«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

A família encolheu [Importantes dados!]

Kalleo Coura
Veja
23.11.2011

E mudou de formato. Os lares brasileiros, menores, têm estrutura bem mais diversa do que a clássica pai, mãe e filhos

A família brasileira está menor, mais fragmentada e se organiza de forma muito mais diversa do que há dez ou vinte anos. Até 1990, os casais tinham 2,8 filhos em média, 80% dos lares eram encabeçados por um homem e a estrutura da família nuclear era, com raras exceções, a clássica: pai, mãe e filhos. A segunda parte dos resultados do Censo 2010, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada, revela algumas das mudanças por que o país passou desde 2000, ano em que foi feito o último estudo. E, ao menos no que diz respeito à vida privada dos brasileiros, elas são profundas.


O tamanho das famílias é a parte mais visível dessa transformação. Hoje, os domicílios abrigam em média apenas três pessoas. Além de terem encolhido, as famílias estão mais fragmentadas - 15% delas são formadas por mulheres que vivem com seus filhos sem a presença dos pais das crianças. Essa população - que inclui as viúvas, mas é formada sobretudo por mulheres separadas e mães solteiras - faz parte de um universo maior e crescente, o das autodeclaradas "chefes de família".


Em 2000, em 27% das casas os entrevistados declararam aos recenseadores do IBGE que o "chefe da família" era uma mulher. Em 2010, o índice já havia subido para 38%. Trata-se de uma resposta subjetiva a uma questão que busca determinar quem, na casa, é responsável pela tomada das decisões mais importantes - o que não quer dizer, necessariamente, que seja também seu provedor principal.


O IBGE também constatou um salto no número de pessoas que vivem sozinhas. Há uma década, os solitários eram 4 milhões, responsáveis por 9% das casas. Hoje, são 7 milhões, o que totaliza 12% dos domicílios do Brasil. No Censo 2010, o IBGE pela primeira vez perguntou a opção sexual dos entrevistados. Em 60 000 casas, moradores declararam que ali vivia um casal de homossexuais. O número representa O,1 % do total de domicílios do país.


Mas as questões levantadas pelo Censo também perscrutaram o Brasil que existe da porta da rua para fora. Ao olhar o resultado dos indicadores sociais, o que se nota é que o Brasil avançou em todos. A taxa de analfabetismo, por exemplo, finalmente deixará de ser um problema - e a curto prazo. Hoje, 10% da população é analfabeta, mas um corte estatístico relativiza essa informação. Se, acima dos 65 anos de idade, o analfabetismo assola 29% das pessoas, dos 10 aos 14, apenas 4% não sabem ler e escrever. O futuro é promissor, portanto. Mas, em alguns campos, o Brasil avança a passos muito lentos rumo a ele. A infraestrutura é um exemplo.


A coleta de lixo, atualmente, atende a 87% dos domicílios do país. É melhor que o índice de 79% registrado em 2000. Na coleta de esgoto, a situação é pior. Em 2000, apenas 62% dos lares brasileiros tinham acesso à rede de tubulações ou, ao menos, a uma fossa séptica. Uma década mais tarde, o número não passa de 67%. Na Região Norte, a ampliação da rede de esgotos nem sequer acompanhou o aumento da população. Para o geógrafo Demétrio Magnoli, essa situação é fruto de uma opção feita pelos governos na última década. "Priorizou-se a transferência de renda, por meio de programas como o Bolsa Família, em detrimento de investimentos em áreas vitais como o saneamento, que rendem menos votos", diz ele. Pena que nesse ponto o Brasil não tenha mudado tanto.


O BRASIL DA PORTA PARA DENTRO
Segundo o Censo 2010 (IBGE), as famílias brasileiras estão menores e há mais gente morando sozinha. Pela primeira vez, o IBGE incluiu na pesquisa de domicílios o número de casais gays e de filhos de outras uniões:

  • Hoje, as casas abrigam, em média, apenas 3 pessoas
  • As mulheres são chefes de família em 39% dos domicílios. Há dez anos, esse porcentual era de 27%
  • Em 8% das moradias há crianças que são filhos de apenas um dos cônjuges
  • Quase 7 milhões de imóveis, ou 12% do total, são habitados por uma única pessoa. Há dez anos, esse porcentual era de 9%
  • Casais gays ocupam 60.000 residências - 0,1% do total
  • A porcentagem de uniões consensuais, os casamentos informais, subiu de 29% para 36%

A VIDA MELHOROU
O Brasil tem mais empregos e os brasileiros, mais educação. O crescimento da infraestrutura, no entanto, segue em passos lentos




Fonte: Clipping - Seleção de Notícias - Ministério do Planejamento - 21/11/2011 - Internet: https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/11/21/a-familia-encolheu/

POR QUE OS JOVENS ABANDONAM A IGREJA?

Pe. John Flynn, LC

Um livro tenta entender as razões

É sabido que muitos jovens deixam de ser frequentadores ativos da Igreja.
O livro You Lost Me: Why Young Christians are Leaving the Church... and Rethinking Faith [“Fui! - Por que jovens cristãos estão abandonando a Igreja... e repensando a fé”], da Baker Books, analisa uma vasta pesquisa estatística do Grupo Barna para descobrir quais são as razões que levam os jovens para longe da Igreja.


Os autores David Kinnaman (foto ao lado) e Aly Hawkins analisaram uma enorme gama de estatísticas e apontaram três realidades particularmente importantes sobre a situação dos jovens.


1. As igrejas têm um envolvimento ativo com os adolescentes, mas depois da crisma, muitos deles param de ir à igreja. Poucos se tornam adulto seguidores de Cristo.


2. As razões pelas quais as pessoas abandonam a Igreja são diversificadas: é importante não generalizar sobre as novas gerações.


3. As igrejas têm dificuldade para formar a próxima geração a seguir a Cristo por causa de uma cultura em constante mudança.


Kinnaman explicou que não se trata de uma diferença de gerações. Não é verdade que os adolescentes de hoje sejam menos ativos na Igreja do que os de épocas anteriores. Aliás, quatro em cada cinco adolescentes na América do Norte, por exemplo, ainda passam parte da infância ou da adolescência numa congregação cristã ou numa paróquia. O que acontece é que a formação que eles recebem não é profunda o suficiente, e desaparece quando os jovens chegam à casa dos 20 anos de idade.


Para católicos e protestantes, a faixa etária dos vinte é a de menos compromisso cristão, independentemente da experiência religiosa vivida.


