21° Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia
Evangelho: Lucas 13,22-30
Para ouvir a leitura do Evangelho, clique aqui.
José María
Castillo
Teólogo
católico espanhol
Ninguém tem a garantia da Salvação!
Aqui nós encaramos o mais sério dos ensinamentos de Jesus. Os
ensinamentos de sua vida, que afrontamos quando lemos o Evangelho.
Como bem se disse, esta passagem recorda a todos os que se empenham
em adocicar o Evangelho, que o acesso ao Reino é arriscado e que Deus está
aguardando nossa resposta.
Por quê? Porque rompe as seguranças dos que se veem a
si mesmos como os eleitos, os escolhidos pelo Senhor, os seletos, os que estão
de posse da verdade e vão pelo caminho do bem. Nada disso nos deve dar
segurança! Aqueles que, às vezes, se veem como preferidos, podem ser
rejeitados.
De todas as maneiras, e de qualquer modo, não podemos estar
seguros de que aqui se fala da salvação eterna ou do inferno eterno. Nem se deve
aplicar, de modo superficial, o «choro e ranger de dentes» (Lc 13,28) à
condenação que não tem fim.
Trata-se, antes, de entrar ou não entrar no Reino de Deus,
que se refere a realidades que se vivem neste mundo, na vida presente. A
existência do inferno não está definida como uma verdade de fé divina e católica.
O que está definido pelo Magistério da Igreja é que aquele que morre em
pecado mortal, se condena. Porém, ninguém definiu se alguém morreu em
pecado mortal. Porque isso nos transcende e não está ao nosso alcance sabê-lo
ou não o saber.
Jesus acabou, assim, com os privilégios excludentes das
religiões que se veem a si mesmas como as únicas verdadeiras. E, por
isso mesmo, condenam os demais crentes a viver no erro e na maldade. Toda
religião que se crê como a verdadeira, por esse motivo e de forma inevitável,
vê as demais religiões como falsas. Como é lógico, a religião que afirma ser
a única verdadeira, o que pretende é colocar-se acima das demais. O que é
humilhar os outros. E desprezar os outros, por mais que se os trate com educação,
no melhor dos casos.
Não nos esqueçamos, jamais, que as religiões são sempre
produto da cultura humana. E o pertencimento a uma religião é um fato
cultural. Aquele que nasce, p. ex., em um país muçulmano é muçulmano. Como
aquele que nasce em uma sociedade budista é budista. E aquele que nasce em um
povoado de Castilha (Espanha), o normal é que seja católico, apostólico e romano.
Por isso, a pergunta que se deve fazer é esta: O que é que
nos une a todos? Em que todos os seres humanos coincidem?
A única coisa na qual todos somos iguais é em nossa
«humanidade». Por isso, o que importa, de verdade, é que cada dia sejamos
mais profundamente humanos. Porque o primeiro que «se humanizou» foi Deus
mesmo, ao encarnar-se, isto é, ao «humanizar-se».
Traduzido do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de
Figueiredo.
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