«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 29 de agosto de 2015

22° Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

Evangelho: Marcos 7,1-8.14-15.21-23


Naquele tempo:
1 Os fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus.
2 Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado.
3 Com efeito, os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos.
4 Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes
que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre.
5 Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus: “Por que os teus discípulos
não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?”.
6 Jesus respondeu: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito:
'Este povo me honra com os lábios,mas seu coração está longe de mim.
7 De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos'.
8 Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”.
14 Em seguida, Jesus chamou a multidão para perto de si e disse: “Escutai todos e compreendei:
15 o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior.
21 Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios,
22 adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo.
23 Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem”. 

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

NÃO NOS APEGARMOS ÀS TRADIÇÕES HUMANAS

Não sabemos quando nem onde ocorreu o enfrentamento. Ao evangelista somente interessa evocar a atmosfera na qual Jesus se move, rodeado de mestres da Lei, observantes escrupulosos das tradições, que resistem cegamente à novidade que o Profeta do amor quer introduzir em suas vidas.

Os fariseus observam indignados que seus discípulos comem com mãos impuras. Não podem tolerar isso: “Por que teus discípulos não seguem as tradições dos antigos?”. Ainda que estejam falando dos discípulos, o ataque é dirigido a Jesus. Eles tem razão. É Jesus que está rompendo essa obediência cega às tradições ao criar ao seu redor um “espaço de liberdade” onde o decisivo é o amor.

Aquele grupo de mestres religiosos não entendeu nada do Reino de Deus que Jesus lhes está anunciando. Em seu coração não reina Deus. Continua reinando a lei, as normas, os usos e costumes marcados pelas tradições. Para eles, o mais importante é observar o estabelecido pelos “antigos”. Não pensam no bem das pessoas. Não lhes preocupa “buscar o Reino de Deus e sua justiça”.

O erro é grave. Por isso, Jesus lhes responde com palavras duras: “Vós deixais de lado o mandamento de Deus para apegar-vos à tradição dos homens”.

Os doutores falam com veneração da “tradição dos antigos” e lhe atribuem autoridade divina. Porém Jesus a qualifica de “tradição humana”. Não se deve confundir jamais a vontade de Deus com o que é fruto dos homens.

Seria também hoje um grave erro que a Igreja ficasse prisioneira de tradições humanas de nossos antepassados, quando tudo está nos chamando a uma conversão profunda a Jesus Cristo, nosso único Mestre e Senhor. O que nos deve preocupar não é conservar intacto o passado, mas tornar possível o nascimento de uma Igreja e de comunidades cristãs capazes de reproduzir com fidelidade o Evangelho e de atualizar o projeto do Reino de Deus na sociedade contemporânea.

Nossa responsabilidade primeira não é repetir o passado, mas tornar possível em nossos dias a acolhida de Jesus Cristo, sem ocultá-lo nem obscurecê-lo com tradições humanas, por mais veneráveis que nos possam parecer.

Não podemos dizer em voz alta que desejamos uma sociedade diferente e melhor, se não estamos dispostos a mudar e a ser melhores. O que você pode fazer por uma sociedade melhor? Primeiramente, ser você mesmo, você mesma melhor, mais justo, mais solidário, mais honesto, mais responsável.

RELIGIÃO VAZIA DE DEUS

Os cristãos da primeira e segunda geração recordavam Jesus, não como um homem religioso, mas como um profeta que denunciava com liberdade os perigos e armadilhas de toda religião. A sua preocupação não era a observância piedosa acima de tudo, mas a busca apaixonada da vontade de Deus.

Marcos, o evangelho mais antigo e direto, apresenta Jesus em conflito com os setores mais piedosos da sociedade judia. Entre suas críticas mais radicais há de se destacar duas: [1ª] o escândalo da religião vazia de Deus, e [2ª] o pecado de substituir sua vontade, que somente pede amor, por “tradições humanas” a serviço de outros interesses.

Jesus cita o profeta Isaías: "Este povo me honra com os lábios, porém seu coração está distante de mim. O culto que me prestam está vazio porque as doutrinas que ensinam são preceitos humanos”.

Este é o grande pecado. Uma vez que estabelecemos nossas normas e tradições, as colocamos no lugar que somente deve ocupar Deus. Respeitamo-las acima, inclusive, de sua vontade. Não se deve passar por cima da menor prescrição, mesmo que vá contra o amor e machuque as pessoas.

Neste tipo de religião, o que importa não é Deus, mas outro tipo de interesse. Honra-se Deus com os lábios, porém o coração está distante dele, pronuncia-se um credo obrigatório, mas se crê no que convém, cumprem-se ritos, mas não há obediência a Deus, mas aos homens.


Aos poucos, nos esquecemos de Deus e, em seguida, esquecemos que o temos esquecido. Diminuímos o evangelho para não termos que nos converter em demasia. Orientamos caprichosamente a vontade de Deus para o que nos interessa e esquecemos sua exigência absoluta de amor. Com o tempo, perdemos Jesus; esquecemos o que significa olhar a vida com seus olhos.

Este pode ser hoje o nosso pecado. Agarramo-nos, como que por instinto, a uma religião desgastada e sem força para transformar as vidas. Seguir honrando Deus somente com os lábios. Resistimos à conversão e vivemos esquecidos do projeto de Deus: a construção de um mundo novo segundo o coração de Deus.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – Homilías J. A. Pagola – Ciclo B – Internet: clique aqui.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Papa: “Devemos pensar em Deus como a carícia que nos mantém vivos”

Redação

Depois de refletir sobre a festa e o trabalho na família, Papa falou da necessidade de oração; o Evangelho lido em família é pão que alimenta, disse
Papa Francisco faz sua Catequese sobre a família nesta 100ª Audiência Geral da Quarta-feira
Praça de São Pedro (Vaticano), 26 de agosto de 2015

Na 100ª catequese de seu pontificado, nesta quarta-feira, 26 de agosto, o Papa Francisco seguiu refletindo sobre a família, desta vez dedicando-se ao tempo da oração no ambiente familiar.

O Papa explicou que a falta de tempo é uma das mais frequentes justificativas utilizadas pelos cristãos para os poucos momentos de oração. De fato, Francisco admitiu que quem tem uma família aprende a colocar dentro das 24 horas do dia o dobro disso. “Há pais e mães que merecem o Prêmio Nobel por isso! O segredo está no carinho que têm por seus queridos”.

