«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

"É difícil separar religião e política"


Entrevista com 
D. Odilo Pedro Scherer 

D. Odilo Pedro Scherer - Cardeal-Arcebispo de S. Paulo
À frente da arquidiocese de São Paulo, d. Odilo Pedro Scherer cuida de cerca de 4,5 milhões de almas católicas e cumpre, com afinco, determinação do papa Bento XVI: levar o rebanho a confirmar e redescobrir sua fé. O trabalho envolve liderar as fileiras de bispos e outros sacerdotes, mas também garantir a presença da Igreja na mídia e ocupar espaços públicos - em um campo religioso cada vez mais competitivo. O cardeal, que participa, no fim de maio, do Encontro Mundial das Famílias com o papa, em Milão, acaba de passar 10 dias com 300 bispos na Assembleia-Geral da CNBB. Em conversa com a coluna, não recusou nenhuma pergunta: de eleições ("ajudamos a comunidade a discernir sobre cada candidato") à recente aprovação de aborto de anencéfalos pelo Supremo ("uma perda para a sociedade").


Aos 62 anos, d. Odilo foi escolado nos corredores do Vaticano e carrega um blend de sotaques que reúne o original sulista, dialetos em alemão - falados em sua casa, na infância -, italiano e, agora, uma pitada de paulistanês. Na entrevista a seguir, ele revela que padres fazem psicanálise, diz gostar de Chico e Beethoven e explica por que a Teologia da Libertação, ao que parece, se foi para não mais voltar.


Qual o lado bom e o lado ruim de ser arcebispo de SP?
D. Odilo: É uma enorme graça de Deus. E, sem dúvida, é motivo de muita alegria receber uma missão tão importante. O lado difícil são os enormes desafios. A arquidiocese de São Paulo é muito grande, e o volume de trabalho também. Além de participar de todas as atividades do universo religioso, é preciso acompanhar a mídia e estar no espaço público e político, seja pela natureza da Igreja, que represento, seja pela vontade das pessoas de ouvir o arcebispo em certos momentos.


O que o senhor sentiu ao receber a notícia de que seria nomeado bispo auxiliar para SP e mais tarde arcebispo?
D. Odilo: Eu já tinha 52 anos e trabalhava na Congregação para os Bispos na Santa Sé, por onde passam as nomeações dos bispos. Portanto, sabia o que significava e as implicações do serviço. Senti, evidentemente, o peso da decisão. No momento em que disse "sim, aceito", senti uma enorme carga de responsabilidade.


Teve medo?
D. Odilo: Medo, não. Mas pensei nas implicações e se daria conta.


O senhor já fez terapia? Padres podem fazer?
D. Odilo: Eu nunca fiz, mas padres podem, sim, fazer. Por que não? Em algumas situações, é até aconselhado.


Conhece casos de padres que fizeram?
D. Odilo: Conheço, mas não vou citá-los. O padre é um ser humano. Pode ter estresse, crise depressiva, disfunção neurológica hereditária, que provoca problemas psicológicos e comportamentais.


Quando o senhor não está envolvido com as atividades de cardeal-arcebispo, costuma fazer o quê?
D. Odilo: Gosto muito de música popular e erudita. Beethoven, Bach e Brahms. Também Chico Buarque, Maria Bethânia... da MPB, gosto de vários cantores. Escuto música quando trabalho, no escritório, enquanto mexo na papelada. Este é um hábito que aprendi no seminário e que trago desde menino.


Vai ao cinema?
D. Odilo: Pouco, infelizmente. Não dá tempo. Mas gosto de ir.


O senhor viu o filme Habemus Papam (ficção sobre um papa que, ao ser eleito, não consegue assumir por causa do peso da responsabilidade), que está em cartaz nos cinemas?
D. Odilo: Ainda não. Vou tentar assistir na Itália, no idioma original.


O papa é esperado no Rio para a Jornada da Juventude, em 2013. Qual a importância do evento?
D. Odilo: É muito importante, para que apareça o rosto jovem da Igreja. Para que interajam e vejam que há muitos outros jovens, inclusive de outros países, que creem como eles. Também é um momento de se encontrarem com o papa Bento XVI.


Quais são os desafios de realizar este evento?
D. Odilo: São muitos, de todo o tipo, de ordem logística. Isso não é fácil em um evento para o qual se esperam milhões de pessoas. Está mais por conta da arquidiocese do Rio, que organiza localmente e está trabalhando duro. Estamos organizando, em âmbito nacional, o envolvimento de toda a juventude.


Existe a expectativa de um grande público no Rio?
D. Odilo: Existe. O Rio de Janeiro atrai por si mesmo, mas não se vai para lá fazer turismo. A Jornada é momento de viver uma programação intensa, com várias temáticas, em conjunto, pelos participantes. Isso requer bastante esforço e até disposição para enfrentar alguns desconfortos. É evidente que, no fim, por melhor que seja a organização, em algum momento vai falhar. Não é que todo mundo poderá dormir em hotel de quatro estrelas, e é inevitável o congestionamento no trânsito, por exemplo. Mas o pessoal vai na alegria, porque é uma experiência única.


Como manter os jovens envolvidos com o catolicismo e o seu lado erudito?
D. Odilo: A Jornada Mundial da Juventude é um modo de despertar isso. Não há como manter o interesse dos jovens, senão pondo-os em contato. Ninguém ama o que não conhece. O encontro é para deixar que a juventude faça suas perguntas, se expresse e perceba também os valores e toda a história da Igreja. Isso faz com que ela se sinta parte da Igreja e não a enxergue como algo distante.


Como se adaptar aos novos tempos sem perder a qualidade do catolicismo?
D. Odilo: Este é um enorme desafio, que a Igreja enfrenta há dois mil anos. Estamos vivendo uma virada epocal, semelhante à ocorrida na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, e da Moderna para a Contemporânea. São momentos em que a Igreja tem de reaprender, propondo-se de forma nova, mas mantendo-se idêntica a si mesma. É o que estamos precisando fazer hoje.


A Renovação Carismática é um caminho?
D. Odilo: É, mas não o único. Existem muitos outros, bem diversos da Renovação Carismática.


Como, então, frear a perda de fiéis para igrejas pentecostais?
D. Odilo: Não há outro modo, senão ajudando os fiéis a se sentirem fortalecidos na própria fé e enraizados na Igreja. Mas a ideia que se passa é que só a Igreja Católica está perdendo fiéis. Outras perdem, porcentualmente, muito mais. Se vocês olharem o censo de 2000 a 2010, verão o quanto a Igreja Universal do Reino de Deus perdeu. Hoje, há uma oferta religiosa muito ampla, e eu diria agressiva. As pessoas, de alguma forma, estão sob pressão para fazer novas escolhas.


