«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 14 de março de 2013

TEMOS PAPA! - HABEMUS PAPAM

Leia abaixo as principais informações
sobre a escolha do novo Papa:
Dom Jorge Mario Bergoglio.
Agora, Papa Francisco.


Quem é o novo Papa?
D. JORGE MARIO BERGOGLIO - cardeal-arcebispo de Buenos Aires (Argentina)
Jorge Mario Bergoglio, 76 anos, nasceu no bairro de Flores na grande Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936. Depois de estudar para técnico em química escolheu o sacerdócio e entrou na Companhia de Jesus. 

Estudou filosofia e teologia na Faculdade do Colégio Máximo de São José. Foi mestre de noviços e professor universitário de teologia, provincial dos jesuítas em seu país e presidente da Conferência Episcopal de 2005-2011. No dia 13 de dezembro de 1969 foi ordenado sacerdote. Concluiu pós-graduação na Universidade de Alcalá de Henares e em 1986 completou sua tese de doutorado na Alemanha. João Paulo II o nomeou Cardeal em 2001.

Segundo informações, no conclave de 2005 foi protagonista junto a Ratzinger. Tem uma forte experiência pastoral, é conhecido por dizer a verdade com clareza. Sua página no Facebook tem mais de 37.000 Likes, mesmo não sendo ele quem administra. Geralmente utiliza os meios públicos de transporte.

Ele não dá entrevistas, os jornalistas tiram suas declarações das homilias. Enfrentou fortemente as autoridades locais em questões como o aborto, matrimonio homossexual e a liberalização das drogas.

O cardeal primaz da Argentina sempre teve uma posição próxima às classes menos favorecidas. Recentemente, criticou os sacerdotes que se recusam a batizar bebês nascidos fora do casamento, de acordo com informações da imprensa local.

Aos religiosos pediu "para testemunhar e demonstrar interesse pelo irmão” porque a cultura do encontro "nos faz irmãos, nos faz filhos, e não membros de uma ONG ou prosélitos a favor de uma multinacional”.

Em várias ocasiões criticou fortemente a corrupção e o tráfico de seres humanos: "Cuida-se melhor de um cão do que desses escravos nossos”. "A escravidão é a ordem do dia, tem crianças nas ruas há anos, não sei se mais ou menos, mas são muitos”.

Lembrou que "algumas meninas param de brincar com bonecas para entrar na prostituição porque foram roubadas, vendidas ou são vítimas do tráfico". Ele criticou o “limitar ou eliminar o valor supremo da vida, ignorando os direitos do nascituro”.  E afirmou: o aborto nunca é uma solução. Foi contra a liberalização da droga e pediu para que os jovens não acreditassem nos "mercadores da morte".

Advertiu que seu país "não se sedimentou com delírios de grandeza desafiantes”, e convidou a ir "além das diferenças". Criticou a falta de "humildade" dos governantes e a "inconstância" como sendo falta de valor "que carece de alguma proposta."

Sobre Aparecida indicou que "a inspiração do Espírito é a grande luz que teve alí. As sombras são mil e uma pequenas coisas que impediam e tivemos de superar”. "Tudo foi um complexo de luz e sombra, e a luz ganhou".

Sempre foi relutante em receber cargos de algum peso na Cúria Romana, mas foi nomeado consultor da Pontifícia Comissão para a América Latina, membro da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos; do Clero; dos Institutos de Vida Consagrada, Conselho pós-sinodal, e presidente do Pontifício Conselho para a Família.

A força da Igreja, disse o purpurado no Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização, está na comunhão, e a sua debilidade está na divisão e na contraposição.

Fonte: ZENIT.ORG - Quarta-feira, 13 de março de 2012 - Internet: http://www.zenit.org/pt/articles/francisco-primeiro-papa-latino-americano-e-jesuita?utm_campaign=diarioportughtml&utm_medium=email&utm_source=dispatch
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DETALHES - QUEM É O NOVO PAPA?

D. JORGE MARIO BERGOGLIO - cardeal argentino

Francisco (em latim: Franciscus), nascido Jorge Mario Bergoglio SJ (Buenos Aires, 17 de dezembro de 1936) é o 266.º Papa da Igreja Católica e atual chefe de estado do Vaticano.
É o primeiro jesuíta e o primeiro sul-americano a ser eleito Papa, além de ser o primeiro pontífice não-europeu em mais de 1200 anos. Arcebispo de Buenos Aires desde 28 de fevereiro de 1998 e cardeal desde 21 de fevereiro de 2001, foi eleito em 13 de março de 2013.

Infância e juventude

Jorge Mario Bergoglio, filho do casal de imigrantes italianos Mario Bergoglio (trabalhador ferroviário) e Regina Maria Sivori (dona de casa).
Nascido e criado no bairro de Flores, fez graduação e mestrado em química, na Universidade de Buenos Aires.

Companhia de Jesus (jesuítas)

Ingressou no noviciado da Companhia de Jesus em março de 1958. Fez o juniorado em Santiago, Chile. Graduou-se em Filosofia em 1960, na Universidade Católica de Buenos Aires. Entre os anos 1964 e 1966, ensinou Literatura e Psicologia, no Colégio Imaculada, na Província de Santa Fé, e no Colégio do Salvador, em Buenos Aires. Graduou-se em Teologia em 1969. Recebeu a ordenação presbiteral no dia 13 de dezembro de 1969, pelas mãos de Dom Ramón José Castellano. Emitiu seus últimos votos na Companhia de Jesus em 1973. Em 1973 foi nomeado Mestre de Noviços, no Seminário da Villa Barilari, em San Miguel. No mesmo ano foi eleito superior provincial dos jesuítas, na Argentina. Em 1980, após o período do provincialato, retornou a San Miguel, para ensinar em uma escola dos jesuítas.
No período de 1980 a 1986 foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel. Após seu doutorado na Alemanha, foi confessor e diretor espiritual em Córdoba.

Episcopado

Em 20 de maio de 1992, o Papa João Paulo II o nomeou bispo auxiliar de Buenos Aires, com a sé titular de Auca (Aucensi). Sua ordenação episcopal deu-se a 27 de junho de 1992. Em 3 de junho de 1997, foi nomeado arcebispo coadjutor de Buenos Aires. Tornou-se arcebispo metropolitano de Buenos Aires no dia 28 de fevereiro de 1998.

