«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 30 de março de 2024

Solenidade da Vigília Pascal – Ano B – Homilia

 Evangelho: Marcos 16,1-7 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

A morte não pode interromper a vida

A fé na ressurreição não se baseia num anúncio, mas na experiência do encontro com o Ressuscitado. A morte de Cristo não encerrou a sua missão, pelo contrário.

O evangelista Marcos apresenta dois movimentos diferentes. As mulheres, expoentes do velho mundo, dirigem-se ao túmulo para lamentar o que já não existe. Jesus sai do túmulo e envia para o mundo inteiro. A morte não interrompe a vida do indivíduo, mas projeta-a para horizontes ilimitados

Marcos 16,1: «Quando passou o sábado, Maria Madalena e Maria, a mãe de Tiago, e Salomé, compraram perfumes para ungir o corpo de Jesus.»

O evangelista nomeia as três mulheres que faziam parte do grupo que testemunhou a morte de Jesus (cf. Mc 15,40), e entre estas Maria Madalena, que viu onde Jesus foi colocado (Mc 15,47).

As mulheres, discípulas de Jesus, mostram que ainda estão sob a Lei e observam o seu mandamento mais importante, o sábado. A comunidade ainda não compreendeu a novidade trazida por Jesus e permanece na antiga aliança. Embora a primeira ação de Jesus tenha sido precisamente a transgressão do sábado para curar uma mulher (cf. Mc 1,29-31).

Se as mulheres não tivessem observado o sábado, teriam descoberto que Cristo já havia ressuscitado! Durante três dias, havia o costume de se visitar a pessoa falecida. A partir do quarto dia, a morte era considerada definitiva. A ação das mulheres é homenagear um homem desonrado, normalmente o cadáver era lavado com água e ungido com óleo. A unção com especiarias estava reservada aos reis (cf. 2Cr 16,14).

Mas a ação das mulheres é inútil, pois Jesus já foi ungido para a sua sepultura em Betânia, por uma mulher anônima: “ungiu o meu corpo para a sepultura”, Mc 14,8). Exceto que, em Betânia, uma pessoa viva foi ungida, agora se quer ungir um morto. O perfume de Betânia pretendia nos lembrar que a vida (perfume) é mais forte que a morte (fedor). A mulher de Betânia não precisava comprar os aromas, eles eram dela, símbolo do seu amor. 

Marcos 16,2: «E bem cedo, no primeiro dia [dia um] da semana, ao nascer do sol, elas foram ao túmulo.»

Ao invés de escrever, como deveria, o “primeiro dia da semana” (verifique: “No primeiro dia da festa dos Pães sem fermento”, Mc 14,12), o evangelista não usa o número ordinário (primeiro), mas o número cardinal, um, querendo referir-se à história da criação: “E houve tarde e houve manhã: dia um” (Gn 1,5). Assim começa a nova criação com Jesus, onde a vida já não termina com a morte, mas continua para sempre. A transição do antigo para o novo é retratada entre a oposição do muito cedo, quando ainda está escuro, e assim que o sol nasce, quando a luz começa a brilhar. Chegou o dia do Senhor anunciado pelos profetas, o dia em que a luz dissipará definitivamente as trevas (cf. Zc 14,6-7). A este “dia um” não segue outra datação: é o dia definitivo que nunca terá o seu pôr-do-sol.

O evangelista usa a expressão “ao nascer do sol” apenas duas vezes em seu evangelho. Aqui, e na parábola dos quatro solos, onde indica que a semente caiu entre as pedras, onde não havia muita terra, e brotou, mas “quando surgiu o sol, a semente queimou-se e secou” (Mc 4,6). Agora, com esta recordação, o evangelista adverte que desta vez também acontecerá o mesmo: a mensagem não dará frutos porque, como explicou Jesus: “Os que estão no terreno pedregoso são os que, ao escutarem a palavra, imediatamente a recebem com alegria, mas não têm raiz em si mesmos, são instáveis. Quando vem a tribulação ou a perseguição, por causa da palavra, logo ficam escandalizados” (Mc 4,16-17). 

Marcos 16,3-4: «E diziam entre si: “Quem rolará para nós a pedra da entrada do túmulo?” Era uma pedra muito grande. Mas, quando olharam, viram que a pedra já tinha sido retirada.»

A luz do novo mundo ainda não ilumina as mulheres. A pedra colocada na entrada do túmulo separa definitivamente o mundo dos vivos do dos mortos (recorde-se a expressão: “colocar uma pedra em cima”), indicando a morte como condição definitiva. Mas a luz do novo dia finalmente ilumina as mulheres e elas percebem que a pedra não fechou o túmulo. Enquanto pensavam em suas próprias preocupações, estavam preocupadas e angustiadas: “era uma pedra muito grande”. Quando começaram a olhar para cima, ou seja, a não olhar mais para si mesmas, mas a ampliar o horizonte, perceberam que o motivo da preocupação delas era inexistente: a pedra não fechava o túmulo! A pedra, por maior que fosse, não poderia impedir que o poder da vida se manifestasse. A morte não é uma condição definitiva e não interrompe a vida.

O verbo grego anablepso significa ver e tornar a ver novamente (“Senhor, que eu veja!”, Mc 10,51.52); “Senhor, que eu recupe a visão!” (Lucas 18,41).

Mas as mulheres observam (grego: theoreô), verbo que indica a capacidade de compreender o significado profundo daquilo que se olha e ainda não se vê. Depois dos numerosos anúncios de Jesus sobre a sua paixão, morte e ressurreição (Mc 8,31; 9, 31; 10,33-34), o túmulo deveria estar sempre aberto para os seus discípulos. A morte para eles não deveria significar a cessação da vida. 

Marcos 16,5: «Entraram, então, no túmulo e viram um jovem, sentado do lado direito, vestido de branco. [E ficaram muito assustadas.]»

As mulheres entram no túmulo, o reino da morte, mas em vez de um cadáver encontram uma pessoa viva! As mulheres não “observam” mais, mas finalmente “veem” (grego: oraô), verbo que indica uma experiência profunda. Com efeito, veem um jovem, termo que aparece em Marcos apenas no momento da captura de Jesus (Mc 14,51), e que indica um indivíduo no auge da vida, uma figura da vida no seu máximo esplendor.

