«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Cinco perguntas [Excelente artigo!]


J. R. GUZZO *


Estas cinco indagações, e tantas outras, deveriam ser enviadas ao Ministério de Perguntas Cretinas, pois é exatamente assim que todas elas são vistas pelo governo
José Roberto Guzzo - jornalista
Pede-se às altas autoridades brasileiras, respeitosamente, a cortesia de responder às perguntas feitas nas linhas abaixo, por serem de possível interesse do público. 


[1ª] O que a Receita Federal faz em relação a esses pacotes de dinheiro vivo que políticos e funcionários do governo vivem enfiando nos bolsos e bolsas? A Polícia Federal e o Ministério Público, a esta altura, já poderiam ter montado uma cinemateca inteira com os vídeos que registram essas cenas. Nunca acontece nada de sério com os indivíduos flagrados metendo a mão na massa, é claro. Mas como fica a sua situação perante o Fisco? Ninguém pode negar que recebeu, pois há prova filmada de que todos receberam. O que colocam, então, em suas declarações de renda? Se não declaram nem indicam a fonte pagadora, estão praticando sonegação. Se declaram e pagam o imposto devido, a Receita poderia ser acusada de estar cometendo crime de receptação, por receber parte de bens roubados. Como é que fica?


[2ª] Alguém no Itamarary poderia informar por que o Brasil tem embaixadas no Azerbaijão, Mali. Timor-Leste, Guiné Equatorial, São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia, Botsuana, Nepal, Barbados e outros lugares assim? Seria possível citar algum caso em que alguma dessas embaixadas fez alguma coisa de útil para os contribuintes brasileiros? Daria para descrever, digamos, uma jornada de trabalho do embaixador brasileiro no Mali? A que horas ele chega ao serviço - e, a partir daí, fica fazendo o quê, até voltar para casa? Seria bom, também, saber até onde o Itamaraty quer chegar. Pelas últimas contas, parece que existem hoje 193 países no mundo, e o Brasil só tem 126 embaixadas; faltam mais 67, portanto. A dura verdade é que não temos nada, por exemplo, na Micronésia, em Kiribati ou em Tuvalu. Vamos ter?
José Francisco das Neves, vulgo Dr. Juquinha


[3ª] Por que, e principalmente por ordem de quem, o dr. Juquinha, ou José Francisco das Neves, ficou oito anos inteiros, de 2003 a 2011, num cargo-chave do programa nacional de ferrovias? Já é chato, para uma Grande Potência, como quer ser o Brasil, ter na sua alta gerência um cidadão que se faz chamar de "dr. Juquinha". Mas o problema, mesmo, é que o homem saiu dali quase diretamente para o xadrez, acusado de acumular durante sua passagem pelo governo um patrimônio pessoal de 60 milhões de reais; a principal obra sob a sua responsabilidade, a "Ferrovia Norte-Sul", pagou as empreiteiras um "sobrepreço" de 100 milhões, só no trecho de Goiás. Ninguém, durante esse tempo todo, quis saber como o dr. Juquinha enriquecia, a ferrovia não andava e a obra ficava cada vez mais cara?


[4ª] Qual o destino da montanha de papel que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, obriga as 60000 farmácias brasileiras a acumular todo santo dia? Basta uma continha rápida para perceber a prodigiosa quantidade de entulho que elas juntam na forma de receitas retidas, fotocopiadas, carimbadas no verso, preenchidas a mão pelo balconista etc. Sabe-se que hoje as farmácias têm de manter "livros de escrituração manual" e que há, para o futuro, a promessa de um sistema "eletrônico". E no momento? A Anvisa verifica, um a um, cada papel desses? O que faz com eles? Ainda no tema: como é possível, segundo informou há pouco a revista EXAME, que 1250 pedidos de compra de equipamentos hospitalares de última geração, críticos para salvar vidas, estejam retidos hoje pela agência, que não autoriza sua entrada no Brasil?


Fernando Cavendish
[5ª] Como a empreiteira Delta se tornou a maior construtora de obras do PAC? Suas atividades, como se vem apontando há pelo menos cinco anos, cobrem o Código Penal de uma ponta à outra - está metida em corrupção, fraude, falsificação, desvio de verbas, superfaturamento, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, criação de empresas-laranja e por aí afora. Só no ano passado, apesar de toda essa folha corrida, recebeu quase 900 milhões do governo federal. Será que a presidente Dilma Rousseff, nestes seus dezoito meses no cargo, nunca teve a curiosidade, nem por um instante, de saber quem era a empreiteira número 1 do seu PAC, do qual é a própria mãe? Por que o PT e o governo fazem tanta força para que o dono da empresa, Fernando Cavendish, não seja interrogado no Congresso, como se guardasse o Terceiro Segredo de Fátima?


Estas cinco indagações, e tantas outras, deveriam ser enviadas ao Ministério de Perguntas Cretinas, pois é exatamente assim que todas elas são vistas pelo governo. Mas esse ministério só existiu na imaginação de Millôr Fernandes; está fazendo uma falta danada, entre os quase quarenta do Brasil Grande de hoje.


* José Roberto Guzzo é diretor editorial do grupo EXAME e colunista das revistas EXAME e VEJA.


Fonte: Revista VEJA - Edição 2280 - Ano 45 - Nº 31 - 1º de agosto de 2012 - Pg. 142 (edição impressa).

Maior cético climático se converte depois de estudo

Instituto Carbono Brasil


Richard Muller - físico
O físico norte-americano Richard Muller, fundador do projeto Temperatura da Superfície da Terra da Universidade de Berkeley (BEST), era um dos maiores críticos da teoria das mudanças climáticas, sendo sempre citado por outros cientistas céticos ou procurado por veículos de comunicação que precisavam de uma fonte para questionar o aquecimento global.


Pois este mesmo Richard Muller acaba de publicar um artigo no New York Times intitulado “A conversão de um cético das mudanças climáticas”, no qual diz ter mudado de ideia devido aos resultados de um estudo conduzido por ele próprio que comprovaria que não apenas o planeta está aquecendo, como também é possível responsabilizar as atividades humanas pelo fenômeno.


“Nossos resultados mostram que a temperatura média na superfície sólida da Terra subiu 1,5ºC em 250 anos, sendo que 0,9ºC se deu apenas nos últimos 50 anos. Mais do que isso, é muito provável que essencialmente todo esse aumento foi resultado das emissões humanas de gases do efeito estufa”, escreveu Muller.