O principal problema é o da relação com a Igreja. Não necessariamente os jovens perdem a fé em Cristo; o que eles abandonam é a participação institucional.
Um fator importante que influencia a juventude é o contexto cultural em que ela vive. Nenhuma outra geração de cristãos, disse Kinnaman, sofreu transformações culturais tão profundas e rápidas.


Nas últimas décadas houve grandes mudanças na mídia, na tecnologia, na sexualidade e na economia. Isto levou a um grau muito maior de transitoriedade, complexidade e incerteza na sociedade.


Kinnaman usa ​​três conceitos para descrever a evolução dessas mudanças: acesso, alienação e autoridade:

  • Em relação ao acesso, ele salienta que o surgimento do mundo digital revolucionou a forma como os jovens se comunicam entre si e obtêm informações, o que gerou mudanças significativas na forma de se relacionarem, trabalharem e pensarem. Há nisso um lado positivo, porque a internet e as ferramentas digitais abriram imensas oportunidades para difundir a mensagem cristã. No entanto, também há mais acesso a outros pontos de vista e outros valores culturais, mas com redução da capacidade de avaliação crítica.
  • Sobre a alienação, Kinnaman observa que muitos adolescentes e jovens adultos sofrem de isolamento em suas próprias famílias, comunidades e instituições. O elevado índice de separações, divórcios e nascimentos fora do casamento significa que um número crescente de pessoas crescem em contextos não-tradicionais, ou seja, onde a estrutura familiar é carenteDe acordo com Kinnaman, muitas igrejas não têm soluções pastorais para ajudar efetivamente aqueles que não seguem a rota tradicional rumo à vida adulta.
  • Além disso, muitos jovens adultos são céticos quanto às instituições que moldaram a sociedade no passado. Este ceticismo se transforma em desconfiança na autoridadeA tendência ao pluralismo e à polêmica entre idéias conflitantes tem precedência sobre a aceitação das Escrituras e das normas morais. Kinnaman observa que a tensão entre fé e cultura e um intenso debate também podem ter um resultado positivo, mas requerem novas abordagens pelas igrejas.

Ao analisar as causas do afastamento dos jovens das igrejas, Kinnaman admite que esperava encontrar uma ou duas razões principais, mas descobriu uma grande variedade de frustrações que levam as pessoas a esse abandono.


Alguns vêem a igreja como um obstáculo à criatividade e à auto-expressão. Outros se cansam de ensinamentos superficiais e da repetição de lugares-comuns.
Os mais intelectuais percebem uma incompatibilidade entre fé e ciência.


Por último, mas não menos importante, tem-se a percepção de que a Igreja impõe regras repressivas quanto à moralidade sexual. Além disso, as tendências atuais a enfatizar a tolerância e a aceitação de outras opiniões e valores colidem com a afirmação do cristianismo de possuir verdades universais.


Outros jovens cristãos dizem que sua igreja não permite que eles expressem dúvidas, e que as eventuais respostas a essas dúvidas não são convincentes.


Kinnaman também descobriu que, em muitos casos, as igrejas não conseguem educar os jovens em profundidade suficiente. Uma fé superficial deixa adolescentes e jovens adultos com uma lista de crenças vagas e uma desconexão entre a fé e a vida diária. Como resultado, muitos jovens consideram o cristianismo chato e irrelevante.


No final do livro, Kinnaman fornece recomendações para conter a perda de tantos jovens
1ª.
É necessária, segundo ele, uma mudança na maneira como as gerações mais velhas encaram as gerações mais jovens.


2ª.
Kinnaman pede ainda a redescoberta do conceito teológico de vocação, para se promover nos jovens uma consideração mais profunda sobre o que Deus quer deles.


3ª.
Finalmente, o autor destaca a necessidade de enfatizar mais a sabedoria do que a informação. "A sabedoria significa a capacidade de se relacionar bem com Deus, com os outros e com a cultura".


Fonte: ZENIT.ORG - Segunda-feira, 28 de novembro de 2011 - Internet: http://www.zenit.org/article-29296?l=portuguese

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

ADVENTO: ESPERAR É UMA ARTE

Dietrich Bonhoeffer *

Festejar o Advento significa saber esperar: esperar é uma arte que o nosso tempo impaciente se esqueceu. Ele deseja arrancar o fruto maduro tão logo germina; mas os olhos gordos são apenas iludidos, porque um fruto aparentemente tão precioso está ainda verde por dentro, e mãos privadas de respeito jogam fora, sem gratidão, aquilo que lhas iludiu. 


Quem não conhece a felicidade azeda do esperar, isto é, do sentir a falta de algo na esperança, não poderá jamais desfrutar da bênção integral da realização.


Quem não conhece a necessidade de lutar com as questões mais profundas da vida, da sua vida e na espera não mantém abertos os olhos com desejo até que a verdade lhe seja revelada, este não pode imaginar nada da magnificência deste momento no qual resplandecerá a clareza; e quem deseja aspirar à amizade e ao amor do outro sem esperar que a sua alma se abra a ele até obtê-los, a este permanecerá eternamente escondida a profunda bênção de uma vida que se desenvolve entre duas almas.


No mundo devemos esperar pelas coisas maiores, mais profundas, mais delicadas, e isto não acontece de maneira tempestuosa, mas segundo a lei divina da germinação, do crescimento e do desenvolvimento.

* Para obter informações sobre este famoso teólogo protestante, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dietrich_Bonhoeffer


Tradução do italiano: Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Teologi@Internet - Forum teologico diretto da Rosino Gibellini
 - Editrice Queriniana, Brescia (Itália) - 25/11/2011 - Internet: http://www.queriniana.it/blog

HOMILIA: 1º Domingo do Advento – Ano Litúrgico “B”

José Antonio Pagola *

Evangelho: Marcos 13,33-37

A CASA DE JESUS


Jesus está em Jerusalém, sentado no monte das Oliveiras, olhando para o Templo e conversando confidencialmente com quatro discípulos: Pedro, Tiago, João e André. Vê-os preocupados em saber quando será o final dos tempos. Jesus, pelo contrário, se preocupa em como viverão seus seguidores quando ele não estiver mais no meio deles.


Por isso, mais uma vez lhes revela sua inquietação: “Olha, vivei acordados”. Depois, deixando de lado a linguagem aterrorizante dos visionários apocalípticos, lhes conta uma pequena parábola que passou quase despercebida entre os cristãos. 


“Um senhor saiu de viagem e deixou sua casa”. Porém, antes de se ausentar, “confiou a cada um de seus criados uma tarefa”. Ao se despedir, somente insistiu com eles numa coisa: “Vigiai, pois não sabeis quando virá o dono da casa”. Para que, quando vier, não os encontre dormindo.


