«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O caso de Dom Negri e as oposições ao Papa Francisco

Massimo Faggioli*
L'HuffingtonPost
26-11-2015

«O arcebispo de Ferrara, na Itália, é um daqueles bispos para os quais o catolicismo deve ser compreendido, anunciado e aplicado em termos ideológicos.»
DOM LUIGI NEGRI
Arcebispo de Ferrara, na Itália, ligado ao movimento
"Comunhão e Libertação"

Uma das tantas contribuições do "efeito Francisco" é a ruptura dos alinhamentos ideológicos dentro da Igreja e das suas divisões.

Segundo Faggioli, "o que foi dito e feito por Dom Negri em Ferrara em menos de três anos lança luz sobre as qualidades humanas e intelectuais de muitos dos bispos nomeados por João Paulo II e Bento XVI. Esse é o principal problema da Igreja Católica hoje".

Eis o artigo.

Em cada país, há bispos que representam uma clara oposição ao Papa Francisco. Na Itália, o caso de Dom Luigi Negri, arcebispo de Ferrara-Comacchio desde dezembro de 2012 (depois de sete anos de episcopado em San Marino), já era conhecido dos adeptos aos trabalhos e especialmente aos cidadãos e diocesanos de Ferrara (entre os quais se encontra este que escreve, embora residente nos Estados Unidos desde 2008).

Dom Negri fez-se conhecer por um estilo de relação invariavelmente agressivo e irritadiço com a cidade e com a diocese, e por decisões no mínimo bizarras sobre a mensagem a ser enviada à cidade sobre questões importantes como o casamento e a família (refiro-me ao convite como palestrante em um congresso diocesano dirigido a Mario Adinolfi).

O que foi dito e feito por Dom Negri em Ferrara em menos de três anos lança luz sobre as qualidades humanas e intelectuais de muitos dos bispos nomeados por João Paulo II e Bento XVI. Esse é o principal problema da Igreja Católica hoje.

O caso estourou com um relato publicado pelo jornal Il Fatto Quotidiano no dia 25 de novembro [veja esta matéria ao final deste artigo], segundo o qual Dom Negri teria feito, ao celular e no interior de um trem, diante de testemunhas, afirmações graves sobre a pessoa do papa e as decisões por ele tomadas (as recentes nomeações episcopais em Bolonha e Palermo).

Não se sabe, no momento, quanto daquilo que foi relatado pelo Il Fatto Quotidiano foi efetivamente dito pelo arcebispo de Ferrara. O fato, porém, é que a desmentida de Dom Negri não desmente, mas, ao contrário, parece quase confirmar, no momento em que pede um encontro com o Papa Francisco.

E outro fato é que o Comunhão e Libertação publicou nessa quinta-feira um comunicado em que claramente se distancia de Dom Negri, desde sempre próximo do movimento (o comunicado afirma que, desde 2005, Negri não tem mais nenhum cargo no Comunhão e Libertação; o fato é que, na diocese de Ferrara Dom Negri foi muito atento ao Comunhão e Libertação).

O caso de Dom Negri é importante por alguns motivos que vão além da diocese de Ferrara ou da Itália:

[1º] O primeiro motivo é que esse caso diz algo sobre os movimentos internos de oposição ao Papa Francisco. Desde o momento da eleição de Francisco, uma parte consistente do episcopado mundial e italiano teve que se submeter a um processo de recepção e interpretação do novo papa. Isso acontece a cada mudança de pontificado.

Mas a passagem do bastão entre Bento XVI e Francisco foi substancialmente diferente dos anteriores: não só porque Bento XVI deixava o papado por renúncia ao ofício e ia viver no Vaticano não muito longe de Francisco, mas também porque o episcopado mundial – e especialmente italiano – foi moldado por João Paulo II e por Bento XVI, e muitos bispos veem esse jesuíta latino-americano como um papa em boa parte estranho à cultura do catolicismo de Wojtyla e Ratzinger.

Ora, é evidente que uma oposição a Francisco existe e vai continuar existindo, mas o caso Negri é um dos casos em que é claro que essa oposição está se radicalizando e perdendo aquilo que, em teologia, se chama de sensus Ecclesiae – um sentimento de realidade e de responsabilidade em relação a toda a Igreja.

Viu-se isso no Sínodo dos bispos de outubro passado: as iniciativas não regulamentares dos bispos poloneses, a carta (depois desmentida por alguns) dos 13 cardeais ao papa, a falsa notícia da doença do papa não impediram que Francisco levasse ao seu destino o Sínodo e o documento final aprovado em todos os seus parágrafos pela maioria qualificada dos bispos.

A oposição a Francisco sai cada vez mais do jogo (para usar um termo do futebol). Jorge Mario Bergoglio é teologicamente centrista, e a oposição a Francisco mostra o seu rosto extremista e ideológico.

[2º] O segundo motivo tem a ver com a posição de Negri dentro da Igreja italiana, as relações com o Comunhão e Libertação e com o discurso do Papa Francisco em Florença no congresso da Igreja italiana no dia 10 de novembro passado.

Francisco pediu que os bispos sejam pastores e redefiniu o papel das elites eclesiais e, em particular, dos movimentos como o Comunhão e Libertação, que, na Igreja italiana de João Paulo II e de Bento XVI, desempenharam um papel particular.

Francisco é por uma Igreja do povo e não das elites – e as elites conhecidas como "movimentos eclesiais" estão indo ao encontro de uma fase de reelaboração da sua mensagem. As mensagens enviadas por Francisco aos vários movimentos (Comunhão e Libertação, neocatecumenais, escoteiros católicos etc.) nesses dois anos e meio de pontificado são muito claras quanto à necessidade de se repensar como contribuição para a unidade da Igreja e não como elemento de divisão.

O comunicado do Comunhão e Libertação dessa quinta-feira, por isso, não deve ser lido tanto como um cínico reconhecimento da queda em desgraça de um dos seus bispos e ponto de referência na Itália, mas como um sintoma de um debate interno ao Comunhão e Libertação, entre as suas várias almas teológicas e políticas.

Uma das tantas contribuições do "efeito Francisco" é a ruptura dos alinhamentos ideológicos dentro da Igreja e das suas divisões. O arcebispo de Ferrara é um daqueles bispos para os quais o catolicismo deve ser compreendido, anunciado e aplicado em termos ideológicos.

Não é por acaso que Dom Negri se tornou o emblema de desconforto entre as elites ideologizadas que ascenderam a postos de responsabilidade na Igreja Católica que, agora, Francisco tem que governar.

* Massimo Faggioli, historiador de origem italiana, professor de História do Cristianismo e diretor do Institute for Catholicism and Citizenship, na University of St. Thomas, nos Estados Unidos.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 30 de novembro de 2015 – Internet: clique aqui.