Francisco convidou os fiéis a refletirem sobre o amor que sentem por Deus, pois isso tem relação com o tempo dedicado à oração. “Quando o afeto por Deus não acende o fogo, o espírito da oração não aquece o tempo; mas se o coração for habitado por Deus, até um pensamento sem palavras ou um beijo mandado por uma criança a Jesus se transformam em oração”.

Como exemplo, o Papa citou a beleza contida na atitude das mães que ensinam seus filhos pequenos a mandarem um beijo para Jesus ou para Nossa Senhora. Esse é o espírito da oração, disse, que leva a encontrar a paz nas coisas necessárias, tendo em vista uma vida onde sempre falta tempo.

O Papa indicou como um bom guia sobre discernimento entre trabalho e oração a história de Marta e Maria, narrada no Evangelho do dia [Lucas 10,38-42]. Elas aprenderam com Deus a harmonia dos ritmos familiares: a beleza da festa, a serenidade do trabalho e o espírito de oração.

“A oração surge da escuta de Jesus, da leitura do Evangelho. Não se esqueçam, todos os dias leiam um trecho do Evangelho. A oração surge da intimidade com a Palavra de Deus. Há essa intimidade na nossa família? Temos em casa o Evangelho? (…) o Evangelho lido e meditado em família é como um pão bom que alimenta o coração de todos”.

O ciclo de catequeses sobre a família começou em 10 de dezembro do ano passado. As reflexões se inserem no contexto do Sínodo da Família, que teve sua primeira assembleia em 2014 e deve ser concluído com a assembleia geral ordinária a ser realizada no próximo mês de outubro, de 4 a 25, no Vaticano.

Leia, abaixo, o texto integral desta catequese de Papa Francisco:


CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Depois de ter refletido sobre como a família vive os tempos da festa e do trabalho, consideramos agora o tempo da oração. A queixa mais frequente dos cristãos diz respeito ao tempo: “Deveria rezar mais…; gostaria de fazê-lo, mas muitas vezes me falta o tempo”. Ouvimos isso continuamente. O arrependimento é sincero, certamente, porque o coração humano procura sempre a oração, mesmo sem sabê-lo; e se não a encontra não tem paz. Mas para que se encontre, é preciso cultivar no coração um amor “quente” por Deus, um amor afetivo.

Podemos nos fazer uma pergunta muito simples. Tudo bem acreditar em Deus com todo o coração, tudo bem esperar que nos ajude nas dificuldades, tudo bem sentir-se no dever de agradecê-Lo. Tudo certo. Mas queremos também um pouco de bem ao Senhor? O pensamento de Deus nos comove, nos surpreende, nos suaviza?

Pensemos na formulação do grande mandamento, que sustenta todos os outros: “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as forças” (Dt 6,5; cf. Mt 22,37). A fórmula usa a linguagem intensiva do amor, derramando-o em Deus. Bem, o espírito de oração mora antes de tudo aqui. E se mora aqui, mora todo o tempo e não sai nunca. Conseguimos pensar em Deus como uma carícia que nos dá em vida, antes da qual nada existe? Uma carícia da qual nem a morte nos pode separar? Ou pensamos Nele apenas como um grande Ser, o Onipotente que fez todas as coisas, o Juiz que controla toda ação? Tudo verdade, naturalmente. Mas somente quando Deus é o afeto de todos os nossos afetos, o significado destas palavras se tornam plenos. Então nos sentimos felizes, e também um pouco confusos, porque Ele pensa em nós e, sobretudo, nos ama! Isso não é impressionante? Não é impressionante que Deus nos acaricie com amor de pai? É tão belo! Podia simplesmente se fazer reconhecer como o Ser supremo, dar os seus mandamentos e esperar os resultados. Em vez disso, Deus fez e faz infinitamente mais que isso. Acompanha-nos no caminho da vida, nos protege, nos ama.

Se o afeto por Deus não acende o fogo, o espírito da oração não aquece o tempo. Podemos também multiplicar as nossas palavras, “como fazem os pagãos”, diz Jesus; ou até mesmo exibir os nossos ritos, “como fazem os fariseus” (cf. Mt 6,5.7). Um coração habitado pelo afeto por Deus faz transformar em oração também um pensamento sem palavras, ou uma invocação diante de uma imagem sagrada, ou um beijo mandado para a igreja. É belo quando as mães ensinam os filhos pequenos a mandar um beijo a Jesus ou a Nossa Senhora. Quanta ternura há nisso! Naquele momento, o coração das crianças se transforma em lugar de oração. E é um dom do Espírito Santo. Não esqueçamos nunca de pedir este dom para cada um de nós! Porque o Espírito de Deus tem aquele seu modo especial de dizer nos nossos corações “Abbá” – “Pai”, nos ensina a dizer “Pai” propriamente como o dizia Jesus, um modo que nunca poderemos encontrar sozinhos (cf. Gl 4,6). É na família que se aprende a pedir e apreciar este dom do Espírito. Se o aprende com a mesma espontaneidade com a qual aprende a dizer “papai” e “mamãe”, aprendeu-se para sempre. Quando isso acontece, o tempo de toda a vida familiar é envolvido no colo do amor de Deus e procura espontaneamente o tempo da oração.

O tempo da família, sabemos bem disso, é um tempo complicado e cheio, ocupado e preocupado. É sempre pouco, não basta nunca, há tantas coisas a fazer. Quem tem uma família aprende a resolver uma equação que nem mesmo os grandes matemáticos sabem resolver: dentro das vinte e quatro horas se faz o dobro! Há mães e pais que poderiam vencer o Nobel, por isso. De 24 horas fazem 48: não sei como fazem, mas se movem e o fazem! Há tanto trabalho em família!

