«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 30 de março de 2013

MENSAGEM DE PÁSCOA - Para refletir...


Prestai atenção, caríssimos:
o MISTÉRIO PASCAL é ao mesmo tempo NOVO e ANTIGO, 
ETERNO e TRANSITÓRIO, CORRUPTÍVEL  e INCORRUPTÍVEL,
MORTAL e IMORTAL.

É mistério antigo segundo a Lei,
novo segundo a Palavra que se fez carne;
transitório pela figura, eterno pela graça;
corruptível pela imolação do cordeiro,
incorruptível pela vida do Senhor;
mortal pela sua sepultura na terra,
imortal pela sua ressurreição dentre os mortos.

A Lei, na verdade, é antiga, mas a Palavra é nova;
a figura é transitória, mas a graça é eterna;
o cordeiro é corruptível, mas o Senhor é incorruptível,
ele que, imolado como cordeiro,
ressuscitou como Deus.

Na verdade, “era como ovelha levada ao matadouro” (Is 53,7),
e contudo não era ovelha;
era como cordeiro silencioso, e no entanto não era cordeiro.
Porque a figura passou e apareceu a realidade perfeita:
em lugar de um cordeiro, Deus;
em vez de uma ovelha, o homem;
no homem, porém, apareceu Cristo que tudo contém.

Por conseguinte, a imolação da ovelha, a celebração da páscoa
e a escritura da Lei tiveram a sua perfeita realização em Jesus Cristo;
pois tudo o que acontecia na antiga Lei se referia a ele,
e mais ainda na nova ordem, tudo converge para ele.

Com efeito, a Lei fez-se Palavra e, de antiga, tornou-se nova
(ambas oriundas de Sião e de Jerusalém);
o preceito deu lugar à graça, a figura transformou-se em realidade,
o cordeiro em Filho, a ovelha em homem e o homem em Deus.

O Senhor, sendo Deus, fez-se homem e sofreu por aquele que sofria;
foi encarcerado em lugar do prisioneiro,
condenado em vez do criminoso e
sepultado em vez do que jazia no sepulcro;
ressuscitou dentre os mortos e clamou com voz poderosa:

« Quem é que me condena? Que de mim se aproxime (Is 50,8).
Eu libertei o condenado, dei vida ao morto,
ressuscitei o que estava sepultado.
Quem pode me contradizer?
Eu sou Cristo, diz ele, que destruí a morte,
triunfei do inimigo, calquei aos pés o inferno,
prendi o violento e arrebatei o homem para as alturas dos céus.
Eu, diz ele, sou Cristo.

Vinde, pois, todas as nações da terra
oprimidas pelo pecado e recebei o perdão.
Eu sou o vosso perdão, vossa páscoa da salvação,
o cordeiro por vós imolado,
a água que vos purifica, a vossa vida,
a vossa ressurreição, a vossa luz,
a vossa salvação, o vosso rei.
Eu vos conduzirei para as alturas,
vos ressuscitarei e vos mostrarei o Pai que está nos céus;
eu vos levantarei com a minha mão direita ».


(Da “Homilia sobre a Páscoa”, de Melitão, bispo de Sardes [Lídia, Ásia Menor] - século II)


Santa Páscoa a todos!

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo
São Paulo – SP

DOMINGO DE PÁSCOA - Homilia

Evangelho: João 20,1-9


1 No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus,
bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido tirada do túmulo. 
2 Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”. 
3 Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. 
4 Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. 
5 Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. 
6 Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão 
7 e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. 
8 Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou. 
9 De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos.
"PEDRO E JOÃO CORREM PARA O TÚMULO DE JESUS"
Quadro de Eugène Burnand
JOSÉ ANTONIO PAGOLA

ENCONTRAR-NOS COM O RESSUSCITADO

Segundo o relato de João, Maria de Magdala é a primeira que vai ao sepulcro quando, ainda, estava escuro, e descobre, desconsolada, que ele está vazio. Falta-lhe Jesus. O Mestre que a havia compreendido e curado. O Profeta ao qual havia seguido fielmente até o final. A quem seguirá agora? Assim se lamenta diante dos discípulos: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”

Estas palavras de Maria poderiam expressar a experiência que vivem, hoje, muitos cristãos: O que fizemos de Jesus ressuscitado? Quem o levou? Onde o pusemos? O Senhor, no qual acreditamos, é um Cristo cheio de vida ou um Cristo cuja recordação se vai apagando pouco a pouco nos corações?

É um erro buscarmos “provas” para crer com mais firmeza. Não basta recorrer ao magistério da Igreja. É inútil indagar nas exposições dos teólogos. Para encontrar-nos com o Ressuscitado é necessário, antes de tudo, fazer um percurso interior. Se não o encontramos dentro de nós, não o encontraremos em nenhuma parte!

João descreve, um pouco mais tarde, Maria correndo de um lado para o outro a fim de buscar alguma informação. E, quando vê Jesus, cega pela dor e as lágrimas, não consegue reconhecê-lo. Pensa que seja o jardineiro. Jesus somente lhe faz uma pergunta: “Mulher, por que choras? A quem procuras?”.

Talvez devamos nos perguntar, também, algo semelhante. Por que a nossa fé é, às vezes, tão triste? Qual é a causa última dessa falta de alegria entre nós? O que buscam os cristãos de hoje? O que é que nos falta? Estamos procurando um Jesus que necessitamos para nos sentirmos cheios de vida em nossas comunidades?

De acordo com o relato, Jesus está falando com Maria, porém ela não sabe que é Jesus. É então, quando Jesus a chama por seu nome, com a mesma ternura que punha em sua voz quando caminhavam pela Galileia: “Maria!”. Ela volta-se rapidamente e diz: “Rabuni, Mestre!”.

Maria encontra-se com o Ressuscitado, quando se sente chamada pessoalmente por ele. É assim. Jesus mostra-se cheio de vida, quando nos sentimos chamados por nosso próprio nome, e escutamos o convite que faz a cada um de nós. É, então, quando a nossa fé cresce.

