«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

A vitória da teologia da prosperidade [Vale a pena ler!]


JOSÉ EUSTÁQUIO DINIZ ALVES *


A "opção pelos pobres" da Igreja Católica não evita o seu declínio. 
O que se difunde mesmo é a doutrina Joãozinho Trinta: 
"Pobre gosta é de luxo"

José Eustáquio Diniz Alves - demógrafo
Quando eu era criança, mais de 92% da população brasileira era católica. Minha mãe, mulher de pouco estudo e muita fé, me levou para a primeira comunhão, para as missas dominicais e procissões.


Ficou marcado na minha memória uma romaria que fizemos a Congonhas (MG), onde conheci demonstrações de catarse coletiva, além das estátuas de Aleijadinho.


Mas eu não segui os passos do catolicismo. Primeiro, porque não entendia as homilias dos cultos. Segundo, porque o mundo da mística cristã estava muito distante da realidade nua e crua da minha lida diária. A Igreja ajudava pouco.


Existia até uma certa rejeição. Uma brincadeira comum entre os meninos era dizer que "quem chegar por último é mulher do padre" - e era grande o esforço para não ficar para trás. E um pecado: confesso que nossa turma de garotos chegou a praticar bullying contra coroinhas, embora ninguém na época soubesse o significado da palavra.


O fato é que a doutrina católica não foi a referência para o destino da maioria dos meus colegas.
Por meio do ensino público e laico, estudei e aprendi com Max Weber que a realidade da minha infância e adolescência era apenas um pequeno retrato do conflito entre o lado sagrado da religião e o processo de dessacralização do mundo.


Considerando a teoria do sociólogo alemão, os dados do censo 2010 não surpreendem ao mostrar que o Brasil, embora mais evangélico, está ficando menos sacralizado.


O discurso da "opção preferencial pelos pobres" da Igreja Católica não tem sido capaz de evitar o fim do monopólio católico no país. O que se difunde no Brasil é a doutrina de Joãozinho Trinta: "Pobre gosta é de luxo".


A lógica econômica tem prevalecido sobre a dinâmica puramente religiosa. A teologia da prosperidade tem atendido melhor as expectativas de consumo e os interesses egoísticos das diferentes camadas sociais.


Flávio Pierucci - sociólogo (falecido)
Como disse o sociólogo Flávio Pierucci em artigo póstumo: 
a sociedade não precisa mais de um Deus transcendente quando os indivíduos pagam pelos serviços prestados em nome dele e transformam os bens tangíveis em ideal divino.


Atualmente, o que se considera sagrado é o consumo.


O crescimento das correntes evangélicas pentecostais no país tem sido compatível com o fato de que o sagrado está cada vez mais comercializado e dessacralizado. É o Brasil cada vez mais desencantado.


Isso não significa que não seja espantoso, claro, o ritmo com que a Igreja Católica tem perdido adeptos. E a perda tem sido maior entre as mulheres e os jovens. Em tese, é possível estancar essa sangria. Em 2013, o papa vem ao Brasil para falar especialmente às mulheres e jovens.


Será difícil, porém, agradar as mulheres mantendo o sexo feminino excluído da hierarquia eclesiástica. Será difícil atrair jovens proibindo o sexo antes do matrimônio. Será difícil ampliar o número de padres mantendo o celibato religioso - e será quase impossível manter a filiação das pessoas de bom senso enquanto a doutrina católica continuar rejeitando os métodos contraceptivos modernos e proibindo o uso da camisinha, tão importante para evitar doenças sexualmente transmissíveis.


Não será fácil também reverter a debandada do rebanho quando o Vaticano assume na Rio+20 posições anacrônicas, contra os direitos sexuais e reprodutivos.


A Igreja Católica pode virar o jogo, mas terá de mudar o discurso e a prática.


* JOSÉ EUSTÁQUIO DINIZ ALVES, 58 anos, doutor em demografia, é professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE.


Fonte: Folha de S. Paulo - Opinião - Tendências/Debates - Sexta-feira, 6 de julho de 2012 - Pg. A3 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/52906-a-vitoria-da-teologia-da-prosperidade.shtml
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Enquanto isso, do outro lado do oceano Atlântico...


Evangélicos franceses se afastam da teologia da prosperidade

Céline Hoyeau
La Croix (Paris, França)
02-07-2012

O Conselho Nacional dos Evangélicos da França tomou distância da teologia nascida nas correntes pentecostais norte-americanas que coloca em um mesmo plano a salvação cristã e a riqueza material. Um documento oficial, concebido como instrumento destinado às Igrejas evangélicas, foi adotado no fim de maio.


Gloria Copeland - tele-evangelista
Para a "tele-evangelista" norte-americana Gloria Copeland, a equação evangélica é inequívoca: "Dê 10 dólares e você receberá 1.000. Dê 1.000 dólares e você receberá 100 mil... O trecho de Marcos, capítulo 10, versículo 30, é um grande negócio". A afirmação está em God´s Will is Prosperity [A vontade de Deus é prosperidade], o trecho de Marcos é aquele em que Cristo afirma que quem dá irá receber o cêntuplo.


