«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 24 de agosto de 2019

21° Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

Evangelho: Lucas 13,22-30
Para ouvir a leitura do Evangelho, clique aqui.

José María Castillo
Teólogo católico espanhol
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Ninguém tem a garantia da Salvação!

Aqui nós encaramos o mais sério dos ensinamentos de Jesus. Os ensinamentos de sua vida, que afrontamos quando lemos o Evangelho.

Como bem se disse, esta passagem recorda a todos os que se empenham em adocicar o Evangelho, que o acesso ao Reino é arriscado e que Deus está aguardando nossa resposta.
Por quê? Porque rompe as seguranças dos que se veem a si mesmos como os eleitos, os escolhidos pelo Senhor, os seletos, os que estão de posse da verdade e vão pelo caminho do bem. Nada disso nos deve dar segurança! Aqueles que, às vezes, se veem como preferidos, podem ser rejeitados.

De todas as maneiras, e de qualquer modo, não podemos estar seguros de que aqui se fala da salvação eterna ou do inferno eterno. Nem se deve aplicar, de modo superficial, o «choro e ranger de dentes» (Lc 13,28) à condenação que não tem fim.

Trata-se, antes, de entrar ou não entrar no Reino de Deus, que se refere a realidades que se vivem neste mundo, na vida presente. A existência do inferno não está definida como uma verdade de fé divina e católica. O que está definido pelo Magistério da Igreja é que aquele que morre em pecado mortal, se condena. Porém, ninguém definiu se alguém morreu em pecado mortal. Porque isso nos transcende e não está ao nosso alcance sabê-lo ou não o saber.

Jesus acabou, assim, com os privilégios excludentes das religiões que se veem a si mesmas como as únicas verdadeiras. E, por isso mesmo, condenam os demais crentes a viver no erro e na maldade. Toda religião que se crê como a verdadeira, por esse motivo e de forma inevitável, vê as demais religiões como falsas. Como é lógico, a religião que afirma ser a única verdadeira, o que pretende é colocar-se acima das demais. O que é humilhar os outros. E desprezar os outros, por mais que se os trate com educação, no melhor dos casos.

Não nos esqueçamos, jamais, que as religiões são sempre produto da cultura humana. E o pertencimento a uma religião é um fato cultural. Aquele que nasce, p. ex., em um país muçulmano é muçulmano. Como aquele que nasce em uma sociedade budista é budista. E aquele que nasce em um povoado de Castilha (Espanha), o normal é que seja católico, apostólico e romano.

Por isso, a pergunta que se deve fazer é esta: O que é que nos une a todos? Em que todos os seres humanos coincidem?

A única coisa na qual todos somos iguais é em nossa «humanidade». Por isso, o que importa, de verdade, é que cada dia sejamos mais profundamente humanos. Porque o primeiro que «se humanizou» foi Deus mesmo, ao encarnar-se, isto é, ao «humanizar-se».

Traduzido do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: CASTILLO, José María. La religión de Jesús: comentario al Evangelio diario – Ciclo C (2018-2019). Bilbao: Desclée De Brouwer, 2018, página 322.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Papa é claro...

“Basta de cristãos hipócritas. A verdadeira conversão é a que chega ao bolso”

Bianca Fraccalvieri
Vatican News
21-08-2019

Uma vida marcada somente em tirar proveito e vantagem das situações em detrimento dos outros provoca inevitavelmente 
a morte interior
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PAPA FRANCISCO
Discursa durante a Audiência Geral da Quarta-feira - dia 21 de agosto de 2019
Aula Paulo VI - Vaticano

Em sua catequese, o Papa Francisco comentou a “comunhão integral na comunidade dos fiéis” e afirmou: uma vida marcada somente em tirar proveito e vantagem das situações em detrimento dos outros provoca inevitavelmente a morte interior.

Na Sala Paulo VI, o Papa Francisco acolheu fiéis e peregrinos para a Audiência Geral desta quarta-feira (21/08).

O Pontífice deu prosseguimento ao seu ciclo de catequeses sobre os Atos dos Apóstolos (2,42-47) e nesta ocasião falou sobre a “comunhão integral na comunidade dos fiéis”.

A conversão começa no bolso

A comunidade cristã nasce da efusão do Espírito Santo e cresce graças ao fermento da partilha entre os irmãos em Cristo. “Trata-se de um dinamismo de solidariedade que edifica a Igreja como família de Deus, onde a experiência da koinonia é um elemento central”, explicou o Papa. Esta palavra grega, que significa colocar em comum, partilhar, comungar, refere-se, antes de tudo, à participação no Corpo e Sangue de Cristo, que se traduz na união fraterna e também na comunhão dos bens materiais.

