«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

FALECEU PADRE JOÃO BATISTA LIBANIO - TEÓLOGO JESUÍTA

A FACULDADE JESUÍTA DE FILOSOFIA E TEOLOGIA - FAJE - DIVULGOU, HOJE, ESTA NOTA:
Pe. João Batista Libanio - jesuíta (1932-2014)

A FAJE se solidariza com os familiares e amigos do padre JOÃO BATISTA LIBANIO, religioso da Companhia de Jesus - Jesuítas (SJ), que faleceu na manhã desta quinta-feira, 30 de janeiro, aos 81 anos, em Curitiba (PR), em decorrência de um infarto. 

Reconhecido mundialmente por seu profundo conhecimento na área teológica prestou importante e valioso serviço à Arquidiocese de Belo Horizonte. Era doutor em Teologia, professor na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia e vigário da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Vespasiano.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou esta notícia:

Padre Libânio, como era conhecido mundialmente, dedicou-se aos estudos teológicos, à ação pastoral e ao magistério durante anos. Foi autor de mais de 125 livros.

Na arquidiocese de Belo Horizonte (MG) contribuía com artigos e textos para o Jornal de Opinião e Notícias Digital, nos quais escrevia na coluna “O olhar do teólogo”. Padre Libânio dizia que “nada faz o ser humano ser tão feliz como colaborar no crescimento interior e espiritual das pessoas".

Trajetória

Padre Libânio estudou Filosofia na Faculdade de Filosofia de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, e  cursou Letras Neolatinas na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Foi professor de Teologia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS) e no Instituto Teológico da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). Posteriormente, foi professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Seus estudos de Teologia Sistemática foram concluídos na Hochschule Sankt Georgen, em Frankfurt, Alemanha, onde também estudou com os maiores nomes da Teologia europeia. Era mestre e doutor (1968) em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

O jesuíta era professor na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia e vigário da paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Vespasiano.

Sobre a vida

Em entrevista ao Jornal de Opinião, em junho de 2002, por ocasião de seus 70 anos, padre Libanio falou sobre sua visão da vida: “A clareza e a serenidade não se medem pelo número de anos, mas pelo trabalho interior. A existência foi generosa comigo e permitiu-me que pudesse estar sempre à volta com análises, reflexões sobre a realidade social e eclesial”.
Para ter acesso a esta entrevista, clique aqui.

Para se informar sobre a vasta produção bibliográfica do padre Libanio, pode-se consultar o seu site oficial, clicando aqui.

Mais informações sobre a sua vida, clique aqui.

FUNERAIS DO PE. JOÃO BATISTA LIBANIO SJ

VELÓRIO
Auditório Dom Luciano Mendes de Almeida - FAJE 
(Av. Doutor Cristiano Guimarães, 2127 - Planalto, Belo Horizonte - MG - Telefone: [31] 3499-1600)
Início: 31/01 – sexta-feira – 11h00   
Término: 01/02 – sábado – 10h00

Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes – Vespasiano - MG
(Praça Professora Júlia Chalita [praça da Matriz], 64 - Lourdes - Vespasiano - MG - Telefone: [31] 3621-1583)
Início: 01/02 – sábado – 10h30
Término: 01/02 – sábado – 16h00

SEPULTAMENTO
01/02 – sábado – 17h00 – Cemitério Bosque da Esperança

***   ***   ***

LITURGIA

31/01 – sexta-feira
11h30 – Ofício dos Defuntos – Auditório da FAJE
21h00 – Ofício da Noite – Testemunho dos Amigos – Auditório da FAJE

01/02 – sábado
08h00 – Missa de Exéquias – Auditório da FAJE 
Presidida pelo Arcebispo de Belo Horizonte,  Dom Walmor Oliveira de Azevedo 
[Cor Litúrgica: Branca]
14h00 – Missa de Exéquias – Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes – Vespasiano-MG

05/02 - quarta-feira

20h00 – Missa de 7º Dia – Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes – Vespasiano-MG

Fontes: Portal FAJE - Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - Notícias - 30/01/2014 - Internet: clique aqui. CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - Imprensa - Notícias - Quinta-feira, 30 de janeiro de 2014 - 11h49 - Internet: clique aqui. Wikipédia - A Enciclopédia Livre - João Batista Libanio - Internet: clique aqui.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

“Os ciúmes e as fofocas destroem as comunidades”, diz o Papa Francisco

Domenico Agasso Jr.
Vatican Insider
23-01-2014
Papa Francisco celebra na capela da Casa Santa Marta

Os cristãos devem fechar as portas a ciúmes, invejas e fofocas que dividem e destroem as nossas comunidades. A exortação foi feita pelo Papa na manhã desta quinta-feira, 23, na missa presidida na Santa Marta, no sexto Dia de Oração pela Unidade dos Cristãos, segundo indicou a Rádio Vaticano.

A reflexão do Papa começou pela primeira leitura do dia, que fala da vitória dos israelitas sobre os filisteus, graças à coragem do jovem Davi. A alegria da vitória transformou-se logo em tristeza: o Rei Saul, invejoso porque as mulheres louvaram Davi, que matou Golias, mandou executá-lo. Então “essa grande vitória, afirma o Papa, começa a converter-se em derrota no coração do rei” no que se insinua, como acontece com Caim, “o verme dos ciúmes”. E assim como Caim com Abel, o rei decide assassinar Davi.

“É o que o ciúme faz em nosso coração – observou o Papa –, é uma inquietude cruel: não toleramos que um irmão ou irmã tenha algo que não temos”. Saul, “ao invés de louvar Deus, como fizeram as mulheres de Israel, preferiu fechar-se e ficar lamentando consigo mesmo”.

“O ciúme leva a matar. Foi pela porta da inveja que o diabo entrou no mundo. A Bíblia diz: ‘Pela inveja do diabo o mal entrou no mundo’. O ciúme e a inveja abrem as portas para o mal. Também divide a comunidade. Uma comunidade cristã, quando alguns dos seus membros sofrem de ciúme, de inveja, acaba dividida: uns contra os outros. É um veneno forte. É um veneno que encontramos na primeira página da Bíblia com Caim”.

No coração de uma pessoa atingida pela inveja e pelo ciúme, destaca novamente o Papa, acontecem “duas coisas muito claras”. A primeira coisa é a amargura: “A pessoa invejosa e ciumenta é amarga: não sabe cantar, não sabe louvar e não conhece a alegria, sempre se fixa ‘no que a outra pessoa tem eu não tenho’. Semeia sua amargura e a difunde em toda a comunidade. Estes são os semeadores de amargura, e o segundo comportamento que leva à inveja e ao ciúme, são as fofocas. Porque quando uma pessoa não tolera que outra tenha algo que ela não tem, tenta ‘rebaixá-la’, falando mal dela. E o instrumento são as fofocas. A murmuração divide a comunidade, destrói a comunidade, é a arma do diabo”.

“Quantas belas comunidades cristãs – exclamou o Papa – andavam bem até que o verme da inveja contagiou um de seus membros e com ele, a tristeza, o ressentimento e as fofocas”. “Uma pessoa que está sob a influência do ciúme e da inveja, afirma Francisco, mata”, como disse o apóstolo João: “Quem odeia seu irmão é um homicida”. E “o ciumento, o invejoso, começa a odiar o irmão”.

Portanto, conclui: “Hoje, nesta missa, rezemos por nossas comunidades cristãs para que a semente do ciúme não seja semeada entre nós; que a inveja não penetre em nossos corações e possamos ir avante, louvando o Senhor, com alegria. É uma graça muito grande, a graça de não cair na tristeza, no ressentimento, nos ciúmes e na inveja”.

Tradução de André Langer.

Fonte: Instituo Humanitas Unisinos - Notícias - Sexta-feira, 24 de janeiro de 2014 - Internet: clique aqui.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

3º Domingo do Tempo Comum - Ano A - HOMILIA

Evangelho: Mateus 4,12-23

4,12 Ao saber que João tinha sido preso,
Jesus voltou para a Galileia.

13 Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum,
que fica às margens do mar da Galileia,

14 no território de Zabulon e Neftali,
para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías:

15 “Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar,
região do outro lado do rio Jordão,
Galileia dos pagãos!

16 O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz
e para os que viviam na região escura da morte
brilhou uma luz.

17 Daí em diante Jesus começou a pregar dizendo:
“Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo.”

18 Quando Jesus andava à beira do mar da Galileia,
viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André.
Estavam lançando a rede ao mar, pois eram pescadores.

19 Jesus disse a eles: 'Segui-me,
e eu farei de vós pescadores de homens.”

20 Eles, imediatamente deixaram as redes e o seguiram.
21 Caminhando um pouco mais, Jesus viu outros dois irmãos:
Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João.
Estavam na barca com seu pai Zebedeu
consertando as redes. Jesus os chamou.