"Francisco deveria ter o mesmo fim daquele outro papa",
afirma arcebispo italiano

Loris Mazzetti
Il Fatto Quotidiano
25-11-2015

Este é o desabafo de Dom Luigi Negri ao seu colaborador,
interceptado no dia 28 de outubro no trem que
partiu da estação Roma-Termini, depois da designação de dois
“padres de rua” para serem bispos de duas dioceses que estavam em mãos
do movimento Comunhão e Libertação 
DOM MATTEO ZUPPI
Novo arcebispo de Bologna (Itália) famoso pela simplicidade e despojamento pessoal,
bem como, pelo contato estreito com o povo

"Esperamos que, com Bergoglio, Nossa Senhora faça o milagre como fez com o outro." A referência ao Papa Luciani [João Paulo I, que morreu 33 dias após assumir o papado] é apenas velada. A frase é do arcebispo de Ferrara, Luigi Negri, alto prelado em profundo desacordo com Francisco e ponto de referência do movimento Comunhão e Libertação.

Negri, aluno do Pe. Giussani, também é conhecido por ter contestado o Poder Judiciário italiano quando acusou Berlusconi pelo caso Ruby. Àqueles que, na época, lhe apontaram que grande parte do mundo católico estava indignado com o caso das garotas de programa, ele respondeu: "A indignação não é uma atitude católica".

Contra a nomeação dos padres das ruas

O motivo da sua contestação: as recentes nomeações do Papa Francisco a Bolonha e Palermo, dioceses durante anos nas mãos do Comunhão e Libertação, dos bispos Matteo Zuppi e Corrado Lorefice, dois padres das ruas.

Dom Negri, no dia 28 de outubro, no trem Frecciarossa [Flecha vermelha] que partiu de Roma-Termini (testemunhas oculares relataram o incidente), deu rédeas soltas aos seus pensamentos em voz alta, como parece ser o seu costume, sem se importar com os poucos presentes no vagão de primeira classe, com o seu secretário, um jovem padrezinho com aparência de Cúria, com duplo celular, pronto para filtrar os telefonemas do arcebispo.

"Depois das nomeações de Bolonha e Palermo – deixou escapar – até eu posso me tornar papa. É um escândalo! Incrível! Estou sem palavras. Nunca vi nada parecido com isso."

O alto prelado, deixando perplexas as testemunhas, não se resignava, tinha que falar com alguém, pediu ao secretário para telefonar para um amigo de longa data, também ele do Comunhão e Libertação, Renato Farina, conhecido como o "agente Betulla", reforçando a dose.

Ainda não satisfeito, continuou com o jovem padre: "São nomeações ocorridas no mais absoluto desprezo por todas as regras, com um método que não respeita nada nem ninguém. A nomeação de Bolonha é incrível. Eu prometi a Caffara (o bispo cessante por limites de idade) que vou fazer com que aquele ali (Dom Zuppi) veja o que é bom para a tosse: em cada encontro, não vou deixar passar uma oportunidade. A outra nomeação, a de Palermo, é ainda mais grave. Este (Dom Lorefice) escreveu um livro sobre os pobres – o que ele sabe dos pobres! – e sobre Lercaro e Dossetti, seus modelos, dois que destruíram a Igreja italiana". 
DOM CORRADO LOREFICE
Novo arcebispo de Palermo, na Sicília (Itália) foi responsável pela pastoral

na diocese siciliana de Noto, especialmente dedicado aos pobres e vocacionados

A conferência e a barriga da Cúria

O jornal Fatto, nessa terça-feira, tentou contatar o arcebispo Negri para perguntar se ele queria esclarecer as suas palavras. "Sim, eu acho que ele estava naquele trem no dia 28 de outubro", explicou o seu porta-voz, Pe. Massimo Manservigi, ouvindo as frases de Negri que lhe repetimos. "Mas agora (eram as 21h30), o monsenhor está dando uma conferência na universidade e não é possível contatá-lo."

O jornal Fatto permanece à disposição para ouvir eventualmente as explicações do prelado. No entanto, é difícil acreditar que Dom Negri estivesse falando a título pessoal e não revelasse um estado de espírito compartilhado pela casta vaticana.

Bergoglio, se quiser levar a termo, como prometeu, os propósitos de João XXIII – "Igreja povo de Deus" –, acima de tudo, deve afastar os mercadores do templo.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 26 de novembro de 2015 – Internet: clique aqui.

ENTENDA MELHOR O QUE É A MUDANÇA CLIMÁTICA E OS ARGUMENTOS QUE CONTESTAM AQUELES QUE NÃO CREEM

Mudança climática:
12 pontos-chave para a cúpula de Paris

Manuel Planelles

Os representantes de 195 países, a maioria dos Estados do mundo, reúnem-se na Cúpula do Clima de Paris, entre 30 de novembro e 11 de dezembro. Neste encontro, tratarão de fechar o primeiro acordo global para tentar frear a mudança climática. 

O que é a mudança climática?

Os chamados gases do efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono (CO2), acumulam-se na atmosfera e impedem que as radiações infravermelhas que o planeta emite para se esquentar saíam para o espaço. Isso faz com que a temperatura do planeta suba. Esses gases sempre estiveram presentes na atmosfera. O problema, segundo o consenso (quase absoluto) dos cientistas, é que as atividades humanas contribuíram para romper o equilíbrio que existia. A indústria, o transporte e os usos do solo aumentaram a concentração desses gases. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a concentração de CO2 na atmosfera chegou, em 2014, a 397,7 partes por milhão (ppm). Antes da Revolução Industrial, era de 279 ppm.

Quais as consequências da mudança climática?

Os cientistas do grupo IPCC da ONU mostraram que, se o ser humano continuar com o ritmo de emissão de gases sem tomar medidas para reduzir as consequências, a temperatura média global subirá de 3,7 a 4,8 graus em 2100, em relação ao nível pré-industrial. Além do aumento da temperatura e do nível do mar, os cientistas sustentam que também afetará os fenômenos climáticos extremos, como inundações, secas e ciclones. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA analisou 28 fenômenos extremos registrados no planeta em 2014. E concluiu que em 14 casos a mudança climática fez com que eles fossem mais prováveis ou mais fortes.

Pode ser revertida?

Os cientistas do IPCC alertam que já existe uma mudança climática comprometida pelos gases do efeito estufa que o homem emitiu, principalmente, desde a década de setenta do século passado. Por isso, não dá para impedir que a temperatura média global aumente. A opção que existe é limitar esse aumento para dois graus em 2100, em relação aos níveis pré-industriais, para evitar grandes desastres naturais.

O que é a COP21 de Paris?

A vigésima primeira Conferência das Partes (COP21) é a cúpula em que se sentam os 195 países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC). Nesse tratado internacional, de 1992, foi reconhecida a importância do aquecimento global. Mas esse texto tem que se desenvolver com medidas concretas.


O que é o Protocolo de Kioto?