Assista ao vídeo produzido pelo projeto BEST da Universidade de Berkeley acessando:


Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Universidade de Berkeley analisaram mais de 14 milhões de medições de temperatura de 44.455 locais do globo iniciadas em 1753


Bem mais abrangentes e rigorosos que os métodos adotados por entidades como a NASA e o Met Office, os procedimentos dos cientistas de Berkeley foram inteiramente automatizados, justamente para evitar erros humanos ou manipulações. Apesar disso, o BEST chegou às mesmas conclusões de estudos anteriores realizados por estas instituições que já confirmavam o aquecimento global.


“Não estávamos esperando por isso, mas como cientistas é nosso dever aceitar os resultados e mudar nossa postura”, afirmou Muller.


O estudo do BEST ainda não foi publicado em um periódico cientifico, ou seja, não foi avaliado por outros pesquisadores. Porém, pode ser acessado gratuitamente no portal do projeto: http://berkeleyearth.org/


Michael Mann, um dos principais nomes por trás da teoria do aquecimento global, formulador do gráfico "taco de hockey", que demonstra o aumento acelerado das temperaturas nas últimas décadas, recebeu bem a ‘conversão’ de Muller. 


“Congratulo Muller e seus colegas por agirem conforme bons cientistas e aceitarem seguir o que suas próprias análises demonstraram, sem se preocupar com as possíveis repercussões políticas das conclusões”, escreveu Mann em uma rede social.


“É com certa satisfação e ironia que recebemos um estudo financiado pelos irmãos Koch – os maiores apoiadores da negação das mudanças climáticas e da desinformação do planeta – demonstrando o que cientistas já vêm afirmando com confiança por quase duas décadas: que o globo está aquecendo e que esse aumento das temperaturas só pode ser explicado pela maior concentração de gases do efeito estufa na atmosfera devido às ações humanas”, completou o pesquisador.


Mann está se referindo a Fundação de Caridade Charles G. Koch, fundada pelo magnata da indústria do carvão, que investiu US$ 150 mil no estudo do BEST e que, com certeza, esperava um resultado bem diferente.


De acordo com Muller, o futuro das temperaturas é continuar a subir. “A taxa de aquecimento deve seguir constante, com o planeta aquecendo 1,5ºC nos próximos 50 anos, ou um pouco menos que isso se considerarmos os oceanos. Mas se a China continuar a crescer rapidamente (na média de 10% ao ano pelos próximos 20 anos) e continuar a usar vastas quantidades de carvão (somando um novo gigawatt ao ano), então esse mesmo aquecimento se dará em menos de 20 anos”, escreveu Muller.


“Espero que a análise de Berkeley ajude no debate científico do aquecimento global e de suas causas humanas. Então virá a parte difícil: concordar no espectro político e diplomático sobre o que pode e deve ser feito”, concluiu.


Fonte: domtotal.com - Meio Ambiente - 31/07/2016 - Internet: http://domtotal.com/noticias/detalhes.php?notId=481677

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Escalada da insensatez [Importante saber!]


MARCELO BATISTA NERY *

Enquanto o secretário de segurança pública fala em "escalada da violência" em São Paulo, pesquisador diz que falta qualidade ao debate sobre o tema no País

Marcelo Batista Nery - sociólogo
Quem estuda questões como criminalidade e violação de direitos mais cedo ou mais tarde chega a uma inquietante conclusão: o debate público sobre homicídios é pouco qualificado. Torna-se fato inegável que as discussões sobre violência são basicamente norteadas por conhecimentos advindos de experiências pessoais ou coletivas.


A percepção popular é muito importante. No entanto, essa percepção, sem mediação e análises adequadas, impõe certezas totalizantes. Tais máximas minimizam os problemas, aliviam alguns de suas responsabilidades e simplificam uma questão complexa. "A cidade é violenta! A razão da queda dos homicídios dolosos é: a melhora dos índices sociais; o desarmamento; a consolidação da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), etc. Vivemos uma escalada da violência! A violência aumenta porque a polícia não faz seu trabalho!"


Pensando na cidade de São Paulo, essas afirmações são verdadeiras?


Empregando os registros de homicídios dolosos como indicador de violência, notamos que no ano 2000 as estimativas da Secretaria de Segurança Pública (SSP) indicavam que mais de 5,3 mil pessoas foram vítimas de homicídio na capital paulista. Naquele mesmo ano o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), para operacionalizar o Censo, dividia a cidade em 13.278 Setores Censitários (unidades territoriais que reúnem cerca de 400 domicílios).


Em apenas 2.571 desses Setores (19%) ao menos um homicídio doloso foi registrado. Ou seja, em um dos anos com maior número de registros de homicídios da história paulistana, uma parcela restrita do território foi atingida por essa ocorrência. Além disso, analisando os registros de homicídios entre 2000 e 2008, verifica-se que 3.984 Setores (30%) não registraram um único homicídio doloso no período.


Então, São Paulo é uma cidade violenta? O senso comum diz um sonoro sim. Mas, na verdade, ela é caracterizada por um conjunto de localidades onde determinados crimes são recorrentes.


Ainda em 2000, observamos que São Paulo ocupava a quarta posição entre as capitais brasileiras com maiores taxas de homicídios dolosos. Um ano antes ela ocupava a segunda posição, dez anos depois cairia para a 27ª posição, com uma das menores taxas do País (segundo ranking do Mapa da Violência de 2012). A razão da queda dos homicídios dolosos é...? O senso comum procura uma causa e uma saída. Contudo, não existe uma única razão para tanto e, assim sendo, não há uma única solução. Associados com as taxas de homicídios existem fatores econômicos, de infraestrutura, demográficos, entre outros. Também são elementos fundamentais as políticas penais e de Segurança Pública, as atividades das "organizações criminosas", os investimentos municipais e a participação social - para citar alguns exemplos. No entanto, um fator pode ser importante em certo local, em certo momento, e não ser significativo em outras localidades e ocasiões.


Um novo pico? Em 2012 as estatísticas trimestrais da SSP mostram aumento das taxas de homicídios dolosos em São Paulo. Vivemos uma escalada da violência?