22 Eles, imediatamente deixaram a barca e o pai, e o seguiram.
23 Jesus andava por toda a Galileia,
ensinando em suas sinagogas,
pregando o Evangelho do Reino
e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
A PRIMEIRA PALAVRA DE JESUS

O evangelista Mateus cuida muito do cenário no qual Jesus fará a sua aparição pública.

Apaga-se a voz de João Batista e se começa a escutar a voz nova de Jesus. Desaparece a paisagem seca e sombria do deserto e ocupa o centro o verde e a beleza da Galileia. Jesus deixa Nazaré e se desloca para Cafarnaum e as margens do lago. Tudo sugere o surgimento de uma vida nova.

Mateus recorda que estamos na "Galileia dos gentios". Sabe-se que Jesus pregou nas sinagogas judaicas daquelas aldeias e não se movimentou entre os pagãos. Porém, a Galileia é uma encruzilhada de caminhos, Cafarnaum uma cidade aberta ao mar. A partir daqui, chegará a salvação para todos os povos. 

Naquele momento, a situação é trágica. Inspirando-se num texto do profeta Isaías, Mateus vê que "o povo habita nas trevas". Sobre a terra "há sombras de morte". Reina o caos, a injustiça e o mal. A vida não pode crescer. As coisas não são como Deus as quer. Aqui não reina o Pai.

Entretanto, em meio às trevas, o povo começará a ver "uma grande luz". Entre as sombras de morte, "começa a brilhar uma luz". Jesus é sempre isso: uma grande luz que brilha no mundo.

Segundo Mateus, Jesus começou sua pregação com esta palavra: "Convertei-vos". Esta é a sua primeira palavra. É hora de conversão. Há de se abrir ao reino de Deus. Não ficar "assentados nas trevas", mas "caminhar na luz".

Dentro da Igreja há uma "grande luz". É Jesus. Nele Deus se revela a nós. Não devemos ocultá-lo com o nosso protagonismo. Não podemos suplantá-lo com nada. Não devemos convertê-lo numa doutrina teórica, na teologia fria ou numa palavra aborrecida. Se a luz de Jesus se apaga, os cristãos se converterão naquilo que Jesus tanto temia: "uns cegos procurando guiar outros cegos". 

Por isso, também hoje essa é a primeira palavra que devemos escutar de Jesus na Igreja: 
  • "Convertei-vos".
  • Recuperai vossa identidade cristã. 
  • Retornai às vossas raízes.
  • Ajudai a Igreja a passar para uma nova etapa de cristianismo mais fiel a Jesus.
  • Vivei com nova consciência de seguidores.
  • Colocai-vos a serviço do reino de Deus.


ALGO NOVO E BOM

O primeiro escritor que relatou a atuação e a mensagem de Jesus resumiu tudo dizendo que Jesus proclamava a "Boa Notícia de Deus". Mais tarde, os demais evangelistas empregam o mesmo termo grego (euanggelion) e expressam a mesma convicção: no Deus anunciado por Jesus as pessoas encontravam algo "novo" e "bom".

Há, no entanto, nesse Evangelho, algo que possa ser lido, em meio de nossa sociedade indiferente e descrente, como algo bom para o homem e a mulher de nossos dias?Algo que se possa encontrar no Deus anunciado por Jesus e que não proporciona, facilmente, a ciência, a técnica ou o progresso? Como é possível viver a fé em Deus em nossos dias?

No Evangelho de Jesus, os crentes encontram-se com um Deus a partir do qual podem sentir e viver a vida como um presente que tem sua origem no mistério último da realidade que é o Amor. Para mim é bom não sentir-me sozinho e perdido na existência, nem nas mãos do destino e do azar. Tenho Alguém a quem posso agradecer a vida.

No Evangelho de Jesus encontramo-nos com um Deus que, apesar de nossos erros, nos dá força para defender nossa liberdade sem terminarmos como escravos de algum ídolo; para não vivermos sempre pela metade nem sermos uns "aproveitadores"; para irmos aprendendo formas novas e mais humanas de trabalhar e desfrutar, de sofrer e amar. Para mim, é bom poder contar com a força de minha pequena fé nesse Deus

No Evangelho de Jesus encontramo-nos com um Deus que desperta nossa responsabilidade para não ficarmos indiferentes em relação aos outros. Não poderemos fazer grandes coisas, porém sabemos que temos de contribuir para uma vida mais digna e mais feliz para todos pensando, sobretudo, nos mais necessitados e indefesos. Para mim, é bom crer num Deus que me pergunta, com frequência, o que faço por meus irmãos.

No Evangelho de Jesus encontramo-nos com um Deus que nos ajuda a vislumbrar que o mal, a injustiça e a morte não têm a última palavra. Um dia, tudo aquilo que aqui não pôde ser, o que ficou pela metade, nossos anseios maiores e nossos desejos mais íntimos alcançarão em Deus sua plenitude. Para mim, faz-me bem viver e esperar minha morte com esta confiança.

Certamente, cada um de nós tem de decidir como deseja viver e como quer morrer. Cada um há de escutar sua própria verdade. Para mim não é a mesma coisa crer em Deus e não crer. Para mim, faz-me bem poder viajar por este mundo sentindo-me acolhido, fortalecido, perdoado e salvo pelo Deus revelado em Jesus.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Terça-feira, 21 de janeiro de 2014 - 09h24 - Internet: clique aqui.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Cinco pessoas morrem por dia em confrontos com a polícia no Brasil

Camila Maciel
 Cinco pessoas por dia, em média, morrem em confronto com policiais em serviço no Brasil, aponta o Relatório Mundial sobre Direitos Humanos, divulgado hoje (21) pela organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW). A letalidade policial é destacada no documento como uma das violações mais preocupantes no país. Em 2012, morreram 1.890 pessoas nessas circunstâncias, conforme dados do Fórum de Segurança Pública.

“A gente reconhece que a tarefa que a polícia enfrenta no Brasil é muito desafiadora. Os índices de criminalidade são muito altos, mas ela responde com violência em muitas circunstâncias. A polícia mata e mata muito”, avaliou Maria Laura Canineu, diretora da HRW. A entidade considera positiva a resolução do governo paulista, de janeiro de 2013, que proibiu a remoção de corpos de vítimas de confrontos das cenas do crime.

Em 2012, quase a totalidade (95%) das pessoas feridas em confronto com a polícia paulista e que foram transportadas por policiais civis ou militares morreram no trajeto ou no hospital. De acordo com a organização, a iniciativa, que pretende impedir o acobertamento de execuções, resultou na diminuição das mortes em decorrência de ação policial, com redução de aproximadamente 34% no primeiro semestre de 2013, segundo dados oficiais.

A HRW avalia, no entanto, que permanecem os obstáculos para a responsabilização desses policiais, como falhas na preservação do local da morte para trabalho pericial e a falta de profissionais e recursos para assessorar o Ministério Público na tarefa de exercer o controle externo da polícia. “Essas medidas não são suficientes enquanto o problema de fundo não for resolvido, que é a questão da impunidade”, destacou Maria Laura. Ela citou, como exemplo de avanço na responsabilização criminal, a denúncia de 25 policiais pela morte do pedreiro carioca Amarildo de Souza.

Outra ação governamental considerada positiva pela HRW é a compensação financeira de policiais a partir do cumprimento de metas de redução da criminalidade. Essa medida foi adota no Rio de Janeiro no ano passado. A entidade também considera válido o anúncio feito ontem (20) pelo governo paulista de premiar policiais com até R$ 8 mil por ano caso seja cumprido o programa de metas de segurança pública. A diretora pondera, no entanto, que esse ganho financeiro deve corresponder a uma atuação de acordo com os direitos humanos e o uso proporcional da força.

Além das questões de segurança pública, o capítulo do relatório dedicado ao Brasil traz ainda violações relativas à liberdade de expressão, como as cometidas nas manifestações de junho. “Registramos o uso indiscriminado da força, de spray de pimenta, gás e também prisões arbitrárias”, relatou Maria Laura. De acordo com o documento, seis jornalistas foram mortos no país entre janeiro e novembro de 2013.

A violência no campo também foi destacada no relatório. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, quase 2,5 mil ativistas rurais foram ameaçados de morte na última década. Em 2012, pelo menos 36 pessoas foram mortas e 77 sofreram tentativa de homicídio em todo o país. O despejo judicial de índios da etnia Terena, em maio de 2013, foi relembrado como um exemplo de grave violação aos direitos humanos.

Em relação aos direitos trabalhistas, a HRW considera positivo os esforços do governo federal em erradicar o trabalho forçado, garantindo a libertação de 44 mil trabalhadores que viviam em condições análogas à escravidão desde 1995, segundo dados oficiais. Por outro lado, a Comissão Pastoral da Terra contabilizou aproximadamente 3 mil trabalhadores submetidos a essa condição em 2012. A organização internacional critica a ausência de uma responsabilização criminal efetiva para empregadores que exercem essa prática.