De uma forma igualmente peremptória em God´s Laws of Success [Leis de sucesso divinas], outro "tele-evangelista" norte-americano, Robert Tilton, assegura que "o sucesso está disponível aqui e agora... Depende de você recebê-lo. Se você não conseguir, a culpa é sua e não de Deus".


Essas duas pregações são emblemáticas da "teologia da prosperidade", que floresceu há 50 anos nos ambientes pentecostais dos Estados Unidos. Na França, ela também seduz não só algumas Igrejas surgidas entre os imigrantes, mas também se encontram referências aqui e acolá nos sermões.


O Conselho Nacional dos Evangélicos da França (Cnef), que pretende ser um órgão de regulamentação doutrinal no mundo evangélico francês, considerou necessário distanciar-se oficialmente de tal atitude e dar referências esclarecedoras aos seus membros.


No dia 22 de maio, um estudo de 30 páginas, elaborado por uma comissão de teólogos, foi aprovado por unanimidade por todas as correntes representadas no Conselho: pietistas ortodoxos, batistas, mas também pentecostais e carismáticos pentecostais.


Todos concordam em dizer que a teologia da prosperidade apresenta uma concepção "errônea" da fé, que "distorce" a mensagem evangélica absolutizando certas promessas de bênção da Bíblia e, assim, apresentando perigos reais.


Primeiro erro: a teologia da prosperidade coloca no mesmo plano a salvação e a prosperidade física (saúde) e material (riqueza), enquanto a salvação cristã, que é o "coração" do evangelho "refere-se principalmente à relação com Deus e à reconciliação com ele por meio de Cristo", explica Thierry Huser, pastor da Igreja Batista, um dos elementos-base do texto.


Pior ainda, essa teologia "instrumentaliza" Deus, colocando-o a serviço da prosperidade do fiel: de fato, segundo seus defensores, o fiel deve acreditar que tudo, incluindo a riqueza, lhe foi conquistado por Cristo. Portanto, lhe bastaria manifestar a sua fé na promessa do Evangelho doando dinheiro para obter a recompensa...


Mas, nessa lógica, "a ênfase unilateral sobre a palavra de Deus, cuja eficácia reside na sua força de afirmação, pode levar a ter ´fé na fé´, ao invés de ter ´fé em Deus´", declara o documento, que denuncia uma visão do mundo "próxima do pensamento mágico". "Não se deixa a Deus a liberdade de nos responder diferentemente", completa Thierry Huser. "Deixa-se de lado toda a pedagogia de Deus na nossa vida, que às vezes quer nos dar ensinamentos a partir de situações difíceis".


Thierry Huser - teólogo batista francês
Nesse sentido, se os teólogos da prosperidade chegam às "aspirações profundas" de "pessoas cuja realidade cotidiana é o sofrimento e a miséria", elas são, ao contrário, "marcadas pelo hedonismo da nossa sociedade, que rejeita os limites e o sofrimento", acrescenta Thierry Huser. "Nas nossas Igrejas, acreditamos em um Deus que intervém na nossa vida e pode dar sinais milagrosos da sua ação, mas não é preciso sistematizá-los".


Particularmente perigoso, esse "sistema de sentido único" também é "fonte de profunda desilusão", porque apresenta "falsas promessas". Pior, é muito culpabilizante para o cristão: se ele não é ouvido, é criticado porque a sua fé não é suficientemente forte...


"Os profetas da prosperidade protegem-se, assim, de todo questionamento das suas promessas. Ao contrário, todo o peso do eventual insucesso recai sobre o fiel, que esperou, rezou, doou", deplora o texto do Cnef.


Por fim, um último erro e não menos importante é que os advogados da prosperidade ocultam as recorrentes admoestações de Jesus "contra o amor ao dinheiro e contra a idolatria do sucesso material".


Esse documento não é o primeiro do gênero: ele vem depois da declaração de Lausanne III, aprovada em 2010 por 4.200 lideranças evangélicas do mundo inteiro, em que um parágrafo abordava a teologia da prosperidade.


O compromisso de Lausanne, por sua vez, havia sido preparado por um texto do grupo de trabalho teológico de Lausanne 2008-2009, que, de um modo ainda mais firme e mais claro, deplorava que o evangelho da prosperidade, "ampliando as diversas causas espirituais e demoníacas da pobreza", passa quase despercebidas as suas causas econômicas e sociais.


"Este estudo do Cnef é muito importante, porque a teologia da prosperidade atinge aspirações profundas", observa o padre Michel Mallèvre, diretor do centro ecumênico Istina. "Mas, como contraponto, ele não propõe nenhuma resposta social, não convida a combater a pobreza, justamente em nome da vinda do Reino de Deus". Tal convite seria muito mais do que legítimo, segundo ele, já que há vários anos os evangélicos se lançaram, com o movimento Défi Michée (www.defimichee.fr), em uma campanha internacional de luta contra a pobreza.


Fonte: domtotal.com - Notícias - Religião - 04/07/2012 - Internet: http://www.domtotal.com/noticias/detalhes.php?notId=470353

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