«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

''A próxima revolução será ambiental''

Antonio Cianciullo
La Repubblica (Roma - Itália)
26.10.2011

O novo livro de Jeremy Rifkin
"Só investindo na economia verde é que teremos futuro"
 "A Itália cortou drasticamente os seus balanços econômicos obedecendo às disposições das finanças internacionais. E agora o que acontece? Ouve-se dizer que ela não é confiável, porque não existem fundos para sustentar o crescimento. Mas esse é um beco sem saída. Não é possível pensar em continuar eliminando postos de trabalho sem que se multipliquem movimentos de revolta como os que estão ganhando espaço na Itália e na Grécia. A Alemanha está demonstrado que um desenvolvimento diferente é possível. Por que vocês não seguem esse caminho?".

Jeremy Rifkin [foto acima], presidente da Foundation on Economic Trends, foi a Roma para apresentar o seu último livro, La terza rivoluzione industriale [trad.: A Terceira Revolução Industrial], publicado pela editora Mondadori [foto ao lado - capa do livro em inglês]. O encontro devia ser um momento de debate acadêmico, mas se tornou parte de uma atualidade dramática.

Eis a entrevista.

A austeridade dos balanços econômicos está equivocada?

Não é a austeridade que está equivocada, é a falta de um plano de desenvolvimento que cria os problemas. Para sair da crise, é preciso de uma visão do futuro. É preciso compreender o nexo entre as três crises que enfrentamos: a financeira, a energética e a ambiental. O carvão e o petróleo, que animaram a primeira e a segunda revoluções industriais, estão em fase de esgotamento, um ciclo de crescimento que se pensava ser inesgotável acabou. E, enquanto isso, surgem os danos ambientais produzidos pelo uso dos combustíveis fósseis, porque o carbono, acumulado debaixo da terra em milhões de anos e de repente liberado na atmosfera, está modificando o clima.

Em suma, temos três crises em vez de uma.

Mas a soma das três crises oferece uma solução possível, contanto que se substitua a esperança ao medo, que se abandone a lógica das proibições e que se olhe para o objetivo a ser alcançado: fazer com que as empresas envolvidas na construção sustentável, nas fontes renováveis, nas telecomunicações, na química verde, na logística de emissão zero, na agricultura biológica decolem. A defesa do ambiente é um formidável motor de desenvolvimento e de emprego, não um fardo: na Itália, pode dar centenas de milhares de postos de trabalho.

No entanto, muitos, tendo que cortar gastos, fazem com que o machado caia justamente sobre os investimentos ambientais: o governo italiano chegou a reduzi-los em 90%.

Isso significa cortar o futuro, continuar atolado. É preciso fazer o contrário: levar a economia para o lado do novo, porque estamos no meio de uma passagem epocal, o salto da segunda para a terceira revolução industrial
O novo modelo se baseia em cinco pilares: 

  • as fontes renováveis
  • a transformação das casas em centros de produção de energia graças às microcentrais domésticas; 
  • o hidrogênio para armazenar a energia fornecida pelo sol e pelo vento durante os horários de pico; 
  • a criação das “smart grids” [trad.: redes inteligentes], que são a internet de energia
  • os carros elétricos. 
É uma revolução que se completará até a metade do século.

Tempos longos não desencorajam os investimentos imediatos?

Não, porque o processo já começou, e tanto os perigos a serem evitados como as vantagens a serem obtidas estão presentes aqui e agora. Dos anos 1970 até hoje, o número dos furacões mais graves dobrou. E, em agosto de 2008, pela primeira vez desde 125 mil anos, foi possível navegar ao redor do Polo Norte, porque as geleiras haviam derretido.

E as vantagens?

Dou um par de exemplos. Tornar mais eficientes as casas nos Estados Unidos custaria 100 bilhões de dólares por ano, mas permitiria economizar energia por 163 bilhões de dólares por ano. E a mobilidade, na era em que a atenção se desloca da propriedade para o acesso às redes, oferece oportunidades semelhantes. A Zipcar, a empresa mais importante de compartilhamento de carros, em uma década de atividade, abriu milhares de sedes para disponibilizar os carros compartilhados aos seus clientes: ela cresce 30% ao ano e, em 2009, faturou 130 milhões de dólares.

Não há o risco de que essa perspectiva fascine os países mais industrializados, enquanto os outros continuam produzindo e poluindo no caminho antigo?

Os fatos nos contam uma história diferente: na China, multiplicam-se as batalhas para conquistar um espaço livre dentro das redes globais; no norte da África, vimos que ditaduras brutais foram derrubadas através das mídias sociais. O poder lateral, isto é, o direito ao acesso às redes da informação e da energia é a nova fronteira para mobilizar a geração da internet. Hoje, o confronto não é entre esquerda e direita, mas sim entre um modelo centralizado, autoritário e ineficiente, e um modelo baseado na descentralização, na transparência e na liberdade de acesso às redes.


Tradução de Moisés Sbardelotto.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 31/10/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=48921

"Ameaças levam professor ao esgotamento"

Márcia Vieira
RIO

Especialista, que atende docentes com estresse pós-traumático, diz que não há vida saudável com violência e sofrimento

Vera Lemgruber, chefe do setor de Psicoterapia da Santa Casa de Misericórdia, abriu as portas para o tratamento gratuito de uma professora. E no rastro vieram outras oito, com os mesmos sintomas.


Metade delas foi diagnosticada com síndrome do estresse pós-traumático. As outras tinham depressão ou sofriam de estresse agudo.


Nesta entrevista ao Estado, a especialista ajuda a entender a doença, motivada por episódios ameaçadores e composta de três aspectos diferentes: revivência da ameaça, reação semelhante a um ataque de pânico e retração social.


O que provoca a síndrome do estresse pós-traumático?


O fator estressante tem de ser considerado muito grave para a maioria dos seres humanos. Essas reações ocorrem depois de guerras, estupros, ocorrências de violência doméstica, assaltos, sequestros ou qualquer episódio de agressão em que você se sinta ameaçado.


Como a síndrome do estresse pós-traumático se manifesta?


A reação do paciente envolve três aspectos: 

  • O primeiro é o flashback. A pessoa revive a ameaça, como se ela estivesse acontecendo de novo. É o caso de um ex-combatente de guerra que revive a batalha ao ouvir um estrondo qualquer.
  • O segundo é uma reação muito forte do sistema nervoso, que provoca uma descarga de adrenalina e também elevação de batimentos cardíacos, tremores, sensação de desmaio. É como se a pessoa estivesse tendo um ataque de pânico.
  • E o terceiro é o ensimesmamento, a pessoa se retrai socialmente.

Uma pessoa pode passar por essas situações de ameaça à vida e conseguir não desenvolver a síndrome do estresse pós-traumático?