Cardinalato

Foi criado cardeal no consistório de 21 de fevereiro de 2001, pelo João Paulo II, recebendo o título de cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino. Quando foi nomeado, convenceu centenas de argentinos a não viajarem para Roma. Em vez de irem ao Vaticano celebrar a nomeação, pediu que dessem o dinheiro da viagem aos pobres.

Foi membro dos seguintes dicastérios na Cúria Romana:
Congregação para o Clero
Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos
Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica
Pontifícia Comissão para a América Latina
Pontifício Conselho para a Família

Foi eleito Papa no dia 13 de março de 2013 e adotou o nome de Francisco, sendo o primeiro nascido nas Américas e primeiro jesuíta a se tornar Papa.

Pontificado

O cardeal Bergoglio foi eleito Papa a 13 de março de 2013, no segundo dia do conclave, escolhendo o nome de Francisco. É o primeiro jesuíta a ser eleito papa. É o primeiro Papa do Continente americano. É o primeiro não europeu a ser eleito bispo de Roma, em mais de 1.200 anos, desde São Gregório III, que nasceu na Síria e governou a Igreja Católica entre 731-741.

O anúncio (Habemus Papam)

Annuntio vobis gaudium magnum; habemus Papam:
Anuncio-vos com grande alegria; já temos o Papa:


Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum,
O Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor

Dominum Georgium Marium
D. Jorge Mario

Sanctæ Romanæ Ecclesiæ Cardinalem Bergoglio
Cardeal da Santa Igreja Romana, Bergoglio

qui sibi nomen imposuit Franciscum.
Que adotou o nome de Francisco.


PAPA FRANCISCO na varanda da Basílica de S. Pedro
Primeira aparição como Papa

O Papa Francisco apareceu ao povo na sacada (ou varanda) central da Basílica de São Pedro por volta das 20 horas e 30 minutos (hora de Roma). Vestindo apenas a batina papal branca, acompanhou a execução da Marcha Pontifical e saudou a multidão com um discurso:

Irmãos e irmãs, boa-noite!
Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma. Parece que os meus irmãos Cardeais tenham ido buscá-lo quase no fim do mundo… 
Eis-me aqui! 
Agradeço-vos o acolhimento: a comunidade diocesana de Roma tem o seu Bispo. Obrigado! E, antes de mais nada, quero fazer uma oração pelo nosso Bispo emérito Bento XVI. Rezemos todos juntos por ele, para que o Senhor o abençoe e Nossa Senhora o guarde.

O Papa rezou as orações do Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai, dedicando-as ao Papa Emérito. Em seguida, completou:

E agora iniciamos este caminho, Bispo e povo... este caminho da Igreja de Roma, que é aquela que preside a todas as Igrejas na caridade. Um caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós. Rezemos sempre uns pelos outros. Rezemos por todo o mundo, para que haja uma grande fraternidade. Espero que este caminho de Igreja, que hoje começamos e no qual me ajudará o meu Cardeal Vigário, aqui presente, seja frutuoso para a evangelização desta cidade tão bela!
E agora quero dar a Bênção, mas antes… antes, peço-vos um favor: antes de o Bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a Bênção para o seu Bispo. 
Façamos em silêncio esta oração vossa por mim.

O Papa abaixou a cabeça em sinal de oração, e toda a Praça silenciou por um momento. Por fim, realizou sua primeira bênção Urbi et Orbi, e despediu-se da multidão dizendo:

"Boa noite, e bom descanso!".

Nome papal

Ao ser eleito, o novo pontífice escolheu o nome de Francisco. Em uma provável referência a Francisco Xavier e Francisco de Assis. São Francisco Xavier ( 1506 — 1552), santo jesuíta, padroeiro das missões, um dos primeiros companheiros de Santo Inácio de Loyola e um dos cofundadores da Companhia de Jesus. São Francisco de Assis (1182 — 1226), fundador da família franciscana, padroeiro da Itália.
A Santa Sé divulgou que o nome de Sua Santidade não será grafado com "I" (Primeiro) em algarismos romanos. Isso só acontecerá se, um dia, houver um papa Francisco II.
PAPA FRANCISCO saúda a multidão na Praça de São Pedro
Visões

É ligado a setores católicos conservadores na Argentina, como o movimento de leigos Comunhão e Libertação, contrário ao aborto, à eutanásia e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Evita aparições na mídia e possui hábitos simples. Utiliza o transporte coletivo e não frequenta restaurantes. Aprecia música clássica, literatura e é associado e torcedor do clube de futebol San Lorenzo de Almagro.

Aborto e eutanásia
O cardeal Bergoglio convidou os seus clérigos e os leigos para que se opusessem ao aborto e à eutanásia.

Homossexualidade
É um forte opositor à legislação argentina que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Tendo dito que: "se o projeto de lei que prevê às pessoas do mesmo sexo a possibilidade de se unirem civilmente e adotarem também crianças vier a ser aprovado, poderá ter efeitos seriamente danosos sobre a família. O povo argentino deverá afrontar nas próximas semanas uma situação que, caso tenha êxito, pode ferir seriamente a família. Está em jogo a identidade e a sobrevivência da família: pai, mãe e filhos. Não devemos ser ingênuos: essa não é simplesmente uma luta política, mas é um atentado destrutivo contra o plano de Deus".

Justiça social
É conhecido por sua postura à favor da justiça social, tendo dito em 2007 que: "Vivemos na região mais desigual do mundo, a que mais cresceu e a que menos reduziu a miséria. A distribuição injusta de bens persiste, criando uma situação de pecado social que grita aos céus e limita as possibilidades de vida mais plena para muitos de nossos irmãos". Além disso, tal como São Francisco de Assis lavava os pés dos leprosos, o Cardeal Bergoglio ganhou notoriedade em 2001 ao lavar os pés de 12 doentes de Aids em visita a um hospital.

Relações com o governo argentino

Foi denunciado em 2005 por supostas conexões com o sequestro pela ditadura argentina dos padres jesuítas Orlando Virgilio Yorio e Francisco Jalics em 23 de maio de 1976. Ambos trabalhavam sob o comando de Bergoglio. A denúncia teve por base artigos jornalísticos e o livro Igreja e Ditadura, escrito por Emilio Mignone, fundador do Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS).