Este é um ano de eleições. Na sua opinião, a religião deve influenciar a política?
D. Odilo: Não sei se a religião deve influenciar a política, mas as convicções religiosas dos cidadãos repercutem na política. Religião e política não se fundem, não se sobrepõem, mas é muito difícil separar as duas coisas.


Qual a orientação da Igreja Católica para o processo eleitoral deste ano?
D. Odilo: A mensagem dos bispos é para que o povo se interesse pela participação política, procure conhecer bem os candidatos. Fiquem atentos à aplicação da lei 9.840, contra a corrupção eleitoral, o abuso do poder econômico e a compra de votos. Enfim, estejam atentos para escolher candidatos idôneos.


A Igreja apoia candidatos?
D. Odilo: Não costumamos indicar candidatos, porque é uma questão de escolha livre e consciente de cada um. Recomendamos, também, que o clero não tome posição partidária, pois isso cria divisões. Não escolhemos partidos nem candidatos. Mas ajudamos a comunidade a discernir sobre cada um. E possa escolher aqueles sintonizados com nossas convicções - de justiça social, atendimento das necessidades da população carente, justiça econômica, promoção do desenvolvimento, respeito à dignidade da pessoa e moralidade pública.


Na Itália, sede do Vaticano, e em vários países desenvolvidos, o aborto é legalizado há muitos anos. A Igreja está na contramão da saúde pública?
D. Odilo: A legalização do aborto não é a promoção da saúde pública, mas a legalização da morte de seres humanos. Se está na contramão de outras decisões? É possível, mas a Igreja não pode estar na contramão dos princípios básicos da dignidade humana, proclamados pelas nações, pela Constituição brasileira, pela ONU. Nem que todos os países aprovassem a legalização do aborto, a Igreja não poderia aprová-la.


Como o senhor recebeu a aprovação do aborto de anencéfalos pelo STF?
D. Odilo: A aprovação não muda a posição da Igreja em relação à questão, que é de respeito pleno à vida daquele ser humano - ainda que seja muito breve. Se isso foi tornado legal, não significa que se tornou moral. Fique claro que não foi a Igreja que perdeu, nem os cristãos, mas a sociedade brasileira. A humanidade perdeu em sensibilidade, em respeito à pessoa e ficou mais endurecida em relação às fragilidades e aos defeitos humanos.


Se não houvesse celibato, haveria mais padres?
D. Odilo: Não sei, talvez. É bastante difícil responder a esta pergunta de forma hipotética. Porém, há um fato: em outras igrejas que não têm celibato, também faltam ministros. O problema não é o celibato, mas uma coisa mais profunda, a experiência da fé e o valor da proposta religiosa.


Quais foram e ainda serão as consequências para a Igreja dos casos de pedofilia? Como o senhor os enxerga?
D. Odilo: Não é só um problema da Igreja. Mais de 90% dos casos ocorrem embaixo do teto familiar. Lamentavelmente, também ocorreram e ocorrem em ambientes religiosos. Creio que trouxe um grande dano à credibilidade da Igreja, mas também está trazendo grande purificação. E uma atenção também da sociedade para a questão.


Como coibir, de forma prática, a pedofilia na Igreja? Palestra? Terapia?
D. Odilo: Não é só na Igreja, é na sociedade como um todo. Como é possível tentar combater isso se, nas escolas, coloca-se camisinha ao alcance de crianças? São um convite a fazer sexo, a promiscuidade, desde cedo. A preocupação é combater a aids, mas não se percebe que ali está se promovendo um monte de outras consequências danosas. Dentro da Igreja, evidentemente estamos muito atentos em fazer uma nova retomada da consciência, respeito aos valores morais e da observância dos mandamentos da Lei de Deus.


A Teologia da Libertação está enfraquecida, mas ainda é lembrada como uma corrente da Igreja preocupada em abolir as injustiças sociais.
D. Odilo: Foi um momento da história da teologia. Ela perdeu suas motivações próprias, por causa da ideologia marxista de fundo - materialismo ateu, luta de classes, uso da violência para conquistar objetivos -, que não casa com a teologia cristã. Isso foi percebido pouco a pouco. Talvez tenha tido méritos, por ajudar a recobrar a consciência de questões como justiça social, justiça internacional e a libertação dos povos oprimidos. Mas estes sempre foram temas constantes do ensino da Igreja. E vão continuar a ser.


Ainda há muitos padres da Teologia da Libertação?
D. Odilo: Não sei se muitos. Ainda existem simpatizantes, mas já não são tantos assim.


Nos seminários brasileiros, ainda há bastantes padres da Teologia da Libertação lecionando?
D. Odilo: Não, não creio.


O senhor poderia ser eleito papa um dia? Pensa nisso?
D. Odilo: Não estou imaginando isso, não. Só um será eleito papa e existem tantos que podem ser escolhidos! É o conclave que decide, não alguém que se propõe ou que diz "quero ser papa" ou "vote em mim, eu vou ser papa". Isso não existe. Portanto, não passa pela minha cabeça outra coisa além de ser arcebispo de São Paulo.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Caderno2 - Coluna "Direto da Fonte" - Segunda-feira, 30 de abril de 2012 - Pg. D2 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,e-dificil-separar-religiao-e-politica-afirma-d-odilo-scherer,867113,0.htm

Brasileiros pagam R$ 194,8 bilhões de juros bancários por ano, ou R$ 3,6 mil por cliente


MÁRCIA DE CHIARA

Os brasileiros gastam R$ 194,8 bilhões por ano com pagamento de juros de empréstimos bancários. Isso equivale a dizer que, se todas as 54 milhões de pessoas com conta em banco hoje tivessem buscado crédito no sistema financeiro, cada uma teria um gasto anual de R$ 3,6 mil. Essa cifra corresponde à despesa só com juros, sem considerar a amortização do empréstimo principal.


Os cálculos da despesa com juros foram feitos, a pedido do Estado, pelo presidente da empresa de classificação de risco Austin Rating, Erivelto Rodrigues. Para chegar a esse resultado, foram consideradas cinco linhas de crédito: 

  • cheque especial, 
  • crédito pessoal, 
  • crédito consignado, 
  • aquisição de veículos e 
  • de bens. 
Os saldos e as respectivas taxas de juros cobradas em cada linha usadas no cálculo estão disponíveis no relatório de crédito de março do Banco Central. Ficaram de fora o crédito imobiliário e o cartão de crédito.


