«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

COMEÇOU O "DESEMBARQUE" DO GOVERNO DILMA!

Falta fio terra

Dora Kramer

Dilma não deve desculpas, e sim explicações
e soluções realistas para a crise 
Presidente Dilma Rousseff discursa em Catanduva (SP) ao entregar casas do
Programa "Minha Casa, Minha Vida"
Terça-feira, 25 de agosto de 2015

Na campanha pela reeleição a presidente Dilma Rousseff dizia-se “estarrecida” diante de qualquer fato ou ato para o qual não tivesse resposta. Na entrevista dada na segunda-feira [24 de agosto] aos jornais de circulação nacional, Dilma trocou o estarrecimento pelo susto para se justificar sem, no entanto, se explicar.

Disse que foi surpreendida tanto pelo tamanho da crise econômica quanto pela dimensão do esquema de corrupção na Petrobrás e, assim, considerou-se em dia com explicações devidas sobre fatos ocorridos e atos cometidos em seu governo.

Muito mais que pedidos de desculpas – penitência objetivamente inútil, pois o caso não é de absolvição de pecados, mas de correção efetiva – a presidente continua devendo ao País esclarecimentos consistentes para a origem, e soluções realistas para a saída da crise.

Até agora não fez uma coisa nem outra e as respostas dadas aos jornalistas indicam que não o fará enquanto a corda, embora bamba, ainda se sustenta. À crise econômica, Dilma segue atribuindo os motivos a fatores externos e imprevisíveis, assim como reconhece que continua sem horizonte de previsibilidade.

Em bom português, isso significa que o governo não tem planejamento. Atua ao sabor dos ventos, adota o voluntarismo como critério para tomada de decisões e age quando já é tarde. Foi o que disse a chefe da Nação que preferiu adotar a pregação do otimismo à deriva quando ouvia de todos os lados alertas sobre a gravidade da situação do País, moral, política, econômica e administrativamente falando.

Os realistas, a cuja análise do cenário o Planalto foi obrigado a se render, eram, na concepção palaciana, pessimistas a serviço da tese do “quanto pior, melhor”. Mesmo quando integrantes do governo. Em 2013, o então presidente da Câmara de Políticas de Gestão ligada à Presidência, Jorge Gerdau, alertou para a impossibilidade de o País ser administrado numa estrutura assentada em 39 ministérios.

“Quando a burrice, a loucura ou a irresponsabilidade vão muito longe, de repente sai um saneamento. Provavelmente estamos no limite desse período.” Vaticínio certeiro. Desprezado, contudo. Gerdau não foi ouvido. Deixou a função na Câmara de Gestão – da qual, aliás, não se viu a produção de um alfinete – e tornou-se um adepto da candidatura presidencial de oposição em 2014.

Agora, dois anos depois, premida pelas circunstâncias, a presidente anuncia a redução do número de ministérios. Não diz, no entanto, como será feita a dita “reforma administrativa”, não explicita quais serão as pastas atingidas e, sobretudo, não explica as razões pelas quais o governo Lula criou oito ministérios ao tomar posse em 2003, acrescidas de outras cinco na gestão atual.

A motivação, sabemos: necessidade de acomodar afilhados (petistas ou não) na máquina pública, uma vez que a opção do governo foi atuar a partir do manejo orçamentário no lugar do convencimento programático.

O caminho supostamente mais fácil acabou se revelando mais “custoso”. Custou a autoridade moral do PT e levou junto a boa imagem do partido junto à sociedade. Quando o governo se dispõe a reduzir ministérios e a quantidade de gente nomeada em cargos de comissão, emerge como inevitável a dúvida: o que vai prevalecer, o conceito político ou os ditames administrativos de eficiência?

A presidente não disse. Mais uma vez infringindo a regra política da eficácia, segundo a qual a decisão só é anunciada depois de a combinação acertada. A inversão da norma – anunciar e combinar depois – pode criar mais problemas e atritos em campo onde se pretendiam construir consensos e soluções. Em resumo, falta ao governo fio terra.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Quarta-feira, 26 de agosto de 2015 – Pg. A6 – Internet: clique aqui.

Falta combinar com os russos

Marcelo de Moraes 
Esplanda dos Ministérios em Brasília (DF):
Governo está prometendo extinguir 10 dos 39 ministérios

Em Brasília, não há quem critique em público o corte de ministérios e cargos de confiança anunciado pela presidente Dilma Rousseff para tentar dar mais racionalidade à máquina federal. A medida, que agita a bandeira da austeridade, tem ótima acolhida na opinião pública. Afinal, significa redução de despesas, algo extremamente bem-vindo em período de crise econômica e depois de anos e anos de inchaço da administração.

A questão é que, se não falam publicamente, adversários da proposta já operam freneticamente para saber de que tipo de reforma o governo está falando. Ao anunciar a decisão de cortar 10 das 39 pastas existentes e mil cargos de confiança, o governo não especificou quais seriam rifadas e deixou em polvorosa os titulares de ministérios e auxiliares.

Sem essa definição, o governo viu reduzir o impacto que a reforma poderia ter. Passou também a impressão de que o Planalto tem hoje mais um plano de intenções do que uma proposta concreta.

É aí que está o nó da reforma. Faltou ao governo "combinar com os russos". Ou seja, será preciso negociar politicamente a retirada de cargos dos partidos aliados.

