«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Grão-rabino francês denuncia um ''cavalo de Troia contra a heterossexualidade'' [Isto é muito sério!]

Stéphanie Le Bars
Le Monde
27-10-2012
GILLES BERNHEIM - grão-rabino da França
A acusação é metódica, os argumentos são tirados da Bíblia, do direito, da antropologia. Em um texto publicado no dia 18 de outubro, o grão-rabino da França, Gilles Bernheim, se esforça para desmontar os argumentos dos promotores do "casamento para todos". Convencidos de que esse projeto constitui um "requestionamento de um dos fundamentos da nossa sociedade", ele critica duramente o "modo de pensar dominante". Para o religioso, isso levaria a uma "confusão das genealogias, do estatuto da criança e das identidades sexuais".

O grão-rabino acredita que "o casamento não é unicamente o reconhecimento de um amor" – amor do qual ele não nega a sinceridade nos casais homossexuais –, mas, ao invés, é "a instituição que une a aliança do homem e da mulher com a sucessão das gerações"

Por isso, ele considera que "não se pode conceder o direito ao matrimônio para todos aqueles que se amam", citando o exemplo de uma mulher que ama dois homens ou de um homem que ama uma mulher casada. O rabino não coloca em discussão a segurança jurídica a que aspiram os casais homossexuais, mas propõem encontrar "soluções técnicas".

Como a maior parte dos opositores ao projeto, ele se insurge contra uma possível homoparentalidade. "Todo o afeto do mundo não é suficiente para produzir as estruturas psíquicas básicas que respondem à necessidade da criança de saber de onde vem". "Há milhares de anos, o sistema sobre o qual se fundou a nossa sociedade é uma genealogia de dupla descendência, a do pai e a da mãe".

Ele duvida que "a criança chegue naturalmente e de forma estruturante a se situar em relação às novas terminologias" induzidas por essas mudanças, "Pai/mãe adquirido, cogenitor, homogenitor, mãe de aluguel, pai/mãe biológico, pai/mãe legal, pai/mãe social, segundo pai/mãe".

Quanto à adoção, ele acredita que a esterilidade de um casal "não dá direito ao filho". E denuncia "as chocantes combinações", como define as diversas modalidades de procriação para um casal homossexual. A seu ver, a procriação medicamente assistida e a gestação de aluguel devem ser tratadas somente no quadro das leis sobre a bioética.

Mas o ataque mais original refere-se à promoção da "teoria do gênero", à qual visam os defensores do casamento homossexual: os adeptos da "teoria queer" "pedem que se erradique a diferença sexual entre homens e mulheres" e atacam "o atual modelo familiar, visto como um condicionamento social"

O casamento homossexual visaria, portanto, à "sua destruição pura e simples", e a "tolerância" necessária para todas as orientações sexuais seria apenas um "cavalo de Troia na sua batalha contra a heterossexualidade".

Tradução do francês por Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quarta-feira, 31 de outubro de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/515075-grao-rabino-frances-denuncia-um-cavalo-de-troia-contra-a-heterossexualidade
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''Os homossexuais querem entrar 
na norma subvertendo-a''

Entrevista com Xavier Lacroix *


Stéphanie Le Bars
Le Monde
27-10-2012


Confunde-se a igualdade dos direitos com o direito à igualdade. É um pouco cínico querer reformar a lei para justificar o próprio comportamento. Não se pode mudar a definição de filiação e de família para todos, para responder à demanda de alguns milhares de casais homossexuais minoritários, que têm comportamentos certamente respeitáveis, mas que apresentam problemas. Desse modo, os homossexuais querem entrar na norma subvertendo-a.


XAVIER LACROIX - filósofo e teólogo católico francês
Eis a entrevista.

Por que a Igreja só pode ser contrária ao casamento entre pessoas do mesmo sexo?

Xavier Lacroix: Você vai perceber que a Igreja não baseia a sua posição na crença, mas sim em uma posição ética, porque o que está em jogo são bens fundamentais. A Igreja apresenta dois tipos de objeções: uma ligada à diferença sexual, a outra ao lugar da criança na homogenitorialidade. 
E também observa a indeterminação sobre o sentido da palavra matrimônio. Hoje, nove entre dez pessoas pensam que o matrimônio é uma celebração social do amor. Por que, então, não celebrá-lo entre duas pessoas do mesmo sexo que se amam?

Mas, antropologicamente, tradicionalmente, juridicamente, universalmente, o casamento não é só isso. É a união entre um homem e uma mulher, em vista da procriação. Se subtrairmos a diferença de sexo e a procriação, não resta nada, exceto o amor, que pode acabar. O casamento também é uma instituição e não apenas um contrato. A instituição do casamento é definida por um corpus de direitos e de deveres dos esposos entre si e com relação aos seus filhos. A sociedade nele intervém como terceira parte, levando-se em conta o fato de que precisa dele para o interesse geral. A sociedade "precisa" do amor homossexual, de casais homossexuais solidários? Talvez, mas eu duvido.

A realidade é feita de casais heterossexuais não casados com filhos, de casais casados sem filhos, de casais homossexuais, com ou sem filhos... A Igreja Católica não encontra dificuldades justamente em aceitar as evoluções sociais?

Xavier Lacroix: Não é pelo fato de que casais casados sejam inférteis ou que optem por não ter filhos que muda o sentido da instituição, que prepara, no entanto, um lugar para o filho. Além disso, as mudanças sociológicas atuais me parecem superficiais com relação a uma realidade antropológica que perdura. Se o casamento se limitasse a uma celebração do amor, não haveria mais fundamento para a filiação, para a genitorialidade. Mas quem diz matrimônio diz filiação. Hoje, genitorialidade e conjugalidade estão dissociadas de fato, mas a instituição continua a articulá-las. A presunção de paternidade é o coração do casamento civil. Articula conjugalidade e genitorialidade, e liga filiação ao nascimento.

O direito, e os nossos contemporâneos, continuam pensando que é uma coisa boa a ser o filho ou a filha daqueles de quem nasceram, já que a dissociação entre filiação e nascimento é causa de sofrimento. Os defensores da homogenitorialidade dizem que a diferença sexual não tem importância, que não é importante se uma criança nasceu desta ou daquela pessoa, ocultam o nascimento. Afirmar isso equivale a dizer que o corpo não conta. É grave, porque equivale a pensar que tudo deriva da vontade e da cultura. Mas o corpo também é importante, e o papel de toda civilização é manter unidas natureza e cultura. Se é homem ou mulher, se pode gerar ou não. Há limites nisso. A oposição da Igreja é, portanto, como que uma resistência à vontade de onipotência.

Seguindo esta linha, a adoção por parte de casais heterossexuais ou de solteiros também deveria ser evitada?

Xavier Lacroix: A adoção é sempre um sofrimento. Mas, no caso de casais heterossexuais, esse sofrimento é recuperado pelo fato de que o casal adotante é análogo aos pais biológicos. O projeto atual nega essa analogia. No que se refere à adoção por parte do solteiro, ela tem uma vantagem sobre a adoção por parte dos casais homossexuais: expressa a carência. Certificando que não há o pai ou a mãe, a lei diz a verdade. A lei futura diria que a criança tem dois pais ou duas mães, afirmaria, portanto, uma ficção e anularia o sofrimento. Ou será preciso que se diga à criança que ela tem três genitores...