O espírito da oração volta o tempo para Deus, sai da obsessão de uma vida à qual sempre falta o tempo, reencontra a paz das coisas necessárias e descobre a alegria de dons inesperados. Boas guias para isso são as duas irmãs, Marta e Maria, da qual fala o Evangelho que escutamos; elas aprendem de Deus a harmonia dos ritmos familiares: a beleza da festa, a serenidade do trabalho, o espírito da oração (cf. Lc 10,38-42). A visita de Jesus, ao qual queriam bem, era a festa delas. Um dia, porém, Marta aprendeu que o trabalho da hospitalidade, mesmo sendo importante, não é tudo, mas que escutar o Senhor, como fazia Maria, era realmente o essencial, a “melhor parte” do tempo. A oração surge da escuta de Jesus, da leitura do Evangelho. Não se esqueçam, todos os dias leiam um trecho do Evangelho. A oração surge da intimidade com a Palavra de Deus. Há esta intimidade na nossa família? Temos em casa o Evangelho? Nós o abrimos algumas vezes para lê-lo juntos? Nós o meditamos rezando o Rosário? O Evangelho lido e meditado em família é como um pão bom que alimenta o coração de todos. E pela manhã e à noite, e quando sentamos à mesa, aprendamos a dizer juntos uma oração, com muita simplicidade: é Jesus que vem entre nós, como ia à família de Marta, Maria e Lázaro. Uma coisa que tenho muito no coração e que vi nas cidades: há crianças que não aprenderam a fazer o sinal da cruz! Mas você mãe, pai, ensina a criança a rezar, a fazer o sinal da cruz: esta é uma tarefa bela das mães e dos pais!

Na oração da família, nos seus momentos fortes e nas suas passagens difíceis, nos confiemos uns aos outros, para que cada um de nós na família seja protegido pelo amor de Deus.

Tradução de Jéssica Marçal.

Fonte: Canção Nova – Especiais – Papa – Quarta-feira, 26 de agosto de 2015 – 11h11 e 11h12 – Internet: clique aqui e aqui.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

COMEÇOU O "DESEMBARQUE" DO GOVERNO DILMA!

Falta fio terra

Dora Kramer

Dilma não deve desculpas, e sim explicações
e soluções realistas para a crise 
Presidente Dilma Rousseff discursa em Catanduva (SP) ao entregar casas do
Programa "Minha Casa, Minha Vida"
Terça-feira, 25 de agosto de 2015

Na campanha pela reeleição a presidente Dilma Rousseff dizia-se “estarrecida” diante de qualquer fato ou ato para o qual não tivesse resposta. Na entrevista dada na segunda-feira [24 de agosto] aos jornais de circulação nacional, Dilma trocou o estarrecimento pelo susto para se justificar sem, no entanto, se explicar.

Disse que foi surpreendida tanto pelo tamanho da crise econômica quanto pela dimensão do esquema de corrupção na Petrobrás e, assim, considerou-se em dia com explicações devidas sobre fatos ocorridos e atos cometidos em seu governo.

Muito mais que pedidos de desculpas – penitência objetivamente inútil, pois o caso não é de absolvição de pecados, mas de correção efetiva – a presidente continua devendo ao País esclarecimentos consistentes para a origem, e soluções realistas para a saída da crise.

Até agora não fez uma coisa nem outra e as respostas dadas aos jornalistas indicam que não o fará enquanto a corda, embora bamba, ainda se sustenta. À crise econômica, Dilma segue atribuindo os motivos a fatores externos e imprevisíveis, assim como reconhece que continua sem horizonte de previsibilidade.

Em bom português, isso significa que o governo não tem planejamento. Atua ao sabor dos ventos, adota o voluntarismo como critério para tomada de decisões e age quando já é tarde. Foi o que disse a chefe da Nação que preferiu adotar a pregação do otimismo à deriva quando ouvia de todos os lados alertas sobre a gravidade da situação do País, moral, política, econômica e administrativamente falando.

Os realistas, a cuja análise do cenário o Planalto foi obrigado a se render, eram, na concepção palaciana, pessimistas a serviço da tese do “quanto pior, melhor”. Mesmo quando integrantes do governo. Em 2013, o então presidente da Câmara de Políticas de Gestão ligada à Presidência, Jorge Gerdau, alertou para a impossibilidade de o País ser administrado numa estrutura assentada em 39 ministérios.

“Quando a burrice, a loucura ou a irresponsabilidade vão muito longe, de repente sai um saneamento. Provavelmente estamos no limite desse período.” Vaticínio certeiro. Desprezado, contudo. Gerdau não foi ouvido. Deixou a função na Câmara de Gestão – da qual, aliás, não se viu a produção de um alfinete – e tornou-se um adepto da candidatura presidencial de oposição em 2014.

Agora, dois anos depois, premida pelas circunstâncias, a presidente anuncia a redução do número de ministérios. Não diz, no entanto, como será feita a dita “reforma administrativa”, não explicita quais serão as pastas atingidas e, sobretudo, não explica as razões pelas quais o governo Lula criou oito ministérios ao tomar posse em 2003, acrescidas de outras cinco na gestão atual.

A motivação, sabemos: necessidade de acomodar afilhados (petistas ou não) na máquina pública, uma vez que a opção do governo foi atuar a partir do manejo orçamentário no lugar do convencimento programático.

O caminho supostamente mais fácil acabou se revelando mais “custoso”. Custou a autoridade moral do PT e levou junto a boa imagem do partido junto à sociedade. Quando o governo se dispõe a reduzir ministérios e a quantidade de gente nomeada em cargos de comissão, emerge como inevitável a dúvida: o que vai prevalecer, o conceito político ou os ditames administrativos de eficiência?

A presidente não disse. Mais uma vez infringindo a regra política da eficácia, segundo a qual a decisão só é anunciada depois de a combinação acertada. A inversão da norma – anunciar e combinar depois – pode criar mais problemas e atritos em campo onde se pretendiam construir consensos e soluções. Em resumo, falta ao governo fio terra.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Quarta-feira, 26 de agosto de 2015 – Pg. A6 – Internet: clique aqui.

Falta combinar com os russos

Marcelo de Moraes 
Esplanda dos Ministérios em Brasília (DF):
Governo está prometendo extinguir 10 dos 39 ministérios

Em Brasília, não há quem critique em público o corte de ministérios e cargos de confiança anunciado pela presidente Dilma Rousseff para tentar dar mais racionalidade à máquina federal. A medida, que agita a bandeira da austeridade, tem ótima acolhida na opinião pública. Afinal, significa redução de despesas, algo extremamente bem-vindo em período de crise econômica e depois de anos e anos de inchaço da administração.

