«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

"Se Dilma quer sair desta crise, vai ter que mudar a política econômica"

Entrevista com Mark Weisbrot

Marcelo Justo
MARK WEISBROT
Economista e codiretor do Center for Economic and Policy Research
(Washington - EUA)

O último informe da CEPAL sobre a América Latina é pessimista (0,5% de crescimento), e lapidário ao se referir ao Brasil (uma contração de 1,5%). O ajuste impulsado pela nova equipe econômica de Dilma Rousseff, desde a sua vitória eleitoral, no final do ano passado piorou uma situação complicada a nível internacional, pela queda do preço das commodities [produtos agrícolas, pecuários e minerais], a desaceleração da China e o fraco desempenho da economia mundial, que continua sem poder escapar da sombra projetada pela crise financeira de 2008.

Uma investigação do Center for Economic and Policy Research (CEPR) de Washington mostra que este panorama externo negativo foi menos prejudicial que a política aplicada pelo governo de Dilma Rousseff. O resultado das medidas adotadas é uma economia brasileira que, durante o primeiro período de governo de Rousseff, entre 2011 e 2014 cresceu 2,1% em média, comparando com o 4,4% entre 2004 e 2010, apesar de o período, durante a gestão de Lula da Silva, ter sido marcado pela recessão mundial de 2008-2009, com a qual o governo teve que lidar. Carta Maior dialogou com Mark Weisbrot, codiretor do CEPR, sobre as perspectivas da economia brasileira e o perigo de um aumento das taxas de juros nos Estados Unidos.

Carta Maior – A equipe econômica brasileira, encabeçada por Joaquim Levy, um ministro da Fazenda neoliberal, diz que é possível fazer um ajuste compatível com o crescimento econômico. Não é o que mostram os dados duros. A previsão é de que este ano o Brasil sofrerá uma contração de 1,5%. A investigação do CEPR analisa profundamente as políticas contrativas postas em prática em seu primeiro mandato, e seu impacto negativo. Visto que, neste segundo período governamental, Rousseff aprofundou ainda mais essa política ortodoxa, o panorama não é muito animador para o Brasil, se não muda de rumo.

Mark Weisbrot – Efetivamente, as coisas pioraram no Brasil. Em 2010, a economia estava em desaceleração e, em resposta, o Banco Central iniciou um ciclo de aumentos das taxas de juro. Hoje, a taxa de juros se encontra acima dos 14%, um dos índices mais altos do mundo, e houve uma contração da demanda agregada [1], além de uma forte queda do investimento privado.

Esse processo de contração da demanda agregada já se percebia em 2011. Naquele ano, os investimentos públicos caíram 17,9% em termos reais, ajustados à inflação, e o das companhias estatais caiu em 7,8%. Mas há uma diferença com respeito ao que sucede hoje. Na primeira presidência de Dilma, havia uma tensão entre uma agenda econômica mais desenvolvimentista e outra mais neoliberal. Hoje, o rumo está muito mais definido a respeito do ajuste. Se Dilma Rousseff quer sair desta crise, vai ter que mudar de política.

CM – Se no primeiro governo havia uma tensão não resolvida entre dois modelos, por que Rousseff se decidiu pela variante neoliberal, que havia rejeitado claramente na campanha eleitoral, já que, como diz o seu estudo, não havia uma crise na balança de pagamentos [2], nem dados concretos que respaldassem uma possível eficácia da estratégia que finalmente foi a adotada?

Weisbrot – Isso deveria ser perguntado a ela. A realidade é que não era necessário seguir esse rumo. As reservas são bastante altas. O serviço da dívida é de 6% do PIB, um nível elevado, mas também autoinfligido: poderiam mudá-lo variando as taxas de juro. Se olharmos a evolução da dívida externa total, pública e privada, com relação às exportações, ela passou de 4,7% em 1999 a 1,27% em 2010 e 1,54% em 2014. E a dívida nominal em dólares caiu de 75% no começo do Governo Lula a 35% em 2010 e 40% em 2014. Até mesmo se tomamos em conta que houve uma ligeira piora de ambos os indicadores em 2014, a realidade é que se encontra em níveis muito mais administráveis que antes dos governos do PT. Nosso estudo mostra também que a queda da produção industrial não se explica por um processo de desindustrialização vinculado aos problemas das taxas de câmbio, como sustentam alguns, já que a produção industrial cresceu em 2007-2008, e também em 2010, com um tipo de câmbio apreciado. A verdadeira razão foi essa queda do investimento total, privado e público, a qual me referia antes. Como disse, não sei por que Rousseff preferiu essa política, apesar desses dados, mas conheço a teoria que há por trás dessa decisão, que é a de criar confiança nos investidores através de uma elevação das taxas de juros capaz de conter a inflação e lhes dar um maior espaço para liberar o gasto fiscal. Tudo isso, insisto, apesar de que o Brasil não estava numa situação como a de 2003, quando havia restrição externa, que forçou uma política mais cautelosa. Uma vez que se aplicou a teoria do ajuste, sabemos onde isso vai dar: nunca ou quase nunca funciona. É o que vemos no Brasil, e também na Europa.