Não reavivaremos nossa fé em Cristo ressuscitado alimentando-a somente por fora. Não nos encontraremos com ele, se não buscarmos o contato vivo com a sua pessoa. Provavelmente, é o amor a Jesus, conhecido pelos evangelhos e procurado pessoalmente no fundo de nosso coração, o que melhor pode conduzir-nos ao encontro com o Ressuscitado.

Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Segunda-feira, 25 de março de 2013 - 10h15 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

sexta-feira, 29 de março de 2013

A LÓGICA PERVERSA NA PERDA DE ÁGUA


Washington Novaes *
O Dia Mundial da Água, 22 de março, motivou a publicação de informações importantes sobre recursos hídricos, em diversos setores e formatos. E isso talvez permita aproximação relacionada diretamente com os interesses de cada cidadão.

Um dos ângulos mais tratados na comunicação foi o das perdas de água nas redes públicas de distribuição no País, avaliadas (O Estado de S. Paulo, 20/3) em 37,5% do faturamento das empresas operadoras dos serviços. Se houvesse uma redução de 10% nas perdas, seria possível um acréscimo de R$ 1,3 bilhão na receita dessas empresas, calculado sobre os dados de 2010, segundo o Instituto Trata Brasil. Dinheiro do cidadão hoje jogado fora, num momento em que: 

  • quase 10% da população nacional não recebe água potável
  • quase 50% não dispõe de redes coletoras de esgotos (23 milhões de domicílios, conforme este jornal em 12/11/2012) e 
  • apenas 37,9 % dos esgotos coletados recebem alguma forma de tratamento (Valor, 12/11/2012).

E por que não se muda esse quadro, já que ele implica para os cidadãos dinheiro retirado de seus bolsos, no caso das perdas de água das redes públicas, e uma vez que os 37,5% da água que não chegam, por causa das perdas, às casas, aos escritórios, etc., terão de ser supridos com a construção de novos reservatórios, novas adutoras e novas estações de tratamento? Tudo pago pelos contribuintes, por meio dos impostos.

Um episódio real ajudará a entender. O autor destas linhas foi a uma pequena cidade, onde o prefeito lhe perguntou se o interlocutor não conseguiria ajuda para tornar viável, no governo federal, um empréstimo para implantar uma nova barragem/reservatório, nova adutora e nova estação de tratamento de água para a zona urbana. Quando lhe foi perguntado se sabia quanto se perdia de água (por furos e vazamentos) na rede de distribuição, já bem antiga, ele respondeu que o levantamento da empresa apontava uma perda de 60%. E por que não se fazia um plano de recuperação da rede, o que seria algumas vezes mais barato? A resposta foi imediata: porque nenhum órgão de governo ou banco oficial financiava esse tipo de projeto. Dois anos mais tarde, informou ele que conseguira um financiamento federal para as novas barragem, adutora e estação de tratamento, que estavam quase prontas. 

Com esse caminho não se eliminaria o desperdício nas instalações antigas, pagas pelos cidadãos, e estes teriam ainda de arcar com as novas.

E por que é assim? Porque as empreiteiras de obras, que têm enorme influência nas políticas, ditam esse caminho - graças às contribuições que dão para as campanhas eleitorais dos administradores, de que são a maior fonte de recursos (e a outros caminhos). E a elas só interessam obras maiores e menos trabalhosas. Aos administradores interessa exibir suas obras, e não as que estão debaixo da terra. Só há pouco tempo se teve notícia de que um banco oficial estava financiando a recuperação de uma rede subterrânea em Pernambuco - caso único até ali. Mas continuará chegando às cidades desperdiçadoras a caríssima água transposta do Rio São Francisco.

O fato é que, por essas e outras, há Estados onde a média de perda nas redes é superior a 50%: 

  • O Distrito Federal é exceção, sem nenhuma perda em sua rede, 
  • seguido pelo Paraná (1,35% de perda d'água) e 
  • pelo Rio Grande do Sul (3,37%). 
  • No Estado de São Paulo a perda apontada (Instituto Trata Brasil) é de 32,55%. 
  • Na capital, nos últimos anos as perdas, reduzidas, caíram para 25,6%, o que significou um ganho de R$ 275,8 milhões anuais. O objetivo é chegar a 2019 com perda entre 10% e 15%, mediante investimento de R$ 4,3 bilhões. 
  • O Japão perde apenas 3% da água que trata e a Rússia, 20% (Sabesp, 15/3).

Precisamos evoluir muito. De acordo com a Agência Nacional de Águas, mais de 3 mil
municípios brasileiros precisam investir, até 2015, nada menos do que R$ 22 bilhões para atenderem às demandas novas e antigas por água. Inclusive para resolver problemas como o do atual despejo de 15 bilhões de litros diários de esgotos sem tratamento nos rios, lagos, mangues e no litoral - a principal causa da poluição. Enquanto isso, 7,2 milhões de pessoas nem sequer dispõem de instalações sanitárias em suas casas (O Globo, 19/3). Eliminar o déficit na área de saneamento exigiria investimento de R$ 157 bilhões até 2030.

Benedito Braga, o brasileiro que preside o Conselho Mundial da Água, diz que em uma década nosso panorama em matéria de água poderá repetir o que acontece hoje no setor de energia. Só 6% das nossas água estão em situação "ótima" e 19% em situação "regular ou péssima". Mas dos R$ 4,33 bilhões previstos de recursos orçamentários em 2012, R$ 3,15 bilhões foram emprestados e apenas R$ 442,6 milhões "liquidados" (Roberto Malvezzi, Rema Atlântico, 5/3). O Plano Nacional de Saneamento Básico precisaria de R$ 426 bilhões em 20 anos. Mas estamos longe desse caminho.

Também no mundo o panorama é inquietante. O volume de água para produção de energia dobrará em 25 anos, segundo a Agência Internacional de Energia. Metade das áreas úmidas no planeta foram perdidas ao longo do século 20, por causa da expansão urbana e do maior uso na agricultura e na indústria.