Qualquer resposta seria precipitada. Não houve tempo suficiente para definir se estamos observando uma oscilação ou se a tendência de queda se interrompeu. Ressalta-se que tão preocupante quanto uma possível evolução dos homicídios é a falta de concordância sobre seus condicionantes. Isso em um contexto no qual impera a falta de clareza das políticas e de transparência dos dados públicos, a difusão (por acadêmicos, gestores públicos e mídia) de informações imprecisas, bem como a carência de pesquisadores (qualificados e especializados) e de princípios capazes de dar visibilidade a conclusões questionáveis, mesmo quando baseadas em dados oficiais.


Pergunta-se: a violência aumenta porque a polícia não faz seu trabalho? O senso comum afirma que sim.


A Polícia Militar (PM) do Estado de São Paulo apresenta estatísticas. De acordo com a imprensa da PM, o telefone 190 recebe em média 150 mil ligações por dia. Hoje, a população carcerária do Estado supera 180 mil pessoas presas (segundo dados do Infopen, Sistema de Informações Penitenciárias). A diminuição dos homicídios foi superior a 75% na última década. Os números impressionam, mas isolados não respondem à questão.


Aprendi com o professor Paulo de Mesquita Neto (de saudosa memória) que segurança pública não é só caso de polícia. Essa questão requer a mobilização e a participação de todos os responsáveis. E eles são os grupos da sociedade civil, do setor privado, das universidades e de comunidades locais e agentes públicos em todas as esferas (nacional, estadual e municipal), entre os quais estão os policiais.


Portanto, para qualificar o debate público, devemos desconfiar de certezas totalizantes e combater soluções e responsabilizações ligeiras. Não ter isso em mente terá implicações diretas no entendimento da dinâmica dos homicídios e, consequentemente, na orientação, no monitoramento de avanços e na avaliação de fracassos e sucessos de programas e ações voltados a esse grave problema social.


* MARCELO BATISTA NERY, SOCIÓLOGO, ESPECIALISTA EM GEOINFORMAÇÃO, É CONSULTOR, PESQUISADOR DO NÚCLEO DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (NEV-USP).


Fonte: O Estado de S. Paulo - Supl. Aliás - Domingo, 29 de julho de 2012 - Pg. J5 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,escalada-da-insensatez,907500,0.htm

Apaixonados pelo ódio


Entrevista com: Betty Milan

MÔNICA MANIR

Para psicanalista, sucesso da novela [Avenida Brasil] se deve à exploração do que há de mais negativo no brasileiro: o gosto pela violência
Betty Milan - psicanalista
Recém-chegada de Paris, a psicanalista Betty Milan parou para ver a novela. E flagrou exatamente a alternância de poder entre Carminha e Nina, quando a audiência de Avenida Brasil bateu todos os recordes em São Paulo, com 45 pontos de média no Ibope. Com olhar de estrangeira, ficou impressionada. Registrou ali o que entende de mais negativo na sociedade do País: a paixão pelo ódio. "É um traço de nossa cultura, provavelmente de origem mediterrânea", diz, "mas me pergunto se era o caso de colocar em cena algo que avalize a perversão." Em ritmo de ensaio para sua peça A Vida É um Teatro, que reestreia em agosto, a também escritora explicou essa ira toda do povo brasileiro e por que não considera novela um exemplo de arte.


O que essa novela espelha da sociedade brasileira?


A começar, o gosto pela violência, que a novela explora para emplacar. Depois o gosto pela vingança, próprio do machismo, cuja ética é tão contrária à mulher quanto ao homem, mas que pode estar tão implícito na conduta feminina quanto na masculina. Nina é tão machista quanto Carminha, as duas se espelham o tempo todo. As duas, por sinal, são mulheres originárias do lixão, onde a sobrevida implica força e, portanto, é o padrão masculino que prevalece. Como eu digo em E o que É o Amor?, o machismo é uma ética infeliz e assassina. Sua história é a que se lê em Tragédia Brasileira, de Manuel Bandeira. Misael, funcionário público, conhece Maria Elvira, tira-a da prostituição, instala e trata. Ela arranja namorado. Ele, para evitar escândalo, muda de bairro, muda 17 vezes, até um dia matá-la a tiros. Misael indubitavelmente fez de tudo para escapar ao imperativo machista, mas não teve como. 


O nome "Avenida Brasil" remete a uma avenida que corta 27 bairros do Rio e tem intersecções com várias rodovias. Sua temática aludiria ao País urbano?


Apesar da palavra "avenida", acho que a novela não diz respeito ao urbano ou ao rural. Veríamos essa mesma cena no campo. Apego-me mais à palavra Brasil e ao que há de mais negativo na cultura brasileira, que é a paixão pelo ódio.


O brasileiro gosta de odiar?


É um traço da nossa cultura, provavelmente de origem mediterrânea. São três as paixões humanas: a do amor, a do ódio e a da ignorância, que é a paixão do não saber, de negar a realidade. A paixão do ódio, o machismo cultiva. Como exemplo temos as peças de Nelson Rodrigues e os romances de Graciliano Ramos. Pense no que diz Jonas em Álbum de Família: possuir e logo matar a mulher que se ama. Ou pense em Paulo Honório, em São Bernardo, que considera que matar Madalena é ação justa. Ele então não a supõe infiel? 


O cotidiano dos emergentes é o grande eixo da novela, que tem atraído de A a Z. As classes já misturaram seus gostos?


Não acho que o cotidiano dos emergentes seja elemento forte de identificação.  A identificação resulta do gozo sádico do espectador, gozo que a imprensa e a televisão  exploram desde sempre - lamentavelmente, porque esse gozo sustenta o gosto pela vingança. Mãe Lucinda pode dizer que a vingança só leva à vingança, procurando fazer Nina mudar de ideia, mas é com esta que o espectador mais se identifica. Porque, de um modo ou de outro, todos somos injustiçados e o gozo sádico nos tenta.      


Por que a vingança lhe parece tema central? Por que não a traição ou a chantagem? 