Esta é a 24ª edição do Relatório Mundial sobre Direitos Humanos, que avalia as práticas adotadas em mais de 90 países. Na parte que trata do Brasil, o documento aborda ainda a situação dos direitos reprodutivos e de violência de gênero; de orientação sexual e de identidade de gênero; e a política externa brasileira em relação ao tema. O capítulo completo sobre o Brasil pode ser lido aqui.

Fonte: EBC Agência Brasil - 21/01/2014 - 17h30 - Internet: clique aqui.
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Pará tem mais assassinatos que o Iraque

Diário do Pará
20-01-2014
Foi um final de semana que mais se matou nos últimos três anos no Estado do Pará. Desde a 0h de sábado (18) até a 0h de hoje foram registrados nas unidades policiais do Pará nada menos que 38 homicídios sendo deste total 20 mortes das mais variadas formas de violência na Região Metropolitana de Belém.

Comparando com o Iraque, onde, no final de semana, morreram 30 pessoas, e com a guerra na República Centro-Africana, que fez 22 mortes, além de um furacão que atinge as Filipinas que matou 34 pessoas o Estado do Pará alcançou em 24 horas de 35 mortes violentas apenas por homicídios sem contar enforcamentos, acidente de trânsito entre outras formas de violência.

A onda de violência que caiu sobre o Estado neste final de semana foi sem precedente. O primeiro registro foi aos onze minutos da meia noite deste sábado (18) no bairro do Guamá. Foi registrada a morte por homicídio de Jefferson Alan Santos do Vale vítima de baleamento.

Logo em seguida uma vítima sem identificação morreu no PSM [Pronto Socorro Municipal] do Guamá vítima de bala. Na sequência homicídios em Paragominas, Guamá, dois no Aurá, Bengui, Cremação vítima identificada por Danrley e Paragominas registro o homicídio de Wilson Ribeiro.

Em Marabá, Raimundo Nonato dos Santos perdeu a vida com vários tiros e na Cremação Julio Cesar Medeiros também foi vítima de baleamento e ajudou a lotar o necrotério do PSM do Guamá. Julio Cesar era conhecido como “Rato Branco” e enfrentou uma equipe da Rotam disparando contra a guarnição e acabou lendo a pior. Em Tucuruí a vítima de homicídio foi Rael do Carmo Sousa Alves.

Seguindo a trilha da morte, a Seccional da Sacramenta registrou a morte com oito tiros de Gilson Carvalho Nogueira de 19 anos emboscado na passagem Bandeirantes, crime praticado por dois homens em um carro preto e dois que estavam em uma motocicleta.

Na Cidade Nova em Ananindeua foi registrada a morte de Douglas Costa de Assis, no Pará um homem identificado apenas por “Pezinho” foi baleado e morreu na UPA Cidade Nova, enquanto em Santa Bárbara do Pará, o adolescente Luiz Renan Correa o “Patinho” foi executado a bala no Furo das Marinhas e o registro feito pelo pai do adolescente Luiz Fortunato dos Santos.

Para completar o quadro lamentável a Delegacia de Crimes Violentos do Hospital do PSM do Guamá registrou a morte de Erick Sacramento Farias de 20 anos. Segundo o relator do boletim de ocorrência Benedito do Carmo Farias o rapaz estava na passagem São Judas Tadeu com a Gaiapós quando um homem desceu de um carro e desferiu três tiros contra o rapaz fugindo em seguida. E para finalizar o dia de sábado um homicídio foi registrado na Delegacia de Polícia Civil de Capitão Poço tendo como vítima um homem identificado apenas por Luis Carlos sem que a autoria tenha sido definida.

Terminava o sábado e o dia de domingo não foi nada diferente em termos de mortes violentas no Estado. Na primeira hora do dia a Delegacia de Paragominas registrava a morte de Aldean Santos. Meia hora depois a Delegacia de Crimes Violentos anexo ao PSM do Guamá registrava o homicídio que foi vitima Roberto Furtado Brasil.

Duas horas depois a Seccional do Guamá registrava dois homicídios tendo como vítimas Flávio Santos e Gleydson Gomes. Em Icoaraci o registro foi à morte de Gilberto Luiz Silva Cardoso. A violência deu um tempo na Região Metropolitana de Belém e atacou o interior do Estado. O município de Eldorado dos Carajás registrou dois homicídios com vítimas não identificadas, enquanto o município de Muaná registrou uma morte, Barcarena teve dois registros de homicídios sendo uma das vítimas identificada como Rivaildo.

No Moju o delegado Carlos Lettieri registrou a morte por bala de um bebê de apenas 10 meses de idade. Ele foi atingido com disparos de arma de fogo na Vila do Sococo, durante uma tiroteio entre assaltantes. A segunda vítima Valdinei dos Santos Silva foi alvejado e morreu no local. Já em Castanhal um homem identificado como Ramon foi executado a facadas na Feira da Troca.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quarta-feira, 22 de janeiro de 2014 - Internet: clique aqui.

"Seja mais flexível", pede cardeal Maradiaga ao cardeal Müller

Cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga
John L. Allen Jr.
National Catholic Reporter
21-01-2014

Aparentemente, uma fenda se abriu entre dois cardeais com níveis significativos de influência no Vaticano, já que o chefe do Conselho dos Bispos, organismo criado pelo Papa Francisco, sugeriu que o czar doutrinal da Santa Sé precisa ser mais “flexível” em suas opiniões a respeito dos católicos divorciados e recasados.

O cardeal hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga fez este comentário na última segunda-feira (20-01-2014) durante entrevista ao jornal alemão Kölner Stadt-Anzeiger.

Nomeado em abril como coordenador do grupo de oito cardeais vindos de todo o mundo que compõem o Conselho dos Cardeais, Dom Maradiaga foi questionado sobre um artigo recente no qual o recém-designado cardeal alemão Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, apareceu para desfazer com qualquer possibilidade de revisão das regras da Igreja que restringem católicos divorciados e recasados de participarem nos sacramentos.

“Acho que compreendo este caso”, disse Dom Maradiaga na entrevista.  


Cardeal Gerhard Müller - Cong. da Doutrina da Fé
“É preciso dizer que ele é alemão; acima de tudo, ele é um professor alemão de teologia. Então, para ele há somente verdade e falsidade. Mas eu digo, meu irmão: o mundo não é assim; deveríamos ser um pouco mais flexíveis ao ouvirmos outras vozes. Isso quer dizer, não só ouvir e, depois, dizer não”.

Maradiaga disse ter certeza de que Müller irá “chegar ao entendimento de outras posições também”, mesmo se, no momento, “ele apenas ouve os membros de seu grupo de assessores”.

Quanto à questão dos fiéis divorciados e recasados, Maradiaga pareceu sinalizar dar apoio a um certo tipo de mudança.

“A Igreja tem a obrigação de [defender] os mandamentos de Deus”, disse, incluindo aquilo que Jesus disse sobre o casamento: “O que Deus uniu, o homem não separa”.

Dito isso, Maradiaga afirmou que “há diferentes abordagens. Por exemplo, após o fracasso de um casamento podemos nos perguntar se os cônjuges foram verdadeiramente unidos em Deus. Há muito espaço para reflexões posteriores aqui”. No entanto, o cardeal hondurenho pareceu também advertir contra expectativas de guinadas dramáticas nas diretrizes da Igreja.

“Não estamos indo na direção daquilo que hoje é preto amanhã será branco”, acrescentou.

No contexto da entrevista, o religioso informa que ainda não falou com Müller, que se tornará cardeal em um consistório marcado para o dia 22 de fevereiro próximo, sobre a questão dos católicos divorciados e recasados.

O vaticanista Marco Tosatti descreveu estas palavras como sendo uma “pequena surpresa” em seu blog ao falar da entrevista, dado o claro contraste entre as duas posições.

O próprio Papa Francisco sinalizou abertura a uma certa flexibilidade quanto ao acesso aos sacramentos para católicos divorciados e recasados, dizendo durante uma conferência de imprensa, a bordo de um avião retornando do Brasil em julho passado, que talvez o catolicismo pudesse aprender algo a partir da prática das igrejas ortodoxas orientais quanto a reconhecer um segundo casamento.

O papa anunciou também que o assunto irá estar na agenda do próximo Sínodo dos Bispos sobre a Família, a ser realizado no Vaticano em outubro.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quarta-feira, 22 de janeiro de 2014 - Internet: clique aqui.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O mundo perde 62 milhões de empregos (Absurdo!]

Jamil Chade
Desempregados

A crise financeira iniciada em 2008 expulsou do mercado de trabalho 62 milhões de pessoas no mundo e, hoje, 202 milhões de pessoas estão desempregadas, o equivalente a um Brasil inteiro. Enquanto isso, uma elite composta por apenas 85 indivíduos controla o equivalente à renda de 3,5 bilhões de pessoas no mundo.