Além do trabalho de pesquisa de Mignone, o livro El Silencio de Horacio Verbitsky no capítulo "As Duas Faces do Cardeal" também explora o papel de agente duplo desempenhado por Bergoglio junto à ditadura argentina. Segundo o autor do livro, que alega ter acesso a documentos do Ministério das Relações Exteriores e do Culto da Argentina, Bergoglio "vai à Chancelaria, pede um trâmite em favor do sacerdote (Jalics), mas, por baixo do pano, diz para não o concederem porque se trata de um subversivo".

Sergio Rubin, o seu biógrafo autorizado, relatou que Bergoglio, após a prisão dos dois sacerdotes, trabalhou nos bastidores para a sua libertação e intercedeu, de forma privada e pessoal, junto do ditador Jorge Rafael Videla: a sua intercessão poderia ter contribuído para a posterior libertação destes sacerdotes. Ele também relatou que, em segredo, Bergoglio deu frequentemente abrigo a pessoas perseguidas pela ditadura em propriedades da Igreja, e houve uma vez que chegou mesmo a dar os seus próprios documentos de identidade a um homem que se parecia com ele, para que pudesse fugir da Argentina.

Obras

1982: Meditações para religiosos
1986: Reflexões sobre a vida apostólica
1992: Reflexões de esperança
1998: Diálogos entre João Paulo II e Fidel Castro
2003: Educar: demanda e paixão
2004: Colocar a nação em seus ombros
2005: A construção de uma nação
2006: Corrupção e pecado
2006: Na carga de si mesmo
2007: O verdadeiro poder é o serviço
2012: Mente aberta, coração acreditado

Fonte: WIKIPÉDIA - A Enciclopédia Livre - Internet: http://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Francisco
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Para amigos, Bergoglio é sóbrio

Novo papa foi ordenado sacerdote aos 33 anos e, aos 36, já comandava os jesuítas na Argentina

Low profile, calado, sóbrio e frugal são alguns dos adjetivos usados por seus mais fiéis colaboradores. Seus inimigos, no entanto, preferem defini-lo como calculista, frio, traiçoeiro e autoritário. Mas, para a maioria dos argentinos, o cardeal Jorge Mario Bergoglio é simplesmente um mistério. Nos últimos dias, no entanto, ele saiu de seu semi-anonimato para virar um dos homens mais comentados do país.

A escolha do hermético Bergoglio, que se tornou o primeiro latino-americano a ocupar o trono de São Pedro, também quebra a restrição - implícita - de que um jesuíta nunca seria transformado em papa. Desde que foi criada, há quase cinco séculos, a outrora poderosa Companhia de Jesus jamais havia conseguido que um representante chegasse a líder da Igreja Católica, principalmente pela oposição de outras congregações que temiam seu crescimento.

Homem afável, mas de poucas palavras e de nenhum contato com a imprensa (desde que foi nomeado cardeal, em 2001, deu só uma entrevista ao jornal La Nación), o primaz faz questão de manter um profundo silêncio sobre sua vida. Aqueles que o conhecem bem sustentam que só mostra intensa paixão quando fala de Fiodor Dostoievski, seu escritor preferido.

"É um jesuíta até a medula. Ele fala pouco. Ouve o dobro do que fala. E pensa o triplo do que ouve", afirmou ao Estado um ex-embaixador argentino em Roma, que completa dizendo que jamais desejaria ter Bergoglio como inimigo. Com ironia, explica: "Quem vive, como Bergoglio, só à base de frango cozido e verduras, só pode ser um cara perigoso."

D. BERGOGLIO com a camiseta de seu time de futebol
Filho de imigrantes italianos (seu pai era ferroviário e sua mãe, dona de casa), o cardeal nasceu no dia 17 de dezembro de 1936 no bairro de classe média de Flores, em Buenos Aires. Desde criança, foi torcedor fanático do time de San Lorenzo, fundado por um padre no início do século. Mas nunca pôde aspirar a jogar futebol além da praça do bairro. Seu físico, quando adolescente, era franzino. Aos 20 anos, passou por uma grave operação para a retirada de um de seus pulmões.  Segundo vaticanistas, isso poderia pesar negativamente contra sua candidatura no conclave.

Após se formar como técnico químico e encerrar o namoro com uma vizinha, Bergoglio entrou para a Companhia de Jesus, ordem caracterizada por sua obediência e disciplina ascética que historiadores preferem definir como militar.

Ordenado sacerdote aos 33 anos, aos 36 já era o comandante dos jesuítas na Argentina. Nos anos que se seguiram - as décadas de 1970 e 1980 -, paira uma nebulosa sobre a vida de Bergoglio. Jornalistas investigativos argentinos sustentam que ele colaborou ativamente com a última ditadura (1976-83), delatando os jovens sacerdotes, que foram sequestrados pelos militares.

Ostracismo
Nos anos 80, Bergoglio migrou ao setor mais conservador da Companhia de Jesus e passou por um obscuro ostracismo na Alemanha. Ao voltar à Argentina, foi posto em cargos de baixa importância. Esse período só terminou quando, em 1992, o poderoso cardeal Antonio Quarracino o convocou para ser seu bispo auxiliar em Buenos Aires. "É um jesuíta sereno e preciso.  Ele tem uma capacidade e uma velocidade mental fora do comum", comentou.

O salto internacional de Bergoglio ocorreu em 2001, quando ocupou o posto de relator-geral do Sínodo dos Bispos em Roma. Bergoglio é idolatrado pelo clero jovem e, até poucos anos atrás, só se deslocava pela cidade em metrô ou ônibus. Seus admiradores afirmam que o fazia "para estar perto do povo". Os críticos sustentam que era "puro populismo". 

Os parlamentares da esquerda, que se confrontaram com frequência com Bergoglio por questões como a legalização do aborto, o definem como "o pior dos inimigos, porque é um inimigo muito inteligente". No entanto, o cardeal também os desconcerta ao realizar furiosos ataques contra o neoliberalismo.

Esta é a segunda vez que a Argentina contou com um papável. O anterior foi o arcebispo de Mar del Plata, cardeal Eduardo Pironio, morto em 1996, que nos dois conclaves de 1978 despontava como o principal papável sul-americano.