Os dados mostram que, para as linhas analisadas, o gasto com juros cresceu 60% em três anos. Em março de 2009, a despesa anual com juros das linhas de crédito analisadas era de R$ 121,5 bilhões e, em março deste ano, atingiu R$ 194,8 bilhões. No mesmo período, o saldo das operações de crédito correspondentes cresceu 85%: de R$ 264,5 bilhões em março de 2009 para R$ 490,7 bilhões em março deste ano.


"O ritmo de aumento do gasto com juros foi menor do que o aumento do volume dos empréstimos feitos ao consumidor exclusivamente por causa da redução da taxa básica de juros, Selic, já que o spread ficou estável no período", ressalta Rodrigues.


Em março de 2009, a Selic efetiva, que é o parâmetro do custo de captação dos bancos, estava em 11,7% ao ano. Em março deste ano, era de 9,4%. A queda é de 2,3 ponto porcentual. Durante esse período, o spread, que é a diferença entre o custo de captação e de empréstimo, ficou estável em torno de 28%.


Nas últimas semanas, o governo vem pressionando os bancos privados a reduzir os juros cobrados do consumidor para impulsionar o consumo, reativar o mercado doméstico e a atividade econômica, que enfraqueceu no primeiro trimestre. A estratégia foi baixar as taxas cobradas nas linhas de crédito dos bancos oficiais (Caixa e Banco do Brasil) para acirrar a concorrência e forçar a queda dos custos dos empréstimos aos clientes.


Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, compara o efeito atual dos juros, amarrando o consumo, com o impacto nos preços exercido pela inflação. "O Plano Real tirou o peso da inflação no mercado doméstico, que foi trocado pelos juros e impostos."


Silveira diz que, no momento atual, no qual a economia mundial deve crescer 2,5% este ano, a metade de 2011, é crucial reduzir os juros para garantir o dinamismo do mercado doméstico. "Imagina o quanto poderíamos ter crescido se não tivéssemos carregado juros elevados por quase 20 anos?", questiona.
Fonte: O Estado de S. Paulo - Economia & Negócios - Domingo, 29 de abril de 2012 - Pg. B1 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,brasileiros-pagam-r-1948-bilhoes-de-juros-bancarios-por-ano-ou-r-36-mil-por-cliente--,866730,0.htm

COMO ACOMPANHAR AS ATIVIDADES DOS POLÍTICOS? SAIBA AQUI!


Projeto "Excelências"


Este site na internet traz informações sobre todos os parlamentares em exercício nas Casas legislativas das esferas federal e estadual, e mais os membros das Câmaras Municipais das capitais brasileiras, num total de 2368 políticos. 

Os dados são extraídos de fontes públicas (as próprias Casas legislativas, o Tribunal Superior Eleitoral, tribunais estaduais e superiores, tribunais de contas e outras) e de outros projetos mantidos pela Transparência Brasil, como o  (financiamento eleitoral) e o  (noticiário sobre corrupção).

Basta clicar na cidade ou estado e fazer a busca.
Se buscarem sem digitar nada, aparece uma lista com todos os políticos da zona escolhida.

Façam bom uso e COMPARTILHEM essa ferramenta, que é muito importante. 

É um ano de eleições e podemos fazer a diferença. 

Este é o endereço deste importante site:

domingo, 29 de abril de 2012

Renda média das mulheres cresce 13,5% em uma década


LUCIANA NUNES LEAL E WILSON TOSTA

Crescimento delas é bem maior que a média do País, de 5,5%; Nordeste é a região onde aumento foi mais acentuado


O rendimento médio do trabalho das mulheres brasileiras cresceu 13,5% em 2010 na comparação com 2000 - muito além dos 4,1% dos homens e dos 5,5% de ambos os sexos somados, constatou o IBGE. O órgão verificou que, com as mudanças, a renda mensal média feminina, que equivalia a 67,7% da dos homens no início da série, passou a 73,8% no fim.


A pesquisa mostra que os maiores avanços da renda média mensal das trabalhadoras aconteceram no Nordeste (aumento foi de 30,3%). Quem menos avançou foi o rico Sudeste (6,5%). Os valores foram corrigidos pelo INPC, com base em setembro de 2010.


Para Marcelo Néri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), não há surpresa nesses números. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em suas edições de 2001 a 2009, já mostrava crescimento geral da renda de mulheres e dos mais pobres. "O padrão de crescimento do Brasil é diferente do de outros países emergentes, como China e Índia", afirmou. Enquanto nesses países a expansão é mais forte nas áreas mais modernas, no Brasil ela se concentra no Nordeste - mais pobre e atrasado. "Xangai cresce dois pontos acima do resto da China. Aqui, São Paulo cresce menos que o Brasil."


A educação é o segredo do maior avanço das mulheres em comparação com os homens. "Elas passaram os homens em escolaridade em 1996", disse Néri.


Desempenho. A advogada Jocely Monteiro Guedes Ribeiro, de 46 anos, viu sua renda crescer 500% em dez anos. No meio do caminho, seu ganho mensal ultrapassou o do marido, o microempresário Pedro Tadeu Guedes Ribeiro, de 44, e de toda a família, que vive em Ibiúna (SP).


Ela conta que o desempenho financeiro começou a melhorar depois que desfez a sociedade com um colega num escritório de advocacia da cidade, em 2000. Como era muito procurada para resolver questões imobiliárias, Jocely fez pós-graduação em direito civil e processo civil, além de cursos de direito imobiliário, obteve o registro de corretora de imóveis e passou a prestar assistência em vendas e locações.


A advogada acredita que ser mulher até ajudou sua carreira profissional. "Tenho a impressão de que passamos mais confiança aos clientes."


COLABOROU JOSÉ MARIA TOMAZELA.


Fonte: ESTADÃO.COM.BR - 28 de abril de 2012 - 03h07 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,renda-media-das-mulheres-cresce-135-em-uma-decada-,866416,0.htm

CÓDIGO FLORESTAL: Dilma vai ter coragem de vetar o Código Florestal?


Leonardo Sakamoto *

Leonardo Sakamoto - jornalista
Seja qual for a decisão que Dilma tomar sobre o novo Código Florestal, aprovado pela Câmara dos Deputados, nesta quarta (25), ela será emblemática. Mostrará o que será o resto do seu mandato presidencial.