Pode. A probabilidade de desenvolver a síndrome do estresse pós-traumático é pequena, de apenas uns 5%.
O ser humano tem uma capacidade de adaptabilidade darwiniana. Nós somos bichos. É a lei da sobrevivência.
O que determina se uma pessoa vai ter ou não a síndrome do estresse pós-traumático é a vulnerabilidade pessoal, que pode ser genética ou da própria experiência de vida. O tratamento é terapia e medicação.


Por que estas professoras desenvolveram a síndrome do estresse pós-traumático?


As condições na escola não são favoráveis. Elas sofrem com um estresse muito grande. Mas o mais comum é desenvolverem o burnout, uma reação de esgotamento agudo. Algumas profissionais são mais sensíveis a isso. São anos de sofrimento.
É como o jovem que trabalha no mercado financeiro. Ele vive estressado, mas tem recompensa financeira. Enquanto o professor não tem dinheiro, não tem formas de compensações, como viajar nas férias.
O Estado poderia minimizar o sofrimento. Não é só dinheiro que compensa o estresse. Se elas tivessem respeito e reconhecimento da sociedade, se os colégios fossem mais decentes, elas ficariam melhores. Mas vai chegando a um ponto em que fica tudo insuportável. E aí elas adoecem.


Fonte: O Estado de S. Paulo - Vida - Domingo, 30 de outubro de 2011 - Pg. A25 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,ameacas-levam-professor-ao-esgotamento-,792385,0.htm

sábado, 29 de outubro de 2011

Messianismo em um mundo destroçado

Luis S. Krausz *

A obra de pensadores judeus modernos - como Walter Benjamin, Gershom Scholem e Martin Buber -, expressão de um olhar utópico numa época de caos, é o tema de "Testemunhas do Futuro", de Pierre Bouretz


Em Testemunhas do Futuro, Pierre Bouretz [foto ao lado] discute, em seu contexto histórico e biográfico, as obras de grandes pensadores judeus da modernidade, dentre os quais Hermann Cohen (1842- 1918), Franz Rosenzweig (1886-1929), Walter Benjamin (1892-1940), Gershom Scholem (1897-1982) e Martin Buber (1878- 1965). Formados pela fecunda intersecção entre cultura humanística alemã e pensamento judaico, são autores que, de uma forma ou de outra, defrontaram-se com a falência das promessas de uma época em que se imaginava testemunhar uma marcha triunfal da história, sustentada pelo domínio da razão, que no entanto conduziu às catástrofes do século 20, que dele fariam o lugar de sepultamento do futuro. Os filósofos abordados por Bouretz, porém, perseveram na dimensão utópica e a reintroduzem em suas reflexões sobre a história num mundo desencantado, o que confere às suas filosofias o traço comum do messianismo.


A questão dos estados nacionais, e em particular a crise de identidade alemã, associada ao seu processo de unificação, é o pano de fundo das reflexões de Hermann Cohen [foto ao lado], pertencente a uma geração debruçada sobre os dilemas concernentes ao lugar dos judeus de uma Europa moderna, que não mais os confinava a guetos. Cohen foi sistematizador do monoteísmo ético e buscou por imperativos universais que permitissem uma vida digna em sociedade. Comprometido com a justiça de um sistema de valores de raiz bíblica, advogava a fusão entre germanidade e judaísmo, opondo-se à visão da reforma judaica, que apontava para a integração à nacionalidade alemã e para o abandono de especificidades, crenças e costumes. Revoltado com uma emancipação que trazia consigo a transformação do judaísmo em mero objeto de estudo histórico, sem relevância para a vida moderna, reavaliou as fontes judaicas para fazer delas portadoras de uma ética passível de reconciliação com o idealismo alemão, e para estabelecer fundamentos éticos "humanos" capazes de fazer da cultura ocidental a sede de uma vocação messiânica, doravante não mais exclusiva dos judeus. O messianismo de Cohen, cuja obra máxima leva o título de A Religião da Razão extraída das Fontes do Judaísmo, insere-se, portanto, num projeto de redenção universal, promessa que a 1.ª Guerra Mundial, por ele testemunhada, não tardaria em desmentir.


Já o caminho percorrido por Franz Rosenzweig [foto ao lado], que foi aluno de Cohen, partiu da aridez desse mesmo judaísmo alemão emancipado e fundamentado na hegemonia da razão para um movimento de assimilação à sociedade cristã. E daí, depois de uma experiência mística nas trincheiras da 1.ª Guerra Mundial, à redescoberta das doutrinas judaicas. Buscou conciliar a filosofia de Hegel com a crença absoluta na Revelação como caminho para a redenção do mundo - que se torna, em seu pensamento, conforme formulado em A Estrela da Redenção, o propósito máximo do judaísmo. A partir daí, sua vida passa a gravitar em torno de uma religiosidade existencial, fundamentada no reconhecimento das experiências do inexplicável, e afasta-se do racionalismo e do idealismo filosófico ao mesmo tempo em que retoma o tema profético da ligação do povo de Israel com a terra de seus ancestrais.
Martin Buber, que colaborou com Rosenzweig numa notável tradução ao alemão da Bíblia Hebraica, esteve entre os primeiros autores a desafiar a opinião predominante entre os europeus "civilizados" a respeito dos judeus do Leste da Europa, e em particular a respeito daquela figura sobre a qual se projetavam todos os estereótipos de barbárie e superstição, o Hassid ou seguidor de um rabi milagroso, contra a qual invectivou o judaísmo ocidental do século 19, vendo nele a antípoda da Bildung e da civilização. 
Nascido em Viena, Buber [foto ao lado] foi criado pelo avô em Lemberg (hoje L’vov, Ucrânia), na Galícia austro-húngara, então posto avançado do iluminismo judaico no Leste do Império, sede de uma universidade de língua alemã, mas também localidade em que a tradição dos pietistas emanava das inúmeras aldeias judaicas circundantes, cada qual com sua corte hassídica. Seu avô era defensor do ideário iluminista e, sintomaticamente, a primeira edição de lendas hassídicas, intitulada Histórias do Rabi Nachman, compilada por Buber e publicada em 1906, trazia a seguinte dedicatória: "Ao meu avô, Salomon Buber, o último mestre da antiga Haskalá, dedico este trabalho sobre o Hassidismo com respeito e amor".


Buber propõe aqui uma transcendência da polaridade entre iluministas e pietistas, que traduz seu empenho pela criação de uma nova especificidade judaica num momento em que, na Alemanha e na Áustria, despontava o interesse generalizado por misticismos, fenômenos religiosos e tradições extáticas. Se o fin de siècle e o esgotamento provocado por uma cultura da "normalidade" foi pródigo em vertentes espiritualistas que buscavam recuperar o entusiasmo e a alegria de viver, a influência de Nietzsche marcou esta ânsia pelo místico e pelo mitológico, na qual Buber insere seu mergulho no universo de uma corrente panteísta e mesmo dionisíaca do judaísmo, que ele verá não mais como apostasia, conforme a visão da reforma judaica tanto quanto da ortodoxia escolástica, mas como pura expressão de religião viva e de um romantismo tardio, compreendido como antídoto para a náusea da civilização.