O relato sugere que os seguidores de Jesus formavam uma família. A Igreja será “a casa de Jesus” que substituirá “a casa de Israel”. Nela todos são servidores. Não há senhores. Todos viverão esperando o único Senhor da casa: Jesus, o Cristo. Não o esquecerão jamais.


Na casa de Jesus ninguém há de permanecer passivo. Ninguém deve se sentir excluído, sem nenhuma responsabilidade. Todos são necessários. Todos têm alguma missão confiada por Ele. Todos são chamados a contribuir na grande tarefa de viver como Jesus, que eles conheceram dedicado a servir ao reino de Deus.


Os anos irão passar. O Espírito de Jesus entre os seus se manterá vivo? Continuarão se recordando de seu estilo serviçal em favor dos mais necessitados e desvalidos? Seguirão Jesus pelo caminho aberto por ele? A sua grande preocupação é que sua Igreja se adormente. Por isso, lhes insiste três vezes: “vivei acordados”. Não é uma recomendação aos quatro discípulos que o estão escutando, mas sim uma ordem aos que creem de todos os tempos: “O que vos digo, digo a todos: vigiai!”.


A característica mais generalizada dos cristãos que não abandonaram a Igreja é, seguramente, a passividade. Durante séculos, educamos os fiéis para a submissão e a obediência. Na casa de Jesus somente uma minoria se sente hoje com alguma responsabilidade eclesial.


Chegou o momento de reagir. Não podemos continuar aumentando, ainda mais, a distância entre “os que mandam” e “os que obedecem”. É pecado promover o desafeto, a mútua exclusão ou a passividade. Jesus queria ver todo mundo desperto, ativo, colaborando com lucidez e responsabilidade.

Tradução de Telmo José Amaral de Figueiredo.

* José Antonio Pagola é sacerdote espanhol. Licenciado (= mestrado) em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (1965), Diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no Seminário de San Sebastián e na Faculdade de Teologia do norte da Espanha (sede de Vitoria). Desempenhou o encargo de reitor do Seminário diocesano de San Sebastián e, sobretudo, o de Vigário Geral da diocese San Sebastián (Espanha). É autor de vários ensaios e artigos, especialmente o famoso livro: Jesus - Aproximação Histórica (publicado no Brasil pela Editora Vozes, 2010).

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - 22/11/2011 – 10h40 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Fundamentalismo ateu [Existe!]

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS *

Além dos avanços na ciência feitos por sacerdotes, a Igreja ofereceu ao mundo moderno o seu maior instrumento de cultura, ou seja, a universidade

Voltávamos, Francisco Rezek e eu, de uma posse acadêmica em Belo Horizonte quando ele utilizou a expressão "fundamentalismo ateu" para se referir ao ataque orquestrado aos valores das grandes religiões que vivemos na atualidade.


Lembro-me de conversa telefônica que tive com meu saudoso e querido amigo Octavio Frias, quando discutíamos um editorial que estava para ser publicado sobre encíclica do papa João Paulo 2º, do qual discordava quanto a alguns temas.


Argumentei que a encíclica era destinada aos católicos e que quem não o era não deveria se preocupar. Com inteligência, perspicácia e bom senso, Frias manteve o editorial, mas acrescentou a observação de que o papa, embora cuidando de temas universais, dirigia-se fundamentalmente aos de fé cristã.


Quando fui sustentar, pela CNBB, perante o STF [Supremo Tribunal Federal], a inconstitucionalidade da destruição de embriões para fins de pesquisa científica - pois são seres humanos, já que a vida começa na concepção -, antes da sustentação fui hostilizado, a pretexto de que a Igreja Católica seria contrária à ciência e que iria falar de religião, não de ciência e direito.


Fui obrigado a começar a sustentação informando que a Academia de Ciências do Vaticano tinha, na ocasião, 29 Prêmios Nobel, enquanto o Brasil até hoje não tem nenhum, razão pela qual só falaria de ciência e direito. Mostrei todo o apoio emprestado pela Academia às experiências com células-tronco adultas, que estavam sendo bem-sucedidas, enquanto havia um fracasso absoluto nas experiências com células-tronco embrionárias.


De lá para cá, o sucesso com as experiências utilizando células tronco adultas continuam cada vez mais espetaculares. Já as pesquisas com células embrionárias permanecem em estágio "embrionário".


Trago essas reminiscências, de velho advogado provinciano, para demonstrar minha permanente surpresa com todos aqueles que, sem acreditar em Deus, sentem necessidade de atacar permanentemente os que acreditam nos valores próprios das grandes religiões, que, como diz Toynbee em seu "Estudo da História", terminaram por conformar as grandes civilizações.


Por outro lado, Thomas E. Woods Jr., em seu livro "Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental", demonstra que, além dos fantásticos avanços na ciência feitos por sacerdotes cientistas, a Igreja ofereceu ao mundo moderno o seu maior instrumento de cultura e educação, ou seja, a universidade.


Aos que direcionam essa guerra ateia contra aqueles que vivenciam a fé cristã e cumprem seu papel, nas mais variadas atividades, buscando a construção de um mundo melhor, creio que a expressão do ex-juiz da Corte de Haia é adequada.


Só não se assemelham aos "fundamentalistas" do Oriente Médio porque não há terroristas entre eles.


Num Estado, o respeito às crenças e aos valores de todos os segmentos da sociedade é a prova de maturidade democrática, como, aliás, o constituinte colocou no artigo 3º, inciso IV, da nossa Constituição Federal, ao proibir qualquer espécie de discriminação.


* IVES GANDRA DA SILVA MARTINS [foto acima], 76, advogado, professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, é presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio.


Fonte: Folha de S. Paulo - Tendências/Debates - Quinta-feira, 24 de novembro de 2011 - Pg. A3 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/10741-fundamentalismo-ateu.shtml

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A Palavra é traída e humilhada!

Marco Tosatti
Vatican Insider
22.11.2011

Há algum tempo eu havia escrito alguns apontamentos para um artigo quase sério depois de ter ido à missa e ter sofrido durante uma homilia. O início da celebração havia sido muito bonito, tínhamos entrado em um singelo crescendo em direção ao momento central; mas mais de 15 minutos de homilia, talvez não do mesmo grau de intensidade, me haviam feito experimentar um processo inverso.


