«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

''No fim, é sempre a velha e querida agricultura que nos salva''

Carlo Petrini *
La Repubblica (Roma - Itália) 
23.10.2011

Assumindo que qualquer previsão sobre como será o mundo daqui a 200 anos é um exercício que se deixa com prazer aos prêmios Nobel, a visão do novo livro de Robert B. Laughlin** oferece intuições interessantes. O tema é a energia, mas sobretudo a agricultura. A agricultura tão maltratada, considerada por muitos como um setor marginal, dada tão por óbvio a ponto de ser negligenciada, deixada por muito tempo e com menos poder nas mãos de um sistema agroindustrial global que acabou colocando-a de joelhos, antes nos países pobres e agora também nos ricos. E sempre com efeitos nefastos para o ambiente, agricultores e consumidores.

Laughlin [foto ao lado] defende que, em dois séculos, a agricultura será fundamental para continuar garantindo-nos a vida. Ele diz que o setor agrícola será o principal produtor de energia na era pós-fóssil. A ideia de cultivar oceanos e desertos, para não fazer com que alimentos e energia entrem em competição, é muito fascinante e nem tanto de ficção científica. Mas devemos lembrar que o próprio alimento é energia, porque nos alimenta e nos faz mover, e porque cresce graças à fotossíntese da clorofila, portanto, à energia do Sol. A agricultura sempre foi, é hoje e sempre será o que nos garante a vida.

Tendo-se tomado consciência desse pressuposto banal, mas muitas vezes muito esquecido, deve-se fazer um discurso sobre como deveria ser o futuro da agricultura. O fato de se ter que mudar profundamente, que se deve renová-la é um ato necessário, até por causa do evidente fracasso do modelo intensivo-industrial que dominou a última metade do século. Que a interação entre produção de alimentos e produção de energia já está nas coisas é demonstrado, além disso, pela forma como muitas empresas agrícolas já fazem as duas coisas ao mesmo tempo facilmente.

O problema é que, quando prevalecem a concentração, a perseguição de supostas economias de escala, a ideia pela qual a agricultura é como qualquer um dos setores industriais – e responde às mesmas leis econômico-produtivas –, alimentos e energia sempre estarão em competição entre si.

Não se deve fazer "alimentos ou energia", mas sim "alimentos e energia". 


Podemos cultivar os oceanos, os desertos e também outros planetas, mas sem mudar o nosso modo de pensar continuaremos sempre resolvendo um problema criando outro.

Estou certo de que haverá inovações importantes no campo energético e tecnologias cada vez mais limpas para explorar direta ou indiretamente a energia solar (a única central verdadeira, enorme, segura, perene que faz chover sobre nós, a todo o momento, enormes quantidades de energia) com todas as formas que dela derivam. Mas será preciso a consciência de que tudo isso deve ser realizado em um sistema complexo que não deverá mais ser governado de maneira centralizada. Será preciso um sistema capilar, difuso, em que as comunidades e as pessoas se tornem produtoras de alimentos e de energia, acima de tudo para si mesmas e depois para os outros, em rede entre si.

É necessária uma democratização da produção energético-agrícola, com tecnologias acessíveis que se deem como objetivo primário a sustentabilidade dos processos e não a possibilidade de realizar especulações. Já vemos agora como o biogás e a energia fotovoltaica, que poderiam ser modos perfeitos para integrar a produção agrícola em nível empresarial, em nome do lucro e dos grandes números, podem se tornar altamente insustentáveis, pondo-se como alternativas e não complementares a uma agricultura que, assim como é, se tornará sempre perdedora, já que não consegue mais gerar uma renda digna para os agricultores.

Garantir o futuro não será tanto uma questão de quais tecnologias inventamos para nós, mas sim em qual paradigma queremos que elas caiam.

* Carlo Petrini é italiano e chef fundador do movimento Slow Food [trad. livre: Comida Lenta]. O Slow Food é uma associação internacional sem fins lucrativos fundada em 1989 como resposta aos efeitos padronizantes do fast food [alimentação rápida à base de lanches e coisas do gênero]; ao ritmo frenético da vida atual; ao desaparecimento das tradições culinárias regionais; ao decrescente interesse das pessoas na sua alimentação, na procedência e sabor dos alimentos e em como nossa escolha alimentar pode afetar o mundo. O Slow Food segue o conceito da ecogastronomia, conjugando o prazer e a alimentação com consciência e responsabilidade, reconhecendo as fortes conexões entre o prato e o planeta. Hoje conta com mais de 100.000 associados. O site brasileiro dessa associação é: http://www.slowfoodbrasil.com/.

** Powering the Future: How We Will (Eventually) Solve the Energy Crisis and Fuel the Civilization of Tomorrow. New York: Basic Books (Perseus Books Group), september 2011 [Trad. livre: Provendo a Energia do Futuro: Como nós (eventualmente) resolveremos a crise energética e de combustíveis da civilização de amanhã].

Tradução de Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 28/10/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=48819

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.