«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O QUE ESTÁ NOS BASTIDORES DA POLÍTICA AGORA...

Sobre o “acordão”

Editorial

Como é que todos estão se livrando na república dos Calheiros da vida
Desembargador Marcelo Navarro Dantas:
o predileto de Renan Calheiros (mencionado na Lava Jato) para ocupar vaga no
Supremo Tribunal de Justiça (STJ) que julgará recursos das decisões do juiz federal Sérgio Moro

Ao indicar para ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) o desembargador federal Marcelo Navarro Dantas, que contou com forte apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a presidente Dilma Rousseff alimentou ainda mais os comentários sobre um...

“acordão” que estaria sendo negociado entre membros do Executivo, do Legislativo, do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Procuradoria-Geral da República para evitar condenações judiciais de líderes políticos no escândalo do petrolão e assegurar o cumprimento integral do mandato presidencial.

Com 20 votos, Navarro Dantas – que integra o Tribunal Regional Federal (TRF) da 5.ª Região, em Pernambuco – foi o segundo colocado da lista tríplice enviada pelo STJ ao Palácio do Planalto para a escolha do substituto do ex-presidente da Corte Ari Pargendler, que se aposentou em setembro do ano passado. O primeiro colocado, desembargador federal Joel Paciornik, do TRF da 4.ª Região, cuja indicação era dada como certa nos meios forenses, por ser o nome preferido da magistratura federal e da maioria dos ministros do STJ, recebeu 21 votos. A indicação de Navarro Dantas ainda precisa ser aprovada pelo Senado.

O interesse de Renan Calheiros nessa vaga era conhecido desde março, quando o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa aderiu à delação premiada. Em depoimento à Justiça Federal, em Curitiba, ele contou que o presidente do Senado seria um dos beneficiários do esquema de propinas repassadas aos três partidos que indicaram os diretores da empresa – PT, PMDB e PP. Segundo Costa, a propina era de 3% e teve de ser aumentada para que “fosse incluído o valor para Renan”. 
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás, um dos delatores da Operação Lava Jato:
afirmou que Renan Calheiros recebeu percentagem da propina de 3%
que os partidos da base do governo recebiam

Como ocupará uma das cadeiras da 5.ª Turma do STJ, que é responsável pelo julgamento de ações criminais, o futuro ministro assumirá a relatoria dos recursos judiciais da Operação Lava Jato – como pedidos de liberdade e anulação de provas – impetrados pelos advogados de empreiteiras e operadores de esquema de corrupção na Petrobrás. Ele poderá, assim, revisar todas as decisões do titular da 13.ª Vara Criminal da Justiça Federal de Curitiba, Sérgio Moro, que sofrerem contestações.

Numa tentativa de negar influência na ascensão de Navarro Dantas ao STJ e à relatoria dos processos da Lava Jato, Renan distribuiu nota oficial afirmando que a indicação de ministros para os tribunais superiores é de competência privativa do chefe do Poder Executivo, cabendo ao Senado a prerrogativa de sabatiná-lo e aprová-lo. A jornalistas,
Renan e políticos que lhe são fiéis, como o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, disseram que Navarro Dantas teve o apoio maciço de governadores e de políticos do Nordeste. Os demais nomes da lista tríplice do STJ são oriundos do Sul – região que, segundo eles, foi contemplada há quatro meses com a indicação do gaúcho Luiz Edson Fachin para o Supremo Tribunal Federal. Lembraram, ainda, que a indicação de Navarro Dantas para o STJ contou com a “simpatia” de dois influentes ministros da Corte – Francisco Falcão, que é pernambucano, e Humberto Martins, de quem Renan Calheiros é conterrâneo e amigo.
Ministro Bruno Dantas do Tribunal de Contas da União:
outro apadrinhado de Renan Calheiros e que deverá votar a favor da aprovação
das contas do governo Dilma Rousseff

Em reportagem sobre as negociações para que a presidente Dilma Rousseff cumpra integralmente seu mandato e líderes da base aliada não sejam condenados judicialmente por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobrás, o jornal Valor reproduziu as declarações de um político próximo a ela, afirmando que o “acordão” estaria sendo negociado com muita cautela, para que não haja a impressão de que o forno estaria sendo preparado para assar uma “grande pizza”. Segundo a reportagem, no TCU os votos já estariam migrando para a aceitação das contas de 2014 da presidente, depois que os ministros foram convencidos de que o Senado não acataria a rejeição. Um dos ministros que mais defendem a aprovação das contas é Bruno Dantas. Ex-consultor legislativo do Senado, ele assumiu o cargo há um ano, por indicação de Renan Calheiros. Na época, os jornais noticiaram que o presidente do Senado usou a aprovação de seu apadrinhado como moeda de troca para retardar a instalação da CPI para investigar a Petrobrás.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas e Informações – Quarta-feira, 19 de agosto de 2015 – Pg. A3 – Internet: clique aqui.

Corrupção como forma de poder

José Arthur Giannotti*

Os escândalos pipocam, as pessoas se manifestam e
os partidos só lidam com os fogos de artifício 
José Arthur Giannotti - professor emérito da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

Nos últimos tempos a Operação Lava Jato tem marcado o ritmo da política brasileira. Quantas vezes partidos e atores se movem tendo em vista as fases do processo? Gostaria de levantar a hipótese de que ela mesma se tornou movimento político, embora sem participar do sistema representativo como tal.

