«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Brasil, país cristão? (1ª Parte)

Pe. Prof. Dr. Telmo José Amaral de Figueiredo

Comissão Bíblica – Diocese de Jales (SP)

          É muito comum ouvir dizer que o Brasil é o maior país católico do mundo, ao menos até umas décadas atrás, ou então, que ele é um dos maiores países cristãos da Terra. De fato, na boca dos brasileiros é usual ouvirmos expressões como estas: “vai com Deus”, “graças a Deus”, “Deus me livre”, “só Deus sabe”, “minha Nossa Senhora!”, “Deus lhe acompanhe” etc. As pesquisas confirmam essa sensação de extrema religiosidade do povo brasileiro. Segundo a pesquisa Global Religion 2023, produzida pelo instituto Ipsos (multinacional de pesquisas com sede em Paris, França), no Brasil, nove em cada dez pessoas (89% para ser exato) dizem crer em Deus ou em um poder superior, o que posiciona o nosso país no topo dos 26 pesquisados, juntamente com a África do Sul (89%) e a Colômbia (86%). Holanda (40%), Coreia do Sul (33%) e Japão (19%) foram os países onde a população menos crê em Deus ou em um poder superior, de acordo com essa pesquisa.

          Ainda, segundo essa mesma pesquisa, 70% dos brasileiros disseram que acreditam em Deus como descrito em escrituras religiosas, como a Bíblia (cristãos), o Alcorão (islâmicos), a Torá (judeus), entre outros, e 19% acreditam em uma força superior, mas não em Deus como descrito em textos religiosos. Cerca de 5% dos brasileiros disseram não acreditar em Deus ou em um poder maior, 4% afirmaram que não sabem e cerca de 2% preferiram não responder. Ainda não temos os resultados do último censo demográfico do IBGE (2022) sobre religião, mas uma pesquisa do Instituto Datafolha de junho de 2022, com 2.556 entrevistados de 16 anos ou mais em 181 municípios, revelou que 51% da população brasileira se declaram católicos, 26% se declaram evangélicos e há 2% de adventistas, outra linha do cristianismo.

          Mas declarar-se crente em Deus não significa, necessariamente, ser adepto de uma igreja ou instituição religiosa. De fato, enquanto 89% dos entrevistados ─ pelo instituto Ipsos ─ no país disseram crer em Deus ou um poder superior, só 76% afirmaram seguir uma religião. É expressivo, também, o percentual daqueles que afirmam não crer em Deus, segundo o Datafolha, 12% da população em geral e 34% dentre os jovens não seguem alguma religião.

          Agora, o fato de termos 77% de nossa população, segundo a pesquisa Datafolha de 2022, católica e evangélica, deveria fazer uma grande diferença no modo de vida do brasileiro, caso as pessoas, de fato, fossem cristãs autênticas, seguidoras de Cristo realmente! Porém, a realidade brasileira mostra um quadro muito diferente desse ideal! É impressionante constatar que há:

a)  igrejas que pregam que somente os seus membros se salvarão no Juízo Final;

b)  igrejas que estimulam as boas obras e a fraternidade somente entre os seus próprios membros, esquecendo-se das demais pessoas que vivem neste mundo;

c)   igrejas que estimulam o individualismo, a busca pelo dinheiro e riquezas nesta vida;

d)  igrejas que anunciam um Deus preocupado com o dinheiro, ou seja, aquilo que se doa para a igreja em forma de dízimo;

e)  igrejas que defendem o uso de armas, a sacralidade da propriedade privada;

f)   uma população, cada vez mais, polarizada, raivosa, violenta, dividida que não sabe dialogar entre si e não estimula a união e cooperação de todos pelo bem comum da sociedade.

A lista é grande e poderia ser continuada. Mas é notório que a nossa sociedade brasileira não apresenta, infelizmente, as características que se esperaria de uma sociedade cristã, de verdade! O nosso cristianismo não se traduz em obras e gestos concretos na vida do dia a dia! É um cristianismo teórico, devocional e individualista, que não tem uma incidência devida na vida social.

           Na próxima semana, prosseguirei refletindo sobre o que seria uma sociedade cristã de verdade. Aguardem, por gentileza.