O sociólogo e especialista em catolicismo Fortunato Mallimacci considera que o papado de Bergoglio não deve ser "muito diferente do de João Paulo II".  Segundo ele, "do ponto de vista doutrinário, frustraria as aspirações de muitos católicos que estão esperando uma ampla abertura".

Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Notícias - 13 de março de 2013 - 16h48 - Internet: 
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Novo papa escolhe nome de Francisco

Agência Efe

O nome mais repetido foi João, o último que o usou foi o italiano Angelo Roncalli, ou João XXIII
PAPA FRANCISCO aparece no balcão da Basília de S. Pedro - Vaticano
"Quo nomine vis vocari?" ("Com qual nome queres ser chamado?"), foi a pergunta feita nesta quarta-feira pelo cardeal Giovanni Battista Re ao novo papa, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, em nome de todos os que o elegeram.

O novo pontífice respondeu "vocabor Franciscus" (Me chamarei Francisco). Com isso, o cardeal protodiácono, o francês Jean-Louis Tauran, anunciou à cidade de Roma e ao mundo que o novo pontífice é o primeiro latino-americano a chegar ao trono de São Pedro e o primeiro que adota esse nome, além de também ser o primeiro jesuíta.

O nome adotado pelo sucessor de Bento XVI não só significa uma preferência, também pode ser uma "indicação" de como será seu pontificado.

O alemão Joseph Ratzinger optou pelo nome Bento XVI em homenagem a Bento XV, "um valente e autêntico profeta da paz perante o drama da primeira mundial", segundo confessou em 27 de abril de 2005, uma semana após ser eleito sucessor de João Paulo II.

"Quis, ao ser eleito Bispo de Roma e Pastor Universal da Igreja, chamar-me Bento XVI para me unir ideologicamente ao venerado pontífice Bento XV, que guiou a Igreja em um período difícil por causa do primeiro conflito mundial", disse.

O agora papa emérito acrescentou que Bento XV "foi valente e autêntico profeta de paz e trabalhou com grande coragem para evitar o drama da guerra e depois para limitar suas nefastas consequências".

Albino Luciani, que só governou a Igreja durante 33 dias, escolheu se chamar João Paulo I em homenagem a seus antecessores João XXIII e Paulo VI, a quem admirava.

Karol Wojtyla adotou os dois nomes - a segunda vez que um papa adotava um nome duplo - em homenagem a João Paulo I, a João XXIII e a Paulo VI.

Ao longo da história da Igreja, os papas nem sempre mudaram de nome. Até o ano 532, todos os sucessores de São Pedro usaram seus nomes de batismo, e assim nos encontramos com São Lino, São Anacleto, São Evaristo, São Alexandre, São Telesforo ou São Higino.

Além do nome, se sabia de onde procediam (Lino de Tuscia, Anacleto romano, Evaristo o grego, Telesforo o grego, Higino o grego, entre outros).

Mas no dia 31 de dezembro do ano 532 foi eleito papa Mercúrio, o romano. Mercúrio era nome pagão, por isso o novo pontífice mudou de nome e se chamou João II, em homenagem a seu antecessor João I, um mártir de Tuscia (região ao norte de Roma) que reinou na Igreja de 13 de agosto de 523 a 18 de maio de 526.

João II foi papa até 8 de maio de 535 e, a partir desse momento, muitos de seus sucessores o imitaram e começaram a mudar o nome de batismo pelo de apóstolos, mártires ou outros papas.

Até agora, o nome mais repetido foi João. O último que o usou foi o cardeal italiano Angelo Roncalli, que decidiu se chamar João XXIII (1958-1963).

Quando Roncalli, que foi beatificado por João Paulo II, escolheu o nome de João, os cardeais o lembraram que seria João XXIII, como um "anti-papa", ao que ele respondeu que não tinha medo de ser confundido com um usurpador da cátedra de São Pedro.

"Me chamarei João, um nome doce e ao mesmo tempo solene", disse o chamado papa Bom, cujo curto pontificado foi muito prolífico. Escreveu oito encíclicas, entre as quais se destacaram "Mater et Magistra" e "Pacem in Terris", e convocou o importantíssimo Concílio Vaticano II

Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Notícias - 13 de março de 2013 - 17h35 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,novo-papa-escolhe-nome-de-francisco,1008244,0.htm
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Desafios do novo papa: diplomacia


Jamil Chade


Igreja enfrenta obstáculos na China, no Oriente Médio, na África e nos EUA
PAPA FRANCISCO dá a bênção Urbi et Orbi - Vaticano
Quando o próximo papa assumir o trono de São Pedro, encontrará em sua mesa dezenas de dossiês complicados. Documentos sigilosos de diversas embaixadas europeias e relatórios internos da diplomacia da Santa Sé obtidos pelo Estado revelam os desafios e prioridades da Igreja com as várias regiões do mundo. Há obstáculos a serem enfrentados na China, no Oriente Médio, na África, nos EUA.

China
Um dos maiores entraves é a relação entre o Vaticano e a China - país com 12 milhões de católicos. O governo chinês quer controlar quem são os bispos chineses e, por isso, Pequim passou a ordenar bispos sem a autorização do Vaticano.

Documentos sigilosos mostram a existência de duas Igrejas Católicas na China: uma é a oficial do regime comunista (Associação Católica Patriótica da China); a outra, que é obrigada a atuar de forma semiclandestina, é a Igreja Católica reconhecida pelo Vaticano.

Entre 1990 e 2006 houve um entendimento entre o Vaticano e Pequim, que determinava que os bispos eram nomeados com aprovação dos dois lados. Mas, desde a chegada de Bento XVI, os chineses optaram por simplesmente ignorar o Vaticano: nomearam 6 bispos e deixaram de reconhecer 15 nomes apresentados pelo Vaticano.

Em 2012, por exemplo, Joseph Yue Fusheng foi nomeado bispo de Harbin, mas a Santa Sé o excomungou um dia depois. Segundo os informes, Bento XVI tentou mediar a crise para proteger os 12 milhões de católicos chineses. Enviou grupos de diplomatas da Santa Sé em diversas ocasiões para negociar um entendimento. Mas as condições apresentadas eram inaceitáveis para os chineses: a garantia de liberdade religiosa e a manutenção das relações diplomáticas entre a Santa Sé e Taiwan.