Dos pensadores abordados neste estudo, Walter Benjamin [foto ao lado] certamente é o mais influente na atualidade e o capítulo a ele dedicado destaca a influência de tradições do judaísmo sobre seus escritos. Segundo seu amigo e correspondente Gershom Scholem, Benjamin lutou para conciliar as heranças contraditórias da cultura alemã e judaica e, se tinha o intuito de desviar-se do universo europeu para dar curso aos estudos judaicos, projetando, inclusive, mudar-se para o que era então o embrião do Estado de Israel nos anos de avanço do nazismo na Alemanha, nunca conseguiu desvencilhar-se dos temas franceses e alemães, que o prenderão emocional e fisicamente ao seu continente de nascença e o ocuparão até o momento de sua morte trágica quando tentava escapar da França de Vichy e da deportação. Sua atração pelo marxismo, e ao mesmo tempo pelo messianismo, faz de seu pensamento uma arena onde se confrontam as dimensões da teologia e da política, parcialmente reconciliadas pela ideia judaica de que a organização da sociedade humana é capaz de propiciar a chegada da redenção. Pensador metafísico numa era em que a Europa dava as costas à filosofia, Benjamin viveu preocupado com a busca pelo resgate da experiência original. Foi um estrangeiro no mundo e no tempo, lançado do século 19 para o século 20 como a um país estranho. Seu desprezo pela sociedade burguesa, sua busca pela religião como ordem suprema e sua escuta poética do mundo lhe proporcionaram uma vida de "vitórias de pormenores às quais correspondem derrotas em grande escala". Mas legaram à posteridade interpretações da cultura contemporânea sempre atuais, e de espantosa lucidez.


O mais notável dos redescobridores das tradições ocultas da história judaica, Gershom Scholem [foto ao lado], veio, igualmente, de um ambiente marcado pelos constrangimentos impostos aos judeus desejosos de integração na cultura alemã. Libertou-se do mundo sufocante de seus pais para mergulhar de cabeça numa trajetória de pesquisa acadêmica de absoluta originalidade, junto à recém-criada Universidade Hebraica, em Jerusalém, onde chegou em 1923 para logo dedicar-se ao estudo de tratados místicos hebraicos vindos de todos os cantos da diáspora judaica, trazidos por gente que vinha à cidade para orar, estudar e morrer. Seu entusiasmo acadêmico por um aspecto da tradição desprezado pelos velhos sábios do racionalismo alemão teve como contrapartida o convívio com os pioneiros do sionismo, sobretudo vindos da Rússia e da antiga Galicia austro-húngara. Completava-se, assim, o périplo que teve início quando o jovem Scholem deixou a casa paterna em Berlim para mudar-se para a Pensão Struck, onde conviveu com intelectuais recém-chegados da Europa do Leste - dentre os quais o escritor e futuro prêmio Nobel S.Y. Agnon - cuja cultura ele vira como essência de um judaísmo vivo, capaz de fazer reviver o esqueleto de um judaísmo transformado em tradução de um mundo burocratizado.


O volume (de 1.200 páginas!) traz, ainda, capítulos extensos dedicados a Ernst Bloch (1885-1977); Leo Strauss (1899- 1973); Hans Jonas (1903-1994) e Emmanuel Lévinas (1905-1995 - foto ao lado). É uma muito bem-vinda e muito bem editada aproximação ao pensamento de criadores de filosofias judaicas contemporâneas, que funciona como introdução e comentário a um vasto corpus, composto sob o signo da convicção de que o judaísmo tem algo a contribuir para o avanço e para o aperfeiçoamento do mundo. E de todos seus habitantes.


Tradução como busca da linguagem do jardim do éden


Um dos múltiplos aspectos da obra de Walter Benjamin destacados por Pierre Bouretz é sua teoria da tradução, atividade que ele vê como um gesto no sentido da reparação da linguagem original, adâmica. Transitar entre idiomas seria, assim, uma oportunidade para passar mais perto da sede perdida da língua original, o que significaria se aproximar das origens do mundo espiritual. Atribuir tal status a uma tarefa muitas vezes vista como uma atividade menor é algo que Benjamin fez em um de seus ensaios de juventude, A Tarefa do Tradutor, publicado pela Editora 34, em tradução de Susana Kampff Lages e Ernani Chaves, no volume Escritos sobre Mito e Linguagem, organizado por Jeanne Marie Gagnebin. Exemplo da escrita deliberadamente difícil do autor, este ensaio antecipa muitos dos polos em torno dos quais gravitará seu pensamento.


* LUIS S. KRAUSZ É ESCRITOR E PROFESSOR DE LITERATURA HEBRAICA E JUDAICA NA USP.


TESTEMUNHAS DO FUTURO
Autor: Pierre Bouretz
Tradução: Jacó Guinsburg, Fany Kon e Vera Lúcia Felício
Editora: Perspectiva
Páginas: 1.189
Preço: 185,00


Fonte: O Estado de S. Paulo - Sabático - Sábado, 29 de outubro de 2011 - Pg. S3 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,messianismo-em-um-mundo-destrocado,791926,0.htm

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Homilia: 31º Domingo do Tempo Comum – Ano Litúrgico “A”

José Antonio Pagola*

Evangelho: Mateus 23,1-12

EM ATITUDE DE CONVERSÃO


Jesus fala com indignação profética. Seu discurso dirigido ao povo e aos seus discípulos é uma dura crítica aos dirigentes religiosos de Israel. Mateus o aplica para a década de oitenta a fim de que os dirigentes da Igreja cristã não caiam em condutas parecidas.


Podemos recordar, hoje, as recriminações de Jesus com paz, em atitude de conversão, sem ânimo algum de polêmicas estéreis? Suas palavras são um convite para que bispos, presbíteros [padres] e todos aqueles que possuímos responsabilidade eclesial façamos uma revisão de nossa atuação.


Não fazem o que dizem. Nosso maior pecado é a incoerência. Não vivemos o que pregamos. Temos poder, porém nos falta autoridade. Nossa conduta nos desacredita. Nosso exemplo de vida mais evangélica mudaria o clima em muitas comunidades cristãs.


Amarram fardos pesados e os põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com um dedo se dispõem a movê-los[trad.: Bíblia de Jerusalém, Paulus, 2002]. É verdade. Com frequência, somos exigentes e severos com os demais, compreensíveis e indulgentes com nós mesmos. Sobrecarregamos as pessoas simples com nossas exigências, porém não lhes facilitamos a acolhida do Evangelho. Não somos como Jesus que se preocupava de tornar leve o seu fardo, pois era simples e humilde de coração.