O Estado não deve levar em consideração as novas realidades?

Xavier Lacroix: Há uma diferença entre enfrentar situações, acompanhar realidades de famílias muito complexas e definir, a priori, o que doravante será uma família. O papel da sociedade não é o de encorajar a precariedade. No entanto, os filhos criados por casais homossexuais já estão protegidos, e esses casais entram em um quadro jurídico. A companheira ou o companheiro do genitor pode obter uma delegação da autoridade genitorial.

No entanto, não gozam de uma igualdade de direitos...

Xavier Lacroix: O direito é interior, mas é normal, porque o segundo membro do casal não é o pai ou a mãe. A desigualdade não é criada pela lei: deriva da situação em que dois adultos geraram uma criança. Não cabe à sociedade anular essa desigualdade. Confunde-se a igualdade dos direitos com o direito à igualdade. É um pouco cínico querer reformar a lei para justificar o próprio comportamento. Não se pode mudar a definição de filiação e de família para todos, para responder à demanda de alguns milhares de casais homossexuais minoritários, que têm comportamentos certamente respeitáveis, mas que apresentam problemas. Desse modo, os homossexuais querem entrar na norma subvertendo-a.

O senhor rejeita, então a ideia de que o projeto de lei seja apresentado em nome da igualdade?

Xavier Lacroix: Absolutamente. O slogan "casamento para todos" pressuporia que o casamento é um bem de consumo ao qual todos deveriam ter acesso. Rejeitar isso não significa ser discriminatórios contra casais homossexuais. A discriminação consiste em não conceder os mesmos direitos em condições semelhantes. Mas, diante da procriação, os casais homossexuais não estão na mesma posição dos casais heterossexuais. Estruturalmente, eles não podem procriar. Ao contrário, penso que haverá discriminação contra as crianças, se a lei definir, a priori, que milhares de crianças serão privadas dos bens elementares que são um pai e uma mãe.

O senhor compreendeu as afirmações de Dom Barbarin, em que parecia haver relação entre casamento homossexual, poligamia e incesto?

Xavier Lacroix: Eu não pronunciaria a palavra incesto, mas vejo efetivamente na criação do casamento para todos o início de uma "desregulamentação" e de uma negação dos limites.

Hoje, a Igreja se esforça para esclarecer a sua posição sobre a homossexualidade. Convidar a acolher as pessoas reprovando os seus atos é sustentável?

Xavier Lacroix: Temos uma herança bíblica, que objetivamente abomina a homossexualidade. Mas Jesus nunca fala a respeito, e o amor para a Igreja é o valor supremo. Portanto, mesmo o amor entre dois homens e duas mulheres não é um problema para a Igreja. É o erotismo que é mais turvo. Não é homofóbico dizer que, nas relações homossexuais, há um limite específico. Por essa razão, a Igreja convida os homossexuais à continência. E, depois, é preciso distinguir entre a palavra magisterial e a palavra no campo, mais matizada.

A Igreja fez bem em lançar o debate?

Xavier Lacroix: A Igreja desempenha um papel de suplência, lembrando que as palavras têm um sentido. Hoje, diversos termos se diluem: matrimônio é substituído por conjugalidade, os termos maternidade e paternidade por genitorialidade. Se no código civil "pai" e "mãe" se tornarem "genitor", quem será o genitor um e quem será o genitor dois? A Igreja fala porque outros não o fazem. Há talvez uma forma de intimidação por parte de certas associações? É uma pergunta que eu me faço.

* Xavier Lacroix é teólogo e filósofo, católico, membro do Comité Consultatif National d'Éthique (Comitê Consultivo Nacional de Ética) da França.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quinta-feira, 1º de novembro de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/515098-os-homossexuais-querem-entrar-na-norma-subvertendo-a

O que aconteceu com o Sínodo? [Importante!]

Christian Albini *
Blog: Sperare per Tutti
29-10-2012

Das 13 assembleias sinodais, essa é a quinta que se realizou no pontificado de Bento XVI, a partir do seu início em 1967. O Papa Ratzinger intensificou os encontros sinodais, um sinal de que ele vai rumo a uma ampliação da colegialidade
CHRISTIAN ALBINI - autor deste artigo

Encerrou-se no dia 28 [de outubro] o XIII Sínodo dos Bispos sobre "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã", que durou três semanas. Mas o que aconteceu nesse encontro que reuniu 262 bispos de todo o mundo, juntamente com 45 especialistas e 50 auditores e auditoras? Foi uma representação significativa do catolicismo, que não deve ser subestimado.

Das 13 assembleias sinodais, essa é a quinta que se realizou no pontificado de Bento XVI, a partir do seu início em 1967. O Papa Ratzinger intensificou os encontros sinodais, um sinal de que ele vai rumo a uma ampliação da colegialidade. Embora, como destacou um artigo de Alberto Melloni, a livre discussão em sala foi muito restrita, e o encontro teve somente um valor consultivo. É um pouco um emblema de algumas contradições da Igreja de hoje. Em todo caso, o fato de que esses encontros já ocorram regularmente é, contudo, uma riqueza que favorece o intercâmbio e o encontro dentro do vasto corpo da Igreja Católica.

Os padres sinodais redigiram uma Mensagem ao Povo de Deus, da qual eu lembro alguns aspectos fundamentais.


(O texto completo pode ser lido clicando aqui, em italiano [não há, ainda, em português ou espanhol]http://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20121026_message-synod_it.html).

A mensagem usa como imagem da experiência de fé o encontro de Jesus com a samaritana no poço (João 4, 5-42). A evangelização não é propaganda ideológica, mas sim uma experiência de relação que vai tocar os desejos mais profundos e autênticos do ser humano. Nova evangelização não é recomeçar tudo do início, mas sim um empenho, que recorre em todos os tempos, para que os fiéis evangelizem acima de tudo a si mesmos e façam dos espaços eclesiais poços nos quais todos possam se saciar livremente.

É indispensável aproximarmo-nos, a seguir, do alimento que vem da Palavra de Deus e ficar no nosso tempo e em nossa cultura sem contraposições e sem pessimismo. Isso significa que a Igreja "cultiva com particular cuidado o diálogo com as culturas, na confiança de poder encontrar em cada uma delas as 'sementes do Verbo', das quais já falavam os antigos Padres".

São fundamentais o estilo, a atitude dos cristãos, como evidencia esta importante passagem:

"Alguém perguntará como fazer tudo isso. Não se trata de inventar sabe-se lá quais novas estratégias, quase como se o Evangelho fosse um produto a ser colocado no mercado das religiões, mas sim de redescobrir os modos pelos quais, na história de Jesus, as pessoas se aproximaram dele e por ele foram chamadas , para introduzir essas mesmas modalidades nas condições do nosso tempo.

"Recordemos, por exemplo, como Pedro, André, Tiago e João foram interpelados por Jesus no contexto do seu trabalho, como Zaqueu pôde passar de simples curiosidade ao calor da partilha da mesa com o Mestre, como o centurião romano pediu a sua intervenção por ocasião da doença de um ente querido, como o cego de nascença o invocou como libertador da sua marginalização, como Marta e Maria viram premiada pela sua presença a hospitalidade da casa e do coração. Poderíamos continuar ainda, traçando as páginas dos Evangelhos e encontrando sabe-se lá quantos modos com os quais a vida das pessoas se abriu nas mais diversas condições à presença de Cristo".