Brasil, país cristão? (2ª Parte)

Pe. Prof. Dr. Telmo José Amaral de Figueiredo

Comissão Bíblica – Diocese de Jales (SP)

 
         Antes de mais nada, é fundamental esclarecer algumas das principais características e particularidades do cristianismo. De fato, o cristianismo é uma religião que difere, em muito, das demais pelo fato dele não se reduzir à prática de cultos, mandamentos para uma vida feliz, preceitos de vivência individual. Primeiramente, para o cristianismo, é Deus quem se faz ser humano na pessoa de Jesus Cristo para vir ao encontro do homem, se revelando na carne, na realidade humana plenamente. Enquanto que, nas outras religiões se verifica um esforço dos homens de chegar até Deus. Para nós, cristãos, Deus é quem veio até nós! Em segundo lugar, nós não cremos em um livro, no caso, a Bíblia Sagrada, nós não adoramos uma Escritura, por mais inspirada que ela seja, mas nossa conexão, nossa fé, nossa adesão são a uma PESSOA, ou seja, a Jesus, o Cristo, o Salvador da humanidade. Nossa fé não se baseia em uma doutrina, mas na pessoa do Cristo! O que ele é, o que ele disse, fez, vivenciou é que fundamenta a nossa fé.

          Porém, há uma outra característica fundamental do cristianismo, herdada do judaísmo, é preciso frisar, que é muito negligenciada e esquecida pelos que se dizem cristãos. Refiro-me ao fato de o cristianismo ser uma RELIGIÃO ÉTICA. O que isso significa? Para o cristianismo a forma como os seres humanos se relacionam e organizam a sua sociedade é constitutivo de seu ser cristão! Dizendo de modo mais claro: primeiramente, cremos em um Deus único e pai de todos, indistintamente; em segundo lugar, dessa fé nasce a exigência de vivermos uma fraternidade à luz do amor ao próximo, pois todos somos irmãos e irmãs uns dos outros; em terceiro, nossa pátria não é um determinado país ou nação, mas pertencemos a uma pátria celestial (transcendental); finalmente, somos seres em contínua renovação e conversão, jamais prontos e acabados, disso decorre a exigência da missão: aquilo que experimentamos e vivenciamos em Cristo devemos compartilhar com as demais pessoas.

          O nosso Deus não é um ser distante, completamente alheio e alienado da vida humana, dos dramas e penúrias humanos: «Eu vi a humilhação de meu povo no Egito e ouvi seu clamor por causa da dureza dos feitores. Sim, eu conheço seu sofrimento. Desci para livrá-lo da mão dos egípcios e fazê-lo sair dessa terra» (Ex 3,7-8a). Jesus, na sinagoga de Nazaré, assume para si essa mesma preocupação, citando o profeta Isaías (61,1-2): «O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu para anunciar o Evangelho aos pobres: enviou-me para proclamar a liberdade aos presos e, aos cegos, a visão; para pôr em liberdade os oprimidos e proclamar um ano do agrado do Senhor”... Então começou a dizer-lhes: “Hoje cumpriu-se esta palavra da Escritura que acabais de ouvir”» (Lc 4,18-21). Portanto, aquilo que acontece aos seres humanos interessa diretamente a Deus!

          Por isso, o que se faz ao ser humano pobre, indefeso, marginalizado, abandonado se faz diretamente a Deus! Isso mesmo: «Quem se compadece do pobre empresta ao Senhor, e Ele o recompensará pelo que fez» (Pr 19,17). Mais ainda: «No próprio dia lhe pagarás. O sol não se ponha sobre seu salário, pois ele é pobre e o salário sustenta sua vida. Do contrário, clamará ao Senhor contra ti, e tu ficarás culpado» (Dt 24,15). No Novo Testamento, encontramos algo semelhante: «Olhai: o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, e que vós deixastes de pagar, está gritando; o clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo-poderoso» (Tg 5,4). O texto bíblico mais explícito e eloquente a respeito da identificação de Deus com os pobres e mais fracos da sociedade encontramos em Mateus 25,41-43, cujo rei da parábola representa o próprio Deus: «Depois, o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda:Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos; pois eu estava com fome, e não me destes de comer; com sede, e não me destes de beber; eu era forasteiro, e não me recebestes em casa; nu, e não me vestistes; doente e na prisão, e não me visitastes”».

          Concluindo, o que mais agrada e satisfaz Deus não são nossas celebrações, não são os nossos sacrifícios, não são os nossos louvores, enfim, não é aquilo que fazemos dentro de nossas igrejas, mas o tipo de vida que vivenciamos fora delas: «Pois é amor que eu desejo e não sacrifício ritual, conhecimento de Deus mais que holocaustos» (Os 6,6). Nessa mesma linha, encontramos: «Ele te deu a conhecer, ó homem, o que é bom e o que o Senhor procura de ti: simplesmente praticar o direito, amar a bondade e caminhar humildemente com o teu Deus» (Mq 6,8). E Jesus, dirigindo-se aos líderes religiosos de seu tempo, ordena-lhes algo semelhante: «Ide, pois, aprender o que significa: “Misericórdia eu quero, não sacrifícios”. Com efeito, não vim chamar justos, mas pecadores» (Mt 9,13).