Mas poderia haver soluções mais amplas por aqui. No ano passado, R$ 2,2 bilhões foram pagos pelo uso de água por empresas geradoras de energia e repassados a 696 municípios, 223 Estados e ao governo federal. Por que esses recursos não são aplicados no setor de saneamento e na oferta de água? Também a criação de consórcios intermunicipais juntando municípios com menos de 20 mil habitantes poderia ser uma solução interessante, como se discutiu no recente Seminário Internacional de Engenharia em Saúde Pública (Agência Brasil, 20/3). O esgoto condominial, já discutido neste espaço, seria uma solução eficaz e barata para essa parte do saneamento.

O que não podemos é continuar sendo regidos, nessa área, pela lógica de empreiteiras e por interesses eleitoreiros.

* Washington Novaes é jornalista.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Opinião - Sexta-feira, 29 de março de 2013 - Pg. A2 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-logica-perversa-na-perda-de-agua,1014575,0.htm

quinta-feira, 28 de março de 2013

CEIA DO SENHOR - Quinta-feira Santa - Homilia

Evangelho: João 13,1-15


1 Era antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.
2 Estavam tomando a ceia. O diabo já tinha posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de entregar Jesus. 
3 Jesus, sabendo que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos e que de Deus tinha saído e para Deus voltava, 
4 levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. 
5 Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido.
6 Chegou a vez de Simão Pedro. Pedro disse: “Senhor, tu me lavas os pés?” 
7 Respondeu Jesus: “Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás”.
8 Disse-lhe Pedro: “Tu nunca me lavarás os pés!” Mas Jesus respondeu: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo”. 
9 Simão Pedro disse: “Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça”.
10 Jesus respondeu: “Quem já se banhou não precisa lavar senão os pés, porque já está todo limpo. Também vós estais limpos, mas não todos”.
11 Jesus sabia quem o ia entregar; por isso disse: “Nem todos estais limpos”.
12 Depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e sentou-se de novo. E disse aos discípulos: “Compreendeis o que acabo de fazer? 
13 Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. 14 Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. 15Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz. 

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
DESPEDIDA INESQUECÍVEL

Também Jesus sabe que suas horas estão contadas. Sem dúvida, não pensa em ocultar-se ou fugir. O que faz é organizar uma ceia especial de despedida com seus amigos e amigas mais próximos. É um momento difícil e delicado para ele e para os seus discípulos: deseja vivê-lo em toda a sua profundidade. É uma decisão pensada.

Consciente da iminência de sua morte, necessita compartilhar com os seus a sua confiança total no Pai, inclusive, nesta hora. Deseja prepará-los para um golpe tão duro; sua execução não deve mergulhá-los na tristeza ou no desespero. Eles têm de compartilhar juntos as interrogações que se despertam em todos eles: o que será do reino de Deus sem Jesus? O que devem fazer os seus seguidores? Onde vão alimentar, de agora em diante, a sua esperança na vinda do reino de Deus?

Ao que parece, não se trata de uma ceia pascal. É certo que algumas fontes indicam que Jesus quis celebrar a ceia de Páscoa ou séder com os seus discípulos, na qual os judeus comemoram a libertação da escravidão egípcia. Sem dúvida, ao descrever o banquete, não se faz uma única alusão à liturgia da Páscoa, nada se diz do cordeiro pascal nem das ervas amargas que se comem nessa noite, não se recorda ritualmente a saída do Egito, tal como estava prescrito.

Por outro lado, é impensável que na mesma noite em que todas as famílias estavam celebrando a ceia mais importante do calendário judaico, os sumos sacerdotes e seus auxiliares deixassem tudo para ocupar-se da detenção de Jesus e da organização de uma reunião noturna com a finalidade de concretizar as acusações mais graves contra ele. Parece mais verossímil a informação de outra fonte que situa a ceia de Jesus antes da festa da Páscoa, pois nos diz que Jesus é executado no dia 14 de nisán, véspera de Páscoa. Assim, pois, não parece possível estabelecer com segurança o caráter pascal da última ceia. Provavelmente, Jesus peregrinou até Jerusalém para celebrar a Páscoa com seus discípulos, porém não pôde levar a cabo o seu desejo, pois foi detido e julgado antes da chegada dessa noite [pascal]. Certamente, houve tempo para celebrar uma ceia de despedida.

Em todo caso, não é uma refeição ordinária, mas uma ceia solene, a última de tantas outras que haviam celebrado pelas aldeias da Galileia. Beberam vinho, como se fazia nas grandes ocasiões; jantaram recostados para ter uma refeição tranquila, não sentados, como faziam todos os dias.

Provavelmente, não é uma ceia de Páscoa, porém no ambiente já se respira a excitação das festas pascais. Os peregrinos fazem seus últimos preparativos: adquirem pão ázimo e compram seu cordeiro pascal. Todos buscam um lugar nos albergues ou nos pátios e terraços das casas. Também o grupo de Jesus procura um lugar tranquilo. Nessa noite, Jesus não se retira a Betânia, como nos dias anteriores. Permanece em Jerusalém. A sua despedida foi celebrada na cidade santa. Os relatos dizem que celebrou a ceia com os Doze, porém não podemos excluir a presença de outros discípulos e discípulas que vieram com a peregrinação. Seria muito estranho que, contrariando o seu costume de compartilhar a mesa com todos tipo de pessoas, inclusive pecadores, Jesus adotasse repentinamente uma atitude tão seletiva e restritiva.
PODEMOS SABER O QUE SE VIVEU, REALMENTE, NESSA CEIA?

Jesus vivia as refeições e ceias que fazia na Galileia como símbolo e antecipação do banquete final no reino de Deus. Todos conhecem essas refeições animadas pela fé de Jesus no reino definitivo do Pai.

