«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

NÃO TEM A VER COM RELIGIÃO, MAS COM PODER!

Torquemadas de todo o mundo, uni-vos!

Fernão Lara Mesquita
Jornalista

Adeus ao tédio do crack e da heroína.
Há muito mais emoção em explodir e ser explodido. 
ESTADO ISLÂMICO
realiza fuzilamento em massa em território conquistado no Oriente Médio

Só há um deus e Maomé é seu profeta” diz a bandeira do Estado Islâmico. “Alá é grande” é a última coisa que ouvem as vítimas da sua truculência. Mas esses deuses absolutos têm muito pouco que ver com aqueles outros que nasceram para explicar as maravilhas e consolar as dores deste mundo. Só aparecem, na história da humanidade, depois que ela aprende a se organizar pela violência.

O wahabismo, a tal “corrente radical do Islã” em que “se inspira” o grupo Estado Islâmico, é só uma tática de assalto ao poder, que, como o leninismo, funciona exatamente porque não põe nenhum limite à violência que emprega para conquistá-lo e mantê-lo. Não é uma questão de sutilezas na interpretação da palavra de deus (ou de Marx). O wahabista (como o leninista) é aquele que se dispõe a empunhar a arma e puxar o gatilho; a torturar e estuprar filhas diante de seus pais. Os islâmicos sem mais nem menos (como os que por aqui saltavam “o muro”) são os que levam os tiros, os que são estuprados, os que se atiram ao mar.

Alá o escambau!

O tamanho do prêmio é quanto basta para explicar essa brutalidade toda. “Fazer deste mundo o inferno é o caminho para o céu aqui mesmo, na Terra”, é o sinal com que a realidade instalada no Oriente Médio de hoje acena. Se você tiver estômago para ser implacável o bastante, pode se tornar o rei da sua própria arábia saudita.

Deus será você mesmo!

Só o assassinato randômico rende a onipotência, grau máximo da embriaguez pelo poder. Por mais unânimes, bizarras e degradantes que se tornem as demonstrações públicas de “fé” das vítimas tentando evitar o suplício, elas nunca serão suficientes. O fatalismo é um ingrediente imprescindível. É preciso que tudo agrida a lógica e o senso de justiça; é preciso que não haja explicação; é preciso que não exista meio de garantir isenção ou prevenir o pior. A onipotência alimenta-se de doses regulares de sangue. Não há ponto de chegada. Quando todos os “hereges” se tiverem “convertido”, os assassinos redefinirão a heresia para continuar assassinando.

A primeira, de todos os tempos, é a mais básica. Mate para não ser morto. É daí que vêm os “soldados”. O resto da “mensagem” são “os meios” de cada momento. A de hoje é a do congraçamento planetário do mal. Por que não se agora dá? Torquemadas de todo o mundo, uni-vos! Que venham os psicopatas e os suicidas! Adeus ao tédio do crack e da heroína. Há muito mais emoção em explodir e ser explodido.

A humanidade já viu isso em todos os tempos, em todas as línguas e em todas as latitudes. Essa é a história de todos nós. A barbárie é o padrão e o terror tem sido o instrumento universal da conquista e da manutenção do poder desde que há memória, inclusive nessa Europa das monarquias absolutistas que vieram crucificando, degolando e queimando hereges até “ontem”.

Mas desde a fatídica sexta-feira 13 de Paris há uma avalanche de tentativas de explicação mais sofisticadas da barbárie. É um perigo, pois discutir as “razões” de assassinatos em massa é abrir espaço para que seus autores as forneçam e para que se apresente quem as aceite. A ideia de que a barbárie tem de ter uma “causação” racional decorre daquela crença de que o homem é essencialmente bom e tem de haver a interferência de algo externo para corrompê-lo. A história e a ciência apontam para o contrário. A barbárie é que é o estado natural da espécie, e ela tende a se tornar total sempre que é aparelhada de uma “religião”.
TRAFICANTES EM MORROS DO RIO DE JANEIRO:
a mesma lógica de barbarizar para conquistar e manter o poder impera aqui e no Oriente!

O Estado Islâmico é o fenômeno dos morros cariocas com ambições exponencialmente multiplicadas; o crime organizado com domínio sobre um território e amado/odiado por uma população imersa no horror que não tem a quem mais recorrer, só que sentado em cima de um mar de petróleo. Em que momento o chefe de uma quadrilha vira um rei e um complexo de favelas vira um Estado nacional como o Iêmen do Sul? Historicamente a resposta tem dependido tanto da geografia quanto da oportunidade. Lá foram a corrupção e a guerra; aqui foi a corrupção sozinha que se encarregou dessa metade da receita. O resto depende do tamanho do butim.

A luta pelo poder sem limites tem uma lógica própria. Perder o poder que se instala e se mantém pelo assassinato significa a certeza de ser assassinado. Daí o vale-tudo. A cada “chefão” morto corresponderá uma nova guerra por seu espólio. Foi para deter a infindável espiral da barbárie nesses infernos dentro dos quais o suicídio na flor da idade passa a ser uma opção racionalmente palatável que a democracia foi inventada. Mas foi preciso esperar pelo surgimento de um território isolado por um oceano de distância do mundo culturalmente dominado pelos degoladores e torturadores de sempre e seu aparato “religioso” para que a ideia do império da lei encontrasse um chão onde pudesse fincar raízes sem ser arrancada, supliciada e queimada viva à vista de todos para reafirmar o império do terror.