          Diante de tudo isso que foi exposto acima, é de se perguntar: o Brasil, ─ país com cerca de 77% da população constituída de católicos e evangélicos, todos se dizendo crentes em Jesus Cristo e respeitadores de seu Evangelho ─, pode se considerar, de verdade, um país cristão? Será que as igrejas cristãs do Brasil não estão precisando, urgentemente, crer e viver, de fato, o que Jesus pregou e praticou enquanto esteve conosco, em nossa terra? Cada um faça o seu próprio e sincero exame de consciência!

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

4º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

 Evangelho: Marcos 1,21-28 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Jesus: portador de um novo ensinamento

O evangelho deste domingo apresenta-nos o início da atividade de Jesus; é o primeiro capítulo, do versículo 21 em diante. Anteriormente, Jesus chamou os primeiros quatro discípulos e os convidou para serem pescadores de homens. Pescar homens, explicamos no domingo passado, significa tirar os seres humanos da água que pode causar-lhes a morte, a fim de lhes dar vida. Pois bem, Jesus com estes quatro discípulos inicia essa atividade de pescar homens, mas onde é este lugar de morte em que ele vai pescar homens para lhes dar vida? No lugar que menos esperaríamos; não vai a lugares de má reputação, frequentados por pecadores, mas vai a Cafarnaum, a uma sinagoga

Marcos 1,21-22: «Na cidade de Cafarnaum, num dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei.»

Lemos o evangelista que escreve que “indo para Cafarnaum, entrou num sábado”, sábado é dia de culto na sinagoga, “mas, assim que entrou”, o evangelista usa o termo “imediatamente”, Jesus começa a ensinar. Jesus não participa do culto na sinagoga, ele começa a ensinar. E vemos a reação “Todos ficaram maravilhados com o seu ensinamento”. E por quê? “Ele os ensinava como alguém com autoridade”. Isso não significa que Jesus ensinasse como uma autoridade. Autoridade era o mandato divino que Deus havia dado aos profetas e, depois, transmitido aos escribas para tornar conhecida a sua vontade, a sua palavra. Então as pessoas, os presentes na sinagoga sentem no ensinamento de Jesus que existe o mandato divino, porque em cada pessoa existe o desejo de plenitude de vida e a palavra de Jesus é a resposta a esta plenitude de vida.

Então ficaram maravilhados com esta novidade e disseram que ele ensinava com autoridade e não como aqueles que deveriam exercê-la, os seus escribas. Os escribas eram considerados sucessores dos profetas, eram pessoas que, após uma longa vida estudando a Escritura, recebiam por transmissão o mesmo espírito de Moisés e eram o magistério infalível da época, sua palavra era considerada a palavra de Deus. 

Marcos 1,23-24: «Estava então na sinagoga um homem possuído por um espírito mau. Ele gritou: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus”.»

Bem, assim que Jesus começa a ensinar e produz uma onda de entusiasmo nas pessoas, ocorre o incidente. O evangelista escreve que imediatamente “estava na sinagoga um homem possuído por um espírito mau”; na sinagoga havia um homem possuído por um espírito impuro.

Espírito significa “força, energia”, quando esse espírito vem de Deus é chamado de “Santo” porque separa a pessoa da esfera das trevas, do pecado, quando vem da realidade contrária a Deus é chamado de “impuro”, pois mantém o homem em escuridão, em pecado. Pois bem, na sinagoga o evangelista nos apresenta uma pessoa com espírito impuro, por quê?

É a instituição religiosa que com o seu ensino, em vez de aproximar as pessoas de Deus, distanciou as pessoas de Deus.

Pois bem, essa pessoa com o espírito impuro começa a gritar, não suporta nem o ensinamento de Jesus nem o entusiasmo por parte dos demais presentes, começa a gritar e diz “O que queres de nós” e aqui estranhamente ele fala no plural: “nós”. Por que um único indivíduo fala no plural? E depois diz: “Jesus de Nazaré”. Com isso ele recorda-lhe as suas origens, de Nazaré, o covil dos nacionalistas, dos guerreiros. Complementa: “você veio para nos arruinar?”, novamente ele fala no plural. Mas quem Jesus está arruinando com seu ensino? Com o seu ensino, Jesus está arruinando o prestígio dos escribas, aqueles que afirmavam ter autoridade de Deus para ensinar. Então, quem é esse homem possuído por um espírito imundo? Ele é o homem que deu uma adesão acrítica ao ensinamento dos escribas e, quando o vê colocado em perigo pelo ensinamento de Jesus, ele próprio se sente em perigo.

