«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

2º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

 Evangelho: João 1,35-42 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

“Vinde ver”

O verbo “fixar (o olhar)” no Evangelho de João aparece apenas duas vezes no primeiro capítulo (versículos 35 e 42), onde o evangelista apresenta o início da atividade de Jesus. Os evangelistas, sabemos, não são apenas grandes teólogos, mas também grandes literatos e seguem as regras de escrita da época, do seu tempo. Pois bem, essas regras estipulavam que, quando você quiser relacionar o mesmo assunto, use apenas a mesma palavra ou o mesmo verbo apenas nesta seção. E, aqui, nesta passagem, o verbo “fixar” aparece duas vezes. A expressão “fixar o olhar” significa entrar no interior, nas profundezas das pessoas e ver a sua verdadeira realidade. É um pouco como o que dizemos coloquialmente em português: “Ele o(a) fotografou”. Fotografar uma pessoa não significa apenas tirar um retrato, mas ver o que há dentro dela. 

João 1,35-36: «Naquele tempo, João estava de novo com dois de seus discípulos e, vendo Jesus passar, disse: “Eis o Cordeiro de Deus!”»

Então o evangelista escreve, a partir do versículo 35, que João ainda está ali com seus discípulos e “fixando o olhar em Jesus” (no lecionário da CNBB: “vendo”), ou seja, fixando o olhar ele vê a verdadeira realidade, não o que aparece externamente, mas o que ele é, e o indica como “o cordeiro de Deus”. João já tinha falado de Jesus como o cordeiro de Deus que tira, que erradica o pecado que está no mundo (cf. Jo 1,29). E o faz derramando o Espírito Santo porque a luz, escreveu João no seu prólogo, não luta contra as trevas, a luz expande o seu clarão e Jesus também o fará para eliminar esse pecado.

Mas por que cordeiro? A que se refere? O cordeiro nunca está nas listas de animais sacrificados para se obter o perdão dos pecados, não tem esse significado, o cordeiro de Deus é o cordeiro que, na noite da libertação da escravidão egípcia, Moisés ordenou que toda família comesse (cf. Ex 12,1-14), por quê? A carne do cordeiro dava força, dava consistência para iniciar essa longa jornada rumo à liberdade e o sangue libertaria da morte na passagem do anjo exterminador. Portanto, o evangelista apresenta Jesus como o cordeiro de Deus, aquele cuja carne dará a capacidade de iniciar esta nova libertação, mas não fugindo mais de uma terra prometida, mas de uma terra que havia sido transformada em uma terra de escravidão dominada pela lei, que literalmente sufocou, fez as pessoas ficarem sem fôlego. E o seu sangue não livrará da morte física, mas da morte para sempre. Então João aponta para Jesus como o cordeiro, aquele a seguir. 

João 1,37-42a: «Ouvindo essas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus. Voltando-se para eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: “O que estais procurando?” Eles disseram: “Rabi (que quer dizer: Mestre), onde moras?” Jesus respondeu: “Vinde ver”. Foram, pois, ver onde ele morava e, nesse dia, permaneceram com ele. Era por volta das quatro da tarde. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. Ele foi encontrar primeiro seu irmão Simão e lhe disse: “Encontramos o Messias” (que quer dizer: Cristo). Então André conduziu Simão a Jesus.»

Dois dos seus discípulos acolhem esta palavra, voltam-se para Jesus, Jesus convida-os a ver onde se encontram. Naquela época, o discípulo não apenas seguia as lições do mestre, mas vivia junto com ele; um desses dois discípulos de João chama-se André e sai imediatamente em busca de seu irmão que é o outro protagonista importante desta passagem, chamado Simão Pedro. Pois bem, quando André se volta para o irmão, Simão Pedro, lhe diz com evidente entusiasmo: “Encontramos”. Encontrar significa o resultado de uma longa busca, portanto, ele afirma: procuramos e encontramos “o Messias”, que significa Cristo. Porém, não se percebe alguma reação de Simão; nem mesmo uma palavra de assentimento ou informação, nada. Simão é quase um peso morto que deve ser conduzido a Jesus e, também diante dele, não há reação a Jesus. 

João 1,42b: «Jesus olhou bem para ele e disse: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (que quer dizer: Pedra).»

Então, agora será a vez de Jesus “fixar nele o olhar”, aqui Jesus fixa, entra na interioridade deste homem e fotografa-o, como dissemos antes, revelando a sua verdadeira realidade. Por isso, diz: “Tu és Simão” e chama-o de “o filho de João”. João não é o nome do pai de Simão, vimos que Simão tem um irmão, André; aqui o artigo definido “o” significa que ele é filho único, portanto não pode ser o nome de seu pai. Quem é esse João? É João Batista. Os discípulos de um mestre eram chamados de filhos; portanto, Jesus dizendo a Simão que “Tu és o filho de João”, é o mesmo que dizer: você é o discípulo preferido, o melhor, o modelo.