Nessa perspectiva, capta-se o eco do que propõe Enzo Bianchi, que, de fato, estava presente no Sínodo como especialista no seu Nuovi stili di evangelizzazione. Assim o prior de Bose sintetizou o andamento dos trabalhos:


"A Igreja realmente mudou nesses últimos 50 anos: não mais hostilidade contra os 'infiéis', mas sim diálogo, responsabilidade comum pelo bem da sociedade, busca da paz entre as religiões, liberdade de consciência, afirmação da necessária 'razão humana' em toda doutrina religiosa.


A Igreja não quer promover um proselitismo que imponha o evangelho ou seduza os homens, mas quer que a boa notícia possa ser ouvida por todos, porque todo o ser humano tem direito a isso. Por isso, ela se empenha a evangelizar acima de tudo a si mesma e, portanto, a oferecer uma vida que tenha sentido, uma mensagem que afirme que o amor vivido pode vencer a morte. Mas a Igreja na sua obra evangelizadora está ciente de que o mundo não é um deserto, um vazio sem bem e sem valores, mas sim um mundo à espera de respostas adequadas, um mundo habitado e moldado a cada dia pelo ser humano que é sempre um filho de Deus, uma criatura feita à imagem e semelhança de Deus, capaz, portanto, do bem, mesmo se às vezes o mal a fira e a torne desumana. Para anunciar o Evangelho, os cristãos devem então ouvir o mundo, conhecê-lo, ler as suas alegrias e os sofrimentos e, acima de tudo, discernir nele os 'pobres', os últimos, as vítimas do poder e daqueles que dispõem da riqueza e não se importam com os outros. Se Jesus declarou que veio para trazer a boa notícia do Evangelho aos pobres, a Igreja não pode fazer o contrário, porque, no seguimento do seu Senhor, é chamada a ser, principalmente, Igreja pobre e de pobres.

Se alguém esperava do Sínodo palavras de esperança e de bondade para as histórias cotidianas de amor que hoje parecem cansativas, contraditas e nem sempre adequadas ao ideal de fidelidade e de união proposto pelo Evangelho, essas palavras foram ditas e ouvidas: reiterou-se diversas vezes que o amor do Senhor permanece fiel, mesmo quando há situações de infidelidade, porque a Igreja é a casa de todos os batizados, também daqueles que vivem situações de contradição com o Evangelho". 


(Leia o texto na íntegra do artigo de Enzo Bianchi sobre o Sínodo [em italiano], clicando aqui:

Os padres sinodais sintetizaram os trabalhos em 58 propostas enviadas ao papa, cujo texto está disponível de forma oficiosa somente em inglês (de fato, o "novo latim" da Igreja Católica).
Clique aqui para ter acesso ao texto em inglês:

As propostas:
  • atribuem uma importância fundamental à inculturação do Evangelho, que deve se encarnar na cultura de todo povo (n. 5). 
  • No anúncio do Evangelho, deve ser sublinhada a necessidade de escuta constante da Palavra de Deus através da lectio divina (n. 11) e 
  • a vitalidade dos ensinamentos do Vaticano II (n. 12). 
  • A missão cristã é indissociável da promoção dos direitos humanos (n. 15), 
  • da liberdade religiosa (n. 16), 
  • do desenvolvimento (n. 19), 
  • da acolhida dos migrantes (n. 21).
  • São só alguns elementos. Na base, há o fato de que a fé pode ser transmitida não como uma ideia a ser difundida, mas só modelando a própria vida sobre o Evangelho que deve ser "lido" nas pessoas e nas suas relações (n. 57). 
Isso significa, como disse Bento XVI no Angelus do dia 28, a necessidade de um "compromisso com a renovação espiritual da própria Igreja".

Tradução do italiano por Moisés Sbardelotto.

* Christian Albini cientista político e leigo católico italiano.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quarta-feira, 31 de outubro de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/515072-o-que-aconteceu-com-o-sinodo
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Sínodo sobre a nova evangelização, luzes e sombras

Entrevista com Adolfo Nicolás

Revista Popoli
29-10-2012

O padre geral dos jesuítas participou do Sínodo dos Bispos sobre "A Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã", que terminou no dia 28 de outubro. Publicamos a entrevista que o padre Adolfo Nicolás concedeu, às margens do evento, à Sala de Imprensa da Cúria Generalícia da Companhia de Jesus.

PE. ADOLFO NICOLÁS - Superior Geral dos Jesuítas
Uma análise geral do Sínodo.

Devo confessar que eu tinha alguns temores sobre o Sínodo antes do seu início. Eu me perguntava: moveremo-nos na direção de falar sempre das mesmas coisas ou seremos capazes de seguir em frente com coragem e criatividade?

A realidade do Sínodo foi nas duas direções. Posso indicar: 1) alguns aspectos positivos, inspiradores e encorajadores, e 2) algumas insuficiências que indicam campos em que a Igreja, ou ao menos a consciência dos bispos e dos outros padres sinodais, incluindo eu, ainda tem caminho a percorrer.

Podemos dividir os aspectos positivos em três categorias:

a) Contribuições geográficas. Esse aspecto refere-se à apresentação que nos deu o justo sentido da situação, dos argumentos e, muitas vezes, dos sofrimentos de alguns países, em particular o Oriente Médio, a África ou a Ásia. Um dos melhores aspectos do Sínodo é o próprio fato de que os bispos de tantas nações têm a possibilidade de se comunicar e de trocar livremente as experiências e o pensamento.

b) Iniciativas originais em andamento, especialmente as baseadas nos projetos de cooperação, de trabalho em rede e de intercâmbio em nível internacional, nos quais os leigos e os movimentos estão envolvidos a fundo e comprometidos. E isso não apenas através das intervenções nas sessões plenárias, mas sobretudo nas trocas informais e nos comentários sobre as próprias iniciativas fora das sessões.

c) Reflexões sobre os fundamentos, o significado e as dimensões da Nova Evangelização. Aqui podemos constatar uma grande convergência em alguns pontos, incluindo:

  • A importância e a necessidade da experiência religiosa (o encontro com Cristo);
  • A urgência de uma boa formação espiritual e intelectual dos novos missionários;
  • O papel central da família (Igreja doméstica) como lugar privilegiado para o crescimento na fé;
  • A importância da paróquia e das suas estruturas que precisam ser renovadas para se tornarem cada vez mais abertas a um compromisso e ministério dos leigos mais amplo;
  • A prioridade à evangelização, em vez da expressão sacramental, como afirma São Paulo de si mesmo: "Enviado a evangelizar e não a batizar". E assim por diante.