Praticam todas as suas ações com o fim de serem vistos pelos homens. Não podemos negar que é muito fácil viver pela nossa imagem, buscando quase sempre “ficar bem” perante os demais. Não vivemos com Deus, que vê em segredo. Estamos mais atentos ao nosso prestígio pessoal.


Gostam dos primeiros lugares e dos assentos de honra... e de receber saudações nas praças públicas. Envergonha-nos confessar, mas gostamos. Buscamos ser tratados de maneira especial, não como um irmão a mais. Existe algo mais ridículo do que uma testemunha de Jesus buscar ser distinguida e reverenciada pela comunidade cristã?


Não permitais que vos chamem ‘Rabi’ [mestre]... nem ‘Guias’... pois um só é o vosso Mestre e vosso Guia, Cristo. O mandato evangélico não pode ser mais claro: renunciai aos títulos para não fazerdes sombra a Cristo; orientai a atenção dos fiéis somente para Ele. Por que a Igreja não faz nada para suprimir tantos títulos, prerrogativas, honras e dignidades a fim de melhor mostrar o rosto humilde e próximo de Jesus?


A ninguém na terra chameis ‘Pai’, pois só tendes o Pai Celeste. Para Jesus, o título de Pai é tão único, profundo e cativante que não deve ser utilizado por ninguém na comunidade cristã. Por que o permitimos?

Tradução: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.


* José Antonio Pagola é sacerdote espanhol. Licenciado (= mestrado) em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (1965), Diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no Seminário de San Sebastián e na Faculdade de Teologia do norte da Espanha (sede de Vitoria). Desempenhou o encargo de reitor do Seminário diocesano de San Sebastián e, sobretudo, o de Vigário Geral da diocese San Sebastián (Espanha). É autor de vários ensaios e artigos, especialmente o famoso livro: Jesus - Aproximação Histórica (publicado no Brasil por Editora Vozes, 2010).

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - 25 de outubro de 2011 - 17h27 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php
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APROFUNDANDO O EVANGELHO DESTE DOMINGO
Mateus 23,1-12

Pe. Fabien Deleclos - Franciscano
(Bélgica: 1925 - 2008)

“Ai daqueles que usaram de Deus em seu benefício!”. É por esta advertência severa que o Missal Emaús* introduz a liturgia deste domingo. Esclarecendo que “a tentação de utilizar em proveito próprio a religião ameaça todos os crentes”. Dentre os quais nos situamos. E o missal aponta o dedo aos “bien-pensants” (conformistas), suficientemente orgulhosos por se considerar “como os detentores da verdade”, ao ponto de “esmagar as pretensões de pessoas simples, que têm sede de espiritualidade autêntica”.


Esses propósitos violentos são ilustrados pelo profeta Malaquias, o qual se dirige, primeiramente, aos sacerdotes, depois ao povo. Paulo, posteriormente, testemunha: Eu não sou menos exigente comigo mesmo que com os outros, os quais eu trato com a doçura de uma mãe. Quanto a Jesus, ele fustiga os guardiões da Lei que ensinam muito bem o que se deve fazer, mas sem eles mesmos o praticarem! Ou ainda, que dão prioridade absoluta à letra antes que ao espírito. Ora, a verdadeira fidelidade não é uma submissão cega ou preguiçosa, como aquela dos escravos em relação a seu mestre ou seu guru. Ela é, ao contrário, “dinâmica e criativa”.


Assim, para que serve esta Lei apresentada como Lei de Deus? Para suscitar a confiança e lhe exprimir nosso amor. Mas, segundo o livro de Malaquias, no quinto século antes de Jesus Cristo, sacerdotes do Templo haviam feito da Lei santa “uma ocasião de queda para a multidão”. Um obstáculo! O novo Templo [de Jerusalém] era magnífico, as cerimônias deslumbrantes, mas sem efeito sobre a vida. Um culto “degenerado e pervertido” porque desmentido pelo comportamento cotidiano.


Jesus, também, interpela aqueles que tinham a missão de ensinar a Lei e as prescrições de Moisés nos “púlpitos” das sinagogas. Por quê? Eles oprimiram os fiéis com leis e regras tão pesadas quanto detalhistas, às vezes, absolutamente inúteis. E, ainda por cima, eles as impunham sem que eles mesmos as observassem. “Eles dizem e não fazem”.


Vistos exteriormente, eles transbordam de piedade e de práticas ostentatórias, mas eles são sem uma verdadeira ligação com a encarnação da fé. Além disso, eles brandiam constantemente a letra antes que o espírito, o direito e o dogma antes que o amor e a justiça. Exatamente ao contrário de Jesus que “cumpre a Lei com brandura, cheio de atenção para com aqueles e aquelas que sofrem”.


Isso quer dizer que eu tenho e que todos nós temos uma grande necessidade de lições de humildade e de verdadeira humanidade.


Jesus, escreve Anselm Grün, um místico de nosso tempo, “quer uma teologia da misericórdia e não do desprezo. Uma moral compreensível, não uma moral que escraviza e suscita a má consciência” (A. Grün, Evangile de Matthieu [Evangelho de Mateus], p. 102, Ed. Bayard).


No nono século, numa época em que os clérigos já tinham monopolizado os ministérios e as responsabilidades na Igreja, são Pascásio dizia a propósito deste evangelho: “O Senhor... prescreve a todos de não se deixar dominar pela avidez em procurar as honras”. Ao contrário, o que é necessário buscar é “ajudar e servir todos os seres humanos, antes que ser ajudado e servido por todos. Porque o desejo de ser servido procede do orgulho farisaico e o desejo de servir nasce da sabedoria e do ensinamento de Cristo”.


É, justamente, deste espírito de serviço que Paulo podia se gloriar. Hoje, as responsabilidades de serviço na Igreja são mais compartilhadas. Mas, também, o gosto do poder e dos privilégios, sempre acompanhados de ambição e de autoritarismo. Ninguém está imune disso, seja um cardeal ou bispo, padre, catequista ou encarregado da menor responsabilidade pastoral. Isso vale, igualmente, para as responsabilidades políticas, sociais, culturais ou aquelas dos simples cidadãos.


O padre Lebret, inspirador da encíclica sobre “O desenvolvimento dos povos” (Populorum progressio), assinada por Paulo VI em 1967, escrevia a propósito dos conformistas [“bien-pensants”]: 


“Muitos têm um cristianismo de fachada, convencional... A alma está vazia do Evangelho... Para eles, não se trata, antes de tudo, do grande combate da fé, da batalha pela justiça, do amor efetivo aos seus irmãos e irmãs humanos... Tendo conduzido o mundo a seu serviço, eles são eternamente conservadores, para quem o problema principal é a conservação de privilégios... Eles não estão mais centrados no serviço... Eles não têm a angústia da miséria humana. Convictos da justiça de sua causa que eles confundem com a causa de Deus”. 
Não digamos muito depressa: isto não é para mim. Isso merece, em todo caso, reflexão.