E então ele lembra a Jesus: “Eu sei quem você é, você é o santo de Deus!”. O santo de Deus era o Messias que deveria observar fielmente a lei e fazê-la cumprir, mas Jesus liberta da lei

Marcos 1,25-26: «Jesus o intimou: “Cala-te e sai dele!” Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu.»

Jesus não aceita nenhum diálogo, por isso, diz: “Cale a boca!” Ao deixar o homem, o espírito impuro o atormenta com violência. Por que o tormento? Chegar a um ponto na vida e ter que admitir que o ensinamento religioso em que você acreditava e no qual se baseava a sua existência não só não vinha de Deus, mas era contrário a Deus, bom, libertar-se disso é de partir o coração! 

Marcos 1,27-28: «E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: “O que é isto? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!” E a fama de Jesus logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.»

Um “ensinamento”, uma nova doutrina; não um novo ensino, mas uma nova doutrina. O termo utilizado pelo evangelista indica uma qualidade que substitui todo o resto, tudo que havia. E o que é essa nova doutrina?

É que Deus não se manifesta na doutrina dos escribas, mas na atividade libertadora de Jesus.

É por isso que Jesus convidou os seus discípulos a serem pescadores de homens. O ensinamento de Jesus é uma palavra de autoridade que, quando acolhida, transforma a vida de quem a acolhe. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«A religião deve libertar o homem e nunca escravizá-lo. A base da religião não deve ser o medo, mas sim o amor.»

(Gilberto Ângelo Begiato: brasileiro ― fundador da Associação Acolhimento Bom Pastor)

Uma das piores formas de escravidão e fanatismo é aquela da religião! Quantas pessoas já sofreram e, ainda, sofrem por terem sido levadas a crer em doutrinas erradas, falsificadas e absurdas por líderes religiosos que desejam ter o domínio pleno e total de seu rebanho ao invés de conduzir suas ovelhas à verdadeira e única fonte de vida e felicidade eternas que é Deus, na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo. 

Toda pessoa:

* extremamente moralista,

* apegada às práticas devocionais de modo emocional e superficial,

* praticante de uma leitura fundamentalista e ingênua da Bíblia,

* admiradora de “catecismos” com exposições bem sintéticas e simples das “verdades da fé”,

* desinteressada, por completo, dos problemas e dramas que vivem o ser humano no mundo atual,

* indiferente a qualquer apelo, campanhas e iniciativas da Igreja para a promoção e liberação dos seres humanos de situações indignas...

... demonstra estar “possuída” pelo mesmo “espírito impuro” que o homem na sinagoga de Cafarnaum, presente no relato do Evangelho deste domingo! 

Sim! Afinal, a pior “possessão” é aquela da alma, do espírito humano! Pois ela escraviza a pessoa a uma visão equivocada de Deus e, por conseguinte, do ser humano e de sua realidade.

Quem crê no deus errado não pode viver uma fé autêntica nem saudável como discípulo de Jesus!

Não por acaso, a primeira atividade pública, a primeira manifestação de Jesus, descrita pelo primeiro Evangelho a ser escrito, aquele de Marcos, foi libertar as pessoas da doutrina defeituosa e imperfeita dos escribas, que eram tidos como “infalíveis” pela população judaica. Doutrina essa que mais afastava as pessoas de Deus, mediante a deturpação de sua imagem perante elas, do que as aproximava do mesmo! 

Cuidado! Há muitos líderes religiosos que desejam inculcar nas pessoas a imagem de um Deus opressor, controlador e punidor, pois é isso que tais lideranças são em suas vidas pessoais: opressoras, controladoras, vingativas e interesseiras! Afinal, como já nos recordou Jesus: “A boca fala do que o coração está cheio!” (Mt 12,34). O Deus ensinado e vivido por Jesus é amigo, pai, mãe, ternura, misericórdia infinita, perdão constante, puro e desinteressado amor! 

Como, muito bem, nos descreve José Antonio Pagola, biblista espanhol:

«Suas palavras despertam a confiança e fazem desaparecer os medos. Suas parábolas atraem para o amor de Deus, não para a submissão cega à Lei. Sua presença faz crescer a liberdade, não as servidões; suscita o amor à vida, não o ressentimento. Jesus cura porque nos ensina a viver somente da bondade, do perdão e do amor, que não exclui ninguém. Cura porque nos liberta do poder das coisas, do autoengano e da egolatria”.