Os documentos mostram que o Vaticano não tem ilusões de que a crise será solucionada a curto prazo. Coincidência ou não, durante a despedida de Bento XVI na Praça São Pedro, um grupo carregando uma bandeira da China insistia em estar presente para alertar ao próximo papa que a situação dos católicos estava longe de ser resolvida.

Oriente Médio
A proteção dos cristãos que vivem no Oriente Médio é outra prioridade do novo papa, já que o cristianismo está seriamente ameaçado no local que lhe serviu de berço. A Santa Sé tem feito alertas aos governos de países árabes, mas admite que pode estar perdendo a batalha para o que chama de "radicalização do Islã".

Cerca de 1,5 milhão de iraquianos cristãos tiveram de abandonar o país desde a derrubada do regime de Saddam Hussein. Na Síria, 60% dos cristãos de Aleppo deixaram a cidade. Em Homs, não sobrou nenhum. No Irã, os cerca de 25 mil cristãos seriam alvo constante de ameaças.

O próximo papa também terá de lidar com a crise que Bento XVI criou em 2006 ao se referir ao Islã como uma religião violenta. O Vaticano admitiu o erro. Mas, nos documentos sigilosos, acusa o mundo muçulmano de ter criado uma situação de "chantagem" ao exigir repetidamente pedidos públicos de desculpa do papa por sua declaração.

África
Apesar do aumento exponencial no número de fiéis, seminaristas e das igrejas, o continente africano é onde a Igreja Católica terá de enfrentar a aids, o envolvimento político de cardeais, a pobreza e a concorrência com os evangélicos.

Hoje, 16% dos católicos no mundo estão nos países africanos e não são poucos os que apontam que o futuro da Igreja está no continente: o número de católicos passou de 1,2 milhão em 1906 para 160 milhões em 2006 (14% da população). Só no Congo, o número de católicos triplicou em 35 anos.

Os documentos mostram que parte da estratégia da Igreja para ampliar sua base na África é prestar serviços que governos africanos têm, nas últimas décadas, fracassado em oferecer: educação e saúde. Porém, em visita à África em 2009, Bento XVI causou polêmica ao dizer que o uso de preservativos não era a solução para a aids e agravava o problema. A mensagem da Igreja no continente que tem 24 milhões de pessoas afetadas pela aids (dois terços de infectados do mundo) recebeu duras críticas da ONU e de ativistas. Mas o Vaticano manteve sua posição.

EUA
Já nos Estados Unidos, a administração de Barack Obama vem sendo pressionada em reuniões privadas pelo Vaticano diante da decisão do presidente americano de introduzir na agenda política do país temas polêmicos, como o casamento homossexual, aborto, pesquisas com células tronco e mesmo a situação dos imigrantes.

Num telegrama da diplomacia americana vazado pelo grupo Wikileaks, diplomatas revelam ao presidente Obama que Bento XVI "genuinamente gosta dos EUA e admira o modelo de secularismo" no país, mas que não deixaria de atacar projetos para ampliar o aborto e pesquisas com célula-tronco.

Os documentos mostram ainda que os desafios também são internos para a Igreja nos EUA. Casos de pedofilia teriam tido um forte impacto na imagem dos cardeais, bispos e padres católicos nos EUA, fortalecendo a fuga de fiéis. Há 20 anos, 35% dos americanos se diziam católicos. Hoje, esse número já caiu para 25% e só não é menor graças aos imigrantes latino-americanos. 

Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Notícias - 13 de março de 2013 - 15h07 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,desafios-do-novo-papa-diplomacia,1008189,0.htm
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Argentino rompe impasse de cardeais

Jamil Chade

Terceira via foi solução para confronto entre defensores de italiano e brasileiro

JAMIL CHADE - jornalista
Nem Angelo Scola, nem Odilo Scherer. Ontem, o Vaticano escolheu como papa o argentino Jorge Bergoglio, um nome que não fazia parte de nenhum site de apostas, não era comentado por vaticanistas e sequer era tema de reuniões secretas de cardeais. Mas, segundo o Estado apurou, foi o nome que conseguiu, durante a eleição, romper o confronto e o impasse criado entre dois grupos que haviam se estabelecido nos últimos dias e que se enfrentavam abertamente.

"Metade dos cardeais entrou no conclave sem um nome definitivo a quem daria seu voto", disse o vaticanista Marco Politi. "A grande questão era como esse grupo reagiria e hoje descobrimos que eles optaram por uma terceira via."

Nos dias que precederam o conclave, houve uma polarização do debate. De um lado, o brasileiro d. Odilo Scherer era o nome da Cúria, mais conservador, apoiado por quem estava no poder. De outro, o italiano Angelo Scola se apresentava como o nome da oposição. O choque frontal entre os grupos, porém, com acusações de vazamento de informações à imprensa e cobranças sobre a gestão do Banco do Vaticano teria criado uma sensação entre os cardeais de que nenhum dos dois grupos conseguiria um consenso.

Tanto Scola como Scherer começaram a votação com força. A certeza de uma vitória de Scola era tanta que, logo após o anúncio do Habemus papam, a Conferência Episcopal Italiana emitiu um comunicado sobre a "notícia da eleição do cardeal Angelo Scola como sucessor de Pedro".

Ao longo das votações secretas na Capela Sistina, porém, a realidade é que nenhum dos dois conseguia avançar no sentido de garantir os 77 votos necessários para ser eleito papa. Cardeais saíram em busca de alternativas e, apesar de estar fora da idade que se havia declarado como ideal (preferencialmente mais jovem, para evitar um papado muito breve), Bergoglio começou a coletar votos dos outros cardeais que também estavam descontentes com a Cúria, mas não estavam inclinados a apoiar Scola.

Com 76 anos, perfil de pastor e caráter de simplicidade, Bergoglio acabou sendo privilegiado. Muitos, porém, deixaram o Vaticano ontem com a impressão de que este foi o "papa possível" de ser eleito, e não necessariamente o "papa ideal". Dada a idade avançada de Bergoglio, é possível que seu papado se caracterize como mais um período de transição na Santa Sé - algo que se acreditava ter terminado com a renúncia de Bento XVI.