O Evangelho da paz, de fato, nos convida constantemente à comunhão de amor e de justiça, com muita humanidade, sem o que não há fidelidade possível a Deus e à sua Aliança. A Boa Nova do Verbo, Palavra e Pão partilhado, deve ser transmitida por palavras e atos, para que possamos cantar com o Salmo: “Fidelidade e verdade se encontram. Paz e justiça se abraçam” (Sl 85,84).


Nós temos, certamente, muito trabalho pela frente!


Tradução: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.


* Título da obra: Le Missel Emmaüs des Dimanches. Par Jean-Pierre Bagot (trad.). Desclée de Brouwer, 2007 (original - italiano: San Paolo, 1987).


Fonte: La Libre Belgique - Paroles du Dimanche - 25/10/2011 - Internet: http://parolesdudimanche.blogs.lalibre.be/

''No fim, é sempre a velha e querida agricultura que nos salva''

Carlo Petrini *
La Repubblica (Roma - Itália) 
23.10.2011

Assumindo que qualquer previsão sobre como será o mundo daqui a 200 anos é um exercício que se deixa com prazer aos prêmios Nobel, a visão do novo livro de Robert B. Laughlin** oferece intuições interessantes. O tema é a energia, mas sobretudo a agricultura. A agricultura tão maltratada, considerada por muitos como um setor marginal, dada tão por óbvio a ponto de ser negligenciada, deixada por muito tempo e com menos poder nas mãos de um sistema agroindustrial global que acabou colocando-a de joelhos, antes nos países pobres e agora também nos ricos. E sempre com efeitos nefastos para o ambiente, agricultores e consumidores.

Laughlin [foto ao lado] defende que, em dois séculos, a agricultura será fundamental para continuar garantindo-nos a vida. Ele diz que o setor agrícola será o principal produtor de energia na era pós-fóssil. A ideia de cultivar oceanos e desertos, para não fazer com que alimentos e energia entrem em competição, é muito fascinante e nem tanto de ficção científica. Mas devemos lembrar que o próprio alimento é energia, porque nos alimenta e nos faz mover, e porque cresce graças à fotossíntese da clorofila, portanto, à energia do Sol. A agricultura sempre foi, é hoje e sempre será o que nos garante a vida.

Tendo-se tomado consciência desse pressuposto banal, mas muitas vezes muito esquecido, deve-se fazer um discurso sobre como deveria ser o futuro da agricultura. O fato de se ter que mudar profundamente, que se deve renová-la é um ato necessário, até por causa do evidente fracasso do modelo intensivo-industrial que dominou a última metade do século. Que a interação entre produção de alimentos e produção de energia já está nas coisas é demonstrado, além disso, pela forma como muitas empresas agrícolas já fazem as duas coisas ao mesmo tempo facilmente.

O problema é que, quando prevalecem a concentração, a perseguição de supostas economias de escala, a ideia pela qual a agricultura é como qualquer um dos setores industriais – e responde às mesmas leis econômico-produtivas –, alimentos e energia sempre estarão em competição entre si.

Não se deve fazer "alimentos ou energia", mas sim "alimentos e energia". 


Podemos cultivar os oceanos, os desertos e também outros planetas, mas sem mudar o nosso modo de pensar continuaremos sempre resolvendo um problema criando outro.

Estou certo de que haverá inovações importantes no campo energético e tecnologias cada vez mais limpas para explorar direta ou indiretamente a energia solar (a única central verdadeira, enorme, segura, perene que faz chover sobre nós, a todo o momento, enormes quantidades de energia) com todas as formas que dela derivam. Mas será preciso a consciência de que tudo isso deve ser realizado em um sistema complexo que não deverá mais ser governado de maneira centralizada. Será preciso um sistema capilar, difuso, em que as comunidades e as pessoas se tornem produtoras de alimentos e de energia, acima de tudo para si mesmas e depois para os outros, em rede entre si.

É necessária uma democratização da produção energético-agrícola, com tecnologias acessíveis que se deem como objetivo primário a sustentabilidade dos processos e não a possibilidade de realizar especulações. Já vemos agora como o biogás e a energia fotovoltaica, que poderiam ser modos perfeitos para integrar a produção agrícola em nível empresarial, em nome do lucro e dos grandes números, podem se tornar altamente insustentáveis, pondo-se como alternativas e não complementares a uma agricultura que, assim como é, se tornará sempre perdedora, já que não consegue mais gerar uma renda digna para os agricultores.

Garantir o futuro não será tanto uma questão de quais tecnologias inventamos para nós, mas sim em qual paradigma queremos que elas caiam.

* Carlo Petrini é italiano e chef fundador do movimento Slow Food [trad. livre: Comida Lenta]. O Slow Food é uma associação internacional sem fins lucrativos fundada em 1989 como resposta aos efeitos padronizantes do fast food [alimentação rápida à base de lanches e coisas do gênero]; ao ritmo frenético da vida atual; ao desaparecimento das tradições culinárias regionais; ao decrescente interesse das pessoas na sua alimentação, na procedência e sabor dos alimentos e em como nossa escolha alimentar pode afetar o mundo. O Slow Food segue o conceito da ecogastronomia, conjugando o prazer e a alimentação com consciência e responsabilidade, reconhecendo as fortes conexões entre o prato e o planeta. Hoje conta com mais de 100.000 associados. O site brasileiro dessa associação é: http://www.slowfoodbrasil.com/.

** Powering the Future: How We Will (Eventually) Solve the Energy Crisis and Fuel the Civilization of Tomorrow. New York: Basic Books (Perseus Books Group), september 2011 [Trad. livre: Provendo a Energia do Futuro: Como nós (eventualmente) resolveremos a crise energética e de combustíveis da civilização de amanhã].

Tradução de Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 28/10/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=48819

"Lobby judaico" e eleição fazem Obama hesitar, diz Carter

PATRÍCIA CAMPOS MELLO 
ENVIADA ESPECIAL AO RIO


Para ex-presidente dos EUA, atual mandatário, que tentará se reeleger em 2012, cede a pressões em sua política para o Oriente Médio

Pressionado pelo "lobby judaico" e pela proximidade das eleições, o presidente americano, Barack Obama, abandonou uma política correta para o Oriente Médio e passou a endossar as ambições de Israel de constituir um único Estado na região.


É assim, sem papas na língua, que o ex-presidente americano Jimmy Carter (1977-81: foto ao lado), do Partido Democrata, o mesmo de Obama, expressa sua insatisfação com a política externa dos EUA.


