«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 10 de março de 2013

''Roma é ilimitadamente reformável. Jesus não instituiu o papado''


Otto Hermann Pesch
Revista "Ja – Die neue Kirchenzeitung"
Número 10 - março de 2013
OTTO HERMANN PESCH - teólogo católico alemão
Jesus não deixou diretrizes explícitas com relação à forma da Igreja, nem sobre quem a dirigiria. Isso significa, segundo o teólogo alemão católico Otto Hermann Pesch: "Concretamente, o papa e a Cúria Romana são reformáveis ilimitadamente, quando e onde precisarem de reforma".

Isso vale tanto hoje quanto nos primeiros tempos, "todas as vezes em que a situação pareceu sem perspectiva", escreve Pesch em um artigo na revista Bibel und Kirche (Bíblia e Igreja), publicada pela Katholisches Bibelwerk, de Stuttgart. A contribuição do professor emérito de teologia dogmática de Hamburgo, no caderno 4/2012 dedicado a "Die Gewänder des Petrus" (As vestes de Pedro), tem o título: "Jesus hat kein Papsttum gestiftet!" ("Jesus não instituiu o papado!").

É urgentemente necessária uma reforma do papado, que, ao longo do tempo, passou por mudanças históricas e que foi fortemente transformado pela tradição, diz Pesch. Não é suficiente que o Papa João Paulo II, na encíclica Ut unum sint (1995), convide as Igrejas não romanas a refletir com ele sobre o estilo e sobre as modalidades de exercício da função papal. Porque, na própria encíclica, João Paulo II esclareceu o que ele considerava como indispensável na sua missão, isto é, ter que vigiar "como um guardião" para que, em todas as Igrejas individuais, "se proclame a voz única do Pastor". Pesch afirma que, diante dessa reivindicação, foi "compreensível que ninguém tenha querido aceitar o convite ao diálogo".

O critério para qualquer reforma do papado é que, segundo as palavras do teólogo, "o ministério petrino, que evoluiu historicamente, ofereça um serviço petrino verdadeiramente útil". Isso seria alcançado se a forma atual do papado também percebesse o que, no tempo dos primeiros cristãos, se dizia deles: "Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas (…) louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo" (At 2, 44-47), segundo Pesch.

De origens humildes a força poderosa

Com um sintético olhar retrospectivo, Pesch delineia o desenvolvimento do papado desde as suas origens no período bíblico até hoje e nos presenteia com várias novidades surpreendentes.

Os relatos bíblicos nos informam que Jesus viu a aproximação do tempo da morte, mas que, ao mesmo tempo, também viu a continuidade da sua mensagem do "Reino de Deus" – anunciado depois pelos 12 presentes na Última Ceia e, mais tarde, por todos aqueles que acreditavam nas suas pregações. "Não sabemos nada mais do que isso da boca de Jesus – nada sobre estruturas, constituições ou cargos", afirma Pesch.

O fato é este: Pedro devia ser, segundo a vontade de Jesus, o porta-voz autorizado dos Doze [apóstolos]. Os textos que se referem aos apóstolos nas primeiras comunidades cristãs foram escritos somente depois da morte de Pedro em Roma e mostravam, no entanto, a sua "posição especial na Igreja primitiva" e a consideração honrosa a ele reservada.

Segundo Pesch, a comunidade romana ainda no fim do primeiro século era guiada por um coletivo, um "presbitério", enquanto a liderança da comunidade da Palestina e da Síria se realizava através de um único bispo.

Afastamento entre Oriente e Ocidente

Na Idade Média, chegou-se a um "afastamento entre Roma e o Oriente", entre Roma e Bizâncio como sede do imperador: "Os primeiros concílios, tão importantes para a formulação da confissão de fé, eram todos sínodos da Igreja oriental com os quais os representantes do Ocidente, se presentes, não colaboravam" e às vezes até "permaneciam fechados do lado de fora", lembra Pesch. As decisões desses concílios, até hoje determinantes, "sempre foram acolhidas somente depois e nem sempre, aparentemente, sob a direção de Roma no Ocidente".

Depois do cisma do Oriente em 1054 e depois da separação entre a Igreja do Oriente e do Ocidente, "o desenvolvimento histórico do primado papal foi apenas uma questão interna da Igreja do Ocidente", escreve Pesch. Durante séculos, arrastou-se um conflito de poderes entre papas e imperadores, com reivindicações cada vez mais explícitas de poder por parte dos papas.
PAPA BONIFÁCIO VIII

O Papa Gregório VII reivindicou soberania universal em 1075 não só sobre a Igreja, mas também sobre as autoridades civis. Bonifácio VIII, em 1302, declarou que "era necessário para a salvação de qualquer pessoa estar submetida ao romano pontífice".

O papa está acima da Bíblia?

No entanto, aponta Pesch, estava claro – mesmo dentro dos grupos "papalistas" convictos do fim da Idade Média, que defendiam a autoridade do papa como superior à do concílio – que um papa, fundamentalmente, também podia se tornar herege e que, portanto, poderia ensinar coisas equivocadas à Igreja. O critério utilizado era se o papa contradizia ou não a Escritura.

Essa convicção desempenhou um papel fundamental – no caso de Martinho Lutero – também no cisma do Ocidente. Essa "catástrofe para a teologia e para a história da Igreja" pode ser remontada até o teólogo da corte papal Silvestre Prierias, que, como posição de Roma diante dos reformadores, afirmou: "Herege é quem contesta o fato de que até mesmo a Sagrada Escritura só tem poder e autoridade (robur et auctoritatem) com base no infalível ensinamento do romano pontífice". 

Considerar a Escritura não mais como critério para a justa credibilidade do papa, mas sim para pôr este último acima da Escritura, era inaceitável para Lutero, e ele até chegou a falar do papa como "anticristo", lembra Pesch. É verdade que a tese de Prierias não é, de fato, uma doutrina da Igreja e nem é coberta pelo dogma do Concílio Vaticano I sobre o primado da jurisdição e ensinamento do papa. 

Mas – e essa é a crítica de Pesch – ainda não houve até hoje um distanciamento das posições de 1518, que serviram de base para o processo romano contra Lutero.

Tradução de Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Sábado, 9 de março de 2013 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/518269-roma-e-ilimitadamente-reformavel-jesus-nao-instituiu-o-papado-afirma-otto-hermann-pesch

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