O Protocolo de Kioto, de 1997, fixa as metas concretas de redução de gases que os países desenvolvidos têm que atingir. No entanto, ele foi legalmente vinculado a apenas 37 Estados, dos quais 28 pertencem à União Europeia, e que representam 12% das emissões globais. As principais potências emissoras de gases ficaram fora: China, por não estar no grupo de países desenvolvidos, e os EUA, que não ratificou o protocolo. Kioto entrou em vigor em 2005, e em dez anos de aplicação, conseguiu uma redução de 22% das emissões nos 37 países signatários, muito acima dos 5% fixados como meta. Mas, por não afetar as principais potências, as emissões globais continuaram crescendo. Entre 2000 e 2010, por exemplo, subiram 24%.

O que será discutido em Paris?

Um protocolo para substituir o de Kioto e que começaria a ser aplicado a partir de 2020. Neste caso, a intenção é que os 195 signatários realizem políticas de mitigação, ou seja, reduzam as emissões de gases. Além disso, espera-se que seja fixado como objetivo que, ao final do século, a temperatura global não supere os dois graus, embora Estados mais expostos (como os insulares) queiram baixar essa meta para 1,5 graus.

Qual a fórmula escolhida?

O tratado não vai impor metas individuais de redução de CO2. Para tentar não repetir Kioto, com um alcance muito limitado, optou-se por outra fórmula: cada país, voluntariamente, apresentará compromissos de redução de emissões, tanto os desenvolvidos quanto os que não são. A alguns dias do começo da cúpula, mais de 170 já fizeram isso. Entre eles, estão todas as principais potências econômicas do mundo.

Esses esforços são suficientes?

Não. Segundo as estimativas realizadas pela ONU, extrapolando os compromissos voluntários (nos quais os Estados fixam metas para 2025 e 2030), a temperatura ao final do século subirá pelo menos 2,7 graus, embora outras organizações e instituições falem de até quatro graus. De fato, a previsão é de que até 2030 as emissões continuem crescendo, ainda que em um ritmo menor que nas últimas décadas. Algumas potências, como a União Europeia e a China, propõem como solução que esses compromissos individuais sejam revisados a cada cinco anos, para se aproximarem da meta de dois graus.

O protocolo de Paris será legalmente vinculante?

Esse pode ser um dos pontos mais complicados da cúpula de Paris. A União Europeia aposta em um protocolo com seções vinculantes. Por exemplo, que sejam assim os compromissos de redução de emissões que cada país apresentou voluntariamente. No entanto, a administração de Barack Obama pode enfrentar problemas, como aconteceu com Kioto, para fazer o Congresso e o Senado ratificarem um protocolo legalmente vinculante. A União Europeia já desistiu que sejam incluídas sanções, porque considera que isso pode dissuadir alguns países a assinarem o acordo.

O que é a adaptação?

Além da mitigação, a cúpula também discutirá políticas de adaptação, ou seja, medidas para que os países mais vulneráveis se preparem para a mudança climática. Para isso, está prevista a criação do chamado Fundo Verde para o Clima, que a partir de 2020 contará com 100 bilhões de dólares anuais. Quem deve fornecer o dinheiro? Essa pode ser outra das dificuldades em Paris. Em teoria, apenas os países considerados desenvolvidos. Mas potências como a China ficariam fora dessa categoria.

Haverá acordo?

É complicado aventurar-se nessa resposta. Em 2009, com a Cúpula de Copenhague, expectativas parecidas com as de Paris foram levantadas e o resultado foi um fracasso. Desta vez, além de os sinais da mudança climática terem se acentuado, parece haver uma implicação maior das principais potências, do G20 em geral, e da China, EUA e Alemanha em particular. Os líderes desses três países colocaram a mudança climática na sua agenda durante o último ano.

E se não houver acordo?

Se não houver, ou se o acordo for pouco ambicioso, não significa que a luta contra a mudança climática terá terminado. Muitos dos compromissos voluntários de redução de emissões já estão contemplados na legislação nacional de cada país. Seria o caso, por exemplo, da União Europeia, que se fixou metas concretas para 2030, independente da cúpula. Se não houver acordo, talvez o pior prejuízo seja para a ONU e para a ideia de que um problema global, como a mudança climática, pode ter uma resposta também global.

Fonte: Jornal EL PAÍS – Internacional – Encontro do Clima – Domingo, 29 de novembro de 2015 – 16h25 – Internet: clique aqui.

Dez asneiras que a gente ainda ouve por aí
sobre mudança climática

Claudio Angelo
Observatório do Clima

«Então a pergunta que precisa ser feita é: há consenso entre os climatologistas – que fazem pesquisa na área e publicam suas pesquisas em periódicos com revisão por pares, sujeitos ao julgamento da comunidade científica e ao falseamento – de que o aquecimento global é real e causado por humanos?»


O planeta está esquentando, o Sudeste está sem água, as geleiras estão derretendo, as florestas estão pegando fogo, as concentrações de gás carbônico não param de bater recordes e 14 dos 15 anos mais quentes da história aconteceram neste século. As evidências da mudança climática – e da ação do homem como sua causa primordial – são tantas e tão variadas que seria preciso ter chegado ontem de Marte para negá-las.

Bom, muita gente parece que chegou ontem de Marte e não tem a menor ideia do que está acontecendo pelas bandas de cá do Sistema Solar. Se você é dessas pessoas, seus problemas acabaram! Listamos abaixo a refutação a dez dos argumentos mais comuns dessa patota, para você poder evitá-los e nunca mais passar vergonha ao discutir com amigos que moram aqui na Terra há mais tempo.

1 – “O clima da Terra sempre mudou e sempre mudará. É muita arrogância achar que nós somos capazes de intervir nele.”

Esse argumento é muito utilizado por alguns geólogos, acostumados a olhar longas escalas de tempo no passado. A primeira parte dele é verdade. Se há uma coisa que a história da Terra nos mostra é que o clima sempre foi muito instável e sempre variou – por razões inteiramente naturais. Há 125 mil anos, tínhamos temperaturas 2ºC mais altas do que na era pré-industrial. Há 3,5 milhões de anos, o planeta era 3ºC mais quente. E, na era dos dinossauros, não havia gelo em lugar nenhum da Terra. De fato, a estabilidade climática do atual período quente, o Holoceno, não tem precedentes nos últimos 400 mil anos de história do planeta.

O que isso informa sobre a mudança climática em curso hoje? Nada. As mudanças climáticas do passado eram todas causadas por variações na atividade solar ou nos ciclos orbitais da Terra. E, claro, quando elas eram bruscas demais, ocorriam extinções em massa (#ficaadica). Muitos cientistas atribuem o próprio florescimento da agricultura, que deu origem à civilização, ao clima estável do Holoceno. Hoje não há nenhum desses fatores naturais atuando no clima, e nenhum sinal de variações astronômicas relevantes pelos próximos muitos milhares de anos [clique aqui]. O sinal inequívoco de mudança climática visto hoje se deve à intervenção do homem. Na escala que interessa à civilização, a das décadas e séculos, é essa a mudança climática que importa, não a de dezenas ou centenas de milhares de anos.