Dados divulgados na segunda-feira, 20, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela entidade Oxfam revelam o impacto social da crise de 2008. Meia década depois do colapso dos mercados, os ricos estão mais ricos e a luta contra a pobreza sofreu forte abalo. Hoje, 1% da população mundial tem metade da riqueza global.

Os levantamentos foram publicados na véspera do Fórum Econômico Mundial, que começa na quarta-feira, 22, em Davos. Pela primeira vez nos mais de 40 anos da entidade, os organizadores reconhecem a desigualdade como o maior risco para o planeta

Para a OIT e a Oxfam, a crise mundial gerou uma concentração de renda inédita no mundo rico nos últimos 70 anos e fez o número de desempregados bater recorde. O que mais preocupa as entidades é que a recuperação da economia não está sendo seguida por uma geração de postos de trabalho e a previsão é de que, em 2018, 215 milhões de pessoas não terão emprego. "A crise é muito séria e o número de desempregados continua a subir", disse Guy Ryder, diretor-geral da OIT. "Precisamos repensar todas as políticas. A crise não vai acabar até que as pessoas voltem a trabalhar."
Em 2013, mais 5 milhões perderam o emprego, principalmente na Ásia. Desde 2008, um volume extra de 32 milhões de pessoas busca trabalho, sem sucesso. Mas outras 30 milhões de pessoas simplesmente abandonaram o mercado de trabalho e desistiram de procurar empregos. Só em 2013, foram 23 milhões. "Essas são taxas inaceitáveis", disse Ryder. Hoje, a taxa de desemprego global é de 6%. Por enquanto, não há sinal de queda do desemprego na Europa, enquanto outras regiões começaram a registrar aumento.

Jovens

Outra preocupação da OIT é com o fato de que 13,1% dos jovens do mundo continuam sem emprego - 74,5 milhões de pessoas. Apenas em 2013, 1 milhão de jovens perderam seus trabalhos. Mesmo entre os empregados, a situação nem sempre é adequada. Segundo a OIT, 375 milhões de pessoas ganham menos de US$ 1,25 por dia. Outros 839 milhões ganham menos de US$ 2.

O que a OIT registrou ainda é que os esforços de redução da pobreza foram afetados pela crise. Em média, o número de pessoas que ganhavam menos de US$ 2 por dia caía em média 12% ao ano. Em 2013, a redução foi de apenas 2,7%. 

Enquanto a luta contra a pobreza perde força, dados da Oxfam mostram que a disparidade social no planeta ganhou força desde 2008, quando a crise mundial afetou em especial as classes médias. Hoje, as 85 maiores fortunas do mundo somam US$ 1,7 trilhão, a mesma renda de metade da população do planeta. O grupo de 1% mais rico tem renda 65 vezes superior aos 50% mais pobres. 70% da população vive hoje em países onde a desigualdade aumentou nos últimos 30 anos. "As elites globais estão mais ricas e a maioria da população mundial está excluída", diz o informe.

Cerca de 10% da população mundial controla 86% dos ativos do planeta. Os 70% mais pobres controlam apenas 3%. Nos EUA, 95% do crescimento gerado após a crise de 2008 ficou nas mãos de 1% da população. Os dez mais ricos da Europa mantêm fortunas equivalentes a todos os pacotes de resgate aos países da região entre 2008 e 2010 - cerca de 200 bilhões. 

No que se refere ao Brasil, a Oxfam aponta para o "significativo sucesso" em reduzir as desigualdades graças a investimentos públicos e aumento de salário mínimo em mais de 50% desde 2003. Ainda assim, o Brasil é a economia onde a renda dos pais mais determina o sucesso dos filhos. A Dinamarca e Suécia estão no lado oposto da tabela.

Para Winnie Byanyima, diretora da Oxfam, o controle da economia mundial por um pequeno grupo não ocorreu por acaso. "A concentração de renda aconteceu por um processo em que a elite levou o processo político a desenhar regras no sistema econômico que a favorecessem." 

Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Economia & Negócios - 21 de janeiro de 2014 - 08h05 - Internet: clique aqui.

As seis piores prisões do Brasil

Luis Kawaguti
O complexo de Pedrinhas, no Maranhão, - que atraiu a atenção do país após registrar quase 60 mortes e uma série de rebeliões em 2013 - não é o único presídio com graves problemas no Brasil. A pedido da BBC Brasil, magistrados, promotores, ativistas e agentes penitenciários identificaram outras cinco prisões pelo país nas quais: 
  • a superlotação
  • a violência
  • as violações de direitos humanos
  • o domínio de facções criminosas criam um cenário de caos.
Elas são: 
  1. o Presídio Central de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, 
  2. o complexo do Curado (antigo Aníbal Bruno), em Pernambuco, 
  3. o presídio Urso Branco, em Rondônia, 
  4. os Centros de Detenção Provisória de São Paulo – sendo Osasco 1 o mais preocupante – e 
  5. a Cadeia Pública Vidal Pessoa, de Manaus, no Amazonas.
O juiz Douglas Martins – autor do relatório do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) que denunciou nacionalmente a onda de assassinatos e abusos em Pedrinhas (MA) em dezembro do ano passado – disse à BBC Brasil que todos esses presídios problemáticos têm características em comum. As principais são a superlotação e a concentração excessiva de detentos em grandes unidades prisionais – o que favorece a formação e fortalecimento de facções criminosas.

Todos os governos dos Estados citados apresentaram à reportagem medidas, já implementadas ou em andamento, focadas na descentralização das unidades, no combate ao crime organizado e na abertura de novas vagas em seus sistemas prisionais.

"(A questão prisional) não é um problema de um só governo, é um problema presente em muitos Estados, administrados por partidos diferentes, como o PSDB em São Paulo, o PT no Rio Grande do Sul, o PMDB no Maranhão ou o PSB em Pernambuco", disse Martins. Segundo ele, os presídios centralizados e superlotados colocam réus que cometeram crimes menores em contato com criminosos perigosos. "O presídio não vira uma escola do crime. O que acontece é que a pessoa entra e tem que se associar a uma facção", disse.

Após cumprir a pena, o cidadão continuaria obrigado a permanecer na organização criminosa – o que incentivaria a cometer mais delitos para pagar taxas ou dívidas que contraiu em troca de "proteção".

"O abandono do Estado obriga os presos a se organizarem para poder sobreviver no presídio", disse o padre Valdir João Silveira, da Pastora Carcerária. "O Estado não cumpre o que está na lei de execução penal em relação aos cuidados mínimos com saúde, alimentação, trabalho, assistência jurídica. Ele joga atrás das grades a população pobre, que precisa de apoio e quem oferece o apoio justamente é o tráfico, a facção", disse.

Prisões problema

Os cinco presídios em situação crítica foram listados a pedido da reportagem pela Pastoral Carcerária, pela ONG Justiça Global, que monitora a situação de unidades prisionais no Brasil, por magistrados do CNJ e de varas de execuções penais e pela Fenaspen (Federação Sidical Nacional dos Servidores do Sistema Penitenciário). Essas fontes listaram os presídios sem uma ordem específica ou formação de ranking.

Três das unidades – os presídios Urso Branco, Aníbal Bruno (Complexo do Curado) e Central de Porto Alegre – já foram objeto de notificação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) devido à superlotação, abusos e homicídios.

A notificação mais recente ocorreu em dezembro de 2013 e teve como alvo o Presídio Central de Porto Alegre. Em seu interior, mais de 4.400 presos presos circulam livremente sem a organização em celas – separados apenas em grandes galerias divididas entre as quatro facções criminosas do Rio Grande do Sul.

As instalações de esgoto e água são consideradas irrecuperáveis e criam um cenário de extrema insalubridade em áreas ocupadas por pouco mais de 80% dos detentos. Embora o Estado negue, membros do judiciário relatam que as agressões são frequentes e que presos jurados de morte são mantidos permanentemente algemados pelos corredores comuns de ligação entre as galerias.

Segundo especialistas, a violência só não explode pois há um equilíbrio de forças entre as quatro facções criminosas e o Estado – que promete a desativação gradual da unidade.

No Complexo do Curado [Pernambuco], segundo ativistas e magistrados, os presos também circulam livremente em grandes pavilhões, onde montaram barracas e cantinas improvisadas que formam uma pequena vila. Seria possível encontrar no local desde o comércio irregular de alimentos, loteamentos de áreas comuns e até barracas vendendo telefones celulares ostensivamente.

O poder no complexo seria exercido não por agentes penitenciários, mas pelas figuras dos "chaveiros", detentos normalente condenados por homicídio que comandam a disciplina e o tráfico de drogas em seus determinados setores. O governo de Pernambuco afirmou ter transferido todos os "chaveiros" e descentralizado o presídio.