O novo texto do Código Florestal tornou-se polêmico por propor um enfraquecimento na proteção ambiental do país:

  •  Anistia para quem cometeu infrações ambientais, 
  • isenção de pequenas propriedades de refazerem as reservas desmatadas, 
  • liberação de crédito rural a quem já desmatou além da conta, estão entre as medidas.
Se Dilma vetar a maior parte do texto, estará apoiando os que atuam na defesa de um desenvolvimento minimamente sustentável e na garantia da qualidade de vida das gerações futuras. Isso vai satisfazer ambientalistas, cientistas, parte dos formadores de opinião e da sociedade civil, alguns ministros, mas comprará uma boa briga com a Frente Parlamentar da Agricultura, vulgo Bancada Ruralista, federações de produtores rurais, outros ministros e grandes empresas do agronegócio – que veem no instrumento uma forma de facilitar seus processos produtivos e aumentar seu poder de concorrência e/ou sua taxa de lucro.


Se sancioná-lo, vai mandar um recado claro: as políticas sociais e ambientais, declaradas como prioritárias, serão aplicadas desde que dentro de limites impostos pela governabilidade. Ou seja, nada de novo. Teremos que nos contentar com mais três anos de “utopia do possível”, expressão forjada na gestão FHC para encobrir os ossos lançados por quem está dentro da festa para a horda que aguarda do lado de fora – política abraçada com alegria pelos oito anos de governo Lula. Outro recado: no modelo de independência institucional vigente, não há governabilidade sem que os prejuízos de setores do agronegócio sejam socializados, enquanto os lucros mantenham-se privados.


Verificou-se que grande parte da base governista votou a favor do texto do relator Paulo Piau (PMDB-MG) – deputado que conseguiu a proeza de deixar pior algo que já estava ruim. Foram 274 votos a favor, mandando um recado: o Executivo tem o total apoio da base aliada (sic) para aprovar as matérias – desde que sejam aquelas que esses deputados querem que sejam aprovadas. Ou as de interesse dos lobistas que agem sobre o Congresso. Ou de seus financiadores de campanha – enfim, são vários os favores e longa a relação de dívidas.


A base é aliada, em verdade, de uma visão de desenvolvimento concentradora, excludente e predatória vigente em Pindorama [Brasil] desde sempre.


Por isso, a distribuição de cargos de primeiro, segundo e terceiro escalões tem servido muito pouco para o governo federal já que as vitórias são obtidas, principalmente, em assuntos de interesse desse pessoal. Ou alguém acredita que, nessa fatura da base aliada, está incluída a aprovação de leis que facilitariam o acesso aos direitos fundamentais, como o aumento nas garantias aos povos indígenas e quilombolas? Não, isso ficaria mais caro. Talvez, nem tivesse preço.
Desmatamento na Amazônia


Há outras opções: Não vetar, nem sancionar – deixar o prazo correr para uma sanção automática. Dilma teria coragem de correr para baixo do tapete enquanto a banda passa? De qualquer maneira, quem cala consente, seja ao ver um genocídio e não fazer nada (como o que vem ocorrendo com os Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul), seja ao ver um ataque claro aos direitos das futuras gerações e fazer cara de paisagem. Ou melhor, ir para o cinema.


Outro caminho, o mais provável, será vetar partes do texto e editar medidas provisórias, tentando, na medida do possível, conciliar as posições ambientalistas e ruralistas (é ridículo separar assim, mas vá lá). Deputados que foram contra o conteúdo aprovado ontem queriam aquele que saiu do Senado, menos agressivo. Mas esquecem que o Congresso acabou produzindo um grande “bode na sala”, uma vez que o texto do Senado não era bom e sim menos pior do que aquele que saiu inicialmente da Câmara sob as mãos do então relator Aldo Rebelo. Para garantir que não seja criticada na Rio+20 por produzir um “Código do Desmatamento”, Dilma terá que passar a faca fundo.


E isso, é claro, sempre rezando para não tomar um outro passa-moleque do Congresso Nacional, que poderia derrubar os vetos.


Ou seja, cada situação tem sua implicação. Agora é a hora de se confirmar para quem esse governo foi eleito. A forma como vêm sendo implantadas as grandes obras de hidrelétricas na Amazônia, sem diálogo e com um grande rolo-compressor, já dão uma bela dica.


* Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Professor de Jornalismo na PUC-SP, é coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.

Fonte: Blog do Sakamoto - 26/04/2012 - 01h34 - Internet: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2012/04/26/dilma-vai-ter-coragem-de-vetar-o-codigo-florestal/

Código Florestal: Aguardado o veto de Dilma


Nádia Pontes
Deustche Welle
26.04.2012

Mudanças na principal lei florestal brasileira opõem ruralistas e ambientalistas e expõem divisão na base aliada do governo. Ativistas pressionam para que Dilma vete o novo Código 
Câmara dos Deputados - Brasília (DF) - Votação do Código Florestal: 25/04/2012
O governo pensou que evitaria a polêmica e ganharia pelo voto. Mas não conseguiu. O texto do Código Florestal aprovado pelos deputados nesta quarta-feira (25/04) exclui a maioria dos pontos defendidos pela administração federal. Foi uma derrota por uma diferença de 90 votos, que escancarou uma divisão na base aliada do governo. Em tese, PT e PMDB deveriam garantir maioria à Dilma na Câmara dos Deputados.


Especialistas dizem que o resultado confirmou a inclinação pró-ruralista da Câmara dos Deputados. E aqueles que votaram com a presidente Dilma Rousseff contam agora com o veto presidencial ao projeto – Dilma, anfitriã da conferência que vai discutir o desenvolvimento sustentável do planeta, a Rio+20, já havia dito que se oporia a qualquer dispositivo que aumentasse o desmatamento.


Um dia depois da aprovação pelos deputados, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, admitiu que o resultado não era o esperado pelo governo e que Rousseff analisará com "serenidade" a possibilidade de barrar a lei. Sobre o impacto que o novo Código Florestal possa ter na Rio+20, Carvalho disse que "muito mais importante" seria o cuidado com a preservação e com o modelo de desenvolvimento sustentável que o país prega.


As mudanças na principal lei florestal brasileira opõem duas grandes frentes: a dos ruralistas e a dos ambientalistas, que trocam acusações e usam frases de impacto para impor suas visões. De um lado, organizações como o WWF e o Greenpeace anunciam "o início do fim das florestas". Do outro, o setor agropecuário festeja: o Congresso Nacional teria escolhido o caminho da produção agropecuária sustentável.


Perdão das dívidas e do desmate


Maria Cecilia Wey de Brito - WWF Brasil
Para os ambientalistas que acompanharam o caso e tentaram tornar o mais público possível o embate em Brasília, o sentimento é de tristeza. "Estamos tentando digerir o que aconteceu. Estamos nos preparando para ajudar a presidente Dilma a exercer poder de veto completo", afirmou Maria Cecilia Wey de Brito, secretária-geral do WWF no Brasil, à DW Brasil.