Havia escrito o que vocês podem ver mais abaixo com a intenção de não publicá-lo; um escrito destinado ao lixo, melhor dito, aos “arquivos” dos escritos nunca publicados. Mas, há alguns dias, me caiu diante dos olhos uma notícia de agência, protagonista: o presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, biblista de renome, inventor do Pátio dos Gentios, e disse a mim mesmo: então...


O cardeal Gianfranco Ravasi [foto ao lado], convidado – na qualidade de biblista e intelectual – para abrir, na Pontifícia Universidade Gregoriana, um curso sobre a palavra, afirmava: “A palavra está sofrendo. Também para a comunidade eclesiástica, a Igreja e sua comunicação. A palavra é traída e humilhada”. Inclusive no púlpito. Ravasi chama à causa diretamente os sacerdotes. 


Porque “com frequência, os sermões são tão incolores, insípidos, inodoros, que são irrelevantes”. 


Em compensação, “é necessário recuperar a palavra que ‘ofende’, fere, inquieta, julga”, a “palavra saudável, autêntica, que deixa marcas”. 


É preciso não esquecer que hoje, goste-se ou não, quem escuta “é filho da TV e da internet”.
E continua: Ravasi recorre a Voltaire e a Montesquieu, e diz que com eles “a eloquência sacra é como a espada de Carlos Magno, longa e plana: aquilo que não pode dar em profundidade, o dá em comprimento”. O tom do cardeal é leve, mas cortante. 


“O sacerdote não deve aceitar que a palavra seja humilhada. Está claro que a capacidade de falar é, em parte, dom natural, mas também existe a formação, o aspecto pedagógico, os instrumentos técnicos com os quais se dotar. E isto é algo que hoje falta nos seminários”.


Para terminar: “Umberto Eco estima que hoje os jovens utilizam apenas 800 palavras. Isto impõe a quem fala essencialidade, força, narração, cor”.


Então, tomei coragem e trouxe à tona o meu pedido, que espero seja formalmente correto, porque não tenho experiência no campo; é a primeira vez que escrevo a um papa.


“Santidade,


Permito-me fazer-lhe um pedido, simples, mas apenas até certo ponto.
Tem a ver com as homilias. Aquelas que ouvimos, cada domingo, quando vamos à missa.


É um pedido que, na realidade, contém várias sugestões, propostas e ideias; e como é costume ao se dirigir a você, com toda humildade, naturalmente.


A primeira ideia é um tanto radical. Proclamar um período (você pode decidir sua duração) de jejum de homilias. Isto é: estabelecer que, durante um ano nas igrejas (com exceção, obviamente, do Papa e dos bispos) não se façam homilias. Não me peça explicações nem razões. Não desejo ofender os sentimentos (bons) de ninguém. Peça explicações, caso desejar, a Giulio Andreotti, que – se não me falha a memória – procura(va) ir às missas matutinas, exatamente para não ouvir homilias. Eu creio que, se a homilia fosse substituída por um breve momento de recolhimento e de meditação das palavras ouvidas nas Leituras, poderia ser benéfico para todos.


Segunda sugestão. Isto, obviamente, com um tom de brincadeira. Obrigar os sacerdotes a fazerem um curso de jornalismo e, em particular, de jornalismo de agência ou televisivo. Mais de uma vez nos disseram, durante a nossa presença já de longa data em redações, que em 50 linhas se pode descrever a história de uma vida. É possível que seja impossível escrever, no mesmo espaço, uma reflexão sobre o Evangelho do dia?


Terceira possibilidade (também tem um tom de brincadeira, mas...): solicitar à Congregação correspondente a redação de um documento em que estabeleça taxativamente que o tempo dedicado à homilia não deve ultrapassar os cinco minutos. Um santo, ou um padre da Igreja, disse certa vez: “nos primeiros cinco minutos fala Deus, nos outros cinco fala o homem, nos restantes mais de cinco minutos fala o diabo”. Tendo a acreditar que, na realidade, depois dos primeiros cinco minutos em muitos púlpitos continua falando o homem; e, lamentavelmente, nem todos estão à Sua altura, ao escrever e pronunciar os discursos. E a experiência nos torna palpável – sem culpa de ninguém, os sacerdotes estão animados pelos melhores sentimentos, e estão cheios de santo entusiasmo – que uma homilia que se alonga, se perde, divaga, toca muitos pontos diversos, o que, muitas vezes, não ajuda a manter a concentração e a tensão espiritual criadas pelas Leituras. Pelo contrário. Naturalmente, estariam isentos o Papa, os cardeais, os patriarcas e os arcebispos metropolitanos. Sobre os bispos e os abades, pode-se discutir...


Esperamos que estas linhas sejam lidas por alguém.


Tradução do Cepat.


* Marco Tosatti [foto acima] nasceu em Gênova (Itália), em 1947, é jornalista e escritor. É autor de uma vasta obra, que inclui João Paulo II – Retrato de um Pontífice, Dicionário do Papa Ratzinger e La profezia di Fatima.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 23/11/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=49697

Excesso de cesarianas?

HÉLIO SCHWARTSMAN
A polêmica em torno do excesso de cesarianas, que já respondem por 52% dos partos realizados no Brasil, opõe a perspectiva da saúde pública à visão individual de mães e obstetras clínicos.


Em termos globais, não há dúvida de que a maior parte desses procedimentos são desnecessários. Segundo a OMS [Organização Mundial da Saúde - ONU], cerca de 15% das gravidezes teriam indicação de parto cesáreo. Os 37 pontos percentuais de diferença ocorrem devido ao desejo da mãe, do médico ou de ambos.


E essa superabundância tem um custo, que, em grandes populações, pode ser verificado na maior incidência de complicações para a mãe (morte, infecções, hemorragias) e para o bebê (morte, nascimento prematuro), sem mencionar os gastos extras para o sistema (o parto normal é mais barato do que o cesariano).


Ocorre que, do ponto de vista da mãe, não é absurdo optar pelo procedimento cirúrgico mesmo quando não há uma indicação clínica. Embora os riscos sejam comparativamente maiores, eles são baixos o suficiente para ser relevados.


A chance de a grávida morrer numa cesárea no Brasil é 3,9 vezes maior que num parto normal, mas, ainda assim, é inferior a uma em cada mil nascimentos - 0,54 contra 0,14 por mil, para ser mais preciso.


Se a mulher não é devota da falácia naturalista e, por não querer sentir dor ou qualquer outra razão subjetiva, escolhe fazer a cesárea, não há razão médica ou moral para repreendê-la por isso.


Mais complicada é a situação do obstetra que pressiona para que suas clientes façam cesarianas. Em muitos casos, eles estão colocando sua própria comodidade e ganhos à frente dos interesses do paciente, o que é eticamente questionável.