Este jovem está sentado à direita, mas ninguém diz do quê. A referência do evangelista é à declaração feita por Jesus ao sumo sacerdote: “Vereis o Filho do homem sentado à direita do Poderoso, vindo com as nuvens do céu” (Mc 14,62). Esta afirmação confirmou a sua condição divina através da citação do Salmo 110,1 em que Deus se dirige ao Messias dizendo: “Senta-te à minha direita”.

Por fim, a última indicação do jovem é que está coberto com uma túnica/manto branco, cor da glória divina que alude às vestes muito brancas da transfiguração (Mc 9,3) e do ressuscitado (Ap 6,11; 7,9) e ao jovem que fugiu nu no momento da sua prisão. Ele também estava coberto com um lençol. O evangelista usa o verbo vestir (grego: periballô) apenas duas vezes: no momento da captura de Jesus e nesta passagem. Todos estes traços fazem do jovem a figura de Jesus na sua condição gloriosa: aquele que deu a vida na cruz continua vivo e goza da plena condição divina.

A reação das mulheres diante deste jovem/Jesus é de assombro/choque. O evangelista utiliza o verbo grego ekthambeomai, usado apenas por Marcos no Novo Testamento (Mc 9,15; 14,33; 16,5.6), que indica espanto, choque. Aquelas que foram testemunhas da morte de Cristo, encontram-no, agora, não apenas vivo, mas na sua condição divina. 

Marcos 16,6: «Mas o jovem lhes disse: “Não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou. Não está aqui. Vede o lugar onde o puseram.»

É o jovem quem deve intervir, e fá-lo de forma imperativa, indicando assim a autoridade que detém. Elas não devem ficar surpresas, chocadas ou mesmo com medo. Quem elas estavam procurando? O verbo “procurar” em Marcos é sempre usado para indicar erro ou más intenções.

As mulheres se enganaram, tentavam encontrar o cadáver do Nazareno, sobrenome que indicava a origem de Jesus da região dos nacionalistas fanáticos (Mc 1,24; 10,47) que apareceu pela última vez na boca do servo que questionou Pedro na casa do sumo sacerdote: “Tu também estavas com o nazareno, com Jesus!” (Mc 14,67). Elas queriam honrar o messias morto com os seus aromas e enterrar para sempre os sonhos de restaurar a monarquia do rei Davi. Procuravam o homem crucificado, o homem rejeitado pelo seu próprio povo e executado como alguém amaldiçoado por Deus (cf. Dt 21,23). Foi isto o que aconteceu com o Nazareno: a cruz.

É o mesmo jovem que responde à pergunta que fez às mulheres: aquele que foi executado como blasfemador pelas autoridades judaicas e condenado à cruz como rebelde por Pilatos, aquele que as mulheres hoje consideram uma figura do passado (o Nazareno), bem, ele ressuscitou. A sua homenagem (aromas) é completamente inútil: Jesus não está no túmulo. O local da morte não pode conter o Vivo. Não teria ele dito que Deus “não é Deus dos mortos, mas dos vivos” (Mc 12,27)? Deus não ressuscita os mortos, mas concede a sua própria vida aos vivos, uma vida que não é interrompida pela morte!

Marcos 16,7: «Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele irá à vossa frente, na Galileia. Lá vós o vereis, como ele mesmo tinha dito.”»

O túmulo de Jesus não é lugar para os seus discípulos, e o jovem as expulsa do túmulo com uma ordem imperativa: “Ide”. Agora que fizeram a experiência de que Jesus está vivo, não podem mais ficar no túmulo, mas ir para os vivos. O jovem instrui as mulheres a irem até os “discípulos e Pedro”. Mas não as instrui a anunciar o que viram: a fé na ressurreição não se baseia num anúncio ou numa proclamação, mas na experiência do encontro com Jesus ressuscitado. A tarefa é dirigida aos seus discípulos, que todos o abandonaram (“todos o abandonaram e fugiram”, Mc 14,50), e a Pedro, que o negou.

Pedro, o traidor, não faz parte dos discípulos de Jesus, pois negou completamente ser seu seguidor (Mc 14,66-72).

Os discípulos abandonaram o seu mestre, Pedro negou-o, mas Jesus não abandona os seus seguidores nem os nega. Jesus é o amor que pode ser abandonado, mas nunca abandona, o amor que pode ser traído, mas jamais trairá.

E o jovem pede aos discípulos e a Pedro para irem à Galileia, confirmando as palavras que Jesus tinha dito aos discípulos depois do anúncio da sua traição: “Depois da minha ressurreição irei adiante de vós para a Galileia” (Mc 14,28), mas acrescentando um novo detalhe: “Lá vós o vereis”. O uso do verbo oraô no futuro refere-se sempre às aparições de personagens ou realidades pertencentes à esfera divina ou dela procedentes (Mc 14,62).

Os discípulos devem ascender à Galileia, abandonando Jerusalém, a cidade santa, sede da instituição religiosa judaica. Na Galileia, no norte, numa terra semipagã, onde Jesus expôs a sua mensagem, devem seguir o seu itinerário, abrindo-se à sua mensagem universal.

A morte de Jesus não encerrou a sua missão, pelo contrário. Jesus começou a sua atividade na Galileia e, agora, os discípulos devem começar a sua no mesmo lugar. Até agora, eles o acompanharam, doravante, devem segui-lo. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá.»

(João 11,25-26)

Como podemos ter certeza que Jesus, o Nazareno, de fato, ressuscitou? A nossa fé na ressurreição encontra algum outro fundamento além da própria fé? Isso não seria, apenas, uma crença para preencher o vazio e a falta de sentido que os seres humanos sentem para a sua existência nesta terra? Os seguidores de Jesus não teriam, de fato, retirado o corpo da sepultura, escondendo-o e disseminado a falsa notícia (fake news) de que ressuscitara? 

A primeira distinção que devemos fazer é entre ressuscitar e reviver. Reviver é quando a pessoa volta a esta vida que temos, aqui, na terra. Quem revive retorna ao espaço e tempo, ou seja, às dimensões da história. Este foi o caso de Lázaro, amigo de Jesus (cf. Jo 11,1-46). Ressuscitar é superar o espaço e tempo, coordenadas sob as quais vive todo e qualquer ser vivo neste mundo. Ressuscitar é, portanto, transcender as dimensões da história, é ir além dela. Este foi o caso de Jesus e, acreditamos, será o nosso também. Contudo, tudo isso que foi dito depende de um ato de fé. E fé é um ato de liberdade, ninguém pode ser forçado a crer! Fé fundamenta-se em uma decisão livre: eu decido responder a esse Deus que se encarnou na pessoa de Jesus de Nazaré, me comprometendo a viver como ele me propõe, isto é, no amor, na justiça, na verdade, na misericórdia. Fé é a minha resposta positiva ao apelo de Deus mediante seu Filho Jesus. 

