«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Nós somos Venezuela!

 Bolsonaro persegue o modelo de Chávez

 Marcelo Godoy

Jornalista 

Entrevista com Raul Jungmann

Ex-ministro da Defesa 

Raul Jungmann afirma que militares estão diante de um processo similar aos passos iniciais do chavismo

RAUL JUNGMANN

O ex-ministro da Defesa Raul Jungmann acredita que os militares brasileiros estão diante de um processo que assemelha-se aos passos iniciais do chavismo, na Venezuela, quando Hugo Chávez passou a transferir para si os poderes dos comandantes das Forças. Estes, ao evitarem um confronto, pensando em preservar a Constituição, acabaram permitindo a destruição da ordem legal. Leia a seguir, trechos de sua entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo [Estadão]. 

O que o sr. acha que ocorreu para Pazuello não ser punido?

Raul Jungmann: A narrativa que ouvi caminha em uma dupla direção. Houve uma reunião remota do Alto Comando anteontem. a) O comandante Paulo Sérgio pediu a opinião do Alto Comando, que teria sido majoritariamente pela punição. Não pelo ânimo de punir, mas pra preservar a hierarquia e a disciplina, sem as quais um Exército se transforma em um bando armado. Ele (Paulo Sérgio) teria comunicado que sua decisão era não punir, o que foi acatado por todos, pois essa é uma decisão privativa do comandante. b) Ouvi de outros que o general disse a oficiais mais próximos que teria agido para evitar uma crise maior, resultante da punição de Pazuello que viesse a ser anulada, o que implicaria no afastamento em dois meses do segundo comandante do Exército. 

Ao fim e ao cabo, agrava-se a crise em vez de encerrá-la?

Jungmann: Aqui vale a frase do Churchill em relação à política de apaziguamento de (Neville) Chamberlain (em 1938, em relação à Hitler): “Vocês não terão a paz, e terão a guerra”. O que quero dizer é que os militares daqui estão enfrentando o que os da Venezuela enfrentaram no início do período chavista. Bolsonaro persegue o modelo de Chávez.

Ele, como Chávez, quer reduzir o comando dos militares para transferi-lo para a política. Ou seja, para ele.

Temos o exemplo próximo da Venezuela, aonde, paulatinamente, Chávez tirou poder dos generais e transferiu para ele. Os militares, aqui como lá, guardadas as devidas proporções, evitam o confronto direto com o comandante para não ferir a Constituição, mas o dilema é que assim correm o risco de ver a Constituição destruída junto com a hierarquia e a disciplina. 

O que fazer então?

Jungmann: Inequivocamente proceder a punição. Pois ou você fica com o Exército, a instituição permanente de Estado, ou você fica do lado da anarquia nos quartéis. Não há meia solução nesse caso.

Não tenha a menor dúvida de que isso terá reflexos.

Você viu o que aconteceu em Pernambuco? Embora seja outra instituição, estadual e policial, o que ocorreu ali pode servir de exemplo para a ação de grupos de policiais contra manifestações democráticas da oposição, que fazem parte do jogo político-eleitoral. Por isso que em Pernambuco também deve ter punições. Não pelo prazer de punir, mas pela necessidade de se preservar as instituições. 

JAIR BOLSONARO E HUGO CHAVES: mais semelhanças do que se imagina!!!

Se o apaziguamento a Bolsonaro não é o caminho, qual seria o caminho? O impeachment?

Jungmann: Eu não vejo condições momentâneas para o impeachment. Primeiro, estamos em meio a uma crise humanitária, fruto da pandemia, que deve ser a principal preocupação de todos os agentes públicos, porque está em jogo a vida das pessoas. Ao contrário do que vivemos com Collor e com Dilma, o caminho da solução política encontra-se bloqueado pela pandemia, que inibe grandes manifestações.

Mas, se a política não resolve a crise, a crise devora a política. Vivemos esse impasse.

Mas acredito que até o fim do ano teremos uma situação em que a pandemia não seja mais agressiva e mortífera e aí você pode destravar os movimentos de rua e caminhar para uma solução política da crise. Em segundo lugar, nesse momento, não existem votos suficientes no Congresso e, terceiro, não acredito que os presidentes da Câmara e do Senado, sobretudo o da Câmara, tenham disposição e vontade de fazê-lo, pois são aliados do presidente. 

Se o caminho político está bloqueado há risco de ruptura e divisões nas Forças Armadas?

Jungmann: Ao você aceitar a transferência do mando da hierarquia para o poder político, como foi este caso, você abre possibilidade que se ampliar esse mando político e o mando da política. Isso significa a possibilidade da fragmentação da unidade das Forças Armadas. Lembro dois episódios. a) O primeiro é o do coronel Bizarria Mamede, quando fez um discurso no enterro em 1955 do presidente do Clube Militar, general Canrobert Pereira da Costa. O ministro da Guerra, Henrique Teixeira Lott, determina sua prisão contra a vontade do presidente Carlos Luz. Esse é o caminho a seguir, o da preservação do Exército. b) O outro é o que não se deve seguir: João Goulart, às vésperas de 1964, vai confraternizar no Automóvel Clube com os sargentos insubordinados, o que representou a ruptura final entre a hierarquia militar e o presidente. Fica claro que você abre uma caixa de Pandora e perspectivas como essas (de uma ruptura) que não eram uma possibilidade, ocorrendo um agravamento e uma repetição disso, sim, abrem-se as portas do inferno com o qual a democracia brasileira não pode conviver. Por isso o apelo que fiz à unidade e à necessidade de as forças democráticas reagirem. 

O que o Congresso pode fazer nesse caso?

Jungmann: O Congresso precisa regulamentar a participação de militares da ativa no governo. Esta crise poderia ter sido evitada se a regulamentação existisse,

... deixando claro que militares da ativa não devem participar de governo, militar é a defesa da Pátria, da Nação, indistintamente de governos.

No momento em que militares da ativa participem de governo, eles são a instituição. O general Pazuello é a instituição. Militar da ativa, salvo excepcionalidade, como uma Casa Militar, não deveriam participar de quaisquer governos em nome da sua instituição e da sua higidez. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política/Entrevista – Sábado, 5 de junho de 2021 – Pág. A10 – Internet: clique aqui (acesso em: 05/06/2021).

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