E, exatamente quando vive a maior crise de relacionamento com o PMDB, o corte sinaliza que o partido poderá ser o mais afetado. A legenda ocupa, hoje, a maior parte do chamado "grupo de risco" - ministros ameaçados de despejo. O partido é titular do Ministério da Pesca (uma barbada para acabar) e comanda o do Turismo, que foi desmembrado em 2003 do Esporte. Tem ainda secretarias recém-contempladas com status de ministério, como Aviação Civil e Portos.

Ora, com quatro pastas peemedebistas como alvo preferencial, é impossível imaginar que o PMDB saia feliz do redesenho. Ainda mais após o vice-presidente Michel Temer se afastar da função de principal negociador do governo com o Congresso.

Sem Temer, caberá à própria Dilma colocar o guizo no gato, além de incluir no corte pastas do PT. E correr o risco de ver sua frágil base aliada desmanchar-se de vez.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política / Análise – Quarta-feira, 26 de agosto de 2015 – Pg. A6 – Internet: clique aqui.

Rompimento à vista

Editorial

Bem a seu estilo, cauteloso e elegante, depois de encontro com Dilma Rousseff na segunda-feira, o vice-presidente Michel Temer anunciou o que já havia antecipado em conversas com correligionários: deixou a “articulação política do governo”, como se convencionou designar a missão de que fora incumbido pela presidente da República. Ou seja, de negociar com os partidos aliados o toma lá dá cá indispensável à recomposição da base de apoio ao Planalto no Congresso. Para conter a repercussão de sua decisão nos limites do movimento tático que ela significa no conjunto de seu relacionamento político com o governo, Temer foi categórico: “Não vou desembarcar do governo, até porque sou o vice-presidente”. Mas sua atitude sinaliza, sim, um primeiro passo em direção ao rompimento da aliança de seu partido com o governo do PT, a ser formalizada se e quando ocorrerem, num futuro provavelmente não muito distante, as condições políticas apropriadas.
Vice-presidente da República Michel Temer (PMDB-SP) anuncia renúncia à coordenação política do Governo Dilma

O distanciamento de Michel Temer e de seu partido do Palácio do Planalto era claramente previsível desde que o governo Dilma começou a soçobrar no oceano de suas próprias contradições e incompetência. Ou seja, logo depois da posse do segundo mandato. A vocação do PMDB pós-democratização sempre foi governista, como demonstra o retrospecto dos últimos trinta e tantos anos. E o acurado pragmatismo político de suas principais lideranças é particularmente atento às ameaças ao conforto do poder.

Do ponto de vista do apego ao poder como um fim em si mesmo não há nenhuma diferença relevante entre PMDB e PT. Pois o partido de Lula, por assim dizer, “peemedebezou-se”, converteu-se ao mais despudorado pragmatismo político quando decidiu que esse era o caminho para chegar ao poder e, principalmente, lá se manter. O que distingue as duas legendas é que os peemedebistas são geralmente mais hábeis e tolerantes, até porque não têm a cínica pretensão de serem salvadores da pátria.

Foi exatamente por seus atributos políticos que Michel Temer foi contemplado por Dilma com a terceirização – mais aparente do que real – da articulação do varejo político de seu governo. Mas era esperar demais que os petistas aceitassem essa novidade de bom grado. Principalmente porque, para o PT, aliança boa é aquela em que ele manda e os aliados obedecem. Mas também não ajudou em nada a Temer a austeridade que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem tentado impor, ainda que canhestramente, às finanças públicas. Ficou, assim, muito difícil articular o Tesouro com a compreensível ambição dos parlamentares de canalizar recursos para suas bases eleitorais. E, por sua vez, a Casa Civil do ministro Aloizio Mercadante nunca foi exatamente ágil no trabalho de encaminhar as nomeações resultantes dos acordos selados por Temer e seu braço direito, o ministro Eliseu Padilha.

Em bom português, Temer tentou remontar, sem dispor dos recursos financeiros e políticos para tal, o esquema fisiológico de apoio que Dilma, contando com tudo o que faltava ao vice, organizou formalmente, mas nunca conseguiu fazer funcionar. E isso porque os sacripantas que venderam seu apoio tiveram a esperteza de nunca entregá-lo.

Além disso, quando cometeu o sincericídio de proclamar que “alguém” deveria assumir a responsabilidade de unir os brasileiros, Temer forneceu farta munição para os petistas encherem o ouvido de Dilma com alertas sobre as “verdadeiras intenções” do vice-presidente. A partir de então, Dilma colocou um assessor de sua confiança para “ajudar” na articulação política.

Se, por um lado, Michel Temer teve todos os motivos para se sentir desprestigiado no papel de “articulador político”, por outro passou a ser pressionado por seus correligionários, especialmente o deputado Eduardo Cunha, a afastar-se do governo e logo com ele romper. Este, porém, não é o estilo de Temer, mesmo que ele esteja, no íntimo, convencido daquilo que a esmagadora maioria dos brasileiros já se deu conta: esse governo não tem salvação.

De qualquer maneira, Michel Temer entrou como um cavalheiro nesse lance de articulação política, num gesto de boa vontade e, quem sabe, de sincera homenagem à chefe do governo. A presidente Dilma Rousseff não espere atitude lhana [amabilidade] como esta da tigrada que a cerca.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas e Informações – Quarta-feira, 26 de agosto de 2015 – Pg. A3 – Internet: clique aqui.

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