Andrés Alvarez, vaticanista argentino em Roma, destaca que o voto veio de cardeais que não jogavam nos times nem de Scola nem de Scherer. "Sabíamos que as reuniões estavam ocorrendo e que esses dois grupos estavam mobilizados para buscar votos a seus candidatos. Mas não sabíamos que havia uma maioria silenciosa que não apoiava a nenhum dos dois grupos."

Segundo ele, cardeais italianos se dividiram e nem todos apoiaram a Scola. "Bergoglio teve muitos votos dos europeus", disse. Sobre o comportamento dos latino-americanos, o especialista admite que muitos evitaram inicialmente o nome de Bergoglio. "Mas o que sabemos é que, nas últimas votações, optaram por apoiar o argentino."

Renovação
Para o vaticanista John Thavis, Bergoglio é a "real oposição" à Cúria no poder. "Não há uma oposição em termos de doutrina. Mas na administração do Vaticano e no modelo de gestão, sim", disse. "Bergoglio será uma transformação radical na opulência da Igreja, uma declaração de rejeição ao estilo de cardeais como Scola ou Bertone. Se ele tiver a capacidade de implementar sua visão de Igreja, muitos serão surpreendidos."

O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que o novo papa, que adotou o nome Francisco, telefonou ontem mesmo para o papa emérito Bento XVI e se encontrará com ele em breve, num sinal de respeito. No conclave de 2005, o argentino ficou em segundo lugar, atrás de Joseph Ratzinger. Agora, ambos são papas. 

Fonte: O Estado de S. Paulo - Especial: Nova Era da Igreja - Quinta-feira, 14 de março de 2013 - Pg. H2 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,argentino-rompe-impasse-de-cardeais-,1008435,0.htm
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ANÁLISE:


REVOLUÇÃO EM SÃO PEDRO


Ezio Mauro
La Repubblica (Roma - Itália)
PRAÇA DE SÃO PEDRO - fiéis acolhem o novo Papa
Uma surpresa de Papa, vindo do fim do mundo, como que dizendo um basta às intrigas e chantagens italianas da Cúria e à paralisia de governo que enfraqueceu a velhice de Bento XVI até a sua renúncia. Mas um Papa que a Igreja, evidentemente, preparava por um longo tempo, se é verdade que em 2005 Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, era um dos dois candidatos fortes do Conclave, sustentado pelos reformadores que, posteriormente, ele mesmo levou-os a convergir para Ratzinger, para evitar uma escolha mais conservadora. Por duas vezes, a uma distância de oito anos, portanto, dois Conclaves elaboraram a candidatura a Papa do cardeal argentino, e é preciso levar em conta que, nesse ínterim, a composição do Sacro Colégio [de cardeais] mudou em quase 50 por cento. A consideração por Bergoglio é, portanto, forte e constante nos vértices da Igreja universal. Mas, desta vez, os escândalos vaticanos pesaram em seu favor.
CARDEAIS BERTONE (à esquerda) E SODANO (à direita)

E fecharam a porta ao retorno de um Papa italiano (isto é, a Scola, o bispo mais qualificado e conhecido) para por fim a um sistema de poder simbolicamente personificado pelas figuras do Decano do Colégio Cardinalício e do Carmelengo, Sodano e Bertone, cujos encargos expiram com o fim da Sé Vacante. O adeus ao pontificado de Ratzinger deixou, desse modo, um "sinal" visível ao Conclave. A escolha de sucessão a Bento XVI representa, de fato, uma reviravolta geográfica e cultural do poder curial vaticano tão óbvia e simbólica a ponto de se tornar um gesto político que sacode Roma, falando ao mundo. Um gesto de abertura e de esperança que encerra uma época e conduz o Papa para fora dos Sagrados Palácios, libertando-0 do poder para esperá-lo encontrar como pastor.

Este significado do Conclave, que compreendeu, por completo, o "mistério" da impotência corajosa de Ratzinger, foi aprimorado e expandido pelos primeiríssimos movimentos do novo Papa, bem consciente, desde a sua primeira aparição  na varanda de [Basílica] São Pedro, da necessidade de uma ruptura com um mundo e um modelo de poder que terminou por aprisionar a si mesmo,  até consumir a própria ação de Ratzinger numa soberania, finalmente, esgotada porque imóvel. Bergoglio, na verdade, em suas primeiras palavras não se definiu, jamais, como Papa (isto é, soberano e Vigário de Cristo), mas bispo, portanto, pastor, e anunciou que o bispo de Roma e o seu povo caminharão juntos.

Uma recordação quase joanina, tantos anos depois, uma outorga da majestade à comunidade cristã, uma proposta de colegialidade, naquele convite insistente e convicto para a praça e para o mundo - antes da bênção apostólica do Pontífice aos fiéis - à oração para o Papa, para não deixá-lo sozinho, para dar-lhe aquela força que provém, certamente, de Deus para quem crê, mas, também, da participação convicta e fraterna do povo cristão. Enquanto essa oração acontecia em silêncio, pela primeira vez durante o rito solene do Habemus Papam, Jorge Bergoglio inclinou a majestade papal para a multidão, na humildade de uma reverência do Sumo Pontífice que sobre a varanda [da Basílica de S. Pedro] jamais se tinha visto.

Tudo isso, sem hesitação e flacidez, mas com a segurança espontânea de quem se sente pronto, o sorriso de quem pede ajuda não por temor, mas por opção. E a prova maior desta humildade pessoal unida à ambição por mudança vem da escolha do nome, que nenhum Papa havia jamais ousado pronunciar para si como sucessor de Pedro: Francisco. Um nome que é um projeto e um compromisso para o pontificado, quase a denúncia programática da necessidade de um gesto extremo, um retorno às origens, ao Evangelho, ao Anúncio, à missão de uma Igreja desencarnada do poder e das suas pompas. 

Quase uma finalização e retomada, na escolha de um nome que não tem precedentes na longa história do pontificado, e que soa como uma promessa aos últimos e uma ameaça aos poderosos. A indicação de um Papa que sabe caminhar entre os lobos, que está pronto para despir o Vaticano de seus ricos mantos, que tentará renunciar às riquezas ocultas do IOR [Banco do Vaticano], que testemunhará, somente com o ressoar de seu nome nos Sagrados Palácios, aquele sonho que conduziu o frade de Assis a Roma à presença de Inocêncio III, depois de ter tido a terrível visão do Latrão - sede do papado - que ameaçava cair, desfazendo-se.

