«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Análise da Crise Econômica Atual [Excelente síntese!]

Ettore Gotti Tedeschi *

Este texto do ex-presidente do IOR (Instituto para as Obras de Religião, Vaticano) é uma análise reservada encaminhada ao Secretário particular do papa Bento XVI, Mons. Georg Gänswein, em novembro de 2011. Ele emprega o recurso retórico de três perguntas para tornar mais didática e clara a sua apresentação.
Ettore Gotti Tedeschi - ex-presidente do IOR
Primeira pergunta:
O que provocou a atual crise econômico-financeira?

Resposta: Causou-a uma série de políticas econômicas adotadas progressivamente (nos últimos 30 anos) para sustentar o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nos chamados países ocidentais em consequência da queda da natalidade. Não crescendo a população, o crescimento econômico pode acontecer (após intervenções sobre a produtividade) somente fazendo crescer o consumo per capita. Este crescimento do consumo per capita ocorreu:
a) deslocando (para a Ásia) a produção industrial, reimportada a menores custos para aumentar o poder de compra;
b) endividando as famílias (o famoso consumismo a débito [com o uso de crédito financeiro]). Este processo de endividamento progressivo se estendeu, em diversos modos, pelos vários países com um endividamento de todo o sistema econômico (das empresas, das instituições financeiras, dos estados). Somente nos últimos 10 anos antes da explosão da crise (de 1998 a 2008), o endividamento médio no mundo ocidental cresceu em cerca de 50 porcento. A eclosão da crise (em 2008) produziu efeitos variados nos diversos países de acordo com o modelo de endividamento provocado. Por exemplo, nos Estados Unidos o endividamento foi realizado, sobretudo, pelas famílias, enquanto na Itália, sobretudo,  pelo Estado. A fim de tentar resolver o problema deste endividamento, nos Estados Unidos, se "nacionalizou", progressivamente, o débito (isto é, o Estado absorveu o excesso de débito salvando os bancos que estavam falindo porque as famílias não pagavam as dívidas). Na Europa, mas sobretudo na Itália, se "privatizou" o débito feito pelos governos, bancos e empresas, fazendo o cidadão pagá-lo (através de taxas zero de juros e, agora, com o espectro de uma "patrimoniale" [= imposto que incide sobre os bens imóveis e, mesmo, móveis dos cidadãos. É taxada a riqueza acumulada, mesmo após várias gerações]).


Segunda pergunta:
Como evoluiu esta crise nos últimos três anos?


Resposta: De 2008 até hoje, os países ocidentais endividados prometeram aos cidadãos, e procuraram com expedientes variados, reduzir o débito, sem consegui-lo. Não podiam consegui-lo porque faltavam, sobretudo, os fundamentos do crescimento econômico (o crescimento da população). Os Estados Unidos e os países europeus se recusaram a diminuir o débito através da opção (verdadeira e única) da austeridade (para reconstituir os fundamentos do crescimento e para absorver um crescimento anterior falso e insustentável, tornado débito não pagado) e tentaram vários caminhos. Admitindo que [esses caminhos] eram impraticáveis, quem era e é em posição superior (os Estados Unidos) buscou transferir os seus problemas para outros países menos fortes (europeus). Os bancos dos Estados Unidos, se supõe que para se recuperar e lucrar, começaram a especular sobre os títulos de Estado dos países mais endividados europeus. O primeiro país europeu colocado em dificuldade graças à especulação (obviamente, graças também a desequilíbrios de orçamento e alguns truques para entrar no Euro) foi a Grécia. A incerteza europeia na salvação da Grécia e o seu "default-guiado" [calote conduzido] criou desconfiança sobre a Europa nos mercados internacionais. Esta desconfiança provocou um custo maior progressivo do débito, quando a cada vencimento o débito público devia ser renovado. Mesmo um país como a Itália, que tem um equilíbrio patrimonial do Estado e uma forte poupança privada (que ultrapassa em 5 vezes o débito publico) e é potencialmente solvente, se acha em dificuldade na renovação das emissões, e se depara com a exigência de aumentar o custo dos juros a cada emissão (spread).


Terceira pergunta:
A que ponto da crise estamos hoje?


Resposta: Uma resposta sintética encontra-se num valor significativo e simbólico, ao mesmo tempo: em setembro [2011] os títulos de Estado italianos eram emitidos com taxa de 3,6 porcento, hoje a mais de 6 porcento, quase o dobro. Em julho deste ano, após as incertezas de salvamento da Grécia e o discurso de Obama [presidente dos EUA] sobre o possível calote dos bancos italianos, era evidente que todas as circunstâncias portavam um risco iminente para o nosso país e, por isso, a exigência de intervenções adequadas e imediatas. No entanto, não aconteceram. Não se quis reconhecer que a Itália, como país europeu que aceitou o euro e deveria observar coerentemente as regras impostas para ser "compliant" (conforme as regras acordadas), devia necessariamente respeitá-las para a estabilidade de todo o sistema. Estas regras tinham sido aceitas e não estavam mais em renegociação. Essas regras se concretizavam, e se concretizam, em necessárias reformas. Foi-nos solicitado, não tanto, de reduzir o débito público, mas sim, demonstrar de querer reduzi-lo aplicando reformas orientadas a um maior rigor nas contas e nas prospectivas para o crescimento (carta BCE [Banco Central Europeu]: reforma das aposentadorias, reforma nas leis trabalhistas, liberalizações, combate à evasão fiscal...).
Por que não o fizemos, não obstante o compromisso assumido?
Porque o nosso país [a Itália] tem como problemas estruturais exatamente aqueles onde nos pedem para aplicar as reformas (baixa produtividade, alta rigidez e custo do trabalho, alto gasto público para o welfare de Estado, alta economia subterrânea e evasão fiscal), onde vários setores sociais e políticos têm dificuldade em permitir acordos (sindicatos, partidos políticos, variados lobbies).


Tradução do italiano por Telmo José Amaral de Figueiredo.


Ettore Gotti Tedeschi (nasceu em Pontenure, no dia 3 de março 1945) é um economista e banqueiro italiano. Foi, dentre outras funções no mercado financeiro, o principal executivo do banco Santander na Itália. De 2009 a 2012 desempenhou a função de presidente do Instituto para as Obras de Religão, o IOR, tido como uma espécie de "banco" do Vaticano.
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Fonte: Gianluigi Nuzzi. Sua Santità. Milano: Chiarelettere, 2012. pp. 247-249, nota 6 (edição impressa).

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