«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Velório para a Amazônia

Reportagem bombástica da famosa
“The Economist”

The Economist
3-9 de agosto de 2019

O Brasil tem o poder de salvar a maior floresta da Terra - ou destruí-la; leia a tradução da reportagem completa da revista britânica
Velório para a Amazônia
Detalhe da capa da revista "The Economist" sobre a destruição da Amazônia

Embora seu berço seja uma savana esparsamente arborizada, a humanidade há muito tempo busca nas florestas alimento, combustível, madeira e inspiração. Ainda um meio de sobrevivência para 1,5 bilhão de pessoas, as florestas sustentam os ecossistemas local e regional e, para outros 6,2 bilhões elas são uma defesa - frágil - contra a mudança climática.

Hoje as secas, os incêndios florestais e outras mudanças induzidas pelo homem se somam aos danos advindos do uso de motosserras. Nos trópicos, que abrigam metade da biomassa florestal do mundo, a perda de áreas cobertas de árvores acelerou em dois terços desde 2015; se fosse um país, esse encolhimento tornaria a floresta tropical a terceira maior emissora de dióxido de carbono, depois da China e dos Estados Unidos.

Em nenhum lugar os riscos são mais altos do que na bacia do Amazonas - e não só porque ela abriga 40% das florestas tropicais e de 10% a 15% das espécies terrestres de todo o mundo. Essa maravilha natural da América do Sul pode estar perigosamente próxima do ponto crítico, além do qual sua transformação gradativa em um terreno similar a uma estepe não poderá ser contida ou revertida, mesmo se as pessoas abandonarem seus machados. O presidente Jair Bolsonaro está acelerando o processo - em nome, diz ele, do desenvolvimento. O colapso ecológico que suas políticas podem precipitar será sentido de modo mais agudo dentro das fronteiras do seu país, que circunda 80% da bacia - mas irá bem mais além. Isso tem de ser evitado.

Os humanos vêm desbastando a floresta amazônica desde que se estabeleceram ali, há mais de dez milênios. A partir da década de 1970, a mata começou a ser derrubada em escala industrial. Nos últimos 50 anos, o Brasil cedeu 17% da extensão original da floresta - uma área maior do que a da França - para as estradas, construção de barragens, mineração, exploração madeireira, plantação de soja e criação de gado.

Depois de um esforço governamental de sete anos para reduzir a velocidade da destruição, ela aumentou por causa de uma fiscalização débil e uma anistia para o desmatamento passado. A recessão e a crise política reduziram ainda mais a capacidade do governo de fazer valer as regras. Agora Jair Bolsonaro, de forma prazenteira, vem acabando com elas. Embora o Congresso e os tribunais tenham bloqueado algumas das suas medidas visando a retirar a proteção de partes da Amazônia, ele tem deixado claro que aqueles que violam as regras não têm nada a temer, apesar do fato de ter sido eleito para restaurar a lei e a ordem. Como 70% a 80% do desmatamento na Amazônia é ilegal, a destruição chegou a nível recorde. E desde que Bolsonaro assumiu a presidência em janeiro as árvores vêm desaparecendo a uma taxa equivalente a mais de duas áreas de Manhattan por semana.
Tradução da manchete da capa da revista "The Economist":
"Relógio da morte para a Amazônia
A ameaça do desmatamento descontrolado"

A bacia amazônica é única no sentido de que recicla a maior parte da própria água. À medida que a floresta diminui, menos água é reciclada. Em um determinado ponto, isso provoca mais seca da mata, de modo que em questão de décadas o processo continua por si próprio. A mudança climática torna esse limiar mais próximo a cada ano. Bolsonaro está fazendo com que ele chegue ao limite da tolerância.

Os pessimistas temem que o ciclo de degradação descontrolada ocorra quando outros 3% a 8% de floresta desaparecerem - o que, sob o governo Bolsonaro, poderá se verificar em breve. Há indícios de que eles estão certos. Nos últimos 15 anos, a Amazônia registrou secas severas e os incêndios florestais aumentaram.

