«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 23 de março de 2013

DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR - Homilia

Evangelho: Lucas 23,1-49


(Para ter acesso ao texto do Evangelho deste Domingo de Ramos, 
em modo jogralizado, favor clicar sobre o link abaixo:
http://www.domtotal.com/religiao/eucaristia/liturgia_diaria.php?data=2013-3-24)


JOSÉ ANTONIO PAGOLA
"Cristo entrando em Jerusalém"
Afresco de GIOTTO DI BONDONE (pintado de 1304 a 1306)
Pádua (Itália) - Cappella degli Scrovegni
DIANTE DO CRUCIFICADO

Detido pelas forças de segurança do Templo, Jesus já não tem nenhuma dúvida: o Pai não escutou os seus desejos de continuar vivendo; seus discípulos fogem buscando a sua própria segurança. Ele está sozinho. Seus projetos se desvanecem. Aguarda-o a execução.

O silêncio de Jesus durante suas últimas horas é impressionante. Sem dúvida, os evangelistas recolheram algumas palavras suas na cruz. São muito breves, porém, para as primeiras gerações cristãs, elas ajudavam a recordar com amor e agradecimento a Jesus crucificado.

Lucas recolheu as palavras que disse enquanto está sendo crucificado. Entre tremores e gritos de dor, consegue pronunciar algumas palavras que revelam o que tem em seu coração: "Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem". Assim é Jesus. Pediu aos seus discípulos para "amar os seus inimigos" e "rezar pelos seus perseguidores". Agora, é ele mesmo quem morre perdoando. Converte a sua crucificação em perdão.

Este pedido ao Pai pelos que o estão crucificando é, sobretudo, um gesto sublime de compaixão e confiança no perdão insondável de Deus. Esta é a grande herança de Jesus à Humanidade: não desconfieis jamais de Deus. Sua misericórdia não tem fim.

Marcos recolhe um grito dramático do crucificado: "Meu Deus, meu Deus! Por que me abandonaste?". Estas palavras pronunciadas em meio à solidão e ao abandono mais total, são de uma sinceridade imensa. Jesus sente que seu Pai querido o está abandonando. Por quê? Jesus se queixa de seu silêncio. Onde está? Por que se cala? 

Este grito de Jesus, identificado com todas as vítimas da história, pedindo a Deus alguma explicação para tanta injustiça, abandono e sofrimento, fica nos lábios do crucificado reclamando uma resposta de Deus para além da morte: Nosso Deus, por que nos abandonas? Não responderás, jamais, aos gritos e gemidos dos inocentes?

Lucas recolhe uma última palavra de Jesus. Apesar de sua angústia mortal, Jesus mantém, até o fim, a sua confiança no Pai. Suas palavras são, agora, quase um sussurro  "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito". Nada nem ninguém pôde separá-lo dele. O Pai esteve animando, com seu espírito, toda a sua vida. Concluída a sua missão, Jesus deixa tudo em suas mãos. O Pai romperá o silêncio e o ressuscitará. 

Nesta Semana Santa, celebraremos em nossas comunidades cristãs a Paixão e a Morte do Senhor. Também podemos meditar em silêncio diante de Jesus crucificado, aprofundando-nos nas palavras que, ele mesmo, pronunciou durante a sua agonia.


"Ninguém me tira a vida, mas eu a dou livremente".

NÃO DESÇA DA CRUZ
"Jesus cavalgando em Jerusalém"
Mural de Jean-Hippolyte Flandrin (1809-1864)
Igreja de Saint-Germain-des-Près (chapelle de la Vierge) - Paris
Segundo o relato evangélico, aqueles que passavam diante de Jesus crucificado zombavam dele e, rindo de seu sofrimento, lhe faziam propostas sarcásticas: Se és o Filho de Deus, "salva-te a ti mesmo" e "desça da cruz".

Essa é, exatamente, a nossa reação diante do sofrimento: salvar-nos a nós mesmos, pensar somente em nosso bem-estar e, por conseguinte, evitar a cruz, passarmos a vida evitando tudo aquilo que nos possa fazer sofrer. Deus seria assim? Alguém que somente pensa em si mesmo e em sua felicidade?