Fala-se, agora, num “sofisticado aparato” que teria sido necessário para perpetrar os assassinatos de Paris. Mas o que houve de essencialmente diferente neles dos que Al Capone protagonizava na Chicago do século 20, dos que o PCC perpetrou em São Paulo em 2006, ou, ainda, das chacinas endêmicas do Brasil? O problema é o inverso; é a facilidade com que qualquer um pode perpetrar uma barbaridade, especialmente se não fizer questão de sair vivo da experiência.

O terrorismo é um problema crônico tanto quanto o crime organizado e diferencia-se dele muito mais pelo tamanho das ambições envolvidas do que pelas condições que os tornam resilientes. Deus só entra nisso como coadjuvante e confundir as coisas é fazer o jogo do inimigo. As multidões que têm invadido a Europa não escolheram esse caminho. Gostariam de ter ficado em casa se o Estado Islâmico não estivesse lá. A solução para os dois problemas é uma só e a mesma. É imprescindível “ocupar os morros” e garantir a segurança neles, ou nunca haverá paz “no asfalto”. E para isso é necessário que todas as vítimas joguem juntas e a favor da “polícia”.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto – Terça-feira, 17 de novembro de 2015 – Pg. A2 – Internet: clique aqui.

Como derrotar o exército de “zumbis” do
Estado Islâmico?

Gilles Lapouge

Governos e sociedades do Ocidente têm de encarar o fato de que novas
ideias sobre a própria natureza da guerra são necessárias
FRANÇOIS HOLLANDE
Presidente da República francesa diz que o país está em guerra

França está em guerra, disse o presidente François Hollande e seu primeiro ministro Manuel Valls repetiu: “Estamos em guerra”. Não é exato. É o Estado Islâmico (EI) que está em guerra. E a França sofre essa guerra.

A pergunta complexa é essa: como um país pode responder a uma força que lhe faz a guerra se ele próprio não está “em estado de guerra”? Todas as acrobacias da França ao longo do dia são explicadas pela assimetria dessa guerra que um dos lados trava enquanto o outro não está oficialmente em estado de guerra.

Esse desequilíbrio beneficia o agressor, assegurando flexibilidade e surpresa. Há um ano, o Estado Islâmico [EI] evitava, salvo em casos quase “pessoais” como o do Charlie Hebdo, atacar um “inimigo distante”. O grupo visava ao inimigo próximo, ou seja, xiitas e regimes árabes ímpios. Agora, sai da solidão e semeia a morte no país do inimigo distante.

Um segundo trunfo que o EI tem em mãos é de outra estirpe. Ele atinge a psicologia do ser humano. Durante a guerra de 1914, ou a de 1939, os alemães, ingleses, franceses e americanos se matavam sem fim, mas compartilhavam emoções semelhantes. O soldado inglês tinha medo, como também tinha medo o soldado alemão. A morte de um camarada levava seus amigos a chorar, tanto entre alemães quanto entre americanos.

Nada disso se verifica entre os combatentes do EI. Eles conseguiram criar uma psicologia desconhecida. Um exemplo: geralmente, um homem, mesmo um gângster, um bandido, ao cometer um crime procura não ser descoberto e quando é capturado vai negar seu crime. No caso do EI, é diferente: não só o militante não nega o crime que cometeu, mas o reivindica e insiste em mostrar que esse crime é horrível e atroz: decapitações etc.

Coroando esse edifício psicológico monstruoso, o uso de uma arma nova e absoluta: a morte voluntária como martírio. E os jornais ocidentais continuam a dizer estupidamente que os membros do EI são covardes.

Não, eles não são covardes. Pelo contrário. Possuem uma coragem incrível. Uma coragem repugnante, desumana, sem limite. E contra um soldado que dispõe, entre suas armas, da sua própria morte, ninguém consegue lutar. Ora, está claro que o EI possui um enorme arsenal de camicases, jovens fanáticos, montados como robôs e absolutamente nada os intimida. Um exército de zumbis, regimentos de mortos-vivos, batalhões de suicidas. Nenhum exército clássico consegue vencer esses combatentes que surgem de repente de um outro mundo além da realidade. 
MANIFESTANTES NA PRAÇA DA REPÚBLICA - PARIS
Labirinto

Seguramente, a França e o Ocidente têm razão em proclamar que os bárbaros não lhes dão medo. Muito bem. Mas é uma mentira. Ontem, havia uma multidão na Praça da República, em Paris, exatamente para demonstrar que não tinha medo. Mas correu um rumor de que o EI estava atacando novamente. Em um segundo, a praça ficou deserta.

Todas essas pessoas sem medo fugiram como coelhos, a uma velocidade supersônica. E como seria diferente? A verdade, na guerra como na paz, é um ingrediente essencial. A verdade é que o EI causa medo ao homem, à civilização, à humanidade. Por que mentir? O problema de fato é saber se conseguiremos superar esse medo.

Tudo isso para dizer que, se respondermos à guerra com a guerra, é preciso em primeiro lugar que os dirigentes, os estrategistas e também os soldados compreendam que nesse episódio da história enfrentamos um inimigo totalmente enigmático, que não tem o comportamento, as ideias que, em toda a história, os inimigos mais ferozes adotavam. É esse o desafio quase desumano que representa o EI.

Essas observações têm a finalidade de esclarecer o debate que certamente terá inicio agora e, ao que parece, foi começado pelo G-20 reunido na Turquia, mas de modo obscuro: teremos de mudar radicalmente toda a estratégia do Ocidente? Será preciso responder à guerra do EI com a guerra ou por meio de modificações da Constituição francesa? Eu me abstenho de responder a essas perguntas. Mas estou certo de que esse debate será iniciado e ele é necessário.

Traduzido do francês por Terezinha Martino.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional – Terça-feira, 17 de novembro de 2015 – Pg. A10 – Internet: clique aqui.

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