De toda maneira, a civilização ocidental já resolveu esse dilema há tempos, ao advogar por democracias que dão aos indivíduos o direito de tomar as decisões relevantes para a sua saúde e sexualidade.


Fonte: Folha de S. Paulo - Opinião - Quarta-feira, 23 de novembro de 2011 - Pg. A2 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/10542-excesso-de-cesarianas.shtml

Brasil gasta com presos quase o triplo do custo por aluno

Alessandra Duarte
Carolina Benevides
O Globo - On line
Enquanto o país investe mais de R$ 40 mil por ano em cada preso em um presídio federal, gasta uma média de R$ 15 mil anualmente com cada aluno do ensino superior — cerca de um terço do valor gasto com os detentos. 


Já na comparação entre detentos de presídios estaduais, onde está a maior parte da população carcerária, e alunos do ensino médio (nível de ensino a cargo dos governos estaduais), a distância é ainda maior: são gastos, em média, R$ 21 mil por ano com cada preso nove vezes mais do que o gasto por aluno no ensino médio por ano, R$ 2,3 mil. Para pesquisadores tanto de segurança pública quanto de educação, o contraste de investimentos explicita dois problemas centrais na condução desses setores no país: o baixo valor investido na educação e a ineficiência do gasto com o sistema prisional.


Apenas considerando as matrículas atuais, o chamado investimento público direto por aluno no país deveria ser hoje, no mínimo, de 40% a 50% maior, aponta a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que desenvolveu um cálculo, chamado custo aluno-qualidade, considerando gastos (de salário do magistério a equipamentos) para uma oferta de ensino de qualidade.


— Para garantir a realização de todas as metas do Plano Nacional de Educação que está tramitando no Congresso, seriam necessários R$ 327 bilhões por ano, o que dobra o investimento em educação — afirma Daniel Cara, coordenador da campanha.


Verbas minguadas para educação


Para Cara, não seria o caso de falar em sobreinvestimento no preso, "até porque vemos como é precária a situação das penitenciárias brasileiras", e porque, lembra ele, a prisão é uma "instituição total, o preso vive lá":


Mas há, sem dúvida, subinvestimento em educação. O que é mais grave se considerarmos que, nos direitos sociais, a educação é o que abre as portas para os outros direitos. A violência não vem pela pobreza, vem pela desigualdade. Por isso, um investimento maior no conjunto dos direitos sociais, e aí se inclui a educação, poderia diminuir a despesa com segurança.


O gasto com educação poderia melhorar com maior foco na aprendizagem, destaca Mozart Neves Ramos [foto ao lado], do Todos pela Educação e do Conselho Nacional de Educação (CNE):
— É verdade que o Brasil ainda investe pouco na educação básica, e mais dinheiro é fundamental. No entanto, é necessário que a verba chegue à escola e que seja mais bem aplicada. Melhorar a eficiência da gestão dos recursos é importantíssimo. Uma boa gestão pode criar uma escola motivadora. E um aluno que tem sucesso escolar raramente abandona a escola e está mais longe de ser preso.
          
— Minha mãe, que está presa há três meses, estudou só até a segunda série. Eu acredito que ela está presa também por conta do pouco conhecimento que tem. Nunca soube que carreira seguir, nunca teve um ensino que a fizesse ter alguma perspectiva — diz Debora Magalhães, filha de Vitânia, presa por tráfico de drogas em Bangu.
          
Secretário estadual de Educação do Rio, Wilson Risolia diz que o país está preferindo "gastar mais com o sinistro do que com o seguro":
— É uma irracionalidade, um passivo que o Estado precisa resolver. Nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o custo por aluno no nível superior é cerca de três vezes maior do que na educação básica. No Brasil, é bem maior (mais de seis vezes). Mas não é suficiente aumentar o gasto, é preciso melhorar a qualidade. No Rio, fizemos uma recontagem de alunos e vimos que havia 120 mil que, apesar de constarem na base de dados, não eram mais da rede. A verba era passada para alunos que não existiam; um número X de provas ia para o colégio, e parte era jogada no lixo, por exemplo. Corrigindo, foram R$ 111 milhões alocados em outros lugares.
          
Apesar de a diferença entre o custo do aluno universitário e o do preso em presídios federais ser menor, ela é o que choca, diz o sociólogo Michel Misse [foto ao lado], professor da UFRJ:
— Esse é um dado impressionante, porque o custo de um universitário, pelos gastos que uma universidade deve ter com pesquisa, deveria ser bem maior. É o custo de você formar um cientista, um médico, um engenheiro — afirma Misse, para quem, porém, não se deve pensar que uma prisão custe pouco. 
— O preso mora lá, e um aluno não mora na escola. O problema é analisar o gasto que se tem em relação às condições dos presídios.
          
Presidente do Conselho Nacional de Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Administração Penitenciária (Consej), Carlos Lélio Lauria Ferreira diz que quanto mais baixo o custo com o preso, piores as condições:
— O preço varia de acordo com o tratamento. Se o valor é baixo, desconfie. A alimentação pode ser lavagem. No Brasil, a média de custo de um preso num presídio estadual é de R$ 1,7 mil por mês. Mas nessa conta não está incluído o custo social e previdenciário. No presídio federal, o custo é mais elevado. O aparato tecnológico é caro, os salários dos servidores são mais altos e o número de agentes por preso é maior. Graças a isso, o país não gasta menos de 7 mil por preso ao mês.
          
Apesar de investirmos tanto, as condições de regenerar alguém são mínimas. A pessoa é, na maioria das vezes, submetida a condições que a torna pior. É como se negássemos outra oportunidade — conclui Mozart.


Fonte: Associação Nacional dos Servidores da Polícia Federal - 21/11/2011 - Internet: http://www.ansef.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1322&Itemid=63

Começou a era do mundo finito

Washington Novaes

A perplexidade é geral, depois da queda do sétimo governo na Europa (Islândia, Reino Unido, Irlanda, Portugal, Eslováquia, Grécia e Itália) e já com a Espanha na alça de mira, com uma dívida pública insustentável e uma taxa de desemprego de 21,5% (48% entre os jovens). E tudo acontece simultaneamente com a crise política que se alastra nos países árabes e a expansão do movimento "Ocupem o mundo", dos jovens norte-americanos que protestam sentados nas ruas, diante da casa dos poderosos. Para onde vamos?


