«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 5 de abril de 2011

ATO DE CORAGEM E ÉTICA: Mulher descreve ao 190, em tempo real, execução feita por Policiais Militares em cemitério


Bruno Paes Manso

Caso ocorreu no mês passado e foi revelado com exclusividade no Estadão.com.br; policiais assassinos foram presos horas após o crime

Ligação feita em 12 de março para o 190, o Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), revela em tempo real execução praticada por policiais da 4.ª Companhia do 29.º Batalhão. A testemunha está sob proteção policial. Ela ligou para o Copom e descreveu o crime, que foi gravado. O caso foi revelado com exclusividade no Estadão.com.br.

"Olha, eu estou no Cemitério das Palmeiras, em Ferraz de Vasconcelos, e a Polícia Militar acabou de entrar com uma viatura aqui dentro do cemitério, com uma pessoa dentro do carro, tirou essa pessoa do carro e deu um tiro. Eu estou aqui do lado da sepultura do meu pai."

De onde estava, a testemunha não conseguia ver a placa nem o prefixo da viatura. Mas, enquanto falava com o 190, teve sangue-frio de esperar. ""Pera" só um pouquinho, porque eles vão passar por mim agora. Espero que não me matem também. A placa é DJM 0451, o prefixo é 29.411, M 29.411."

Após perceber que haviam sido vistos pela testemunha, um dos policiais vai na direção dela. Corajosa, ela pergunta: "O senhor que estava naquela viatura? O senhor que acertou o disparo ali? Foi o senhor que tirou a pessoa de dentro? Estava próximo de onde estávamos. Eu estou falando com a Polícia Militar."

O policial diz que estava socorrendo a vítima e tenta levá-la à delegacia. "Estava socorrendo? Meu senhor, olhe bem para a minha cara. Eu não vou (para a delegacia). Ele falou que estava socorrendo. É mentira, senhor. É mentira. Eu não quero conversar com o senhor. E o senhor tem a consciência do que o senhor faz." O áudio termina com o atendente do 190 pedindo para a testemunha ligar na Corregedoria.

Após o crime, os PMs acusados da execução registraram boletim de ocorrência de roubo seguido de resistência e morte no 50.º Distrito Policial, na zona leste. Alegaram que o homem morto havia resistido à prisão. Segundo o BO, os PMs Ailton Vital da Silva e Filipe Daniel da Silva [foto acima], da 4.ª Companhia, foram chamados pelo Copom para atender a um caso de roubo de carga no Itaim Paulista, zona leste.

A viatura M 29.411 (a mesma vista no cemitério), segundo o BO, passou a seguir a van branca que havia sido roubada. Na perseguição, a van tentou entrar em um condomínio residencial, derrubou a cancela e bateu em dois carros. O condutor da van, no relato dos policiais, fugiu efetuando disparos e teria sido ferido, morrendo no hospital. Mas a iniciativa da testemunha fez a versão dos policiais cair por terra. Os dois PMs envolvidos na ocorrência estão presos no Romão Gomes.

Ontem, após a divulgação do áudio no Estadão.com.br, a Secretaria da Segurança Pública convocou coletiva de imprensa. Aos jornalistas, o tenente-coronel Roberto Fernandes, comandante do 29º Batalhão, disse que teve convicção de que os policiais cometeram o crime após ouvir o depoimento deles e o áudio da testemunha. "Houve contradições. Pequenos detalhes das versões de um e de outro não bateram."

Expulsão
De acordo com o comandante, o Conselho de Disciplina da PM vai avaliar a possibilidade de expulsão dos dois policiais da Polícia Militar no prazo de 45 dias. "É inconcebível esse tipo de atitude de um policial formado para salvar vidas."