O sinal de que o seu coração se converteu é quando
a conversão chegou ao bolso.
Ou seja, ali se vê se uma pessoa é generosa com os outros, se ajuda os mais pobres:
quando toca o próprio interesse.
Quando a conversão chega ali, está certo de que é verdadeira.”

Os fiéis têm um só coração e uma só alma e não consideram propriedade própria aquilo que possuem, mas colocam tudo em comum. Por este motivo, nenhum deles passava por dificuldade. Francisco então enalteceu os muitos cristãos que fazem voluntariado, que compartilham o seu tempo com os outros.

Esta koinonia ou comunhão se configura como a nova modalidade de relação entre os discípulos do Senhor. O vínculo com Cristo instaura um vínculo entre irmãos. Ser membro do Corpo de Cristo torna os fiéis corresponsáveis uns pelos outros.

Ser indiferente, não se preocupar com os outros,
não é cristão, recordou o Papa.

Por isso, os fortes amparam os fracos e ninguém experimenta a indigência que humilha e desfigura a dignidade humana.
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PAPA FRANCISCO
Cumprimenta os fiéis que estiveram na Aula Paulo VI
nesta quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Imbróglio de consequências trágicas

Como exemplo concreto de partilha e comunhão dos bens, Francisco citou o testemunho de Barnabé: ele possui um campo e o vende para oferecer o dinheiro aos Apóstolos (At 4,36-37). Mas ao lado do seu exemplo positivo há outro tristemente negativo: Ananias e a sua mulher Safira, ao venderem o terreno, decidem entregar somente uma parte aos Apóstolos e ficar com a outra para eles (At 5,1-11). Este imbróglio interrompe a cadeia da compartilha gratuita, serena e desinteressada e as consequências são trágicas e fatais.

Turismo espiritual

A hipocrisia é o pior inimigo desta comunidade cristã, deste amor cristão: fazer de conta de querer bem, mas buscar somente o próprio interesse.” Faltar com a sinceridade da compartilha, acrescentou o Papa, significa cultivar a hipocrisia, afastar-se da verdade, se tornar egoístas, apagar o fogo da comunhão e destinar-se ao gelo da morte interior.

“Quem se comporta assim transita na Igreja como um turista, há tantos turistas na Igreja que estão sempre de passagem, jamais entram na Igreja: é o turismo espiritual que faz com que pensem ser cristãos, mas são somente turistas de catacumbas. Não devemos ser turistas na Igreja, mas irmãos uns dos outros.”

Uma vida marcada somente em tirar proveito e vantagem das situações em detrimento dos outros provoca inevitavelmente a morte interior. O Pontífice então concluiu:

“Que o Senhor derrame sobre nós o seu Espírito de ternura, que vence toda hipocrisia e coloca em circulação aquela verdade que nutre a solidariedade cristã, a qual, longe de ser atividade de assistência social, é uma expressão irrenunciável da natureza da Igreja que, como mãe cheia ternura, cuida de todos os filhos, especialmente dos mais pobres.”

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 22 de agosto de 2019 – Internet: clique aqui.

Velório para a Amazônia

Reportagem bombástica da famosa
“The Economist”

The Economist
3-9 de agosto de 2019

O Brasil tem o poder de salvar a maior floresta da Terra - ou destruí-la; leia a tradução da reportagem completa da revista britânica
Velório para a Amazônia
Detalhe da capa da revista "The Economist" sobre a destruição da Amazônia

Embora seu berço seja uma savana esparsamente arborizada, a humanidade há muito tempo busca nas florestas alimento, combustível, madeira e inspiração. Ainda um meio de sobrevivência para 1,5 bilhão de pessoas, as florestas sustentam os ecossistemas local e regional e, para outros 6,2 bilhões elas são uma defesa - frágil - contra a mudança climática.

Hoje as secas, os incêndios florestais e outras mudanças induzidas pelo homem se somam aos danos advindos do uso de motosserras. Nos trópicos, que abrigam metade da biomassa florestal do mundo, a perda de áreas cobertas de árvores acelerou em dois terços desde 2015; se fosse um país, esse encolhimento tornaria a floresta tropical a terceira maior emissora de dióxido de carbono, depois da China e dos Estados Unidos.

Em nenhum lugar os riscos são mais altos do que na bacia do Amazonas - e não só porque ela abriga 40% das florestas tropicais e de 10% a 15% das espécies terrestres de todo o mundo. Essa maravilha natural da América do Sul pode estar perigosamente próxima do ponto crítico, além do qual sua transformação gradativa em um terreno similar a uma estepe não poderá ser contida ou revertida, mesmo se as pessoas abandonarem seus machados. O presidente Jair Bolsonaro está acelerando o processo - em nome, diz ele, do desenvolvimento. O colapso ecológico que suas políticas podem precipitar será sentido de modo mais agudo dentro das fronteiras do seu país, que circunda 80% da bacia - mas irá bem mais além. Isso tem de ser evitado.

