19° Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia
Evangelho: Lucas 12,32-48
José María Castillo
Teólogo
católico espanhol
DEUS É NOSSO, NÓS SOMOS DE
DEUS
Jesus não tolera o medo, nem
deseja que seus discípulos sintam a ameaça do medo.
Este ensinamento é fundamental no
Evangelho. Ou seja, quem crê em Jesus deve ser pessoa sem medo. Por quê? Muito
simples: porque o Reino não é uma promessa, é uma possessão que já é daqueles
que creem. E falar do Reino é falar de Deus. Com efeito, a expressão «Reino
de Deus» é uma forma de designar a Deus mesmo. Portanto, o que, em realidade,
afirma Jesus é algo enorme: Deus é vosso. Isto é, Deus entregou-se, o
tendes à vossa disposição. O dom de Deus a seus crentes é Deus mesmo. Deu-se
a nós. Que medo pode existir, se as coisas são assim?
A consequência é lógica: se
vossa possessão é Deus, para que quereis o restante?
Desprendei-vos de qualquer forma de
apropriação. Fazei com os outros, o que Deus fez convosco. A doação de si
a quem se quer amar. Porém, o que é ter a Deus? E, em consequência, o que é
dar-se aos demais?
Vejamos: o que nos separa uns
dos outros é a propriedade. O que é meu não é teu. E isso – a experiência
nos diz – nos separa, nos distancia, cria rivalidades, enfrentamentos, invejas,
ódios e rancores... As coisas mais feias da vida. Ter a Deus e ser de Deus,
isso, compartilhado com os outros, é querer-nos, é dar-nos, é sentir-nos
seguros, desfrutar do que nos faz mais felizes, que é o carinho
compartilhado, a confiança mútua, a segurança no outro.
Nisto, nada mais e nada menos, consiste a utopia à que aspiramos, o anseio que
semeia o Evangelho no mais profundo de nossos seres.
Supondo aquilo que foi dito, todo o
resto não necessita explicação. Flui por si mesmo. Aquele que vive assim, vive
vigilante. Contagia felicidade. É boa pessoa e bom cidadão. Porque é uma pessoa
que, igualmente como Deus fez com Jesus, humanizou-se até o mais profundo de
seu ser.
José Antonio Pagola
Biblista e teólogo espanhol
VIVER EM MINORIA
Lucas recompilou em seu evangelho
umas palavras cheias de afeto e carinho, dirigidas por Jesus aos seus
seguidores e seguidoras. Com frequência, costumam passar desapercebidas.
Entretanto, lidas hoje com atenção a partir de nossas paróquias e comunidades
cristãs, são de uma surpreendente atualidade! É o que precisamos escutar de
Jesus nestes tempos não fáceis para a fé.
"Meu pequeno rebanho". Jesus
olha com ternura para o seu pequeno grupo de seguidores. São poucos. Tem
vocação de minoria. Não devem pensar em grandezas. Jesus os imagina,
assim, como um pouco de "fermento" oculto na massa, uma pequena
"luz" em meio à escuridão, um punhado de "sal" para dar
sabor à vida.
Depois de séculos de
"imperialismo cristão", os discípulos de Jesus têm de aprender a
viver em minoria. É um erro aspirar por uma Igreja poderosa e forte. É um
engano buscar poder mundano ou pretender dominar a sociedade. O evangelho não
se impõe pela força.
Difundem o evangelho aqueles que vivem
segundo o estilo de Jesus,
tornando a vida mais humana.
"Não tenhais medo". É a
grande preocupação de Jesus. Não quer ver os seus seguidores paralisados pelo
medo nem mergulhados no desânimo. Jamais deverão perder a confiança e a paz.
Hoje, também, somos um pequeno rebanho, porém podemos permanecer muito unidos a
Jesus, o Pastor que nos guia e nos defende. Ele pode nos fazer viver nestes
tempos com paz.
"Foi do agrado de vosso Pai
dar-vos o Reino". Jesus recorda isso mais uma vez. Não devem se sentir
órfãos. Seus discípulos e discípulas têm a Deus por Pai. Ele lhes
confiou o seu projeto do reino. Esse é o seu grande presente. A melhor coisa
que devemos ter em nossas comunidades é isso: a tarefa de fazer a vida se
tornar mais humana e a esperança de caminhar na história rumo a uma salvação
definitiva.
"Vendei o que possuís e dai
esmolas". Os seguidores de Jesus são um pequeno rebanho, porém nunca
devem ser uma seita fechada em seus próprios interesses. Não viverão de costas
às necessidades das pessoas. Será uma comunidade de portas abertas.
Compartilharão os seus bens com os necessitados de ajuda e solidariedade. Darão
esmolas, isto é, "misericórdia". Este é o significado original
do termo grego.
Os cristãos, todavia, precisarão de
algum tempo para aprender a viver em minoria no meio de uma sociedade secular e
plural. No entanto, há algo que podemos e devemos fazer sem esperar por mais
nada: transformar o clima que se vive em nossas comunidades e torná-lo mais
evangélico. O Papa Francisco nos está indicando o caminho com seus gestos e
seu estilo de vida.
Traduzido do espanhol por Pe.
Telmo José Amaral de Figueiredo.
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