Entre as "insuficiências" podemos indicar o seguinte:

a) A voz do "Povo de Deus" não tem espaço para ser escutada. É um Sínodo de bispos e, portanto, não há muito espaço para a participação dos leigos, mesmo que tenha sido convidado um certo número de "especialistas" e de "observadores" (auditores). Isso me fez pensar na afirmação de Steve Jobs que dizia estar interessado em ouvir mais a voz dos clientes, em vez da dos produtores. E no Sínodo todos éramos "produtores".

b) E assim foi difícil não pensar que essa era uma reunião de "homens da Igreja, que reafirmavam a Igreja", o que é bom em si mesmo, mas que não reflete o que precisamos em tempos de Nova Evangelização. Há o perigo real de produzir sempre a mesma coisa.

c) Falta de reflexão sobre a Primeira Evangelização e, consequentemente, uma escassa consideração para saber se e o que aprendemos com a longa história passada e com os aspectos positivos dela, assim como com os erros que cometemos. Essa omissão poderia ter consequências muito negativas.

d) Pouca consciência e/ou conhecimento da história da evangelização e do papel que nela tiveram os religiosos e as religiosas. Em certos momentos, a vida religiosa foi ignorada ou foi lembrada apenas de passagem. Não que nós, religiosos, precisamos de afirmações adicionais, mas quero expressar a minha preocupação com o fato de que a Igreja corre o risco de perder a sua própria memória.

e) Talvez o ponto mais fraco do Sínodo foi a metodologia que foi seguida, muito semelhante ao modo pelo qual nós também levávamos adiante as nossas Congregações Gerais. Eu espero, no entanto, que a complexa realidade e as necessidades do futuro ajudem a Igreja a reorganizar os seus modos de proceder em vista de maiores frutos apostólicos.

Vocês podem entender que foi um tempo de muita reflexão, de aprendizado e de desafios. O convite a aprofundar a nossa fé, proposto pelo Santo Padre, pode nos ajudar a levar adiante uma dimensão mais profunda da Nova Evangelização. A realidade que nos circunda se tornou muito mais complexa, porque podemos abordá-la individualmente, e o desafio original da nossa missão de servir as almas e a Igreja continua e se desenvolve intensamente.

Espero que os jesuítas enfrentem os novos desafios com a profundidade que provém da nossa apropriação da espiritualidade inaciana e da análise séria do nosso tempo.

Eu rezo para que a reflexão sobre o Ano da Fé nas nossas comunidades e formas de apostolado nos ajude a renovar o nosso espírito e a nossa missão.

Na sua intervenção ao Sínodo, o senhor falou dos "sinais de santidade europeus". O que quis dizer? Não são esses, talvez, sinais cristãos universais?

Pe. Adolfo Nicolás: Naturalmente. Os sinais que descobrimos em um Santo são valores universais e expressam diversas dimensões da vida divina assim como ela se torna visível entre nós. Falamos aqui da caridade, da compaixão, do serviço aos que sofrem, que estão em necessidade, que estão solitários e aflitos. O que eu quis dizer é que nos acostumamos com esses sinais e estamos inclinados a pensar que não há outros. Se esse for o caso, não tornaremos Deus muito limitado, previsível e até mesmo reduzido à capacidade europeia de "ver" sinais familiares da sua presença e ação? Sem dúvida alguma, eu defendo que esses sinais são bons, críveis e sólidos. A minha interrogação refere-se ao que podemos ter perdido não descobrindo outros sinais, por não estarmos surpresos e em admiração pela ação criadora de Deus em "outros", em pessoas de diferentes culturas, tradições e filiação étnica. Pouco antes do Vaticano II, o padre Jean Daniélou escreveu um livro intitulado Santos Pagãos, um livro que era um desafio e uma inspiração, e talvez aqueles santos não eram tão pagãos, no fim das contas.

Pode nos indicar alguns sinais do que o senhor considera como uma santidade "asiática"?

Pe. Adolfo Nicolás: Com prazer. Como dado de fato, antecipando essa pergunta, eu consultei alguns especialistas asiáticos sobre esse tema e posso dizer que a consulta foi muito frutífera. Gostaria de dar alguns exemplos: a piedade filial, que às vezes alcança níveis heroicos, a intensa busca do Absoluto e o grande respeito por aqueles que estão envolvidos nessa busca, a compaixão como estilo de vida, enraizada na consciência da fraqueza e fragilidade humana, o desprendimento e a renúncia, a tolerância, a generosidade, a aceitação dos outros, a magnanimidade, o respeito, a cortesia, a atenção pelas necessidades dos outros etc. Resumindo, podemos dizer talvez que se os nossos olhos estivessem abertos para ver o que Deus faz no povo (nos povos) seríamos capazes de ver muito mais Santidade ao nosso redor, e muitos de nós seriam levados a viver a Vida de Deus de modos novos que talvez seriam mais adequados ao nosso modo de ser ou ao modo pelo qual Deus quer que sejamos.

Por que os missionários ou a própria Igreja não foram capazes de "ver" esses maravilhosos sinais como obra de Deus?

Pe. Adolfo Nicolás: É muito difícil interpretar por que uma coisa não ocorre. Seríamos tentados a introduzir explicações que poderiam ser precisas, mas também teorias que perdem de vista o objetivo específico. Talvez não estejamos confortáveis com um Deus das surpresas, um Deus que não segue necessariamente a lógica humana, um Deus que sempre sabe tirar o melhor do coração humano, sem fazer violência à tradição cultural, à religiosidade do povo simples. Quem pode dizê-lo? Nós, entusiasticamente, afirmamos a liberdade de Deus, mas não lhe deixamos muito espaço para influenciar nas nossas vidas... ou talvez "vimos" esses sinais com respeito e talvez até mesmo com estupor, mas não estávamos certos do seu significado ou não o aprofundamos.

O senhor, portanto, diz que há "Santidade" fora da Igreja. Mas, se há "Santidade", não devemos dizer que também há Salvação?

Pe. Adolfo Nicolás: Naturalmente. Nós sempre soubemos disso. Faz parte da Liberdade de Deus. Deus é livre para fazer o que quiser com as pessoas (homens e mulheres) em cada situação e em cada contexto. Jesus não teve dificuldades para reconhecer em um soldado pagão ou em uma mulher estrangeira a profundidade da fé que não encontrou, ao invés, entre os seus discípulos. Mas eu não tenho uma teoria da salvação e, portanto, posso poupar a próxima pergunta. A minha preocupação mais profunda é descobrir de que modo Deus está trabalhando no ser humano e como este coopera com a ação de Deus. E aqui não posso errar. Com as teorias, ao contrário, sim.

Na sua opinião, o que e de que modo devemos ressaltar a responsabilidade da Igreja para levar paz e harmonia à luz da Nova Evangelização ao nosso mundo cada vez mais violento?

Pe. Adolfo Nicolás: Estou convencido de que qualquer coisa que dizermos vem do mais profundo, do interior de nós mesmos. É o resultado da nossa fé, das nossas relações (incluindo a com Deus), dos nossos afetos e das nossas esperanças. Se o mais profundo estiver em comunhão com o Deus da paz, da justiça e da compaixão, em quem acreditamos, então viveremos, agiremos e falaremos de paz, de justiça e de compaixão. Se o mundo ao nosso redor se torna cada vez mais violento não significa que nós também devemos nos tornar, mas, ao contrário, que o nosso empenho, que vem do coração, pela paz e pelo diálogo se tornará muito mais relevante e será uma proclamação ainda melhor do Evangelho em que acreditamos. Naturalmente, isso assumirá formas diferentes quando pensamos na Igreja e nas muitas atividades e iniciativas que serão promovidas por cristãos comprometidos.

Tradução do italiano por Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quarta-feira, 31 de outubro de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/515073-sinodo-sobre-a-nova-evangelizacao-luzes-e-sombras-entrevista-com-adolfo-nicolas

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Um olhar sobre 2013

José Roberto Mendonça de Barros * 
José Roberto Mendonça de Barros - economista
Nas últimas semanas houve uma boa convergência nas expectativas para 2013. Vejamos os pontos mais relevantes.