2 – “Os meteorologistas não conseguem nem prever se vai chover amanhã, que dirá se vai fazer calor em 2100.”

Esse argumento deriva de uma confusão comum entre tempo e clima. O tempo são as condições da atmosfera num determinado dia, enquanto o clima pode ser entendido como a média do tempo no longo prazo. O tempo é caótico e dominado por variabilidades de curto prazo (não é à toa que a teoria do caos foi criada por um meteorologista). O clima é algo mais previsível. Não dá para saber se em um determinado dia de janeiro choverá em São Paulo (isso é tempo); mas todo mundo sabe que janeiro é um mês de chuvas em São Paulo (isso é clima).

Antes de tudo, justiça seja feita aos meteorologistas: as previsões do tempo estão cada vez mais precisas, então dá para saber se amanhã vai chover, sim.

Ocorre que, conhecendo o clima de uma determinada região e conhecendo os elementos capazes de alterar o balanço de energia do planeta (em especial os gases de efeito estufa), é possível estimar como ele se comportará, em média, no futuro: se será mais quente, mais frio, mais seco, mais úmido ou mais variável. De fato, uma forma padrão de testar um modelo climático é saber se ele consegue reproduzir a média das condições observadas no passado. Falaremos mais sobre isso adiante.

3 – “Mas a Antártida está ganhando gelo. Foi a Nasa que disse. Logo, não há aquecimento global.”

Esse argumento ganhou tração nos últimos dias, devido a um estudo publicado pelo glaciologista Jay Zwally, da Nasa, segundo o qual o continente antártico na verdade estaria contribuindo para reduzir o nível do mar. O estudo foi avidamente reportado pela imprensa como um questionamento ao IPCC, o painel do clima da ONU, que diz que a Antártida tem contribuído nos últimos anos para elevar o nível do mar e o fará ainda mais intensamente nas próximas décadas.

Vamos por partes: é preciso saber de que tipo de gelo e de que Antártida se está falando. A Antártida está ganhando gelo, sim, de pelo menos uma maneira: o cinturão de mar congelado que se forma todo ano ao redor do continente está crescendo cerca de 100 mil quilômetros quadrados por ano. As causas disso ainda são incertas, mas muitos cientistas acreditam que o buraco na camada de ozônio esteja deixando o interior do continente mais frio, e a diferença de temperatura entre o centro antártico e a periferia está deixando os ventos mais fortes em volta do continente. Isso empurra a camada de mar congelado para longe da costa, abrindo uma faixa de mar aberto que rapidamente congela. Na Península Antártica, região mais afastada do polo Sul, o oposto acontece: o gelo marinho está diminuindo a cada ano.

O que Zwa lly e colegas argumentaram em seu estudo [acesse-o aqui] é que existe um outro ganho de gelo: o manto de gelo que recobre o continente estaria “engordando” de 1 cm a 3 cm por ano, devido a uma resposta lenta a mudanças ocorridas no fim da última glaciação, 12 mil anos atrás. Essa engorda estaria acontecendo sobretudo no leste antártico, que concentra mais de 85% do gelo do sexto continente. Tal ganho seria capaz de compensar as perdas que o próprio Zwally e vários outros colegas já comprovaram, usando vários instrumentos diferentes, estar acontecendo em duas outras regiões: a Península Antártica e o oeste antártico.

Que não haja dúvida aqui: existe perda de gelo no continente antártico, muito bem documentada por satélites da Nasa e da Agência Espacial Europeia. Foi a Nasa quem mostrou o rompimento em tempo real de plataformas de gelo na Península Antártica [clique aqui]. E foi a Nasa quem revelou [baixe o estudo aqui], em 1998, que as geleiras do oeste antártico estavam em franco derretimento. No período de 2002 a 2011, a perda de gelo foi de 147 bilhões de toneladas por ano, segundo o IPCC, o que teria elevado o nível do mar em 0,27 milímetro por ano. Quase todo esse gelo vem do oeste antártico. Um estudo recente sugere que o colapso das geleiras do oeste antártico é irreversível e fará o mar subir 3,3 metros na escala de séculos.

O leste é um mistério que os cientistas ainda não conseguiram decifrar. Nenhuma das medições com satélite feitas até aqui conseguiram responder se há ganho ou perda de gelo naquela região. Os cientistas costumam dizer que ela está em equilíbrio.

O estudo de Zwally muda algumas premissas sobre os dados e argumenta não apenas que há ganho, mas que esse ganho mais do que compensa as perdas. Mas, como as medições naquela região são muito difíceis de fazer, alguns glaciologistas [clique aqui] acham que ele esteja errado – embora “haja uma chance pequena de que esteja certo”, como disse ao OC o glaciologista Ian Joughin, da Universidade de Washington. A figura abaixo, produzida por um pesquisador da Instituição Oceanográfica de Woods Hole, nos EUA, mostra onde está o consenso em relação à dieta da Antártida: as perdas ou ganhos de gelo são representadas pelos tetângulos. De 13 estudos, o de Zwally (retângulos marrons no alto da imagem) é o único a apontar ganho líquido. A maioria aponta perdas, aceleradas a partir de 2005 (aqui Zwally tem outro problema, já que a série de dados usada por ele só vai até 2008). 

Portanto, a Antártida continental está provavelmente perdendo mais gelo do que ganhando, e elevando o nível do mar. E só vai ficar pior no futuro.

4 – “O AGA (Aquecimento Global Antropogênico) é uma teoria anticapitalista da esquerda para regular a livre-iniciativa e dar todo o poder ao Estado” (diz a extrema direita) ou sua variante especular: “O AGA (Aquecimento Global Antropogênico) é a cabeça de ponte do imperialismo” (diz a extrema esquerda).

Parece incrível que alguém ainda use esse tipo de argumentação 25 anos depois da queda do Muro de Berlim. O bom dessas duas falácias é que uma delas já está descartada de cara pela aceitação da outra: afinal, o aquecimento global não pode ser ao mesmo tempo uma conspiração da esquerda (caso em que fica difícil explicar a ação de políticos como Angela Merkel, Nicolas Sarkozy e Miguel Arias Cañete, todos de partidos conservadores) e da direita (caso em que fica difícil explicar como a verdadeira cabeça de ponte do imperialismo, o Partido Republicano dos EUA, se opõe maciçamente a combatê-lo). Conforme-se, Aldo Rebelo.

5 – “Nos anos 70 previram uma era do gelo.”