Ganhador do Nobel da Paz em 2002, Carter, 87, esteve no Rio para a reunião do The Elders [trad. livre: Os Anciãos] . Fundado por Nelson Mandela em 2007, o grupo reúne líderes como Carter e o sul-africano Desmond Tutu, que rodam o mundo tentando mediar grandes conflitos.

O Brasil não acatou recomendações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA em relação à usina de Belo Monte e mantém seu embaixador na OEA, Ruy Casaes, afastado há seis meses. É motivo de preocupação?


Quando eu era presidente, os EUA sempre fizeram questão de honrar todas as decisões da comissão, e nós ficamos muito alarmados quando [o ex-presidente do Peru Alberto] Fujimori as rejeitou, há alguns anos.
Também ficamos muito apreensivos quando o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, rejeitou que o ex-prefeito Leopoldo López pudesse concorrer à Presidência. Fiquei muito surpreso ao saber que o Brasil também rejeitara decisão da comissão.
Não sei detalhes sobre a obra da usina, e entendo que a presidente Dilma está envolvida no projeto há anos. 
Conversamos com o chanceler [Antonio] Patriota sobre isso -segundo ele, a comissão exige que o Brasil faça várias coisas que já está fazendo.
De qualquer modo, fico muito preocupado com o fato de o Brasil, o mais poderoso país da América Latina, rejeitar decisões da comissão. Não quero que ela tenha sua influência reduzida em países que realmente deveriam cumprir suas recomendações.


Os EUA deveriam ter apoiado o pleito dos palestinos na ONU para que a entidade reconheça o Estado palestino como membro pleno?


Sim. O presidente Obama fez dois ótimos discursos: um em 2009, no Cairo, de diálogo com o mundo árabe, e um em maio, no qual disse que as fronteiras de 1967 deveriam ser mantidas com mudanças moderadas, acordadas por negociação. Esses discursos refletem de forma fiel o direito internacional e são políticas corretas do meu país.
Recentemente, porém, em várias decisões e em discurso na Assembleia Geral da ONU, Obama mudou sua abordagem. Hoje, não sei exatamente qual é a política do meu país para o Oriente Médio
O governo dos EUA está endossando a decisão de Israel de abandonar a solução de dois Estados. As políticas do premiê Benjamin Netanyahu [foto ao lado] visam estabelecer um único Estado, com Israel controlando todo o território entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo.


Por que o senhor acha que mudou a postura do presidente Obama em relação ao Oriente Médio? Isso está relacionado às eleições de 2012?


Sim, está. Existe uma enorme pressão do lobby judaico, de Israel, no meu país; é um grupo de interesse forte.
E eu acho que a maioria dos cidadãos judeus americanos é a favor da solução com dois Estados e concorda comigo, com as resoluções da ONU e com meu livro ["Palestine: Peace Not Apartheid", que causou enorme controvérsia nos EUA; Carter foi chamado de antissemita].
Mas hoje estamos apoiando uma política de promoção de apenas um Estado, em vez de dois, e isso vai ser uma tragédia para Israel. A minha principal meta de política externa sempre foi e continua sendo levar a paz a Israel.


O senhor esteve envolvido em negociações com líderes do Hamas para a libertação do soldado Gilad Shalit, em troca de prisioneiros palestinos. A troca acaba de ser feita com sucesso, e Netanyahu a contabiliza como grande vitória.


Eu sei exatamente qual era a oferta há dois anos; ela foi orquestrada pelo Egito. Netanyahu finalmente cedeu. Ele simplesmente disse sim a uma oferta que estava esperando por ele há dois anos.
A troca é positiva: muitos desses palestinos presos pelos israelenses eram mulheres e crianças. A certa altura, Israel tinha 11,6 mil prisioneiros palestinos; ainda tem muitos. Gostaria de ver mais mulheres e crianças soltas.


O sr. está decepcionado porque a prisão de Guantánamo [foto ao lado] ainda não foi fechada e há um aprofundamento pelo governo Obama de algumas das políticas da "guerra ao terror" de George W. Bush?


Sim, ele prometera [fechar Guantánamo] de forma muito clara. Há pressões muito severas no meu país desde o 11 de Setembro, e elas continuam. É muito preocupante.


A presidente Dilma Rousseff enfatizou a diferença entre "responsabilidade em proteger" e "responsabilidade ao proteger" em sua fala na ONU.


Eu vi, mas é uma nuance que não entendo muito bem.


Segundo o governo, o Brasil rejeita a intervenção militar automática por motivos humanitários, porque ela pode ter efeitos piores que a violação que pretendia combater.


Entendo: muitos "elders" discordam fortemente do que ocorreu na Líbia. Houve abuso na interpretação do mandato da ONU - não vejo como proteger vidas humanas bombardeando áreas civis
Não temos como saber quantos civis foram mortos por bombardeios da Otan e aeronaves não tripuladas ("drones") dos EUA. Mas a intervenção mandou uma mensagem muito forte a ditadores do mundo: haverá reação internacional quando abusarem de sua autoridade.


Fonte: Folha de S. Paulo - Mundo - Sexta-feira, 28 de outubro de 2011 - Pg. A20 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2810201106.htm

Acerto é um remendo melhorado e tardio por parte da Europa

VINICIUS TORRES FREIRE

DIFÍCIL EVITAR O CINISMO SOBRE A "HAPPY HOUR" NO MERCADO COM O ACORDO
"Perdão" da dívida grega virá atrasado, se vier; cúpula alivia crise no curto prazo, mas problemas continuam


É difícil não reagir com cinismo à "happy hour" no mercado devida ao "acordo de cúpula" sobre o que fazer do tumulto europeu.
"Happy hour" ou "happy day", a alegria não vai durar muito nem para os donos do dinheiro grosso. A não ser que os líderes políticos europeus se desmintam outra vez e salvem a banca do rombo que será deixado pela Grécia.


Do que se estava rindo ontem? O tal acordo, outro remendão, embora melhorado, é um atestado de incompetências no passado que deixa aberta a porta para inépcias nas próximas semanas.


Primeiro, trata-se de um arranjo que reconhece, tardiamente, depois de imensos danos à economia mundial, que a Grécia não tem como pagar sua dívida, o que Alemanha [foto ao lado: chancelar alemã Angela Merkel] e Banco Central Europeu se recusavam a admitir desde o início da crise, em 2009.


Segundo, o programa de arrocho fiscal, de corte de gastos públicos, continuará em toda a eurozona, o que vai puxar o crescimento europeu para baixo, ainda. A Itália, por exemplo, vai conseguir pagar suas dívidas com mais uma década de crescimento per capita quase zero (para nem falar de Portugal etc.)?


