«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 29 de junho de 2021

Risco!!!

 Política de segurança do governo é falha', diz historiador 

 Vinícius Valfré 

 

Entrevista com Adriano de Freixo 

Historiador e Professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Univ. Fed. Fluminense (UFF) 

 

Adriano de Freixo aponta que a “bolsonarização” das polícias não se converte em aprimoramento da política pública do setor 


Professor do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF, o historiador Adriano de Freixo avalia que a cooptação das forças estaduais pelo bolsonarismo representa, sim, risco de ruptura democrática. Em entrevista, ele aponta que há em curso um processo de “bolsonarização das polícias” que não se converte em qualquer aprimoramento da política pública de segurança. Apenas nutre uma retórica favorável ao presidente e contrária a adversários dele. 

A conexão que o presidente Jair Bolsonaro tem com alas da PM é visível. O senhor vislumbra ameaças reais à democracia a partir dessa simbiose? 

Adriano de Freixo: Após sua ascensão à presidência, Bolsonaro tem procurado estreitar esses laços procurando atender reivindicações corporativas das forças de segurança – como, por exemplo, a defesa da ampliação do “excludente de ilicitude” para agentes de segurança ou o apoio à proposta de reforma das polícias em discussão no Congresso Nacional -, mas também se tornando presença constante em formaturas de policiais (de diferentes corporações: PM, PF, PRF) nos diversos estados da federação. Neste sentido, há sim a preocupação em relação uma possível instrumentalização política dessas Forças de Segurança pelo presidente da República em uma eventual tentativa de ruptura democrática. 

Como avalia a absorção de policiais militares em postos-chave do governo federal? Do entorno do presidente, em cargos de assessoramento especial no Planalto, a órgãos técnicos (como Funasa, ICMbioSenaspetc). 

Adriano de Freixo: Essa grande participação de integrantes das Forças de Segurança no governo – ao lado da forte e crescente presença de militares das três Forças Armadas – se insere no que eu chamo de processo de “bolsonarização” das polícias, que tem como um de seus aspectos centrais a tentativa do presidente da República de se aproximar – e mesmo cooptar – das forças de segurança, instrumentalizando-as para seu projeto político. Ao mesmo tempo, procura monopolizar para si o discurso e a agenda da segurança pública – um dos calcanhares de Aquiles das esquerdas -, tema de forte impacto junto à opinião pública. 

Os acenos que o presidente faz às forças estaduais de segurança ajudam de alguma maneira a política de segurança pública? 

Adriano de Freixo: Ajuda o presidente a tentar monopolizar o discurso da segurança pública, colocando em seus adversários políticos – notadamente os do campo progressista - a pecha de “defensores de bandidos” e demonizando a defesa dos Direitos Humanos, elementos recorrentes em sua retórica ao longo de toda sua trajetória política, mas não tem nenhum grande efeito prático. A política de segurança pública do governo federal é extremamente falha - a adoção de medidas que flexibilizam a compra e a posse de armas como uma questão central para a segurança pública é um bom exemplo disto - e a articulação com os governos estaduais é bastante deficiente. No fim das contas, o que parece restar é só uma retórica fortemente punitivista – bem ao gosto da base política do bolsonarismo 

Bolsonaro não esconde trabalhar, apenas, para quem gosta dele!

As condições de trabalho de policiais não são exatamente as melhores. Isso impede que governadores exerçam pleno comando sobre as tropas? 

Adriano de Freixo: É inegável que várias das reivindicações das corporações policiais são legítimas - em especial as de cunho salarial, visto que em vários estados a remuneração do pessoal da segurança pública está bastante defasada – e que isto é um forte ponto de atrito com os governadores. Mas isso, por si só, não explica alguns sinais preocupantes que observamos em setores das polícias estaduais: 

* Eventos como a repressão injustificada da PM de Pernambuco aos manifestantes contrários ao governo em 19 de maio, 

* o tratamento diferenciado dado a manifestantes pró e contra Bolsonaro em diversas manifestações desde 2019, 

* a presença de integrantes das forças de segurança nas “motociatas” em apoio ao presidente, 

* o recente discurso do comandante da PM de Brasília que foi encerrado com o slogan de campanha de Jair Bolsonaro 

* e, de forma mais radical, os incidentes ocorridos em recentes paralisações de polícias estaduais, como a que ocorreu no Ceará, no ano passado, contribuem sobremaneira para aumentar o temor em relação à bolsonarização das forças de segurança.  

Não se pode ignorar que lideranças da categoria identificadas com o bolsonarismo tiveram papel de destaque e contribuíram bastante para a radicalização – até o limite do confronto – desses movimentos reivindicatórios, conseguindo, em certa medida, instrumentalizá-los politicamente. Assim, a possibilidade de rebeliões pontuais contra ordens de governadores da oposição é algo que começa a ser bastante palpável e isso se constitui em uma séria ameaça à já fragilizada democracia brasileira. 