Os humanos vêm desbastando a floresta amazônica desde que se estabeleceram ali, há mais de dez milênios. A partir da década de 1970, a mata começou a ser derrubada em escala industrial. Nos últimos 50 anos, o Brasil cedeu 17% da extensão original da floresta - uma área maior do que a da França - para as estradas, construção de barragens, mineração, exploração madeireira, plantação de soja e criação de gado.

Depois de um esforço governamental de sete anos para reduzir a velocidade da destruição, ela aumentou por causa de uma fiscalização débil e uma anistia para o desmatamento passado. A recessão e a crise política reduziram ainda mais a capacidade do governo de fazer valer as regras. Agora Jair Bolsonaro, de forma prazenteira, vem acabando com elas. Embora o Congresso e os tribunais tenham bloqueado algumas das suas medidas visando a retirar a proteção de partes da Amazônia, ele tem deixado claro que aqueles que violam as regras não têm nada a temer, apesar do fato de ter sido eleito para restaurar a lei e a ordem. Como 70% a 80% do desmatamento na Amazônia é ilegal, a destruição chegou a nível recorde. E desde que Bolsonaro assumiu a presidência em janeiro as árvores vêm desaparecendo a uma taxa equivalente a mais de duas áreas de Manhattan por semana.
Tradução da manchete da capa da revista "The Economist":
"Relógio da morte para a Amazônia
A ameaça do desmatamento descontrolado"

A bacia amazônica é única no sentido de que recicla a maior parte da própria água. À medida que a floresta diminui, menos água é reciclada. Em um determinado ponto, isso provoca mais seca da mata, de modo que em questão de décadas o processo continua por si próprio. A mudança climática torna esse limiar mais próximo a cada ano. Bolsonaro está fazendo com que ele chegue ao limite da tolerância.

Os pessimistas temem que o ciclo de degradação descontrolada ocorra quando outros 3% a 8% de floresta desaparecerem - o que, sob o governo Bolsonaro, poderá se verificar em breve. Há indícios de que eles estão certos. Nos últimos 15 anos, a Amazônia registrou secas severas e os incêndios florestais aumentaram.

O presidente brasileiro rejeita essas conclusões, como faz com a ciência de modo geral. E acusa os estrangeiros de hipocrisia - os países ricos não derrubam suas próprias florestas? E às vezes utilizam o dogma ambiental como pretexto para manter o Brasil pobre, disse ele. “A Amazônia é nossa”, afirmou recentemente. Para o presidente, o que ocorre na Amazônia brasileira é problema do Brasil.

Mas não é. Uma “morte” afetará diretamente os sete outros países com os quais o Brasil compartilha a bacia ribeirinha. E reduzirá a umidade canalizada ao longo dos Andes até o sul em Buenos Aires. Se o Brasil estiver arruinando um rio real, não obstruindo um aéreo, as nações que ficam mais embaixo podem considerar isto um ato de guerra. À medida que a vasta região armazenar carbono queimado e putrefato, o mundo sofrerá com um aumento do aquecimento de 0,1ºC em 2100, o que não é muito, você pode pensar, mas a meta estabelecida pelo acordo de Paris é de apenas 0,5ºC.

Outros argumentos oferecidos por Bolsonaro são falhos. Sim, o mundo rico derrubou suas florestas. O Brasil não deve copiar seus erros, mas aprender com eles, fazendo como a França, ou seja, reflorestar enquanto é possível. A economia do conhecimento valoriza a informação genética capturada na floresta muito mais do que a terra ou as árvores mortas. Mesmo que não fosse assim, o desmatamento não é um preço necessário ao desenvolvimento.

A produção brasileira de soja e de carne aumentou entre 2004 e 2012, quando o desmatamento caiu em 80%. Na verdade, além da Amazônia, a agricultura do país pode ser a maior vítima do desmatamento. Em 2015, os agricultores do Estado de Mato Grosso que cultivam milho perderam um terço da colheita por causa da seca.

Por todas essas razões, o mundo tem de deixar claro para Bolsonaro que não vai tolerar seu vandalismo. As empresas de alimentos, pressionadas pelos consumidores devem renegar a soja e a carne produzida em terras da Amazônia ilegalmente exploradas, como fizeram em meados de 2000. Os parceiros comerciais do Brasil devem condicionar os acordos ao bom comportamento do país. O tratado firmado em junho pela União Europeia e pelo Mercosul, bloco comercial sul-americano do qual o Brasil é o maior membro, já inclui cláusulas para proteger a floresta tropical. E é do interesse das partes que sejam implementadas.

E isto vale também para a China, que está inquieta com o aquecimento global e precisa da agricultura brasileira para alimentar seu gado. Os signatários ricos do acordo de Paris, que prometeram pagar as nações em desenvolvimento para plantarem árvores que consomem o carbono, devem cumprir o prometido. O desmatamento representa 8% das emissões globais de gases de efeito estufa, mas atrai somente 3% da ajuda destinada ao combate da mudança climática.