A questão é que, se não falam publicamente, adversários da proposta já operam freneticamente para saber de que tipo de reforma o governo está falando. Ao anunciar a decisão de cortar 10 das 39 pastas existentes e mil cargos de confiança, o governo não especificou quais seriam rifadas e deixou em polvorosa os titulares de ministérios e auxiliares.

Sem essa definição, o governo viu reduzir o impacto que a reforma poderia ter. Passou também a impressão de que o Planalto tem hoje mais um plano de intenções do que uma proposta concreta.

É aí que está o nó da reforma. Faltou ao governo "combinar com os russos". Ou seja, será preciso negociar politicamente a retirada de cargos dos partidos aliados.

E, exatamente quando vive a maior crise de relacionamento com o PMDB, o corte sinaliza que o partido poderá ser o mais afetado. A legenda ocupa, hoje, a maior parte do chamado "grupo de risco" - ministros ameaçados de despejo. O partido é titular do Ministério da Pesca (uma barbada para acabar) e comanda o do Turismo, que foi desmembrado em 2003 do Esporte. Tem ainda secretarias recém-contempladas com status de ministério, como Aviação Civil e Portos.

Ora, com quatro pastas peemedebistas como alvo preferencial, é impossível imaginar que o PMDB saia feliz do redesenho. Ainda mais após o vice-presidente Michel Temer se afastar da função de principal negociador do governo com o Congresso.

Sem Temer, caberá à própria Dilma colocar o guizo no gato, além de incluir no corte pastas do PT. E correr o risco de ver sua frágil base aliada desmanchar-se de vez.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política / Análise – Quarta-feira, 26 de agosto de 2015 – Pg. A6 – Internet: clique aqui.

Rompimento à vista

Editorial

Bem a seu estilo, cauteloso e elegante, depois de encontro com Dilma Rousseff na segunda-feira, o vice-presidente Michel Temer anunciou o que já havia antecipado em conversas com correligionários: deixou a “articulação política do governo”, como se convencionou designar a missão de que fora incumbido pela presidente da República. Ou seja, de negociar com os partidos aliados o toma lá dá cá indispensável à recomposição da base de apoio ao Planalto no Congresso. Para conter a repercussão de sua decisão nos limites do movimento tático que ela significa no conjunto de seu relacionamento político com o governo, Temer foi categórico: “Não vou desembarcar do governo, até porque sou o vice-presidente”. Mas sua atitude sinaliza, sim, um primeiro passo em direção ao rompimento da aliança de seu partido com o governo do PT, a ser formalizada se e quando ocorrerem, num futuro provavelmente não muito distante, as condições políticas apropriadas.
Vice-presidente da República Michel Temer (PMDB-SP) anuncia renúncia à coordenação política do Governo Dilma

O distanciamento de Michel Temer e de seu partido do Palácio do Planalto era claramente previsível desde que o governo Dilma começou a soçobrar no oceano de suas próprias contradições e incompetência. Ou seja, logo depois da posse do segundo mandato. A vocação do PMDB pós-democratização sempre foi governista, como demonstra o retrospecto dos últimos trinta e tantos anos. E o acurado pragmatismo político de suas principais lideranças é particularmente atento às ameaças ao conforto do poder.

Do ponto de vista do apego ao poder como um fim em si mesmo não há nenhuma diferença relevante entre PMDB e PT. Pois o partido de Lula, por assim dizer, “peemedebezou-se”, converteu-se ao mais despudorado pragmatismo político quando decidiu que esse era o caminho para chegar ao poder e, principalmente, lá se manter. O que distingue as duas legendas é que os peemedebistas são geralmente mais hábeis e tolerantes, até porque não têm a cínica pretensão de serem salvadores da pátria.

Foi exatamente por seus atributos políticos que Michel Temer foi contemplado por Dilma com a terceirização – mais aparente do que real – da articulação do varejo político de seu governo. Mas era esperar demais que os petistas aceitassem essa novidade de bom grado. Principalmente porque, para o PT, aliança boa é aquela em que ele manda e os aliados obedecem. Mas também não ajudou em nada a Temer a austeridade que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem tentado impor, ainda que canhestramente, às finanças públicas. Ficou, assim, muito difícil articular o Tesouro com a compreensível ambição dos parlamentares de canalizar recursos para suas bases eleitorais. E, por sua vez, a Casa Civil do ministro Aloizio Mercadante nunca foi exatamente ágil no trabalho de encaminhar as nomeações resultantes dos acordos selados por Temer e seu braço direito, o ministro Eliseu Padilha.

Em bom português, Temer tentou remontar, sem dispor dos recursos financeiros e políticos para tal, o esquema fisiológico de apoio que Dilma, contando com tudo o que faltava ao vice, organizou formalmente, mas nunca conseguiu fazer funcionar. E isso porque os sacripantas que venderam seu apoio tiveram a esperteza de nunca entregá-lo.

Além disso, quando cometeu o sincericídio de proclamar que “alguém” deveria assumir a responsabilidade de unir os brasileiros, Temer forneceu farta munição para os petistas encherem o ouvido de Dilma com alertas sobre as “verdadeiras intenções” do vice-presidente. A partir de então, Dilma colocou um assessor de sua confiança para “ajudar” na articulação política.

Se, por um lado, Michel Temer teve todos os motivos para se sentir desprestigiado no papel de “articulador político”, por outro passou a ser pressionado por seus correligionários, especialmente o deputado Eduardo Cunha, a afastar-se do governo e logo com ele romper. Este, porém, não é o estilo de Temer, mesmo que ele esteja, no íntimo, convencido daquilo que a esmagadora maioria dos brasileiros já se deu conta: esse governo não tem salvação.

De qualquer maneira, Michel Temer entrou como um cavalheiro nesse lance de articulação política, num gesto de boa vontade e, quem sabe, de sincera homenagem à chefe do governo. A presidente Dilma Rousseff não espere atitude lhana [amabilidade] como esta da tigrada que a cerca.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas e Informações – Quarta-feira, 26 de agosto de 2015 – Pg. A3 – Internet: clique aqui.