CM – Em julho, o governo anunciou uma redução da meta de superávit fiscal primário [3], de 1,1% a 0,15% do PIB. Dias antes desse anúncio, o ministro da Fazenda Joaquim Levy afirmou, em entrevista para a Folha de São Paulo, que não deveria haver uma redução nas metas. Em outras palavras, a política sendo determinante para anunciar essa medida, apesar da oposição do ministro. Você acredita numa mudança na relação forças internas?

Weisbrot – Pelo menos é um reconhecimento de que as coisas no estão marchando como se esperava. É um avanço, porque até agora havia uma negação do que estava acontecendo. É possível que seja o começo de uma mudança, mas ainda é cedo para afirmar isso. Acredito que uma mudança na política econômica é crucial para a sobrevivência política de Dilma Rousseff. Se não alterar o rumo, vai haver mais desemprego e se aprofundará a recessão. Além disso, o ajuste tem consequências menos imediatas, mas maiores a longo prazo. O Brasil necessita de muitos investimentos em infraestrutura, e esta política está afetando a capacidade de conseguir esses investimentos.

CM – A situação se complicou mais porque o dólar este ano poderia chegar a 3,48 reais. Nesse cenário, um aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, que alguns dizem que poderia acontecer em setembro, poderia provocar uma fuga de capitais que aumentaria mais a pressão sobre o atual modelo brasileiro.

Weisbrot – É muito difícil dizer o que acontecerá com as taxas de juros nos Estados Unidos. Não vejo que exista uma justificativa para elevar as taxas, porque não há inflação, e não porque a atividade econômica esteja entusiasmando. Ainda assim, é difícil prever se o impacto que geraria um aumento das taxas seria uma fuga de capitais do Brasil para os Estados Unidos. Depende de quando sucede, se é um aumento muito grande ou não. Por exemplo, se sobe 0,25% no próximo ano é uma coisa. Pelo contrário, se os investidores enxergam nisso uma política mais profunda de elevação das taxas, o impacto pode ser maior. O risco existe. A meu ver, no caso de se concretizar essa previsão (da relação entre o dólar e o real), o aumento das taxas de juros será mais gradual.

N O T A S

[ 1 ] Demanda agregada (DA) significa a totalidade de bens e serviços (demanda total) que numa determinada economia os consumidores, as empresas e o Estado, estão dispostos a comprar, a um determinado nível de preço e em determinado momento. Na economia de um país, a demanda agregada representa o gasto total com a compra de bens e serviços que serão adquiridos, para cada nível de preço. Está relacionada com o total da produção, PIB (Produto Interno Bruto) de um país quando os seus níveis de estoque são estáveis (Fonte: clique aqui).

[ 2 ] Balança de pagamentos é um instrumento da contabilidade nacional referente à descrição das relações comerciais de um país com o resto do mundo. Registra o total de dinheiro que entra e sai de um país, na forma de importações e exportações de produtos, serviços, capital financeiro, bem como transferências comerciais (Fonte: Wikipédia).

[ 3 ] Superávit fiscal primário: para entender o significado dessa expressão é útil, antes de mais nada, lembrar que superávit quer dizer resultado positivo. Surge quando, ao final de um período, se verifica que os gastos foram menores do que a receita. Caso contrário registra-se déficit. Isso no orçamento familiar, em empresas e no governo. O superávit primário se refere às contas do governo. Toda vez que ele acontece significa que a arrecadação do governo foi superior a seus gastos. Mas há um detalhe: no cálculo não são levados em consideração os juros e a correção monetária da dívida pública, deixados de lado porque não fazem parte da natureza operacional do governo - são consequências financeiras de ações anteriores. O resultado primário, seja ele superávit ou déficit, é um indicador de como o governo está administrando suas contas (Fonte: clique aqui).

Traduzido do inglês por Victor Farinelli.

Fonte: Carta Maior – Economia – 11/08/2015 – Internet: clique aqui.

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