A madeira e as árvores. Se existe um aspecto positivo nas táticas de terra-arrasada de Bolsonaro no tocante à floresta tropical, é o fato de ele ter tornado o problema da Amazônia mais difícil de ser ignorado - e não só no caso dos estrangeiros. A ministra da Agricultura brasileira pressionou o presidente a manter o país no acordo de Paris. O desmatamento descontrolado irá prejudicar os agricultores brasileiros, se ele acarretar boicotes estrangeiros dos produtos agrícolas brasileiros. O brasileiro comum tem de pressionar seu presidente a reverter seu curso. Os brasileiros foram abençoados com um patrimônio planetário único, cujo valor é tão intrínseco e vital quanto comercial. Deixá-lo perecer será uma catástrofe desnecessária.

Tradução do inglês por Terezinha Martino.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Sustentabilidade – Quinta-feira, 1 de agosto de 2019 – 23h59 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

“Não Matarás!” A lei e a defesa da vida

Nota Pública do
Centro de Estudos Bíblicos – CEBI

Direção Nacional do CEBI

Os atuais governantes deveriam sentir vergonha de se
afirmarem cristãos e estarem ao lado de agentes religiosos
escarnecedores e usurpadores do Evangelho de Jesus de Nazaré
 
“Não matarás!” (Ex 20,13) é a lei fundamental em defesa da vida. Ouvimos e aprendemos de nossas mães e de nossos pais. Antigamente, lá no antigo Israel dos clãs e famílias que se organizavam em tribos, estas palavras em sua dimensão social, política, econômica, representavam a ordem máxima do direito humano de viver. Matar é crime e não há prerrogativas e condições que permitam tal desatino. A lei é curta e clara: “não matarás!”.

Não é de se estranhar que este mandamento não faça parte da agenda e propostas políticas de desgovernos que atentam contra a vida do povo e dos empobrecidos. Uma sociedade que arma os indivíduos é incapaz de amar o próximo e de descobrir Deus presente no/a outro/a.

Na defesa da vida, a ordem é: Não às armas. O projeto desde o começo do governo eleito em 2018 foi de armar a sociedade e, consequentemente, o aumento da violência contra trabalhadores e trabalhadoras, contra os povos originários (reservas indígenas), os povos quilombolas e a gente organizada nos movimentos de luta por melhorias de vida. Certamente representa o projeto de aliança dos grupos defensores do boi, do agronegócio e da bala e os comparsas nas mais diferentes instituições políticas que em outra via, anunciam eliminação de vidas e ódio.

Não faz muito tempo que Evaldo Rosa dos Santos teve o seu carro alvejado com 80 tiros e Luciano Macedo (catador de reciclados) foi alvejado por simplesmente tentar ajudar a família que estava sendo violentada e na linha da eliminação. Os militares atiraram e assassinaram dois trabalhadores e pais de família. As autoridades públicas e políticas simplesmente afirmaram que foi fatalidade.  Nos últimos dias, vidas de jovens inocentes foram ceifadas de seus lares e do convívio comunitário-social e o governo do Rio de Janeiro com discurso de ódio a afirmar que a culpa daquelas mortes eliminadas por seus agentes de segurança e forças militares está no “colo dos pseudodefensores dos direitos humanos” e “os defensores dos direitos humanos são os coveiros desses jovens e dessas famílias que hoje estão chorando”. 

Ah! Quem defende a vida não tem as mãos sujas de sangue. Justamente quem violenta a vida é que tira sangue e se mancha com sangue. As balas que tiraram as vidas daqueles jovens vêm de ações e projetos que seguem a ordem contrária à vida: matem!

É estarrecedor ouvir tais afirmações de autoridades que deveriam prezar pela vida e garantir direitos para todas e todos.  No entanto, no cenário político e governamental não é de se estranhar. Armas, devastação, eliminação, liberalismos, mortes… entre outros somam-se ao sangue derramado. Se ao menos as autoridades políticas e governamentais lessem fielmente a Bíblia e resgatassem os valores e princípios fundamentais do Projeto do Deus do Israel tribal em defesa dos mais empobrecidos, sentiriam vergonha de afirmarem que são cristãos ou de estarem em púlpitos, rodeados por agentes religiosos escarnecedores e usurpadores do Evangelho de Jesus de Nazaré.

O Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI) não aprova tais desmandos e afirmações em nome de Deus, da fé do povo e das tradições evangélicas. Simplesmente ouçam o que diz o Evangelho e a lei de Deus: amai-vos uns aos outros e não matarás! Construam uma cidade digna e um país melhor seguindo as leis que defendem a vida e produzindo políticas em favor da vida. Assim, prevalecerá a ordem fundamental: Não Matarás! (Ex 20,13)

Fonte: Centro de Estudos Bíblicos – Palavra da Direção – Terça-feira, 20 de agosto de 2019 –Internet: clique aqui.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Só a generosidade e a fraternidade resolvem!