É uma das suas características enquanto percorre as aldeias. Também nesta noite, aquela ceia faz pensar no banquete final do reino. Dois sentimentos tomam conta de Jesus: 
  • Primeiro, a certeza de sua morte iminente; ele não pode evitar: aquela é a última taça que irá compartilhar com os seus; todos o sabem, não há que se ter ilusões. 
  • Ao mesmo tempo, sua confiança inquebrantável no reino de Deus, ao qual dedicou sua vida inteira. Fala com clareza: "Asseguro-vos: já não mais beberei do fruto da videira até o dia em que o beberei, novamente, no reino de Deus". 
A morte está próxima. Jerusalém não quer responder ao seu apelo. Sua atividade como profeta e portador do reino de Deus será violentamente truncada, porém, a sua execução não impedirá a chegada do reino de Deus que foi anunciado a todos. Jesus mantém inalterada sua fé nessa intervenção salvadora de Deus. Está seguro da validade de sua mensagem. Sua morte não há de destruir a esperança de ninguém. Deus não desistirá. Um dia, Jesus se sentará à mesa para celebrar, com uma taça em suas mãos, o banquete eterno de Deus com seus filhos e filhas. Beberão um vinho "novo" e compartilharão juntos a festa final do Pai. A ceia desta noite é um símbolo.

Movido por esta convicção, Jesus se dispõe a animar a ceia transmitindo a seus discípulos sua esperança
Começa a refeição seguindo o costume judaico: põe-se de pé, toma em suas mãos o pão e pronuncia, em nome de todos, a bênção de Deus, a qual todos respondem dizendo "amém". Em seguida, parte o pão e vai distribuindo um pedaço a cada um. Todos conhecem aquele gesto. Provavelmente viram Jesus fazê-lo em mais de uma ocasião. Sabem o que significa aquele rito de quem preside a mesa: ao apresentar-lhes aquele pedaço de pão, Jesus lhes faz chegar a bênção de Deus. Como lhes impressionava quando ele o dava aos pecadores, coletores de impostos e prostitutas! Ao receber aquele pão, todos se sentiam unidos entre si e com Deus. Porém, naquela noite, Jesus acrescenta umas palavras que dão um conteúdo novo e insólito ao seu gesto. Enquanto lhes distribui o pão, lhes diz estas palavras: "Isto é o meu corpo. Eu sou este pão. Vede-me nestes pedaços entregando-me até o final, para fazer-lhes chegar a bênção do reino de Deus".

O que sentiram aqueles homens e mulheres quando escutaram, pela primeira vez, estas palavras de Jesus?

Surpreende-lhes, muito mais, aquilo que ele faz ao terminar a ceia. Todos conhecem o rito que se costumava fazer. No final da refeição, aquele que presidia a mesa, permanecendo sentado, pegava em sua mão direita uma taça de vinho, a mantinha a um palmo de altura sobre a mesa e pronunciava sobre ela uma oração de ação de graças pela refeição, ao que todos respondiam "amém". Em seguida, bebia de sua taça, o que servia de sinal aos demais para que, cada um, bebesse da sua também. Sem dúvida, Jesus muda o rito, naquela noite, e convida os seus discípulos e discípulas a beberem todos de uma única taça: a sua! Todos compartilham dessa "taça de salvação" abençoada por Jesus. Nessa taça, que vai passando e sendo oferecida a todos, Jesus vê algo "novo" e peculiar que deseja explicar: "Este cálice é a nova Aliança em meu sangue. Minha morte abrirá um futuro novo para vós e para todos". Jesus não pensa somente em seus discípulos mais próximos.

Neste momento decisivo e crucial, o horizonte de seu olhar se faz universal: a nova Aliança, o reino definitivo de Deus será para muitos, "para todos"

Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Segunda-feira, 25 de março de 2013 - 10h15 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

DENÚNCIA: "A eleição da CBF vai ser comprada"


Entrevista com Romário, ex-jogador e deputado federal

SILVIO BARSETTI

Parlamentar aponta as mazelas do poder do futebol brasileiro 
e acusa dirigentes de corrupção no comando da entidade
ROMÁRIO DE SOUZA FARIA - Deputado Federal (PSB- RJ)
Numa tarde agitada na Câmara, o deputado federal Romário de Souza Faria (PSB-RJ) recebeu na terça-feira a reportagem do Estado em meio a três reuniões, telefonemas de outros parlamentares, recados de seus assessores e muita correria, literalmente. Toda vez que cruzava alguma área pública do Congresso, Romário acelerava o passo e deixava todos para trás. É uma estratégia para fugir das fotos com fãs, o que ele não evita se for abordado. Numa conversa que se estendeu pelos Anexos II e IV do Congresso, pelos corredores de acesso ao plenário e ainda em seu gabinete, Romário fez duras críticas à cúpula da CBF [Confederação Brasileira de Futebol] e chamou o vice-presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, de chefe do "cartel" da entidade. Também acusou os dirigentes da confederação de superfaturamento na compra de terreno para a nova sede da CBF. Ele parecia seguro e tranquilo, apesar do assédio de todos os lados, e demonstrou intimidade com seu papel político. Em relação às críticas de Romário aos dirigentes, a Assessoria de Imprensa da CBF disse que só se manifestaria mais efetivamente ao tomar conhecimento de todo o teor da entrevista.

O senhor protocolou no final do ano passado na Câmara o pedido de uma CPI da CBF. Acredita que não há interesse da base do governo em investigar a CBF as vésperas do Mundial no País.

Romário: Estou aqui há pouco mais de dois anos e já pude reparar que não existe interesse do governo em abrir CPI nenhuma. Não me pergunte por quê. Com uma CPI do futebol, iniciada agora, o Brasil teria condições de chegar ao ano do Mundial limpo, de cara nova. Reina muita bagunça no nosso futebol. O estatuto da CBF, até onde eu sei, incentiva os investimentos nas bases, na formação de atletas femininas, tantas outras coisas. E não se vê isso.

O senhor tem um exemplar do estatuto da CBF?

Romário: A versão atual não é encontrada em lugar nenhum. Desde o início de 2012, quando sofreu alterações, ninguém mais viu o estatuto. Ou quase ninguém. É tudo muito nebuloso na CBF. A gente não sabe quantas pessoas participaram daquela assembleia, não sabe onde está a ata, quais as mudanças feitas.

A CBF usa, pressiona as federações estaduais para que intercedam nas bancadas de seus respectivos Estados a favor dos interesses da própria CBF?