Nos anos 1970, medições de temperatura mostravam uma tendência de 30 anos de resfriamento em relação ao período pré-2ª Guerra. Isso fez alguns cientistas teorizarem que o Holoceno pudesse estar chegando ao fim e que a Terra pudesse estar entrando numa nova era glacial. A imprensa comprou a história pelo valor de face, embora essa não fosse a opinião majoritária entre os cientistas: um levantamento de 68 artigos científicos sobre o tema naquela época [clique aqui] mostra que 10% previam resfriamento global, 62% previam aquecimento e 28% não davam veredicto.

Hoje sabemos, graças aos estudos do clima do passado gravado no gelo antártico, que a longa duração do Holoceno não é sem precedentes na história da Terra: há 400 mil anos, um período interglacial durou 28 mil anos. O nosso tem cerca de 10 mil. Ou seja, a próxima era do gelo causada por fatores naturais ainda deve demorar um tempinho.

6 – “Não há consenso entre os cientistas de que a Terra está esquentando, nem evidência de que isso seja culpa dos seres humanos.”

É preciso saber antes o que é consenso e quem são esses cientistas. “Cientistas” é uma categoria ampla demais: a teoria da relatividade geral pode não ser “consenso” entre os zoólogos, assim como a evolução pode não ser “consenso” entre os físicos. A opinião de uns sobre o domínio dos outros vale tanto quanto a de qualquer outro leigo. Como João Gilberto costuma dizer, vaia de bêbado não vale.

Então a pergunta que precisa ser feita é: há consenso entre os climatologistas – que fazem pesquisa na área e publicam suas pesquisas em periódicos com revisão por pares, sujeitos ao julgamento da comunidade científica e ao falseamento – de que o aquecimento global é real e causado por humanos?

O pesquisador australiano John Cook e a turma do site Skeptical Science [acesse-o aqui] se fizeram essa pergunta em 2013. Eles vasculharam 12 mil artigos científicos na literatura que mencionavam “aquecimento global” e “mudança climática”, e constataram [veja aqui] que 97% deles afirmavam que o fenômeno é real e causado por humanos. Questionários enviados aos autores dos artigos produziram a mesma cifra: 97%. Portanto, sim, há consenso entre os cientistas. Um estudo de 2007 da americana Naomi Oreskes e outro de 2012 de James Powell chegaram às mesmas conclusões. Powell ilustrou seus resultados desta forma:

Agora vamos à segunda parte: há evidências de que isso seja causado por seres humanos? Em outras palavras, existe uma impressão digital humana no clima? Quem responde a essa pergunta são os satélites, esses diabólicos instrumentos da “ideologia aquecimentista”.

Caso a Terra estivesse esquentando por uma mudança na quantidade de radiação que chega do Sol, único fator natural capaz de mudar o balanço de energia do planeta, um satélite que medisse a temperatura ao longo das camadas da atmosfera veria um aquecimento por igual da estratosfera, a camada superior, e da troposfera, a camada mais baixa. Os satélites têm feito essas medidas. E o que eles detectaram? A troposfera está esquentando, OK. Mas a estratosfera está mais fria. Por quê? Porque a radiação solar reemitida pelo planeta na forma de infravermelho (calor) está ficando presa na troposfera. Por quê? Porque há uma mistura de gases na troposfera que são opacos ao infravermelho, ou seja, bloqueiam esse tipo de radiação. Essas medições são coerentes com um agravamento do efeito estufa, ou seja, um aumento na quantidade de CO2, metano, óxido nitroso e vapor d’água (sim, vapor d’água!) na atmosfera. Existe alguma fonte de gases de efeito estufa capaz de fazer isso? Sim: nós.

7 – “Os Estados Unidos tiveram um recorde de nevascas no último inverno. Cadê o seu aquecimento global?”

Aquecimento global é a média da temperatura planetária, associada ao aumento da quantidade de energia armazenada na atmosfera, que leva a mais extremos climáticos, sejam de calor ou de frio (sim, frio), de seca ou chuva, às vezes nas mesmas regiões. O aquecimento aumenta a evaporação dos oceanos e a quantidade de energia na atmosfera. Isso favorece tempestades mais fortes. Onde chove, chove mais, num período mais concentrado (paradoxalmente, isso também aumenta as estações secas). Onde neva, neva mais. É simples assim.

8 – “O aquecimento global parou em 1998.”

Esse argumento está errado de tantas maneiras que valeria um post inteiro só para ele. Muita gente de boa fé, incluindo cientistas e jornalistas de ciência veteranos, já foi seduzida por essa tese. Ela afirma que, após 1998, a curva de aumento de temperatura da Terra parece ter “estacionado”, ou seja, o aquecimento aparentemente parou de acelerar. Eu disse aparentemente.

O que aconteceu foi que, primeiro, 1998 foi um ano incomum: teve o El Niño mais forte já registrado antes deste de 2015. O El Niño joga o termômetro para cima no mundo todo. Se você olha a série de dados a partir de 1998, vai ter a impressão de que o aquecimento estacionou, porque começou a olhar de um ponto fora do padrão. O gráfico abaixo mostra como ao olhar a série inteira do século esse efeito desaparece, e vemos claramente uma progressão de aquecimento, com alguns períodos sem aceleração. Mesmo com 15 anos de aparente estase, todos os 15 anos mais quentes da história aconteceram no século 21, à exceção de 1998. É um recorde atrás do outro [clique aqui]. Os anos de 2005 e 2010 foram os mais quentes, depois superados por 2014, que será superado por 2015. 

A outra explicação para a desaceleração do aquecimento global foi dada pelos pesquisadores americanos Kevin Trenberth e Magdalena Balmaseda: em vez de ir esquentar a atmosfera, a energia em excesso dos gases-estufa estava esquentando as camadas mais profundas do oceano [baixe o estudo aqui].

Por fim, há quem diga que a tal “pausa” no aquecimento nunca existiu: trata-se apenas uma ilusão estatística [leia mais sobre isto, clicando aqui].

9 – “É tudo modelo. Se você torturar o modelo, ele te diz qualquer coisa.”

Modelos são grandes conquistas da humanidade. Mais até do que a mandioca [clique aqui]. Eles permitem fazer perguntas e testar ideias sobre a natureza em situações de outra forma impossíveis. Os remédios que você toma foram testados em modelos celulares e, eventualmente, em animais. O avião no qual você viaja foi testado antes num modelo computacional. Se não houvesse modelos, os aviões teriam de ser testados pela primeira vez na prática, depois de construídos – quem sabe, com uma tripulação de “céticos” da modelagem a bordo.

Como dito acima, modelos de clima (representações matemáticas da Terra, com atmosfera, polos, superfície e mares) precisam ser testados para “prever o passado” antes de colocados para rodar e simular o futuro – ou seja, simular as condições das últimas décadas para ver se a modelagem bate com o que foi medido. Modelos que falham no teste são simplesmente deletados.

Dito isso, os vários modelos climáticos globais têm personalidades matemáticas distintas, que lhes introduz vieses. O modelo do Centro Hadley, do Reino Unido, mostra um mundo em média mais seco no futuro. O modelo japonês Miroc mostra um mundo em média mais úmido. Para diluir o viés e reduzir a chance de erro, o IPCC usa mais de duas dezenas de modelos globais. E eles dão resultados incrivelmente parecidos.