É como se o Papa já ancião com os seus 76 anos, sentisse não ter muito tempo diante do irreparável, o desgaste do papel da Igreja por meio dos escândalos, as lutas de poder, os delatores, os pecados da Cúria contro o sexto e o sétimo mandamento, a rede de chantagens que por tudo isso cresceu, envolvendo o visível e o invisível do poder vaticano e deturpando-lhe o rosto, como diz a última e dramática denúncia de Ratzinger após a renúncia. Papa Francisco poderá ser, somente, um homem de ruptura com este emaranhado de poderes mesquinhos. Sob o signo da oração como confiança, da sobriedade como obrigação de coerência com os valores da fé, da pobreza como escolha. 

Aquela cruz simples, de metal sobre uma vesta inteiramente branca já era a confirmação de um estilo diverso mesmo para o chefe da Igreja Católica. Coerente com a pregação prática do bispo de Buenos Aires, ortodoxo e firme na doutrina (a fé em Cristo como "aliança" e não somente "informativa, mas performativa", porque não é um simples anúncio, mas uma mudança de toda a vida), revolucionário na opção de estar do lado dos últimos, dos mais pobres, dos derrotados e dos "escravos", na convicção que sobre isto se desenvolverá o Juízo no último dia.

Este advento de pontificado que inverte, evidentemente, a geopolítica eurocêntrica da Igreja, provavelmente, graças a uma convergência sobre Bergoglio dos cardeais norte-americanos,  ocorre, portanto, na escolha de um nome que é uma profecia de mudança, como se, após a imediata oração com a praça para Joseph Ratzinger, o novo pontífice tivesse pressa de virar a página. A renovação tem, naturalmente, um custo. Papa Francisco deverá compreender que em seus deveres universais há, também, aquele da plena transparência sobre as suas relações com a ditadura militar argentina, sobre escândalos de comprometimento que o puseram em causa como jesuíta em eventos que nunca foram esclarecidos. Deverá fazê-lo para ter as mãos livres. E depois, não poderá voltar atrás em relação à novidade que representa, em relação ao mundo finito que o precedeu, às necessidades de renovação da instituição cristã, à relação entre a universalidade da Igreja e o fechamento do Vaticano. Ao peso, ao dever e à obrigação que provém da opção de chamar-se Francisco.

Tradução do italiano por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: la Repubblica.it - Esteri - 14/03/2013 - Internet: http://www.repubblica.it/speciali/esteri/conclave-papa-elezioni2013/2013/03/14/news/rivoluzione_a_san_pietro-54521580/?ref=HREA-1
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Bergoglio não deve mudar dogmas sobre fé e moral


MARCELO GODOY

Novo papa é um ortodoxo em termos de doutrina e, como dizem especialistas,
"um jesuíta nunca deixa de ser um jesuíta"
SANTO INÁCIO DE LOYOLA - Fundador da Companhia de Jesus (Jesuítas)
Jorge Mario Bergoglio é a síntese dos dois principais papáveis que entraram no conclave. O argentino é próximo ao movimento Comunhão e Libertação assim como o cardeal italiano Angelo Scola. É também um latino-americano, a exemplo do brasileiro Odilo Scherer. Se os desafios maiores da Igreja eram a crise do catolicismo na Europa e a nova evangelização, buscando enfrentar os problemas culturais existentes na África e na Ásia, nada melhor do que a Companhia de Jesus e um papa chamado Francisco para a tarefa.

Bergoglio é um homem de 76 anos e não um jovem como muitos apostavam que seria o novo papa. Trata-se de um ortodoxo em termos de doutrina; fiel, portanto à linha de Bento XVI. Não se deve, também, esperar dele mudanças nos dogmas da Igreja a respeito de fé e moral. Não foi nisso que pensaram os cardeais que o escolheram. Ele é um jesuíta - o primeiro da história a se tornar papa - e "um jesuíta nunca deixa de ser jesuíta, aconteça o que acontecer ele carrega de forma indelével a marca da Companhia de Jesus", lembra o coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e professor de teologia, Francisco Borba.

Para entender isso é preciso conhecer a história da Companhia de Jesus. Fazia 19 anos que Martinho Lutero havia sido excomungado pelo papa Leão X quando outro papa - Paulo III - confirmou a criação da Ordem em 1540 por meio da bula Regimini militantis Ecclesiae. Foram os jesuítas que enfrentaram a reforma protestante na Europa. Tornaram-se a tropa de choque de um catolicismo que via multidões passarem para o lado de Lutero. Se Joseph Ratzinger cresceu em uma Baviera católica, por exemplo, isso se deve a esses missionários. Eles criaram o catolicismo na América Latina - José de Anchieta, Manoel da Nóbrega e Antonio Vieira eram jesuítas - e o levaram à Índia, China, Indonésia e Moçambique.

Anteontem, em entrevista ao Estado, o filósofo, padre e coordenador internacional da revista Communio, Jean-Robert Armogathe, havia chamado a atenção para a importância que devia ter para a Igreja encontrar uma resposta aos desafios da nova evangelização, tanto na Europa descristianizada, quanto no Oriente e na África. Ontem, após o anúncio do novo papa, Armogathe lembrou o fato de o novo papa ter sido o ordinário dos católicos de rito oriental na Argentina, ou seja era responsável por atender espiritualmente maronitas, melquitas, coptas, armênios etc. Mais uma vez, portanto, procurou-se em Bergoglio mais do que um missionário, buscou-se um olhar para o Oriente.


SÃO FRANCISCO XAVIER
Nome
O nome adotado pelo papa Bergoglio só confirma essa escolha pelas Índias. É lícito pensar que um jesuíta que escolhe o nome de Francisco quer homenagear um dos fundadores de sua ordem: São Francisco Xavier. Podia escolher o nome de outro fundador: Inácio. Mas não. Quis se chamar Francisco. Por quê? A escolha se explica mais uma vez pelo desafio atual da Igreja. Francisco Xavier deixou Portugal em 1541 e viajou para as Índias com Martim Afonso de Souza.