Romário: Pressiona muito e isso ocorre na atual gestão da CBF com mais intensidade. A CBF interfere nas federações, que fazem o mesmo com os parlamentares locais. Mas quando o assunto chega aqui no Congresso tem um freio.

As eleições na CBF são marcadas por denúncias de compra de votos há décadas. Numa estrutura viciada, que marca a relação da CBF com federações e clubes, qual a possibilidade de uma mudança efetiva de rumo do comando do futebol brasileiro?

Romário: A próxima eleição (2014) vai ser comprada também. Torço e acredito que apareça algum candidato avulso, contrário aos métodos atuais e que possa incomodar os atuais dirigentes.

Apostaria em algum nome?
ANDRÉS SANCHEZ


Romário: Hoje, sim. Tem um que já esteve lá do outro lado, que tem seus defeitos, tem seus problemas, como todos nós, mas que já deu provas de que é um ótimo administrador e botou o Corinthians no topo. Se ele hoje, o Andrés Sanchez, se candidatasse à presidência da CBF, muito provavelmente teria meu apoio. Outro nome que também seria excelente é o Raí, um cara íntegro, inteligente muito respeitado. O ideal seria uma chapa unindo eles dois.

O senhor está convicto mesmo de que a próxima eleição da CBF (segundo semestre de 2014) já esteja comprometida?

Romário: Não tenho dúvidas. Vai rolar muito dinheiro. O candidato avulso deve brigar contra isso. Não pode se equiparar ao grupo dominante e sim passar para as federações e clubes a ideia de que é preciso se iniciar um processo de profissionalização e moralização do futebol.

Ricardo Teixeira deixou a CBF em meio a escândalos de corrupção. Mas costurou a passagem de poder para José Maria Marin e Marco Polo Del Nero. Mudou alguma coisa?

Romário: Eu até tenho saudades do Ricardo Teixeira. É impressionante a quantidade de coisas erradas na CBF a cada dia. O Teixeira, nos últimos 10 anos, foi muito prejudicial à CBF, envolvido em muitos escândalos de corrupção. Mas, por outro lado, olhou muito para o futebol da seleção. Hoje, nós somos o 18.º no ranking da Fifa. É por isso que falo de saudades dele, mas só por isso.

Marin e Del Nero ainda dependem muito de Teixeira?

Romário: Já estou sabendo que ele rompeu com eles, que não cumpriram acordos estabelecidos antes da renúncia do Ricardo.

MARCO POLO DEL NERO - Vice-Presidente da CBF
Na eventualidade da saída de Marin, quem assumiria seria Del Nero, seguidor de Teixeira e Marin. Mudaria algo?

Romário: Ele é o pior dos três. É o cabeça do atual cartel que virou a CBF. É quem faz os negócios, as negociatas da entidade. É ele quem manipula os presidentes de federações, de clubes. Se chegar à presidência da CBF, vamos viver um inédito período de ditadura no nosso futebol.

Muito se fala na entidade-mãe, a CBF. Mas o senhor defende também uma investigação séria nas federações beneficiadas com repasses da CBF?

Romário: Existem alguns Projetos de Lei no Congresso que criminalizam dirigentes de federações, confederações olímpicas, clubes, demais entidades esportivas. Quem fez tem de pagar pelos seus atos.

Qual seria o formato ideal do Colégio Eleitoral da CBF, onde só tem direito a voto hoje as 27 federações e os 20 clubes da Série A do Brasileiro?

Romário: Defendo o voto das federações e de todos os cubes filiados à CBF, são mais de 200.

O senhor pediu a Fifa o afastamento de José Maria Marin da CBF e do COL? Por quê?

Romário: Pedi, não obtive nenhum retorno nem vou obter. Quem dá as cartas do futebol não se interessa pelas minhas denúncias. Mas a população reconhece e cobra lisura e honestidade cada vez mais. O Marin tem que sair e deixar o Ronaldo tocar o Comitê Organizador da Copa. Todo dia a gente sabe de uma novidade lá da CBF. Soube, por exemplo, que a CBF comprou um terreno na Barra da Tijuca para fazer a nova sede. Quem pagasse R$ 9,5 mil por metro quadrado na área escolhida pela CBF, já estaria pagando bem alto, segundo corretores. Pois bem, a CBF pagou R$ 14,5 mil por metro quadrado. Superfaturamento de R$ 25 milhões na obra. Alguém questiona? Investiga? Não pode, é empresa privada. Mas, não é bem assim. A CBF usa nosso hino, bandeira, símbolos, nossos atletas. Tem que responder por isso.

Como está a negociação com a Comissão Nacional da Verdade para que Marin seja convidado a esclarecer episódios relacionados à prisão e morte do jornalista Vladimir Herzog em 1975?

Romário: A comissão que eu presido (de Desportos e Turismo) fez um requerimento em conjunto com a Comissão da Verdade, convidando-o a comparecer ao Congresso. Se vier, vai prestar serviço de interesse público.

Já existe a Lei de Acesso à Informação, em vigor desde maio de 2012, mas essa lei não alcança os esportes por que a maioria dos agentes não são públicos e sim privados. Quais seriam os ganhos de uma Lei de Acesso à Informação do Esporte?

Romário: Ganho total. As entidades passariam a ser transparentes, você poderia saber que motivos levou o clube A para uma situação desastrosa ou ainda que dirigentes se destacam pela competência.

Também recentemente o presidente do Sport, Luciano Bivar, disse que houve pagamento de propina para a convocação do jogador Leomar para a seleção em 2001. Isso ocorre realmente em convocações da seleção?

Romário: Tem, ou pelo menos já teve, a gente sabe disso, sempre soube, mas é coisa bem feita, não tem como provar. O pior de tudo está nas categorias de base da seleção e de alguns clubes. Ali é a caixa preta.

A seleção com Luiz Felipe Scolari está em boas mãos?

Romário: Sempre fui a favor da volta dele à seleção, ainda mais com outro campeão do mundo, o Parreira. Os dois impõem respeito, segurança, passam confiança aos atletas. Mas eles têm de entender que o futebol hoje é diferente do jogado em 1994 (quando Parreira foi campeão) e em 2002 (ano do título conquistado por Scolari). É preciso modernizar, criar situações novas.