Massacre

O Urso Branco, de Rondônia, é monitorado pela OEA desde 2002 quando foi palco do segundo maior massacre de presos depois do Carandiru, em São Paulo. Na ocasião, 27 detentos jurados de morte foram assassinados ao serem colocados junto aos demais presos.

Diversos casos de assassinatos continuaram sendo registrados até uma redução significativa em 2007. Contudo, de acordo com ativistas, casos de tortura e ameaças contra presos continuariam acontecendo de forma sistemática.

Além disso, facções criminosas que atuam na unidade foram investigadas no ano passado por ordenar ataques a veículos na capital Porto Velho.

Em São Paulo, o foco de preocupação dos especialistas é a superlotação crescente dos Centros de Detenção Provisória. O mais superlotado deles, segundo o sindicato de agentes penitenciários Sifuspesp, é Osasco 1, onde mais de 2.600 presos ocupam uma área projetada para pouco mais de 750.

O problema estaria relacionado ao fato de que as forças de segurança do Estado prendem suspeitos a uma taxa de 9.400 por mês – que é muito superior à capacidade de abertura de novas vagas.

São Paulo registrou no ano passado 22 homicídios em seu sistema prisional. A violência não foi maior, segundo os especialistas, em grande parte porque a facção PCC (Primeiro Comando da Capital), que comanda os presídios paulistas, impõe restrições ao uso da força entre os detentos.

O Estado nega que suas prisões sejam controladas por facções e anunciou a instalação de bloqueadores de sinal de telefone celular e um plano para criar 39 mil novas vagas no sistema. Assim como os CDPs paulistas, a Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, em Manaus, também recebe presos provisórios e está superlotada. Contudo, a falta de espaço é ainda mais preocupante: construída no início do século passado para conter 100 presos, abriga hoje mais de 1.000.

O resultado desse cenário caótico é certo: comércio ilegal, tráfico de drogas, rebeliões, abusos, assassinatos e o domínio do crime organizado. O Estado do Amazonas afirmou que a cadeia será desativada e seus presos levados para duas unidades já em construção.

Fonte: BBC Brasil - Atualizado em 20 de janeiro de 2014 - 06h56 (Brasília) - 08h56 GMT - Internet: aqui.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

No Vaticano "lobby gay perigoso até mesmo para o Papa"

Franco Zantonelli


Elmar Mäder, que comandou de 2002 a 2008 a Guarda Suíça do Vaticano, concede uma entrevista ao jornal de Basileia (Suíça), Schweiz am Sonntag, e diz: 
"Avisei os meus homens sobre alguns da Cúria particularmente lascivos".
Duas semanas atrás, outro ex-militar havia relatado ter sofrido assédio.
Elmar Mäder (em destaque, batendo continência)

O ex-comandante da Guarda Suíça, Elmar Mäder, confirma a existência de um lobby gay no Vaticano. Entrevistado por um semanário da Basileia, Schweiz am Sonntag [para acessar esta matéria, em alemão, clique aqui], Mäder, 51 anos, originário do Cantão San Gallo, explicou como, por muitos anos, uma rede de eclesiásticos homossexuais teve influência sobre a Santa Sé. 

Os "gays", disse, "tendem a solidarizar-se reciprocamente e isto leva-os a ser mais fiéis um ao outro, antes que, em relação à instituição. Acabam por formar uma verdadeira e própria sociedade secreta, tão secreta a ponto de colocar em risco a própria segurança do Papa". 

O ex-comandante dos alabardeiros [soldados] do Pontífice diz: "Se eu tivesse descoberto que um dos meus homens era gay, jamais eu lhe teria permitido de prosseguir na carreira. Para mim a homossexualidade não constitui um problema, mas o risco de deslealdade em relação ao nosso corpo teria sido muito elevado". 

Papa Francisco já havia declarado: "É preciso distinguir entre ser gay, ter essa tendência, e fazer lobby. Se uma pessoa é gay e procura o Senhor com boa vontade, quem sou eu para julgá-la? Os lobbies, ao contrário, não são uma boa coisa".

Mäder, hoje, não é mais um militar, mas dirige uma empresa farmacêutica com o encargo de diretor-gerente. Relata, entretanto, como durante o serviço em Roma tenha advertido os seus homens a respeito das atenções de alguns expoentes da Cúria, "particularmente lascivos" [que ou o que se inclina aos prazeres do sexo, à sensualidade]. 

Nas últimas semanas, ao menos dois ex-guardas suíços tinham testemunhado, anonimamente, ao Schweiz am Sonntag, de terem sido objeto de assédio por parte de expoentes do clero. Em um caso, as propostas explícitas tinham chegado da parte de um importante cardeal, em vias de convidar o militar em seu próprio quarto. O mesmo jovem havia declarado que, em outra ocasião, um oficial da Secretaria de Estado do Vaticano havia-o apalpado. 

O porta-voz atual da Guarda Suíça, Urs Breitenmoser, já havia minimizado a questão: "As vozes sobre uma rede gay no interior do Vaticano não são um problema nosso". Mas o ex-comandante Mäder tem uma outra ideia sobre o lobby que perpassa [o Vaticano]: "Um ambiente frequentado, quase que exclusivamente, por homens não casados é uma espécie de calamidade para os homossexuais, a Cúria romana é um desses. Do mesmo modo, os pedófilos se encontram nos lugares frequentados por crianças, as escolas e os clubes esportivos".

Na entrevista ao semanário suíço, o ex-comandante Mäder conta de haver tentado em vão, colocar a Cúria ao corrente das suas preocupações antes de deixar o cargo. E em sua demissão, entre outras coisas, não teria sido estranha aquela advertência inaudita. 

Tradução do italiano por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: La Repubblica - Cronaca - Segunda-feira, 20 de janeiro de 2014 - Pg. 19 - Edição impressa. Uma síntese, em italiano, encontra-se aqui.

Gestão Dilma é a pior da história para o meio ambiente, diz ambientalista

Entrevista com Mario Mantovani

Ricardo Mendonça
Mario Mantovani - geógrafo

O geógrafo Mario Mantovani trabalha há cerca de dez anos como uma espécie de "lobista da natureza" no Congresso Nacional. Diretor de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, ele tenta influenciar os projetos relacionados ao tema e coordena informalmente a chamada Frente Parlamentar Ambientalista, fórum com adesão de 187 dos atuais congressistas para debater assuntos da área em reuniões semanais.

Militante da causa desde 1973, conhecido como um dos mais ativos ambientalistas do país, Mantovani não parece medir palavras para expor suas opiniões. Diz, por exemplo, que a presidente Dilma Rousseff faz o "pior governo da história" para o meio ambiente. Que a aliada Marina Silva não deveria ter ido para o PSB. Ou que o melhor parceiro dos ambientalistas em Brasília é o deputado Zequinha Sarney, filho do ex-presidente que ostenta alta rejeição fora do Maranhão.

Nesta entrevista ele discorre sobre alguns dos principais problemas ambientais do país e conta que, a exemplo do que já fizeram os fazendeiros, os ambientalistas também irão sentar com todos os candidatos à presidência para listar suas reivindicações. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi o primeiro deles.

Folha de S. Paulo - O ex-ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) disse o assédio dos candidatos à turma do agronegócio nunca foi tão forte e antecipado. O que achou?

Mario Mantovani - É verdade. Acho que o Roberto tem toda a razão quando fala do volume econômico. A situação do Brasil não é boa, a indústria está ruim. Hoje, o que está bombando são as obras públicas, Copa do Mundo e esses eventos, e a indústria da construção. Mas é coisa que circula aqui dentro, o Brasil não faz caixa. E o que a gente viu agora foi que esse dinheiro do agronegócio realmente cresceu muito também. O Brasil está cada vez melhor no agronegócio. E é muito bom isso. Onde está o problema? É que isso é uma commodity. A decisão não é aqui. O valor da commodity é decidido na Bolsa de Chicago, em Nova York. Eles já ficam com o radar ligado, olhando o clima, tudo. E isso cria impacto para todo lugar.

Mas e a política?

Mario Mantovani - Quem está fazendo política em Brasília, como eu faço, vê que não é assim. Esse setor [agrícola] é o que mais tem voto de cabresto ainda. É o que vive especificamente de seus currais eleitorais. É o político de Ribeirão Preto que mantém lá todo um grupo ligado a ele, as cooperativas, tudo isso. Esse pessoal sempre esteve ligado à política partidária. Mas antes era cada feudo para o seu lado. Dessa vez o governo está vendo [o agronegócio] como uma grande força. Vem da luta em torno das mudanças do Código Florestal. Eles [os fazendeiros] se mostraram muito mais eficientes para fazer política do que se mostravam antigamente.

Como foi essa virada?