Terceiro, a reação dos bancos à "ordem" de melhorar seu nível de capitalização deve ser má notícia para o crescimento econômico da eurozona. Para lidar com as supostas e ainda desconhecidas perdas que terão com o calote grego "amigável", os bancos terão de levantar mais dinheiro em relação ao total de seus ativos ("empréstimos"). 
Mas, em vez de aumentar seu capital vendendo ações ora baratas, o que prejudica os atuais acionistas, tendem a emprestar menos ou a vender ativos (isto é, tendem a encolher os seus negócios).
Vão apelar para a "desalavancagem". Enfim, os governos podem entrar com dinheiro nos bancos, estatizar parte deles, evitar quebras e, assim, salvar a pele de grandes investidores/credores.


Quarto, está bem mal contada essa redução de 50% da dívida grega em títulos. Parece que vão trocar, por exemplo, um título de € 1000 por um de € 500 (valores apenas a título de ilustração). Mas quais serão os prazos e as taxas de juros dos empréstimos "reestruturados"? Com quais garantias? De quem? Dos governos europeus?
Sem saber tais coisas, não dá para dizer que a finança levou uma tunda de 50%.
Supondo que se corte de fato a dívida grega pela metade e a banca não perca metade do seu dinheiro (dados juros, garantias e prazos melhores, talvez), quem fica com a conta é o público.


Quinto, o pacote inteiro apenas alinhava diretrizes e intenções. O tamanho do "calote" a ser aceito ainda precisa ser negociado. E o novo fundo europeu para tapar rombos vai chegar a ter € 1 trilhão por qual tipo de mágica?


Fonte: Folha de S. Paulo - Mundo - Sexta-feira, 28 de outubro de 2011 - Pg. A 19 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2810201102.htm

Serviço de internet terá que garantir 60% de velocidade

SOFIA FERNANDES
DE BRASÍLIA


Empresas que oferecem banda larga precisarão oferecer velocidade mínima contratada por cliente
Anatel também define que reparo precisa acontecer em 24 horas, e SAC, atender em 20 segundos após menu

As empresas que oferecem serviço de banda larga, tanto fixa como móvel, terão agora responsabilidades referentes a velocidade mínima de conexão e disponibilidade do serviço, além de regras de atendimento ao consumidor e mínimo de reclamações


O conselho diretor da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) aprovou ontem os regulamentos de gestão da qualidade dos serviços de comunicação multimídia, tanto para para banda larga fixa como para a móvel. As empresas terão de garantir uma velocidade média de 60% da contratada pelo cliente a partir de novembro de 2012, depois de 70% no ano seguinte e de 80% um ano depois.


Hoje, há um compromisso da empresa com a velocidade que o cliente receberá na ponta, que geralmente é 10% do que a anunciada. A conexão perde força ao ser transportada da operadora até o computador, na maioria das vezes por meio de cabos de cobre. Quem comprou uma banda larga de 10 Mbps (megabits por segundo) pode receber em casa uma conexão de, em média, 1 Mbps.


A resolução da Anatel prevê velocidades mínimas de 20%, de 30% e de 40%, gradualmente, ano a ano. O cliente também terá direito a um software, instalado pela prestadora, por onde controlará a velocidade, e a uma cartilha informativa sobre as novas regras.


As empresas terão de controlar a taxa de reclamações dos clientes: não poderá ser superior a 6% dos clientes no primeiro momento, depois a 4% e, um ano depois, a 2%. Há também metas sobre reclamações reabertas.


Na central telefônica, o cliente não poderá esperar mais que 20 segundos para ser atendido, após selecionar opção no menu inicial. Os pedidos de reparo deverão ser atendidos em até 24 horas. 

[Será um milagre, se isso acontecer, de fato!]

Na banda larga fixa, a conexão deve estar disponível em 99% do tempo. Na banda larga móvel, as tentativas de conexão devem ser estabelecidas em 98% dos casos.


Fonte: Folha de S. Paulo - Mercado - Sexta-feira, 28 de outubro de 2011 - Pg. B3 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2810201105.htm

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Somos 7 bilhões - é possível oferecer bem-estar a todos?

Ulrike Mast-Kirschning
Deutsche Welle
26.10.2011

Cada habitante da Terra tem direito a uma vida digna, água, comida, educação, moradia e saúde. Se todos seguirem o estilo de vida dos países ricos, seriam necessários três planetas, dizem os especialistas.

Ela nasce por estes dias: a pessoa que, até o final de outubro, elevará a 7 bilhões o cálculo estatístico do crescimento populacional do planeta. O termo empregado pelos especialistas é "explosão demográfica": nos últimos 200 anos ocorreu o mais veloz crescimento da população na história da humanidade.

Até 2050 deverão ser até mesmo 9,1 bilhões de habitantes. Cada um deles com direito a uma vida digna, água e alimento, educação, moradia e saúde. E quase todos sonham com um pouquinho de prosperidade, geralmente segundo os padrões ocidentais de qualidade de vida.

Mas o globo será capaz de comportar tudo isso? "Se todos seguirem o estilo de vida norte-americano ou ocidental, isso não será possível", descarta o cientista Ernst Ulrich von Weizsäcker [foto ao lado], especialista em meio ambiente e membro do Conselho para o Futuro do Mundo (WFC, em inglês), fundado em 2007, em Hamburgo. "Para tal, seriam necessários três planetas Terra."

Modelo falido

Há 40 anos, a ideia do crescimento ilimitado já era posta em dúvida pelo Clube de Roma em seu famoso estudo Limits to growth (Limites do crescimento). "Diante da população crescente, contudo, o fim do crescimento é mera ficção", afirma o político verde alemão Ralf Fücks.

Jean Ziegler, perito das Nações Unidas para o assunto, não vê problemas mesmo para alimentar 12 bilhões de pessoas no globo. Contudo somente se os alimentos forem melhor distribuídos e as regiões rurais e os pequenos agricultores no hemisfério sul receberem apoio de forma sustentável. Devido à carência de recursos em diversos setores, "continuar do jeito que está" só é possível por mais algum tempo.

Segundo os prognósticos da ONU, em breve a Índia tomará o lugar da China como o país mais populoso do mundo, enquanto mingua o número de habitantes das nações industrializadas ocidentais. Ao mesmo tempo, essas sociedades minguantes e os populosos emergentes são os maiores consumidores de recursos naturais: alimentos, água, terras e combustíveis fósseis, assim como metais nobres envolvidos na produção de tecnologia digital.

É a era fóssil que de fato chega aos seus limites, diagnostica Fücks. Segundo o político verde, nem o atual sistema de energia nem o sistema de transportes erguido sobre o petróleo barato são "globalizáveis".