"Os líderes políticos estão manipulando as mentes, fazendo aflorar o lado sombrio do
drama do nosso tempo"

Valerio Cappelli
«Corriere della Sera» - Milão – Itália
19-08-2019

Richard Gere, um dos atores mais famosos de Hollywood,
faz a sua parte e demonstra o quanto a solidariedade
seja mais eficaz que o racismo e o ódio
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RICHARD GERE
Ator vai a bordo de barco com refugiados africanos no Mar Mediterrâneo, próximo à Itália
Richard Gere estava de férias na Toscana [Itália], quando telefonou a Riccardo Gatti, o responsável da missão da Open Arms [= braços abertos] na costa de Lampedusa. "Richard veio se encontrar comigo", disse Gatti, "para os migrantes a bordo compramos algo para comer, já que o arroz tinha estragado". Mas aqui está Gere, ator famoso que diz "nós" antes de "eu": "Alguém disse que na Open Arms trabalham por dinheiro ... A verdade é que esses voluntários e homens das ONGs são anjos que se sacrificam pelo próximo".

Eis a entrevista:

Richard Gere, o que o levou a agir agora?

Richard Gere: Os problemas são dois. O primeiro é imediato. Há pessoas se afogando no mar. O outro diz respeito aos que escapam da guerra, das casas em chamas, buscando refúgio no Ocidente. Então descobrem que a lei está contra as suas expectativas e são enviados de volta para as casas que eles queimaram, de onde haviam partido.

A Itália se sente abandonada.

Richard Gere: Olha, é um desafio. Isso pode ser resolvido se você se sentar à mesa e discutir com razão e generosidade. Não é um problema só da Itália, mas da Espanha, da Grécia, de toda a Europa. O Ocidente tem grandes responsabilidades, que também afundam no passado, sobre esta tragédia. Vocês ouviram o Papa? Não são números, mas têm rostos, nomes, histórias. Eu as escutei.

O ministro do Interior, Matteo Salvini, lhe disse: por que Richard Gere não levou refugiados para sua casa em Hollywood?

Richard Gere: O mais importante é estar lá com eles e, diante das emergências, assumir decisões imediatas. Achamos difícil encontrar um pescador que nos levasse onde o barco estava, eles temiam represálias políticas, dado o clima hostil que se criou. Depois um rapaz corajoso nos ajudou e eu subi a bordo. Fui um deles”.

Mas o ministro do interior ...

Richard Gere: Se o seu ministro passasse algum tempo com essas pessoas, escutasse suas histórias, seus traumas familiares, mudaria sua visão. Ele faz de uma emergência humana um caso político. Mas é uma política ruim. Ao contrário, eu admirei a ministra da Defesa, Elisabetta Trenta: ela não consegue separar este caso da sua consciência”.
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A ONG "OPEN ARMS" (BRAÇOS ABERTOS) SÃO OS ANJOS SALVADORES NO MEDITERRÂNEO
Salvini diz que a Itália é mais tolerante que os Estados Unidos.

Richard Gere: O mundo tem os mesmos problemas. Temos refugiados de muitos países da América Central. O ministro do Interior tem a mesma mentalidade do presidente Trump. De fato, eu chamo Salvini de Baby Trump. Usa a mesma ignorância em sentido radical, eles forçam o medo e o ódio. Precisamos parar Trump.

Como?

Richard Gere: Nomeando outro presidente. Obama foi bom em manter as comunidades unidas. Você me pergunta se Trump é tão popular? Não, não é. Segundo as pesquisas, 60% da população o desaprova. E os republicanos não são a maioria no país.

Existem duas Itálias?

Richard Gere: Acredito que sim. Eu amo os italianos, o grande coração, a alegria de viver, nos últimos anos estive na Sicília várias vezes onde há uma estratificação de culturas. Por outro lado, algo mudou nos últimos anos. Mas não só aqui entre vocês: acontece na Hungria, Polônia, Grã-Bretanha e EUA, naturalmente. Os líderes políticos estão manipulando as mentes, fazendo aflorar o lado sombrio do drama do nosso tempo. Repito: é um desafio, um desafio que pode ser vencido. Vamos tornar o mundo um jardim. Não é o fim das nossas democracias.
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CAROLA RACKETE
Capitã do barco humanitário "Sea Watch"
O que você pensa de Carola, a capitã do Sea Watch que infringiu a lei ao entrar em águas italianas?

Richard Gere: Eu não conheço os detalhes dessa história, mas se um ser humano se esforça para salvar vidas, e não causa danos, eu a considero um heroína, um anjo.