Para distinguir o principado da república Maquiavel indica que no primeiro o poder ou é hereditário ou conquistado. A esquerda revolucionária sempre apostou na conquista do poder, que na tradição leninista é único e indivisível. A proposta de Lenin de conferir todo o poder aos sovietes implicava excluir da vida política quem não estava associado a essa organização de soldados, operários e camponeses. Essa orientação rachou a esquerda europeia do início do século 20, encontrando oposição ferrenha dos comunistas alemães, do “renegado” Karl Kautsky a Rosa Luxemburgo. Se esses pregavam a ditadura do proletariado, esta era entendida como tarefa a ser entregue à classe total para instalar uma res publica.

A esquerda brasileira sempre se aproximou da linha leninista e o PT sofreu essa influência. É sintomático não ter-se comprometido com as fórmulas da República “burguesa” que se instalou depois da queda do sistema militar. Essa linha se aprofunda conforme o PT se aproxima e se infiltra no poder. Se a ele chega de forma republicana [através de eleições], desde logo trata de conquistar os aparelhos do Estado. Primeiramente, infiltrando neles militantes e sindicalistas, depois, com a vitória de Lula em 2002, ocupando novos postos, principalmente em comissão. A ideia inicial era politizar esses aparelhos, dando-lhes novo sentido histórico. E assim a máquina do partido se infla no Estado, tendendo a se confundir com ele.

Não reside aí o germe da nova forma de corrupção que o lulopetismo instalou no País? Para que essa enorme massa de militantes pudesse ser tramada para agir politicamente, para que pudesse ajudar numa governabilidade que se fazia mediante alianças as mais variadas, foi necessário montar e financiar uma cara máquina política. Isso se evidencia muito cedo, quando do assassinato de Celso Daniel, em 2002. O prefeito de Santo André recusa-se a dar continuidade ao fluxo de arrecadação de propinas quando percebe que, antes de chegar ao seu destino, deixava rastros nos bolsos dos coletores. Removido o obstáculo, porém, o sistema se expande e se agiganta. 
Celso Daniel - foi prefeito de Santo André - assassinado em 2002:
caso obscuro na relação: PT - doações para eleições e projeto de poder
Corrupção sempre existiu, até mesmo no Paraíso. O diabo-cobra não corrompeu Eva? Mas em política importa sobretudo sua forma, na medida em que entranha formas de poder. A forma da corrupção praticada por César ou Augusto – as apropriações efetuadas para manter o pão e o circo – não se confunde com a praticada pelo papa Alexandre VI na reestruturação da burocracia vaticana. Nem a especificidade da corrupção tucana se iguala à forma da corrupção petista, mesmo se ambas bebem na mesma fonte. A primeira [corrupção tucana] se concentra na alimentação de um grupo, a segunda [corrupção petista] passa do partido para o Estado, um e outro se apresentando como momento do universal da História. E a “ditadura” do Terror ou do partido é “incorruptível”.

A corrupção do próprio aparelho do Estado serve de paradigma para corromper toda a sociedade. Não é estranhável que hoje em dia encontremos um corruptor em cada esquina. Em contrapartida, nada mais natural que a bandeira contra a corrupção seja levantada por aqueles que, na luta profissional, se particularizam e sofrem diminuição de seus poderes.

Conforme os agentes do Estado atuam na base da corrupção, cada vez mais aqueles funcionários, que percebem suas próprias práticas serem corrompidas, enfraquecidas e negadas, ganham condições e argumentos para levantar a bandeira contra ela. Tratam de salvar o sentido de suas profissões. E assim, conforme os partidos do governo perdem a auréola da probidade, outras frentes, tratando de recuperá-la, configuram nova oposição. Não é desse modo que o Ministério Público, cuja independência depende dessa aura, assim como partes da polícia e do Judiciário, que igualmente precisam destacar-se na probidade para sobreviver publicamente, todos eles se juntam para que o exercício de suas profissões ganhe autenticidade e dimensão política?

Não foi assim que o julgamento do mensalão acentuou o lado político do STF? Não que tenha perdido seu fundo jurídico, mas me parece inegável que hoje sua imagem realça um Poder associado aos outros dois da República. É o que me parece estar igualmente acontecendo com a Operação Lava Jato, que, ao tratar de operar de forma mais efetiva e cuidadosa, procura mostrar-se publicamente como estando engajada na regeneração do País.

A maneira como seus membros se comportam e se associam entre si, o timing de suas decisões e seu relacionamento com a mídia, tudo caminha nessa direção. A leitura do texto do juiz Sergio Moro justificando a prisão de José Dirceu, acusando-o de organizar novo sistema de corrupção, impressiona tanto pela segurança da argumentação policial e jurídica quanto por sua forma midiática. Do mesmo modo, os promotores e os policiais vêm a público explicar no pormenor cada elo do processo de corrupção, ligando Estado, sociedade civil e empresas. E assim promovem a consciência política da necessidade da mudança.

Aí residem a grandeza e o perigo desse processo. A Operação Lava Jato está nos obrigando a ter vergonha do estado de corrupção em que nos encontramos. Mas somente terá repercussão política se forças políticas representativas [aquelas fruto de eleições], levando em conta todos esses processos não representativos, decidirem pelas reformas de que o País necessita. E a ilusão de uma democracia direta – lado inverso do Estado total – só perturba a compreensão de como a política nacional mergulhou numa indecisão que nos engolfa. Os escândalos pipocam no ar, as pessoas se manifestam e os partidos só lidam com os fogos de artifício.

* José Arthur Giannotti professor de filosofia da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). Para inteirar-se mais sobre sua carreira intelectual e sua produção bibliográfica, clique aqui.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto – Quarta-feira, 19 de agosto de 2015 – Pg. A2 – Internet: clique aqui aqui.

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