«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Massacre no cinema. “A pessoa tem de ser um vencedor a qualquer custo”

Entrevista com:
Renato Piltcher*

Jornal Zero Hora (Porto Alegre - RS)
22-07-2012
Mulher acende vela durante vigília em homenagem às vítimas do massacre
em cinema de Aurora, Colorado (EUA)
Os EUA têm um histórico de episódios semelhantes ao de sexta-feira. Como podemos contextualizar isso?

Renato Piltcher - A humanidade têm um histórico de episódios de violência. Os EUA são um protagonista maior da ideia de que, onde "se não é como eu acho que tem de ser, tenho direito de ir lá, entrar e intervir para que fique como eu acho que tem de ser". Muitas vezes, esse "acho" é imposto em nome da democracia, mas os interesses não são apenas libertadores. A cultura norte-americana tem seus bons e maus aspectos. Tanto ou mais que em outros países, lá vemos a ideia do “vencedor” versus “perdedor” – e a pessoa tem de ser um vencedor a qualquer custo. Como psiquiatra, não posso analisar este caso sem saber detalhes, mas se conhece avaliações de alguns desses atiradores nos quais não se constatou doença mental psicótica clássica, como esquizofrenia, e sim a intenção de ser um “vencedor”, dentro de uma lógica na qual ter alguns minutos de atenção, ou “fama”, traria isto. Levado ao extremo, isso tem trazido atuações graves como esta.

O fato de o crime ter ocorrido no cinema, em um filme do Batman, pode ter algum significado?

Renato Piltcher - Não necessariamente uma relação direta, causal, mas nos permite tecer algumas considerações. Temos visto que algumas características que nos diferenciam dos demais animais (valores humanos como a capacidade de pensar e a intimidade), têm perdido espaço para aparência e ação. A equação de poder e força como sinônimo de felicidade leva muitas pessoas a se distanciarem do que mais nos caracteriza como humanos, que é a cultura e o afeto, diminuindo muito, então, a consideração pelo outro. Isso relativiza e, a meu ver, empobrece a noção de valor da vida. De forma concreta ou simbólica, esses indivíduos estão se matando junto ao cometerem um ato assim.

Episódios semelhantes ao de sexta-feira nos EUA têm ocorrido em lugares diferentes, como na Noruega, no ano passado, e até no Brasil, em 1999 e em 2011.

Renato Piltcher - Isso nos traz o problema da massificação, o problema de achar que todos têm de ser do mesmo jeito: sempre rindo, ter tal altura, cor da pele, etc. Não tolerar as diferenças. E a globalização, cada vez mais, têm querido dizer isso. As mesmas marcas, personagens, atitudes... isso pressiona por uma intolerância à diferença. A globalização tem piorado isso ao pressionar as pessoas para que rotulem e sejam rotuladas como "vencedoras” ou “perdedoras”.

* Membro da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Segunda-feira, 23 de julho de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/511721-massacre-no-cinema-a-pessoa-tem-de-ser-um-vencedor-a-qualquer-custo
_________________________________________

OPINIÃO


Alienação social faz dos EUA um terreno fértil para chacinas

MICHAEL KEPP*

Não é surpresa que chacinas sejam cometidas por brancos de classe média, segmento mais pressionado a ter sucesso


O que mais chamou minha atenção no atirador que ontem matou pelo menos 12 pessoas num cinema do Colorado onde "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge" estava sendo exibido foram a máscara de gás, o colete à prova de balas, o capacete e as três armas que ele usou - incluindo um fuzil.
Uma testemunha disse que ele "parecia preparado para ir à guerra".


Alguns podem dizer que o fato de o atirador parecer um soldado é um reflexo de todas as guerras que minha pátria vem travando, do Vietnã ao Iraque e ao Afeganistão, e de quão fortemente armados estão os seus cidadãos.


Mas há fatores menos óbvios que também fazem dos Estados Unidos um terreno fértil para chacinas.
Acho que a alienação social e a pobreza espiritual necessárias para cometer assassinatos em massa são um produto da cultura americana, mais que de qualquer outra.


É uma sociedade altamente competitiva e individualista, com pouco sentimento de comunidade. Cerca de 25% dos americanos vivem sós.


Não surpreende que as chacinas, incluindo a de ontem no Colorado, sejam quase sempre cometidas por homens brancos de classe média, o segmento da população mais pressionado a ter sucesso e que tem o menor senso de comunidade.


Acho que o Brasil é um terreno menos fértil para franco-atiradores devido ao senso maior de comunidade que existe aqui.
Os únicos crimes dessa natureza dos quais me recordo aqui foram o assassinato de três pessoas e ferimentos em quatro às mãos de um estudante de medicina em um cinema de São Paulo, em 1999, e a morte de 12 crianças e ferimentos em outras 11 numa escola no Rio em 2011, por um ex-aluno de 24 anos.


O atirador de São Paulo era um fanático da internet, solitário, perturbado e de alta classe média, o perfil do atirador americano típico.


O atirador do Rio tinha mais semelhanças com os dois estudantes que mataram 12 de seus colegas e um professor no colégio Columbine, de classe média, em 1999, também no Colorado.


O que esses massacres todos têm em comum: aconteceram em lugares onde as pessoas estavam reunidas. Normalmente nos sentimos mais vulneráveis quando estamos sozinhos.
Mas, em lugares como cinemas, estamos mais vulneráveis juntos. É isso o que é tão assustador nesses crimes todos. É por isso que os americanos podem pensar duas vezes na próxima vez em que quiserem assistir, não apenas a um filme de Batman, mas a qualquer filme.


* MICHAEL KEPP, jornalista americano radicado há 29 anos no Brasil, é autor do livro "Tropeços nos Trópicos - crônicas de um gringo brasileiro" (Record)


Tradução de CLARA ALLAIN.


Fonte: Folha de S. Paulo - Mundo - Sábado, 21 de julho de 2012 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/55685-alienacao-social-faz-dos-eua-um-terreno-fertil-para-chacinas.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.