Você está falando de sua crença budista?

Richard Gere: Não se trata de religião. Somos todos iguais, devemos ser tratados da mesma maneira. Os migrantes têm nossas mesmas esperanças e sonhos. Vivemos em um pequeno planeta que faz parte de um vasto oceano.

Você gostaria de conhecer Salvini?

Richard Gere: Sim, e tenho certeza de que não é o que parece em público. Ele terá uma família, filhos, pais. Ele vê a política como um pretexto para aumentar o consenso. A vida pode ser simples, se você for honesto e falar com o coração.

A compaixão vem da sua infância?

Richard Gere: Meu pai nasceu em uma pequena cidade da Pensilvânia e a gente criava vacas, minha mãe fazia tudo, resolvia todas as coisas. Eles viveram a Grande Depressão de 1929. Não eram ricos, longe disso. Eles estavam interessados nos seres humanos antes de qualquer outra coisa.

Assista a este vídeo que registra a presença de Richard Gere
na embarcação dos refugiados africanos no Mar Mediterrâneo:


 Traduzido do italiano por Luisa Rabolini.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 20 de agosto de 2019 – Internet: clique http://www.ihu.unisinos.br/591825-gostaria-de-conhecer-seu-vice-premier-forcar-o-medo-e-politica-ruim.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

«A terra inabitável»

Choque de tempo

Ladislau Dowbor
Economista
Doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, professor da PUC-SP e da Umesp

Um livro que traz o futuro para o presente:
o desastre não está longe, mas bem perto!
Edição brasileira publicada pela Companhia das Letras em julho de 2019

Wallace-Wells escreveu um livro que está dando nas pessoas um tipo de “choque de tempo”. Todos andamos preocupados com a MUDANÇA CLIMÁTICA, hoje com exceção de gente que acredita que vacina gera autismo, que o planeta terra é plano, que o mundo foi criado há alguns milênios no espaço de seis dias e crenças semelhantes. Mas as nossas preocupações parecem se diluir numa noção imprecisa do tempo que chamamos vagamente de “futuro”. Ou seja, sim, será uma catástrofe, mas é no longo prazo, e até lá Deus sabe o que poderá acontecer, ou que tecnologia salvadora vai aparecer. Neste livro, o autor traz o futuro para o presente.

Não é imagem. A partir da leitura, eu me dei conta da dificuldade que temos em “sentir” o tempo que temos pela frente. As catástrofes previstas para 2050 parecem muito distantes, quase imprevisíveis, e as de 2100 quase míticas. No entanto, ao participar da festa do primeiro aniversário do meu netinho Leonardo, me dei conta que em 2050 ele terá 30 anos, e que em 2100 ele terá a minha idade, desta pessoa que está escrevendo estas linhas. Ou seja, a escala de tempo em que estamos falando representa na realidade o curto espaço de uma vida. E se trata deste menino que tenho aqui pela frente, com suas bochechas e sorriso esperançoso.

A dimensão psicológica do tempo é até divertida. Com os meus alunos, discuto na primeira aula do semestre que artigo cada um terá de redigir. Para eles, como o artigo é para o fim do semestre, o tempo que eles “sentem” ter para pesquisar e redigir o artigo parece muito distante. No entanto, no pânico generalizado duas semanas antes da entrega do artigo, olhando para trás, o semestre que estão concluindo parece que encolheu radicalmente. Mesmo para mim, a crise mundial de 2008 parece que foi ontem, estamos em plena discussão de medidas a tomar, mas o ano 2030, com idêntica distância em anos, encontra-se na minha mente na neblina das vagas possibilidades. No entanto, o tempo realmente existente é inexorável, e avança com rigor e rapidez.
Edição original em inglês publicada por:
Tim Duggan Books (Penguin), New York, 2019

Wallace-Wells trouxe para dentro do tempo sensível e previsível 12 eixos de transformação, todos ligados à mudança climática. Assim, traz os dados concretos das mortes que geram:
1) os excessos de temperatura que já vivemos hoje,
2) da fome ligada aos impactos sobre a agricultura,
3) das mortes por inundações que se observam em muitas partes,
4) da expansão das áreas de queimadas florestais,
5) da articulação dos diversos subsistemas de intervenção sobre a natureza,
6) do esgotamento da água doce,
7) da mortalidade nos oceanos,
8) da contaminação do ar,
9) do surgimento de novas pragas,
10) do colapso econômico,
11) dos conflitos climáticos,
12) dos deslocamentos sistêmicos.

O autor não é catastrofista, simplesmente faz as contas, e em particular junta os dados que aparecem fragmentadas em numerosas pesquisas dispersas, segundo as especialidades dos pesquisadores e das instituições de pesquisa, como por exemplo os estudos sobre as superbactérias resistentes, sobre a contaminação da água pelos agrotóxicos, o derretimento das geleiras e assim por diante. Juntou as peças e as articulou nos diversos ritmos de transformação. O resultado é um mapa extremamente concreto e perceptível do nosso amanhã.