Multiplicar recursos

Há projeções de que, devido às mudanças climáticas globais já em curso, as temperaturas médias em todo o mundo possam se elevar em cerca de 4ºC no decorrer do século. Caso esses temores se tornem realidade, dentro em breve 330 milhões de pessoas serão forçadas por devastadoras inundações a abandonar seus locais de residência.

Somente em Bangladesh [foto ao lado], a cifra dos atingidos chegaria a 70 milhões. Porém outros extremos climáticos também podem tornar inabitáveis certas regiões do mundo, elevando ainda mais a pressão sobre as reservas de água potável, os alimentos e as terras.

Não se pode mais tentar superar o problema da escassez de recursos seguindo o modelo progressista do "cada vez maior, mais alto e mais forte". Tal noção é absurda, afirma Von Weizsäcker. Também a promessa de progresso através dos mercados globais e liberalizados perdeu a validade. Pelo contrário, critica o cientista:


"A crença religiosa no poder criador dos mercados revelou-se avassaladoramente equivocada, o mais tardar desde a crise financeira de 2008. Os mercados podem causar danos inacreditáveis".

É preciso "re-regulamentar", paralelamente a reformas radicais em direção à eficiência no uso de recursos, exige Von Weizsäcker. "Em termos bem banais, isso significa retirar de um metro quadrado de terra, de um kilowatt/hora ou de um metro cúbico de água três, quatro, dez vezes mais bem-estar. E isso é tecnicamente possível." Não se trata de nenhuma utopia, enfatiza, mas sim de uma nova meta real, na qual a Alemanha deveria ser pioneira.

Nova onda verde

Essa noção de uma era moderna ambiental é discutida na Alemanha – e não apenas pelo Partido Verde e no recém-inaugurado Fórum do Progresso, da Fundação Friedrich Ebert (ligada ao Partido Social Democrata). O tema também concerne uma recém-formada comissão do Parlamento alemão. Sob o título "Crescimento, bem-estar, qualidade de vida", o grupo de trabalho transpartidário examinará possibilidades de desvincular o crescimento do consumo de recursos.

Empregos "verdes" para as gerações futuras de uma população em crescimento também estão entre as prioridades da Organização Mundial do Trabalho. Recentemente, seu secretário-geral, Juan Somavia [foto ao lado], manifestou-se a favor de organizar uma economia pobre em emissões de CO2, em conexão com uma nova política ambiental e social.

No entanto, a atenção de políticos e parlamentos ainda está voltada para o atual modelo econômico e para a superação da crise econômica. Até que ponto a comunidade internacional já está comprometida com o bem-estar de uma população mundial em crescimento só ficará claro em dezembro próximo, quando se realiza na África do Sul a cúpula do clima da ONU.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 27/10/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=48771
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População do planeta chega a 7 bilhões


ONU afirma que desafios são imensos: reduzir a desigualdade, elevar o acesso à educação e saúde e garantir crescimento sustentável
A quatro dias de atingir a marca de 7 bilhões de habitantes, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU), o mundo de forma geral e o Brasil em particular têm uma série de desafios para reduzir a desigualdade e aumentar o acesso à educação e saúde, além de garantir um crescimento sustentável. As condições de vida da população melhoraram, mas ainda há grandes disparidades entre regiões e países, além de discriminação étnica e de sexo.


É o que aponta o relatório Pessoas e Possibilidades em um Mundo de 7 bilhões, divulgado ontem pelo Fundo da População das Nações Unidas (UNFPA), simultaneamente em cem países. Segundo o relatório, a população mundial está aumentando em velocidade acelerada, mas, mantendo-se a atual tendência, deve reduzir o ritmo de crescimento. Há 2 mil anos, havia 300 milhões de pessoas no planeta, número que deve saltar para 10 bilhões em 2083.


O relatório mostra também que a população mundial nunca esteve, ao mesmo tempo, tão jovem e tão velha. Isso porque, dos 7 bilhões de pessoas, 43% (3,01 bilhões) têm menos de 25 anos. Enquanto isso, as pessoas que têm mais de 60 anos, que eram 384 milhões em 1990, já somam 893 milhões de pessoas e devem chegar a 2,4 bilhões até 2050.


Isso, segundo o relatório, se deve ao aumento da expectativa média de vida, que passou de 48 anos em na década de 1950 para 69 anos atualmente. “Essa marca (7 bilhões) mostra o sucesso da humanidade. As pessoas estão tendo vidas mais longas e saudáveis, com menos mortalidade infantil. Mas o envelhecimento da população preocupa”, ressaltou o representante da UNFPA no Brasil, Harold Robinson [foto acima].


Robinson observa que o envelhecimento vai exigir mais investimentos dos governos em políticas sociais, assim como maior inserção dos jovens no mercado de trabalho para manter o mesmo nível de produtividade.


Pobreza e sustentabilidade
Outros desafios apontados pelo relatório da UNFPA são a redução das desigualdades “entre e dentro” dos países, assim como a necessidade de se manter o crescimento e desenvolvimento sem “exaurir os recursos naturais”. Segundo a UNFPA, os 20% mais ricos da população mundial detêm 77% da renda - em 1960 eram 70% -, enquanto os 20% mais pobres reduziram sua participação de 2,3% para 1,5% no mesmo período.


A representante auxiliar do UNFPA no País, Taís Ferreira Santos, salientou ainda que, paralelamente, as 500 mil pessoas mais ricas do mundo, que representam 7% da população, são responsáveis por 50% das emissões de dióxido de carbono, enquanto a metade mais pobre da população é responsável por outros 7% de emissões. “O problema é o padrão de vida. Há um excesso de consumo”, diz.


“O número de pessoas não ameaça tanto a sustentabilidade quanto o estilo de vida. O mundo não precisa de uma política para a população. Precisa de política de desenvolvimento. É um direito das pessoas e dos países se desenvolver, mas o (atual) padrão de consumo não é sustentável”, afirma Robinson.


Brasil
O Brasil, segundo o UNFPA, segue um caminho inverso ao de diversos países em desenvolvimento. Apesar de a população brasileira ainda estar em crescimento, o órgão estima que há uma tendência à estabilização da população até 2025 e uma queda no número absoluto de habitantes a partir daí. O País, que hoje é o 5.º mais populoso, deve cair para 7.ª posição em 2050 e para a 10.ª até 2100.


Segundo o diretor de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jorge Abrahão de Castro, essa tendência é comprovada por números e resultado de uma ampliação do acesso a informações - principalmente sobre saúde e planejamento familiar -, além da expansão de iniciativas como o Programa Saúde da Família (PSF). “Só o acesso à informação já faz as pessoas mudarem o planejamento. Principalmente as mulheres”, observou.


Fonte: O Estado de S. Paulo - Internacional - Quinta-feira, 27 de outubro de 2011 - Pg. A24 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,populacao-do-planeta-chega-a-7-bilhoes,791037,0.htm