A acusação é que os deputados se renderam ao assédio da bancada ruralista. "Desde o início do processo, o Brasil esteve refém dos interesses do setor, que fez de tudo para incorporar suas demandas ao projeto de lei", acusa Paulo Adário, diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace.


A ONG afirma que o Código concede anistia a desmatadores e abre brechas para mais devastação em florestas e matas nativas de todo o Brasil, incluindo a Floresta Amazônica. Isso porque as multas por crimes ambientais cometidas até 22 de julho de 2008 serão perdoadas, desde que o proprietário faça parte de um programa de regularização ambiental e cumpra os compromissos acertados. As exigências que esse programa fará ainda não foram definidas.


Além de ficarem livres da penalidade financeira, os proprietários em questão também não precisam recompor o que foi desmatado até 2008. O senador Ricardo Tripoli calcula que proprietários rurais que descumpriram a atual legislação devem multas no valor de 30 milhões de reais.


As atividades agrícolas e pecuárias em áreas de preservação permanentes já ocupadas até 22 de julho de 2008 ficam regularizadas. Como é difícil para as autoridades ambientais identificar se o desmatamento ocorreu antes ou depois dessa data, nada impede os proprietários de continuarem desmatando.


A única vitória do governo


Outro ponto importante do novo Código diz respeito à área de floresta nas margens de rios. Quem derrubou a mata nativa em margens de rios com até 10 metros de largura terá que recompor a vegetação em 15 metros. O espaço é considerado Área de Preservação Permanente (APP), protegida por sua importância ambiental. Essa foi a única exigência feita pelo governo mantida pelos deputados – antes da votação, os ruralistas rejeitavam qualquer obrigação de recuperação dessas áreas.


Ainda assim, houve protestos. A bancada ruralista diz que essa alteração vai reduzir a área produtiva do país, principalmente nas pequenas propriedades, causando um encolhimento de 33 milhões de hectares – 11 milhões deles seriam de pequenos produtores. Para os governistas, a agricultura familiar não enfrenta essa dificuldade alegada pelos ruralistas, e que esse discurso seria uma "falsa ilusão".


Para Maria Cecilia Wey de Brito, a mensagem para a sociedade brasileira é negativa. "Fica claro que os deputados acham aceitável que as pessoas que cometem ilegalidade sejam perdoadas. E quem sempre cumpriu a lei fica se achando injustiçado."


Para as florestas e recursos naturais do Brasil, o efeito deve ser nocivo, prevê MAria Cecilia. "Mais desmatamento, piora da qualidade e volume de água – daí sim, os produtores rurais vão sentir os efeitos negativos."


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Sexta-feira, 27 de abril de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/508909-ambientalistas-aguardam-veto-de-dilma

CÓDIGO FLORESTAL - Texto é vitória ruralista e desmate vai subir


GIOVANA GIRARDI

Aprovação do parecer do relator Paulo Piau derruba todos os pontos de proteção que vieram do Senado

Tasso Azevedo
Apesar de a recuperação de 15 metros das margens de rios com até 10 metros ter ficado no Código Florestal, o relator Paulo Piau conseguiu aprovar seu parecer na íntegra, derrubando 21 pontos do texto do Senado que garantiam mais proteção às florestas.


Para Tasso Azevedo, consultor ambiental, essas mudanças tornam o texto muito pior e o resultado pode ser considerado vitória dos ruralistas. "Não resta saída a Dilma senão vetar", diz.


Um dos recuos é em relação ao cadastro rural. O texto do Senado dava um prazo de cinco anos para que os produtores fizessem o cadastro e só com isso eles poderiam pedir o crédito rural. Essa necessidade caiu.


Outro ponto é o que permite que terras indígenas e Estados da Amazônia que têm mais de 65% de sua área protegida por unidades de conservação (UCs), como o Amapá, tenham uma redução da reserva legal de 80% para 50%. "Isso pode ser o caso também de Roraima. Já tem gente incentivando a criação de novas UCs para poder reduzir a reserva legal e desmatar mais", afirma Tatiana de Carvalho, da campanha Amazônia do Greenpeace.


"O pessoal ficou muito focado no artigo 62 (que falava da restauração das APPs) e se esqueceu dos outros pontos que podem aumentar muito o desmatamento", diz. Segundo ela, o que eventualmente venha a ser recuperado nas APPs não chega a compensar o que poderá ser desmatado agora. "O texto tem tantas brechas que concedem anistia que a degradação só vai crescer."


Mario Mantovani - SOS Mata Atlântica
"Esse resultado mostra que o que é interesse público, como ar, água, é negociado como moeda de troca. A chantagem venceu o Brasil. O governo não operou, não fez absolutamente nada para mudar a situação. Quando perdeu na aprovação do texto da emenda 164 (que anistiava os desmatadores), em maio do ano passado, o placar foi de 273 a 182. Agora foi 274 a 184. O governo deixou isso acontecer", afirma Mario Mantovani, diretor da SOS Mata Atlântica.


Ele cita como ponto dramático a retirada do Código da definição de pousio (período sem uso do solo), que o texto do Senado considerava ser uma interrupção temporária de atividades agrícolas ou pecuárias por, no máximo, cinco anos em até 25% da área produtiva da propriedade.


"A ideia de pousio agora pode ser aplicada para tudo. Por exemplo, uma área abandonada por um proprietário que depois de muitos anos se regenerou e hoje apresenta uma mata secundária de novo poderia voltar a ser ocupada se ele alegar que é só um pousio e tem intenção de plantar de novo. Isso pode acabar com a Lei da Mata Atlântica", declara.


Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Notícias - 26 de abril de 2012 - 03h01 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,texto-e-vitoria-ruralista-e-desmate-vai-subir-dizem-ambientalistas-,865414,0.htm?reload=y



quarta-feira, 25 de abril de 2012

Falta professor em 32% das escolas estaduais de São Paulo


FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO


Levantamento se refere à cidade de São Paulo; maior parte das aulas vagas é de arte, geografia e matemática
Para secretaria, dados não refletem realidade; na zona norte, alunos tiveram apenas duas aulas de geografia

Dois meses após o início do ano letivo, uma em cada três escolas estaduais da capital enfrenta falta de professores.


Dados levantados pela Folha a partir de convocações das diretorias de ensino na primeira semana de abril mostram que, dos 1.072 colégios, 343 têm vagas abertas. Faltam professores, principalmente, nas disciplinas de arte, geografia, sociologia e matemática.


A Secretaria Estadual da Educação diz que o resultado não reflete a "realidade". Sem citar números específicos, o governo afirma ter uma estimativa segundo a qual o deficit é de apenas 0,6% em todo o Estado - não citou, porém, dados sobre a capital, alvo do levantamento da Folha.
OUVINDO FUNK


Na escola estadual Gavião Peixoto, na zona norte da cidade, alunos do oitavo ano do ensino fundamental dizem que só tiveram duas aulas de geografia até agora. Na sétima série, nenhuma de artes.
Os estudantes relataram que, algumas vezes, o professor substituto das aulas vagas acaba ouvindo funk com os jovens dentro da sala.


Na rede estadual, o déficit de professores persiste mesmo após a Secretaria da Educação liberar a convocação de profissionais reprovados em exame do Estado e de outros que nem fizeram a prova -o número de docentes nessa situação não foi divulgado.


Também foram chamados para lecionar estudantes universitários de licenciatura.
Segundo a secretaria, cerca de 2% do magistério está nessa condição - não possui ensino superior completo.


A regra autoriza a entrada até de universitários que nem cursaram 50% do curso.
A rede enfrenta problemas de qualidade: no último exame estadual, só 4,2% dos formandos no ensino médio apresentaram conhecimento adequado em matemática.


Na rede municipal, a situação da falta de professores é menor. A prefeitura informou que, na primeira semana de abril, faltavam 198 docentes nas cerca de 1.400 escolas.
O número de escolas com deficit atinge, portanto, no máximo 14% das escolas, ou seja, menos da metade do montante da rede estadual.
Ainda assim, afirma a prefeitura, os alunos não ficam sem aulas, pois já é previsto um número extra de professores por unidade.


REAJUSTE SALARIAL


Na tentativa de melhorar o quadro docente, a gestão Alckmin (PSDB) implementou plano de reajuste salarial, que prevê aumento de 42% até o final do mandato. Fez também concurso público.


"O caminho está certo, mas [o aumento] deveria ser mais agressivo", disse o presidente da Udemo (sindicato dos diretores), Francisco Poli.
Segundo ele, muitos professores desistem da rede, atraídos por salários melhores em outras atividades.


PROVIMENTO


O pesquisador Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP, afirma que a falta de professores na rede estadual "é injustificada".
Ele citou dois motivos. O primeiro, disse, porque é possível estimar o número de professores que vão sair da rede com base em dados históricos. Além disso, afirmou, o número de estudantes na educação básica no Estado caiu 40% entre 1993 e 2011.


"O que se assistiu foi a falta de uma verdadeira política para o provimento de profissionais da educação", diz.


Colaborou VIVIANE VECCHI.


Fonte: Folha de S. Paulo - Cotidiano - Quarta-feria, 25 de abril de 2012 - Pg. C1 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/39178-falta-professor-em-32-das-escolas-estaduais.shtml

Cresce número de moradores de rua em São Paulo


Mônica Bergamo
Folha de S. Paulo
24.04.2012

Retrato da Rua


O número de moradores de rua em SP cresceu cerca de 6% entre 2009 e 2011. É o que aponta censo encomendado pela Secretaria Municipal de Assistência Social. Eram 13.666 pessoas em 2009 e 14.478 no ano passado.


Família


A maior parte dos moradores (53%) está em albergues da prefeitura. E houve aumento de 9% no número dos que aceitaram abrigo. Vinte crianças continuam nas ruas da região central - todas, diz o estudo, com os pais.


Família 2


O levantamento foi feito em novembro, antes da operação da polícia na cracolândia. Na ocasião, 50 mulheres disseram estar grávidas.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Terça-feira, 24 de abril de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/508808-crescenumerodemoradoresderuaemsp

O terceiro genocídio


Johan Konings *

Há um "genocídio intelectual" contra as crianças brasileiras, em decorrência da exclusão escolar e da baixa qualidade da educação

Criança e policiais durante ocupação da favela do Borel - RJ (Foto: AE)
O problema da insuficiência da educação e do ensino em nível popular no Brasil é conhecido de todos os que têm contato amplo com esse âmbito e de quem lê as estatísticas internacionais comparativas. 


Impressiona a passividade diante do fato frequentemente apontado de que muitos alunos no fim do ensino médio constatam que não sabem quase nada. Já se calculou quantos milhares de alunos, cada ano, saem enganados de nossas escolas? 


Olhando especificamente para o ensino fundamental na escola pública, constata-se enorme insuficiência, muitas vezes, não por falta de dinheiro, mas por falta de genuína atenção pedagógica e de projeto claro e pé-no-chão, quer da parte das administrações municipais, quer das direções escolares, e inclusive de alguns ensinantes, já embotados pela situação reinante ou acomodados em sua condição de funcionário público estável. Não faltam belas palavras, mas uma coisa é o que dizem a Secretaria de Ensino e a Direção da Escola, outra coisa o que se ouve da boca dos professores e dos pais.


A análise é complexa. Existe um legado histórico pouco positivo. A época colonial não foi propícia para o “ensino para todos”, fora os esforços de certas entidades religiosas. Mesmo na era republicana, até algumas décadas atrás, as escolas públicas eram elitistas. A recente universalização do ensino público, com suas dificuldades e limites, faz com que os próprios professores do ensino público mandem seus filhos para o ensino particular, dificultando ainda mais a valorização do ensino público. E a emergente classe C procura seguir esse exemplo.


Além disso, a escola pública tende a livrar-se da dimensão educacional e limitar-se ao ensino propriamente, o que é uma grande ilusão, pois a aprendizagem depende em grande parte de fatores propriamente educacionais e não meramente didáticos, como sejam a interação com o ambiente familiar, a escala de valores, a gradativa compreensão do mundo e da sociedade em que se vive, o senso de cidadania etc. 


Entraram na sala de aula a violência e a droga. Estabelecer limites, coisa que já era difícil por causa do contexto consumista, torna-se impossível pelo atravessamento dos traficantes. Os diretores têm medo. Não adianta dizer que isso não são problemas do ensino: a escola não pode desconsiderar os fatores que impossibilitam a educação escolar, ainda que sejam introduzidos de fora. 


Não é apenas uma questão de investimentos. Algumas administrações exibem – por causa do ano eleitoral – declarações surpreendentes a respeito de seus investimentos no ensino, mas não se trata só disso. Trata-se de mentalidade, de prioridade, de escala de valores. Estamos numa sociedade em que o Carnaval e o futebol são mais importantes que uma educação coerente. Não nego que escolinhas de futebol e de carnaval possam ter efeito educativo, mas não é “para todos”, nem para todas as dimensões da vida. Não é o “comum”, e é precisamente o comum que necessita atenção


Cristovam Buarque - Senador
O âmbito comum, cotidiano da educação – ou da deseducação – é a família, a escola “para todos”, o bairro, os ambientes de diversão... E se a escola não é o âmbito que mais “ocupa”, é pelo menos aquele em que a sociedade pode com mais facilidade inserir sua contribuição para a educação. Assim, a escola “para todos” (que não precisa necessariamente ser “estatal”, mas poderia ser a escola particular conveniada e subsidiada) deve ser aprimorado para que todas as crianças e adolescentes sejam conduzidos não só ao conhecimento suficiente, mas à maturidade e ao enobrecimento pessoais, que os dignifiquem no quadro de uma cidadania solidária.


Cristovam Buarque, ex-reitor da universidade de Brasília e ex-ministro de Educação aproveitou a proximidade do dia do índio (19 de abril) para falar do “genocídio intelectual das crianças no Brasil”. Citamos seu website: “O senador [...] espera que as comemorações pelo Dia do Índio sirvam também para uma reflexão sobre o ‘genocídio intelectual’ contra as crianças brasileiras, em decorrência da exclusão escolar e da baixa qualidade da educação. [...] Esse é o terceiro genocídio da história do país, depois do aniquilamento dos índios e também de milhões de negros escravos. [...] Que os índios, que tanto sofreram, nos deem uma lição para que nós não possamos, no futuro, ser acusados do holocausto intelectual [...] que nós estamos provocando contra as nossas crianças [...] O país não pode se calar diante do que houve e ignorar a responsabilidade do Brasil, da mesma forma que a Alemanha não esquece o papel que teve no holocausto judeu, embora esse genocídio tenha sido praticado pelos nazistas e não pela atual geração – que hoje estaria sendo omissa em relação ao ‘genocídio intelectual’ contra as crianças” (http://cristovam.org.br/portal3/).


* Johan Konings nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colegio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Foi professor de exegese bíblica na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (1972-82) e na do Rio de Janeiro (1984). Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE - Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, onde recebeu o título de Professor Emérito em 2011. Participou da fundação da Escola Superior Dom Helder Câmara. 


Fonte: domtotal.com - Colunas - 25 de abril de 2012 - Internet: http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=2694

domingo, 22 de abril de 2012

O dia de não saber [Vale a pena ler!]

Lya Luft *

Lya Luft
Andei uns dias com uma tristeza e um desânimo sem razão que eu pudesse detectar, mas que me sobrevoavam como ave agourenta. Eu a mandava embora, ela depressa voltava. Fiz meus cálculos: filhos, netos e marido bem, saúde boa, trabalho bastante, ainda dando para pagar as contas. Mas eu me sentia doente.


"Exames, consultas, tudo ótimo, você vai fácil aos 100", tranquilizou o médico amigo. Mas eu me sentia doente e nunca fui de hipocondrias. "Repouse um pouco. Pegue leve", ele disse. Obedeci. Em lugar de saltar da cama antes das 7, preparar o café, tomá-lo na sala enquanto assistíamos ao noticioso, fiz o que, brincando, chamei de "vida de celebridade": ficava até mais tarde na cama, às vezes o marido até trazia a simpática bandejinha. Procurei controlar minha natural ansiedade, nada de me preocupar com tudo e com todos. Mais contemplativa, do jeito que na verdade eu gosto.


E aos poucos melhorei. Um dia acordei, e tinham-se ido os sintomas e a tristeza. Levei algum tempo para entender o que se passava: nos meus dias de preguiça deixei de ler os jornais e assistir aos noticiosos logo de manhã. Que santo remédio para meus males. Pois o que se lê ou vê não deveria ser o primeiro alimento da alma, como não comeríamos feijoada ao sair da cama, ao menos imagino eu.


Então retomei meu ritmo antigo bem de mansinho. Abro jornais e vejo noticiosos perto do meio-dia (assim também perco um pouco a fome e os quilos necessários). Pois o que vemos, lemos, ouvimos é mais de 90% deprimente, se não assustador. Lembrei-me de um senador da República , Jefferson Péres, dizendo que deixaria a sua cadeira no Senado "com profundo desalento" pelo que ocorria neste país. Um dos raros pilares da grandeza e da ética, ele morreu em 2008, do coração, se não me engano em sua casa em seu estado natal. Não deve ser grave erro atribuir essa morte, em parte, ao peso daquele desalento que devia ser enorme, vasto e profundo, para o levar àquele passo.


Eu não posso abdicar de meu país, e de minha condição de quem aqui nasceu e escolhe todos os dias aqui viver, porque este é o meu lugar, estas são minhas raízes essenciais. Porém, que está difícil, está. O rio de lama se transforma num mar, aquele tão citado por tantos políticos em tantas décadas. A quem recorrer, para que lado olhar? Teias e tramas de corrupção se revelam em dimensões inimagináveis. Educação e saúde continuam em desgraça, porque não as vejo de verdade favorecidas nem resolvidos os seus piores males. Preparam-se assim gerações de ignorantes, incompetentes e talvez de descrentes. Pois os líderes deviam ser nosso exemplo segundo, o primeiro sendo os pais.


Não deve nos chocar ouvir um adolescente dizer "por que eu devia estudar", "por que trabalhar tanto", "por que ser honesto", se a gente acaba parecendo bobo no meio dos espertos? O argumento é adolescente como o rapaz, mas não sem fundamento. É preciso muito esforço, muito raciocínio, muita base de casa, muito berço (não o esplêndido, mas o amoroso, reto, moralmente bom), para nadar contra a correnteza escura, e tentar fundar alguma ilha de claridade, de honradez, de trabalho, de interesse real pelos menos afortunados. Para buscar uma humanidade como sempre imaginei que ela deveria ser - quem sabe um dia será -, onde a gente sinta que vale a pena lutar, sonhar, ter esperança; onde se adotem linhas firmes de conduta e ideologias do bem. Pois cada vez mais as ideologias deixam de importar; valem os interesses, os votos, o poder, a manutenção das condições favoráveis ao enriquecimento ilícito, às manobras por mais e mais poder, e tudo o que gera violência, ignorância, miséria, agressividade, stress e oque disse aquele senador: desalento.


Assim, higienizando minhas manhãs, eu me sinto muito melhor. Estaria curada se quisesse me alienar de todo, mas isso não posso: sou uma habitante deste planeta e deste país, e quero que tudo de bom ainda possa florescer por estas bandas, antes de se passarem aqueles meus profetizados 100 anos.


* Lya Fett Luft (Santa Cruz do Sul [RS], 15 de setembro de 1938) é uma escritora e tradutora brasileira. É também professora universitária aposentada e colunista da revista semanal Veja. Para mais detalhes, acesse: http://www.releituras.com/lyaluft_bio.asp


Fonte: Revista VEJA - edição 2266 - ano 45 - nº 17 - 25 de abril de 2012 - Página 26.

Bispos na CNBB estão assustados com queda do nº de católicos


José Maria Mayrink

Nos últimos 20 anos, percentagem caiu de 83,34% para 67,84%; segundo previsão do padre jesuíta Thierry Guertechin, com base em dados do IBGE, número deve crescer ainda mais

Ainda na expectativa dos dados coletados pelo Censo de 2010, os 335 bispos que participam da 50ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) estão assustados com a queda no número de católicos no País. Percentagem caiu de 83,34% para 67,84% nos últimos 20 anos.


Esses números poderão ser ainda maiores segundo as informações coletadas pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), diz a previsão do padre jesuíta Thierry Lienard de Guertechin, do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (Ibrades), organismo vinculado à CNBB.


Pe. Thierry Lienard de Guertechin - IBRADES
Padre Thierry apresentou ao episcopado um quadro das religiões baseado em levantamento da Fundação Getúlio Vargas e das Pesquisas de Orçamentos Familiares do IBGE, resultado de entrevistas com 200 mil famílias realizadas antes do censo. "Com certeza, há algumas distorções que espero serem corrigidas pelas estatísticas do IBGE, que ouviu cerca de 20 milhões de brasileiros", disse o diretor Ibrades.


Os dados até agora disponíveis subestimam a queda da percentagem de católicos e o crescimento de igrejas evangélicas pentecostais. "Perdemos o povo, porque, se o número absoluto de católicos cresce, caíram os números relativos, que dizem a verdade", alertou o cardeal d. Cláudio Hummes, ex-prefeito da Congregação do Clero no Vaticano e ex-arcebispo de São Paulo. "Não basta fazer uma bela teologia em pequenos grupos, se os católicos que foram batizados não são evangelizados", disse o cardeal na missa dos bispos, na manhã desta sexta-feira, na Basílica de Aparecida.


Lembrando que o papa Bento XVI está preocupado com a perda da fé ou descristianização em todo o mundo, a começar pela Europa, d. Cláudio afirmou que "é preciso começar pelo começo" no esforço para garantir a perseverança dos católicos e reconquista daqueles que abandonaram a Igreja.


Cardeal Cláudio Hummes
De acordo com os dados apresentados pelo padre Thierry, os evangélicos representam 21,93% da população, enquanto 6,72% declaram não terem religião e 4,62% dizem praticar religiões alternativas. Em sua avaliação, essas porcentagens teriam de ser analisadas com mais rigor, porque refletem um quadro confuso na denominação das crenças. O termo católico aparece em sete igrejas, incluindo a Igreja Católica Romana, enquanto os evangélicos são identificados com mais de 40 denominações.


O grupo mais numeroso depois dos católicos é o da Assembleia de Deus, com 5,77%. "O número de seguidores de Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, que aparece com 1% nas pesquisas é na realidade maior", estima padre Thierry. Ele alerta também para outro fator de distorção, que é a multiplicidade da prática religiosa, as pessoas ouvidas nas pesquisas declaram terem uma religião, mas frequentam mais de uma igreja. Isso ocorre com evangélicos e também com espíritas que se dizem católicos.


A prática religiosa pelos batizados é outra coisa que preocupa dos bispos. Os católicos praticantes - aqueles que vão à missa, recebem os sacramentos e participam da comunidade - são apenas 5%, ou cerca de 7 milhões num universo estimado em pouco mais de 130 milhões de fiéis. Entre os evangélicos, a porcentagem é maior. Padre Thierry dá valor relativo ao alto índice de católicos nas últimas décadas do século XIX, quando a sua participação na população ultrapassava 99%.


É bom lembrar a perseguição sofrida na época pelas religiões afro-brasileiras e os preconceitos sofridos pelos protestantes, diz o diretor do Ibrades. Ao recuar ainda mais na formação religiosa do povo brasileiro, padre Thierry lembra os cristãos-novos ou judeus convertidos à força ao catolicismo, que também eram perseguidos.


Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Dia 20 de abril de 2012 - 13h49 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,bispos-na-cnbb-estao-assustados-com-queda-do-n-de-catolicos,863438,0.htm

CURTINHAS, MAS REVELADORAS!

Bento XVI - Sem protocolo

Com a saúde bastante debilitada, Bento XVI virá ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, em 2013, exclusivamente como chefe eclesiástico.
O Vaticano dispensou o protocolo de chefes de Estado - que inclui a obrigação de participar de reuniões, dar declarações oficiais e viajar a Brasília para encontrar [a presidente] Dilma Rousseff.

Audiência Maquiada

Uma pesquisa inédita feita pela SEQUAZ, empresa especializada em análise de dados na internet, desmonta o mito do sucesso das celebridades brasileiras nas redes sociais.
Ao analisar o perfil das três personalidades mais seguidas no Twitter, a empresa descobriu que Luciano Huck, Claudia Leitte e Ivete Sangalo têm em média entre 75% e 80% de seguidores inativos.
São milhões de internautas que acessam a rede uma vez por mês apenas, e olhe lá.

O Facebook avança

O Facebook, que na semana passada superou a audiência do Google no Brasil durante 48 horas, atingirá até o fim do mês a marca dos 45 milhões de usuários no país.
É quase o triplo do que possuía há um ano.

Edir Macedo em Los Angeles (EUA)

Aproveitando a maré baixa do valor dos imóveis nos Estados Unidos, Edir Macedo [Igreja Universal do Reino de Deus] comprou no início do ano um prédio no centro de Los Angeles por 17,5 milhões de dólares.

Invasão Gospel

A partir de maio a Band [TV Bandeirantes] passará a faturar 23 milhões de reais por mês com a venda de espaço na grade para evangélicos. 
São 276 milhões de reais por ano, quase um terço do que a emissora fatura no período.
Somados, os programas do apóstolo Valdemiro Santiago, do missionário R. R. Soares e, agora, a nova atração do pastor Silas Malafaia ocuparão 43 horas semanais no canal.

Fonte: Revista VEJA - Panorama/Radar - Thiago Prado - edição 2266 - ano 45 - nº 17 - 25 de abril de 2012 - páginas 68 e 69.