O comandante fez questão de ressaltar a importância da confiança do cidadão paulistano nos serviços de 190 da Polícia Militar, a exemplo da denúncia realizada pela senhora do cemitério que segue protegida pela Justiça. "Aqui não passamos a mão na cabeça." / COLABORARAM MARCELO GODOY E FELIPE FRAZÃO

Números da violência:
6.054 pessoas morreram em resistências seguidas de morte entre 2000 e 2010
18 pessoas morrem para cada policial morto em São Paulo
9 pessoas morrem para cada policial morto nos EUA
1 em cada 9,7 homicídios foi cometido por policial em 2010

Fonte: ESTADÃO.COM.BR - 05/04/2011 - Internet: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110405/not_imp701837,0.php

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Relato do Pai:

"É obrigação da polícia prender, não matar" - Leia em:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110405/not_imp701848,0.php

Mulher relata em tempo real execução feita por PMs:

Em ligação ao telefone 190, em março deste ano, mulher narra ao vivo um assassinato cometido por policiais militares no Cemitério das Palmeiras, em Ferraz de Vasconcelos.
Ouça a íntegra, acessando e clicando no sinal de "play":

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Tributo a uma mulher desconhecida
Edmundo Leite

Não sei o nome nem quem é a protagonista da denúncia estarrecedora registrada pelo 190 da Polícia Militar, e noticiada pelo Estadão.  Seja quem for essa mulher, qual for sua história de vida,  entrou para um panteão em que poucos teriam lugar.

Seu gesto de coragem ao celular e na frente do policial assassino é um editorial pronto, um libelo contra a injustiça e  a violência, um “Eu acuso” de Zola dos tempos modernos.   Com uma simples ligação telefônica, rompeu uma eterna lei do silêncio que costuma imperar em casos semelhantes:  “Diz que já é normal fazer isso aqui, mas não é normal eu assistir isso…”

Não é normal eu assistir isso… Fora a dignidade de não aceitar a violência como coisa normal e de denunciar  um crime covarde cometido por quem deveria combatê-los no momento em que a barbárie era cometida, há a coragem indignada de contestar a versão estapafúrdia que o policial quis apresentar ao se perceber  flagrado por esse mulher desconhecida. “… Não, não. Eu estava socorrendo o rapaz.  

Socorrendo? Meu senhor, olha bem pra minha cara.”

Claro que já não falta – inclusive em mensagens aqui no Estadão – gente dizendo que a polícia está certa em matar bandido mesmo infringindo a lei. Não está. A mulher desconhecida lembrou isso aos policiais e à sociedade. Lembrou que não podemos aceitar o crime,  sobretudo de quem deve combater o crime.

Em muitos lugares do mundo  existem  monumentos ao soldado desconhecido, em homenagem à bravura dos anônimos  que lutaram por uma causa que talvez nem soubessem direito qual era. Um monumento a essa mulher desconhecida deveria ser erguido na Zona Leste de São Paulo.  Espero que não num cemitério.

Fonte: ESTADÃO.COM.BR - 04/Abril/2011 - Internet: http://blogs.estadao.com.br/edmundo-leite/2011/04/04/tributo-a-uma-mulher-desconhecida/

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Impunidade favorece cultura do extermínio
Bruno Paes Manso

O grau de letalidade dos policiais paulistas fica evidente quando comparado com o de outras polícias no mundo. Nos Estados Unidos, para cada pessoa que a polícia mata, são realizadas 37.751 prisões. Em São Paulo, uma morte ocorre a cada 348 prisões.

A PM introduziu matérias de direitos humanos e treinamentos para reduzir a violência na corporação. Mas enfrenta resistências no dia a dia. A impunidade e a fragilidade na investigação dos casos favorecem a cultura do extermínio.

O BO do caso testemunhado no Cemitério das Palmeiras é claro a esse respeito. Diante do depoimento dos PMs sobre roubo e suposta resistência seguida de morte, na delegacia foi registrado que "os fatos tipificavam o explícito cumprimento do dever legal por parte dos PMs". Se não fosse a testemunha, seria mais um caso sem provas a ser arquivado pela Justiça paulista.

Fonte: ESTADÃO.COM.BR - 05/Abril/2011 - Internet: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110405/not_imp701855,0.php

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