O que achou dos três primeiros amistosos da seleção com Luiz Felipe Scolari?

Romário: Jogos muito difíceis, escolheram bem os adversários, que vendem caro uma derrota. Tem que ser assim mesmo. A seleção está nas mãos de quem sabe.

Há tempo de se formar um time que faça frente à Argentina, Espanha e Alemanha?

Romário: Com um time bem treinado, com uma boa fase de preparação, acredito sim que dê para fazer frente à Argentina. Quanto a segurar a Espanha e a Alemanha não sei.

Ainda sobre o Mundial de 2014, podemos ter estádios apelidados de elefantes brancos?

Romário: A Copa vai consolidar quatro elefantes brancos: os estádios de Brasília, Manaus, Mato Grosso e Natal. Se não forem entregues para a iniciativa privada, infelizmente vai se caracterizar desperdício de dinheiro. E, mesmo com a iniciativa privada, é preciso fazer contratos que possam compensar o valor gasto.

Como analisa a nova reforma do Maracanã, a terceira em 13 anos?

Romário: O Maracanã tinha de mudar de nome, acabou. Perdeu o glamour, perdeu o charme. Está todo desfigurado. Nem dá vontade de entrar lá. Fora o gasto absurdo e desnecessário para a tal reforma.

O que falta para o Brasil se tornar uma potência olímpica?

Romário: O Brasil nunca vai se tornar potência olímpica. Aqui os investimentos vão só para esportes populares ou tradicionais.

Como viu a interdição do [estádio do] Engenhão, no Rio?

Romário: Só comprova que o legado do Pan-2007 foi o pior legado da história dos Pans. Brincam com o dinheiro público.

Se o senhor tivesse de escolher hoje, para um novo mandato presidencial, entre Aécio, Dilma, Marina e Eduardo Campos, que é do seu partido, o PSB, qual seria a sua opção?

Romário: Pergunta difícil. A Dilma pegou muitos problemas do governo anterior, botou a casa em ordem em um ano e meio, embora hoje já deixe um pouco a desejar. Se tivesse de optar hoje, ainda não teria uma definição.

O senhor já recebeu alguma proposta que considerou indecorosa, não condizente com seu papel de parlamentar?

Romário: Não e nem vou receber. As pessoas me conhecem, sou incorruptível. Nem chegam perto. Se chegarem, mando prender. Os corruptos têm medo de mim. Se um dia tentarem isso, dou voz de prisão no ato.

Seus planos para depois de 2014?

Romário: Hoje, estou dividido entre voltar a me candidatar a deputado, mas essa deve ser a tendência. Quero também ser presidente do América-RJ, para fazer um trabalho sério no meu clube por 5 ou 6 anos. Não sei se daria para compatibilizar isso tudo.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Esportes - Quinta-feira, 28 de março de 2013 - Pg. E4 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-eleicao-da-cbf-vai-ser-comprada-,1014140,0.htm

As palavras do Papa Francisco antes de ser eleito pontífice


O que o então cardeal Bergoglio disse ao colégio cardinalício 
durante uma congregação geral
JAIME ORTEGA - cardeal-arcebispo de Havana, Cuba
Na homilia da primeira missa celebrada em Cuba depois de várias semanas em Roma para

a eleição do novo papa, o cardeal Jaime Ortega revelou as palavras que o cardeal Jorge Mario Bergoglio pronunciou durante uma congregação geral dos cardeais antes de entrarem no conclave.

A celebração na catedral de Havana aconteceu na manhã do último sábado, 23 de março, com a presença do núncio apostólico em Cuba, dom Musarò de Bruno, e dos bispos auxiliares dom Alfredo Petit Havana e Juan de Dios Hernández, além do clero, que renovou as promessas sacerdotais.

O arcebispo de Havana contou que, naquela congregação geral, o cardeal Bergoglio fez um discurso "magistral, perspicaz, envolvente e verdadeiro".

As palavras de Bergoglio se articulavam em quatro pontos que expressam a sua visão pessoal sobre a Igreja no tempo presente.

O primeiro ponto é a evangelização: "a Igreja deve deixar tudo e ir para as periferias", não só geográficas, mas também humanas e existenciais. Ela tem que chegar até os últimos, se aproximar das pessoas onde se manifesta o pecado, a dor, a injustiça e a ignorância.

O segundo ponto é uma forte crítica à Igreja "autorreferencial", que olha para si mesma com uma espécie de "narcisismo teológico" que a distancia do mundo; uma Igreja e que “pretende manter Jesus Cristo para si, sem deixá-lo sair”.

No terceiro ponto, o cardeal Bergoglio explicava as consequências dessa visão autorreferencial: uma igreja que não evangeliza mais e que cria uma vida mundana para si mesma. De acordo com o então arcebispo de Buenos Aires, devem-se levar em conta essas consequências "para se lançar luz sobre as possíveis mudanças e reformas de que a Igreja tem necessidade urgente".

No último ponto, Bergoglio confessou aos cardeais a esperança, a respeito do novo papa, de “um homem que, a partir da contemplação de Jesus Cristo, possa ajudar a Igreja a se aproximar das periferias existenciais da humanidade".

Ao apontar as características do futuro pontífice, o cardeal Bergoglio não imaginava sequer remotamente que caberia justo a ele reparar a barca de Pedro.

O cardeal Ortega ficou tão impressionado com o que tinha ouvido que pediu o texto a Bergoglio. O então arcebispo de Buenos Aires lhe respondeu que tinha estabelecido alguns pontos mentalmente, mas não os tinha escrito. Na manhã seguinte, "num gesto de extrema gentileza", Bergoglio levou para Ortega uma folha de papel em que tinha escrito os pontos do discurso, do jeito que se lembrava deles.

Ortega perguntou se podia publicá-los depois do conclave, ideia com que Bergoglio concordou. Quando o arcebispo de Buenos Aires se tornou o Papa Francisco, o cardeal cubano perguntou se ainda poderia publicar o texto do seu discurso na congregação geral e o pontífice confirmou que sim.