O crescimento do final do ano corrente será algo mais lento do que o imaginado. É possível até que a expansão do quarto trimestre sobre o terceiro seja menor que a deste último sobre o segundo. O mesmo ocorre com a visão para 2013: os mais otimistas estão revisando seus números para a faixa de 3,5/4,0%.

Aqui na MB mantemos a projeção para a faixa de 3,0%/3,5% que mencionei nesta coluna no início de agosto ("2012 está perdido. O que será de 2013?").

Reafirma-se hoje que o canal externo não vai melhorar no próximo ano. Embora o risco de uma crise bancária tenha sido mais uma vez afastado pelo Banco Central Europeu, continuam em cena o baixo crescimento da região, o alto desemprego nos países devedores e um lento avanço nas reformas institucionais, que buscam elevar a integração europeia.

A economia americana ainda tem de atravessar seu precipício fiscal e a chinesa chegou, como esperado, aos 7,5% de expansão do PIB. Tudo somado, o mundo não deverá crescer mais que 3,5% em 2013. Com isto, expectativas e exportações seguirão fracas. No caso destas últimas, as coisas serão piores, dada nossa opção preferencial pelos perdedores da América do Sul, em especial a Argentina, pois devemos em especial ao protecionismo da presidente Kirchner a queda observada de 3,5% no quantum exportado de manufaturados, de janeiro a setembro deste ano em relação a 2011. Este é um tema que pretendo abordar proximamente.

A retomada do consumo também será mais lenta do que o desejado, por duas razões, pelo menos: os sucessivos estímulos à compra de veículos garantiram um desempenho razoável para a indústria neste ano. Entretanto, é evidente que parte do resultado é uma antecipação de consumo, que já está levando a uma desaceleração nas vendas. Ao mesmo tempo, tenho convicção de que a expansão de crédito pessoal nos bancos públicos está servindo muito mais para refinanciar um passivo já existente junto ao setor privado, do que novas compras, ao contrário do que ocorreu em 2008/2009. É por isso que o índice das expectativas do consumidor da FGV ainda não mostra melhora consistente até outubro.

Continua sendo verdade que os investimentos estão muito mal. Conforme cálculos da Inter.B Consultoria, que aqui já mencionei, as inversões em infraestrutura vêm caindo sistematicamente de 2,5% do PIB em 2009 para 1,96% neste ano, número incapaz de sustentar crescimento de alguma expressão. Notícias recorrentes de atrasos em grandes projetos, como a transposição do São Francisco, complementam-se com a recente avaliação feita pela Confederação Nacional dos Transportes, de uma sensível perda de qualidade nas estradas brasileiras nos dois últimos anos.

Na mesma direção, o conhecido trabalho realizado pelo Banco Mundial "Doing Business" mostra, na edição de 2013, uma piora expressiva na posição brasileira. Em dois anos caímos dez posições no ranking!

A decisão de conceder uma série de projetos para o setor privado é bem vinda. Entretanto, o sucesso destas ações depende de uma regulação adequada. Infelizmente, a experiência recente na área federal não é favorável, pela recorrência de dois problemas: excesso de objetivos e interferência em questões que devem ser resolvidas pelo concessionário e pelos mecanismos do leilão. Esses fatores explicam o insucesso da concessão de rodovias de 2007, a insatisfação com o modelo dos aeroportos e as dificuldades, que já mencionei aqui, da Petrobrás em atender simultaneamente os objetivos de elevar rapidamente a produção, com um bom padrão tecnológico, a preços parecidos com os internacionais e, ao mesmo tempo, com 60% de utilização de componentes nacionais. O resultado neste caso tem sido a estagnação da produção de petróleo, atrasos nos projetos, fenomenais estouros de orçamento e um enorme stress sobre a companhia.

O mesmo parece acontecer com o recente pacote elétrico, algo que deixamos para analisar mais adiante.

Estes três vetores sugerem que o crescimento de 3% a 3,5% para o ano que vem está de bom tamanho. Neste caso, a economia brasileira terá crescido apenas 2,4% ao ano entre 2011 e 2013.

Embora não exista, evidentemente, consenso, devo dizer que nunca vi tanta gente se convencendo que estamos presos numa armadilha de baixo crescimento, convicção que partilho já há algum tempo. De um lado, a expansão global deverá ser modesta, como se sabe. Ademais, vários analistas vêm chamando atenção para a forte desaceleração do desempenho econômico dos Brics, que pode ser mais tendencial do que apenas de curto prazo. A The Economist trouxe o declínio da África do Sul como tema de capa, argumentando que o baixo crescimento deve se manter por muito tempo. Também não é difícil construir casos semelhantes para a Rússia e para a Índia. Apenas na China, admite-se que a taxa de expansão de 7,5% ao ano possa ser mantida por mais tempo (aos interessados, sugiro a leitura do trabalho de Ruchir Sharma, do número de outubro da Foreign Affairs).

O caso brasileiro, entretanto, parece-me bem forte. Além do fator externo, há hoje uma grande convergência na aceitação de que temos baixíssima competitividade e um modestíssimo crescimento na produtividade. Como consequência, a expansão do Brasil se dá pela incorporação de mão de obra, que não só se tornou escassa, mas é pouco treinada para as necessidades da produção. Há também um vasto consenso que o nosso sistema educacional é paupérrimo e que tem avançado muito pouco. Ademais, apesar de todos os esforços, as empresas brasileiras são pouco inovadoras.

Argumenta-se, corretamente, que a queda na taxa de juros abre espaço para maior investimento. Entretanto, está para mim cada vez mais claro que a queda dos juros pagos pelo Tesouro Nacional será substituída, em larga medida, por maiores gastos de custeio, e não de investimento. Neste caso, parte significativa dos benefícios da queda da Selic se perderá, e o modesto crescimento da economia poderá continuar.


* José Roberto Mendonça de Barros é economista com Doutorado em Economia pela Universidade de São Paulo (1973) e Pós-Doutorado no Economic Growth Center, Yale University, USA (1973/1974). Em 1978 fundou a MB Associados, empresa de consultoria econômica, da qual ainda é Sócio, e que atende aproximadamente 50 das maiores empresas e instituições financeiras brasileiras, especialmente no setor de agronegócio.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Economia - Domingo, 28 de outubro de 2012 - Pg. B9 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,um-olhar-sobre-2013-,952024,0.htm

"Só gosto de anunciar coisas que as pessoas possam devolver se não gostarem"


Sonia Racy

A convite da coluna Direto da Fonte - Sonia Racy, publicitário Washington Olivetto, da WMcCann, fala sobre eleições e marketing político
WASHINGTON OLIVETTO - publicitário

Por que Serra perdeu?

Washington Olivetto - Basicamente, por três fatores: o estigma de abandonar mandatos grudou nele, e alguns eleitores não o perdoaram; faltava alegria na campanha (o Serra é um sujeito sério e competente, mas tem uma linguagem que é mais para ministro do que para candidato a prefeito); e o Lula estava do outro lado.

O senhor já conseguiu reverter índice de rejeição alta a um produto? O que fazer?