O livro é muito bem documentado. Todos os dados apresentados estão amarrados com 65 páginas de notas e fontes, felizmente reunidas no fim do texto, que se torna ao mesmo tempo muito leve na leitura e solidamente referenciado. E precisamos disso, pela própria fragilidade, que vimos acima, da nossa percepção do tempo futuro. Esforços neste sentido não faltam, com James Lovelock que nos deu a “hipótese Gaia”, que apresenta o nosso pequeno planeta como um ente quase vivo no seu conjunto, com Buckminster Fuller que popularizou a imagem da “espaço-nave terra” para salientar a sua fragilidade e a necessidade de todos sermos tripulação que preserva, e não passageiros que se servem. E temos a tão simbólica imagem dos astronautas que se referiram à “bolinha azul” que viram do espaço, tão pequena e vulnerável. (pág. 227) Fortalecer o imaginário ajuda.

Wallace-Wells não é um sonhador, e se refere ao conceito de “aparato de justificativas” utilizado por Thomas Piketty.

“Todas as alternativas terão de fazer face aos interesses corporativos enraizados e ao viés ‘status-quo’ de consumidores relativamente contentes com a vida que hoje levam”. (pág. 180)

“A mudança climática exige compromissos políticos muito mais amplos do que a fácil participação com simpatia retórica, confortável tribalismo partidário e consumo ético.” (pág. 186) O que enfrentamos é “nada menos que um redesenho completo dos sistemas energéticos, de transporte, das infraestruturas, da indústria e da agricultura.” (pág. 179) E isto aponta para “a necessidade de se gerar um sistema de governo global, ou ao menos cooperação internacional, para coordenar tal projeto.” (pág. 178)

E as responsabilidades têm de ser colocadas onde cabem:
“Atualmente, os ricos do mundo são donos da parte de leão de culpa:
os 10% mais ricos produzem a metade de todas as emissões...
As campanhas de desinformação e negação das corporações constituem provavelmente um caso mais forte de vilania.
Uma performance mais grotesca de maldade (evilness) corporativa
é difícil de ser imaginada,
e dentro de uma geração,
a negação sustentada por interesses do petróleo
serão provavelmente vistas como uma das conspirações mais odiosas
contra a saúde humana e o bem-estar
que tenha sido perpetrada no mundo moderno.” (pág. 149)
DAVID WALLACE-WELLS
Autor de "A terra inabitável: uma história do futuro"

Eu, naturalmente, gostei em particular do capítulo intitulado “Crisis Capitalism”, em que o desvio financeiro (“endless financialization”) e a resistência de interesses corporativos aparece com força. O autor cita, entre outros, Paul Romer, “Nobel” de economia e economista chefe do Banco Mundial segundo o qual “a macroeconomia, esta ‘ciência do capitalismo’, era algo como um campo de fantasia, equivalente à teoria das cordas, que já não tinha qualquer legitimidade em dizer que descreve corretamente os funcionamentos da economia real.” (pág. 165)

A ideologia nisso? Acho precisamos todos do choque de realismo que este livro traz. Não se deve negar os avanços das últimas décadas, como não se pode deixar de ver que os próprios avanços tecnológicos exigem mudanças profundas em termos de organização política e da governança corporativa, que em vez de avançar têm regredido. E para pensar as formas de reorganização das regras do jogo nas nossas sociedades, nada como ter uma visão concreta e realista dos desafios.

O nosso tempo nisso?

Trata-se “de um cálculo de cabeça bem limpa:
o mundo tem, quando muito, cerca de três décadas
para uma descarbonização completa
antes dos horrores realmente devastadores do clima começarem.
Não há meio-termo no caminho da solução
para uma crise tão ampla.” (pág. 214)

Três décadas. O meu netinho Leo terá trinta e um anos.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sábado, 17 de agosto de 2019 –Internet: clique aqui.

Como somos cegos!!!

Paulo Guedes, o todo-poderoso Ministro da Economia, se formou em Chicago com bolsa
que governo está cortando

Angela Alonso
Professora de sociologia da USP e pesquisadora sênior do
Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP)

Turma da pepita e do cascalho inviabilizarão não só a universidade,
mas os negócios no Brasil
PAULO GUEDES
Ministro da Economia de Jair Bolsonaro

O presidente fala para chocar e distrair. Jair repete Fernando (Collor), com motos, jet-skis e escatologias.

Para muitos, essa vitrine obscurantista acha contraponto no fundo liberal da loja. A despeito das presidenciadas cotidianas, lá estão Paulo, Tarcísio e Tereza Cristina a embalar a esperança do mercado na melhora do ambiente de negócios. Seriam o ouro escondido em meio ao cascalho. Cascalhada precificada.