A revista da arquidiocese de Havana, Palabra Nueva, dirigida por Orlando Márquez, publicou então uma transcrição do manuscrito entregue pelo cardeal Jorge Mario Bergoglio ao cardeal Jaime Ortega.

Fonte: ZENIT.ORG - Quarta-feira, 27 de março de 2013 - Internet: http://www.zenit.org/pt/articles/as-palavras-do-papa-francisco-antes-de-ser-eleito-pontifice?utm_campaign=diarioportughtml&utm_medium=email&utm_source=dispatch

terça-feira, 26 de março de 2013

''Chega de mortes. Queremos atitude''


Akemi Nitahara
Agência Brasil

Jovens protestam em frente à catedral de Petrópolis
Cerca de 100 jovens ocuparam a escadaria em frente à Catedral de São Pedro de Alcântara, onde a presidente Dilma Rousseff participou de missa em homenagem aos 33 mortos na tragédia do último domingo (17), por causa das fortes chuvas.

Identificados como integrantes do Movimento Primavera Petropolitana, os jovens fizeram uma manifestação pacífica, com cartazes em que se lê: 
  • "Queremos atitude"
  • "Chega de mortes"
  • "Não queremos sua oração! Queremos sua ação! Não à omissão!"
  • "Dois anos de omissão, enriquecendo com a nossa dor"
  • "Lamentar não ressuscita".
De acordo com um dos manifestantes, João Felipe Verleun, o grupo reúne mais de 700 pessoas pelo Facebook e faz reuniões quinzenais para discutir política e questões ligadas à cidade. "Estão aqui as pessoas diretamente afetadas pela falta de planejamento urbano da cidade. Permitiram que áreas de risco fossem ocupadas, legalizaram a situação, cobrando as taxas e impostos e, depois da tragédia, não resolvem o problema."

Segundo Verleun, as pessoas afetadas pelas fortes chuvas de 2011 ainda estão recebendo aluguel social e nenhuma obra prometida foi feita. "Não foi destinado nem o terreno ainda para a construção das casas", lembrou o jovem.

Fonte: Agência Brasil - Nacional - 25/03/2013 - 18h55 - Internet: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-03-25/jovens-protestam-em-frente-catedral-de-petropolis

segunda-feira, 25 de março de 2013

Brasileiro quer que Papa Francisco seja liberal

ROGÉRIO ORTEGA
DE SÃO PAULO


Datafolha mostra desejo que papa aprove pontos como divórcio, uso de camisinha e fim do celibato de padres
Rejeição ao aborto e ao casamento gay são as duas exceções, porém; maioria aprova escolha de pontífice argentino
PAPA FRANCISCO - Missa de Domingo de Ramos
Vaticano, 24 de março de 2013
A grande maioria dos brasileiros aprovou a escolha do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio para chefiar a Igreja Católica. Ao mesmo tempo, boa parte deles gostaria que a igreja liberalizasse suas posições em temas como contracepção e divórcio.

Esse é o resultado de pesquisa nacional feita pelo Datafolha em 20 e 21 de março, uma semana depois do conclave que elegeu o papa Francisco - primeiro latino-americano e primeiro jesuíta no comando da Santa Sé. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais.

Dos 2.653 entrevistados pelo Datafolha em 166 municípios, a maioria, 58%, definiu-se como católica - número próximo dos últimos dados do IBGE, de 2010, segundo os quais 64,6% da população brasileira professa o catolicismo. Outros 21% se disseram evangélicos pentecostais.

A eleição de Bergoglio foi considerada ótima ou boa por 74% das pessoas ouvidas pelo instituto e regular por 9%; só 2% dos entrevistados a acharam ruim ou péssima.

O levantamento revela também em que medida boa parte dos brasileiros - incluindo os que se dizem católicos - discorda de uma série de posições tradicionais da igreja.

A divergência mais acentuada diz respeito ao uso de métodos artificiais para evitar a concepção. Para 83% dos entrevistados, o papa Francisco deveria orientar a Igreja a se posicionar a favor do uso de preservativos; 77% defendem que faça o mesmo em relação à pílula anticoncepcional.

A pesquisa mostra ainda que 61% dos brasileiros são favoráveis a que o papa aceite o uso, pelas mulheres, da "pílula do dia seguinte" contra a gravidez. O método é considerado abortivo pela igreja.

Desde a encíclica "Humanae Vitae", divulgada pelo papa Paulo 6º em 1968, a Igreja Católica define os métodos artificiais de contracepção como "intrinsecamente maus", mas vê os métodos naturais como moralmente permissíveis - orientação reiterada por todos os papas seguintes.

Em 2010, Bento 16 chegou a declarar que o uso de preservativo, em casos especiais, era uma espécie de mal menor, por evitar a contaminação pelo vírus HIV.

Na época, porém, o Vaticano se apressou em esclarecer que a posição doutrinária não mudara.

A maioria das pessoas ouvidas pelo Datafolha também acha que Francisco deveria orientar a Igreja a se tornar favorável ao divórcio (58%), permitir que mulheres sejam ordenadas e possam rezar missas (58%) e acabar com o celibato dos padres (56%).

Aborto e casamento gay, por sua vez, são os tópicos em que a maior parte dos brasileiros está de acordo com a orientação católica: 54% e 57%, respectivamente, defendem que a Igreja continue se posicionando contra os dois.

Fonte: Folha de S. Paulo - Mundo - 24/03/2013 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/100204-brasileiro-quer-que-francisco-seja-liberal.shtml
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Para maioria, Igreja não pune pedófilos como deveria


ROGÉRIO ORTEGA
DE SÃO PAULO

A maioria das pessoas ouvidas pelo Datafolha acredita que a Igreja Católica ou não puniu ou puniu com rigor menor que o necessário os casos de pedofilia e abuso sexual entre seus membros - segundo especialistas, um dos mais graves problemas com que o papa Francisco terá de lidar.

