Jones teve efeitos terríveis. Não apenas a morte de dezenas de inocentes, mas também a irritação dos sentimentos antiocidentais, que já são intensos no Paquistão, país tão próximo do Afeganistão e que sustenta sem admiti-lo o combate dos taleban contra as forças do Ocidente (americanos, franceses, britânicos...).

Manifestações relâmpago percorreram as grandes cidades paquistanesas, exigindo o fechamento das bases americanas na Ásia. O general americano David Petraeus, que comanda as forças aliadas no Afeganistão, definiu o gesto do pastor Jones como "detestável".

A guerra imunda travada durante um século na Irlanda entre protestantes e católicos, terminou, enfim, há alguns anos.

Imediatamente, as religiões reacenderam suas fogueiras em toda parte.

Nas torres de Nova York e em outros lugares, os islâmicos de Osama Bin Laden massacraram milhares de inocentes. Na Costa do Marfim, há um mês, os cristãos do sul (ligados a Laurent Gbagbo) matam os muçulmanos do norte (ligados a Alassane Ouattara), e os muçulmanos do norte degolam os cristãos do sul.

Se eu fosse Deus, o do Cristo, dos judeus ou dos muçulmanos, estaria realmente farto de todos esses fanáticos, de todos esses cretinos, do tipo Bin Laden ou Terry Jones, que me invocam e matam, enquanto eu peço que se amem.

TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

* É CORRESPONDENTE EM PARIS

Fonte: O Estado de S. Paulo - Terça-feira, 5 de abril de 2011 - Pg. A13 - Internet: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110405/not_imp701785,0.php

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