Agora, quer dizer que não há nada em que possamos sustentar a nossa fé na ressurreição de Jesus, o Filho de Deus encarnado? Ressurreição é, apenas e tão somente, uma fonte de esperança para esta vida sem sentido? Afinal, Paulo, não sem razão, formula claramente que, “se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, e vã a nossa fé” (1Cor 15,14). Não, há algo no qual podemos, senão ter absoluta certeza, mas, ao menos, nos alicerçar. Esse argumento pode ser denominado de “prova sociológica da ressurreição”. 

Ele se fundamenta no modo como foi o final da vida de Jesus:

* Jesus foi condenado ao mais vexatório e infame suplício daquele tempo: a crucifixão. Sinal de fracasso, vergonha e exclusão!

* Algo tão humilhante, que o Antigo Testamento afirma que “o que foi pendurado é uma maldição de Deus” (Dt 21,23).

* Portanto, ninguém tinha vontade e, muito menos, prazer de falar sobre este final de Jesus! Era um assunto tabu, um assunto evitado!

* Não por acaso, houve uma dispersão grande de seus discípulos (cf. Mc 14,50; Jo 16,32). Jesus, praticamente, ficou só após a sua prisão, julgamento, condenação e execução da sentença: a crucifixão. 

Então as pessoas voltaram a falar de Jesus porque, “depois da sua crucificação, depois da sua morte na cruz, aconteceu algo que era tão chocante, tão novo, tão absolutamente impressionante, que era possível voltar a falar dele. Não por causa da cruz, mas apesar da cruz” (Renold Blank). E o que foi esse fato, o que foi esse fator que, praticamente, “obrigou” as pessoas a falarem novamente de Jesus? Foi o testemunho das pessoas afirmando que ele tinha voltado à vida, que Deus o havia ressuscitado! De um ressuscitado se podia falar, contar a vida e divulgar a sua mensagem. Com isso, o sinal vergonhoso da cruz se transformou em sinal dos seguidores do Ressuscitado! Essa é a “prova sociológica ou social”:

«Dessa maneira, o fato de esses seguidores existirem hoje é a maior prova daquilo em que fundamentam a sua fé: a ressurreição» (Renold Blank).


 Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Cantai, cristãos, afinal: “Salve, ó vítima pascal!” Cordeiro inocente, o Cristo abriu-nos do Pai o aprisco. Por toda ovelha imolado, do mundo lava o pecado. Duelam forte e mais forte: é a vida que enfrenta a morte. O rei da vida, cativo, é morto, mas reina vivo! Responde, pois, ó Maria: no teu caminho o que havia? “Vi Cristo ressuscitado, o túmulo abandonado. Os anjos da cor do sol, dobrado ao chão o lençol... O Cristo, que leva aos céus, caminha à frente dos seus!” Ressuscitou de verdade. Ó Rei, ó Cristo, piedade!»

(Fonte: Sequência pascal – Missa do dia de Páscoa)

Fonte: Anotações do próprio autor – Acesso em: 25/03/2023.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Paixão do Senhor – Sexta-feira Santa – Homilia

 Evangelho: João 18,1―19,42 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Cristo não morre, mas entrega o Espírito, a força vital do amor

O risco que corremos nessas ocasiões é o de nos emocionarmos, indignarmos e nos alegrarmos com acontecimentos bem datados no tempo e que nos provocam reações emocionais, mas com os quais temos o cuidado de não nos identificar. Afinal, o que tem a ver conosco um traidor como Judas ou um covarde como Pedro? Nós NUNCA teríamos traído Jesus! E o que dizer, então, dos discípulos tão orgulhosos quanto covardes... e aquele Pilatos oportunista?

Vejamos, portanto, os protagonistas da paixão, personagens representativos nos quais cada um de nós pode ver-se representado, e as diferentes respostas dos seres humanos ao anúncio do amor de Deus manifestado em Jesus. 

Firmemente amarrado, Jesus é o único homem livre em toda a história da paixão. Ele é livre porque é movido exclusivamente pelo amor, e o amor nos torna livres. Fiel ao seu compromisso de comunicar o amor, ele passa incólume por este ambiente saturado de ódio que, em vez de o limitar, aumenta a sua capacidade de amar, que o leva ao dom do seu espírito (cf. Jo 19,30). 