Cuidado: "O cibercrime está cada vez mais profissional"

Entrevista com Eugene Kaspersky
Presidente da Kaspersky Labs

Camilo Rocha

Presidente de uma das maiores empresas de antivírus do mundo,
crê que ameaças na internet atingiram escala inédita
Eugene Kaspersky

Uma das mais conhecidas empresas de antivírus do mundo, a russa Kaspersky, foi acusada na semana passada de espalhar ameaças falsas de vírus por dez anos para prejudicar seus concorrentes. De passagem por São Paulo para um evento, o presidente da empresa, Eugene Kaspersky, conversou com o jornal O Estado de S. Paulo.

O sr. negou a acusação de práticas desleais. De onde acha que surgiu essa denúncia?

Eugene Kaspersky: Esse tipo de matéria costuma sair logo depois de uma grande revelação de espionagem por parte de países ocidentais, como Estados Unidos da América (EUA) ou Israel. Em outras ocasiões, fui acusado de ser um espião russo. Para fazer o que me acusam eu teria que ter engenheiros, especialistas em antivírus, em bancos de dados, em infraestrutura. É um grupo de pessoas, trabalhando o tempo todo, por cerca de 10 anos, para fazer isso, e mantendo segredo. Seria muito caro!

Como é sua relação com o governo russo?

E.K.: Há muitos tipos de relações com governos, e com departamentos de governos, incluindo com o Brasil. Há muitos departamentos governamentais lidando com o cibercrime e órgãos nacionais de cibersegurança com os quais mantemos contato. É claro que estamos em contato com os órgãos russos. Assim como os de vários países europeus, das Américas do norte e do sul, da Ásia. A Scotland Yard é nosso cliente. Nós fazemos treinamentos com eles. E aí existem os setores de inteligência, os espiões, mantemos distância destes.

Que serviços a empresa presta para o governo brasileiro?

E.K.: Várias instituições em vários níveis, municipal, estadual e federal, usam nossos produtos como usuários. Agora temos colaborações para procurar ameaças sendo desenvolvidas aqui no Brasil. Temos um laboratório de análise de malware aqui que nos permite coletar e capturar informações em primeira mão. Conseguimos rapidamente coletar amostras e podemos mandar para Moscou para análise posterior e isso ajuda no desenvolvimento de produtos.

Este ano tem sido pródigo em ciberataques, incluindo o que atingiu cerca de 100 bancos, revelado em fevereiro. Estamos vivendo um aumento do cibercrime?

E.K.: O cibercrime está cada vez mais profissional. Já tem uma experiência acumulada, aprenderam com erros, prisões, cooperam em nível internacional, trocam e vendem tecnologias, bancos de dados roubados entre países. Nada nisso é novo, mas a escala não para de crescer.

E o que isso pode significar em termos de ameaças à segurança na rede?

E.K.: Ataques que resultam em danos na infraestrutura física. Até agora aconteceram apenas dois casos desse tipo: o Stuxnet (que invadiu usinas nucleares na Índia e Irã, em 2010) e um ataque a uma siderúrgica alemã no fim do ano passado, onde sistemas de controle foram manipulados a ponto de impedir o fechamento de um alto-forno, o que causou grandes danos à empresa.

Você acredita que governos e autoridades estão se preparando para esse tipo de ocorrência?

E.K.: Infelizmente, não. Existem três estágios para lidar com o problema. O primeiro é entender que ele existe, e a maioria entende isso. O segundo é desenvolver uma estratégia para lidar com ele e o terceiro é colocá-lo em prática. A maior parte dos governos está no primeiro estágio. Eles têm as informações, mas não sabem o que fazer, incluindo o governo norte-americano. Uma das exceções é Cingapura.

Como o sr. classificaria a vulnerabilidade do Brasil?

E.K.: Infelizmente, quase todos os países estão no mesmo nível, pois usam os mesmos sistemas e hardware. É difícil medir qual é o mais seguro. O Brasil, por exemplo, não tem os mesmos recursos que os EUA para se proteger, mas é um alvo de importância muito menor. Nesse sentido, o país mais seguro do mundo seria algum como o Zimbábue ou uma ilha da Oceania. Países como EUA, Reino Unido, Israel, Rússia, tem cibersegurança de primeira linha, mas ao mesmo tempo são os melhores alvos.

O crescimento da internet das coisas trará mais perigos?

E.K.: Eu a chamo de “internet das ameaças”. É questão de tempo até que um aparelho seja invadido. Os grandes fabricantes entendem os riscos, mas muitas vezes cometem erros bobos que permitem que seus novos sistemas sejam invadidos. Objetos críticos, como carros, são conectados à internet e infelizmente são vulneráveis. Por questões de competitividade e a necessidade de lançar logo, a segurança fica em segundo plano. E já pensou nos aviões? Teremos cada vez mais trabalho nas mãos.

Você tem alguma boa notícia para dar?

E.K.: Nós vamos sobreviver (risos).

Fonte: O Estado de S. Paulo – link – Quarta-feira, 26 de agosto de 2015 – Pg. B12 – Internet: clique aqui.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

ENGANA-ME QUE EU GOSTO!

Loucuras, intolerância, incentivo à violência
e exploração da boa fé dos fiéis

Redação

“Tem gente que precisa tomar tiro!”.
Casado, falante e pai de dois filhos, pastor Lúcio Barreto Júnior
veste roupas de adolescente e se define como
“uma das referências atuais da juventude brasileira”.
Pastor Lucinho "cheira" a Bíblia imitando a maneira que os usuários de cocaína cheiram uma fileira da droga!

Lúcio Barreto Júnior, de 42 anos [na época da reportagem], é um homem bem falante. Casado e pai de dois filhos, uma menina de 13 e um menino de 10 anos de idade, veste roupas de adolescente e, em seu site, se define como “uma das referências atuais da juventude brasileira”.

Essa “referência” da juventude brasileira foi notícia, ao posar para foto com o nariz encostado em um exemplar da Bíblia, como se nela houvesse cocaína, e ele fosse um usuário de droga.

“Se não for radical, não toca o jovem”, explicou seu gesto esse homem já na meia idade. O pastor Lucinho talvez considere radicais suas manifestações no programa da Super Rede de Televisão, uma emissora gospel instalada em Minas Gerais.

Um jovem pergunta: “Um policial em serviço é obrigado a matar alguém para se defender, isso é pecado?”.

Lucinho poderia responder sim ou não, mas prefere se alongar e, fugindo da pergunta, justifica a violência policial. Diz ele folheando a Bíblia, como se estivesse próximo de revelar a verdade incontestável. “Vamos ler a Bíblia, então, porque Lucinho é achômetro, mas a Bíblia é palavra final”, diz.

Em seguida, saca um versículo e o cita fora de contexto. “Não há autoridade que não venha de Deus”, fulmina. Ele continua a leitura até emitir um grunhido, como se tivesse marcado um gol ou disparado um tiro. “Êêêêêêêêêêiiiiiiiiiiiiiiiiiii”, vibra.

“Vou traduzir, vou traduzir!”, diz “a referência” da juventude brasileira.

“Pra-rá-tá-tá-tá-tá… pá!”.

“É, na cara do capeta!”.

Diz, segurando um objeto na mão, como se fosse revólver, apontado para sua audiência.
“Policial, cristão ou não cristão, tá no serviço, tá trabalhando, a Bíblia só te chama de agente de Deus, você é o emissário do Céu, você é Jesus ali protegendo a sociedade.”

O líder da juventude segue na sua pregação:
“Então, chegou o momento, tem que usar o revólver, não tem jeito, irmão, pega o revólver e, ó, não dá pouco tiro não, dá muito tiro, descarrega o tiro. Quando acabar de dar tiro, joga o revólver na cara, joga o que tiver. Se tiver uma arma do Rambo, sapeca tiro no povo.”
Pastor Lucinho empunhando a Bíblia como se fosse uma arma

Antes que alguém pergunte: “Por quê?”, ele responde:
“Porque tem gente que precisa tomar tiro. Precisa tomar tiro por quê? Porque eles estão querendo matar a sociedade.”

Em seguida, o pastor zomba daqueles que poderiam se opor a ele:
“A pessoa vem com o discurso todo bonito: ‘Não, pastor, isso não pode…’ Então espera o tiro do bandido vir no seu filho… Aí, eu quero ver você permanecer com esse discurso.”

O radical Lucinho volta à Bíblia:
“A autoridade está respaldada pela Bíblia e por Deus para sentar tiro na cara do povo que não quer viver de acordo com as nossas leis.”

Lucinho zomba outra vez daqueles que poderiam se opor a ele:
“Ô traficante, por favor, para, moço…”.
“Não é para moço, não”, grita. “É faca na caveira mesmo. E vamos arrepiar o cabelo do sovaco deste povo, porque temos filhos. E a gente tá pondo filho neste mundo é pra quê? Pro bandido vir… Não, senhor.”

Assista ao vídeo onde este pastor incita à violência policial, 
clique abaixo:



Por fim, ele faz a exortação política:
“Você, quando for votar, fica esperto porque você está pondo as pessoas que vão cuidar da gente, e nós temos que ter gente séria, em todos os poderes.”

No encerramento, ele faz um afago:
“E eu mando o meu beijo para a Polícia Militar, para a Polícia Civil e para todas as polícias. Federal, estadual, rodoviária. Beijo para vocês. Que Deus guarde vocês e abençoe vocês todos os dias.”

O programa do pastor Lucinho vai ao ar pela Rede Super de Televisão, emissora que pertenceu ao deputado Dalmir de Jesus, político que ostenta em sua biografia o título de marajá da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, onde recebia salário de R$ 50 mil.

Depois a emissora passou para o controle da Igreja Batista da Lagoinha, uma das denominações evangélicas que mais crescem no Estado, presidida pelo pastor Márcio Valadão, pai de dois astros da música gospel, Ana Paula Valadão e André Valadão, artistas sob contrato da Som Livre, a gravadora das Organizações Globo.

Márcio é um dos pastores que atenderam à convocação do pastor Silas Malafaia e foram a Brasília manifestar apoio ao deputado Marco Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal, que quis votar o projeto de “cura gay”.

Fonte: Pragmatismo Político – Religião – 08/10/2013 – 15h23 – Internet: clique aqui.

Um “show” de como recolher ofertas de fiéis

Irmão Alex 
Ana Paula Valadão - cantora evangélica pertencente à Igreja Batista da Lagoinha (Belo Horizonte - MG)

Eu devo confessar que nesses breves trinta e dois anos de vida pastoral eu já tinha visto e ouvido um ou outro pregador ou pregadora levantar ofertas usando frases que todos estamos acostumados a ver e ouvir nessas ocasiões.

Mas devo dizer que a maneira como a Ana Paula Valadão se comportou no final de um congresso na Igreja Batista da Lagoinha [Belo Horizonte – MG] me deixou chocado ao ver a coragem e a hipocrisia dela em pedir dinheiro, para um dos projetos da igreja. Foi algo, realmente, profissional. Todos os elementos psicológicos e teológicos estão atrelados, de forma sólida, nesse pedido. Usando uma pesada maquiagem negra ao redor dos olhos nossa campeã não podia sequer ficar vermelha diante de tanta covardia. Não tenho dúvidas que o valor recuperado foi extraordinário.

Quando Ana Valadão diz que costuma, muitas vezes, dar tudo o que tem na bolsa e no banco foi o ápice de onde alguém pode chegar mentindo com a nítida intenção de enganar. Gostaria de ver seus extratos de três messes antes e de seis meses depois de uma dessas ocasiões para ter certeza.

Bem, o vídeo ao qual estamos nos referindo poderá ser visto clicando abaixo:



Preste bastante atenção e note como ela é, realmente, perfeita na manipulação, nos gestos, na voz chorosa e nas palavras usadas. Tudo muito bem ensaiado!

Fonte: O Grande Diálogo – Segunda-feira, 25 de novembro de 2013 – 03h29 – Internet: clique aqui.

MITOS E ILUSÕES A RESPEITO DA ALIMENTAÇÃO!

O orgânico nosso de cada dia

Entrevista com Alan Levinovitz

Nathalia Watkins

O filósofo americano traça paralelos entre as religiões e
os modismos alimentares, como o vegetarianismo,
e alerta para o fato de que os seres humanos não são o que comem
ALAN LEVINOVITZ

Professor de religião e filosofia na Universidade James Madison, em Harrisonburg, Virgínia, o americano Alan Levinovitz identificou um componente de fé nos modismos alimentares, como o vegetarianismo, o crudivorismo [aquele que aprecia ou prefere alimentos crus] e outras dietas restritivas.

Por dois anos, ele revisou centenas de pesquisas científicas e entrevistou médicos e cientistas. O resultado está no livro A Mentira do Glúten, com lançamento previsto para setembro no Brasil.

Levinovitz concluiu que, da mesma forma que os dogmas religiosos, o radicalismo nos hábitos alimentares se utiliza de padrões de comportamento para dar às pessoas a segurança de se sentir parte de um grupo e de estar fazendo algo que as tornará seres humanos melhores. Ele falou à VEJA por telefone.

O ser humano é o que come?

Alan Levinovitz: Em muitas culturas ancestrais, acreditou-se que coisas ou fenômenos parecidos teriam efeitos parecidos. Por exemplo, se um grupo de pessoas queria que chovesse, derramava um copo de água no chão. A água despejada, acreditava-se, poderia interferir no clima. Essa lógica se transferiu para o mundo da alimentação. Criou-se a crença de que a ingestão de gordura deixa a pessoa gorda. Isso faz sentido na teoria, mas não é verdade. A ciência já superou a máxima “você é o que você come”, porém ainda existe a necessidade humana de encontrar paralelos mágicos entre fenômenos distintos. Essa é uma solução fácil, que simplifica as escolhas alimentares. O problema é a perpetuação da ideia de que alguém pode ser melhor ou pior dependendo do que come. Por essa lógica, se alguém ingere algo considerado “puro” e “limpo”, também se tornará “puro” e “limpo”. Infelizmente, isso é acreditar em mágica. Os seres humanos querem regras simples para a vida e para dar um significado à própria existência. Por outro lado, há os que se sentem culpados por não comer bem. Isso é ridículo. Relaxar é tão importante quanto comer bem.

Por que o sentimento de culpa é pior do que alimentar-se mal?

Alan Levinovitz: Um estudo comparativo feito no Japão, na França e nos Estados Unidos mostrou que os americanos são os que se sentem mais culpados pelo que escolhem como alimentos e são os mais conscientes no que diz respeito à nutrição. Ao mesmo tempo, são os que mais sofrem com obesidade e são menos saudáveis.

O glúten é o vilão da vez da alimentação. Isso tem embasamento científico?

Alan Levinovitz: Há pessoas que realmente precisam cortar o glúten da dieta. São os celíacos. A estimativa é que eles representem cerca de 1% da população. Além deles, uma parcela que não é celíaca pode desenvolver reações ao glúten. Esse grupo representa entre 3% e 5% do total. Para todo o resto, não há nenhuma necessidade de evitar a ingestão dessa substância. Contudo, um terço dos americanos consome produtos sem glúten. A constatação é que dezenas de milhões de pessoas, para ficar só com as estatísticas americanas, estão cometendo um erro ao decidir o que devem ou não ingerir. Em vez de usarem informações com base científica ao tomar suas decisões à mesa, agem como fiéis religiosos.

As religiões também ajudam a estabelecer crenças alimentares?

Alan Levinovitz: Existe algo de divino na comida, que vem de muito tempo atrás. A história religiosa mais famosa do Ocidente, a de Adão e Eva, é um exemplo disso. A narrativa conta que eles eram pessoas boas e inocentes que viviam no paraíso até que uma serpente disse a Eva: “Coma essa fruta que você não deveria comer”. Depois, os dois tornaram-se mortais, experimentaram a dor, o sofrimento e passaram a ter de cultivar a terra. A lição é que comer algo indevido pode ser ruim e causar dor física.

No passado, regras alimentares religiosas, como halal [alimentos aprovados pela religião islâmica] e kasher [alimentos aprovados pela religião judaica], não teriam sido úteis como políticas de saúde pública, ao evitarem doenças?

Alan Levinovitz: Sempre achei que judeus não podiam comer carne de porco e crustáceos porque são alimentos que se deterioram facilmente. O objetivo seria manter o povo saudável. Mas pesquisas mais recentes indicam que a razão não é essa. O Levítico [livro do Antigo Testamento] prescreve que não se podem comer anfíbios ou sapos. Mas o critério nada tinha a ver com a saúde. Os textos religiosos exigem que os animais sejam classificados. O animal voa ou anda? Ele nada? Então, o critério para declarar impura a carne de um bicho derivou da impossibilidade de classificá-lo. Ao seguirem certas normas, os grupos humanos se diferenciaram uns dos outros. As normas alimentares tiveram o mesmo papel, estabelecendo uma identidade de grupo. Esse comportamento prevalece até hoje. Existe o grupo de pessoas que não come fast-food ou o grupo dos que evitam o consumo de açúcar. Essas escolhas são fatores definidores da identidade de cada um.

Mas açúcar em excesso faz mal, não?

Alan Levinovitz: Sim, e a principal razão disso é que essa substância é uma fonte barata e saborosa de calorias nutricionalmente vazias. Muito do excesso de calorias consumido no mundo inteiro vem de bebidas adoçadas e de outros alimentos açucarados. É um problema sério, mas não há nenhuma razão comprovada pela ciência para que se elimine completamente o açúcar da dieta.

A forma com que um alimento é produzido também ganhou contornos religiosos?

Alan Levinovitz: O mito de que se algo é feito de uma maneira imoral deve ter consequências ruins para o corpo é muito forte. Os argumentos usados por vegetarianos vão nessa linha. Alguns eliminam carnes de sua dieta porque se dizem contra a violência e o abate de animais. Mas o fato de os animais serem mortos para se tornarem alimento não quer dizer que eles farão mal ao organismo. Maldade moral não se converte em prejuízo à saúde.

O Instituto Nacional do Câncer do Brasil diz que “modos de cultivo livres do uso de agrotóxicos produzem frutas, legumes, verduras e leguminosas, como os feijões, com maior potencial anticancerígeno”. O que o senhor acha disso?

Alan Levinovitz: Isso é ridículo, francamente. O tabaco definitivamente causa câncer. Salvamos muitas vidas informando sobre os danos provocados pelo cigarro. O mesmo vale para o álcool. Beber em quantidades elevadas pode provocar malefícios. Mas é difícil encontrar evidências científicas consistentes de propriedades anticancerígenas em alimentos orgânicos ou mesmo em frutas e vegetais específicos. Quando os cientistas encontram esses benefícios, como no caso dos brócolis, o efeito é apenas marginal. A separação entre alimentos “orgânicos” e “não orgânicos” não é uma distinção científica. Essa palavra, assim como o termo “natural”, não existe na ciência. Se alimentos são cozidos e levados à mesa, eles não são naturais? Com os orgânicos, é a mesma coisa. Dizer que alimentos orgânicos ajudam a prevenir câncer é um mantra religioso. Essa afirmação remonta à ideia de que, em um passado distante, quando tudo era natural, todo mundo era mais saudável. Mas isso não é verdade. Não sabia da existência dessa orientação no Brasil, e estou chocado...

Por que a adaptação da comida à vida moderna é vista como algo ruim?

Alan Levinovitz: Ao fazermos esta entrevista, estamos realizando algo incrível. Eu estou na minha casa, em uma sala com ar condicionado, falando com você ao telefone, apesar de estarmos em continentes diferentes. É ótimo, certo? Embora tal situação não seja uma coisa natural, não nos sentimos em perigo por isso. Por que, quando se trata de comida, a tendência das pessoas é achar que há algo negativo na modernidade? Com moderação, dá para se servir de tudo. Para aproveitar a vida, o importante é ser flexível e não ficar o tempo todo impondo regras a si próprio. Conheço gente que deixa de ir a reuniões familiares por não saber a origem do que será servido. Ou deixa de mandar o filho a festas infantis por medo do açúcar colorido artificialmente. Viver com medo de ser impuro é viver com medo de estar doente. Isso é estressante, e pode levar a distúrbios alimentares. Não podemos viver como monges modernos. Comer não é somente um hábito para ser saudável e manter o peso. É também divertir-se com amigos, desfrutar cultura e história. Não podemos transformar os alimentos em remédios.

Há relação entre proselitismo religioso e proselitismo alimentar?

Alan Levinovitz: Certamente. Pessoas que realmente são sensíveis ao glúten não tentam convencer as demais a abandonar o glúten. Para elas, cortar o glúten é uma necessidade médica. Quem faz proselitismo, seja da dieta paleolítica, seja da vegetariana ou de outros modismos, acha que vive de uma maneira superior e, por isso, quer atrair o maior número de adeptos para sua religião. Fazer proselitismo de comida e de exercícios físicos é um modo de definir a própria identidade como superior à dos outros. 
Livro de Alan Levinovitz que será publicado em breve no Brasil.
Título (tradução livre):
"A Mentira do Glúten e outros Mitos sobre o que Você Come"

As duas formas de proselitismo são igualmente ruins?

Alan Levinovitz: Se uma pessoa acredita que sua fé faz bem e proporciona uma vida melhor, é positivo convencer os outros a se juntarem a ela. Mas é triste ver o mesmo entusiasmo religioso aplicado à comida e aos exercícios. Os seres humanos amam dominar os outros, dizer o que devem fazer. Os governos, particularmente, adoram fazer isso.

Assim como na religião, há entre as dietas uma competição para ser a mais pura e radical?

Alan Levinovitz: Sim, essa é a regra. Nos Estados Unidos, a dieta paleolítica é muito popular. Nela, tenta-se imitar a alimentação dos nossos ancestrais. Isso nada mais é que uma versão da busca pelo paraíso perdido. Mas há muitas variações dessa dieta e há diferentes grupos que divergem como praticá-la. Alguns dizem que não é permitido nem comer tomates porque são ervas-mouras e não existiam antigamente. Outros pregam que, para ser paleolítico de verdade, não se podem fazer exercícios em uma academia. É preciso fazê-los ao ar livre. Por isso, muitos são adeptos do crossfit, que se tornou muito popular. Contudo, assim como na religião, não se pode ser muito fundamentalista, ou não haverá novos adeptos. Os que só comem alimentos crus ou plantas que só existiam há 10.000 anos vão se dar conta uma hora de que, se quiserem que façamos parte do grupo deles, será preciso afrouxar as regras. As religiões também tendem a ser muito puras no início, e depois ficam mais flexíveis.

Que influência as celebridades exercem sobre os hábitos alimentares das pessoas?

Alan Levinovitz: Em uma era em que as mídias digitais se tornaram muito populares e acessíveis, as estrelas de cinema e os atletas assumiram o papel dos santos do passado. Em vez de olharem para os textos religiosos, os indivíduos leem o que as celebridades dizem porque querem alguém para guiá-los. Eles também acreditam que, se fizerem o mesmo que os famosos, terão um resultado igual ao deles. Santidade, atualmente, é um conceito distorcido.

Por que as religiões alimentares quase sempre apontam o capitalismo como o maior dos males?

Alan Levinovitz: Movimentos religiosos originam-se muitas vezes do sentimento de perda de poder e do desejo de culpar alguém. A verdade é que humanos morrem, ficam doentes. É muito frustrante. Então, procuramos culpados, e geralmente fazemos isso apontando o dedo para quem tem poder. Atualmente, a maior fonte de poder são os governos democráticos e a indústria capitalista, mas são eles, sem sobra de dúvida, os responsáveis pela melhora na nossa qualidade de vida. Podemos ir a um supermercado e encontrar frutas de qualquer parte do mundo. Apesar disso, é fácil acreditar que no passado, sim, era tudo um paraíso. Então, para muitos, o capitalismo e a democracia representam a modernidade que nos afasta do mito do paraíso.

A indústria alimentícia está em perigo?

Alan Levinovitz: Claro que não. Os empresários estão muito felizes em vender bebidas sem adição de açúcar e alimentos sem sal. No mundo dos alimentos, os donos das empresas que vendem alimentos orgânicos são os mesmos das que vendem os não orgânicos. Eles simplesmente não ligam para isso.

Fonte: VEJA – Entrevista – Edição 2440 – Ano 48 – nº 34 – 26 de agosto de 2015 – Pgs. 17, 20-21 – Edição impressa.