Mario Mantovani - Os ruralistas acharam um governo que aceitou a chantagem. Até então, essa chantagem se repetia: "Se vocês não fizerem tal coisa, não vai ter comida", diziam. "Se não fizerem isso, o Brasil vai ficar nos rincões". Mas o governo não entrava nisso. O governo dizia: "pare de encher o saco, quem está bancando vocês sou eu."

Com crédito?

Mario Mantovani - Com crédito agrícola. Que nunca foi tão alto como agora. R$ 150 bilhões hoje.

E quando mudou?

Mario Mantovani - Quando o governo precisou refazer essa base eleitoral. Nós tivemos uma baita crise com a base, que foi o mensalão. Qual é o setor mais suscetível e que mais precisa do governo para funcionar? É o setor agrícola. Se não tiver o crédito, não vai para frente. Eles têm direito a isso [ao crédito]. Só que no Brasil não funciona assim, com direitos. Funciona com quem é mais próximo do poder, aí tem menos burocracia. Como o mensalão quebrou as pernas do governo –repare que na base do mensalão não tinha ninguém do meio agrícola, era tudo gente das regiões metropolitanas–, o governo, para refazer a base, buscou os ruralistas. Até então eles não tinham expressão nenhuma. A gente entrou com esses caras em muitas brigas, inclusive sobre o Código Florestal, e eles nunca levaram. Fizemos o Mais Ambiente (programa de cadastro rural), a Lei da Mata Atlântica, a Lei dos Crimes Ambientais, a Lei das Águas e outras. Com alguns deles votando com a gente, inclusive. Mas com a crise do mensalão, quando o governo buscou uma nova frente de apoio, aí começaram as negociações. E aí eles descobriram que poderiam ir avançando.

Dê um exemplo desse avanço. Como é na prática?

Mario Mantovani - Ocorreu no Código Florestal. Eu participei de cada detalhe da tramitação. Então cada vez eles colocavam um bode na sala. "Nós queremos que acabe com a função social da terra". Não dava, o PT não poderia trair assim. "Então exigimos meia função social da terra", diziam. Aí o PT foi fazendo, fazendo, cedendo. E teve o papel do neocomunista Aldo Rebelo (deputado do PC do B-SP), que foi presidente da Câmara, sabia como funcionava a Casa. Eles já tinham conquistado uma coisa que o governo comeu a maior bola, que foi uma comissão especial para tratar do Código. Com isso, não passaria mais por outras comissões. A Força da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) era muito violenta também, a CNA estava bancando todos os eventos do governo. Então eles avançaram muito.

As disputas não ficaram só sobre o Código, certo?

Mario Mantovani - Eles perceberam a força que tinham no episódio do Código. E aí continuaram as pressões: "queremos mais dinheiro para o crédito", "queremos agora estrada para levar a produção". Então, além de estarmos bancando R$ 150 bilhões de crédito agrícola, você tem dinheiro do governo hoje para fazer infraestrutura, para fazer mais cidades e até algumas insanidades. Exemplo é o caso dos motoristas de caminhão que tinham que descansar de duas em duas horas. Os caras derrubaram isso, porque agora o caminhão de soja tem de sair de Rondônia e bater em Paranaguá (PR) o mais rápido possível. E tem o dinheiro que começa a financiar caminhão, também fora do crédito agrícola. Uma estrutura nova do Brasil.

Mas muito disso é legítimo, não? Qual é o grande problema?

Mario Mantovani - A grande sacanagem é ver tudo isso avançando em cima de área pública. E avançando numa frente na floresta. E conforme avança, uma área fica para trás, vazia. Essa área fica para especulação.

Como isso ocorre?

Mario Mantovani - Vamos pegar na Mata Atlântica. Dos 90% que foram abetos, só 40% tem alguma atividade econômica em cima. O resto é especulação: região metropolitana, expansão das cidades. E muita área abandonada. Qual é o jeito de abandonar? Põe pasto.

Quem conduz isso hoje?

Mario Mantovani - Não são as mesmas oligarquias de antes, as velhas oligarquias. Isso mudou. São as novas oligarquias do crédito. Tem os melhores, como o próprio Blairo [Maggi, produtor de soja e ex-governador do Mato Grosso], que se diz ambientalista. Ele já desafiou os caras: "eu cumpro a lei e faço mais".
Mas é bravata ou é real?

Mario Mantovani - É real. Ele está além da conta. Na reserva legal [parte preservada da mata que toda fazenda precisa ter], ele está acima. E muitas empresas acabaram fazendo isso. Também porque colocaram como ativo: "eu protejo", "eu sou o cara que mais protege". Isso funciona como marketing.

E isso não racha o setor?

Mario Mantovani - Ainda não. Mas vai rachar. E não é uma questão de estar ou não estar do lado dos ambientalistas. É uma tendência, não tem jeito, não volta mais.

Quais são as contas que vocês fazem?

Mario Mantovani - É assim: Dos 860 milhões de quilômetros quadrados que tem o Brasil, há 5,5 milhões de propriedades que dizem que são donas de 560 milhões de hectares. Só que em 60 milhões de hectares é onde está a agricultura. Dentro disso você tem uns 25 ou 30 milhões de soja, 10 de cana, 7 de celulose e vai indo até a abobrinha. E tem 200 milhões de hectares para pasto. Para 200 milhões de bois. Bom, então toda a atividade econômica da agricultura está concentrada aqui: 260 milhões de hectares, somando a plantação e o pasto. Já não é um bom negócio, pois nessa conta dá um boi por hectare. Hoje, para ser uma pecuária boa, você precisa de três bois por hectare. Mas a questão é outra. Se eles têm 560 milhões de hectares e usam 260 milhões, onde está o resto? Cadê os 300 milhões de hectares restantes?

Onde está?

Mario Mantovani - Na mão de especulação. Terras devolutas, Unidades de Conservação, Terras Indígenas. E tem outras coisas que eles não falam. Você tem 30 milhões de hectares para a soja. Se o cara de Chicago descobre que agora vai ter dois bois por hectare e, portanto, vai sobrar 100 milhões de hectares, isso não quer dizer que vai dobrar a produção de soja. Porque se fizer isso, o preço cai. Esse número [30 milhões de hectares para a soja] é contadinho, não vai crescer. As próprias produtoras de semente param de vender. Não vão arriscar. Então, na realidade estamos fazendo a conta mais imbecil. O Brasil fica falando de "uma agricultura que vai produzir alimento para o mundo, nós queremos expandir..." Não vai expandir. Está no limite. Celulose está no limite, cana no limite, soja no limite. Só não está a abobrinha. E desses R$ 150 bilhões do crédito, não chegam R$ 15 bilhões para a agricultura familiar. E mais uma coisa: 80% dos proprietários têm menos de 20% das terras. E 20% têm 80% da terra. Então é essa desigualdade toda. E é essa a bancada que partiu para a chantagem com o governo. E o governo aceitou.

E o dinheiro?

Mario Mantovani - Para ver como funciona eu fui agora lá no Agrishow comprar equipamento. Em 2012, fui com o balão "Veta Dilma" [sobre o Código Florestal] e fizemos um barulho (risos). Agora eu fui comprar. Apareci lá falando que estava precisando comprar colheitadeira de cana, todo o equipamento, caçamba, tudo aquilo. Aí falei: "Como é que assina esse financiamento aí? Minha propriedade tem todos os problemas ambientais, como eu faço?". Sabe qual foi a resposta? "Seus problemas acabaram!" (risos). Disseram: "Você vai receber sua máquina em um ano, vai pagar tanto, esquece o problema [ambiental], Código Florestal... E se você precisar de uma [picape] Amarok aí, para ir quebrando o galho, pode pôr na mesma conta, vai receber na hora". E assim era com Toyota Hilux, tudo. Era uma grande farra do dinheiro. Eu fui de agroboy lá, bota, aquele fivelão no cinto (risos). Os caras não perguntavam quem eu era, nem nada. Tem CPF, faz negócio.

Difícil imaginar que o Brasil deixará de ser fornecedor de produto básico. O que deveria ser feito?

Mario Mantovani - Nós não vamos mudar, deixar de ser um país de commodity. Vai continuar assim, como já era desde 1500. O ciclo do ouro, o ciclo da borracha, o ciclo do café, depois o da cana. Agora tem o da soja. A nossa visão é que agregue nessa commodity a questão ambiental. Então se você comprar uma tonelada de soja do Brasil, você estará levando biodiversidade, porque tem corredor de biodiversidade formado pela APP (Área de Preservação Permanente), tem reserva legal de 20%, está protegendo floresta, tudo isso.

Mas o chinês está preocupado com isso? Vai pagar?