João 18,1-18: «Naquele tempo, 1Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Havia aí um jardim, onde ele entrou com os discípulos. 2Também Judas, o traidor, conhecia o lugar, porque Jesus costumava reunir-se aí com os seus discípulos. 3Judas levou consigo um destacamento de soldados e alguns guardas dos sumos sacerdotes e fariseus, e chegou ali com lanternas, tochas e armas. 4Então Jesus, consciente de tudo o que ia acontecer, saiu ao encontro deles e disse: “A quem procurais?” 5Responderam: “A Jesus, o Nazareno”. Ele disse: “Sou eu”. Judas, o traidor, estava junto com eles. 6Quando Jesus disse: “Sou eu”, eles recuaram e caíram por terra. 7De novo lhes perguntou: “A quem procurais?” Eles responderam: “A Jesus, o Nazareno”. 8Jesus respondeu: “Já vos disse que sou eu. Se é a mim que procurais, então deixai que estes se retirem”. 9Assim se realizava a palavra que Jesus tinha dito: “Não perdi nenhum daqueles que me confiaste”. 10Simão Pedro, que trazia uma espada consigo, puxou dela e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O nome do servo era Malco. 11Então Jesus disse a Pedro: “Guarda a tua espada na bainha. Não vou beber o cálice que o Pai me deu?” 12 Então, os soldados, o comandante e os guardas dos judeus prenderam Jesus e o amarraram. 13Conduziram-no primeiro a Anás, que era o sogro de Caifás, o Sumo Sacerdote naquele ano. 14Foi Caifás que deu aos judeus o conselho: “É preferível que um só morra pelo povo”. 15Simão Pedro e um outro discípulo seguiam Jesus. Esse discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e entrou com Jesus no pátio do Sumo Sacerdote. 16Pedro ficou fora, perto da porta. Então o outro discípulo, que era conhecido do Sumo Sacerdote, saiu, conversou com a encarregada da porta e levou Pedro para dentro. 17A criada que guardava a porta disse a Pedro: “Não pertences também tu aos discípulos desse homem?” Ele respondeu: “Não!” 18Os empregados e os guardas fizeram uma fogueira e estavam-se aquecendo, pois fazia frio. Pedro ficou com eles, aquecendo-se. 19Entretanto, o Sumo Sacerdote interrogou Jesus a respeito de seus discípulos e de seu ensinamento. 20Jesus lhe respondeu: “Eu falei às claras ao mundo. Ensinei sempre na sinagoga e no Templo, onde todos os judeus se reúnem. Nada falei às escondidas. 21Por que me interrogas? Pergunta aos que ouviram o que falei; eles sabem o que eu disse”. 22Quando Jesus falou isso, um dos guardas que ali estava deu-lhe uma bofetada, dizendo: “É assim que respondes ao Sumo Sacerdote?” 23Respondeu-lhe Jesus: “Se respondi mal, mostra em quê; mas, se falei bem, por que me bates?” 24Então, Anás enviou Jesus amarrado para Caifás, o Sumo Sacerdote. 25Simão Pedro continuava lá, em pé, aquecendo-se. Disseram-lhe: “Não és tu, também, um dos discípulos dele?” Pedro negou: “Não!” 26Então um dos empregados do Sumo Sacerdote, parente daquele a quem Pedro tinha cortado a orelha, disse: “Será que não te vi no jardim com ele?” 27Novamente Pedro negou. E na mesma hora, o galo cantou.»

Pedro o seguiu de longe. E ele acaba traindo a Jesus. Jesus não pode ser seguido a partir de uma certa distância de segurança que garanta a nossa proteção em caso de acidente! Ou nos arriscamos com ele ou o negamos!

A distância de Jesus significa proximidade daqueles que o capturaram. Pedro era um discípulo e, agora, está com os inimigos do mestre. Até o ponto de negar ser seu discípulo: “Não, não sou!”. Pedro não sabe mais o que é, perdeu a identidade. O entusiasmo de seguir Jesus transforma-se em desmoralização e abandono quando a lealdade ao Senhor provoca perseguições. 

João 18,28―19,24: «28De Caifás, levaram Jesus ao palácio do governador. Era de manhã cedo. Eles mesmos não entraram no palácio, para não ficarem impuros e poderem comer a páscoa. 29Então Pilatos saiu ao encontro deles e disse: “Que acusação apresentais contra este homem?” 30Eles responderam: “Se não fosse malfeitor, não o teríamos entregue a ti!” 31Pilatos disse: “Tomai-o vós mesmos e julgai-o de acordo com a vossa lei”. Os judeus lhe responderam: “Nós não podemos condenar ninguém à morte”. 32Assim se realizava o que Jesus tinha dito, significando de que morte havia de morrer. 33Então Pilatos entrou de novo no palácio, chamou Jesus e perguntou-lhe: “Tu és o rei dos judeus?” 34Jesus respondeu: “Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim?” 35Pilatos falou: “Por acaso, sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?” 36Jesus respondeu: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”. 37Pilatos disse a Jesus: “Então tu és rei?” Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. 38Pilatos disse a Jesus: “O que é a verdade?” Ao dizer isso, Pilatos saiu ao encontro dos judeus, e disse-lhes: “Eu não encontro nenhuma culpa nele. 39Mas existe entre vós um costume, que pela Páscoa eu vos solte um preso. Quereis que vos solte o rei dos Judeus?” 40Então, começaram a gritar de novo: “Este não, mas Barrabás!” Barrabás era um bandido. 19,1Então Pilatos mandou flagelar Jesus. 2Os soldados teceram uma coroa de espinhos e colocaram-na na cabeça de Jesus. Vestiram-no com um manto vermelho, 3aproximavam-se dele e diziam: “Viva o rei dos judeus!” E davam-lhe bofetadas. 4Pilatos saiu de novo e disse aos judeus: “Olhai, eu o trago aqui fora, diante de vós, para que saibais que não encontro nele crime algum”. 5Então Jesus veio para fora, trazendo a coroa de espinhos e o manto vermelho. Pilatos disse-lhes: “Eis o homem!” 6Quando viram Jesus, os Sumos Sacerdotes e os guardas começaram a gritar: “Crucifica-o! Crucifica-o!” Pilatos respondeu: “Levai-o vós mesmos para o crucificar, pois eu não encontro nele crime algum”. 7Os judeus responderam: “Nós temos uma Lei, e, segundo esta Lei, ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus”. 8Ao ouvir estas palavras, Pilatos ficou com mais medo ainda. 9Entrou outra vez no palácio e perguntou a Jesus: “De onde és tu?” Jesus ficou calado. 10Então Pilatos disse: “Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar?” 11Jesus respondeu: “Tu não terias autoridade alguma sobre mim, se ela não te fosse dada do alto. Quem me entregou a ti, portanto, tem culpa maior”. 12Por causa disso, Pilatos procurava soltar Jesus. Mas os judeus gritavam: “Se soltas este homem, não és amigo de César. Todo aquele que se faz rei, declara-se contra César”. 13Ouvindo estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado “Pavimento”, em hebraico “Gábata”. 14Era o dia da preparação da Páscoa, por volta do meio-dia. Pilatos disse aos judeus: “Eis o vosso rei!” 15Eles, porém, gritavam: “Fora! Fora! Crucifica-o!” Pilatos disse: “Hei de crucificar o vosso rei?” Os sumos sacerdotes responderam: “Não temos outro rei senão César”. 16Então Pilatos entregou Jesus para ser crucificado, e eles o levaram. 17Jesus tomou a cruz sobre si e saiu para o lugar chamado “Calvário”, em hebraico “Gólgota”. 18Ali o crucificaram, com outros dois: um de cada lado, e Jesus no meio. 19Pilatos mandou ainda escrever um letreiro e colocá-lo na cruz; nele estava escrito: “Jesus o Nazareno, o Rei dos Judeus”. 20Muitos judeus puderam ver o letreiro, porque o lugar em que Jesus foi crucificado ficava perto da cidade. O letreiro estava escrito em hebraico, latim e grego. 21Então os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: “Não escrevas ‘O Rei dos Judeus’, mas sim o que ele disse: ‘Eu sou o Rei dos judeus’”. 22Pilatos respondeu: “O que escrevi, está escrito”. 23Depois que crucificaram Jesus, os soldados repartiram a sua roupa em quatro partes, uma parte para cada soldado. Quanto à túnica, esta era tecida sem costura, em peça única de alto a baixo. 24Disseram então entre si: “Não vamos dividir a túnica. Tiremos a sorte para ver de quem será”. Assim se cumpria a Escritura que diz: “Repartiram entre si as minhas vestes e lançaram sorte sobre a minha túnica”. Assim procederam os soldados.»