Colocar em cena uma mulher vingativa não deixa de ser uma novidade. A vingança aqui no país sempre foi para os homens. Doca Street, Lindomar Castilho...  As  mulheres, que  são  ultrajadas de diferentes maneiras, consciente ou inconscientemente, se sentem recompensadas. Pouco antes da novela ouvi no Jornal Nacional que o aborto consentido continua a ser crime e cabe ao  médico decidir se a mulher tem ou não o direito de abortar. Como se o médico fosse arcar com a responsabilidade de ser mãe! Chega a ser revoltante.
Nina e Carminha - em cena da novela Avenida Brasil
Os homens da trama parecem facilmente manipuláveis, como se vê nas obras literárias mencionadas em Avenida Brasil, entre elas Madame Bovary e O Primo Basílio. Como entender esse predomínio do feminino?


Acho que não se pode comparar  Carminha  com Madame Bovary, que é um Quixote francês. Carminha é uma manipuladora altamente realista.  A Bovary, como o Quixote, é vítima do seu imaginário. Paga muito caro pelo adultério e acaba se suicidando.  Por outro lado, Carminha e Nina são dois machões. A Bovary é muito  feminina. O tema dela é o amor, que não é o tema das mulheres de Avenida Brasil. 


O horário eleitoral começa daqui a um mês, com figuras reais que mais parecem personagens de folhetim. Nesse sentido, dá para estabelecer um paralelo entre o gênero "propaganda eleitoral" e o gênero "novela"? 


Não sei. O que eu sei é que a novela brasileira se limita a retratar a sociedade em que vivemos


E o horário eleitoral não? 


Você está tomando o horário eleitoral como se fosse ficção? 


A senhora acompanha o horário eleitoral brasileiro?


Graças a Deus, não. Mas os políticos, de fato, parecem personagens de novela.


Jorge Amado, cuja Gabriela está na telinha, já disse que o samba é denominador comum da nossa cultura. E a novela?


A novela também, mas novela não é arte. Tem um caráter absolutamente documental. Não chega a se constituir uma grande metáfora da sociedade brasileira. 


A senhora mencionou que o que há de mais negativo na cultura brasileira é a paixão pelo ódio. O que haveria de mais positivo?


O fato de privilegiarmos a cultura do brincar, uma cultura da sátira, senão da zombaria. Ela zomba do que é sério, cultua o riso e se realiza através do gracejo. O impossível para ela não existe porque, dispondo de várias máscaras, ela o contorna. Assim sendo, não é de briga, é pacífica, não faz guerra nem mesmo contra a guerra, brinca, e essa é sua maneira de resistir a tudo o que a contraria. Sua coragem é a do humor, a de quem dribla a tristeza e só aposta na alegria. Inadvertidamente sacrílega, essa cultura não reverencia senão irreverentemente as outras culturas que ela, brincando, dessacraliza.


O Brasil é uma grande avenida de ficções? 


Não. A grande avenida de ficções é o carnaval, que não é uma ficção, é uma realidade por meio da qual o Brasil se reinventa todo ano, propiciando ao mundo inteiro a alegria de que este precisa. 


Fonte: O ESTADO DE S. PAULO - Supl. ALIÁS - Domingo, 29 de julho de 2012 - Pg. J7 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,apaixonados-pelo-odio,907435,0.htm

sábado, 28 de julho de 2012

Bíblia judaica é restaurada


RAMAT GAN
ISRAEL

Trabalho deve estar pronto no ano que vem

Prof. Menachen Cohen - Universidade de Bar Ilán (Israel)
O professor Menachem Cohen, da Universidade de Bar Ilán, próximo a Tel Aviv [Israel], está prestes a completar um grande projeto: a versão mais completa e precisa do Antigo Testamento.


À frente de uma equipe de mais de uma dúzia de pesquisadores do Departamento da Bíblia da universidade, Cohen desenvolve há mais de 30 anos um ambicioso trabalho chamado Mikraot Gdolot-Haketer ou As Grandes Escrituras, uma espécie de molde para o Antigo Testamento, que deve ficar pronto até o ano que vem e será digitalizado.


A última compilação desse tipo foi feita no século 16, cerca de 50 anos depois da invenção da imprensa, pelo judeu sefardita Jacó Ben Haim, que viveu em Veneza. Sua versão, reproduzida desde então, baseou-se em manuscritos e consultas a rabinos. Contém também notas e explicações sobre o texto.
Estudo do Códice de Alepo - Universidade de Bar Ilán (Israel)
Apesar de ser uma das obras mais reproduzidas e estudadas do mundo, essas edições estão cheias de imprecisões, afirma Cohen. "Pesquisei os manuscritos da Idade Média e descobri que os textos prévios utilizados para a publicação da primeira versão compilada de Ben Haim não eram totalmente precisos e eu me propus a resolver esse problema", afirmou o acadêmico. O professor chama de "discrepâncias" problemas como a ausência de uma letra ou um erro de pontuação.
Página do Códice de Alepo (Tiberíades, século X)
Essa nova edição da bíblia judaica conta com uma fonte privilegiada, o Códice de Alepo*, escrito no século 10 por Aarão Ben Asher em Tiberíades, hoje Israel.


"Não há, na história do povo de Israel, uma bíblia mais precisa", afirma Cohen. Segundo ele, a versão de Haim possui milhares de erros, enquanto a de Asher tem apenas algumas dezenas de imprecisões.
Haim nunca teve acesso ao Códice de Alepo porque na época ele estava guardado na Síria pela comunidade judaica local.


Agência EFE.


* Para saber mais, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Codex_Aleppo


Fonte: ESTADÃO.COM.BR - 27 de julho de 2012 - 03h03 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,biblia-judaica-e-restaurada,906227,0.htm

40% dos congressistas que vão disputar as eleições responde a inquérito ou ação penal no STF


Congresso em Foco
25-07-2012

Parlamentares que estão de olho no voto do eleitor este ano também estão na mira do Supremo Tribunal Federal (STF)
Congresso Nacional - Brasília (DF)
Dos 92 congressistas que vão disputar as eleições de outubro, 36 (ou seja, 40% deles) são alvos de investigação na mais alta corte do país, onde tramitam as acusações criminais envolvendo congressistas e outras autoridades federais. 
No total, três senadores e 32 deputados federais com alguma pendência judicial postulam os cargos de prefeito; há ainda um deputado investigado concorrendo a vice-prefeito.