Mas este discípulo não estava presente quando João indicou Jesus como o cordeiro de Deus, ele não conhece esta notícia. Então, aqui, Jesus acrescenta “Teu nome será Cefas”; é uma palavra aramaica que o evangelista traduz com o significado de “pedra”, ou seja, indica inflexibilidade, teimosia. Aqui, neste evangelho, Jesus não convida Simão a segui-lo e Jesus nunca se dirigirá a Simão como Pedro; será o evangelista quem usará esse apelido como artifício literário que expressa a sua teimosia para indicar todas as vezes que está contra ou em oposição a Jesus.

Se Jesus não convida Simão Pedro a segui-lo no início, só o fará no final, quando Pedro finalmente se render, depor os seus ideais de glória, de messianismo. Afinal, Simão Pedro ficou preso à imagem do Messias como o Leão de Judá, mas João Batista não apresentou Jesus como o leão, mas como o cordeiro. Será necessário que Pedro mude de mentalidade e só no final deste evangelho Jesus finalmente lhe dirá “segue-me”

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«O segredo da mudança é não focar toda sua energia em lutar com o passado, mas em construir o novo.»

(Sócrates: 470-399 a.C. ─ filósofo ateniense)

O que buscamos, de verdade, em nossas vidas?

Apesar de simples, essa pergunta não é de fácil resposta. Aliás, boa parte das pessoas buscam em sua existência apenas e tão somente:

* poder de compra para obter todos os objetos (desde um calçado a um veículo, passando por um imóvel e coisas do gênero) que desejam, pois pensam que isso possa preencher o seu vazio existencial.

* Viver longamente e sem doenças.

* Viver sem tristezas e solidão.

* Viver sem medo e conflitos.

* Viver satisfazendo suas necessidades cotidianas e pequenos sonhos e desejos.

A lista poderia prosseguir, mas a pergunta que sempre fica é a seguinte: Ainda que todos esses desejos fossem satisfeitos, o nosso íntimo, o nosso coração estaria realizado e feliz? Mesmo que nos libertássemos de todos os nossos medos, inseguranças e tristezas, para onde iríamos e para quem?

Por isso, o Evangelho deste domingo é tão oportuno e essencial. Ele nos chama a atenção para a única busca que vale a pena porque dá sentido pleno e definitivo à nossa existência neste mundo: a busca pelo Cristo! Três verbos, três ações são fundamentais nesse processo de busca:

1º) “Vinde...” (v. 39): é o apelo de Jesus a dois discípulos de João Batista. “Vir” é a imagem do primeiro passo da fé. Ir ao encontro de Jesus, essa é a nossa primeira atitude.

2º) “... ver” (v. 39): é experimentar o contato vivo e pessoal com Jesus. Sem essa experiência pessoal, não há uma adesão plena a Cristo.

3º) “permaneceram com ele” (v. 39): não basta encontrar, descobrir Jesus, é preciso permanecer com ele, ou seja, consolidar a fé por meio desse contato vivo e frequente.

Algo que o evangelista faz questão de destacar é a reação em cadeia, expressão acertadamente empregada por Johan Konings, provocada pelo entusiasmo desse encontro com o Cristo:

* André convida seu irmão Simão para “ir” e “ver” Jesus (v. 41-42a).

* Filipe chama Natanael (cf. Jo 1,45).

Isso significa que, uma vez que se dá um verdadeiro encontro com o Cristo, a vida da pessoa é transformada! Ninguém saiu ileso da experiência com o Cristo, se esta é autêntica e profunda!

No fundo, temos de acreditar que o ser humano busque mais do que satisfações momentâneas e materiais, em sua vida nesta terra. Ele busca, na verdade, o infinito, o superior, o transcendente que pode, de fato e unicamente, fornecer sentido à sua vida!

Iniciemos a nossa busca pelo Cristo! Como bem profetizou Isaías (65,1): “Fui procurado por quem não me consultava, fui encontrado por quem não me buscava; a uma nação que não invocava meu nome, eu disse: ‘Eis-me aqui! Eis-me aqui!’”

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Pai, obrigado por me dar a presença de teu Filho Jesus nas palavras luminosas deste evangelho; obrigado por me fazer ouvir sua voz, por abrir meus olhos para reconhecê-lo; obrigado por me colocar em seu caminho para segui-lo e entrar em sua casa. Obrigado porque posso habitar com Ele, Nele e porque Ele, contigo, estais em mim. Obrigado por me chamar mais uma vez, tornando nova a minha vida. Faça de mim, por favor, um instrumento do teu amor: que eu nunca pare de anunciar o Cristo que vem; que eu não me envergonhe, não me feche, não se apague, mas me torne cada vez mais feliz, para levar a Ele, a Ti os irmãos e as irmãs que me fazes encontrar todos os dias. Amém.»

(Fonte: CUCCA, M. A., O.Carm. Orazione finale. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico B. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 330)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – 2ª Domenica del Tempo Ordinario – Anno B – 17 gennaio 2021 – Internet: clique aqui (Acesso em: 12/01/2023).

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