Só a generosidade e a fraternidade resolvem!
"Os líderes
políticos estão manipulando as mentes, fazendo aflorar o lado sombrio do
drama do nosso
tempo"
Valerio Cappelli
«Corriere della Sera» - Milão – Itália
19-08-2019
Richard
Gere, um dos atores mais famosos de Hollywood,
faz a
sua parte e demonstra o quanto a solidariedade
seja
mais eficaz que o racismo e o ódio
RICHARD GERE Ator vai a bordo de barco com refugiados africanos no Mar Mediterrâneo, próximo à Itália |
Richard Gere estava de
férias na Toscana [Itália], quando telefonou a Riccardo Gatti, o
responsável da missão da Open Arms [= braços abertos] na costa de
Lampedusa. "Richard veio se encontrar comigo", disse Gatti,
"para os migrantes a bordo compramos algo para comer, já que o arroz
tinha estragado". Mas aqui está Gere, ator famoso que diz
"nós" antes de "eu": "Alguém disse que na Open Arms
trabalham por dinheiro ... A verdade é que esses voluntários e homens das
ONGs são anjos que se sacrificam pelo próximo".
Eis a entrevista:
Richard Gere, o que o levou
a agir agora?
Richard Gere: Os
problemas são dois. O primeiro é imediato. Há pessoas se afogando no mar.
O outro diz respeito aos que escapam da guerra, das casas em chamas,
buscando refúgio no Ocidente. Então descobrem que a lei está contra as suas
expectativas e são enviados de volta para as casas que eles queimaram, de
onde haviam partido.
A Itália se sente
abandonada.
Richard Gere: Olha, é um
desafio. Isso pode ser resolvido se você se sentar à mesa e discutir com
razão e generosidade. Não é um problema só da Itália, mas da Espanha, da
Grécia, de toda a Europa. O Ocidente tem grandes responsabilidades, que
também afundam no passado, sobre esta tragédia. Vocês ouviram o Papa?
Não são números, mas têm rostos, nomes, histórias. Eu as escutei.
O ministro do Interior,
Matteo Salvini, lhe disse: por que Richard Gere não levou refugiados para sua
casa em Hollywood?
Richard Gere: O mais
importante é estar lá com eles e, diante das emergências, assumir
decisões imediatas. Achamos difícil encontrar um pescador que nos levasse
onde o barco estava, eles temiam represálias políticas, dado o clima hostil
que se criou. Depois um rapaz corajoso nos ajudou e eu subi a bordo. Fui um
deles”.
Mas o ministro do interior
...
Richard Gere: Se o seu
ministro passasse algum tempo com essas pessoas, escutasse suas histórias, seus
traumas familiares, mudaria sua visão. Ele faz de uma emergência humana um
caso político. Mas é uma política ruim. Ao contrário, eu admirei a
ministra da Defesa, Elisabetta Trenta: ela não consegue separar este
caso da sua consciência”.
A ONG "OPEN ARMS" (BRAÇOS ABERTOS) SÃO OS ANJOS SALVADORES NO MEDITERRÂNEO |
Salvini diz que a Itália é
mais tolerante que os Estados Unidos.
Richard Gere: O mundo tem
os mesmos problemas. Temos refugiados de muitos países da América Central. O
ministro do Interior tem a mesma mentalidade do presidente Trump. De fato,
eu chamo Salvini de Baby Trump. Usa a mesma ignorância em sentido
radical, eles forçam o medo e o ódio. Precisamos parar Trump.
Como?
Richard Gere: Nomeando
outro presidente. Obama foi bom em manter as comunidades unidas. Você me
pergunta se Trump é tão popular? Não, não é. Segundo as pesquisas, 60% da
população o desaprova. E os republicanos não são a maioria no país.
Existem duas Itálias?
Richard Gere: Acredito
que sim. Eu amo os italianos, o grande coração, a alegria de viver, nos últimos
anos estive na Sicília várias vezes onde há uma estratificação de culturas. Por
outro lado, algo mudou nos últimos anos. Mas não só aqui entre vocês:
acontece na Hungria, Polônia, Grã-Bretanha e EUA, naturalmente. Os líderes
políticos estão manipulando as mentes, fazendo aflorar o lado sombrio do drama
do nosso tempo. Repito: é um desafio, um desafio que pode ser vencido.
Vamos tornar o mundo um jardim. Não é o fim das nossas democracias.
CAROLA RACKETE Capitã do barco humanitário "Sea Watch" |
O que você pensa de Carola,
a capitã do Sea Watch que infringiu a lei ao entrar em águas italianas?
Richard Gere: Eu não
conheço os detalhes dessa história, mas se um ser humano se esforça para
salvar vidas, e não causa danos, eu a considero um heroína, um anjo.
Você está falando de sua
crença budista?
Richard Gere: Não se
trata de religião. Somos todos iguais, devemos ser tratados da mesma maneira.
Os migrantes têm nossas mesmas esperanças e sonhos. Vivemos em um pequeno
planeta que faz parte de um vasto oceano.
Você gostaria de conhecer
Salvini?
Richard Gere: Sim, e
tenho certeza de que não é o que parece em público. Ele terá uma família,
filhos, pais. Ele vê a política como um pretexto para aumentar o consenso.
A vida pode ser simples, se você for honesto e falar com o coração.
A compaixão vem da sua
infância?
Richard Gere: Meu pai
nasceu em uma pequena cidade da Pensilvânia e a gente criava vacas, minha mãe
fazia tudo, resolvia todas as coisas. Eles viveram a Grande Depressão de 1929.
Não eram ricos, longe disso. Eles estavam interessados nos seres humanos
antes de qualquer outra coisa.
Assista
a este vídeo que registra a presença de Richard Gere
na
embarcação dos refugiados africanos no Mar Mediterrâneo:
Traduzido do italiano por Luisa
Rabolini.
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