Relação de todos os deputados e senadores que respondem a ação no STF [em ordem alfabética]:


Senadores


Acir Gurgacz (PDT-RO) 
Alfredo Nascimento (PR-AM) 
Antônio Russo (PR-MS) 
Blairo Maggi (PR-MT)
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB)
Cícero Lucena (PSDB-PB) 
Clésio Andrade (PMDB-MG) 
Demóstenes Torres (sem partido-GO) 
Eduardo Amorim (PSC-SE) 
Fernando Collor (PTB-AL) 
Flexa Ribeiro (PSDB-PA)
Gim Argello (PTB-DF) 
Ivo Cassol (PP-RO)
Jader Barbalho (PMDB-PA) 
Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE)
Jayme Campos (DEM-MT)
João Ribeiro (PR-TO) 
Jorge Viana (PT-AC)
Lindbergh Farias (PT-RJ) 
Lúcia Vânia (PSDB-GO)
Luiz Henrique (PMDB-SC) 
Mário Couto (PSDB-PA)
Marta Suplicy (PT-SP) 
Renan Calheiros (PMDB-AL) 
Roberto Requião (PMDB-PR) 
Romero Jucá (PMDB-RR) 
Sérgio Petecão (PSD-AC) 
Valdir Raupp (PMDB-RO) 
Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) 
Wellington Dias (PT-PI) 
Zezé Perrella (PDT-MG) 


Deputados


Abelardo Camarinha (PSB-SP) 
Abelardo Lupion (DEM-PR)
Ademir Camilo (PSD-MG) 
Aelton Freitas (PR-MG) 
Aguinaldo Ribeiro (PP) 
Alberto Mourão (PSDB-SP)
Alexandre Roso (PSB-RS)
Alfredo Kaefer (PSDB-PR)
Aline Corrêa (PP-SP) 
André Moura (PSC-SE) 
Aníbal Gomes (PMDB-CE)
Anthony Garotinho (PR-RJ) 
Antônia Lúcia (PSC-AC) 
Antonio Bulhões (PRB-SP)
Armando Vergílio (PSD-GO)
Arnaldo Jordy (PPS-PA) 
Arthur Lira (PP-AL) 
Asdrubal Bentes (PMDB-PA) 
Assis Carvalho (PT-PI) 
Assis Melo (PCdoB-RS)
Audifax (PSB-ES)
Benjamin Maranhão (PMDB-PB)
Bernardo Santana de Vasconcellos (PR-MG)
Beto Mansur (PP-SP) 
Bonifácio de Andrada (PSDB-MG)
Carlaile Pedrosa (PSDB-MG)
Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) 
Carlos Bezerra (PMDB-MT)
Carlos Magno (PP-RO) 
Carlos Melles (DEM-MG)
Carlos Souza (PSD-AM) 
César Halum (PSD-TO)
Cleber Verde (PRB-MA)
Dalva Figueiredo (PT-AP)
Danilo Forte (PMDB-CE)
Décio Lima (PT-SC)
Delegado Protógenes (PCdoB-SP)
Dilceu Sperafico (PP-PR)
Dimas Fabiano (PP-MG)
Domingos Sávio (PSDB-MG)
Edinho Araújo (PMDB-SP)
Édio Lopes (PMDB-RR)
Edmar Arruda (PSC-PR)
Edson Ezequiel (PMDB-RJ)
Eduardo Azeredo (PSDB-MG)
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) 
Eduardo Gomes (PSDB-TO)
Eleuses Paiva (PSD-SP)
Eliene Lima (PSD-MT)
Emanuel Fernandes (PSDB-SP)
Erika Kokay (PT-DF)
Esperidião Amin (PP-SC)
Fábio Ramalho (PV-MG)
Fernando Jordão (PMDB-RJ)
Fernando Marroni (PT-RS)
Flávia Morais (PDT-GO)
Flaviano Melo (PMDB-AC)
Gabriel Chalita (PMDB-SP)
Genecias Noronha (PMDB-CE) 
Geraldo Resende (PMDB-MS) 
Geraldo Simões (PT-BA) 
Giacobo (PR-PR)
Giroto (PMDB-MS)
Gorete Pereira (PR-CE)
Henrique Oliveira (PR-AM)
Homero Pereira (PSD-MT)
Hugo Napoleão (PSD-PI)
Izalci (PR-DF)
Jairo Ataíde (DEM-MG)
Jânio Natal (PRP-BA)
Jaqueline Roriz (PMN-DF)
Jefferson Campos (PSD-SP)
Jhonatan de Jesus (PRB-RR)
Jilmar Tatto (PT-SP) 
João Carlos Bacelar (PR-BA) 
João Lyra (PSD-AL) 
João Magalhães (PMDB-MG) 
João Maia (PR-RN) 
João Paulo Cunha (PT-SP)
João Paulo Lima (PT-PE) 
Joaquim Beltrão (PMDB-AL) 
Jorge Boeira (PSD-SC) 
José Augusto Maia (PTB-PE)
José Linhares (PP-CE)
José Nunes (PSD-BA) 
José Otávio Germano (PP-RS)
José Priante (PMDB-PA)
José Stédile (PSB-RS)
Josias Gomes (PT-BA)
Júlio Campos (DEM-MT)
Júlio Lopes (PP-RJ) 
Júnior Coimbra (PMDB-TO)
Junji Abe (PSD-SP) 
Leonardo Quintão (PMDB-MG)
Leonardo Vilela (PSDB-GO)
Lincoln Portela (PR-MG)
Lira Maia (DEM-PA) 
Luiz Argôlo (PP-BA) 
Luiz Carlos Setim (DEM-PR) 
Luiz Pitiman (PMDB-DF)
Manoel Salviano (PSD-CE) 
Marçal Filho (PMDB-MS) 
Marcelo Matos (PDT-RJ)
Márcio Reinaldo Moreira (PP-MG)
Marco Tebaldi (PSDB-SC)
Márcio França (PSB-SP) 
Marcos Medrado (PDT-BA)
Marcos Montes (PSD-MG) 
Mário Feitoza (PMDB-CE) 
Maurício Quintella Lessa (PR-AL)
Maurício Trindade (PR-BA)
Mendonça Filho (DEM-PE) 
Natan Donadon (PMDB-RO)
Nelson Bornier (PMDB-RJ) 
Nelson Marquezelli (PTB-SP) 
Newton Cardoso (PMDB-MG) 
Newton Lima (PT-SP) 
Nilson Leitão (PSDB-MT) 
Osmar Terra (PMDB-RS) 
Oziel Oliveira (PDT-BA) 
Padre Ton (PT-RO) 
Paes Landim (PTB-PI) 
Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) 
Paulo César Quartiero (DEM-RR)
Paulo Maluf (PP-SP)
Paulo Pereira da Silva (PDT-SP)
Pedro Henry (PP-MT) 
Pedro Uczai (PT-SC)
Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO)
Raimundão (PMDB-CE) 
Ratinho Júnior (PSC-PR)
Renan Filho (PMDB-AL)
Roberto Balestra (PP-GO)
Roberto Britto (PP-BA)
Roberto Santiago (PSD-SP) 
Rogério Marinho (PSDB-RN)
Romário (PSB-RJ)
Ronaldo Benedet (PMDB-SC)
Sabino Castelo Branco (PTB-AM)
Sandes Júnior (PP-GO) 
Sandro Mabel (PMDB-GO) 
Sebastião Bala Rocha (PDT-AP)
Sérgio Moraes (PTB-RS)
Sibá Machado (PT-AC) 
Silas Câmara (PSD-AM) 
Silvio Costa (PTB-PE) 
Stepan Nercessian (PPS-RJ) 
Sueli Vidigal (PDT-ES) 
Takayama (PSC-PR)
Teresa Surita (PMDB-RR)
Valdemar Costa Neto (PR-SP) 
Valmir Assunção (PT-BA)
Vander Loubet (PT-MS) 
Vilalba (PRB-PE) 
Vitor Paulo (PRB-RJ) 
Walney Rocha (PTB-RJ)
Washington Reis (PMDB-RJ) 
William Dib (PSDB-SP)
Wladimir Costa (PMDB-PA)
Zé Vieira (PR-MA)