Mario Mantovani - Você tem um mercado maior que o chinês. Para ele tanto faz comprar da Argentina ou o excedente dos Estados Unidos. E a tonelada de soja no Brasil pode custar a mesma coisa. A soja brasileira tem de ser conhecida no mundo. Como foi com o café. O café do Brasil era uma marca, todo mundo sabia que era o melhor por isso ou aquilo. O Brasil precisa pôr uma marca no mundo dizendo "somos produtores de alimento, o celeiro do mundo, mas o celeiro que protege a natureza". O que tem hoje? O que há é uma diplomacia reativa. Como é que o Brasil não leva isso para uma conferência? Poderia dizer "olha o que temos de reserva indígena, olha o que temos de parque".

O que o Brasil fala?

Mario Mantovani - O que a diplomacia fica falando? Fica dizendo assim: "O Brasil não destrói índio". É reativo, percebe? Poderia fazer assim: "Compre tudo o que é feito no Xingu que é para proteger o Xingu. Todos os proprietários lá fizeram a reserva legal e estão fazendo a proteção dos rios com mata, tudo legal". É isso que o Brasil tem. Como eu achei que iria acontecer com o etanol, mas não aconteceu. A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) fez um trabalho maravilhoso, projetou, foi com escritório lá fora e tudo. O que aconteceu? Murchou. Aqui dentro não teve suporte.
Deputado Federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) discursa em meio à bancada ruralista no Congresso

O ex-presidente Lula tratava como prioridade. Pelo menos no discurso, não?

Mario Mantovani - O Lula dava suporte, mas esse governo não deu. Esse governo foi atrás do [petróleo da camada] pré-sal, fez uma aposta que até agora não aconteceu e está aí hoje a conta para ser paga. O que fez a celulose? Perguntaram: "O que é que tem no mundo aí que é bom? É o FSC (Forest Stweardship Council), a certificação florestal? Hoje todo mundo é FSC no Brasil. Falaram assim: "Tem alguma coisa mais para cima que FSC no mundo? Não? Então é isso, somos isso".

As empresas mudaram?

Mario Mantovani - Pegue a Veracel [empresa de celulose], que foi minha inimiga mortal 20 anos atrás, lá no sul da Bahia. Eu fui em audiência lá em que o pessoal dizia "lincha". Hoje a Veracel tem 120 mil hectares protegidos e 90 mil plantados. É muito mais que o necessário. Eles têm o FSC, que o melhor do mundo, e estão além da lei [na proteção]. Aí você pega Parque Nacional Monte Pascoal, Parque Nacional do Descobrimento e Parque Nacional do Pau Brasil. Esses três parques não somam 80 mil hectares. Estão abandonados, sem gente. Por que uma empresa mantém 120 mil hectares, não pega fogo, ninguém invade? São 120 mil de mata nativa, mata de primeiríssima qualidade. E os parques do governo, na mesma região, estão cheios de problemas. Por que o governo não consegue proteger? Aí está a prova. O Estado é a coisa mais fácil de detonar. Estão lá os políticos fazendo média, botando família para invadir, movimento de sem terra resolve brigar com o governo e invade, índio resolve brigar e invade o parque. E o governo não tem gente para cuidar.

Fale mais dessa história da Veracel.

Mario Mantovani - Eles tinham fama de terem sido detonadores. Foram. Foi provado. A SOS [Mata Atlântica] pegou os caras lá, abrimos uma ação contra eles. Então o que eles fizeram? "Bom, vamos mudar a imagem". E o governo também teve um papel nisso. Quem financiou? Quem é que falava para os caras que o licenciamento era picareta? O ACM (Antônio Carlos Magalhães, ex-senador e ex-governador da Bahia) dizia assim: "Pode meter o trabalho, vai, faz, aqui quem manda sou eu". Os caras foram nessa, se ferraram. Hoje é da Votorantim. Fibria, como chamam. É nota dez. Eu prefiro trabalhar com a Fibria em qualquer circunstância. Tudo top. Na celulose, todos têm reserva legal, como exigem, todos têm APP. E ajudam nós nas brigas. Tanto que não entraram no debate do Código Florestal com os ruralistas. Claro que não. Se entrar nisso, não certifica. E quem dá o certificado não é o governo, é entidade internacional. Disseram o seguinte para os parceiros deles: "Por que vocês não querem fazer, se nós fizemos?" Aí o pessoal respondeu: "então vocês não entram na briga [pela mudança do Código], porque nós vamos brigar".

Depois de vários anos em queda, o desmatamento voltou a crescer. Qual é a explicação?

Mario Mantovani - É a prova da má gestão. Eu estou há 35 anos em ONG. Não estou em partido nenhum, nunca tive nenhum vínculo. O que eu vejo que aconteceu? Eu digo: para o meio ambiente, este é o pior governo da história. Porque o Lula pelo menos incorporou, colocou a Marina Silva [no ministério do Meio Ambiente], fez avanços. A lei da Mata Atlântica, por exemplo, foi com o Lula. A Dilma simplesmente passou o trator em cima de tudo. Não tinha o desmatamento na Amazônia porque tinha o controle muito maior, toda a fiscalização. Com o desmonte da Dilma nesses anos, mudou. E a projeção de desmatamento é muito maior daqui para a frente. Ela abriu todos os controles. O desastre que a Dilma causou vai ser uma coisa para os próximos 10, 20 anos.

Dê exemplos.

Mario Mantovani - O orçamento do ministério. É o pior. Como é que você quer que o ministério que faz licenciamento trabalhe se você não tem um técnico para análise? Acabou com as Unidades de Conservação, não fez mais nenhuma. A PEC 215 (Proposta de Emenda à Constituição que transfere a competência da União na demarcação das terras indígenas para o Congresso), por exemplo, nasceu dentro do governo. É um baita desgaste. Belo Monte, do jeito que foi encaminhado, é uma bola dividida.

Mas era bom antes? Restrição orçamentária tem em todo lugar.

Mario Mantovani - Sim, mas nunca chegou no nível que tem hoje. E nunca teve tanta demanda como tem hoje. Desde a criação o ministério vinha crescendo, vinha incorporando áreas, passa a cuidar de parques, cresce, faz o Instituto Chico Mendes. O que a Dilma fez foi o inverso. Ela acabou desmontando. Antes traziam recursos, fizeram o controle de satélite que não tinha. A Dilma realmente desmontou. O setor que mais teve contingenciamento foi esse.

E a ministra (Izabella Teixeira)?

Mario Mantovani - É uma técnica. Muito competente como técnica, mas não tem influência política. O Zequinha [Sarney, ex-ministro] sabia negociar. Mesmo o [ex-ministro] José Carlos Carvalho tinha algum suporte. A Marina fazia uma baita representação. Ela peitava, ia para cima, tanto que peitou a própria Dilma. O que vimos é que essa ministra [Izabella] ajudou a fechar a porta, foi botando panos quentes.

Vocês estiveram recentemente com o Aécio, né? Como foi a conversa?

Mario Mantovani - Estivemos. Vamos marcar com o [Eduardo] Campos e também com esse governo. A conversa foi muito boa. Falamos de todas essas dificuldades e outras coisas. O ativo que o PSDB tem é grande. A legislação ambiental brasileira foi quase toda feita pelo [ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso, uns 90% foram feitos naquele governo. Dissemos. "Vocês vão rasgar tudo isso por causa desse momento?"

Como ele reagiu?

Mario Mantovani - Reagiu com preocupação. E aí depois nós metralhamos. O governo de Minas Gerais é o campeão da devastação no caso da Mata Atlântica. E por quatro anos seguidos.

O que ocorre por lá?

Mario Mantovani - Carvão, a pior coisa do mundo. E o que é pior: com famílias trabalhando nos fornos. No Jequitinhonha [norte do Estado], que é um dos lugares mais pobres, para uso na siderurgia. Eles usam a mata, transformam em carvão e colocam a família trabalhando sem nenhum registro. É a coisa mais medieval que tem. O cara fala que vai fazer um programa ambiental e vem de um Estado que está liderando na devastação? Aí ele ficou preocupado, disse que iria ver o que estava acontecendo. E não é só lá. O Pará também é do PSDB. Também é problemático, com desmatamento.

E no Congresso, como está o meio ambiente hoje?

Mario Mantovani - Em geral, dá para dizer que o meio ambiente vem tendo cada vez mais adeptos. Esse ano que passou talvez não tanto na questão da biodiversidade, mas na questão dos animais. Pet, essas coisas. Se você pegar nas redes sociais, é um fenômeno. Tem mais pet shop no Brasil hoje do que farmácia. Então tem mais gente ligada à questão de animais. O pessoal do pet em Brasília foi o que mais cresceu. É uma coisa impressionante.

A bancada do cão? (risos)

Mario Mantovani - (risos). É a bancada do pet, acho. No nosso café da manhã semanal da frente ambientalista é a turma que mais tem atividade. É o que mais tem atraído gente.

Como é essa frente ambientalista? Um levantamento recente do jornal "O Estado de S. Paulo" mostrou que muitos deputados aparecem na frente, mas também são da bancada ruralista.

Mario Mantovani - São quase 300 pessoas que já assinaram na frente ambientalista. E não é uma frente ideológica. É uma frente de formação. Então se o parlamentar não está comigo hoje na questão do Código Florestal, ele está na discussão sobre resíduos sólidos. Se o outro não está num tema tal, pode estar na discussão sobre pagamento de serviços ambientais. A questão é saber com quem você pode contar em cada questão. Então temos os grupos de trabalho: o das águas, o dos serviços ambientais, o dos animais, que é hoje o mais animado. E tem muitos no do Código Florestal também, agora acompanhando a implementação.

Os ambientalistas fizeram campanha contra a mudança do Código Florestal e perderam. Se era ruim, por que agora querem a implementação rápida?

Mario Mantovani - Mas tinha coisa boa nele. Nós queremos o CAR (Cadastro Ambiental Rural). Isso vai mostrar quem é quem. Foi a coisa que a CNA foi mais contra. Olha, acho que só teve um momento em que a concentração de terra foi mais desigual que hoje, só na época da capitania hereditária. O maior problema ambiental brasileiro é fundiário. Começa aqui mesmo, em São Paulo, na [represa de] Guarapiranga, em Santo André, na [represa] Billings. Se você pegar aqui, na zona sul [de São Paulo], eu te garanto: 80% das pessoas que moram lá não tem nem documento em cartório, o título. Uma insanidade. O Brasil é completamente irregular. E 90% dessas ocupações foram feitas por políticos. Você sabe, os políticos que fizeram a ocupação em Santo Amaro [bairro da zona sul] são os que mandam aqui em São Paulo hoje, junto com o [prefeito Fernando] Haddad. O maior problema é o fundiário. Então vamos fazer cumprir o Código naquilo que os ruralistas têm maior pavor, que é o controle.

Mas o que se sabe hoje?

Mario Mantovani - Nada.

Como nada? Você sabe quem são os grandes. Você mesmo citou o Blairo Maggi, por exemplo.

Mario Mantovani - Ah, você tem dois ou três. Mas não se sabe os grupos que estão atrás, não sabemos o quem é quem nessas propriedades. E tem um monte de laranja nisso. Então se você tiver o CAR de todas as propriedades, vai saber quem está aonde, como é que está a reserva legal, os limites exatos da propriedade, tudo georreferenciado. Aí você vai saber o tamanho desse Brasil. Como era antes? Tinha a lei que dizia que tinha que tinha que ter reserva legal, mas você não sabia onde nem como. Tinha a lei que dizia que tinha que ter APP, mas não se sabia onde nem como. Agora vamos saber. Quantos proprietários foram beneficiados com a anistia ampla, geral e irrestrita [para desmatamentos feitos antes de 2008] que colocaram no Código? Vamos saber. Quem são eles? Vamos saber. E esses desmatamentos anistiados estão aonde? Vamos saber. Então são elementos para você conhecer e depois entrar na Justiça.

Meio ambiente dá voto?

Mario Mantovani - Nunca deu.

Não é um paradoxo? O tema nunca esteve tão na moda. O apelo está por toda parte, virou marketing das grandes corporações, mesmo as que poluem, está nos discursos de todos os partidos, na mídia, nas escolas...

Mario Mantovani - É, mas ainda não dá voto. O que dá voto? Vai para o cara que faz asfalto, o que dá cesta básica. É o de sempre. A população ainda não tem essa visão sobre meio ambiente. São temas universais. É como a reciclagem: todo mundo é a favor, mas só 2% fazem. Ou saneamento. Todos sabem que cano enterrado não dá voto. Hoje o cara diz "eu fiz um posto de saúde, fiz o hospital regional". Aí você pergunta quantos dos internados nesse novo hospital são por doenças de origem hídrica. Dá 70%. Agora, se fizer um metro de cano, tira sete internações. Mas aí ninguém vê. E é tudo muito recente. Muitos desses ruralistas têm razão quando falam. Eles dizem: "30 anos atrás foi o governo que mandou derrubar [a mata], mandou colonizar". Na cidade também é recente. Trinta anos atrás você não tinha uma lei de uso de solo como tem hoje. Agora tem de ter recuo de frente, de lado, calçada, tudo. Não existia antes. Essas coisas serão cada vez mais exigidas, pois estamos vendo que a cidade fica inviável. Então é muito pouco tempo. Qual é a história do Brasil? Depreda, depreda, depreda. A natureza era uma coisa a ser conquistada, a ser incorporada, nunca teve custo. Esgotou a terra? Abre outra, vai abrindo.

No meio político todo mundo se surpreendeu com a filiação da Marina Silva no PSB após o fracasso da criação da Rede a tempo de disputar em 2014. Entre os ambientalistas também houve surpresa?

Mario Mantovani - Também. Eu não esperava. Eu esperava que ela seguisse firme com a história da Rede e não se entusiasmasse com essa eleição de 2014, que é uma bola dividida. Agora, o que acho que deixou a Marina contrariada é que ocorreu uma baita sacanagem, né? Eles já tinham conseguido as assinaturas [para criar o partido]. Você acha que o Partido Ecológico Nacional conseguiu as assinaturas? O Paulinho [da Força, para criação do Solidariedade]? Então acho que foi uma resposta dela a esse tipo de agressão. No meio, tem gente que gostou [da filiação ao PSB] porque acha que tem de ocupar espaço político. Outros não, como eu. E eu não acho que tem de ter um partido só de meio ambiente. Muito melhor é ter o assunto permeado em todos, PMDB, PSDB, PV, PSOL. O PT tinha um grupo muito bom, mas esvaziou. Mas eu não sei se ela terá tanto ganho quanto teve quando concorreu sozinha.

Quem é melhor parlamentar para tratar de meio ambiente em Brasília hoje?

Mario Mantovani - O Zequinha (Sarney Filho, PV). É o cara mais nota dez com quem eu já trabalhei. E vai se ferrar por causa disso, viu? Porque a base eleitoral dele no Maranhão é onde está o agronegócio hoje. E os caras estão jogando pesado contra ele lá. Pesado mesmo, detonando. Ele vai ter muito problema para se reeleger. O Zequinha... Fiz todas as campanhas contra o pai dele... E é uma coisa impressionante, ele é o meu melhor parceiro lá em Brasília. Desde ministro. Antes até. É o cara mais coerente de Brasília. Eu o conheci antes da Constituição. Na Constituição ele nos apoiou, participou daquele primeiro grupo pequeno, que diziam cabia numa Kombi (risos). E foi aquele grupo que escreveu o capítulo do meio ambiente na Constituição. O cara teve uma vida pautada nesse tema. É por isso que foi ministro, já tinha história.
Senadora Kátia Abreu (PMDB-TO)

E no Senado?

Mario Mantovani - Tem gente boa. Você tem o senador de Brasília, o [Rodrigo] Rollemberg (PSB-DF), ele é muito bom. E tinha lá o [Jorge] Viana (PT-AC), né? Mas foi uma das maiores traições que a gente teve, um terror. [Viana foi um dos relatores das mudanças do Código Florestal e, na avaliação dos ambientalistas, atuou em desacordo com os interesses do meio ambiente]

Já acertaram as contas com ele?

Mario Mantovani - Ah, não. Vai ser difícil. Foi terror. Eu mesmo nunca mais falei com ele. E olha que eu converso com todo mundo. Ele traiu. Traiu a Marina até.

E a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO, presidente da CNA), que aparece como porta-voz dos fazendeiros?

Mario Mantovani - Ela é a amiga da presidente, né? Aparecem de mãos dadas. A Kátia é aquela coisa... É o problema pessoal dela. É tudo complicado. Essa mulher tem interesse particular, não é nem interesse corporativo. Eu acho que a bola lá está dividida por lá. Acho que o Roberto Rodrigues, por exemplo, tem uma visão totalmente diferente da dessa mulher. É possível conversar com o Roberto. Com ela, nem pensar, é impossível. E ela tem bala, tem 20 e tantos assessores parlamentares, os melhores jornalistas estão com ela agora, cada dia produzem uma nota. E ela está bem. Bancou o Brasil no Fórum Mundial de Água. Ela tentou colocar aquela tese de que se o Brasil tem APP então todos os países tinham que ter. Nós fomos lá e demos o "Troféu Copo Vazio" para ela (risos). Aí eles ficaram bravos, "quem banca esse estande somos nós". É desse jeito, é ridículo. Então ela está fazendo confronto, não faz diálogo. Todos os posicionamentos dela são agredindo. Muito do que foi o Aldo Rebelo no fim. Aquela conversa "as ONG internacionais", "os que querem impedir o Brasil". Ora, eu não sou ONG internacional.

Fonte: Folha de S. Paulo - Poder - 19/01/2014 - 03h30 - Internet: clique aqui.