«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

1962: O nascimento do pós-tudo!!!

Fábio Altman

Nunca houve um ano como 1962, 
quando muitas das transformações gestadas pela juventude nasceram.
Algumas só explodiram algum tempo depois
Localização dos mísseis nucleares soviéticos em Cuba - 1962
O aggiornamento [trad.: atualização] promovido por João XXIII na Igreja Católica está longe de ter sido o único evento extraordinário, de repercussões perenes, de 1962. 
Mais correto do que dizer que o Concílio Vaticano II moldou aquele período é afirmar que a mudança religiosa foi, ela também, filha de meses muito especiais. Tinha de ter sido em 1962.

Haviam se passado dezessete anos do fim da II Guerra Mundial. A Europa se reconstruía. Nos Estados Unidos, a geração conhecida como baby boomer, dos nascidos no pós-guerra, chega à maioridade. Politicamente, vivia-se a Guerra Fria, cujo apogeu se deu em 22 de outubro daquele ano, quando o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, anunciou que os soviéticos haviam instalado mísseis nucleares em Cuba. Os soviéticos, liderados por Nikita Krushev, e os americanos chegaram a um acordo e não se deu o pior cenário.

Não houve guerra, ainda não se fazia amor - como descobriríamos em 1968 e 1969 -, mas a juventude de 1962 precisava se reinventar, precisava matar, simbolicamente, os pais que não tinham morrido em combate. Os beatniks Allen Ginsberg, Jack Kerouac e William Burroughs, a representação literária dos anos 50, tinham de 30 a 44 anos quando escreveram seus trabalhos fundamentais. Eram velhos demais para revoluções.

Elvis, ao voltar do Exército, em 1960, estava com 25 anos e já tinha feito sua parte ao unir a música negra ao rock'n'roll e sexualizar ao extremo o twist. Então, em 1962, à sombra do holocausto nuclear, Bob Dylan cantou Blowin' in the Wind [trad. livre: Soprando ao Vento] em um festival de Nova York (foi em abril, Dylan tinha 20 anos) e o velho mundo dos adultos foi varrido por um furacão. À revelia de Dylan, a canção virou hino de protesto. 
Quando lhe perguntavam que respostas sopravam ao vento, ele dizia com ironia e escárnio: "Tenho apenas 20 anos, vocês são mais velhos e mais espertos". 

Em outubro - espremido entre a estreia de 007 contra o Satânico Dr. No com James Bond, o espião da Guerra Fria, e a crise dos mísseis de Cuba - os Beatles lançaram Love Me Do e iê-iê-iê (o mais velho dos quatro tinha 22 anos). O resto é história.

1962 foi um ano menos celebrado do que 1968, mas poucas vezes tantos eventos ocorridos em 365 dias ajudaram tanto a traduzir uma determinada inflexão histórica (veja a linha do tempo abaixo). É possível que 1962 tenha sido um ano que chegou antes da hora. Os despertares provocados por ele demoraram a ser percebidos no cotidiano, eis outra interessante característica de exatos cinquenta anos atrás - ao contrário de 1968, quando se conheceu, na carne, na hora, a virada fundamental, ou mesmo de 1989, com a queda dos satélites comunistas em Varsóvia, Budapeste, Berlim e Praga. 

1962 foi um ovo de serpente que gerou uma imensa árvore de novidades que demorariam a brotar. Nele nasceu a expressão "via satélite", com as primeiras transmissões globais. A pílula anticoncepcional, que fora sintetizada dois anos antes, chegou às lojas com timidez - de 50 000 usuárias iniciais, em dois anos foi a 1,2 milhão nos Estados Unidos. Hoje, em todo o mundo, mais de 100 milhões de mulheres tomam a pílula.

O ano de 1962, enfim, representou o nascimento do pós-tudo. Os jovens - muito antes da unanimidade que se aplica a 1968 - estavam matando amanhã o velhote inimigo que morreu ontem. Queriam cores, e não o preto e branco niilista de seus pais. No primeiro episódio da segunda temporada do seriado Mad Men, passado em fevereiro de 1962, há festa na agência de publicidade Sterling Cooper com a chegada de uma máquina de xerox colorida. O diretor criativo, Don Draper, digladia-se com um dilema: como fazer propaganda de uma cafeteria onde "ninguém com menos de 25 anos entra para tomar café". A solução? Os jovens, a salvação da envelhecida firma de publicidade. Na mesa de reuião um dos diretores dá a deixa da renovação: "Somos um país jovem, até o presidente tem um bebê".

Assim foi 1962, ano em que fotos instantâneas, nem sempre muito nítidas, como as de uma Polaroid, com o tempo ganharam contornos para montar o filme que nos trouxe até hoje - na música, no cinema, no sexo e na igreja.


As novidades permanentes de 
cinquenta anos atrás



FEVEREIRO

Em órbita
O astronauta americano John Glenn
deu uma volta na Terra em resposta
ao feito de Yuri Gagarin,
no ano anterior.










ABRIL

Folk e rock
Bob Dylan cantou
pela primeira vez
um clássico futuro,
Blowin' in the Wind.











MAIO

Violência e literatura
Anthony Burgess publicou
Laranja Mecânica,
que viraria filme
apenas em 1971,
pelas mãos de 
Stanley Kubrick.









AGOSTO

Overdose
Marilyn Monroe morreu dormindo,
possivelmente em virtude de
overdose de tranquilizantes.












SETEMBRO

Ecologia
A publicação de 
Primavera Silenciosa,
reportagem de Rachel Carson,
denunciou o uso de
pesticidas.
Foi a gênese, prematura,
do movimento ambientalista.







OUTUBRO

Igreja
O papa João XXIII iniciou
a reforma - sempre
adiada - do Concílio
Vaticano II.










Iê-iê-iê
Os Beatles lançaram
Love Me Do,
canção que chegaria
ao topo das 
paradas em 1964.






Crise dos mísseis de Cuba
O mundo esteve à beira
de um guerra nuclear
envolvendo 
Estados Unidos e a 
União Soviética
[na foto ao lado vemos:
o Presidente norte-americano,
John F. Kennedy e o líder
soviético Nikita Kruschev].



Guerra fria no cinema
Bond, James Bond, estreou 
nas telas com o
Satânico Dr. NO e
belezas como
Ursula Andress de biquini.






NOVEMBRO

Apartheid
Nelson Mandela foi 
condenado e preso
por cinco anos -
ficaria 27 na cadeia.






Bossa nova
João Gilberto, Tom Jobim e companhia
se apresentaram no
Carnegie Hall de 
Nova York em show
que viraria mito
com o passar dos anos.







Fonte: Revista VEJA - edição 2291 - Ano 45 - nº 42 - 17 de outubro de 2012 - Pgs. 114-115 (edição impressa).

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