Washington Olivetto - Eu e muitos publicitários no mundo já recorremos a mudanças de embalagem, conteúdo, posicionamento e campanha para reverter a situação de um produto. Com e sem sucesso. Às vezes, dá certo; às vezes, não tem jeito. Na área política, existe uma história folclórica. Quando Mitterrand foi candidato pela primeira vez à presidência da França, meu amigo Jacques Séguéla, que criava a campanha dele, convenceu-o a cortar um pouco de seus dentes caninos, que eram exageradamente pontiagudos e conferiam uma aparência meio diabólica. Séguéla argumentou que ninguém votaria no diabo. Assim, levou o homem ao dentista. Miterrand ganhou a eleição - não só por isso, mas também por causa disso.

O senhor nunca quis fazer marketing político. Por quê? 

Washington Olivetto - Escolhi trabalhar única e exclusivamente para a iniciativa privada, excluindo, assim, campanhas políticas e de empresas do governo. Essa escolha foi feita quando comecei, aos 19 anos, e tinha uma característica ideológica, já que o País vivia uma ditadura militar e eu não queria me envolver com seus governantes. Com o passar do tempo, essa escolha se transformou também numa maneira de preservar a qualidade do meu trabalho e num diferencial da W/Brasil (hoje, da WMcCann). Para criar coisas realmente brilhantes, um publicitário necessita de decisões absolutamente profissionais - característica dos clientes da iniciativa privada. Não pode submeter seu trabalho a decisões políticas. É impossível criar boa publicidade com uma porção de gente dando palpite.

Qual a diferença entre vender um produto e vender um candidato a cargo público?

Washington Olivetto - Só gosto de anunciar coisas que as pessoas possam devolver se não gostarem. O fascinante da criação publicitária é informar e persuadir entretendo, respeitando a inteligência do consumidor. Decididamente, minha ideologia criativa, que se baseia na verdade bem contada, não combina com o marketing político.

Se Serra e Haddad fossem um produto, como venderia os dois?

Washington Olivetto - Elegendo uma única qualidade inquestionável de cada um como tema da campanha. Curiosamente, se tentarmos analisar Haddad e Serra como se fossem um bem de consumo, um automóvel, por exemplo, daria para posicionar Haddad como um desses carros chineses, da JAC Motors, ou seja: uma novidade, que oferece o mesmo que os outros, mas em versão mais popular. Já o Serra seria um Volvo: comprovadamente seguro, mas pouco excitante.

O senhor vê erros nas campanhas dos dois?

Washington Olivetto - Ambas foram muito baseadas nos supostos defeitos do oponente. O saldo final é amargo para o eleitor, que fica na obrigação de escolher o menos pior. A campanha do Serra não tem tom de voz popular. A campanha do Haddad tem o tom de voz do Lula, que é, comprovadamente, um fenômeno do marketing intuitivo. Curiosamente, os dois candidatos não fizeram nada de brilhante nas redes sociais, fator decisivo, por exemplo, na primeira eleição do Obama.

O eleitor (consumidor) é confiável? Como fazer com que ele vá à gôndola do supermercado e, ante as ofertas, não mude de ideia?

Washington Olivetto - Quando uma marca conquista a admiração e a confiança do consumidor, ele não se deixa levar por argumentos dos concorrentes, nem se importa de pagar um pouco mais. Pode até aproveitar a promoção do momento ou experimentar um outro produto por curiosidade, mas sempre volta para seu preferido. A construção de uma imagem sólida - de um produto ou de uma pessoa, - tem a ver com coerência e perseverança.

Cabe merchandising em campanha política?

Washington Olivetto - A questão é descobrir uma marca que queira se associar à imagem dos candidatos. Essas associações são difíceis, mas não impossíveis. Anos atrás, fiz comerciais dos sapatos da Vulcabras com dois candidatos à presidência da República: o Maluf e o Brizola. Na época, eu brincava que um representava o pé direito e o outro o pé esquerdo. Na verdade, intuí que os dois adorariam a ideia de aparecer nos comerciais, era mídia gratuita para eles. Foi ótimo para o meu cliente. Os comerciais tiveram enorme repercussão, e o argumento de que numa campanha política se gasta muita sola de sapato era pertinente e verdadeiro.

O que acha do horário eleitoral obrigatório gratuito na TV?

Washington Olivetto - Se fosse bom, não seria obrigatório nem gratuito. Trata-se de um anacronismo que penaliza anunciantes, veículos e audiência.

Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Notícias/Política - 29 de outubro de 2012 | 03h03 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,so-gosto-de-anunciar-coisas-que-as-pessoas-possam-devolver-se-nao-gostarem,952601,0.htm

Não perca: Universidades top ao alcance de todos

Rachel Costa

Multiplicam-se os sites especializados em conteúdo das melhores faculdades do planeta, tornando fácil e barato o acesso às aulas dos professores mais badalados do mundo

Fotos: Rafael Hupsel/Ag. Istoé; Kelsen Fernandes
No conforto da cadeira do escritório, com pausas ao gosto do estudante, sem burburinho de conversa alheia, a qualquer hora do dia (ou da madrugada), de graça ou com um custo mínimo e tendo como mestres os professores das principais universidades do planeta. Sonho de qualquer pessoa estudiosa, as salas de aula virtuais têm tornado possível acessar, seja lá de onde for, aulas das melhores universidades do planeta. É possível assistir a um professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), da Universidade de Harvard ou mesmo viajar ao outro lado do globo para uma classe da Universidade de ­Ciência e Tecnologia de Hong Kong, bastando, para isso, computador e internet banda larga. "Aprender de jeitos diferentes é uma forma de fortalecer o conhecimento. Pelas aulas, dá para pegar com mais rapidez conceitos que você demoraria a entender por meio de livros", diz o mestrando em biotecnologia Hatylas Azevedo, 24 anos, que descobriu o recurso há pouco mais de um ano.

Assim como Azevedo, cada vez mais estudantes aderem às classes pela internet. "Tudo começou em 2002, quando o MIT colocou algumas aulas na rede, mesmo antes de o YouTube existir", conta o engenheiro Carlos Souza, que lançou neste ano a primeira plataforma brasileira voltada para esse segmento, a Veduca. A novidade é que agora esses conteúdos começam a ser agregados sob um único guarda-chuva, que tem como vantagem reunir em uma mesma página vídeos de diferentes escolas. Só em 2012, foram lançados o Coursera, a Classroom TV, e a edX (leia quadro acima). Essa última, uma parceria entre os gigantes da educação MIT e Harvard, promete revolucionar o modelo ao emitir certificados para os alunos das classes virtuais. Na prática, isso permitirá a um estudante brasileiro obter um título (por enquanto, apenas de cursos de curta duração) de duas das principais universidades do mundo sem precisar arcar com os gastos das mensalidades e da viagem para o Exterior. "A edX é uma referência para todos nós. Se esse sistema der certo com eles, certamente chegará à nossa plataforma", diz Souza.

Um dos segredos do sucesso das classes por internet é mostrar o docente por trás do pesquisador que, para o aluno, é apenas uma referência bibliográfica. O professor Ronaldo Porto Macedo Júnior, do curso de direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), está acompanhando a realização das aulas inéditas no Brasil de um desses pesquisadores descobertos no mundo virtual, o americano Michael Sandel. Titular da universidade de Harvard, Sandel é a atração da série "Justice", sobre os dilemas morais na sociedade contemporânea, e virou uma estrela. Seus cursos estão disponíveis nas principais plataformas, sempre entre os mais acessados. O sucesso digital o encorajou a testar um novo formato de classe global: alunos de diferentes nacionalidades interagem por meio da transmissão simultânea da aula para seus países. O projeto, em segunda edição, incluiu o Brasil pela primeira vez, com dez alunos, e teve sua primeira aula na semana passada. "Michael Sandel é alguém com quem eu sempre quis ter esse contato direto da aula", diz Jaqueline de Souza Abreu, aluna de direito da Universidade de São Paulo (USP) e uma das escolhidas para as classes virtuais.

