«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Algo de podre no império vermelho

Reinaldo Azevedo

O historiador ARCHIE BROWN propõe uma tese provocadora:
não foi a crise do comunismo que matou a URSS.
Foi a tentativa de reformá-lo

Não foi o então presidente americano, Ronald Reagan, que matou o comunismo. Também não foi o papa João Paulo II. Tampouco foram as fragilidades do modelo. 


O sistema cometeu suicídio quando resolveu experimentar um pouco de liberdade. É, ao menos, o que sustenta o cientista político e historiador escocês Archie Brown [foto ao lado] em Ascensão e Queda do Comunismo (tradução de Bruno Casotti; Record; 854 páginas; 89,90 reais). 


O ambiente era bem deprimente na União Soviética, como revela uma piada que circulava por lá em fevereiro de 1984, quando a primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, compareceu para o funeral de Yuri Andropov, que comandara a “pátria do socialismo” por modestos quinze meses. O escolhido para sucedê-lo foi Konstantin Chernenko, de 72 anos. A piada reproduzia um telefonema fictício de Thatcher para Reagan: “Você deveria ter vindo ao funeral, Ron. Eles fizeram tudo muito bem. Com certeza, vou voltar no ano que vem”. E voltou mesmo, treze meses depois, tempo de sobrevida de Chernenko. 


Em 68 anos de história, a União Soviética tivera quatro dirigentes máximos: Lênin, Stálin, Krushev e Brejnev. Ao chegar ao poder em 11 de março de 1985, Mikhail Gorbachev era o terceiro governante em vinte e oito meses. Havia algo de podre e muito velho no Império Vermelho.


A piada é narrada no grande (em qualquer sentido) livro de Brown. Ao longo de mais de 800 páginas, noventa delas com notas explicativas, ele detalha a trajetória do comunismo mundo afora, do Manifesto de Karl Marx (1848) à dissolução da URSS. Em 25 de dezembro de 1991, seis anos e nove meses depois de se tornar um dos homens mais poderosos da Terra, Gorbachev renunciava à Presidência de um país que já tinha acabado. 


O homem da “perestroika”, da reestruturação, fora engolido por sua ingenuidade e traído por sua ousadia. Todos os sinos dobraram pelo Natal; nenhum por quem restituíra a liberdade religiosa. Era execrado pelos destituídos do antigo regime e desprezado pelos beneficiários do novo.
Brown, professor de Oxford, é um profundo conhecedor do assunto. Levou dois anos para escrever o livro, publicado em 2009, mas reuniu informações colhidas ao longo de 45 anos e muitas viagens aos países comunistas, especialmente durante a Guerra Fria. E é com essa autoridade que ele afirma: “Na União Soviética, a reforma produziu a crise mais do que a crise forçou a reforma”


Para Brown, embora o modelo soviético estivesse corroído pela ineficiência, pela estagnação e pela incapacidade de entrar na economia da informação, não havia pressão social ou política que tornasse urgentes as mudanças. O modelo poderia ter durado por muito tempo, não fosse Gorbachev.


A relação de Brown com o líder que matou o comunismo é ambígua. Admira sua vocação democrática e suas escolhas políticas e éticas, mas o caracteriza como um político ingênuo, que fez uma aposta brutalmente errada. Qual foi o erro - e, pois, o grande acerto - de Gorbachev? Para responder a essa questão, é preciso citar aquelas que o historiador considera as “seis características definidoras” do comunismo - elas também explicam por que o autor sustenta que o comunismo acabou, ainda que China, Vietnã, Laos, Cuba e Coreia do Norte se digam comunistas: 
1) o partido único detém o monopólio do poder; 
2) a burocracia partidária tem plena autonomia para tomar qualquer decisão; é o centralismo democrático; 
3) há a posse não-capitalista dos meios de produção; 
4) a economia é de comando, definida pelo estado, não pelo mercado; 
5) há a convicção de que o comunismo está em plena construção e ruma para a perfeição; 
6) os comunistas articulam-se em um movimento internacional.


(A íntegra da resenha encontra-se na edição impressa)


ASCENSÃO E QUEDA DO COMUNISMO


Autor: Archie Brown
Tradutor: Bruno Casotti 
Editora: Record
Páginas: 854
Preço: R$ 89,90


Fonte: Veja - 16.11.2011 - Edição 2243 - pp. 156-158 - Internet: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/escrevo-sobre-o-livro-ascensao-e-queda-do-comunismo/
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CRÍTICA

BRUNO GARSCHAGEN*

Embora considere-o um grande livro, tendo a discordar do argumento do professor Brown. Gorbachev foi uma tentativa de solução para salvar o regime justamente porque o modelo político e econômico estava em crise e, mesmo sem a pressão social, havia dentro do partido um embate político de forças, que se opunham aos que queriam manter o regime do jeito que estava, no sentido de resolver a situação para preservar a estrutura de poder e, claro, os privilégios da elite do partido. 


O professor pode afirmar que o modelo poderia ter durado por muito tempo, o que não podemos saber com certeza, mas também é possível especular que manter aquela situação comprometeria o statu quo e potencializaria as chances de uma debacle generalizada, e talvez isso tenha apavorado uma parcela do partido que aceitou a solução Gorbachev, obviamente sem imaginar que o escolhido seria o artífice de uma mudança brutal do regime e sistema político da Rússia. Talvez isso explique, quero crer, a certa admiração de Brown por Gorbachev.


Parafraseando Karl Marx sobre o capitalismo, acredito que o comunismo e o socialismo enquanto sistemas políticos e econômicos, trazem em si os germes de sua própria destruição.


* Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Católica de Lisboa/Universidade de Oxford. Colunista do site OrdemLivre.org, especialista do Instituto Millenium, colaborador da revista Dicta&Contradicta e do blog português O Insurgente


Fonte: Blog de Garschagen - 14/11/2011 - Internet: http://www.brunogarschagen.com/2011/11/lancado-no-brasil-ascensao-e-queda-do.html

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