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quinta-feira, 26 de julho de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/511821-40-dos-congressistas-que-vao-disputar-as-eleicoes-responde-a-inquerito-ou-acao-penal-no-stf

sexta-feira, 27 de julho de 2012

17º Domingo do Tempo Comum - Ano "B" - Homilia

Evangelho: João 6,1-15


Naquele tempo, 
Jesus foi para o outro lado do mar da Galileia, também chamado de Tiberíades.
Uma grande multidão o seguia, porque via os sinais que ele operava a favor dos doentes.
3 Jesus subiu ao monte e sentou-se aí, com seus discípulos. 
4 Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. 
5 Levantando o olhos, e vendo que uma grande multidão estava vindo ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?” 
6 Disse isso para pô-lo à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer. 
7 Filipe respondeu: “Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um”. 
8 Um dos discípulos, André, o irmão de Simão Pedro, disse: 
9 “Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isto para tanta gente?”
10 Jesus disse: “Fazei sentar as pessoas”. Havia muita relva naquele lugar, e lá se sentaram, aproximadamente, cinco mil homens. 
11 Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes. 
12 Quando todos ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca!”
13 Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães, deixadas pelos que haviam comido. 
14 Vendo o sinal que Jesus tinha realizado, aqueles homens exclamavam: “Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo”. 
15 Mas, quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte.

José Antonio Pagola


O GESTO DE UM JOVEM


De todos os gestos realizados por Jesus durante sua atividade profética, o mais recordado pelas primeiras comunidades cristãs foi, seguramente, uma refeição enorme organizada por ele em meio ao campo, nas proximidades do lago da Galileia. É o único episódio recolhido por todos os evangelhos.


O conteúdo do relato é de uma grande riqueza. Seguindo o seu costume, o evangelho de João não o chama de "milagre", mas de "sinal". Com isso, nos convida a não nos fixarmos nos fatos que se narram, mas descobrir, a partir da fé, um sentido mais profundo.
Jesus ocupa o lugar central. Ninguém lhe pede que intervenha. É ele mesmo que intui a fome daquela gente e expõe a necessidade de alimentá-la. É comovedor saber que Jesus não somente alimentava ao povo com a Boa Notícia de Deus, mas que o preocupava, também, a fome de seus filhos e filhas.


Como alimentar, em meio ao campo, uma multidão numerosa? Os discípulos não encontram nenhuma solução. Filipe diz que não se pode pensar em comprar pão, pois não tem dinheiro. André pensa que se poderia compartilhar o que se tem, porém somente um rapaz tem cinco pães e um par de peixes. O que é isso para tantos?
Para Jesus é suficiente. Esse jovem, sem nome nem rosto, tornará possível o que parece impossível. Sua disposição para compartilhar tudo o que tem é o caminho para alimentar àquelas pessoas. Jesus fará o resto. Toma em suas mãos os pães do jovem, dá graças a Deus e começa a "reparti-los" entre todos.


A cena é fascinante. Uma multidão, sentada sobre a relva verde do campo, compartilhando uma refeição gratuita, um dia de primavera. Não é um banquete de ricos. Não há vinho ou carne. É uma comida simples do povo que vive junto ao lago: pão de cevada e peixe defumado. Uma comida fraterna servida por Jesus a todos graças ao gesto generoso de um jovem.
Esta comida compartilhada era para os primeiros cristãos um símbolo atraente da comunidade nascida de Jesus para construir uma humanidade nova e fraterna. Evocava-lhes, ao mesmo tempo, a eucaristia que celebravam no dia do Senhor para alimentarem-se do espírito e da força de Jesus, o Pão vivo vindo de Deus.


Porém, jamais esqueceram o gesto do jovem. Se há fome no mundo, não é por escassez de alimentos, mas por falta de solidariedade. Há pão para todos, falta generosidade para dividir. Deixamos a organização do mundo em mãos do poder financeiro, nos dá medo compartilhar o que temos, e o povo morre de fome devido nosso egoísmo irracional.


NOSSO GRANDE PECADO


Segundo a versão de João, o primeiro que pensa na fome da multidão que veio ouvir é Jesus. Essa gente necessita comer; há que se fazer algo por ela. Assim era Jesus. Vivia pensando nas necessidades básicas do ser humano.
Filipe lhe faz ver que eles não têm dinheiro. Entre os discípulos, todos são pobres: não podem comprar pão para tantos. Jesus o sabe. Aqueles que têm dinheiro não resolveram jamais o problema da fome no mundo. Necessita-se algo mais que dinheiro.


Jesus lhes ajudará a vislumbrar um caminho diferente. Antes de mais nada, é necessário que ninguém acumule o que é seu para si mesmo, se há outros que passam fome. Seus discípulos terão que aprender a colocar à disposição dos famintos o que têm, ainda que sejam só "cinco pães de cevada e um par de peixes".