Para condenar Jesus, os sumos sacerdotes não hesitam em negar o seu Deus: “Não temos outro rei senão César!” (Jo 19,15). Os sumos sacerdotes estão dispostos a fazer qualquer coisa para manter o poder, até mesmo trair a Deus, o único Senhor de Israel. Eles preferem continuar a ser dominados pelos romanos, mas poder dominar o povo por sua vez, em vez de aceitarem o Messias libertador e perderem o poder. Eles negam a Deus e traem o povo que Jesus, o Messias, veio libertar.

Pilatos quer libertar Jesus?

Contudo, os líderes religiosos judeus têm algumas cartas na manga, aqui estão elas:

1ª) E já prepararam o pedido de libertação de Barrabás. É verdade que Barrabás é um bandido (Jo 18,40), e Jesus um homem inocente, mas para os líderes, denunciados por Jesus como “ladrões e bandidos” (Jo 10,1.8), o Filho de Deus é mais perigoso que um criminoso. Pilatos, então, pensa que uma lição severa será suficiente para apaziguar a ira das autoridades e manda açoitar Jesus. Ele é submetido ao castigo com que o condenado era esfolado vivo, e muitas vezes morria sob os golpes (cf. 2Mc 3,38). Os soldados, então, se deixam levar e descarregam toda a sua frustração e agressividade sobre o condenado indefeso, dando-lhe tapas e colocando-lhe uma coroa de espinhos na cabeça (cf. Jo 19,2). Mas isso não adiantou de nada: “Quando os sumos sacerdotes e os guardas o viram, gritaram, dizendo: ‘Crucifica! Crucifica!’” (Jo 19,6). O perigo não é o rei dos judeus, nem o Messias, mas o homem. É a visão dele que os líderes, “inimigos de todos os homens” (1Ts 2,15), não toleram. Jesus é o Verbo de Deus que se fez homem (Jo 1,14), plena realização do plano do Criador para a humanidade: um homem com a condição divina (Jo 1,1). Mas isto é intolerável para as autoridades religiosas, que veem na manifestação do plano de Deus uma ameaça ao seu poder e à sua própria existência: se Deus se funde com o homem, já não há lugar para eles, razão pela qual não podem tolerar a visão do “homem”.

2º) Os líderes não desistem e tiram a segunda carta, a acusação religiosa: “Temos uma Lei e segundo esta Lei ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus” (Jo 19,7). Pilatos certamente não se interessa pelas leis religiosas, mas há o fato de que “ele se fez Filho de Deus” que o preocupa (“teve ainda mais medo”, Jo 19,8). E se ele realmente se deparasse com um ser divino? Bastaria que Jesus respondesse a Pilatos como respondeu a Nicodemos: “Deus não enviou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3,17), e ele confirmaria sua condição divina. Mas Jesus permanece em silêncio. Pilatos deve julgar um homem, um homem simples e não uma divindade.

3º) As autoridades conhecem os seus pares e deixaram para o final a carta vencedora, aquela à qual, sabem, ninguém resiste: a carreira!Se soltas este homem, não és amigo de César. Todo aquele que se faz rei, declara-se contra César” (Jo 19,12). “Amigo de César” era um título honorífico concedido pelo imperador a alguns amigos íntimos. Pilatos conseguira, através do seu conhecimento, obtê-lo, e este título era a única esperança que lhe restava de abandonar aquela terra desolada que era a Judeia e retornar à esplêndida Roma imperial. Agora, tudo isso está em perigo, e por causa daquele estranho Galileu. O que sacrificar? Sua carreira ou um inocente? Não há dúvidas. Aqueles que sacrificaram tudo pela sua carreira e sucesso não hesitarão em sacrificar um inocente. Pilatos, como todo homem de poder, age com base na conveniência e no interesse, e não no que é bom e certo.

Jesus, apresentado como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, veio batizar no Espírito Santo para eliminar o pecado do mundo (cf. Jo 1,29-34).

Os representantes do pecado pedem que Jesus seja eliminado: são as trevas que não suportam a visão da luz que lhes são detestáveis: “todo aquele que pratica o mal odeia a luz” (Jo 3,20). Eles preferem o domínio do Império Romano ao seu rei, o portador da paz e da liberdade! 

João 19,25-27: «25Perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. 26Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, este é o teu filho”. 27Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe”. Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo.»

Maria junto à cruz não é apresentada como uma mãe esmagada pela dor, mas como a discípula corajosa que escolheu seguir o mestre arriscando a própria vida. Próximo à cruz, não está apenas uma mãe que sofre pelo filho, mas a mulher que sofre com o homem das dores. Maria coloca-se ao lado do condenado, ficando assim, para sempre, ao lado dos oprimidos e desprezados.

E aquela que soube carregar a cruz, desafiando julgamentos e preconceitos e seguindo os condenados até ao cadafalso, agora não chora um morto, mas continua a seguir o Vivo (Ap 1,17). A mãe não olha para o túmulo, mas para a vida

João 19,28-42: «28Depois disso, Jesus, sabendo que tudo estava consumado, e para que a Escritura se cumprisse até o fim, disse: “Tenho sede”. 29Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram numa vara uma esponja embebida de vinagre e levaram-na à boca de Jesus. 30Ele tomou o vinagre e disse: “Tudo está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. 31Era o dia da preparação para a Páscoa. Os judeus queriam evitar que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque aquele sábado era dia de festa solene. Então pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas aos crucificados e os tirasse da cruz. 32Os soldados foram e quebraram as pernas de um e, depois, do outro que foram crucificados com Jesus. 33Ao se aproximarem de Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas; 34mas um soldado abriu-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. 35Aquele que viu, dá testemunho e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que fala a verdade, para que vós também acrediteis. 36Isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: “Não quebrarão nenhum dos seus ossos”. 37E outra Escritura ainda diz: “Olharão para aquele que transpassaram”. 38Depois disso, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus ― mas às escondidas, por medo dos judeus ― pediu a Pilatos para tirar o corpo de Jesus. Pilatos consentiu. Então José veio tirar o corpo de Jesus. 39Chegou também Nicodemos, o mesmo que antes tinha ido de noite encontrar-se com Jesus. Levou uns trinta quilos de perfume feito de mirra e aloés. 40Então tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no, com os aromas, em faixas de linho, como os judeus costumam sepultar. 41No lugar onde Jesus foi crucificado, havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. 42Por causa da preparação da Páscoa, e como o túmulo estava perto, foi ali que colocaram Jesus.»