O presidente brasileiro rejeita essas conclusões, como faz com a ciência de modo geral. E acusa os estrangeiros de hipocrisia - os países ricos não derrubam suas próprias florestas? E às vezes utilizam o dogma ambiental como pretexto para manter o Brasil pobre, disse ele. “A Amazônia é nossa”, afirmou recentemente. Para o presidente, o que ocorre na Amazônia brasileira é problema do Brasil.

Mas não é. Uma “morte” afetará diretamente os sete outros países com os quais o Brasil compartilha a bacia ribeirinha. E reduzirá a umidade canalizada ao longo dos Andes até o sul em Buenos Aires. Se o Brasil estiver arruinando um rio real, não obstruindo um aéreo, as nações que ficam mais embaixo podem considerar isto um ato de guerra. À medida que a vasta região armazenar carbono queimado e putrefato, o mundo sofrerá com um aumento do aquecimento de 0,1ºC em 2100, o que não é muito, você pode pensar, mas a meta estabelecida pelo acordo de Paris é de apenas 0,5ºC.

Outros argumentos oferecidos por Bolsonaro são falhos. Sim, o mundo rico derrubou suas florestas. O Brasil não deve copiar seus erros, mas aprender com eles, fazendo como a França, ou seja, reflorestar enquanto é possível. A economia do conhecimento valoriza a informação genética capturada na floresta muito mais do que a terra ou as árvores mortas. Mesmo que não fosse assim, o desmatamento não é um preço necessário ao desenvolvimento.

A produção brasileira de soja e de carne aumentou entre 2004 e 2012, quando o desmatamento caiu em 80%. Na verdade, além da Amazônia, a agricultura do país pode ser a maior vítima do desmatamento. Em 2015, os agricultores do Estado de Mato Grosso que cultivam milho perderam um terço da colheita por causa da seca.

Por todas essas razões, o mundo tem de deixar claro para Bolsonaro que não vai tolerar seu vandalismo. As empresas de alimentos, pressionadas pelos consumidores devem renegar a soja e a carne produzida em terras da Amazônia ilegalmente exploradas, como fizeram em meados de 2000. Os parceiros comerciais do Brasil devem condicionar os acordos ao bom comportamento do país. O tratado firmado em junho pela União Europeia e pelo Mercosul, bloco comercial sul-americano do qual o Brasil é o maior membro, já inclui cláusulas para proteger a floresta tropical. E é do interesse das partes que sejam implementadas.

E isto vale também para a China, que está inquieta com o aquecimento global e precisa da agricultura brasileira para alimentar seu gado. Os signatários ricos do acordo de Paris, que prometeram pagar as nações em desenvolvimento para plantarem árvores que consomem o carbono, devem cumprir o prometido. O desmatamento representa 8% das emissões globais de gases de efeito estufa, mas atrai somente 3% da ajuda destinada ao combate da mudança climática.

A madeira e as árvores. Se existe um aspecto positivo nas táticas de terra-arrasada de Bolsonaro no tocante à floresta tropical, é o fato de ele ter tornado o problema da Amazônia mais difícil de ser ignorado - e não só no caso dos estrangeiros. A ministra da Agricultura brasileira pressionou o presidente a manter o país no acordo de Paris. O desmatamento descontrolado irá prejudicar os agricultores brasileiros, se ele acarretar boicotes estrangeiros dos produtos agrícolas brasileiros. O brasileiro comum tem de pressionar seu presidente a reverter seu curso. Os brasileiros foram abençoados com um patrimônio planetário único, cujo valor é tão intrínseco e vital quanto comercial. Deixá-lo perecer será uma catástrofe desnecessária.

Tradução do inglês por Terezinha Martino.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Sustentabilidade – Quinta-feira, 1 de agosto de 2019 – 23h59 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.