«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 29 de agosto de 2015

22° Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

Evangelho: Marcos 7,1-8.14-15.21-23


Naquele tempo:
1 Os fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus.
2 Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado.
3 Com efeito, os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos.
4 Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes
que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre.
5 Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus: “Por que os teus discípulos
não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?”.
6 Jesus respondeu: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito:
'Este povo me honra com os lábios,mas seu coração está longe de mim.
7 De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos'.
8 Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”.
14 Em seguida, Jesus chamou a multidão para perto de si e disse: “Escutai todos e compreendei:
15 o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior.
21 Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios,
22 adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo.
23 Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem”. 

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

NÃO NOS APEGARMOS ÀS TRADIÇÕES HUMANAS

Não sabemos quando nem onde ocorreu o enfrentamento. Ao evangelista somente interessa evocar a atmosfera na qual Jesus se move, rodeado de mestres da Lei, observantes escrupulosos das tradições, que resistem cegamente à novidade que o Profeta do amor quer introduzir em suas vidas.

Os fariseus observam indignados que seus discípulos comem com mãos impuras. Não podem tolerar isso: “Por que teus discípulos não seguem as tradições dos antigos?”. Ainda que estejam falando dos discípulos, o ataque é dirigido a Jesus. Eles tem razão. É Jesus que está rompendo essa obediência cega às tradições ao criar ao seu redor um “espaço de liberdade” onde o decisivo é o amor.

Aquele grupo de mestres religiosos não entendeu nada do Reino de Deus que Jesus lhes está anunciando. Em seu coração não reina Deus. Continua reinando a lei, as normas, os usos e costumes marcados pelas tradições. Para eles, o mais importante é observar o estabelecido pelos “antigos”. Não pensam no bem das pessoas. Não lhes preocupa “buscar o Reino de Deus e sua justiça”.

O erro é grave. Por isso, Jesus lhes responde com palavras duras: “Vós deixais de lado o mandamento de Deus para apegar-vos à tradição dos homens”.

Os doutores falam com veneração da “tradição dos antigos” e lhe atribuem autoridade divina. Porém Jesus a qualifica de “tradição humana”. Não se deve confundir jamais a vontade de Deus com o que é fruto dos homens.

Seria também hoje um grave erro que a Igreja ficasse prisioneira de tradições humanas de nossos antepassados, quando tudo está nos chamando a uma conversão profunda a Jesus Cristo, nosso único Mestre e Senhor. O que nos deve preocupar não é conservar intacto o passado, mas tornar possível o nascimento de uma Igreja e de comunidades cristãs capazes de reproduzir com fidelidade o Evangelho e de atualizar o projeto do Reino de Deus na sociedade contemporânea.

Nossa responsabilidade primeira não é repetir o passado, mas tornar possível em nossos dias a acolhida de Jesus Cristo, sem ocultá-lo nem obscurecê-lo com tradições humanas, por mais veneráveis que nos possam parecer.

Não podemos dizer em voz alta que desejamos uma sociedade diferente e melhor, se não estamos dispostos a mudar e a ser melhores. O que você pode fazer por uma sociedade melhor? Primeiramente, ser você mesmo, você mesma melhor, mais justo, mais solidário, mais honesto, mais responsável.

RELIGIÃO VAZIA DE DEUS

Os cristãos da primeira e segunda geração recordavam Jesus, não como um homem religioso, mas como um profeta que denunciava com liberdade os perigos e armadilhas de toda religião. A sua preocupação não era a observância piedosa acima de tudo, mas a busca apaixonada da vontade de Deus.

Marcos, o evangelho mais antigo e direto, apresenta Jesus em conflito com os setores mais piedosos da sociedade judia. Entre suas críticas mais radicais há de se destacar duas: [1ª] o escândalo da religião vazia de Deus, e [2ª] o pecado de substituir sua vontade, que somente pede amor, por “tradições humanas” a serviço de outros interesses.

Jesus cita o profeta Isaías: "Este povo me honra com os lábios, porém seu coração está distante de mim. O culto que me prestam está vazio porque as doutrinas que ensinam são preceitos humanos”.

Este é o grande pecado. Uma vez que estabelecemos nossas normas e tradições, as colocamos no lugar que somente deve ocupar Deus. Respeitamo-las acima, inclusive, de sua vontade. Não se deve passar por cima da menor prescrição, mesmo que vá contra o amor e machuque as pessoas.

Neste tipo de religião, o que importa não é Deus, mas outro tipo de interesse. Honra-se Deus com os lábios, porém o coração está distante dele, pronuncia-se um credo obrigatório, mas se crê no que convém, cumprem-se ritos, mas não há obediência a Deus, mas aos homens.


Aos poucos, nos esquecemos de Deus e, em seguida, esquecemos que o temos esquecido. Diminuímos o evangelho para não termos que nos converter em demasia. Orientamos caprichosamente a vontade de Deus para o que nos interessa e esquecemos sua exigência absoluta de amor. Com o tempo, perdemos Jesus; esquecemos o que significa olhar a vida com seus olhos.

Este pode ser hoje o nosso pecado. Agarramo-nos, como que por instinto, a uma religião desgastada e sem força para transformar as vidas. Seguir honrando Deus somente com os lábios. Resistimos à conversão e vivemos esquecidos do projeto de Deus: a construção de um mundo novo segundo o coração de Deus.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – Homilías J. A. Pagola – Ciclo B – Internet: clique aqui.

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