Os últimos momentos da vida de Cristo são descritos em todos os aspectos pelo evangelista. Quanto mais as trevas se avolumam sobre Jesus e parecem envolvê-lo, mais emana de Cristo uma luz, a do amor, que dissipa as trevas (Jo 1,5), uma luz que se torna insuportável para quem habita nas trevas.

Mas a luz do amor continua a difundir-se através de Jesus e a oferecer-se até aos seus algozes. Pregado no cadafalso, já moribundo, Jesus pede para beber: “Tenho sede” (Jo 19,28). Jesus também pediu água à mulher samaritana. Na verdade, foi um pedido de aceitação, de disponibilidade para que ele pudesse, então, oferecer-lhe a “água que jorra para a vida eterna” (Jo 4,14).

Agora, na cruz, Jesus moribundo pede um mínimo gesto de misericórdia, um sinal de compaixão que lhe permita romper os seus corações endurecidos. Mas os seus assassinos não têm amor, o que possuem é apenas “um vaso cheio de vinagre”, uma imagem de ódio (“Puseram veneno na minha comida e quando tive sede deram-me vinagre”, Sl 69,22), e é com vinagre que atendem ao pedido de Jesus e Jesus bebe tudo.

E, inclinando a cabeça, entregou o Espírito” (Jo 19,30). Cristo não morre, mas entrega o Espírito, a força vital do amor. A morte não interrompe a vida, mas permite-lhe florescer numa forma nova, plena e definitiva. Alguns notarão.

Jesus era, verdadeiramente, um perigo para as instituições, até mesmo um membro respeitável do Sinédrio, como José (Mc 15,32), e um dos líderes, como o fariseu Nicodemos, ficaram fascinados por Cristo! E não foram os únicos, de fato: “mesmo entre os líderes, muitos acreditaram nele, mas por causa dos fariseus não o declaravam, para não serem expulsos da sinagoga” (Jo 12,42).

Então tomaram o corpo de Jesus…” (Jo 19,40). Este é o primeiro fruto da morte de Jesus: a transgressão da Lei por parte de José e Nicodemos. Na verdade, ao tomarem o corpo de Jesus, ficarão impuros durante sete dias, conforme prescrito no Livro dos Números e não poderão celebrar a festa da Páscoa (cf. Nm 19,11).

Jesus não morreu pelos nossos pecados, e muito menos por ser essa a vontade de Deus, mas pela ganância da instituição religiosa, capaz de eliminar qualquer um que interfirisse em seus interesses, até mesmo o Filho de Deus: “Este é o herdeiro: vamos! Matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança” (Mt 21,38). O verdadeiro inimigo de Deus não é o pecado, que o Senhor em sua misericórdia sempre consegue apagar, mas o interesse, a conveniência e a cobiça que tornam os homens completamente refratários à ação divina. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Ó Sabedoria Eterna, ó Bondade Infinita, Verdade Inefável, perscrutador dos corações, Deus Eterno, dá-nos a entender, tu que podes, sabes e queres! Ó Cordeiro amoroso e suador, Cristo crucificado, cumpra-se em nós o que disseste: “Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). Ó luz indefectível, da qual procedem todas as luzes! Ó luz, pela qual a luz foi feita, sem a qual todas as coisas são trevas, com a qual todas as coisas são luz. Ilumina, ilumina, ilumina! E deixas a tua vontade penetrar em todos os autores e colaboradores que elegeste nesta obra de renovação. Jesus, Jesus amor, Jesus, transforma-nos e conforma-nos contigo. Sabedoria Incriada, Palavra Eterna, doce Verdade, Amor tranquilo, Jesus, Jesus Amor!»

(Fonte: Santa Maria Madalena de Pazzi, O.Carm., La renovatione della Chiesa, 90-91)

Fonte: Anotações do próprio autor – Acesso em: 28/03/2023.

quinta-feira, 28 de março de 2024

Missa da Ceia do Senhor – Quinta-feira Santa – Homilia

 Evangelho: João 13,1-15 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

"Jesus lava os pés de Pedro" - Afresco de GIOTTO - Capela Scrovegni - Pádua (Itália)

Deus não está onde o poder é exercido, mas o serviço!

Denominamos Tríduo Pascal, do latim Triduum Paschale, o conjunto das três celebrações que marcam três acontecimentos fundamentais para o cristianismo. Trata-se da:

* Instituição da Eucaristia e do serviço aos irmãos(ãs) como síntese do ministério do cristão, simbolizado pelo lava-pés: Missa da Ceia do Senhor, na quinta-feira santa à noite.

* A contemplação da entrega total do Filho de Deus à humanidade, mediante a sua morte de cruz, às 15 horas, na sexta-feira santa: Celebração da Adoração da Cruz.

* A vida vence a morte violenta e o pecado humano, Jesus, o Nazareno, ressuscita dos mortos: Vigília Pascal, na noite de sábado santo.

Portanto, hoje, quinta-feira santa, inicia-se esse percurso que nos conduz à Páscoa, à libertação definitiva. 

João 13,1: «Era antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.»

Com esta solene introdução, João permite-nos prever que importantes discursos ou ações importantes serão realizadas por Jesus em seu último encontro com os discípulos. A expectativa é reforçada pela forma como o evangelista anuncia que o amor com que Jesus amou os seus discípulos atingirá a sua expressão máxima: “amou-os até o fim”. Com isso o evangelista repete o que está escrito no livro do Deuteronômio, “quando Moisés tinha terminado de escrever as palavras da Lei num livro até o fim” (Dt 31,24 ― versão grega: LXX). João faz-nos compreender que uma nova aliança está para ser proclamada, onde não um livro, mas um homem é a Palavra de Deus (cf. Jo 1,14), onde não a Lei, mas o amor será a norma de comportamento na comunidade de Jesus (cf. Jo 1,17; 13,34). 