"Quem não estiver confuso está mal informado", já diagnosticou o ex-ministro Delfim Netto (Conjuntura Econômica - FGV, setembro de 2011). De fato, quando Brasil, Índia e China se dizem dispostos a ajudar - via Fundo Monetário Internacional (FMI) - a Europa a sair da crise, chega-se a um ponto inconcebível há menos de uma década. Pois ao mesmo tempo se torna claro que "a Europa se prepara para uma década perdida" (Agência Estado, 16/10) e se chega ao "fim do sonho americano" (Celso Ming, Estado, 19/10).


"Vai sair um mundo diferente", prevê Delfim. A seu ver, "a crise que está aí resulta de governos incompetentes, míopes, e de uma disfunção do sistema financeiro, que em vez de servir ao setor real acaba servindo-se dele. Os derivativos podem estimular uma melhoria de funcionamento do sistema, mas também podem tornar-se armas de destruição em massa, porque os bancos centrais - na verdade, os governos - não conseguiram entender aonde eles deveriam nos levar". Certamente é uma visão que tem que ver com números pouco citados, de um giro financeiro de US$ 600 trilhões anuais, para um produto bruto mundial de US$ 62 trilhões por ano, dez vezes menos. Isto é, especulação cada vez mais afastada do real, das coisas concretas.


Agora, parece inescapável. A Comissão Europeia prevê recessão para o continente em 2012, que, segundo o FMI, é um alerta para todos os países desenvolvidos (Folha de S.Paulo, 12/11). Mesmo no Brasil a Confederação Nacional da Indústria revê sua previsão para o crescimento do PIB interno, de 3,8% para 3,4% este ano (Agência Estado, 12/11). E até a China parece retrair seu ritmo, enquanto os Estados Unidos chegam a um déficit anual do governo de US$ 1,299 trilhão, quase tanto quanto todo o PIB anual brasileiro. Mas quase todos os países continuam a recusar o que os relatórios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) vêm propondo desde o início da década de 1990: uma taxa de 0,5% sobre as transações cambiais e financeiras no mundo - para conter a especulação e ajudar a diminuir a pobreza -, uma ideia que surgiu do economista James Tobin [foto ao lado].


Estranho que pareça, num quadro como esse pouco se discute na área econômica o que já é óbvio no diagnóstico de organismo da ONU e outros: a questão do impasse na área dos recursos naturais e sua tendência ao agravamento. Mais uma vez, o ex-ministro Delfim Netto, que em outras épocas parecia fechado à questão: "Estamos caminhando para instituições em que a cooperação, o altruísmo e as preocupações com o meio ambiente são maiores, enquanto a restrição ao crescimento é um pouco mais aguda, porque pela primeira vez se tem consciência de que não cabem na Terra 10 bilhões de pessoas com renda per capita de US$ 20 mil". Ou seja, o consumo atual já é insustentável e será cada vez mais com o crescimento inevitável da população



  • Os diagnósticos da ONU já nos mostram consumindo mais de 30% além da capacidade de reposição da biosfera terrestre; se tivermos de aumentar a produção de alimentos em 70% nas próximas décadas para atender à população crescente e à redução da pobreza, agravaremos a situação, pois a "pegada ecológica" (área necessária para atender às necessidades de um ser humano) também já está mais de 30% além da disponibilidade - e seu crescimento significará mais degradação do solo, mais desertificação, mais crise da água, mais perda da biodiversidade, etc., etc. Sem falar em agravamento das mudanças climáticas. Mas como se fará se 1,44 bilhão de pessoas no mundo ainda não dispõem de energia elétrica e em sua maior parte terão de ser abastecidas com mais queima de carvão e petróleo, principalmente na China e na Índia, como adverte a Agência Internacional de Energia? E como tirar do âmbito da fome crônica quase 1 bilhão de pessoas?



Outros padrões de consumo terão de ser observados. Nossos modos de viver terão de ser repensados. Até porque em muitos setores a crise aguda já bate à porta. Como observa o professor Maurício Waldman, pós-doutorando em Geografia pelo Instituto de Geociências da Unicamp, a situação já é insustentável em muitos setores: 

  • No século 20 a população multiplicou-se por 4
  • o consumo de carvão, por 6
  • o de cobre, por 25
  • o de metais em geral chegou, em 2008, a 1,4 bilhão de toneladas, o dobro dos anos 70, sete vezes mais que em 1950; 
  • o consumo de alumínio passou de 2 milhões de toneladas em 1950 para 40 milhões em 2008; 
  • o de plásticos multiplicou-se por 18 em 34 anos. 
Como já se comentou neste espaço em outros artigos, a disponibilidade de muitos dos metais usados nas tecnologias mais abrangentes de hoje (telefones, computadores, etc.) está gravemente ameaçadaPor tudo isso, lembra o professor Waldman a frase do filósofo Paulo Valéry [foto acima]: "Começa a era do mundo finito".


E como começa, ainda uma vez é preciso insistir: o Brasil tem de pensar uma estratégia fundada nessas visões, já que tem posição privilegiada no mundo em matéria de território, água, biodiversidade, possibilidade de plantios, matriz energética limpa e renovável - tudo o que é fator escasso no mundo e já foi dito e repetido neste espaço. A essa estratégia - em substituição à ideia de crescimento econômico puro e simples, desatento ao quadro mais amplo - é que se poderá chamar de uma verdadeira modernidade. Não precisamos esperar que a crise de recursos e consumo insustentáveis nos atinja mais a fundo.


Fonte: O Estado de S. Paulo - Espaço Aberto - Sexta-feira, 18 de novembro de 2011 - Pg. A2 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,comecou-a-era-do-mundo-finito-,799909,0.htm

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

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HOMILIA – 34º Domingo do Tempo Comum – Cristo Rei – Ano “A”

José Antonio Pagola *

Evangelho: Mateus 25,31-46

O DECISIVO


O relato não é, propriamente, uma parábola, mas uma evocação do juízo final de todos os povos. Toda a cena se concentra num longo diálogo entre o Juiz, que não é outro a não ser Jesus ressuscitado, e dois grupos de pessoas: aqueles que aliviaram o sofrimentos dos mais necessitados e os que viveram negando-lhes ajuda.


Ao longo dos séculos, os cristãos viram neste diálogo fascinante “a maior recapitulação do Evangelho”, “o elogio absoluto do amor solidário” ou “a advertência mais grave àqueles que vivem refugiados falsamente na religião”. Destacaremos as afirmações básicas.


Todos os homens e mulheres, sem exceção, serão julgados pelo mesmo critério. Aquilo que dá um valor imperecível à vida não é a condição social, o talento pessoal ou o êxito obtido ao longo dos anos. O decisivo é o amor prático e solidário aos necessitados de ajuda.