10 – “O professor fulaninho diz que é tudo mentira.”

Voltamos à história de quem são os cientistas e qual é o consenso. Até pouco tempo atrás, havia em alguns veículos de imprensa o vício de entrevistar um ou outro negacionista mais midiático como forma de garantir “equilíbrio de visões” nas reportagens, como se em ciência todas as opiniões valessem a mesma coisa (volto à caricatura dos zoólogos debatendo relatividade geral), e como se a academia estivesse dividida 50% a 50% sobre o assunto. Este vídeo hilário do comediante inglês John Oliver [para assisti-lo, clique aqui – em inglês com legendas na mesma língua] mostra como seria se a imprensa resolvesse representar de fato o equilíbrio de visões da academia sobre a mudança do clima.

No Brasil houve dois negacionistas ilustres da mudança climática. Ambos são meteorologistas (ou seja, têm o costume de olhar o tempo, não o clima), a segunda categoria de cientista com mais propensão ao negacionismo climático (a primeira são os geólogos). Os currículos de ambos revelam uma escassez de publicações sobre mudança climática em periódicos indexados em bases de publicações nacionais ou internacionais (a indexação é uma medida, ainda que imperfeita, da seriedade e da relevância de uma publicação acadêmica). No caso de um deles, todos os sete artigos “científicos” que publicou sobre o tema saíram numa obscura revista eletrônica que tinha ele próprio no conselho editorial. Repetindo João Gilberto, vaia de bêbado não vale.

Fonte: EcoDebate – Cidadania & Meio Ambiente – 26 de novembro de 2015 – Internet: clique aqui.

CLIMA: ESTE É O DESAFIO DO MILÊNIO ! ! !

Mundo vai a Paris por acordo do clima

Giovana Girardi

País chega à conferência com desafio de mudar modelo de desenvolvimento
Mais de 10.000 sapatos, incluindo pares enviados pelo papa Francisco,
cobriram parte da praça da República de Paris para simbolizar a impossibilidade
de organizar manifestações na cidade por ocasião da Cúpula do Clima (COP21) por causa da ameaça terrorista
(Foto: Eric Gaillard/Reuters)

Chefes de governo e de Estado, ministros e diplomatas de 195 países do mundo se reúnem a partir deste domingo, 29 de novembro, em Paris, para tentar fechar um acordo global que busque evitar uma mudança catastrófica no clima do planeta.

Grosso modo, essa é a expectativa que se tem da 21ª Conferência do Clima da ONU – que garanta, em um documento, um futuro climático seguro para todos que estiverem por aqui nas próximas décadas e séculos.

Na prática, porém, o resultado da conferência deverá ser mais um ponto de partida que um ponto final. A questão complexa se desenrola em metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, em transferência de tecnologia, em financiamento. E em resolver velhos atritos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Porque a crise das mudanças climáticas pode ser global, mas as soluções, assim como as consequências da inação, são em sua maioria locais.

Os temas abordados se relacionam com as metas apresentadas pelo Brasil em sua INDC (sigla em inglês para o conjunto de intenções que os governos apresentaram como contribuição à Conferência de Paris). O País se propôs a reduzir suas emissões em 37% até 2025 e em 43% até 2030, com base nos valores de 2005. Para conseguir isso, entre outras ações, o governo promete:
  • zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030,
  • reflorestar 12 milhões de hectares e
  • aumentar a participação de fontes renováveis (excluídas a hidráulica) na matriz elétrica para 23%.

ESTAS SÃO AS METAS COM AS QUAIS O BRASIL ESTÁ SE COMPROMETENDO

Contribuição histórica

As reportagens mostram que na ponta onde as questões têm de ser resolvidas, os desafios não são poucos. Na Amazônia, por exemplo, apesar de ter ocorrido uma redução de 82% no desmatamento entre 2004 e 2014, a taxa da perda florestal se estabilizou em cerca de 5.000 km² por ano (3,3 vezes o tamanho da cidade de São Paulo). A taxa mais recente, de agosto de 2014 a julho de 2015, apresentou uma alta de 16% em relação ao ano anterior, chegando a 5.831 km². O número é considerado incômodo para o Brasil apresentar na COP, uma vez que ele representa mais emissões. O governo federal trabalha com uma estimativa de que pelo menos 60% disso é ilegal, mas só Mato Grosso considera que a ilegalidade é de cerca de 90%.

O Estado liderou neste ano o desmatamento na Amazônia e tanto o governo local, quanto Ibama e ONGs que atuam no Estado relatam dificuldades para baixar essa taxa.

A saída para resolver as emissões do desmatamento legal que vai poder continuar existindo (o Código Florestal assegura a supressão vegetal de 20% do terreno de propriedades privadas na Amazônia), na proposta do governo, é fazer o reflorestamento de 12 milhões de hectares. Altos custos e resistência de proprietários, como observado em Mato Grosso, também devem dificultar o alcance dessa meta – que muitos especialistas em uso da terra ainda dizem ser aquém do necessário.

De 1990 a 2014, período para o qual há cálculos das emissões brasileiras, o País lançou na atmosfera 59,6 gigatoneladas (Gt) de CO-equivalente. O desmatamento da Amazônia respondeu sozinho por 41% deste total (20,4 Gt COe).

Se a meta de zerar o desmatamento for alcançada e outras ações para diminuir as emissões da pecuária forem tomadas, a preocupação se volta para a energia. A expectativa dos especialistas é que para 2030 o setor passe a responder por 50% das emissões anuais do País. Em 2014, já foi responsável por 30,7%, pela primeira vez superando a pecuária no posto de segundo maior emissor, e colando no desmatamento, que mantém a liderança, com 31,2% das emissões. Os dados são do mais recente levantamento do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg).

Contribuição futura

Historicamente celebrado por ser um dos países com a matriz elétrica mais limpa, por conta da forte presença de hidrelétricas, que não poluem (em oposição a térmicas movidas com combustíveis fósseis, comuns na maioria do mundo), o Brasil não vinha se preocupando muito com as emissões de energia. Não quando o problema gritante era o desmatamento.

Mas nos últimos quatro anos, o cenário começou a mudar. Sucessivas crises hídricas têm levado a um maior acionamento de termoelétricas no Brasil. Aqui não usamos carvão, o pior dos fósseis, como é comum na China, mas óleo combustível e gás natural ainda assim são poluentes. Com isso a emissão no Brasil do setor aumentou 171% de 2011 a 2014.

Com o crescimento populacional nos próximos anos e uma eventual retomada do crescimento econômico, vai aumentar a demanda por energia, não só a elétrica, como a de combustíveis para transporte. Para não ter um aumento de suas emissões totais, o País precisa aumentar a oferta de fontes renováveis.