A atitude de Jesus é a mais humilde e humana que podemos imaginar. 
Porém: 

  • quem nos ensinará a compartilhar se somente sabemos comprar? 
  • Quem nos libertará de nossa indiferença diante dos que morrem de fome?
  • Existe algo que nos possa tornar mais humanos?
  • Algum dia, se produzirá esse "milagre" da solidariedade real entre todos?
Jesus pensa em Deus. Não é possível crer nele como Pai de todos, e viver deixando que seus filhos e filhas morram de fome. Por isso, toma os alimentos que recolheram no grupo, "ergue os olhos ao céu e diz a ação de graças". A Terra e tudo o que nos alimenta o recebemos de Deus. É presente do Pai destinado a todos os seus filhos e filhas. Se vivemos privando a outros do que necessitam para viver é porque o esquecemos. É o nosso grande pecado, mesmo que quase nunca o confessemos. 


Ao compartilhar o pão da Eucaristia, os primeiros cristãos se sentiam alimentados por Cristo ressuscitado, porém, ao mesmo tempo, recordavam o gesto de Jesus e dividiam os seus bens com os mais necessitados. Sentiam-se irmãos. Não tinham esquecido, entretanto, o Espírito de Jesus.


Fonte: Parroquia de San Pedro Apostol, Sopelana (Bizkaia) - Espanha -  Homilías de José A. Pagola - Ciclo B - Internet: https://docs.google.com/document/d/1zGp_2e4jzVWKxQCHpXz0aAN1SVLFmQE0cIuF1DMrH9I/edit?pli=1

Universitários preocupam-se mais com conquistas pessoais do que com vida em sociedade

Agência Brasil


É o que mostra pesquisa realizada em cinco continentes com alunos de instituições católicas
PUC - Minas - Campus de Belo Horizonte
Universitários de cinco continentes estão mais preocupados com seu progresso pessoal do que em contribuir com a vida em sociedade, apontam os resultados iniciais de pesquisa sobre o perfil de estudantes de instituições de ensino superior católicas divulgada nesta quinta-feira, 26, durante encontro da Federação Internacional de Universidades Católicas (Fiuc). Foram entrevistados 17 mil jovens com idades entre 16 e 30 anos de 34 países.


“Os países mais desenvolvidos são os que menos têm interesse pelo social. Os africanos expressam mais essa preocupação, já os europeus menos. (Os estudantes da) América do Sul estão em um meio termo. Devemos aprofundar a análise, mas esta é uma das primeiras impressões”, analisou Rosa Aparicio Gómez, socióloga responsável pela pesquisa e professora do Instituto Universitário Ortega y Gasset, da Espanha.


Os dados socioeconômicos reunidos pelo trabalho apontam que as mulheres são maioria nas universidades católicas do mundo, com 64% dos entrevistados. De acordo com Rosa, essa proporção só se altera nos países africanos, quando a presença feminina não alcança 47% do total. Na avaliação de classes sociais, os estudantes de classe média representam 73%, sendo que 42% são de classe média alta. Os universitários de classe alta são 16% e de classe baixa somam 11%.


Dentre as principais razões apontadas pelos pesquisados para ingressar na universidade:
  • 91% escolheram a necessidade de conquistar um trabalho. Os outros itens mais citados foram: 
  • gosto pelo estudo (43%) e 
  • vontade de obter uma melhor posição social (25%). 
  • Apenas 18% citaram a necessidade de ser útil à sociedade.
Quando questionados sobre quais os cinco aspectos mais importantes em suas vidas: 
  • o mais citado, com 94%, foi a família. 
  • Também foram apontados estudos (44%), 
  • amigos (43%), 
  • parceiro (33%) e 
  • futuro (27%). 
Os cinco menos escolhidos foram: 
  • religião (21%), 
  • trabalho (19%), 
  • lazer (6%), 
  • país (5%) e 
  • política (1%).
Outra questão que aponta certo grau de individualismo, na avaliação da pesquisadora, trata sobre os projetos que os universitários gostariam de conquistar nos próximos 15 anos: 
  • Ter um bom trabalho (62%), 
  • formar uma família (45%), 
  • fazer pós-graduação (41%) e 
  • ganhar dinheiro (30%) são os mais escolhidos. 
Os menos citados são: 
  • trabalhar para uma sociedade mais justa (8%), 
  • envolver-se em projeto social (5%), 
  • participar de grupo religioso (3%) e 
  • atuar em grupo político (2%).
O estudo mostra, ainda, que o perfil dos universitários brasileiros está mais próximo ao dos estudantes de países emergentes do que ao dos latino-americanos. Para a pesquisadora, isso pode estar relacionado ao momento econômico vivido pelo País. “É uma época de certa bonança. As pessoas estão vivendo outras coisas, estão avançando pessoalmente”, avalia. Ela aponta que o Brasil está mais próximo de países do Sul da Ásia, como a Índia.


Em relação aos papel das instituições, os estudantes mostraram-se céticos ao pontuar a maioria delas. O item que recebeu maior nota, de zero a seis, foi o das instituições educacionais, com 4,1. Em seguida, aparecem as instituições religiosas, com média 3,7, empatada com as organizações não governamentais e bancos. As três piores notas foram dadas para a polícia (2,8), para os governos (2,3) e para os políticos (1,9).


O uso da internet também foi enfocado na pesquisa. As redes sociais estão presentes na vida de 94% dos entrevistados. Eles passam mais tempo na internet do que com amigos. São cerca de duas a quatro horas por dia no computador. O ambiente virtual que simula a vida real, conhecido como Second Life, não é muito utilizado na maior parte do mundo, mas na Ásia o percentual de jovens que constroem personagens virtuais chega a 50%. “É um dado que precisamos interpretar. Inicialmente, dá impressão que significa uma insatisfação com a vida”, analisa Rosa.


Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Educação - 26 de julho de 2012 - 19h01 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,universitarios-preocupam-se-mais-com-conquistas-pessoais-do-que-com-vida-em-sociedade,906142,0.htm

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Análise da Crise Econômica Atual [Excelente síntese!]