Este amor se traduz em atos bem concretos. Por exemplo, “dar de comer”, “dar de beber”, “acolher ao imigrante”, “vestir o desnudo”, “visitar o enfermo ou encarcerado”. O decisivo diante de Deus não são as ações religiosas, mas estes gestos humanos de ajuda aos necessitados. Podem brotar de uma pessoa crente ou do coração de um agnóstico que pensa nos que sofrem.


O grupo dos que ajudaram aos necessitados que encontraram em seu caminho, não o fizeram por motivos religiosos. Não pensaram em Deus nem em Jesus Cristo. Simplesmente, buscaram aliviar, um pouco, o sofrimento que há no mundo. Agora, convidados por Jesus, entram no reino de Deus como “benditos do Pai”.


Por que é tão decisivo ajudar aos necessitados e tão condenável negar-lhes ajuda? Porque, segundo revela o Juiz, o que fazemos ou deixamos de fazer a eles, fazemos ou deixamos de fazer ao próprio Deus, encarnado em Cristo. Quando abandonamos um necessitado, estamos abandonando a Deus. Quando aliviamos seus sofrimentos, o fazemos a Deus.


Esta surpreendente mensagem nos leva a olhar para os que sofrem. Não há religião verdadeira, não há política progressista, não há proclamação responsável dos direitos humanos a não ser defendendo os mais necessitados, aliviando seu sofrimento e restaurando sua dignidade.


Em cada pessoa que sofre, Jesus vem ao nosso encontro, nos olha, nos interroga e nos suplica! Nada nos aproxima mais dele que aprender a olhar detidamente e com compaixão o rosto dos que sofrem. Em nenhum outro lugar poderemos reconhecer com mais verdade o rosto de Jesus.


* José Antonio Pagola é sacerdote espanhol. Licenciado (= mestrado) em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (1965), Diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no Seminário de San Sebastián e na Faculdade de Teologia do norte da Espanha (sede de Vitoria). Desempenhou o encargo de reitor do Seminário diocesano de San Sebastián e, sobretudo, o de Vigário Geral da diocese San Sebastián (Espanha). É autor de vários ensaios e artigos, especialmente o famoso livro: Jesus - Aproximação Histórica (publicado no Brasil pela Editora Vozes, 2010).


Fonte: MUSICALITURGICA.COM - 15/11/2011 - 09h22 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php
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Aplicando o Evangelho de "Cristo Rei"

Por ocasião do centésimo Congresso Eucarístico em Lourdes (França – ano de 1981) sobre o tema “Pão partido para um mundo novo”, dom Hélder Câmara (na época, arcebispo de Olinda-Recife, no Brasil) explicava que existe uma ligação muito forte entre a eucaristia e a construção de um mundo melhor.


Ele tomou o exemplo de um sacrilégio: sacrário quebrado, cibório (âmbula) tombado, hóstias jogadas na lama. Por ocasião de celebração de reparação, ele diz aos paroquianos:


“Irmãos e irmãs, nós estamos cegos. A descoberta das hóstias na lama nos chocou, enquanto que, entre nós, o Cristo na lama é um fenômeno cotidiano. Todos os dias nós o encontramos nas favelas que não têm nada de humano. Presente na eucaristia, o Cristo conhece uma outra presença real. Na miséria humana”.


É isto que acaba de nos recordar o evangelho deste domingo.
Precisamos “ruminar” essa lição!

Citado por: Pe. Fabien Deleclos - Homélie du 34e Dimanche Ordinaire A - Internet: http://parolesdudimanche.blogs.lalibre.be/ - Dia 15/11/2011.

APELO AOS SENADORES

Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo de Jales - SP
Nestes próximos dias os Senadores terão a responsabilidade de votar o novo Código Florestal, que deverá em seguida retornar à Câmara dos Deputados, para finalmente chegar às mãos da Presidente Dilma, para o seu veto ou sanção. 


Depois da Constituinte de 1988, talvez esta seja a lei mais importante a passar pelo Parlamento.  Na verdade, são muitas suas implicações práticas, na tarefa comum de cuidar do meio ambiente, e na incumbência de regular nosso convívio com a natureza.


Não é de estranhar que ela tenha suscitado tantas discussões, e provocado posicionamentos radicalizados. 
A votação cabe agora ao Senado. Manifestamos nossa confiança na sabedoria, no equilíbrio e bom senso dos Senadores


Este o nosso apelo!


No que se refere à Floresta Amazônica, é mais do que evidente o tratamento especial que ela merece no contexto deste Código Florestal. Dada sua importância e preciosidade para o mundo inteiro, a Floresta Amazônica merece não só um destaque especial neste Código, mas ela precisa de eficaz presença do Estado para urgir a efetivação de todos os dispositivos legais que já foram estabelecidos, e que devem se completar com as disposições deste Código, de tal modo que fique garantida a manutenção de mais de 75% de toda a Floresta Amazônica


Apelamos aos Senadores para que sinalizem bem claramente esta urgência da ação fiscalizadora do Estado, para que não se frustrem os objetivos de toda a proteção legal já estabelecida para a Amazônia.  Lá, o grande problema não é a falta de lei, mas a falta de quem a aplique.


Igualmente, a discussão deste Código fez emergir, com clareza, a salutar disposição de reconhecer as “áreas consolidadas”, como realidades portadoras de acúmulo histórico positivo, que se traduz agora em situações a serem respeitadas, e reguladas sabiamente, para conciliar os objetivos do meio ambiente com os interesses de ordem social.  Que os Senadores legislem com sabedoria a respeito destas áreas consolidadas, para garantir ao mesmo tempo direitos adquiridos e precauções ecológicas


Dada a diversidade de biomas existentes em nosso país continental, se apresenta igualmente aos Senadores a responsabilidade de levar em conta estas diferenças regionais, para não aprovar uma lei que ignore esta diversidade, e acabe se tornando inadequada e perversa. Que sejam valorizados, para a formulação desta lei, dispositivos que já expressam tradicionalmente situações diversificadas, como é a medida diferenciada dos módulos fiscais.  


Mas o apelo maior, e mais insistente, se refere à indispensável proteção que merecem os pequenos agricultores, tal o peso que acaba caindo sobre eles, se não forem aprovados dispositivos legais para sua proteção. 


A este respeito, uma primeira advertência se faz necessária: os pequenos agricultores não estão todos incluídos na definição fluída de “agricultura familiar”. Pois há muitos pequenos agricultores que, por motivos diversos, não estão incluídos nesta categoria oficial de “agricultura familiar”. 