Especialistas alertam que, apesar da meta de aumento da participação das renováveis (dos 9,9% atuais para 23% até 2030), o Brasil ainda tem previsão de concentrar a maior parte dos seus investimentos energéticos em combustíveis fósseis. O Plano Decenal de Energia prevê 71% dos investimentos em combustíveis fósseis e apenas 14% para novas fontes renováveis.

No Nordeste, por exemplo, observamos a expansão das usinas eólicas, mas o setor de energia solar ainda patina. Porque falta uma política orientada para facilitar sua ampliação.

Em comum a todas as histórias – de Micolinos, Neuris, Edivaldos, Cíceros, do Norte e do Sul do País – está o fato de que para o Brasil fazer sua parte na luta contra as mudanças climáticas, vai ter de mudar também seu modelo de desenvolvimento. E ainda tem muitos obstáculos a superar. 

Desmatamento: um vilão histórico

Giovana Girardi

Fazendeiros que colonizaram Estado de Mato Grosso começam a refazer área de floresta para preservar nascentes, mas resistem a reconstruir a reserva legal

Era 1971. Amândio Micolino, então com 40 anos, sonhava em ter cem cabeças de gado. Mas a terrinha de 15 hectares em Tenente Portela, no Rio Grande do Sul, não tinha condições para isso. Enquanto dava para plantar, porém, ele e a família se davam por satisfeitos. “A partir do momento em que precisou pôr calcário, veneno, adubo, aí apertou. Não dava mais para viver. Foi quando surgiu o plano do (pastor e pequeno produtor) Norberto Schwantes de tirar a gente de lá e trazer para Mato Grosso”, conta.

Micolino não pensou duas vezes. Trocou sua terra e uma casa que tinha acabado de construir, e ainda cheirava à tinta, por uma área de 475 hectares, apesar dos protestos da mulher, que só fazia chorar quando chegou naquele norte que não tinha nada. Tem certeza que fez um bom negócio. “O hectare da terra no Rio Grande custava mais de mil cruzeiros e em Mato Grosso, 12”, recorda. No auge de sua produção, chegou a ter 480 cabeças de gado.
O fazendeiro Amandio Micolino foi um dos primeiros colonizadores
que saíram do Sul do País para “desbravar” o Norte.
Arrependido, ele reflorestou parte da floresta de sua propriedade
(FOTO: Tiago Queiroz/Estadão)

No total, cerca de 2 mil famílias embarcaram no plano. Uma das cidades que construíram foi batizada de Canarana, nome do que era considerado o melhor capim da região. “Lembrava Canaã, a terra prometida. E aqui se plantando, tudo dá”, contou posteriormente Schwantes, no filme "Os Homens do Presidente (ou Plante que o João Garante)", de Paulo Rufino, de 1984, repetindo o bordão de Pero Vaz de Caminha.

Assim começava uma das primeiras histórias de colonização do Norte do País por fazendeiros do Sul. Um processo que culminaria em transformar o Mato Grosso no maior produtor de grãos do País, e também num dos campeões de desmatamento da Amazônia.

De acordo com o último levantamento do Prodes, o sistema de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que fornece as taxas oficiais de perda anual da floresta, Mato Grosso, Rondônia e Amazonas foram os três Estados a concentrarem o aumento de 16% no corte raso registrado para o bioma entre agosto de 2014 a julho de 2015. Entre eles, Mato Grosso foi o líder, registrando a derrubada de 1.508 km² – quase 26% do total desmatado no ano na Amazônia Legal. No acumulado histórico, o Inpe calcula que foi perdido no Estado cerca de 40% da área de floresta.

Na divulgação dos dados na última quinta-feira (26 de novembro), a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, se disse surpresa com o avanço porque a maior parte das terras no Estado é de proprietários particulares (e não de terras sem dono – como ocorre no Pará, ainda o líder de desmatamento em área absoluta –, que são em teoria mais fáceis de escapar de uma multa porque não há um responsável pelo local). E a maioria do produtores, segundo Izabella, já fez o Cadastro Ambiental Rural (CAR), instrumento adotado na revisão do Código Florestal, em 2012, com o propósito justamente de conter o avanço do desmatamento.

No campo, porém, a situação é mais complicada, explicam organizações não-governamentais que atuam no Estado. De acordo com Alice Thualt, diretora adjunta do Instituto Centro de Vida (ICV), ainda há uma lentidão na implementação do Código Florestal.

“Isso coloca o produtor rural e o assentado em uma situação de não saber muito bem o que vai acontecer, quando e como vai ser a validação do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Isso tudo cria incerteza quanto às regras do jogo, que faz com que nessas regiões não se tenha Estado. Então as pessoas acham que podem apostar na ilegalidade”, afirma. “Essa taxa de desmatamento que a gente tem hoje lembra muito um tempo que a gente achava que já tinha passado”, complementa. O valor atual é o mais alto desde 2008.

Os dados sugerem que as metas do governo para conter as emissões de gases estufa, cuja principal fonte historicamente foi o desmatamento da Amazônia, podem ficar comprometidas. O plano é chegar a 2020 com uma taxa anual de 3.925 km² e zerar o desmatamento ilegal até 2030.

Para Andrea Azevedo, diretora-adjunta do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), há esse risco se não houver uma mudança na forma de combate ao problema e a criação de incentivos para se manter a floresta em pé. A ilegalidade só em Mato Grosso, segundo admite a Secretaria de Meio Ambiente, é de 90%. “O governo do Estado tem de dar uns sinais claros de que não tolera ilegalidade, mas não é para 2030, é a partir de agora, de 2016”, diz Andrea.
[. . . ]
Município de Braz Norte (MT) com mais de 117 hectares de área queimada ilegalmente.
Exemplo de descaso com o meio-ambiente e confiança na impunidade!

Sensação de impunidade

O ideal, portanto, é impedir o avanço antes de a degradação da área estar instalada. Uma das linhas de fiscalização é agir na primeira ponta, com os madeireiros, que sempre estão um passo à frente. Uma das estratégias deles, quando é feita uma apreensão, é dar um jeito de boicotar o caminhão para que ele não possa ser movido. Tiram câmbio, pneus, até o motor. Se perder a madeira para o Ibama é ruim para os criminosos, pior ainda é perder caminhões ou os tratores usados para derrubar a floresta.

Na operação acompanhada naquela noite pela reportagem, a equipe deteve 4 caminhões, com 44 toras de madeira, duas motos e seis pessoas durante operação de apreensão de madeira ilegal em fazenda perto de Feliz Natal. Um fugiu, depois de jogar o caminhão na mata.