João 13,2: «Estavam tomando a ceia. O diabo já tinha posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de entregar Jesus.»

Mas esta atmosfera solene é arruinada por um hóspede que não foi convidado: o diabo. O jantar que o evangelista descreve não é o jantar pascal (realiza-se antes da festa da Páscoa), e não aparece nenhum elemento do jantar ritual judaico, mas é a Eucaristia, a ceia do Senhor (1Cor 11,20). Neste clima, que deveria ser de acolhimento e de doação, de amor recebido e de amor comunicado, a presença do diabo lança sobre os presentes uma sombra de morte. O diabo já tinha sido apresentado, no Evangelho, como sendo o pai das autoridades religiosas (cf. Jo 8,44). Em Judas, um dos discípulos de Cristo, o diabo encontrou um aliado precioso. O que não chega a ser novidade!

Quando, em Cafarnaum, uma boa parte de seus discípulos o abandonou (cf. Jo 6,66), Jesus permaneceu com um pequeno grupo e disse que um deles, Judas, era um diabo (cf. Jo 6,64.70-71). Ele é apresentado, também, como ladrão e mentiroso (cf. Jo 12,6), tal como os líderes do povo, Judas, assim como eles, não vem “a não ser para roubar e matar” (Jo 10,1.8.10). 

João 13,3-5: «Jesus, sabendo que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos e que de Deus tinha saído e para Deus voltava, levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido.»

A atmosfera é cheia de suspense. Jesus sabe (cf. Jo 13,3). O que ele vai fazer? Ele enfrentará o discípulo traidor? Ninguém compreende as intenções de Jesus, que num determinado momento interrompe o jantar, “levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura” (Jo 13,4).

Ninguém lhe pergunta o que ele pretende fazer. Nem sequer seus discípulos têm tempo porque Jesus, depois de deitar água em uma bacia, “começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido” (Jo 13,5). O que é esta novidade?

Lavar os pés do hóspede era uma tarefa repugnante, reservada a indivíduos considerados inferiores aos seus superiores: o escravo não-judeu para com o senhor, a mulher para com o marido (cf. 1Sm 25,41), os filhos para com o pai e os discípulos para com o mestre. E, em todo o caso, fazia-se sempre antes de sentar-se à mesa (cf. Lc 7,44; Gn 18,4) e não durante o jantar, como neste caso.

Aos discípulos que pretendiam fazer dele seu rei (cf. Jo 6,15), Jesus responde tornando-se seu servo, demonstrando a verdadeira realeza, a do amor que se transforma em serviço.

O Senhor faz o trabalho de um servo para que os servos se sintam senhores.

Na sua comunidade não existem hierarquias nem categorias, mas todos são igualmente senhores, para se tornarem servos uns dos outros, porque só quem é senhor, ou seja, livre, pode tornar-se verdadeiramente servo dos outros.

Ao lavar os pés dos discípulos, Jesus não se rebaixa, mas eleva os outros. Mostra o significado de um Deus que está a serviço dos seres humanos e, ao mesmo tempo, destrói a ideia de Deus criada pela religião, segundo a qual os seres humanos devem servir à divindade.

A verdadeira grandeza, a de Deus, consiste em servir os outros e não em deixar-se servir.

Se Jesus, que é Deus, se coloca ao serviço dos seres humanos, aqueles que pretendem dominar e comandar distanciam-se dele. Deus não está onde o poder é exercido, mas o serviço! Toda forma de serviço, toda obra de libertação do ser humano vem de Deus, mas nenhuma forma de poder ou de dominação pode ser legitimada em nome de Deus

João 13,6-8: «Chegou a vez de Simão Pedro. Pedro disse: “Senhor, tu me lavas os pés?” Respondeu Jesus: “Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás”. Disse-lhe Pedro: “Tu nunca me lavarás os pés!” Mas Jesus respondeu: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo”.»

Por último, Jesus dirige-se a Simão, o discípulo cujo apelido (Pedro = “pedra”) corresponde ao seu carácter teimoso e obstinado. Na verdade, ele é o único a reagir horrorizado: “Senhor, tu me lavas os pés?” (Jo 13,6). Simão não aceita o gesto de Jesus, o mestre que lava os pés de um discípulo.

O único discípulo que protesta é na verdade o único que compreendeu as consequências da ação do Senhor. Se Jesus, o mestre, lava os pés dos seus discípulos, a partir de agora, ninguém do grupo poderá se considerar superior ao outro.

Não, isto é inaceitável: “Disse-lhe Pedro: ‘Tu nunca me lavarás os pés!’” (Jo 13,8). Pela primeira vez no Evangelho o discípulo é apresentado apenas com o apelido negativo “Pedro”, nunca usado por Jesus, que sempre o chamará pelo nome, mas usado pelo evangelista para apontar todas as vezes que Simão se opõe a Cristo (cf. Jo 18,27; 21,20). A reação de Pedro não é um sinal de humildade, mas, pelo contrário, indica a sua recusa em agir como Jesus: não aceita o seu gesto porque não está disposto a comportar-se como ele. Ele defende a posição de Jesus porque, na realidade, quer defender a sua!

A reação de Jesus é seca: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo” (Jo 13,8).

Quem não aceita o serviço nada tem a ver com um Deus a serviço dos seres humanos.

Quem aceita ser submisso não entendeu quem é Jesus e não tem nada em comum com o Cristo que liberta as pessoas. 

João 13,9-10: «Simão Pedro disse: “Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça”. Jesus respondeu: “Quem já se banhou não precisa lavar senão os pés, porque já está todo limpo. Também vós estais limpos, mas não todos”.»

Astuto como sempre, Simão tenta evitar a condição que Jesus lhe impõe e, encurralado, tenta a última cartada, a do ritual. Ele não aceita o gesto de Jesus como expressão de serviço, mas, contornando o obstáculo, interpreta-o como um rito purificatório: “Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça” (Jo 13,9). Simão quer um rito purificatório em vista da Páscoa, como faziam os peregrinos que “tinham subido a Jerusalém para se purificarem antes da Páscoa” (Jo 11,55).