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Senhor Jesus, reconheço-te como o Salvador da minha existência e o único Mestre de Sabedoria que tem palavras de vida eterna. Quando as forças do mal quiserem repreender a minha fé, ordene novamente, com o poder da tua Palavra, que se calem e haja calma em meu coração. Fortaleça minha fé para que eu possa contar sempre contigo, porque tu não me deixas nas mãos do Maligno, mas vieste justamente para me libertar e me mostrar como o amor de teu Pai nunca nos identifica com nossos pecados, erros e problemas. Por isso, te agradeço e te bendigo, enquanto invoco a tua ajuda para que possa valorizar cada dia mais tudo o que fazes por mim e alegrar-me com a novidade do teu Evangelho. Amém.»

(Fonte: GOBBIN, Marino, O.Carm. Orazione finale. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico B. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 348)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – 4ª Domenica del Tempo Ordinario – Anno B – 31 gennaio 2021 – Internet: clique aqui (Acesso em: 17/01/2023).

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

3º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

 Evangelho: Marcos 1,14-20 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas)

Para seguir Jesus devemos deixar nossos interesses

A vida, a verdade e a luz serão sempre mais fortes e vitoriosas que a morte, a mentira e as trevas. É por isso que o evangelista no capítulo um, versículo 14, nos apresenta a estupidez do poder. O poder acredita que está sufocando a voz da vida, da verdade e da luz, mas não sabe que cada vez que acredita ter sufocado esta voz, o Senhor levanta uma voz ainda mais poderosa. 

Marcos 1,14: «Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo:»

De fato, o Evangelho de Marcos no versículo 14 diz que “Depois que João foi preso”, João era incômodo, ele havia pedido uma mudança e por isso foi eliminado. Pois bem, o Senhor levanta uma voz, uma força ainda mais poderosa que João, o Batista, aquela de Jesus, o Filho de Deus.

Jesus, na Galileia, começou a pregar o “Evangelho de Deus”. E qual é a boa nova de Deus que o evangelista nos ajudará a descobrir em seu evangelho? Que Deus não é como foi ensinado, como se acreditou; o Deus de Jesus é um Deus de um amor completamente novo, que se descobrirá nas páginas do evangelho, porque é um amor que não olha, não se deixa atrair pelos méritos das pessoas, mas pelas suas necessidades. Esta é a boa notícia de Deus. 

Marcos 1,15: «“O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”»

O tempo já se completou”, era o tempo da aliança de Deus com o seu povo “e o Reino de Deus está próximo”. Por “Reino de Deus” não se deve entender o território, a extensão do reino, mas o governo do rei; em português talvez devêssemos usar a palavra “o senhorio de Deus, o governo de Deus”. É Deus quem quer governar os seres humanos e o que Deus diria? Não emitindo leis que os seres humanos devem observar, as leis são externas a eles, mas comunicando ao ser humano a sua própria capacidade de amar. Por isso, João disse de Jesus: “era ele quem batizava no Espírito Santo”, comunicava aos seres humanos a mesma capacidade de amar.

O Reino de Deus está próximo, mas para que ele se torne realidade é necessária a conversão, mas João Batista também havia pregado e anunciado a conversão, contudo, são dois âmbitos diversos. É por isso que Jesus é, ainda, mais perigoso que João Batista. João estava no campo da religião e a conversão, a mudança de vida, estava voltada para Deus, era para obter o perdão dos pecados; aqui, com Jesus, não se trata de perdão dos pecados, conversão é acreditar nesta boa notícia e realizar o Reino de Deus. Jesus veio para inaugurar uma sociedade completamente nova; uma sociedade onde, em vez de acumular egoisticamente para si, se partilha generosamente com os outros; uma sociedade onde, em vez de nos elevarmos acima dos outros, descemos ao lado dos últimos, e um mundo onde, em vez de pretendermos comandar, conduzir os outros, começamos a servir. Este é o Reino de Deus. 

Marcos 1,16-20: «E, passando à beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Jesus lhes disse: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus. Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes; e logo os chamou. Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus.»

Mas para fazer isso Jesus precisa de colaboração; por isso, continua o evangelista, “passando ao longo do mar da Galileia”, é o lago de Tiberíades, chama-se mar para recordar o mar do Êxodo, caminho para a liberdade e, sobretudo, a fronteira em direção aos povos pagãos. Prossegue dizendo: “viu Simão e André”, são dois irmãos, “que lançavam as redes ao mar”, e eis o convite de Jesus: “Vinde após mim, farei de vós pescadores de homens”. Qual é o significado do convite de Jesus? Dissemos que Jesus quer inaugurar um mundo novo onde, em vez de acumular para si, se partilha generosamente com os outros. Então o que o pescador faz? Ele pesca peixes para seu próprio interesse, para seu próprio ganho. Pescar homens, isto é, retirar os homens do mar, do ambiente que pode lhes causar a morte, onde eles podem afogar, significa realizar esta atividade não pelo interesse próprio, mas pelo interesse das pessoas que são salvas. Portanto, é uma mudança completa e radical de direção na vida de alguém. “Vinde atrás de mim”, quer dizer, desistam do seu interesse e isso lhes dará a chance de trazer à tona as pessoas que estão se perdendo e reencontrar a plenitude da vida. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994.