No Brasil, a popularização dos cursos online das universidades top ainda encontra barreira no idioma. "A maior parte das aulas é em inglês e apenas 2% dos brasileiros têm inglês fluente", diz Souza, da Veduca. Por isso a aposta da plataforma nacional é legendar os conteúdos dos cursos estrangeiros. Por enquanto, apenas 5% das cinco mil aulas estão disponíveis em português, mas a previsão é de que o número cresça rápido daqui em diante. "Conseguimos um investimento e estamos iniciando uma tradução em massa dos conteúdos", conta Souza. O idioma pode não ser a única barreira para o estudo por plataformas virtuais. "Se o aluno pretende fazer um curso virtual, ele vai ter de se dedicar como se dedicaria a um curso tradicional, com a diferença de que vai precisar ser um pouco autodidata", considera Maria Alice de Moraes, coordenadora de educação a distância do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina. Para a especialista, muita gente entra em formações online pensando que ali poderá ter menos disciplina do que em um curso tradicional, o que não é verdade. A tecnologia avança e pode até mudar as formas de transmissão de conhecimento, mas dedicação de tempo, disciplina e organização seguem sendo matéria-prima essencial dos bons estudantes.

Para um exemplo dessas aulas virtuais, acesse:

Fonte: Revista ISTOÉ Independente - Educação - N° Edição:  2242 |  26.Out.12 - 21h00 |  Atualizado em 29.Out.12 - 11h23 - Internet: http://www.istoe.com.br/reportagens/248703_UNIVERSIDADES+TOP+AO+ALCANCE+DE+TODOS

EVANGELIZAÇÃO: UMA RESPOSTA À "SEDE" DOS HOMENS DE TODO TEMPO E LUGAR


Luca Marcolivio

Publicada a Mensagem do Sínodo dos Bispos ao Povo de Deus

SÍNODO DOS BISPOS 2012 - Celebração de Encerramento - Basílica de S. Pedro - Vaticano
A Mensagem final da XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização para a Transmissão da Fé Cristã foi apresentada nesta manhã na sala de imprensa do Vaticano. O texto foi dividido em 14 pontos.

O documento abre com uma referência ao encontro de Jesus com a Samaritana junto do poço, trazendo a ânfora vazia (cf. Jo 4,5-42): é uma referência para a "sede" dos homens de todos os tempos, muitos “são os poços”, mas é preciso "discernir " para não correr o risco de ruinosas desilusões.

Reconhecendo Cristo como o único portador da "água que dá a vida verdadeira e eterna" e convertendo-se, a mulher samaritana "tornou-se mensageira da salvação e conduz para Jesus toda a cidade”.

Conduzir os homens a Cristo é uma emergência que envolve os cristãos de qualquer tempo e lugar. Hoje, em especial, é necessário “reavivar a fé que corre o risco de ser ofuscada”. Na "mudança de cenários sociais e culturais" todo cristão é chamado a viver de modo renovado a experiência comunitária de fé e o anúncio através de uma evangelização renovada em seu ardor e seus métodos.

A fé se concretiza “no relacionamento que estabelecemos com a pessoa de Jesus, que primeiro vem a nós”.  Na Igreja, "espaço que Cristo oferece na história para encontrá-lo", é importante dar vida a uma “comunidade acolhedora, onde todos os marginalizados encontrem sua casa para experiências concretas de comunhão, que, pelo ardor do amor [...] atraem o olhar desencantado da humanidade contemporânea".

Isso não quer dizer inventar "novas estratégias", mas redescobrir as Escrituras - que os Padres sinodais recomendam a "leitura frequente" - especialmente a "vida de Jesus" e a maneira através da qual as pessoas se aproximaram Dele e por Ele se sentiram chamadas e adaptadas às condições do nosso tempo.

O ponto de partida da evangelização está em "evangelizar a nós mesmos", dispondo-nos a conversão. "Sabemos - escrevem os Padres sinodais - que devemos reconhecer humildemente nossa vulnerabilidade às feridas da história e não hesitar em reconhecer os nossos pecados pessoais".

Ao mesmo tempo, temos que confiar em uma renovação cuja fonte é "a força do Espírito do Senhor" e, portanto não depender exclusivamente da nossa força humana limitada. É nosso dever "vencer o medo com a fé, o desânimo com a esperança, a indiferença com o amor”.

Quando temos consciência de que o Senhor venceu a morte e que Seu Espírito opera poderosamente na história, “não há espaço para o pessimismo”. "A nossa Igreja é viva e enfrenta com a coragem da fé e do testemunho de tantos de seus filhos os desafios da história", lê-se na mensagem, 

A evangelização sempre teve como "lugar natural" a família que "é atravessada por toda parte por fatores de crise, cercada por modelos de vida que a penalizam" e, por esta razão, deve ser dado um "tratamento especial" em vista da missão que ocupa na Igreja.
Os Padres sinodais não negligenciaram o fenômeno da ‘convivência’ e as "situações familiares irregulares construídas após o fim de casamentos anteriores: acontecimentos dolorosos em que também sofre a educação à fé dos filhos". A Igreja também ama estes irmãos e as comunidades devem ser “acolhedoras para com aqueles que vivem em tais situações" e apoiar "caminhos de conversão e de reconciliação".

Das comunidades eclesiais emerge acima de tudo, o papel da paróquia que permanece "indispensável", embora "as novas condições possam pedir seja a adaptação em pequenas comunidades seja relações de colaboração em contextos mais amplos".
A paróquia se torna um veículo para a nova evangelização, permeando "as várias, e importantes expressões de piedade popular". Na vida paroquial, cada figura deve receber a justa valorização: do pároco ao diácono, do catequista ao ministro, até o animador.

Sobre a juventude, os Padres sinodais expressaram uma visão "preocupante", mas "longe de ser pessimista”. Sobre os jovens convergem "as forças mais agressivas dos tempos", todavia a eles “deve ser reconhecido um papel ativo na obra da evangelização, especialmente para o seu mundo”.
No mundo da juventude destaca-se em particular a Jornada Mundial da Juventude, mas existem outras realidades "não menos atraentes, como as várias experiências de espiritualidade, de serviço, e de missão".

O mundo da arte é de considerável importância e a via pulchritudinis, o Caminho da Beleza, é considerada "uma forma particularmente eficaz na nova evangelização".
Através do trabalho, acrescentaram os Padres sinodais, o homem torna-se "cooperador da criação de Deus”. Por esta razão, deve ser resgatado "das condições que o tornam algumas vezes um fardo intolerável e uma perspectiva incerta, ameaçado hoje pelo desemprego, especialmente entre os jovens”.

Outro ponto foi dedicado à política "à qual é pedido um empenho de cuidado desinteressado e transparente do bem comum", à liberdade religiosa e ao diálogo inter-religioso, instrumento de paz e contribuição contra qualquer forma de "fundamentalismo" e "violência que abate sobre os que creem  grave violação dos direitos humanos”.