Seria muito longo elencar aqui as razões em favor dos pequenos agricultores. O certo é que eles merecem, no contexto do Código Florestal, um capítulo especial, que lhes assegure a proteção, e os incentive a serem os melhores parceiros no cuidado com o meio ambiente, e ao mesmo tempo continuem sendo os maiores produtores de alimentos colocados à mesa dos brasileiros.  Os pequenos agricultores são um verdadeiro patrimônio imaterial do país.  Por tudo isso eles merecem uma proteção especial.


Este o apelo aos Senadores, na votação desta importante lei que interessa a todos. 


Fonte: Informações da Diocese (20/11/11) - Internet: http://www.diocesedejales.org.br/portal/content.php?catid=25&notid=1432

terça-feira, 15 de novembro de 2011

''Podemos mudar o mundo imitando as borboletas''

Zygmunt Bauman*
La Repubblica (Roma - Itália)
14.11.2011

Em que mundo eu gostaria de viver? Na verdade, não posso dizer muito. Isso porque, em primeiro lugar, em 60 anos de empenho na sociologia, nunca fui bom em profetizar. Em segundo lugar, no fim de uma vida imperdoavelmente longa, a única definição de boa sociedade que eu encontrei diz que uma boa sociedade é tal se acredita não ser suficientemente boa. Portanto, prefiro me concentrar não tanto no mundo em que queremos viver, mas sim no mundo em que devemos viver, simplesmente porque não temos outros mundos para os quais escapar. Refiro-me a uma citação de Karl Marx, que afirmava que as pessoas fazem a sua própria história, mas não nas condições escolhidas por elas. Todas as vezes que eu a ouço, lembro-me também de uma historinha irlandesa que nos fala de um motorista, que para o seu carro e pergunta a um transeunte: "Desculpe-me, senhor, poderia me dizer por gentileza como posso chegar a Dublin a partir daqui?". O transeunte para, coça a cabeça e depois de um tempo responde: "Bem, caro senhor, se eu tivesse que ir a Dublin não começaria daqui". Este é o problema: infelizmente, estamos começando daqui e não temos nenhum outro lugar de onde partir.


Portanto, pretendo sublinhar como o mundo do qual partimos "voltados para Dublin", seja lá o que Dublin queira dizer, está cheio de desafios e de tarefas urgentes, substancialmente improcastináveis. Penso que, se o século XX foi a época em que as pessoas se perguntavam "o que" precisava ser feito, o século XXI será cada vez mais a era em que as pessoas farão a pergunta sobre "quem" fará o que deve ser feito.


Existe uma discrepância entre os objetivos e os meios à nossa disposição. Meios que foram criados pelos nossos antepassados, que deram vida ao Estado-nação e o dotaram e armaram de muitas instituições extremamente importantes, feitas à medida do Estado-nação. No que se refere ao Estado-nação, ele era verdadeiramente o ápice da ideia de autogoverno e de soberania, a ideia de estar em casa, e assim por diante. Acima de tudo, o Estado-nação era um meio confiável e impecável de ação coletiva, instrumento para alcançar os objetivos sociais coletivos.


Acreditava-se nisso para além da diferença entre "direita" e "esquerda". O Estado-nação era capaz de implementar as ideias vencedoras. Por que era assim? Porque o Estado-nação era considerado, e em grande parte o foi por bastante tempo na história, a fazenda do poder e da política. O matrimônio entre poder e política é um casamento celebrado no céu, nenhum homem pode destruí-lo. Poder significa habilidade em fazer as coisas. Política significa habilidade em dirigir essa atividade de fazer as coisas, indicando quais coisas devem ser feitas.


Ora, o que está acontecendo hoje é a indubitável separação, uma perspectiva de divórcio, entre poder e política. Poder que evapora no ciberespaço e que se manifesta naquilo que eu chamo de "globalização negativa". Negativa no sentido de que se aplica a todos os aspectos da vida social que têm uma coisa em comum: trata-se do enfraquecimento, a erosão, a não consideração dos hábitos locais, das necessidades locais. A "globalização negativa" abraça poderes como as finanças, o capital, o comércio, a informação, a criminalidade, o tráfico de drogas e de armas, o terrorismo etc. Ela não é seguida pela "globalização positiva". Em nível global, não temos nada de remotamente semelhante à eficácia do instrumento do controle político sobre o poder, da expressão da vontade popular, isto é, da representação e da jurisdição, realidades que se desenvolveram e foram bloqueadas no nível do Estado-nação.


À luz dessa discrepância, todas as vezes em que ouço o conceito de "comunidade internacional", eu choro e rio ao mesmo tempo. Nós ainda nem começamos a construí-la. Os nossos problemas são verdadeiramente globais, mas só possuímos os meios locais para enfrentá-los; e eles são despudoradamente inadequados para a tarefa. Por isso a pergunta que eu sugiro provavelmente é questão de vida ou de morte para o século XXI. Quem vai se ocupar disso? Essa será a questão.


Eu não tenho a resposta a essa pergunta, só posso propor algumas palavras de encorajamento. Edward Lorenz [foto ao lado] é bastante conhecido pela sua tremenda descoberta de que até os eventos mais pequenos, minúsculos e irrelevantes poderiam – dado o tempo, dada a distância – se desenvolver em catástrofes enormes e chocante. A descoberta de Lorenz é conhecida na alegoria de uma borboleta, em Pequim, que sacudia suas asas e mudava o percurso dos furacões no Golfo do México seis meses depois. Essa ideia foi recebida com horror, porque ia contra a natureza da nossa convicção de que podemos ter pleno conhecimento do que virá depois. Ele ia contra a teoria do tudo. De que podemos conhecer, prever, até mesmo criar, se necessário, com a nossa tecnologia, o mundo.


Lembro que nessa descoberta de Lorenz também há um vislumbre de esperança e é muito importante. Consideremos o que uma borboleta sabe fazer: uma grande quantidade de coisas. Não ignoremos os pequenos movimentos, os desenvolvimentos minoritários, locais e marginais. A nossa imaginação vai longe, além da nossa habilidade de fazer e arruinar coisas. Na nossa história humana, tivemos um número relevante de mulheres e de homens corajosos, que, como borboletas, mudaram a história de maneira radical e positiva. De verdade. O único conselho que posso dar, então: olhemos para as borboletas, são de várias cores, felizmente são muito numerosas. Ajudemo-las a bater as suas asas.


Tradução de Moisés Sbardelotto.


* Para informações sobre o autor, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Zygmunt_Bauman

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 15/11/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=49424