Como sabe Bolsonaro, que já garimpou, peneira-se muito para achar pepita. A jazida da pujança deveria luzir aos cem dias de governo, mas impôs reentrâncias políticas e jurídicas incontornáveis mesmo para o gênio de Chicago. Guedes pede paciência, mas não pede água. É movido pela crença no triunfo da vontade —a sua.

Acontece que o brilho da pepita e a opacidade do cascalho se amalgamam no mesmo riacho. Não são as cabeças de Janus, uma olhando o passado e a outra, o futuro. São serpentes da mesma Medusa, como mostra a tópica das universidades públicas.

A turma do cascalho [Bolsonaro & sua banda] ataca ciência, pesquisa, liberdade de pensamento. Na retórica obscurantista, crença vale mais que argumento, fé mais que demonstração. Seu dogma é o da verdade revelada. Como pensam assim, supõem que os demais também assim pensem.

Daí julgarem a universidade um celeiro de esquerdistas que passariam, como os bolsonaristas, o dia todo produzindo fake news e incitando estudantes a repeti-las.

Creem nisso porque, decerto, nunca usufruíram do ambiente intelectual de uma universidade. Nesta instituição convivem diferentes credos, valores e opções políticas. A convergência está no engajamento na produção e transmissão intergeracional de conhecimento.

A universidade é o contrário de tudo o que diz a turma do cascalho. É espaço de pluralidade de disciplinas, teorias, argumentos e métodos. Não se rege por ideologia unificadora, mas por ethos comum, a adesão aos pilares da produção do conhecimento científico: o raciocínio lógico, o rigor dos métodos, a apresentação de provas e a legitimação intersubjetiva dos resultados.

Tudo isso dá trabalho e leva tempo. Pesquisadores estão em processo de atualização permanente, nunca param de estudar. E estão sob constante avaliação.

Cada artigo submetido a um periódico, cada projeto de pesquisa enviado a uma agência de fomento, cada passo na carreira universitária, tudo está sob escrutínio. Ninguém de fora precisa fazê-lo, a comunidade acadêmica controla-se a si mesma. É assim aqui e em todos os sistemas universitários de respeito do mundo.
CAMPUS DA UNIVERSIDADE DE CHICAGO
Uma das mais caras do mundo - Paulo Guedes estou lá com dinheiro do contribuinte brasileiro,
com bolsa do CNPq que, agora, ele nega aos demais brasileiros

A hipocrisia escancarada:
nega-se aos outros aquilo que eles usufruíram

A turma da pepita [Paulo Guedes & sua banda] o sabe. Reconhece a racionalidade econômica, brandindo planilhas e gráficos. Ampara-se na ciência e se beneficia do investimento público nela. De 1974 a 1978, Guedes estudou na caríssima Universidade de Chicago com a mesma bolsa do CNPq que o governo agora nega a novos pesquisadores. Sua turma acha que ascendeu por mérito, sem reconhecer a catapulta dos incentivos estatais à educação e à pesquisa.

Por isso não mexe uma palha pela ciência. Delegou o assunto à turma do cascalho, com seu ataque, este sim ideológico, à autonomia universitária.

Nenhuma das turmas está nem aí para a universidade pública. Compartilham o diagnóstico nunca fundamentado de que ensino superior público não funciona. E direcionam recursos e filhos para instituições privadas.

Magnatas brasileiros doam para universidades americanas, caso de Jorge Paulo Lemann, em vez de investir nas nacionais. Boa parte de nossa elite social retirou apoio à ideia da universidade pública acessível pelo mérito, independentemente de renda, cor ou credo.

A tática para enfraquecer as universidades públicas

Pepitas e cascalhos convergem numa operação de asfixia. Um lado amordaça, com desrespeito à lista tríplice para reitor e perseguição funcional e legal a dirigentes ou ex-dirigentes de universidades e institutos de pesquisa. O outro sangra, secando os cofres.

O corte de verbas para custeio, pesquisa e bolsas porá a perder esforços cumulativos dos governos FHC, Lula e Dilma na consolidação, democratização e internacionalização da ciência brasileira. Em país sério, educação e ciência são prioridades do Estado. Mesmo na pátria do liberalismo, os Estados Unidos, as universidades não sobrevivem sem a mãozinha pública. Aqui, o governo nos passa o pé.

A turma da pepita está pagando caro a turma do cascalho, que inviabilizará não só a universidade, mas os negócios, com sua verve antiambientalista e anti-humanista.

A crer no presidente, no fundo não há um poço, mas uma fossa sanitária. Quem nela busca pepitas acabará com a peneira cheia de ouro de tolo.

Fonte: Folha de S. Paulo – Ilustríssima – Domingo, 18 de agosto de 2019 – 02h00 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui.