«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O terceiro genocídio


Johan Konings *

Há um "genocídio intelectual" contra as crianças brasileiras, em decorrência da exclusão escolar e da baixa qualidade da educação

Criança e policiais durante ocupação da favela do Borel - RJ (Foto: AE)
O problema da insuficiência da educação e do ensino em nível popular no Brasil é conhecido de todos os que têm contato amplo com esse âmbito e de quem lê as estatísticas internacionais comparativas. 


Impressiona a passividade diante do fato frequentemente apontado de que muitos alunos no fim do ensino médio constatam que não sabem quase nada. Já se calculou quantos milhares de alunos, cada ano, saem enganados de nossas escolas? 


Olhando especificamente para o ensino fundamental na escola pública, constata-se enorme insuficiência, muitas vezes, não por falta de dinheiro, mas por falta de genuína atenção pedagógica e de projeto claro e pé-no-chão, quer da parte das administrações municipais, quer das direções escolares, e inclusive de alguns ensinantes, já embotados pela situação reinante ou acomodados em sua condição de funcionário público estável. Não faltam belas palavras, mas uma coisa é o que dizem a Secretaria de Ensino e a Direção da Escola, outra coisa o que se ouve da boca dos professores e dos pais.


A análise é complexa. Existe um legado histórico pouco positivo. A época colonial não foi propícia para o “ensino para todos”, fora os esforços de certas entidades religiosas. Mesmo na era republicana, até algumas décadas atrás, as escolas públicas eram elitistas. A recente universalização do ensino público, com suas dificuldades e limites, faz com que os próprios professores do ensino público mandem seus filhos para o ensino particular, dificultando ainda mais a valorização do ensino público. E a emergente classe C procura seguir esse exemplo.


Além disso, a escola pública tende a livrar-se da dimensão educacional e limitar-se ao ensino propriamente, o que é uma grande ilusão, pois a aprendizagem depende em grande parte de fatores propriamente educacionais e não meramente didáticos, como sejam a interação com o ambiente familiar, a escala de valores, a gradativa compreensão do mundo e da sociedade em que se vive, o senso de cidadania etc. 


Entraram na sala de aula a violência e a droga. Estabelecer limites, coisa que já era difícil por causa do contexto consumista, torna-se impossível pelo atravessamento dos traficantes. Os diretores têm medo. Não adianta dizer que isso não são problemas do ensino: a escola não pode desconsiderar os fatores que impossibilitam a educação escolar, ainda que sejam introduzidos de fora. 


Não é apenas uma questão de investimentos. Algumas administrações exibem – por causa do ano eleitoral – declarações surpreendentes a respeito de seus investimentos no ensino, mas não se trata só disso. Trata-se de mentalidade, de prioridade, de escala de valores. Estamos numa sociedade em que o Carnaval e o futebol são mais importantes que uma educação coerente. Não nego que escolinhas de futebol e de carnaval possam ter efeito educativo, mas não é “para todos”, nem para todas as dimensões da vida. Não é o “comum”, e é precisamente o comum que necessita atenção


Cristovam Buarque - Senador
O âmbito comum, cotidiano da educação – ou da deseducação – é a família, a escola “para todos”, o bairro, os ambientes de diversão... E se a escola não é o âmbito que mais “ocupa”, é pelo menos aquele em que a sociedade pode com mais facilidade inserir sua contribuição para a educação. Assim, a escola “para todos” (que não precisa necessariamente ser “estatal”, mas poderia ser a escola particular conveniada e subsidiada) deve ser aprimorado para que todas as crianças e adolescentes sejam conduzidos não só ao conhecimento suficiente, mas à maturidade e ao enobrecimento pessoais, que os dignifiquem no quadro de uma cidadania solidária.


Cristovam Buarque, ex-reitor da universidade de Brasília e ex-ministro de Educação aproveitou a proximidade do dia do índio (19 de abril) para falar do “genocídio intelectual das crianças no Brasil”. Citamos seu website: “O senador [...] espera que as comemorações pelo Dia do Índio sirvam também para uma reflexão sobre o ‘genocídio intelectual’ contra as crianças brasileiras, em decorrência da exclusão escolar e da baixa qualidade da educação. [...] Esse é o terceiro genocídio da história do país, depois do aniquilamento dos índios e também de milhões de negros escravos. [...] Que os índios, que tanto sofreram, nos deem uma lição para que nós não possamos, no futuro, ser acusados do holocausto intelectual [...] que nós estamos provocando contra as nossas crianças [...] O país não pode se calar diante do que houve e ignorar a responsabilidade do Brasil, da mesma forma que a Alemanha não esquece o papel que teve no holocausto judeu, embora esse genocídio tenha sido praticado pelos nazistas e não pela atual geração – que hoje estaria sendo omissa em relação ao ‘genocídio intelectual’ contra as crianças” (http://cristovam.org.br/portal3/).


* Johan Konings nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colegio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Foi professor de exegese bíblica na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (1972-82) e na do Rio de Janeiro (1984). Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE - Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, onde recebeu o título de Professor Emérito em 2011. Participou da fundação da Escola Superior Dom Helder Câmara. 


Fonte: domtotal.com - Colunas - 25 de abril de 2012 - Internet: http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=2694

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