Simão não entendeu que não é um rito de purificação que permite acolher o amor de Deus, mas, pelo contrário, acolher o amor de Deus torna-nos puros! Ao terem aceitado Jesus, os discípulos já são puros: “Vós sois puros pela palavra que vos falei” (João 15,3). Porém, precisam acolher o lava-pés para compreender o serviço de Deus para com eles e deles para com os irmãos e irmãs.

Não é o fato de ter os pés lavados que torna um ser humano puro, mas a sua disposição de lavar os pés dos outros.

João 13,11: «Jesus sabia quem o ia entregar; por isso disse: “Nem todos estais limpos”.»

Porém, a sombra das trevas recai sobre a ação de Jesus, que, aos poucos, ampliará sua influência nefasta: apesar do gesto de amor feito por Jesus, nem todos são puros, outra pessoa, além de Pedro, resiste ao seu amor. Jesus também lavou os pés do discípulo traidor, mas ele não aceitou o amor inerente ao gesto.

Jesus é a expressão tangível do amor de Deus que não exclui ninguém do seu amor, nem mesmo o discípulo que, em breve, o trairá, entregando-o à morte. É o discípulo que, ao rejeitar este amor, exclui-se da vida que Jesus comunica, permanecendo assim nas trevas.

Terminado de lavar os pés dos discípulos atônitos, recalcitrantes como Pedro, ou indiferentes como Judas, Jesus pega o manto e volta a deitar-se sobre a espreguiçadeira, mas não retira a toalha, que se torna assim o sinal distintivo do agir de Cristo.

Comer deitado em espreguiçadeiras era típico dos senhores, que podiam se dar ao luxo de serem servidos. Pois bem, Jesus combina os dois aspectos: retém consigo a toalha, sinal de serviço, e deita-se sobre a espreguiçadeira, sinal de ser Senhor. Ser Senhor e servir não se contradizem, mas são uma expressão um do outro.

O Cristo de João não usa as vestes sagradas dos sacerdotes, mas os distintivos comuns do serviço: não as vestes da casta sacerdotal, mas o avental dos servos. 

João 13,12-15: «Depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e sentou-se de novo. E disse aos discípulos: “Compreendeis o que acabo de fazer? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz”.»

Para garantir que isto permaneça fixo na mente dos seus discípulos, Jesus explica o significado do gesto realizado: “Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13,13-14). Sublinhando que é o único Mestre e o único Senhor, Jesus apresenta-se não só como aquele que ensina a amar e a servir, mas que comunica a força para o fazer.

Para Jesus, ser Mestre e Senhor não significa colocar-se acima dos discípulos, mas colocar-se ao seu serviço e torná-los capazes de amar.

Se os discípulos o reconhecem como Mestre, devem aprender dele a servir, e se reconhecem Jesus como Senhor, devem assemelhar-se a ele no amor.

Ter compreendido a ação de Jesus só se demonstra traduzindo-a em atitudes concretas. Lavar os pés do outro não é uma demonstração de virtude, mas um dever, o cumprimento de uma dívida que se tem para com o irmão: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor que deveis uns aos outros” (Rm 13,8).

Jesus não se apresenta como um modelo externo a ser imitado, mas como um dom que gera o comportamento dos discípulos. Não um exemplo, mas um gesto de amor que permite aos discípulos praticar o mesmo amor (cf. Jo 13,15). 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Não vos desvinculeis, comei o vínculo que vos une; não vos estimeis pouco, bebei vosso preço... transformai-vos também vós no corpo de Cristo.»

(Santo Agostinho: 354-430 ― Doutor da Igreja, filósofo e teólogo)

Muitos podem se perguntar: Mas na celebração da Ceia do Senhor, na festa da instituição da Eucaristia, não caberia melhor um Evangelho que descrevesse o momento da ceia no qual tudo isso se deu, como, por exemplo: Mc 14,17-25; Mt 26,20-29 e Lc 22,14-23? 

Ocorre que o relato do gesto do lava-pés, ao mesmo tempo histórico e simbólico, de Jesus é a concretização das palavras que Jesus pronunciou nesta sua derradeira ceia: “Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória... Este cálice é a nova aliança, em meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em minha memória” (1Cor 11,24.25). O lava-pés, assim como estas palavras eucarísticas, serve para mostrar o sentido da cruz: o amor que se torna serviço, doação de vida até o fim (cf. Jo 13,1). 

Portanto, a “comunhão eucarística” não se trata de uma mera aceitação racional, emotiva ou teórica da presença de Jesus no pão e no vinho, os quais, pela fé, se convertem em corpo e sangue do Cristo! Comungar significa assumir, em nossa vida concreta, o exemplo de Jesus de amor e serviço (cf. Jo 13,15). Sem isso, não há comunhão! O que ficou claro, no comentário do texto evangélico acima, quando se menciona a resistência de Pedro que não aceita um Messias Servo (cf. Jo 13,8). 

A Eucaristia seria fonte de uma grande e profunda transformação de vida, se a compreendêssemos do modo correto: celebração do amor, do serviço, da doação total de vida para que seus participantes façam o mesmo! Como estamos distantes dessa realidade! Pois, aquilo que era para ser um gesto concreto tornou-se, apenas, simbólico, ritualístico e devocional! Quem sabe, seja por isso que tantos cristãos dizem, ainda hoje, “eu vou assistir à missa”! Como se a Eucaristia fosse algo externo a cada um de nós, portanto, algo a ser observado, visto, assistido e não vida que se faz celebração e compromisso! 

Esta é a consequência de se separar a fé da vida! Como se a primeira, a fé, fosse algo meramente íntimo e individual! Por isso, nós, os cristãos, somos tão pouco relevantes nesta atual sociedade! O mundo segue o seu próprio caminho, indisturbado por aqueles que deveriam ser “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-14), bem como, “ter amor uns pelos outros” (Jo 13,35), como nos pediu Jesus! 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Jesus, vem, meus pés estão sujos. Torna-te um servo para mim, despeja água na bacia; vem, lava meus pés. Eu sei que o que estou te dizendo é imprudente, mas temo a ameaça de tuas palavras: “Se eu não te lavar, você não terá parte comigo”. Portanto, lava os meus pés, para que eu tenha parte contigo.»

(Fonte: Orígenes. Homilia 5 sobre Isaías)

Fonte: Anotações do próprio autor – Acesso em: 27/03/2023.