Alguns fatores parecem ter colaborado com o aumento do desmatamento no Estado este ano. Por um lado, relataram os fiscais do Ibama, uma lei estadual que autoriza a limpeza de pasto (já consolidado), tem sido usada como desculpa para “esquentar” um desmatamento ilegal. Pode ser o caso que vimos no assentamento, já que havia sementes de capim espalhadas. A artimanha seria contratar um engenheiro para fazer um laudo atestando que aquilo ali, alguns anos antes, era um pasto abandonado onde algumas árvores tinham crescido de novo. Em vez de uma nova área de floresta derrubada.

Por outro lado, suspeita-se que a obrigatoriedade de fazer o Cadastro Ambiental Rural tem levado muito proprietário de terra a desmatar um pouco mais antes de se registrar e computar a nova área como se fosse um velho desmatamento.

São artifícios que, ao serem confrontados com imagem de satélite, caem por terra, porque nas imagens é possível ver quando foi o corte e qual era o status da área antes. Mas até aí, o estrago já foi feito. E muitos agem acreditando que simplesmente vão sair impunes.

Elaine Corsini, secretária adjunta de Meio Ambiente do MT, reconhece que isso está acontecendo. “O produtor pensa: ‘Ah, na hora que eu entrar no CAR não consigo mais desmatar nada, então eu vou fazer antes’. E ele esquece de avaliar que todo desmatamento depois de 2008, se não for em área passível, ele vai ter que recompor. Vai ter que plantar, e o custo é muito maior, mas é uma estratégia. Vai que dá certo, vai que não chega em mim, né? Vai que eu consigo passar e isso fica pra trás, eles pensam.”

[ . . . ]

Um outro problema no Estado veio à tona quando foram anunciados os números do Prodes. De acordo com Izabella, uma regra estadual criada neste ano, que concede autorizações provisórias de funcionamento para propriedades rurais, estaria sendo mal utilizada. Ela citou dois casos de fazendeiros que tiveram suas áreas embargadas por desmatamentos ilegais, conseguiram a autorização provisória, usaram-na para pedir o desembargo e depois voltaram a desmatar. O Ibama iniciou uma investigação sobre esse procedimento e a superintendência de Mato Grosso, incluindo Keynes, deve ser exonerada.

Ele não foi localizado pela reportagem para comentar o caso. Jair Schnitt, coordenador geral de fiscalização ambiental do Ibama, afirmou que esse não é o único e talvez nem o principal responsável pelo aumento do desmatamento, mas favorece a sensação de impunidade. “O que está por trás disso é a percepção de que sempre dá jeito, sempre é possível regularizar um desmatamento ilegal. Mesmo quem não teve essa autorização, fica com uma expectativa de que vai ter uma nova regra que vai permitir ajustar as coisas.”

Elaine afirma que o aumento [do desmatamento] é um problema muito mais das pequenas propriedades, que ainda, segundo ela, ainda não encontraram alternativas de ter ganhos financeiros sem desmatar, do que das grandes. Para a secretária adjunta, os grandes já conseguiram se desvincular da noção de que é preciso abrir mais terras para o plantio.

O Clima Global

Giovana Girardi
Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Ipan)
monitoram em instalações da Fazenda Tanguro, na cidade de Canarana (MT),
mudanças na temperatura e na umidade provocadas pela conversão de florestas em pastos
ou plantações de soja.
(Foto: Tiago Queiróz/Estadão)

Mas o que realmente pode se dizer que já está acontecendo no Brasil que seja provocado pelas mudanças climáticas? Faça essa pergunta a um climatologista e espere uma careta. É que essa é uma questão complexa, que não tem exatamente o exemplo A, B e C. Mais comum é ouvir: A mudança climática não vai trazer nenhum problema novo que a gente nunca viu, mas vai agravar aqueles conhecidos de todos nós e com os quais a gente ainda não sabe lidar muito bem, como secas e inundações. E vai aumentar a variação e a frequência desses extremos.

Na semana que passou, a Organização Meteorológica Mundial anunciou que, faltando pouco mais de um mês para o ano acabar, 2015 já bateu o recorde de ano mais quente da história. Com a elevação, provavelmente o planeta já atingiu a marca de temperatura média 1°C mais quente que a observada em períodos pré-Revolução Industrial.

“É normal que exista variabilidade entre anos de seca e de chuva, mas coloque 1°C a mais sobre isso. Se muda a média, aumentam os extremos”, resume Brando. Ele cita como exemplo as secas históricas na Amazônia de 2005 e 2010. “Não necessariamente foram causadas pelas mudanças climáticas, mas o clima mais quente provavelmente deixou esses eventos mais intensos”, complementa.

O mesmo vale dizer, por exemplo, sobre a seca inédita que atingiu o sistema Cantareira no último verão, ou a seca que já dura quatro anos no Nordeste.

O que ocorre a cada cem anos, como a seca do Sudeste em 2014, no futuro vai ser mais comum. Não sabemos qual será a frequência de repetição, mas teremos mais rapidez de alternância para os dois lados, seco e chuva, e vamos ter de aprender a lidar com isso”, afirma o climatologista Carlos Nobre, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
NORDESTE BRASILEIRO
Será uma das regiões que mais experimentará aumento da temperatura, seca e desertificação

As modelagens climáticas para o Brasil apontam também um risco de intensificação do processo de desertificação pelo qual passam hoje cinco regiões do Nordeste: em Pernambuco, Piauí, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. É o que explica o climatologista José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “A desertificação é um processo de degradação ambiental, que pode ser agravado pela mudança de clima. Por exemplo, pela redução ou sumiço das chuvas. Os núcleos de desertificação estão em áreas semiáridas, onde as projeções dos modelos mostram condições futuras de aridificação, ou seja, evapotranspiração maior que precipitação e isso eventualmente pode levar a desertificação.”

Algumas ondas de calor – evento que ganhou as notícias neste ano na Índia e na Europa –, também já foram observadas no Brasil. Em fevereiro de 2010, uma mistura de temperaturas acima de 39°C e umidade do ar abaixo de 21% levou à morte 50 pessoas na Baixada Santista.

A referência é que dias seguidos com temperaturas acima de 35°C, em que a mínima não baixa a menos de 21°C, e com umidade de 100% podem aumentar os riscos de enfartes, especialmente em quem tem problemas cardíacos e em idosos. No futuro, as modelagens climáticas apontam que regiões Norte e Nordeste devem ser as mais afetadas por ondas de calor.

“Assim como vários outros eventos, esse também acontece de vez em quando, é normal. Mas com o planeta 1°C mais quente, tende a ficar mais grave”, explica Nobre. As metas que os países estão levando para a Conferência do Clima de Paris deixam o mundo no trilho de ficar pelo menos mais uns 2°C mais quente, além desse 1°C, até o final do século. “Isso vai diminuir o limiar que as pessoas poderão suportar ao ar livre”, complementa.

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Fonte: ESTADÃO.COM.BR – Desafios do clima: Às vésperas da COP; Um vilão histórico; Mais quente e seco; Sol, vento e o futuro – Domingo, 29 de novembro de 2015 – Internet: clique aqui.