Em Moçambique, o futuro santo iniciou seu trabalho missionário, convertendo os primeiros africanos ao catolicismo. Depois esteve em Goa, na Índia, na Indonésia, no Japão e na China. Morreu, em 1552, aliás, quando tentava entrar nesse país, onde atualmente os cristãos vivem, em sua maioria, a realidade de uma Igreja clandestina, perseguida pelo governo comunista. O corpo de Francisco Xavier está em Goa, antiga possessão portuguesa na Índia.

Armogathe lembra que as origens italianas de Bergoglio - havia 28 cardeais desse país no conclave - devem ter facilitado seu caminho para o trono de São Pedro. "Ele é o sinal para o clero de que a Igreja está entrando em um novo tempo: é um papa velho, um sábio, que tem uma vida espartana", disse o professor Borba. Um novo João XXIII? "Não, não creio", afirma Borba. "Bergoglio representa os valores da tradição com uma forte presença social. É uma síntese entre Scola e d. Odilo. Fico impressionado com os caminhos e respostas que o Espírito Santo, que Deus dá para a sua Igreja", disse Borba.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Especial: Nova Era da Igreja - Quinta-feira, 14 de março de 2013 - Pg. H7 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,bergoglio-nao-deve-mudar-dogmas--sobre-fe-e-moral-,1008369,0.htm
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Com Francisco, Igreja Católica muda centro de gravidade

E. J. DIONNE JR.
THE WASHINGTON POST


Ascensão de papa argentino marca mudança definitiva de curso do catolicismo romano rumo à América Latina e ao mundo em desenvolvimento


E. J. DIONNE JR. - Jornalista
Jorge Mario Bergoglio desafiou a sabedoria dos vaticanistas ao ser eleito papa. Se bem que eles deveriam tê-lo notado antes. Sua ascensão marca uma mudança definitiva de curso do catolicismo romano rumo à América Latina e ao mundo em desenvolvimento. Em termos teológicos, ele representa a continuidade, mas é o primeiro papa não europeu em mais de mil anos, e também o primeiro jesuíta.

Ele é um conservador da doutrina, que foi contra a legalização do casamento gay na Argentina e criticou colegas jesuítas que se mostraram mais liberais. Por outro lado, criticou padres que se negaram a batizar crianças nascidas fora do casamento e trabalhou em favor da justiça social. Ele é o primeiro papa a adotar o nome de um santo conhecido por sua devoção à humildade e aos pobres. E provavelmente dará atenção especial às regiões mais pobres do globo.

O fato de sua eleição ter sido uma surpresa é surpreendente. Em 2005, foi amplamente noticiado que ele ficou em segundo no conclave que elegeu Joseph Ratzinger como papa Bento XVI. John Allen, o correspondente do National Catholic Reporter em Roma, citou um prelado que disse que Bergoglio tinha colocado Ratzinger em uma disputa apertada pelo pontificado.

A base de apoio de Bergoglio permaneceu intacta nos oito anos seguintes, e um membro da Igreja disse que o argentino recebeu cerca de 30 votos na primeira votação deste conclave, na terça-feira, o que o colocou em posição privilegiada para conquistar os 77 votos necessários - de um total de 115 - em apenas quatro votações a mais.

Nos dias que antecederam o conclave, porém, ele mal aparecia na lista de prováveis escolhidos, em parte por causa de sua idade (76 anos), em parte porque alguns cardeais duvidavam se ele teria mão firme o suficiente para assumir o comando de uma Cúria com grande necessidade de reformas. Essa capacidade, agora, será testada na prática.

Católicos americanos mais liberais, que desejam mudanças nas posições da Igreja sobre o papel das mulheres e sobre sexualidade, por exemplo, não devem esperar muito do papa Francisco. Ele é um tradicionalista, ainda que o mesmo pudesse ser dito de todos os outros potenciais vencedores. Francisco foi um crítico precoce da teologia liberal, que uniu católicos e movimentos de esquerda na América Latina.

Ainda assim, um bispo americano ressaltou que a escolha de Bergoglio também não seria recebida como uma vitória clara dos conservadores. Em assuntos de liturgia, ele se opõe àqueles que querem reverter mudanças instituídas pelo Concílio Vaticano II.

O bispo também chamou atenção para o fato de que, já em seu primeiro discurso para a multidão reunida na Praça São Pedro, Francisco enfatizou seu papel como "bispo de Roma", em vez de enfatizar seu papel como líder da Igreja. Segundo o bispo, isso pode ser uma indicação de que Francisco simpatiza com a posição de alguns setores da Igreja que acham que o poder do Vaticano deve ser descentralizado.

O resultado do conclave também sinaliza um afastamento dos cardeais com ligações mais próximas com a Cúria - como a burocracia do Vaticano é conhecida - e com o candidato favorito italiano, cardeal Angelo Scola, de Milão.


Retrato de São Francisco de Assis
Pintura de CIMABUE
Basílica de Assis (Itália)
No fim das contas, a posição de Francisco como latino-americano e defensor do pobres pode ser o que mais o defina como papa.

Sua ligação com a Argentina não é livre de ambiguidades. Ele foi criticado diversas vezes por não ter assumido uma posição mais crítica perante a ditadura brutal que governou a Argentina entre 1976 e 1983. Mas ele difere de outros líderes da Igreja latina no passado, que se aliaram a governos ditatoriais em troca de privilégios próprios.

Bergoglio abriu mão de viver na mansão episcopal em favor de um pequeno apartamento, e sempre usou transporte público em vez de carro. Trabalhou nas favelas argentinas e pediu a seus padres que fizessem o mesmo. Chamou atenção para as limitações do capitalismo desregulamentado, assim como do Fundo Monetário Internacional.

Para muitos católicos, a escolha do nome Francisco é motivo de grande esperança, pois se trata do santo que desdenhava da autoridade formal, dedicava-se a viver uma vida simples, cuidava com amor dos marginalizados e dava mais valor a ações do que a discursos.

Dizem que São Francisco uma vez afirmou: "Preguem o Evangelho sempre. Se necessário, usem palavras". Uma estratégia desafiadora para um papa.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Especial: Nova Era na Igreja - Quinta-feira, 14 de março de 2013 - Pg. H9 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,com-francisco-igreja-catolica-muda-centro-de-gravidade-,1008397,0.htm

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