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Todo o amor baseado no interesse cessa com a causa que o fez nascer; mas o amor desinteressado dura para sempre.»

(Pirket Avot – tratado da Mishná)

Ao contrário do que muitos pregadores religiosos insistem, Deus não é um ser preocupado em nos vigiar, controlar, subjugar ou punir! Deus é algo novo e bom! É essa a síntese da pregação de Jesus que o evangelista Marcos nos oferece no Evangelho deste domingo. Deus é alguém que se envolve, se compromete com os seres humanos porque não quer deixá-los sozinhos com seus problemas, sofrimentos e misérias. A grande notícia, a estupenda novidade que Jesus vem anunciar é, justamente, esta:

Deus quer construir, juntamente conosco, um mundo novo e digno para todos os seres humanos. Para isso, ele quer nos tornar humanos de verdade!

Para alterar a história humana repleta de injustiças, violências, destruição, tristeza e profundo egoísmo só há uma saída: a conversão! E a conversão não é outra coisa que acreditar que um mundo novo é possível. É ter esperança, é não ser pessimista, acomodado, resignado ao que aí está, em nossa sociedade. É crer que Deus pode e quer governar este nosso mundo com a força de seu amor, não às custas de imposições, normas, moralismos e um rígido controle sobre a vida das pessoas. 

Portanto, para o mundo mudar, o primeiro passo é mudar o ser humano. Essa mentalidade do “cada um por si, Deus para todos”; “cada um cuide de sua vida, que da minha cuido eu”; “cada um tem o que merece, eu faço por merecer o meu quinhão”; “Deus não colocará comida sobre a minha mesa, eu é que devo me virar neste mundo”; “o mundo é dos espertos” e assim por diante, deve ser mudada! Quem pensa, assim, não será discípulo de Jesus! Essa mentalidade individualista, da meritocracia, do egoísmo radical não pode conviver com o Evangelho anunciado por Cristo! São água e óleo, jamais se misturam! 

Concluindo, o fundamental, mesmo, é crer no Evangelho. É fazer da Boa Nova de Jesus a “bússola” que orienta a nossa vida e a da sociedade. Afinal, “ir após Jesus”, ou seja, seguir Jesus nada mais é que viver como ele viveu: amando, curando e libertando as pessoas de todos os tipos de males e limitações que ferissem a sua dignidade de seres humanos! 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Senhor, no teu tempo a minha espera se cumpre. Tu, Aquele que vem, que continua caminhando às margens daquela vida humana que como um lago em forma de lira marca silenciosamente a passagem de suas horas, tu passas e vês, tu chamas... Eu te reconhecerei quando ouvir me chamando pelo nome e te seguirei como um viajante que pega a bengala da viagem para entrar nos caminhos da amizade e do encontro, ali onde o coração transgride o Absoluto de Deus, para ser uma chama acesa nas trevas da busca humana, um calor que se expande ali onde o vento gelado do mal destrói e desvia os horizontes da verdade e da beleza... Amém.»

(Fonte: BOSCHI, Maria Teresa Della Croce, O.Carm. Orazione finale. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico B. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 337)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – 3ª Domenica del Tempo Ordinario – Anno B – 24 gennaio 2021 – Internet: clique aqui (Acesso em: 17/01/2023).

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

2º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

 Evangelho: João 1,35-42 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

“Vinde ver”

O verbo “fixar (o olhar)” no Evangelho de João aparece apenas duas vezes no primeiro capítulo (versículos 35 e 42), onde o evangelista apresenta o início da atividade de Jesus. Os evangelistas, sabemos, não são apenas grandes teólogos, mas também grandes literatos e seguem as regras de escrita da época, do seu tempo. Pois bem, essas regras estipulavam que, quando você quiser relacionar o mesmo assunto, use apenas a mesma palavra ou o mesmo verbo apenas nesta seção. E, aqui, nesta passagem, o verbo “fixar” aparece duas vezes. A expressão “fixar o olhar” significa entrar no interior, nas profundezas das pessoas e ver a sua verdadeira realidade. É um pouco como o que dizemos coloquialmente em português: “Ele o(a) fotografou”. Fotografar uma pessoa não significa apenas tirar um retrato, mas ver o que há dentro dela. 

João 1,35-36: «Naquele tempo, João estava de novo com dois de seus discípulos e, vendo Jesus passar, disse: “Eis o Cordeiro de Deus!”»

Então o evangelista escreve, a partir do versículo 35, que João ainda está ali com seus discípulos e “fixando o olhar em Jesus” (no lecionário da CNBB: “vendo”), ou seja, fixando o olhar ele vê a verdadeira realidade, não o que aparece externamente, mas o que ele é, e o indica como “o cordeiro de Deus”. João já tinha falado de Jesus como o cordeiro de Deus que tira, que erradica o pecado que está no mundo (cf. Jo 1,29). E o faz derramando o Espírito Santo porque a luz, escreveu João no seu prólogo, não luta contra as trevas, a luz expande o seu clarão e Jesus também o fará para eliminar esse pecado.

Mas por que cordeiro? A que se refere? O cordeiro nunca está nas listas de animais sacrificados para se obter o perdão dos pecados, não tem esse significado, o cordeiro de Deus é o cordeiro que, na noite da libertação da escravidão egípcia, Moisés ordenou que toda família comesse (cf. Ex 12,1-14), por quê? A carne do cordeiro dava força, dava consistência para iniciar essa longa jornada rumo à liberdade e o sangue libertaria da morte na passagem do anjo exterminador. Portanto, o evangelista apresenta Jesus como o cordeiro de Deus, aquele cuja carne dará a capacidade de iniciar esta nova libertação, mas não fugindo mais de uma terra prometida, mas de uma terra que havia sido transformada em uma terra de escravidão dominada pela lei, que literalmente sufocou, fez as pessoas ficarem sem fôlego. E o seu sangue não livrará da morte física, mas da morte para sempre. Então João aponta para Jesus como o cordeiro, aquele a seguir. 

João 1,37-42a: «Ouvindo essas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus. Voltando-se para eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: “O que estais procurando?” Eles disseram: “Rabi (que quer dizer: Mestre), onde moras?” Jesus respondeu: “Vinde ver”. Foram, pois, ver onde ele morava e, nesse dia, permaneceram com ele. Era por volta das quatro da tarde. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. Ele foi encontrar primeiro seu irmão Simão e lhe disse: “Encontramos o Messias” (que quer dizer: Cristo). Então André conduziu Simão a Jesus.»

Dois dos seus discípulos acolhem esta palavra, voltam-se para Jesus, Jesus convida-os a ver onde se encontram. Naquela época, o discípulo não apenas seguia as lições do mestre, mas vivia junto com ele; um desses dois discípulos de João chama-se André e sai imediatamente em busca de seu irmão que é o outro protagonista importante desta passagem, chamado Simão Pedro. Pois bem, quando André se volta para o irmão, Simão Pedro, lhe diz com evidente entusiasmo: “Encontramos”. Encontrar significa o resultado de uma longa busca, portanto, ele afirma: procuramos e encontramos “o Messias”, que significa Cristo. Porém, não se percebe alguma reação de Simão; nem mesmo uma palavra de assentimento ou informação, nada. Simão é quase um peso morto que deve ser conduzido a Jesus e, também diante dele, não há reação a Jesus. 

João 1,42b: «Jesus olhou bem para ele e disse: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (que quer dizer: Pedra).»

Então, agora será a vez de Jesus “fixar nele o olhar”, aqui Jesus fixa, entra na interioridade deste homem e fotografa-o, como dissemos antes, revelando a sua verdadeira realidade. Por isso, diz: “Tu és Simão” e chama-o de “o filho de João”. João não é o nome do pai de Simão, vimos que Simão tem um irmão, André; aqui o artigo definido “o” significa que ele é filho único, portanto não pode ser o nome de seu pai. Quem é esse João? É João Batista. Os discípulos de um mestre eram chamados de filhos; portanto, Jesus dizendo a Simão que “Tu és o filho de João”, é o mesmo que dizer: você é o discípulo preferido, o melhor, o modelo.

Mas este discípulo não estava presente quando João indicou Jesus como o cordeiro de Deus, ele não conhece esta notícia. Então, aqui, Jesus acrescenta “Teu nome será Cefas”; é uma palavra aramaica que o evangelista traduz com o significado de “pedra”, ou seja, indica inflexibilidade, teimosia. Aqui, neste evangelho, Jesus não convida Simão a segui-lo e Jesus nunca se dirigirá a Simão como Pedro; será o evangelista quem usará esse apelido como artifício literário que expressa a sua teimosia para indicar todas as vezes que está contra ou em oposição a Jesus.

Se Jesus não convida Simão Pedro a segui-lo no início, só o fará no final, quando Pedro finalmente se render, depor os seus ideais de glória, de messianismo. Afinal, Simão Pedro ficou preso à imagem do Messias como o Leão de Judá, mas João Batista não apresentou Jesus como o leão, mas como o cordeiro. Será necessário que Pedro mude de mentalidade e só no final deste evangelho Jesus finalmente lhe dirá “segue-me”

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«O segredo da mudança é não focar toda sua energia em lutar com o passado, mas em construir o novo.»

(Sócrates: 470-399 a.C. ─ filósofo ateniense)

O que buscamos, de verdade, em nossas vidas?

Apesar de simples, essa pergunta não é de fácil resposta. Aliás, boa parte das pessoas buscam em sua existência apenas e tão somente:

* poder de compra para obter todos os objetos (desde um calçado a um veículo, passando por um imóvel e coisas do gênero) que desejam, pois pensam que isso possa preencher o seu vazio existencial.

* Viver longamente e sem doenças.

* Viver sem tristezas e solidão.

* Viver sem medo e conflitos.

* Viver satisfazendo suas necessidades cotidianas e pequenos sonhos e desejos.

A lista poderia prosseguir, mas a pergunta que sempre fica é a seguinte: Ainda que todos esses desejos fossem satisfeitos, o nosso íntimo, o nosso coração estaria realizado e feliz? Mesmo que nos libertássemos de todos os nossos medos, inseguranças e tristezas, para onde iríamos e para quem?

Por isso, o Evangelho deste domingo é tão oportuno e essencial. Ele nos chama a atenção para a única busca que vale a pena porque dá sentido pleno e definitivo à nossa existência neste mundo: a busca pelo Cristo! Três verbos, três ações são fundamentais nesse processo de busca:

1º) “Vinde...” (v. 39): é o apelo de Jesus a dois discípulos de João Batista. “Vir” é a imagem do primeiro passo da fé. Ir ao encontro de Jesus, essa é a nossa primeira atitude.

2º) “... ver” (v. 39): é experimentar o contato vivo e pessoal com Jesus. Sem essa experiência pessoal, não há uma adesão plena a Cristo.

3º) “permaneceram com ele” (v. 39): não basta encontrar, descobrir Jesus, é preciso permanecer com ele, ou seja, consolidar a fé por meio desse contato vivo e frequente.

Algo que o evangelista faz questão de destacar é a reação em cadeia, expressão acertadamente empregada por Johan Konings, provocada pelo entusiasmo desse encontro com o Cristo:

* André convida seu irmão Simão para “ir” e “ver” Jesus (v. 41-42a).

* Filipe chama Natanael (cf. Jo 1,45).

Isso significa que, uma vez que se dá um verdadeiro encontro com o Cristo, a vida da pessoa é transformada! Ninguém saiu ileso da experiência com o Cristo, se esta é autêntica e profunda!

No fundo, temos de acreditar que o ser humano busque mais do que satisfações momentâneas e materiais, em sua vida nesta terra. Ele busca, na verdade, o infinito, o superior, o transcendente que pode, de fato e unicamente, fornecer sentido à sua vida!

Iniciemos a nossa busca pelo Cristo! Como bem profetizou Isaías (65,1): “Fui procurado por quem não me consultava, fui encontrado por quem não me buscava; a uma nação que não invocava meu nome, eu disse: ‘Eis-me aqui! Eis-me aqui!’”

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Pai, obrigado por me dar a presença de teu Filho Jesus nas palavras luminosas deste evangelho; obrigado por me fazer ouvir sua voz, por abrir meus olhos para reconhecê-lo; obrigado por me colocar em seu caminho para segui-lo e entrar em sua casa. Obrigado porque posso habitar com Ele, Nele e porque Ele, contigo, estais em mim. Obrigado por me chamar mais uma vez, tornando nova a minha vida. Faça de mim, por favor, um instrumento do teu amor: que eu nunca pare de anunciar o Cristo que vem; que eu não me envergonhe, não me feche, não se apague, mas me torne cada vez mais feliz, para levar a Ele, a Ti os irmãos e as irmãs que me fazes encontrar todos os dias. Amém.»

(Fonte: CUCCA, M. A., O.Carm. Orazione finale. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico B. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 330)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – 2ª Domenica del Tempo Ordinario – Anno B – 17 gennaio 2021 – Internet: clique aqui (Acesso em: 12/01/2023).