 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Economia & Negócios – Sábado, 26 de junho de 2021 – Pág. B7 – Internet: clique aqui (acesso em: 26/06/2021).

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Novidade científica!

 A descoberta do “homem dragão”

 Carl Zimmer

The New York Times 

A descoberta do crânio do “homem dragão” pode adicionar espécie à árvore genealógica da humanidade

Fotos de vários ângulos do crânio descoberto na China, do Homo longi

Cientistas anunciaram nesta sexta-feira, 25, que um grande crânio fossilizado de pelo menos 140 mil anos pertence a uma espécie humana ancestral desconhecida anteriormente, uma descoberta com capacidade de transformar a visão científica a respeito de como - e mesmo onde - nossa espécie, Homo sapiens, evoluiu. 

O crânio é de um hominídeo adulto, que tinha um cérebro enorme, testa proeminente, olhos profundos e um nariz bulboso.

O fóssil ficou escondido em um poço abandonado por 85 anos, após um operário encontrá-lo em uma construção na China. 

Os pesquisadores batizaram a nova espécie como Homo longi e lhe deram o apelido de “Homem Dragão”, em homenagem à região do Rio do Dragão, no nordeste da China, onde o crânio foi descoberto. 

Os cientistas afirmaram que o Homo longi é a espécie humana mais próxima à nossa, e não os neandertais. Se a conclusão for confirmada, poderia mudar a maneira como a ciência considera a origem do Homo sapiens, construída ao longo dos anos a partir de descobertas de fósseis e análises de DNAs ancestrais. 

Mas vários especialistas discordaram da hipótese, publicada em três artigos científicos que detalharam pela primeira vez as características desse fóssil. Entretanto,

... muitos deles acreditam que a descoberta poderia ajudar os cientistas a reformular a árvore genealógica da humanidade e rever a maneira como nossa espécie, Homo sapiens, apareceu.

Todos os especialistas que revisaram os dados dos estudos afirmaram que se trata de um fóssil magnífico. 

“É lindo”, afirmou John Hawks, paleoantropólogo da Universidade de Wisconsin-Madison. “É muito raro encontrar um fóssil como esse, com a face em boas condições. A gente sonha em encontrar algo assim.” 

A história da descoberta desse crânio 

Em 1933, um operário que trabalhava na construção de uma ponte na cidade de Harbin descobriu o peculiar crânio. É possível que esse homem - cujo nome foi preservado por sua família - soubesse que tinha encontrado uma amostra de importância científica. Quatro anos antes, pesquisadores tinham encontrado um outro crânio de humanoide, apelidado de Homem de Pequim, próximo à capital chinesa. Parecia ser o elo entre os povos da Ásia e seus ancestrais evolucionários. 

Em vez de entregar o novo crânio às autoridades do Japão, que ocupava o nordeste chinês naquela época, o operário preferiu escondê-lo. Ele não comentou com ninguém a existência do fóssil por décadas. Em um dos relatos a respeito da descoberta do crânio, os autores dos novos estudos especularam que o operário poderia sentir vergonha de ter trabalhado para os japoneses. 

Pouco antes de sua morte, em 2018, ela contou à família a respeito do fóssil. Os parentes foram ao poço e encontraram o crânio. A família doou o achado para o Museu de Geociência da Universidade Hebei GEO, onde cientistas perceberam imediatamente que o crânio havia sido preservado de maneira excelente. 

Reconstituição do Homo longi feita por Chuang Zhao. Innovation DOI: (10.1016/j.xinn.2021.100130)/Reprodução

Características do Homo longi 

Nos estudos publicados nesta sexta-feira, os pesquisadores argumentaram que o crânio do Homo longi parece de um adulto de porte grande. Suas bochechas eram achatadas e sua boca, larga. A mandíbula inferior está faltando, mas com base no aspecto da mandíbula superior do Homem Dragão e de outros crânios humanos fossilizados os pesquisadores inferiram que ele tinha pouco queixo.

Os cientistas afirmam que o cérebro dele era aproximadamente 7% maior do que o cérebro dos humanos atuais.

Os pesquisadores argumentam que as características anatômicas do Homem Dragão não haviam sido encontradas anteriormente em nenhuma outra espécie conhecida de hominídeo, a linhagem de macacos bípedes que se diferenciou de outros macacos africanos e posteriormente evoluiu para diversas espécies com cérebros maiores que se espalharam pelo planeta. 

São distintivas o suficiente para serem consideradas de uma outra espécie”, afirmou Christopher Stringer, paleoantropólogo do Museu de História Natural de Londres e coautor de dois dos três estudos a respeito dos Homens Dragão. 

Os cientistas analisaram a composição química do fóssil e determinaram que ele tem entre 146 mil e 309 mil anos.

A localização proposta do crânio fóssil de Harbin (Foto: The Innovation)

Nossos ancestrais mais próximos
 

Atualmente, a Terra abriga somente uma espécie de hominídeo - o Homo sapiens. Mas o Homem Dragão existiu em uma época em que vários tipos de hominídeos drasticamente diferentes entre si coexistiam, incluindo o Homo erectus - um hominídeo alto, com cérebro um terço menor que o nosso - e hominídeos pequenos, como o Homo naledi, na África do Sul, o Homo floresiensis, na Indonésia, e o Homo luzonensis, nas Filipinas. 

Os fósseis mais antigos de Homo sapiens também datam dessa época. Os neandertais, que compartilham conosco cérebros grandes e capacidade de fabricar ferramentas sofisticadas - se espalhavam da Europa à Ásia Central no período em que o Homem Dragão pode ter vivido. 

Nos anos recentes, estudos de DNA de fósseis também revelaram que uma outra linhagem de humanoides ocorreu nesse período, os denisovanos. Esse DNA veio na maior parte de dentes isolados, ossos lascados e até de terra. Esses vestígios não são suficientes para aferir como os denisovanos eram fisicamente. 

O fóssil mais promissor já encontrado poderia provar que os denisovanos emergiram de uma caverna do Tibete: uma maciça mandíbula com dois molares robustos, de pelo menos 160 mil anos. Em 2019, cientistas isolaram proteínas da mandíbula, e sua composição molecular sugere que ela pertenceu a um denisovano e não a um humano moderno nem a um neandertal. 

Essa evidência molecular - combinada com as evidências dos fósseis - sugere que ancestrais comuns ao Homo sapiens, aos neandertais e aos denisovanos viveram 600 mil anos atrás. 

Nossa linhagem se diferenciou por conta própria e, posteriormente, há 400 mil anos, os neandertais e os denisovanos se diferenciaram. Em outras palavras, neandertais e denisovanos são nossos parentes extintos mais próximos. Eles até acasalaram com ancestrais dos humanos modernos, e nós carregamos pedaços do DNA deles até hoje. 

Para decifrar a maneira como o Homo longi se insere na árvore genealógica da humanidade, os cientistas compararam sua anatomia à de outros 54 fósseis de hominídeos. Os pesquisadores descobriram que ele pertence a uma linhagem que inclui a da mandíbula tibetana identificada como denisovana. 

O crânio era ainda mais similar a um pedaço de crânio de 200 mil anos descoberto em 1978 na região da cidade chinesa de Dali. Alguns pesquisadores pensaram que o fóssil de Dali fosse da nossa espécie, enquanto outros consideraram que pertencia a uma linhagem mais antiga. E outros até qualificaram o fóssil como uma nova espécie, o Homo daliensis. 

Os autores dos novos estudos argumentam que o Homem Dragão, a mandíbula tibetana e o crânio de Dali pertencem a uma mesma linhagem - que é o ramo mais próximo à nossa espécie. Ao mesmo tempo em que o Homo longi teve características distintivas, ele também compartilhava nossos traços, como um rosto uniforme abaixo da linha das sobrancelhas, em vez de saliente, como no caso dos neandertais. 

Acredita-se amplamente que os neandertais pertençam à linhagem extinta mais próxima à nossa espécie. Contudo, nossa descoberta sugere que a nova linhagem que identificamos e inclui o Homo longi é na verdade o grupo mais próximo ao do Homo sapiens”, afirmou em um comunicado à imprensa Xijun Ni, coautor dos estudos e paleoantropólogo da Academia Chinesa de Ciências e da Universidade Hebei GEO. 

Essas conclusões causaram debate entre paleoantropólogos. 

Quando vi a foto do fóssil pela primeira vez, pensei que finalmente conheceríamos a aparência dos denisovanos”, afirmou Philipp Gunz, paleoantropólogo do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, em Leipzig, Alemanha. 

Karen Baab, paleoantropóloga da Universidade Midwestern, no Arizona, concordou. “A melhor forma de entender o fóssil de Harbin é como denisovano.” 

Uma série de pistas aponta nessa direção. O dente na mandíbula superior do Homem Dragão tem o mesmo formato grande, como o da mandíbula denisovana encontrada no Tibete, por exemplo. Em ambas, o terceiro molar não é presente. O Homem Dragão viveu na Ásia no mesmo período, e o DNA denisovano nos diz que eles vieram do mesmo lugar. 

Mesmo se o Homem Dragão for denisovano, poderia haver mais enigmas para desvendar. O DNA dos denisovanos mostra claramente que seus primos mais próximos eram os neandertais.

O novo estudo, porém, com base na anatomia dos fósseis, indica que o Homo longi e o Homo sapiens são parentes mais próximos entre si do que em relação aos neandertais.

Acho que, nesses casos, dados genéticos são mais confiáveis do que dados morfológicos”, afirmou Bence Viola, paleoantropólogo da Universidade de Toronto que não está envolvido no novo estudo. 

Traduzido do inglês por Augusto Calil. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Ciência – Sábado, 26 de junho de 2021 – Pág. A26 – Internet: clique aqui (acesso em: 26/06/2021).