Agradecendo o Papa Bento XVI pelo “dom do Ano da Fé", os Padres sinodais sublinharam a ligação positiva entre este ano e o 50 º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II e 20° do Catecismo da Igreja Católica. "São aniversários importantes – comentaram os padres - que nos permitem reiterar a nossa forte adesão ao ensinamento do Concilio e o nosso firme compromisso de continuar a sua plena implementação”.

Duas expressões de fé mencionadas são a vida contemplativa e o serviço aos pobres, “reflexo de como Jesus é ligado a eles”.

O penúltimo ponto diz respeito às Igrejas em diferentes regiões do mundo, com recomendações específicas para os cristãos em cada continente. 

  • Na África, a Igreja é chamada a ser um ponto de encontro entre as culturas antigas e novas, e mediadora para o fim dos conflitos e violências.
  • Na América do Norte, onde a secularização é bastante avançada, os cristãos devem ser abertos, especialmente em relação aos imigrantes e refugiados.
  • Na América Latina prevalece os desafios da pobreza e da violência, juntamente com aqueles - mais recente - do pluralismo religioso.
  • As comunidades cristãs da Ásia, entre as mais prejudicadas e perseguidas no mundo, sendo a minoria, são encorajadas a firmeza na fé.
  • A Europa, marcada por uma secularização enraizada e muitas vezes agressiva, deve, através de suas comunidades cristãs, responder a este desafio e superá-lo, encontrando nisto "uma oportunidade para um anúncio mais alegre e mais vivo de Cristo e de seu Evangelho de vida”.
  • Aos cristãos da Oceania, recomenda-se o "compromisso de pregar o Evangelho e fazer Jesus conhecido no mundo de hoje”.

Uma chamada final feita pelos Padres sinodais à Maria Santíssima, que "nos guia no caminho”. É a Ela, Estrela da Nova Evangelização, que os cristãos confiam, a fim que seja luz na noite do deserto.

Fonte: ZENIT.ORG - Sexta-feira, 26 de outubro de 2012 - Internet: http://www.zenit.org/article-31641?l=portuguese

sábado, 27 de outubro de 2012

30º Domingo do Tempo Comum - Ano "B" - Homilia

Evangelho: Marcos 10,46-52

Naquele tempo, 
46 Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho. 
47 Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”
48 Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!”
49 Então Jesus parou e disse: “Chamai-o”. Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!”
50 O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. 
51 Então Jesus lhe perguntou: “O que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!”
52 Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

A cura do cego Bartimeu - arte de Harold Copping (1863-1932)
COM NOVOS OLHOS

A cura do cego Bartimeu está narrada por Marcos para urgir que as comunidades cristãs saiam de sua cegueira e mediocridade. Somente desse modo, seguirão Jesus pelo caminho do Evangelho. O relato é de uma surpreendente atualidade para a Igreja de nossos dias.
Bartimeu é "um mendigo cego sentado à beira do caminho". Em sua vida sempre é noite. Ouviu falar de Jesus, porém não conhece o seu rosto. Não pode segui-lo. Está junto ao caminho por onde ele anda, porém está fora. Não é esta a nossa situação? Cristãos cegos, sentados à beira do caminho, incapazes de seguir Jesus?

Entre nós é noite! Desconhecemos Jesus. Falta-nos luz para seguir seu caminho. Ignoramos para onde se encaminha a Igreja. Não sabemos, sequer, que futuro queremos para ela. Acomodados numa religião que não consegue converter-nos em seguidores de Jesus, vivemos junto ao Evangelho, porém fora. Que podemos fazer?

Apesar de sua cegueira, Bartimeu percebe que Jesus está passando perto dele. Não duvida um instante. Algo lhe diz que em Jesus está a sua salvação: "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim". Este grito repetido com fé desencadeará a sua cura.
Hoje se ouvem na Igreja queixas e lamentos, críticas, protestos e muitas desqualificações. Não se escuta a oração humilde e confiante do cego. Esquecemo-nos que somente Jesus pode salvar esta Igreja. Não percebemos sua presença próxima. Somente cremos em nós.

O cego não vê, mas sabe escutar a voz de Jesus que lhe chega através de seus enviados: "Ânimo, levanta-te, que ele te chama". Este é o clima que necessitamos criar na Igreja. Animar-nos mutuamente para reagirmos. Não continuarmos acomodados numa religião convencional. Voltar a Jesus que nos está chamando. Este é o primeiro objetivo da pastoral.

O cego reage de forma admirável: larga o manto que lhe impede de levantar-se, dá um salto em meio à obscuridade e se aproxima de Jesus. De seu coração brota somente um pedido: "Mestre, que eu possa ver". Se seus olhos se abrirem, tudo mudará. O relato conclui dizendo que o cego recobrou a vista e "o seguia pelo caminho".

Esta é a cura que, nós cristãos, necessitamos hoje. O salto qualitativo que pode mudar a Igreja: 

  • Se muda o nosso modo de olhar Jesus
  • se lemos seu Evangelho com olhos novos
  • se captamos a originalidade de sua mensagem
  • nos apaixonamos com seu projeto de um mundo mais humano, a força de Jesus nos arrastará. 

Nossas comunidades conhecerão a alegria de viver seguindo-o de perto.

CURARMOS DA CEGUEIRA

O que podemos fazer quando a fé vai se apagando em nosso coração? É possível reagir? Podemos sair da indiferença? Marcos narra a cura do cego Bartimeu para animar seus leitores a viver um processo que possa mudar suas vidas.

Não é difícil reconhecer-nos na figura de Bartimeu. Vivemos, às vezes, "cegos", sem olhos para enxergar a vida como a via Jesus. "Sentados", acomodados numa religião convencional, sem força para seguir seus passos. Desencaminhados, "à beira do caminho" que leva a Jesus, sem tê-lo como guia de nossas comunidades cristãs.

Que podemos fazer? Apesar de sua cegueira, Bartimeu "se inteira" que, por sua vida, está passando Jesus. Não pode deixar escapar a ocasião e começa a gritar [...]. Esta é sempre a primeira atitude: abrir-se a qualquer apelo ou experiência que nos convida a curar nossa vida.

O cego não sabe recitar orações feitas por outros. Somente sabe gritar e pedir compaixão porque se sente mal. Este grito humilde e sincero, repetido do fundo do coração, pode ser, para nós, o começo de uma vida nova. Jesus não passará ao largo.
[...]

Bartimeu dá três passos que irão mudar a sua vida: 

  • "Joga o manto" porque lhe estorva para encontrar-se com Jesus. Em seguida, ainda que se mova nas trevas, 
  • "dá um salto" decidido. Desta maneira, 
  • "aproxima-se" de Jesus
É o que muitos de nós necessitamos: libertar-nos de laços que sufocam nossa fé; tomar, finalmente, uma decisão sem deixá-la para mais tarde; e nos colocarmos diante de Jesus com confiança simples e nova.


Quando Jesus lhe pergunta o que deseja dele, o cego não duvida. Sabe muito bem aquilo que necessita: "Mestre, que eu possa ver". Isso é o mais importante. Quando alguém começa a ver as coisas de maneira nova, sua vida se transforma. Quando uma comunidade recebe a luz de Jesus, se converte.

Tradução do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - 23 de outubro de 2012 - 10h37 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php