Jesus não responde à provocação dos que zombam dele. Não pronuncia alguma palavra. Não é o momento de dar explicações. Sua resposta é o silêncio. Um silêncio que é respeito  para aqueles que o desprezam, compreendendo sua cegueira e, sobretudo, manifestando compaixão e amor.

Jesus somente rompe seu silêncio para dirigir-se a Deus com um grito penetrante: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?". Não lhe pede que o salve descendo-o da cruz. Somente que não se oculte, não o abandone neste momento de morte e sofrimento extremo. E Deus, seu Pai, permanece em silêncio.

Somente escutando, até o fundo, esse silêncio de Deus, descobrimos algo de seu mistério. Deus não é um ser poderoso e triunfante, tranquilo e feliz, alheio ao sofrimento humano, mas um Deus calado, impotente e humilhado, que sofre com nós a dor, a obscuridade e, até mesmo, a morte.

Por isso, ao contemplar o crucificado, nossa reação não é de ridicularização ou desprezo, mas de oração confiante e agradecida: "Não desça da cruz. Não nos deixe sozinhos em nossa aflição. Para que nos serviria um Deus que não conhecesse a nossa cruz? Quem nos poderia entender? Em quem poderiam esperar os torturados de tantos cárceres secretos? Onde poderiam colocar sua esperança tantas mulheres humilhadas e violentadas sem defesa alguma? A quem se agarrariam os enfermos crônicos e os moribundos? Quem poderia oferecer consolo às vítimas de tantas guerras, terrorismos, fomes e misérias? Não. Não desça da cruz, pois se não te sentirmos "crucificado" junto a nós, nos veremos ainda mais 'perdidos'."

É difícil imaginar algo mais escandaloso que um "Deus crucificado". E, tampouco, algo mais atraente e cheio de esperança. Não se poderia crer num Deus que fosse somente poder. Acredito que os humanos somente podem confiar num Deus débil, que sofre  com nós e por nós, e somente assim desperta em nós a esperança.

Estes dias, pude ver com que arrogância atuam os poderosos e com que facilidade se destrói os fracos; quem são os satisfeitos e quem são os desgraçados; onde estão os que decidem e organizam tudo, e onde morrem as vítimas que padecem tudo.

A quem eu poderia me agarrar se Deus fosse, simplesmente, um ser poderoso e satisfeito, que decidisse e organizasse o mundo segundo à sua vontade, muito parecido aos poderosos da terra, apenas mais forte que eles? Quem me poderia dar uma esperança se não soubesse que Deus está sofrendo com as vítimas e nas vítimas? Quem me poderia consolar se não soubesse que um "Deus crucificado" é o mais oposto a estes "deuses" que somente sabem crucificar?

Esse Deus crucificado me ajuda a ver a realidade a partir dos crucificados. A partir destes homens e mulheres abatidos sem piedade alguma, se vê melhor como está o mundo e o que lhe falta para ser humano. O mal tende a disfarçar-se, porém ali onde alguém é crucificado, tudo se esclarece. Sabemos onde está Deus e onde estão  aqueles que se opõem a ele.

Os crucificados não me deixam crer nessas grandes palavras como "progresso", "democracia" ou "liberdade", quando servem para matar inocentes. Sempre se matou em nome de algum "deus". O poder tende a sacralizar-se a si mesmo, apresenta-se como intocável e indiscutível, legitima-se através dos votos ou nas grandes causas. Dá no mesmo! Quando aterroriza e destrói a inocentes, fica desmascarado. Esse poder nada tem a ver com o verdadeiro Deus

Nesta Semana Santa, ao beijar a Cruz, quero beijar a todos os crucificados, pedir-lhes perdão e ver neles a esse Deus crucificado que me chama a recordar-me deles e defendê-los sempre.

Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Segunda-feira, 18 de março de 2013 - 09h45 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

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