Ettore Gotti Tedeschi *

Este texto do ex-presidente do IOR (Instituto para as Obras de Religião, Vaticano) é uma análise reservada encaminhada ao Secretário particular do papa Bento XVI, Mons. Georg Gänswein, em novembro de 2011. Ele emprega o recurso retórico de três perguntas para tornar mais didática e clara a sua apresentação.
Ettore Gotti Tedeschi - ex-presidente do IOR
Primeira pergunta:
O que provocou a atual crise econômico-financeira?

Resposta: Causou-a uma série de políticas econômicas adotadas progressivamente (nos últimos 30 anos) para sustentar o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nos chamados países ocidentais em consequência da queda da natalidade. Não crescendo a população, o crescimento econômico pode acontecer (após intervenções sobre a produtividade) somente fazendo crescer o consumo per capita. Este crescimento do consumo per capita ocorreu:
a) deslocando (para a Ásia) a produção industrial, reimportada a menores custos para aumentar o poder de compra;
b) endividando as famílias (o famoso consumismo a débito [com o uso de crédito financeiro]). Este processo de endividamento progressivo se estendeu, em diversos modos, pelos vários países com um endividamento de todo o sistema econômico (das empresas, das instituições financeiras, dos estados). Somente nos últimos 10 anos antes da explosão da crise (de 1998 a 2008), o endividamento médio no mundo ocidental cresceu em cerca de 50 porcento. A eclosão da crise (em 2008) produziu efeitos variados nos diversos países de acordo com o modelo de endividamento provocado. Por exemplo, nos Estados Unidos o endividamento foi realizado, sobretudo, pelas famílias, enquanto na Itália, sobretudo,  pelo Estado. A fim de tentar resolver o problema deste endividamento, nos Estados Unidos, se "nacionalizou", progressivamente, o débito (isto é, o Estado absorveu o excesso de débito salvando os bancos que estavam falindo porque as famílias não pagavam as dívidas). Na Europa, mas sobretudo na Itália, se "privatizou" o débito feito pelos governos, bancos e empresas, fazendo o cidadão pagá-lo (através de taxas zero de juros e, agora, com o espectro de uma "patrimoniale" [= imposto que incide sobre os bens imóveis e, mesmo, móveis dos cidadãos. É taxada a riqueza acumulada, mesmo após várias gerações]).


Segunda pergunta:
Como evoluiu esta crise nos últimos três anos?


Resposta: De 2008 até hoje, os países ocidentais endividados prometeram aos cidadãos, e procuraram com expedientes variados, reduzir o débito, sem consegui-lo. Não podiam consegui-lo porque faltavam, sobretudo, os fundamentos do crescimento econômico (o crescimento da população). Os Estados Unidos e os países europeus se recusaram a diminuir o débito através da opção (verdadeira e única) da austeridade (para reconstituir os fundamentos do crescimento e para absorver um crescimento anterior falso e insustentável, tornado débito não pagado) e tentaram vários caminhos. Admitindo que [esses caminhos] eram impraticáveis, quem era e é em posição superior (os Estados Unidos) buscou transferir os seus problemas para outros países menos fortes (europeus). Os bancos dos Estados Unidos, se supõe que para se recuperar e lucrar, começaram a especular sobre os títulos de Estado dos países mais endividados europeus. O primeiro país europeu colocado em dificuldade graças à especulação (obviamente, graças também a desequilíbrios de orçamento e alguns truques para entrar no Euro) foi a Grécia. A incerteza europeia na salvação da Grécia e o seu "default-guiado" [calote conduzido] criou desconfiança sobre a Europa nos mercados internacionais. Esta desconfiança provocou um custo maior progressivo do débito, quando a cada vencimento o débito público devia ser renovado. Mesmo um país como a Itália, que tem um equilíbrio patrimonial do Estado e uma forte poupança privada (que ultrapassa em 5 vezes o débito publico) e é potencialmente solvente, se acha em dificuldade na renovação das emissões, e se depara com a exigência de aumentar o custo dos juros a cada emissão (spread).


Terceira pergunta:
A que ponto da crise estamos hoje?


Resposta: Uma resposta sintética encontra-se num valor significativo e simbólico, ao mesmo tempo: em setembro [2011] os títulos de Estado italianos eram emitidos com taxa de 3,6 porcento, hoje a mais de 6 porcento, quase o dobro. Em julho deste ano, após as incertezas de salvamento da Grécia e o discurso de Obama [presidente dos EUA] sobre o possível calote dos bancos italianos, era evidente que todas as circunstâncias portavam um risco iminente para o nosso país e, por isso, a exigência de intervenções adequadas e imediatas. No entanto, não aconteceram. Não se quis reconhecer que a Itália, como país europeu que aceitou o euro e deveria observar coerentemente as regras impostas para ser "compliant" (conforme as regras acordadas), devia necessariamente respeitá-las para a estabilidade de todo o sistema. Estas regras tinham sido aceitas e não estavam mais em renegociação. Essas regras se concretizavam, e se concretizam, em necessárias reformas. Foi-nos solicitado, não tanto, de reduzir o débito público, mas sim, demonstrar de querer reduzi-lo aplicando reformas orientadas a um maior rigor nas contas e nas prospectivas para o crescimento (carta BCE [Banco Central Europeu]: reforma das aposentadorias, reforma nas leis trabalhistas, liberalizações, combate à evasão fiscal...).
Por que não o fizemos, não obstante o compromisso assumido?
Porque o nosso país [a Itália] tem como problemas estruturais exatamente aqueles onde nos pedem para aplicar as reformas (baixa produtividade, alta rigidez e custo do trabalho, alto gasto público para o welfare de Estado, alta economia subterrânea e evasão fiscal), onde vários setores sociais e políticos têm dificuldade em permitir acordos (sindicatos, partidos políticos, variados lobbies).


Tradução do italiano por Telmo José Amaral de Figueiredo.


Ettore Gotti Tedeschi (nasceu em Pontenure, no dia 3 de março 1945) é um economista e banqueiro italiano. Foi, dentre outras funções no mercado financeiro, o principal executivo do banco Santander na Itália. De 2009 a 2012 desempenhou a função de presidente do Instituto para as Obras de Religão, o IOR, tido como uma espécie de "banco" do Vaticano.
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Fonte: Gianluigi Nuzzi. Sua Santità. Milano: Chiarelettere, 2012. pp. 247-249, nota 6 (edição impressa).