Do total de entrevistados na pesquisa de 20 e 21 de março, 86% afirmam ter tomado conhecimento das acusações de pedofilia contra religiosos. Desse percentual, 37% dizem estar bem informados.

O levantamento mostra que, para 49% dos brasileiros, "muitos" sacerdotes podem estar envolvidos em casos de abuso, mas não a maioria.

Outros 33% consideram que esses casos são raros na Igreja, e só 15% acham que há envolvimento da maior parte dos integrantes do clero.

A divisão dos entrevistados é considerável quando se trata de avaliar como a cúpula católica reagiu às revelações dos episódios de abuso:
  • Para 57% dos ouvidos pelo Datafolha, a Igreja tem punido os responsáveis.
  • Desse total, no entanto, 28% acham que as punições não são rigorosas como deveriam ser; 21% acreditam que elas são adequadas, e 9% consideram que há rigor além do necessário.
  • Outros 41%, por sua vez, acreditam que o Vaticano não tem agido no sentido de punir os religiosos acusados.
  • Ou seja, 69% dos pesquisados acham que a Igreja não pune ou pune de forma muito branda padres acusados de pedofilia.
Tanto os papas João Paulo 2º (1978-2005) quanto Bento 16 (2005-2013), durante seus pontificados, enfrentaram fortes críticas pelo modo como lidaram com as denúncias de pedofilia e com o acobertamento por parte de alguns bispos.


CARDEAL BERNARD LAW - ex-arcebispo de Boston (EUA)
Casos como os investigados em Boston (EUA), por exemplo, resultaram em processos milionários contra a arquidiocese e na renúncia do cardeal Bernard Law, em 2002, no papado de João Paulo 2º.

Bento 16 foi o primeiro pontífice a se encontrar pessoalmente com as vítimas e a pedir perdão pelos crimes. Para vaticanistas como John Allen, porém, o papa que renunciou em fevereiro não fez com que os padres envolvidos e os bispos que os acobertaram prestassem contas.

Fonte: Folha de S. Paulo - Mundo - 24/03/2013 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/100205-para-maioria-igreja-nao-pune-pedofilos-como-deveria.shtml
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"Sem religião" desafiam a Igreja Católica


REINALDO JOSÉ LOPES


Para pesquisadores, grupo traz tantas preocupações ao novo papa quanto avanço evangélico na América Latina
Fenômeno é acentuado em bairros de baixa renda, onde pessoas têm relação pragmática com as religiões
Fonte: IBGE (Censo de 2010)
Quando desembarcar no Rio de Janeiro em julho deste ano para participar da Jornada Mundial da Juventude, principal evento internacional da Igreja Católica voltado para o público jovem, o papa Francisco talvez se sinta um tanto deslocado. E não apenas pela forte presença de evangélicos no Rio (uns 25% da população do Estado), mas também porque a periferia carioca é um dos lugares do país onde há mais gente que diz não ter religião.

As periferias de cidades como Recife, Salvador e São Paulo também abrigam um contingente de não religiosos superior à média nacional, de acordo com estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas).


A orientação não religiosa está se tornando cada vez mais comum entre os jovens, o que leva especialistas a apontar o fato como um desafio tão ou mais importante que o avanço evangélico para o catolicismo.


"O movimento mais preocupante para a Igreja não é o de quem muda de religião, mas o de quem simplesmente não se interessa por ela", diz Dario Rivera, professor da Universidade Metodista de São Paulo que coordena o grupo de pesquisa Religião e Periferia na América Latina.

"O que nós estamos vendo é que, nos mesmos bairros de baixa renda onde há uma proliferação de igrejas pentecostais [evangélicas], uma quase colada na outra, há muita gente que diz não ter religião", conta.

São lugares aparentemente improváveis, como bairros rurais de Juiz de Fora (MG), a favela do Areião, em São Bernardo do Campo, e os pontos mais pobres do bairro de Perus, na capital paulista.

Improváveis, isto é, quando se assume a equação entre baixa renda e alta religiosidade.

"A verdade é que essa é uma hipótese consensual que nunca foi testada", declara Rivera. Para o pesquisador, essas comunidades de baixa renda têm uma relação muito pragmática com a religião, escolhendo a igreja que lhes oferece assistência ou, no caso das mulheres, o culto onde podem achar um marido "direito", por exemplo. Resolvidos esses problemas, a frequência religiosa não é mais necessária.

"TOTALFLEX"

Desse ponto de vista, a flexibilidade das igrejas evangélicas acaba fazendo com que elas abocanhem mais ovelhas desgarradas do rebanho católico, diz André Ricardo de Souza, professor do Departamento de Sociologia da UFScar (Universidade Federal de São Carlos).

"Além do discurso mais objetivo, como o uso de slogans do tipo 'aqui o milagre acontece', essas igrejas estão abertas todos os dias da semana, praticamente o dia todo. Você entra e resolve seu problema, enquanto a Igreja católica da paróquia passa a maior parte do tempo fechada", afirma o pesquisador.

Segundo Rivera, os sem religião nas comunidades pobres também se explicam pela revolução nos costumes: grande liberdade sexual, uniões provisórias e outros elementos que não batem com a moralidade religiosa tradicional.

A situação do Brasil é única por combinar um grande avanço dos evangélicos com o dos sem religião. No caso dos evangélicos, o fenômeno também é importante no Chile e na Guatemala, mas em menor grau, diz Rivera. Já os não religiosos têm representação expressiva na Argentina (11%) e no Chile (8,3%).

A questão levantada por quase todo mundo, claro, é que diferença um papa latino-americano pode fazer nesse cenário. "É claro que um papa latino-americano tem um impacto. Não digo que reverta o aumento dos evangélicos, mas talvez faça o ritmo diminuir", afirma Souza.

Rivera é mais pessimista. "Podem até acontecer mudanças na liturgia [nos rituais]. Mas o problema é que nada no perfil do papa Francisco indica que ele mudará a relação da igreja com a modernidade, e esse que é o grande problema."

Fonte: Folha de S. Paulo - Mundo - 24/03/2013 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/100208-sem-religiao-desafiam-a-igreja-catolica.shtml